sábado, 11 de janeiro de 2014

Inflação tem a maior alta mensal em 10 anos e fecha 2013 em 5,91%

Preços. A inflação oficial do ano passado frustrou promessa da equipe econômica de um resultado abaixo do ano anterior e desencadeou uma reação imediata do governo Dilma Rousseff de abrir as portas para novas altas da taxa básica de juros neste ano

João Villaverde, Vinicius Neder

BRASÍLIA, RIO - A inflação surpreendeu negativamente, fechou em forte alta no ano passado e desencadeou uma reação imediata do governo Dilma Rousseff de apostar em mais juros neste ano. O índice oficial (IPCA) acelerou 5,91%, frustrando a promessa da equipe econômica de um resultado abaixo do de 2012, quando bateu em 5,84%. A inflação de dezembro ficou em 0,92%, a maior alta mensal em 10 anos.

Diante do número mais salgado que o esperado, o governo começou a articular a resposta aos mercados, para assegurar que a inflação cairá até dezembro. Os sinais dados pelo Planalto são de "carta branca" ao Banco Central (BC) para que adote uma postura mais rígida no ano eleitoral de 2014, desarmando uma estratégia de eventual relaxamento do aperto conduzido desde o ano passado.

A opção de elevar os juros de forma mais agressiva do que o que estava definido para este início de ano não agrada a Dilma, mas o Estado apurou que o "remédio amargo" virou arma prioritária do governo. A definição da estratégia de comunicação ao mercado foi decidida na manhã de ontem: não à toa, o presidente do BC, Alexandre Tombini, levou quatro horas para divulgar uma nota comentando o IPCA. Em 2012, foram 25 minutos.

Meta. Com o resultado de 2013, a inflação fechou o quarto ano consecutivo acima da meta oficial de 4,5% ao ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Composto pelos ministros da Fazenda, do Planejamento e pelo presidente do BC, o colegiado autoriza uma margem de tolerância de dois pontos porcentuais, para acomodar choques inflacionários. Em caso de descumpri-mento, o presidente do BC precisa se justificar ao Congresso.

A inflação de 0,92% em dezembro foi a maior taxa mensal desde abril de 2003, e o pior dezembro desde 2002, quando o IBGE deu início à sua série histórica. O resultado apontou para uma inflação mensal nos patamares de 2002 e 2003, quando o dólar bateu em R$ 4.

A aceleração para 0,92% em dezembro, ante os 0,54% de novembro, foi puxada pelo reajuste dos combustíveis e pelos preços das passagens aéreas - a gasolina subiu 4,04% e contribuiu com 0,15 ponto porcentual no índice mensal. As passagens de avião avançaram 20,13%, representando impacto de 0,12 ponto no IPCA.

Mesmo assim, a coordenadora de índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, chamou atenção para o grupo Alimentação e Bebidas, com aceleração e impacto importante em dezembro (avançou 0,89%, em comparação a 0,56% em novembro), seguindo uma tendência verificada ao longo de todo o ano passado, quando foi o grande vilão, com alta de 8,48%. Isoladamente, os itens de maior impacto no IPCA anual foram refeição fora de casa, aluguel residencial e empregado doméstico. "A refeição em restaurantes agrega o aumento dos alimentos", disse Eulina.

Segundo ela, há também efeito de demanda crescente. No acumulado de dez anos, os preços da alimentação fora de casa subiram 133,71%, enquanto a comida no domicílio subiu 78,7%.
A inflação de serviços continua pressionada há anos. Em 2013, fechou em 8,75%. Em | 2012, havia fechado em 8,74%. r Só em dezembro de 2013, os preços dos serviços subiram 1,16%.

Mercado. A alta surpreendente da inflação levou os analistas do mercado financeiro a revisarem suas projeções para a inflação e para a taxa de juros. Para o economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo, o Banco Central começa 2014 pressionado pelo comportamento do câmbio e por uma política fiscal ainda expansionista, que não tem perspectiva de se tornar mais austera, especialmente pelo calendário eleitoral.

A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, classificou o resultado da inflação como "desastroso", levando em conta o esforço com desonerações e com o controle dos preços administrados, como o da energia elétrica. "É muito ruim, em um ano no qual o governo fez de tudo e tomou medidas que custaram caro."

Para o economista para o Brasil do BBVA Research, Enestor Santos, o resultado aumenta a possibilidade de que o BC eleve a taxa de juros em 0,50 ponto porcentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem. Apesar dessa análise, o BBVA diz que tal cenário ainda não é majoritário e, por isso, mantém a aposta de que o Copom deve elevar a taxa em ritmo menor, de 0,25 ponto.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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