sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Juro a 10,5% não atrai investidores nem reduz a inflação

A taxa Selic só não faz verão

Sozinha, a sequência de altas na taxa básica não será suficiente para combater a inflação e trazer de volta os investimentos dos estrangeiros

Liana Verdini, Marcelo Loureiro

A nova alta da Selic, embora louvada por economistas e especialistas do mercado, não será suficiente para atrair de volta os investidores financeiros que estão partindo para aplicações mais seguras em outros países nem para baixar a inflação para o centro da meta. Para esses profissionais, será preciso combinar outras medidas que resgatem a confiança dos agentes econômicos no Brasil. O comportamento dos mercados de câmbio e juros demonstrou isso ontem.

As taxas dos títulos de swap atingiram o nível mais alto em três meses, com os títulos de vencimento em janeiro de 2015 subindo 19 pontos base. O dólar no mercado à vista, que começou o dia caindo, terminou a sessão em alta de 0,35%, influenciado por operações de saída de recursos do país. Os contratos de juros futuros também subiram e a taxa DI para janeiro de 2015 chegou a 10,93%. “O efeito da alta dos juros sobre a inflação é fraco.

Os canais de transmissão da alta de preços passam por outros fatores, como o mercado de crédito, por exemplo, e as expectativas dos agentes econômicos”, disse o professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Pedro Rossi. Concorda com ele a economista e sócia da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro, para quem a eficácia da política monetária está sendo afetada pela atuação dos bancos públicos. “O crédito subsidiado oferecido por eles pouco se abala com a subida da Selic”, explicou ela.

Esse baixo impacto fica demonstrado nas projeções da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac). As taxas para empréstimo pessoal tomadas em banco, por exemplo, que estavam em média a 3,20% ao mês, passam agora a 3,24%,alterando pouco as prestações. O mesmo ocorre com os empréstimos tomados em financeiras, que sobem da média de 7,16% para 7,20%. O juro do cartão passa de 9,37% para 9,41% e o CDC para financiamento de automóveis, de 1,65% para 1,69%.

Para Rossi, a nova alta da Selic não atrai nem mesmo os investidores financeiros. “Eles não respondem ao simples aumento das taxas de juros, mas à expectativa de rentabilidade”, explicou. Não é o que pensa o economista da Rosenberg Partners, Luiz Eduardo Mello, que destaca a rentabilidade das letras do Tesouro - estão rendendo IPCA mais 6,75% ao ano pelas próximas duas décadas. “Isso é extremamente atraente. Difícil o investidor internacional achar ativo melhor oferecido por outros países do mundo coma mesma qualidade econômica que temos no Brasil”.

Mas para o economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Vinícius Botelho, a nova subida da Selic serviu apenas para o BC mostrar que “não está satisfeito com o atual nível da inflação”, já que a percepção de risco sobre o Brasil subiu muito e se descolou dos indicadores de México e Colômbia, países com os quais o Brasil é comparado. “Os investidores percebem uma dificuldade das autoridades no manejo da política fiscal e promoveram esse descolamento.

É a resposta para o superávit primário que não abate a dívida”, disse Botelho. O economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank (Besi), Jankiel Santos, entende que o processo de subida recente dos juros trouxe resultados. “Não fosse a alta, a inflação teria estourado o teto da meta. Em meados de 2013, a taxa anualizada passou dos 6,5%”. O especialista destaca, porém, que o centro da meta está muito longe de ser alcançado. “No patamar atual, a Selic não é suficiente.

Imagino que se a intenção é trazer a inflação para o centro da meta, a taxa básica ideal seria em torno de 12,5% a 13%, um ajuste bem mais pesado do que parece estar em curso”. Os economistas acreditam, no entanto, que não basta subir a Selic. “É necessária uma série de outras medidas para resgatar a confiança dos investidores, especialmente na área fiscal, com o governo mostrando como vai fazer para voltar à dinâmica anterior de gerar superávit primário suficiente para abater a dívida pública”, disse o economista da FGV.

Para ele, tem havido uma deterioração das expectativas de inflação e da economia porque o governo está tendo dificuldade de transmitir boas perspectivas. Nessa mesma linha, o professor da Unicamp sugere que o governo trabalhe com bandas para as metas fiscais, o que permitiria atuação anticíclicas, poupando mais quando a receita aumenta e investindo mais quando a arrecadação cai. “Mas é preciso cuidar do mercado de derivativos de câmbio, onde vemos investidores institucionais e estrangeiros com grandes posições em aberto, especulando contra o real”, disse Rossi.

Fonte: Brasil Econômico

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