sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Merval Pereira

A união em São Paulo é fundamental para o projeto de Aécio, e por isso ele finge que não viu a atuação de Alckmin junto a seus aliados para levar o PPS para os braços de Eduardo Campos. O presidente do ex-partido comunista deve seu mandato a Serra, que o levou para São Paulo dando legenda e apoio político. E é pernambucano, o que o aproxima de Campos.

Merval Pereira, “São Paulo decisivo”, O Globo, 18 de dezembro de 2013

Advocacia oferece a Dirceu salário de R$ 2,1 mil

O ex-ministro José Dirceu, preso pelo mensalão, recebeu nova proposta de trabalho, e a aceitou, com salário de R$ 2,1 mil - 10 vezes menos que o Saint Peter Hotel lhe havia oferecido. A oferta é da advocacia José Gerardo Grossi.

Dirceu quer agora ganhar R$2 mil em escritório

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado a 10 anos e 10 meses como mentor do mensalão, recebeu nova proposta de trabalho, e aceitou -desta vez por um salário de R$ 2,1 mil, ou 10 vezes menos que o Saint Peter Hotel, de Brasília, lhe havia oferecido em novembro. Seu empregador, se a Justiça acolher requerimento apresentado ontem à Vara de Execuções do Distrito Federal, será o escritório José Gerardo Grossi de Advocacia, cujo titular foi ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) entre os clientes.

A oferta de emprego foi apresentada por escrito pelo próprio Grossi, em carta ao criminalista José Luís Oliveira Lima, defensor de Dirceu. O veterano causídico, de 81 anos, matrícula 586 na Ordem dos Advogados/ DF, informa que o ex-ministro "se encarregará da organização e manutenção da biblioteca jurídica, da eventual pesquisa de jurisprudência e de colaboração na parte administrativa".

O horário de trabalho é corrido, das 8 às 18 horas. Os funcionários dispõem de tempo para almoço entre o meio-dia e 14h00, alternadamente.

Prestigiado. "O salário com o qual o nosso escritório pode remunerar José Dirceu de Oliveira e Silva é de R$ 2,1 mil mensais", assinala Grossi, reconhecido e prestigiado pelo êxito que alcança nas demandas mais intrincadas em que atua perante os tribunais superiores.

Se for aprovado o pedido, Dirceu dará expediente no Setor Bancário Sul (SBS), quadro 2, bloco S, 9.0 andar. A correspondência de Grossi foi anexada à petição que Oliveira Lima entregou à Justiça, por meio da qual requer "autorização para exercício de trabalho externo" em favor de Dirceu.

Semiaberto. O argumento de Oliveira Lima e de seu colega, Rodrigo DalPAcqua, é que o ex-ministro cumpre pena de 7 anos e 11 meses por corrupção ativa, quantidade de pena que garante ao réu regime semiaberto, segundo prevê o artigo 33 do Código Penal - a outra acusação que pesa contra Dirceu, pelo crime de quadrilha, é alvo de recurso ainda pendente de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal.

Os advogados de Dirceu observam que já em 26 de novembro, quando foi comunicada existência da proposta do Saint Peter Hotel, ficou comprovado que o ex-ministro possui "sua documentação pessoal em ordem, como certidão de nascimento, registro geral e inscrição no cadastro de pessoas físicas". "As condições pessoais do requerente (Dirceu) já foram valoradas pelo STF quando de sua condenação e nenhum aspecto negativo foi vislumbrado", assinala a defesa.

A proposta para a função de gerente administrativo no Saint Peter naufragou no dia 5, depois de uma série de denúncias veiculadas na imprensa sobre a existência de um laranja residente no Panamá na constituição societária do hotel quatro estrelas. A defesa anunciou a desistência "tendo em vista o linchamento midiático instalado contra José Dirceu". Os advogados destacaram que a decisão tinha "o objetivo de diminuir o sofrimento dos empresários que fizeram a oferta e dos funcionários do grupo".

No requerimento de ontem à Justiça, Oliveira Lima e DalPAc-qua pedem que seja concedida prioridade no trâmite da execução penal do ex-ministro, "inclusive quanto aos estudos técnicos acerca da proposta de emprego a serem realizados pela Seção Psicossocial (da Vara de Execuções),em face do disposto no artigo 71 da Lei 10.741/2003, que prevê prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais"".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Prisão de deputados rompe ‘tradição' afirma Barbosa

Presidente do STF diz que detenção de parlamentares em 2013 é uma virada no costume de dar tratamento diferenciado a réus no País

Felipe Recondo

BRASÍLIA - A prisão de parlamentares por condenação no Supremo Tribunal Federal este ano rompeu "uma tradição longa" no País, disse ontem o presidente da Corte, ministro Joaquim Barbosa.

Em 2013, no total, quatro deputados foram presos e cumprem as sentenças em Brasília. E há mais um condenado que ainda aguarda julgamento de recurso, mas que também pode ser preso nas próximas semanas.

Para Barbosa, a condenação e prisão desses parlamentares marca uma virada na tradição brasileira de dar tratamento diferenciado a réus, dependendo do cargo ou função que exercem. "Eu acho que em democracia, não diria que é um fato banal, mas desde que demonstrada a violação de normas penais não há por que se criar exceções para a, b ou c em função dos cargos que exercem", afirmou o ministro após a última sessão do STF no ano. "Essa é a novidade deste ano: o rompimento com uma tradição longa."

O presidente do Supremo disse, porém, não acreditar que as condenações e prisões vão reduzir o envolvimento de parlamentares em atos de corrupção e outros crimes. "Não tenho ilusão quanto a isso."

Prisões. Condenado em 2010, o deputado Natan Donadon foi preso em junho deste ano. Até então, o último parlamentar condenado e preso havia sido Chico Pinto, ainda durante a ditadura militar.

Nos meses seguintes, deputados condenados por envolvimento no esquema do mensalão, operado durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foram presos: José Genoino (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT) - os três renunciaram aos mandatos. Na lista de presos, ainda há ex-parlamentares como José Dirceu, Bispo Rodrigues e Romeu Queiroz.

Nas próximas semanas, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) , também condenado no processo do mensalão, pode ter a prisão decretada. O ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) também aguarda decisão do Supremo para saber se poderá cumprir a pena em regime domiciliar.

As prisões que marcaram o ano, conforme avaliação de Barbosa, ainda são poucas se comparadas às dezenas de processos que esperam julgamento do Supremo. No próximo ano, duas delas devem ir a julgamento: as ações penais contra o deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e o senador Clésio Andrade (PMDB-MG). Azeredo e Glésio Andrade são"acusados de participação no mensalão mineiro, esquema de arrecadação ilegal de recursos para a campanha à reeleição do tucano, então governador de Minas, em 1998, conforme denúncia Procuradoria-Geral da República.

Janot diz que Jefferson tem de ir para a cadeia
Parecer de ontem do procurador-geral da República, Rodrigo Jariot, pede que o ex-deputado federal Roberto Jefferson, condenado por participação no mensalão, cumpra pena na cadeia.

Alegando problemas de saúde, Jefferson pediu autorização do Supremo para cumprir em casa a pena de 7 anos e 14 dias no regime semiaberto. Delator do esquema, o ex-parlamentar sofreu no ano passado cirurgia para extração de um tumor no pâncreas e, segundo seus advogados, necessita de tratamento médico constante e alimentação controlada, com itens como salmão defumado e geleia real.

Fonte: O Estado de S. Paulo.

Livro acusa petistas de criar 'usina de dossiês'

Ex-secretário de Lula, Tuma Jr. acusa PT de usar máquina contra adversários

Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, promete rebater as acusações; até ontem, Lula não comentou

SÃO PAULO - Um livro publicado nesta semana acusa o Palácio do Planalto de usar a máquina estatal para montar uma "usina de dossiês" contra adversários do PT e afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informante da ditadura militar.

Com 557 páginas, "Assassinato de Reputações: um Crime de Estado" (Topbooks) traz o depoimento do ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Jr., 53 anos, ao jornalista Claudio Tognolli.

Após três anos no cargo, Tuma Jr. foi afastado do governo em 2010 sob a suspeita de beneficiar um suposto integrante da máfia chinesa, Paulo Li.

Parte do teor do livro já havia sido publicado nas duas mais recentes edições da revista "Veja". Na semana passada, governistas bloquearam um convite da oposição para Tuma Jr. no Senado, alegando que deixou o governo por suspeitas "gravíssimas".

No livro, Tuma Jr. afirma que ele acabou se tornando uma das vítimas da "fábrica de dossiês" petista e que, apesar de ter sido inocentado por sindicâncias internas, acabou condenado pelo "Supremo Tribunal do Google".

"Se o objetivo é político, a condenação moral é muito mais importante do que a jurídica", disse Tuma Jr. ontem à Folha, por telefone.

No livro, ele afirma que Lula o "usou como um fraldão, sumamente descartável".

Na oposição, um dos alvos do governo teria sido o ex-senador e ex-governador tucano Tasso Jereissati (CE).

Em 2009, o então senador e hoje ministro da Educação, Aloizio Mercadante, lhe teria entregue um pendrive com "seriíssimas denúncias" contra Jereissati.

À Folha, Tuma Jr., hoje delegado aposentado, disse que sua relação com o governo petista se deteriorou por não cumprir ordens para fazer dossiês e pelo que sabia sobre o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (leia quadro abaixo), do qual participou da investigação.

"Se eu tivesse falado: Esquece o assunto, não sei de nada', talvez não tivesse acontecido isso", disse, em referência a uma conversa sobre o caso com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse na semana passada que pediu explicações aos setores de sua pasta mencionados no livro. Ele prometeu rebater todas as acusações de Tuma Jr.

'Barba'
Uma das partes mais fortes do livro é o capítulo 4, "Lula: Alcaguete e Aprendiz do Dops [Departamento de Ordem Política e Social]", órgão de repressão do regime militar chefiado pelo pai, Romeu Tuma, morto em 2010.

Na época, entre o final dos anos 1970 e início dos 1980, Lula era o principal líder sindical da região do ABC paulista e trabalhava na criação e organização do PT.

"Lula nos prestava informações muito valiosas: sobre as datas e locais de reuniões sindicais, quando haveria greve, onde o patrimônio das multinacionais poderia estar em risco por conta dessas paralisações", afirma Tuma Jr., na época investigador de polícia subordinado ao pai.

Sempre de acordo com o livro, Lula tinha o codinome Barba e, por causa da condição de informante, "obtinha certas vantagens".

A principal teria sido a autorização para dormir no sofá do escritório de Tuma durante quase todo o período em que esteve preso, entre abril e maio de 1980.

"O livro é uma contribuição para a história. Não tive espaço para falar, escrevi."

Até ontem, Lula não havia se pronunciado sobre o livro.

Fonte: Folha de S. Paulo

As acusações de Tuma Jr.

Ex-secretário nacional de Justiça no governo Lula lança livro com denúncias contra o PT

Grampo no STF

O que diz o livro
Em 2007, agentes da Abin e da Polícia Federal grampearam todos os ministros do STF usando uma nova tecnologia francesa, que seria mais sofisticada e eficiente

Problema
O agente da PF citado por Tuma Jr. como fonte negou à Folha saber do suposto grampo

Ditadura militar

O que diz o livro
Lula foi informante do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) quando era dirigido pelo delegado Romeu Tuma, morto em 2010

Como ele sabe disso
Tuma Jr. diz que era investigador subordina-do ao seu pai e que presenciou as conversas com Lula, mas que só eles, além do general Golbery do Couto e Silva (1911-87), sabiam que o então líder sindical era um informante

Fábrica de dossiês

O que diz o livro
Quando era secretário nacional de Justiça, Tuma Jr. recebia pedidos para fazer dossiês contra adversários políticos do PT, entre eles os tucanos Tasso Jereissati, Marconi Perillo e a ex-primeira-dama Ruth Cardoso

Que provas ele tem
O livro traz documento bancário de Jereissati que teria sido entregue pelo atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante

Celso Daniel

O que diz o livro
O ministro Gilberto Carvalho admitiu a Tuma Jr. que o PT desviou recursos de Santo André na gestão de Celso Daniel, morto em 2002. Uma testemunha cujo nome não é revelado teria visto veículos da prefeitura no local do crime na noite anterior à descoberta do corpo

Que provas ele tem
É a palavra dele contra a de Carvalho, que nega tudo e vai processá-lo

Fonte: Folha de S. Paulo

"Aliança de Dilma deu o que tinha que dar"

Durante filiação da ex-ministra do STJ Eliana Calmon ao PSB, Eduardo Campos classificou a aliança que dá sustentação à presidente como "conservadora"

SALVADOR - Dois dias após trocar elogios e farpas com a presidente Dilma Rousseff (PT), o governador de Pernambuco e pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos (PSB), afirmou ontem que a aliança política que dá sustentação à presidente é "conservadora" e "deu o que tinha que dar".

"Todos nós que olhamos para Brasília hoje e vemos aquela aliança que aí esta formada, olhamos nossa trajetória e temos no nosso coração e consciência uma conclusão rápida: aquela aliança já deu o que tinha que dar ao Brasil", afirmou Campos.

O governador participou em Salvador de ato de filiação ao PSB da ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Eliana Calmon, que irá disputar uma vaga no Senado pela Bahia. Além de Eliana, participaram a ex-senadora Marina Silva e a pré-candidata do PSB ao governo da Bahia, senadora Lídice da Mata.

Durante a solenidade de filiação, em uma casa de festas da capital baiana, Campos foi saudado aos gritos de "guerreiro do Brasil" e "futuro presidente" por cerca de mil pessoas.

Presidente nacional do PSB e ex-ministro da Ciência e Tecnologia no governo Lula, Campos disse, ainda, que "as forças políticas historicamente presentes nas lutas democráticas" perderam espaço no governo Dilma para dar protagonismo ao chamado "presidencialismo de coalizão, sustentado por uma aliança conservadora".

"Presidencialismo de coalizão é a denominação dada ao arranjo institucional tipicamente brasileiro em que o presidente se elege por maioria absoluta, mas seu partido raramente obtém maioria no Congresso, tendo que organizar alianças políticas com parceiros com os quais mantém poucas afinidades ideológicas e programáticas."

Justificativa
Campos justificou a saída do PSB do governo petista argumentando que "há na sociedade desde 2011 - primeiro ano da gestão Dilma - o desejo por uma aliança mais programática e progressista, levando para o centro partidos que militam pelas transformações verdadeiras".

"O que ela (aliança de Dilma) pode oferecer ao Brasil agora é o que o país não precisa, que é recuar e jogar fora as poucas conquistas que tivemos", afirmou Campos, citando a possibilidade de retrocesso na economia, com prováveis reflexos nos índices de desemprego e de endividamento do trabalhador.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Ex-corregedora do CNJ se filia ao PSB e é lançada ao Senado por Campos e Marina

SALVADOR - O governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência, e a a ex-senadora Marina Silva lançaram ontem a candidatura ao Senado, pela Bahia, da ex-corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Eliana Calmon, com críticas à "velha política" e ao governo federal Durante a solenidade de filiação de Eliana ao PSB, numa casa de eventos em Salvador, Campos foi saudado aos gritos de "guerreiro do Brasil" e "futuro presidente" por cerca de mil pessoas. A chapa terá a a senadora Lídice da Mata como candidata ao governo.

Campos disse que o país parou por culpa da "aliança conservadora" que governa o país:

— Não podemos continuar administrando o combate a inflação, como se diz no Nordeste, da "mão para a boca" com ações pontuais imediatistas que, efetivamente, nos remete a um tempo em que o Brasil pôs duas décadas a perder. Nós sabemos que é preciso preservar as conquistas, e só vamos preservá-la se conseguirmos enxergar o futuro do Brasil acima dos interesses de partidos e grupos políticos — afirmou.

Marina foi mais explícita: frisou que a aliança PSB/Rede prega uma política que "não esteja baseada na distribuição de cargos, como vem sendo feita".

— Já estamos com 39 ministérios e só não se chega aos 40 por constrangimento numérico — disse, numa alusão a "Ali-Babá e os 40 ladrões"

Eliana afirmou que optou por concorrer na Bahia, apesar de morar há 24 anos em Brasília, pelas suas "raízes". Foi graças a essa ligação, afirmou, que enfrentou as pressões que sofreu quando combateu o corporativismo no Judiciário.

—Eu sempre dizia: não se meta comigo porque sou baiana!

Fonte: O Globo

Segundo Campos, aliança dilmista é 'conservadora'

Sustentação política de Dilma 'já deu o que tinha que dar', diz governador de PE

SALVADOR - Dois dias após trocar afagos com a presidente Dilma Rousseff durante encontro de ambos em Ipojuca (PE), o governador e provável candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, afirmou ontem, em Salvador, que a aliança política que dá sustentação à presidente é "conservadora" e "já deu o que tinha que dar".

Presidente nacional do PSB e ex-ministro da Ciência e Tecnologia no governo Lula, Campos disse ainda que as forças políticas "historicamente presentes nas lutas democráticas" perderam espaço no governo Dilma para dar protagonismo ao chamado "presidencialismo de coalizão", sustentado por uma "aliança conservadora".

Na capital baiana, Campos participou do ato de filiação ao PSB da ex-ministra do STJ Eliana Calmon, que irá disputar vaga no Senado em 2014.

Também participaram do ato a ex-senadora Marina Silva e a pré-candidata do PSB ao governo da Bahia, a senadora Lídice da Mata.

Fonte: Folha de S. Paulo

Dividido sobre apoio a Dilma, PP ambiciona 7 governos estaduais

Por Fábio Brandt

BRASÍLIA - Defensor da aliança formal com o PT na eleição de 2014, o novo presidente do Partido Progressista (PP), Ciro Nogueira, afirma que pode lançar candidatos próprios ao governo de sete Estados. Em Alagoas, no Mato Grosso e no Tocantins, o PP deve receber o apoio do PT e dar palanque para a reeleição de Dilma Rousseff. Mas no Rio Grande do Sul, no Amazonas e em Minas Gerais, os partidos serão adversários. Em Rondônia, o PP deve ter candidato contra o PT, mas, mesmo assim, apoiar Dilma.

Senador pelo Piauí, Nogueira assumiu a presidência do PP em abril deste ano com um discurso de renovação. Deixou para segundo plano nas decisões partidárias figuras da velha guarda, como o antigo presidente Francisco Dornelles e Paulo Maluf.

Ciro deixou claro que não pretende repetir em 2014 o que fez Dornelles em 2010. Na ocasião, os caciques regionais se dividiram entre o apoio ao PT de Dilma e ao PSDB de José Serra. Por isso, a cúpula decidiu não entrar em nenhuma coligação presidencial.

Hoje, no entanto, o raio-x das estratégias estaduais mostra que o partido continua dividido. Em muitos locais, ainda predomina o espírito antipetista do PP, formado a partir da Arena e do PDS, legendas apoiadoras do regime militar (1964-1985).

Segundo Ciro Nogueira, uma das metas da sigla será ampliar de 40 para 50 o número de deputados federais. No Senado, de cinco para oito representantes. Mas a prioridade, diz o presidente do PP, será eleger governadores.

Essa estratégia faz as atenções do PP se voltarem principalmente para o Rio Grande do Sul, quinto maior colégio eleitoral do Brasil (8,3 milhões de eleitores, 6% do total). A sigla considera ser favorito para o governo gaúcho com a senadora Ana Amélia. Ela vai concorrer contra o atual governador, Tarso Genro (PT), e recusa-se a dar palanque para Dilma. "A presidente [Dilma] insiste em ter o apoio, mas a Ana Amélia é muito resistente", diz Ciro.

O mesmo não acontece no Amazonas, onde a conciliação sequer é discutida. O Estado tem 2,1 milhões de eleitores (1,6% do total). A candidata do PP será a deputada federal Rebecca Garcia, apoiada pelo prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB). Seu principal adversário será ninguém menos que um representante direto da administração Dilma: o senador Eduardo Braga (PMDB), atual líder do governo no Senado.

Em Minas, segundo maior eleitorado do país (15 milhões de eleitores, 10,6% do total), o PP quer apoio do PSDB para lançar a candidatura do atual vice-governador, Alberto Pinto Coelho. O apoio ainda é incerto porque os tucanos cogitam ter candidato próprio - possivelmente Pimenta da Veiga, ex-ministro de Fernando Henrique. De qualquer modo, o PP dificilmente embarcará na candidatura petista do ministro Fernando Pimentel.

Em Rondônia (1,1 milhão de eleitores, 0,8% do total), o PP estuda lançar o deputado federal Carlos Magno ou Ivone Cassol, mulher do senador Ivo Cassol, que dificilmente conseguirá ser candidato por conta de uma condenação sofrida, em 2013, no Supremo Tribunal Federal (STF). O líder do PP na Câmara, Eduardo da Fonte, integrante do núcleo decisório do PP, afirma que, apesar da situação ainda indefinida, o PP dará palanque para Dilma em Rondônia, mesmo que os petistas apoiem outro candidato a governador.

Dos Estados onde o PP deve apoiar Dilma e ter apoio do PT para seus candidatos, o maior é o Mato Grosso (2,1 milhões de eleitores, 1,5% do eleitorado nacional). O candidato do PP deve ser o produtor rural Eraí Maggi, primo do senador e ex-governador Blairo Maggi, que está filiado ao PR.

Em Alagoas (1,9 milhão de eleitores, 1,4% do total), os pepistas esperam apoio do PT para a candidatura do senador Benedito de Lira ao governo. E, no Tocantins, o PP que eleger Roberto Pires, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Tocantins (Fieto).

Mesmo em Estados onde o PP não terá candidato a governador, o racha com o PT é evidente. Em Goiás, por exemplo, a sigla quer apoiar a reeleição de Marconi Perillo (PSDB) e continuar tendo o vice, José Eliton. No Acre, Gladson Cameli deve disputar o Senado na chapa do PSDB. E, no Paraná, o PP também estará com os tucanos na campanha pela reeleição de Beto Richa (PSDB), diz Ciro Nogueira.

Por outro lado, negociações com o PT estão em curso no Piauí, Estado de Ciro. Ele espera que o PT lance Wellington Dias para governador e deixe a vaga de vice para sua mulher, a deputada Iracema Portella (PP). O candidato a senador da chapa, segundo Ciro, será João Vicente Claudino (PTB). No Rio, diz o presidente do PP, o PT gostaria de ter o senador Francisco Dornelles como vice de Lindbergh Farias. Mas a vontade de Dornelles seria, de acordo com Ciro, tentar a reeleição como senador.

Fonte: Valor Econômico

Genro condiciona reeleição a indexador da dívida

Por Sérgio Ruck Bueno

PORTO ALEGRE - O governador gaúcho, Tarso Genro (PT), condicionou sua candidatura à reeleição em 2014 à aprovação do projeto de lei que muda o indexador da dívida dos Estados com a União e à presença exclusiva da presidente Dilma Rousseff em seu palanque no Rio Grande do Sul durante a campanha. Sem essas duas condições, ele disse que o partido irá para a disputa com outro candidato.

"Minha candidatura está balizada por alguns elementos políticos importantes", afirmou o governador em almoço ontem com jornalistas para apresentar o balanço do terceiro ano de governo. O recado foi dado na véspera da inauguração, com a participação da presidente da República, da rodovia BR 448 que liga Porto Alegre à região metropolitana.

"Se o projeto de lei complementar (PLC) da dívida não for aprovado antes das eleições seguramente não serei eu o candidato", afirmou Genro. A proposta, que substitui a correção dos débitos de IGP-DI mais 6% (no caso do Rio Grande do Sul) a 9% ao ano pelo IPCA mais 4% ou taxa Selic, o que for menor, está pronta para ser votada no Senado no início do ano que vem. O Estado deve R$ 41 bilhões para a União.

Conforme Genro, sem a mudança do indexador, o próximo governador do Estado só terá condições de "manter os projetos em andamento e pagar salários". Nestas condições ele não concorrerá porque não está disposto apenas a "ocupar cargo". "Sou um militante político, tenho vontades programáticas de fazer o Estado crescer e se este PLC não for aprovado não isto vai ocorrer".

Quanto à exclusividade da presença de Dilma no palanque do PT no Estado, independente do lançamento de candidaturas de outros partidos que apoiam o governo federal, como o PDT, o PMDB e o PP, Genro reforçou a reivindicação que já havia sido feita pelo novo presidente estadual do partido, Ary Vanazzi, eleito em novembro.

"Eu sou aqui o representante da presidenta Dilma, eu apoio a presidente Dilma e grande arte dos nossos projetos estratégicos está ancorada no projeto da presidenta Dilma", afirmou o governador. "Então é natural que ela tenha um palanque único e se não tiver, nós vamos discutir quem é o [candidato] mais indicado. Eu vou argumentar que não sou eu".

Questionado se aceitaria uma posição de neutralidade da presidente, sem a participação dela no palanque de nenhum candidato no Estado, Genro limitou-se a afirmar que ainda não havia chegado a esta "elaboração". Segundo o governador, "fechados esses dois elementos", ele vê "boa possibilidade" de concorrer em 2014. "Aí vou entrar com vontade na campanha [como] um trator político, no bom sentido da expressão".

Fonte: Valor Econômico

Serra evita dizer se desistiu do Planalto

Tucano é evasivo ao ser indagado se continua na disputa

CURITIBA - O ex-governador de São Paulo José Serra deu demonstrações ontem de que ainda não desistiu da candidatura à Presidência da República pelo PSDB. Em Curitiba, onde recebeu a medalha da Ordem do Pinheiro, ele saiu pela tangente quando questionado se abrira mão da disputa pelo Palácio do Planalto:

— Só quis dizer a quem acha que precisa esperar para anunciar a definição (do candidato) que não há necessidade nenhuma disso — afirmou, quando perguntado sobre declarações feitas por ele esta semana nas redes sociais, nas quais disse que os que defendem a candidatura do senador Aécio Neves (MG) devem fazer a indicação "sem demora".

Serra se recusou a comentar as propostas para o país apresentadas terça-feira por Aécio, em evento em Brasília:

— Não estamos aqui para falar disso — disse, pouco antes da condecoração oferecida pelo governo do Paraná a 50 pessoas que contribuíram para o desenvolvimento do estado.

Sem querer tratar das eleições de 2014, o tucano não se fez de rogado ao lembrar a votação expressiva que teve naquele estado:

— No Paraná me sinto em casa. Aqui tive a maior vantagem de votos na eleição.

Outro homenageado com a comenda, o senador Álvaro Dias (PDB-PR) anunciou apoio à candidatura de Aécio:

— Precisamos de um projeto de nação. Estamos indignados com esse governo que se apoia num modelo de corrupção. É um sistema que tem que ser destruído. É isso que nos une. Se há diferenças entre nós, há algo maior que nos mantém unidos.

Fonte: O Globo

No Paraná, Richa e Gleisi disputam vice do PMDB

Por Fábio Brandt

BRASÍLIA - Os principais candidatos ao governo do Paraná em 2014 já iniciaram as articulações para encontrar seus vices. O PMDB está na mira tanto do candidato à reeleição, Beto Richa (PSDB), quanto da desafiante, a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Por conta das divisões internas do PMDB, no entanto, ambos trabalham com alternativas. Richa já procurou o PSC de Ratinho Junior, filho do apresentador de TV. Gleisi conversa com Osmar Dias (PDT) e também com Eduardo Sciarra (PSD).

A disputa pelo governo paranaense promete ser um duro embate entre PT e PSDB. Os petistas nunca elegeram o governador do Paraná. Esperam quebrar esse tabu para reforçar sua presença no Sul do Brasil a partir de 2015. Mas, antes disso, julgam necessário ter bom desempenho na campanha de Gleisi para que os eleitores sulistas, historicamente tidos como refratários ao PT, tenham motivos para apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff.

A importância dada pelos dois partidos ao Paraná tem razão de ser. Com 7,7 milhões de eleitores (5,5% do total nacional), é o sexto maior colégio eleitoral do país, de acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), referentes a novembro de 2013. Na economia, o Paraná tem o quinto maior Produto Interno Bruto (PIB) entre os Estados: R$ 239 bilhões (5,8% do PIB brasileiro), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes a 2011.

Beto Richa parece ter superado seu primeiro obstáculo: as desavenças com o senador Álvaro Dias (PSDB). O governador assegurou apoio à reeleição do senador. E obteve resposta recíproca. O próximo passo será fazer a cabeça do atual vice, Flávio Arns (PSDB). Richa já procurou ao menos dois partidos, PMDB e PSC, para oferecer a vaga de Arns.

Procurado pelo Valor, Alvaro Dias deu mostras de que seu entendimento com Richa já surte efeito. Defendeu o governador e disse que "ele [Flávio Arns] vai ficar de acordo". Segundo Dias, é correto ceder a vice. "Se o PMDB vier com o PSDB, a eleição acaba no primeiro turno", afirmou. O PSC, disse, seria um ótimo aliado, mas a estrutura do PMDB daria mais robustez à candidatura tucana.

Não só a preferência pelo PMDB afasta o PSC da vice de Beto Richa. O PSC insiste para Ratinho Junior ser candidato a deputado federal. Campeão de votos, ele poderia levar consigo para Brasília mais colegas do partido. Mas Ratinho tem outros planos: quer se eleger deputado estadual e passar mais tempo em Curitiba para fortalecer seu nome para as próximas eleições: 2016 (prefeito) e 2018 (governador).

Assim como no PSDB, muitos petistas veem no PMDB o aliado ideal para vencer já no primeiro turno. Caso essa aliança não se concretize, Gleisi tem um aliado garantido: o PDT do prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet. O problema é que a pessoa do PDT para entrar na aliança, Osmar Dias, recusa-se a disputar a eleição contra o irmão tucano Álvaro. Os petistas já começam a desistir de convencê-lo e trabalham outra opção: fazer com que o PSD, de Gilberto Kassab, saia da base de apoio a Beto Richa e entre na coligação petista.

O líder do PSD na Câmara dos Deputados, Eduardo Sciarra, afirmou ao Valor que será candidato a senador e que o empresário Joel Malucelli disputará o governo pelo partido. Esse é o quadro atual. Mas ele não nega que tenha sido procurado pelo PT para aderir ao projeto de Gleisi. Fontes do PT consultadas pela reportagem afirmam que, de fato, estão pleiteando a entrada de Sciarra em sua aliança.

Toda essa confusão pode se resolver após o PMDB realizar sua convenção no próximo ano e revelar qual de seus grupos internos vai dominar a legenda no Paraná. Ao menos três grupos disputam o PMDB. O grupo do senador Roberto Requião trabalha para lançá-lo como candidato a governador. Um outro grupo, mais próximo aos petistas, apresenta como possível vice de Gleisi o deputado estadual Caito Quintana. O terceiro grupo, mais próximo ao PSDB, tem como opções o ex-governador Orlando Pessuti e o deputado federal Osmar Serraglio. Apesar de Pessuti mostrar empenho para ser candidato ao governo, tanto ele quanto Serraglio são vistos pelos tucanos como opções de vice para Beto Richa.

Fonte: Valor Econômico

BC reduz estimativa de crescimento do PIB para este ano e prevê inflação perto de 6%

Projeção de expansão da economia caiu de 2,5% para 2,3%

Gabriela Valente

BRASÍLIA - O Banco Central diminuiu a previsão de crescimento da economia brasileira neste ano de 2,5% para 2,3%. De acordo com o relatório trimestral de inflação, publicado nesta sexta-feira pela autoridade monetária, o país deve manter o mesmo ritmo de crescimento, 2,3%, no terceiro trimestre do ano que vem. Os diretores ainda apostam que a inflação continuará resistente nos próximos anos.

Segundo o documento, o BC manteve a projeção de 5,8% para o Índice de Preços ao Consumido Amplo (IPCA) para este ano. Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula uma alta de 5,77%.

A estimativa para a inflação em 2014 é de 5,6% e de 5,4% para 2015. Acima da meta para a alta de preços nos dois anos: 4,5% com uma margem de tolerância de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

As contas do BC são feitas sobre um cenário de referência. Os técnicos usam a taxa básica de juros em vigor, ou seja, 10% ao ano. Ou seja, mudanças promovidas pelo próprio Banco Central alteram essas previsões. Além disso há o fator surpresa do dólar, que tem impacto direto no preço dos produtos importados.

Por isso, o Banco Central trabalha com uma possibilidade de eventos econômicos que podem fazer a inflação estourar o teto da meta. Tanto para 2014 quanto para 2015, a probabilidade de o IPCA romper essa barreira é de 27%.

Fonte: O Globo

Campanha sem lei – Merval Pereira

Em todo o país vê-se quase que diariamente a quebra das regras eleitorais, com autoridades de diversos níveis sabidamente candidatas utilizando-se do acesso ao rádio e à televisão que lhes permitem os cargos que ocupam para preparar suas candidaturas. Principalmente a presidente Dilma. Teoricamente, a propaganda eleitoral nas ruas e na internet será liberada no dia 6 de julho, e a campanha no rádio e na televisão começará no dia 19 de agosto.

O caso mais escandaloso é o do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, potencial candidato a governador de São Paulo, que comprou tempo de televisão recentemente para comemorar como uma vitória pessoal a determinação da Justiça de desautorizar o aumento do IPTU da cidade de São Paulo. O imposto é municipal, e a entidade que Skaf preside é estadual, e a proibição do aumento deveu-se também a uma ação do PSDB.

Mas isso não tem a menor importância para quem quer aparecer para o grande público como o defensor dos cidadãos contra a ganância do prefeito petista Fernando Haddad. Ontem Paulo Skaf esteve no Supremo Tribunal Federal para conversar com o presidente Joaquim Barbosa a respeito, pois a prefeitura de São Paulo recorreu ao STF depois de perder na justiça local e no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

São os primeiros movimentos da campanha eleitoral desenrolando-se diante dos eleitores, sem que os tribunais eleitorais tomem providências. Como oficialmente não há campanhas eleitorais ainda, não há uma legislação específica que possa ser acionada, tudo dependerá da subjetividade dos juízes eleitorais.

No Rio, há um procurador tentando controlar pré-candidatos de vários partidos que estão descumprindo a lei eleitoral. O vice-governador Pezão, do PMDB, o deputado federal Garotinho, do PR e o senador Lindbergh Farias, do PT, cada um a sua maneira desrespeita sistematicamente a lei, inaugurando obras ou usando o horário eleitoral gratuito do partido para alavancar seus nomes ao governo do Estado.

Os partidos e candidatos sabem que estão errados, mas preferem pagar a multa irrisória – o valor varia de 5.000 a 20.000 reais – a deixar de fazer a propaganda eleitoral antecipada. Isso quando pagam multa.

A cobrança
Clóvis Brigagão, professor do IUPERJ/UCAM e professor-visitante da UERJ, lembra que a compra dos novos caças reforça a importância estratégica de uma Força Aérea que defina uma Política de Defesa Aérea no Brasil que, segundo ele, está ainda um pouco longe de termos: “Basta ver que a Força Aérea toma muito mais conta dos aeroportos civis, que deveriam ser do âmbito do Ministério dos Transportes (rodoviária, ferroviário, aéreo e fluvial) e não da área aeroespacial”. Vamos agora ter uma política de defesa aeroespacial, pergunta Brigagão, para responder: “Vamos cobrar”.

Cumprir a lei
A violência no futebol brasileiro já não se faz sentir apenas nos estádios de futebol e em suas imediações, mas passou a ser um estado de espírito. Torcedores e jogadores do Fluminense são atacados nas ruas, crianças sofrem bulling nas escolas.

A decisão do STJD de tirar os pontos de Flamengo e Portuguesa por terem escalado jogadores sem condições de jogo foi o pretexto para torcedores trogloditas extravasarem seus ressentimentos sobre o Fluminense, que nada teve a ver com o caso. Cumprir a lei passou a ser um pecado mortal.

Enquanto em público defendem teses estapafúrdias, no particular, sabemos agora pela troca de mensagens entre dirigentes do Flamengo, eles têm noção de que estão errados, não têm nenhum direito a reivindicar e que, como um deles disse, se não fosse a Portuguesa, seria o Flamengo o rebaixado.

Que leis como a que puniu a Portuguesa, que não dão margem a graduações de punições, devem ser mudadas, não se discute. Mas nesse caso, se tudo indica que a Portuguesa errou sem má-fé, por desorganização, o Flamengo, pela conversa de seus dirigentes, errou por soberba. Não há flexibilização da legislação que resolva esse caso.

Fonte: O Globo

Ilegal? Pois é – Dora Kramer

Não são os marcianos nem o tão falado ativismo judicial os responsáveis pela limitação das campanhas ao período de três meses antes das eleições. A regra está na lei eleitoral e é fruto da vontade do Congresso.

Resultado de uma decisão do Parlamento, tomada por partidos que são os primeiros a ignorá-la solene e cinicamente quando saem por aí propagandeando seus candidatos inclusive em horário de televisão reservado à divulgação das legendas e financiado por dinheiro público.

A lei está obsoleta? Não atende às exigências da realidade? É draconiana, restritiva, impraticável? Perfeitamente. O Parlamento construiu, pode desconstruir; reunir-se, reformar as regras ou mesmo simplesmente revogar a existente, suspendendo qualquer restrição a campanhas.

Como a proibição não é respeitada, na prática não faz sentido e as punições não são suficientes para inibir as transgressões, melhor que suas excelências deixem de atuar na ilegalidade. Têm poder para isso.

Ademais, não está aí o problema. O tempo de campanha pode ser livre, a conduta dos homens e mulheres públicos é que não pode ser permissiva.

Hoje não há praticamente mais separação entre um pleito e outro. O assunto, os atos, as decisões, os gestos, qualquer movimento têm como meta o resultado eleitoral que possa produzir. Os problemas do cotidiano da população ficam, assim, em segundo plano ante a conveniência de cada agremiação.

Essa distância fica muito nítida quando se examinam as pesquisas. No caso federal há discrepância entre os índices de aprovação da figura presidencial e a avaliação bastante negativa sobre o funcionamento dos serviços prestados pelo Estado.

Há um ganho personalista nessa propaganda de cunho eleitoral à qual se dá o nome de "campanha antecipada" que, na verdade, é permanente. Em contrapartida, existe o desleixo em relação ao que seria de interesse da população no restante do tempo em que não está preocupada com quem vai ganhar ou perder o poder, mas em viver melhor.

Há seis meses as pessoas foram às ruas dizer: prestem atenção em nós! Pelo visto, não foram bem entendidas. Passado o susto, que provocou um intervalo de recolhimento dos partidos e dos políticos, voltou a vigorar o que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Marco Aurélio Mello, chamou, em entrevista ao Valor Econômico, de "Babel" onde viceja "a lei do mais esperto".

Uma espécie de lei de Gérson: tira vantagem da situação quem tem mais ousadia para transgredir. Como ninguém quer ficar em desvantagem além daquele desequilíbrio usual, decorrente do uso da máquina pública por parte dos governantes candidatos, locupletam-se todos.

Diz o ministro que a Justiça Eleitoral será mais rigorosa nessa eleição. Ele acredita que as multas hoje insignificantes podem ser aumentadas mediante uma interpretação menos limitada da lei e defende que o TSE avance na jurisprudência levando a julgamento o registro da candidatura de quem faça propaganda antes da hora.

Claro que aí surgiriam as vozes de sempre dizendo que o Judiciário se intromete onde não deve; que o embate político não pode ocorrer nos tribunais e que a Justiça, se porventura vier a cassar essa ou aquela candidatura, estará sendo parcial.

Estará, isso sim, cumprindo o seu papel até hoje exercido com evidente leniência na área eleitoral. Para evitar justamente comprar uma enorme briga e ainda ser acusada de atrapalhar o "processo".

Pois é, mas existe uma lei. Conforme o início da nossa conversa, não foi aprovada em Marte nem inventada nos tribunais.

É produto da manifestação dos políticos. Se eles não medem as consequências de suas atividades legislativas, ao menos que as respeitem. Ou revoguem as disposições em contrário.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Bombardeio aéreo - Maria Cristina Fernandes

Gripen no lugar das kombis e muda projeto de poder

O Estado que cresceu sobre quatro rodas agora deve ser conquistado pelo ar. A campanha petista pela joia da coroa da Federação começou com um bombardeio aéreo de grande alcance. Num único dia, o governo anunciou a compra dos caças suecos e a construção do terceiro aeroporto da região metropolitana de São Paulo.

É evidente que uma decisão de US$ 4,5 bilhões que mobilizou o lobby dos mais estrelados governantes do planeta e levou 13 anos para ser tomada não teve como alvo a comezinha disputa eleitoral em São Paulo. Mas está claro que a escolha do Gripen trará benefícios para o projeto petista de desalojar o PSDB do Palácio dos Bandeirantes.

Das três propostas em disputa, a dos caças suecos era a mais comprometida com aquilo que os petistas do ABC chamam de embrião de um polo tecnológico. Como já relatou Marli Olmos, do Valor, os suecos foram hábeis em prometer investimentos e fazer aliados em São Bernardo do Campo. Vai demorar, mas oferece ao discurso político uma promessa de futuro.

É com essa parceria que Luiz Marinho, o prefeito da cidade que ascendeu no sindicalismo e na política sob os auspícios do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pretende reverter o esvaziamento da região que viu sua indústria automobilística espalhar-se pelo país.

O anúncio dos caças se deu no mesmo dia em que se noticiou o fim da produção de kombis, inadaptadas ao airbag, em São Bernardo do Campo.

Parece mera coincidência, mas é também uma migração de projeto de poder. Depois de entupir as cidades brasileiras de carros, o petismo investe mais decididamente, a partir do seu berço político, no desenvolvimento de um polo tecnológico voltado para a indústria de defesa, inteligência, segurança pública e exploração do pré-sal.

Como são setores dependentes de compras governamentais e de linhas de financiamento oficiais, podem servir de lastro ao já verbalizado projeto de 20 anos de poder, que passa pela tomada do Palácio dos Bandeirantes.

O PT paulista nunca esteve tão determinado nesse propósito quanto nesses anos em que esteve fora da cadeira presidencial. A eleição da presidente Dilma Rousseff foi o momento mais nacionalizado da cúpula petista. O ex-ministro Antonio Palocci, voz de Lula no comando, dividia forças com o ex-presidente da Petrobras, o sergipano José Eduardo Dutra e o atual ministro Fernando Pimentel (MG). O terceiro nome da coordenação de campanha, José Eduardo Martins Cardozo, hoje ministro, apesar de paulista, era da cota de Dilma e nunca pertenceu ao grupo lulista.

Em 2014, além de 100% do comando da campanha presidencial, os paulistas contarão, na presidência da seção estadual do partido, com o ex-prefeito de Osasco, Emídio de Sousa, petista de perfil executivo, próximo a Palocci.

Além de desalojar os tucanos, sua missão, na praça que congrega 22% de todos os eleitores do país, é compensar em São Paulo o avanço dos adversários sobre territórios que, nas três últimas eleições, cravaram PT para presidente.

O maior deles é Minas. O ex-governador de São Paulo e o atual, José Serra e Geraldo Alckmin, revezaram-se em derrotas para os petistas naquele Estado nas mesmas três eleições em que o senador Aécio Neves reelegeu-se e fez de Antonio Anastasia governador.

Desta vez, apesar de o PT ter em Fernando Pimentel um candidato competitivo ao governo do Estado, é improvável que o partido repita a façanha de colocar mais de um milhão de votos à frente dos tucanos como o fez em todos os primeiros turnos a partir de 2002.

Dos três maiores Estados do Nordeste, dois, Bahia e Ceará, deram a Dilma vantagem superior a dois milhões de votos em 2010. Desta vez, a situação é mais confortável no Ceará. Na Bahia, Estado que lhe deu a maior dianteira (2,7 milhões de votos) em todo o país, além de o PT não ter mais o bônus da reeleição de governador, enfrentará uma chapa de duas mulheres boas de briga, Lídice da Matta (governo) e Eliana Calmon (Senado), ambas no partido do governador Eduardo Campos (PSB).

No seu Pernambuco, um dos seis em que Dilma alcançou diferença superior a um milhão de votos sobre o PSDB, está claro que a campanha da presidente será dura. No primeiro turno de 2002, Lula só perdeu em três Estados. Dois deles, Ceará e Rio, tinham ex-governadores no páreo presidencial, Ciro Gomes e Anthony Garotinho, ambos ex-correligionários de Campos.

A presidente tampouco terá vida fácil nos Estados da fronteira agrícola, aqueles sempre manchados de azul nos mapas de resultados eleitorais. A situação poderia ser pior se Campos não tivesse que explicar tanto para o agronegócio que, se eleitos, Marina Silva, acolhida como centroavante, será jogada para o escanteio

Com um mapa nacional mais intrincado que o de 2010, Dilma não pode se dar ao luxo de perder em São Paulo. Nos nove turnos em que os paulistas foram às urnas escolher presidente (contando o único de 1989), em apenas dois - os de 2002 - o PT venceu em São Paulo.

Naquela eleição, o desemprego era o dobro do atual e afetava mais o bolsão industrial que o resto do país. A crise no emprego não foi capaz de impedir a vitória de Alckmin, ainda que o PT, com José Genoino, tenha, naquele ano, chegado pela primeira e única vez ao segundo turno na disputa pelo governo estadual. A maior prejudicada pelo desemprego em alta foi mesmo a candidatura de José Serra.

Não é para dar o troco que Alckmin pouco se esforçará por Aécio em São Paulo. É porque corre, de fato, o risco de não se reeleger se desprezar os palanques duplos que lhe são oferecidos por prefeitos dispostos a fechar com Dilma para presidente.

Com o voto 'dilmin' em 2010 a presidente ficou 783 mil votos aquém de Serra no Estado. O potencial de traição desta vez é maior porque o candidato a presidente vem do outro lado da Serra da Mantiqueira.

Dilma leva vantagem por São Paulo, pela primeira vez, não ter candidato na disputa presidencial. Mas esse bônus pode ser relativizado pelo voto 'edumin', sacramentado com a presença do PSB na chapa de Alckmin.

O caça petista ainda tem pela frente as nuvens pesadas da popularidade do prefeito da capital. Fernando Haddad corroi o bônus que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tem como sangue novo na política eleitoral. São Paulo nunca esteve tão decididamente no radar do partido, mas o céu dos petistas ainda não é de brigadeiro.

Fonte: Valor Econômico

Uma cabeça na bandeja - Luiz Carlos Azedo

Michel Temer acumula mais micos na mão. As críticas de seus pares são de que se acomodou no cargo de vice-presidente e já não defende os interesses do partido nas bolas divididas. Decidiu exercer o papel de representante de Dilma Rousseff nos conflitos

O título é meio mórbido, mas não tem nada a ver com os três presos decapitados na rebelião do presídio de Pedrinhas, no Maranhão, um retrato das condições desumanas das nossas cadeias, que lembram as masmorras da escravidão romana. Vale, porém, o registro. Trata-se, no caso, de uma parábola — figura de estilo — que descreve com exatidão a situação do presidente do PMDB, Michel Temer, na chapa da reeleição da presidente Dilma Rousseff. Sua cabeça está sendo oferecida pelos caciques da legenda para quem quiser resolver os problemas regionais da aliança do PMDB com o PT.

Notável constitucionalista e hábil articulador político, Temer conseguiu a proeza de unir o PMDB, uma confederação de caciques políticos estaduais, para apoiar o governo Lula, o que lhe garantiu a vaga de vice-presidente da República. Ficaram de fora apenas alguns caciques recalcitrantes, como o ex-governador de Pernambuco Jarbas Vasconcelos. O vice de Dilma manteve o PMDB no governo administrando conflitos regionais com incrível competência, como o da Bahia, onde Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Integração Nacional do governo Lula, passou sete anos se digladiando com o governador Jaques Wagner (PT); mesmo assim, no governo Dilma, manteve o cargo de vice-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF). De uns tempos pra cá, na medida em que a eleição se aproxima, porém, Temer começa a perder o controle da situação do PMDB.

A primeira crise no sistema de alianças construído por Temer foi na eleição do líder da bancada do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que o Palácio do Planalto tentou detonar. Michel vacilou diante das pressões, mas o parlamentar resistiu e registrou a ocorrência. Por muito pouco, Henrique Eduardo Alves (RN), o presidente da Casa, também não fez o mesmo para agradar à presidente da República. Depois, a crise se instalou no Rio de Janeiro, onde o governador Sérgio Cabral (PMDB), que tinha o maior cacife eleitoral da legenda, foi abandonado por Dilma e, agora, e vem sendo enrolado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O senador Lindbergh Farias será mesmo o candidato do PT contra Luiz Fernando Pezão (PMDB, o vice de Cabral. O PT empurra com a barriga a saída do governo, mas está escrito nas estrelas que Cabral somente se manterá na aliança com os petistas se jogar a tolha quanto à própria sucessão.

Nova crise eclodiu no Ceará, onde o senador Eunício de Oliveira(PMDB) é candidato a governador e reclama o apoio do PT e dos irmãos Gomes. Ocorre que nem Cid, o governador, nem o irmão Ciro, cotado para o Ministério da Saúde, desejam abrir mão de uma candidatura de seu próprio esquema político, que migrou do PSB para o Pros. Bom de briga, Eunício cobra solidariedade dos pares e já mandou recado de que não aceita palanque duplo no Ceará. Situação semelhante começa a ocorrer também no Maranhão e na Paraíba, onde o PT rói a corda da aliança com os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Vital do Rego (PMDB-PB), respectivamente. Michel Temer acumula mais micos na mão. As críticas de seus pares são de que se acomodou no cargo e já não defende os interesses do partido nas bolas divididas. Decidiu exercer o papel de representante de Dilma Rousseff nos conflitos, em vez de defender com unhas e dentes os interesses do PMDB junto ao governo. É aí que mora o perigo.

A situação tornou-se tão crítica que os caciques ameaçam entregar a cabeça de Temer na aliança com o PT e cuidar da própria vida. Se preciso for, estão dispostos a engrossar o “Volta, Lula!”, com o filho do falecido vice-presidente José Alencar, Josué, que se filiou ao PMDB de Minas, na vice do ex-presidente da República, no lugar de Temer. Acontece que a fórmula também agrada a Dilma, que assim mudaria a cara de sua chapa de candidata à reeleição, fortalecendo-se em Minas. Ou seja, os caciques regionais do PMDB interessados em manter ou conquistar governos locais estão dispostos a oferecer a cabeça de Temer numa bandeja — seja para Dilma seja para Lula.

Grande irmão
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, é o nome escolhido pela presidente Dilma Rousseff para comandar o megaesquema de segurança que será montado durante a Copa do Mundo. Policiais das sedes e demais forças de segurança já estão sendo treinados por agentes norte-americanos na prevenção de atos terroristas. Cardozo disporá de amplos poderes legais, administrativos, recursos e homens para investigar qualquer indivíduo suspeito de ter relações com organizações terroristas durante os jogos.

Fonte: Correio Braziliense

Quem entender o dilmês me traduza – Alberto Goldman

Dilma falou à imprensa e disse que São Paulo terá, em breve, um terceiro aeroporto, privado, na Região Metropolitana de São Paulo. Seria na região de Caieiras, mas…não está claro ainda quando, segundo a presidente.

Poucos dias depois do acidente com o avião da TAM no Aeroporto de Congonhas, que ocorreu em julho de 2007, isto é, há mais de 6 anos, ela e o Lula declararam que, em 60 dias teríamos conhecimento da área na Região Metropolitana onde seria construído o 3º aeroporto. Ainda agora, Dilma, não sabe se vai ser aqui ou ali e não está claro quando? Não sabe nada, isso sim.

Nós, a partir de 2007, desenvolvemos na Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo um estudo que foi então apresentado ao ministro da Defesa Nelson Jobim que me alertou que já estava com outro estudo pronto sobre a mesma questão: construção do 3ºaeroporto. Assim como nada aconteceu, nada acontece nesse governo medíocre.

Também, depois de tantos anos, tricas e futricas, a presidente “decide” comprar os caças suecos para a renovação da força aérea. Durante anos o Lula namorou os caças franceses “Rafale”, depois a Dilma flertou com os caças americanos da ”Boeing” e, sem maiores explicações e justificativas, opta pelos suecos. Aí tem coisa.

Mas de Dilma não se pode esperar grande coisa. É até difícil entender o que quer dizer sobre várias questões, sua língua é o dilmês. Vejam e tentem entender três trechos de sua entrevista de ontem:

— “A questão da educação é uma questão fortíssima no Brasil. Acho que ela é, o Brasil hoje é um país, do meu ponto de vista, que tem na educação o seu grande caminho, porque, através da educação eu estabilizo a saída da miséria e a ida para a classe média. Só através da educação que nós vamos estabilizar, e educação de qualidade, senão você não estabiliza, ou então a pessoa fica lá. Então, discutiam porta de saída. A grande porta de saída é uma porta de entrada: é a educação”.

— “Nesse Pronatec Brasil Sem Miséria, nós já formamos 850 mil pessoas. E formar 850 mil pessoas é dar condição a eles de ter uma profissão. Você forma de ajudante para tratamento de idoso, até a quantidade imensa de cabeleireira que tem nesse país, né meninas? Vocês sabem que nós somos um dos países com maior consumo na área de indústrias da beleza. E prolifera essa questão. Faz parte da inserção, eu acho, da mulher no mercado de trabalho. Não sei se vocês viram essa mulher formada no Pronatec, era engraçadíssima, a unha era desse tamanho assim, pintada assim, toda bonita pintada, e ela era torneira mecânica. Estava formando em torneira mecânica. Mulher vai para torneira mecânica de unha pintada. Acho que esse é um processo inclusivo”.

—“Então, do meu ponto de vista acho que 2013 foi o momento em que a chamada crise, que muitos economistas internacionais discutiam se era em U, se era em V, se era em W. Ela é, eu acho, que num W mais profundo para esse momento, se você olhar do ponto de vista da economia internacional como um todo. De alguma economia pode até dizer: olha, foi pior no primeiro momento, lá em 2009. Eu acho que foi pior quando se aprofunda da crise da Europa e se combina com a crise americana, e além disso, com uma redefinição da economia chinesa. E isso indica uma perna para baixo do W mais profunda”.

Por favor, quem entendeu o dilmês, me traduza.

Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB

Estádios ou praças de guerra no país da Copa? - Roberto Freire

A seis meses da Copa do Mundo, o futebol brasileiro ganha destaque no noticiário internacional não pelos gols de seus craques, mas pela violência que tomou conta dos estádios. No último dia 8, o mundo acompanhou as cenas de selvageria protagonizadas por criminosos travestidos de torcedores de Atlético Paranaense e Vasco nas arquibancadas da Arena Joinville, em Santa Catarina. A partida ficou interrompida por mais de uma hora e o conflito terminou com um saldo de quatro feridos com gravidade.

O Brasil vem registrando uma escalada de violência e mortes em seus estádios nos últimos anos. Só em 2013, 30 pessoas morreram em conflitos entre torcidas, superando o número já calamitoso de 2012 (23). Entre 1999 e 2008, houve 42 mortes. Ao invés da punição a Atlético Paranaense e Vasco, que perderam mandos de campo, os vândalos que transformaram a Arena Joinville em uma praça de guerra é que deveriam ser severamente penalizados.

O futebol brasileiro teria muito menos do que 100 mortes para lamentar nos últimos 15 anos se os bandidos tivessem sido presos e impedidos de voltar a um estádio logo na primeira ocorrência de suas hoje já extensas atividades delituosas. É responsabilidade do Estado coibir a violência no país do futebol, sobretudo às vésperas de uma Copa para a qual foram construídas modernas arenas ao custo de bilhões, em grande parte com dinheiro público.

O Brasil deveria seguir o exemplo da Inglaterra, que sofreu como vandalismo dos “hooligans” nos anos1980 e hoje é referência em segurança nos eventos esportivos. Em 5 de junho de 1985, o Estádio de Heysel, em Bruxelas, na Bélgica, foi palco de um triste espetáculo durante a final da Copa dos Campeões da Europa entre Liverpool e Juventus. Os violentos torcedores ingleses foram pivôs de um confronto que resultou em 38 mortos e 454 feridos.

Devidamente identificados pela polícia a partir das imagens da televisão, 27 “hooligans” que iniciaram o tumulto foram presos e indiciados por homicídio culposo. Em 1989, em Sheffield, novamente durante um jogo do Liverpool, outra tragédia: 96 pessoas morreram esmagadas junto às grades após uma confusão na arquibancada.

A grande virada no futebol inglês se deu em1990, a partir do Relatório Taylor, documento de diretrizes formulado pelo governo que deu origem a profundas transformações nos estádios do país. As grades que separavam a torcida do campo foram removidas, os portões e catracas receberam dispositivos de segurança, a venda de bebida alcoólica foi proibida e câmeras de monitoramento foram instaladas em todas as arenas.

Quem invadia o campo era preso imediatamente e banido dos estádios, tendo de se apresentar à polícia nos dias de jogos de seu time. A Copa de 2014 já consumiu mais de R$ 30 bilhões em dinheiro público, entre obras nos estádios e outros investimentos. Mas de nada adianta erguer arenas no “padrão Fifa” se os bandidos que barbarizam nas arquibancadas continuarem livres, aterrorizando os amantes do futebol.

Como se não bastasse a virada de mesa consumada em um tribunal que, no tapetão, aplicando normas esdrúxulas, determina quem permanece na primeira divisão e quem cai para a Série B, o futebol brasileiro padece como vandalismo explícito nos estádios. Com ou sem Copa, as autoridades têm a obrigação de defender esse patrimônio cultural do povo brasileiro, verdadeira paixão nacional dilacerada pela ação criminosa de meliantes.

Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

Além do símbolo - Marina Silva

O Congresso aprovou, a presidente homologou e o projeto da deputada Janete Capiberibe agora é lei: Chico Mendes é patrono do meio ambiente brasileiro. A homenagem é adequada, Chico tem posição ímpar entre os defensores do meio ambiente e tornou-se símbolo mundial da luta dos povos contra a devastação.

Está aí, entretanto, o detalhe cuja profundidade poucos alcançam. Chico Mendes falava da planície, da floresta, do meio da sociedade civil. Diferente do ambientalismo clássico que muitas vezes reforça a oposição entre homem e natureza, foi um dos fundadores do socioambientalismo, incluindo a experiência e a luta das comunidades tradicionais que, na Amazônia, se identificavam como povos da floresta.

Aos homens e mulheres "de Estado" é difícil, no sistema político atual, ouvir até mesmo as estridentes vozes das ruas, quanto mais as do campo e da floresta, muitas vezes caladas pela violência dos que detêm fatias consideráveis desse mesmo Estado. Aí estão os protestos indígenas contra a maioria do Congresso que dificulta a demarcação de suas terras. É grande a resistência dos movimentos sociais contra o retrocesso nas leis e na gestão ambiental. E são incontáveis as manifestações de insatisfação das populações urbanas, castigadas por catástrofes que são mais políticas do que ambientais, tão evidente se tornou o descaso, a falta de planejamento e o mau uso das verbas para a prevenção.

O Estado faz-se de surdo. Nesta semana, 42 organizações assinaram nota questionando a falta de representantes da sociedade no Conselho Nacional de Política Energética, que decide em gabinete fechado, privilegia projetos de alto impacto socioambiental e, no interesse de megaempresas, despreza as fontes alternativas de energia limpa.

Permanece viva em minha memória a imagem de Chico Mendes, com projetos de desenvolvimento comunitário nas mãos, nos corredores das instituições, pedindo apoio de cientistas, ambientalistas, sindicatos, partidos políticos, órgãos de governo. Chico ouvia a todos, buscava o diálogo, valorizava a informação e unia a ciência aos conhecimentos tradicionais das comunidades. Não se afastava dos companheiros da floresta, com quem mantinha relação não apenas de fraternidade mas também de respeito à democracia no debate e nas decisões.

Sei que o sentimento profundo do povo é de concordância e gratidão pela homenagem do Estado brasileiro ao líder seringueiro, mas, ao mesmo tempo, de severa crítica, pois os 25 anos da morte de Chico se dão em meio a um grande retrocesso na política ambiental. Talvez seja necessário esperar que uma nova geração de governantes faça valer na prática a homenagem que hoje é apenas simbólica.

Marina Silva, ex-senadora, foi ministra do Meio Ambiente

Fonte: Folha de S. Paulo

Os anjos e o intérprete no funeral - Fernando Gabeira

O papa Francisco foi considerado a personalidade do ano pela revista Time. Mas quem fez uma aparição inesquecível foi o intérprete no funeral de Nelson Mandela. Seu nome é Thamsanga Dyantyi, tem 43 anos e os olhos bem abertos, quase assustados. Vestia um temo escuro e usava um enorme colar azul, sua credencial para traduzir os poderosos para os surdos do mundo.

Não sei se o intérprete parou de fazer sentido em certo momento ou se jamais se preocupou com isso. Seus gestos pareciam transmitir uma espécie de tudo bem, continuemos juntos. Alguém conseguiu traduzir isso de sua linguagem gestual. Mas também traduziu como socorro, cigarro, enfim, uma série de palavras que nada tinham que ver com o contexto.

Acusado de assassinato e estupro, Thamsanga impressionou o mundo porque se aproximou dos poderosos,furando todos os bloqueios de segurança que fazem e refazem constantemente. Ele não se considera perigoso. Com alguns rudimentos da linguagem gestual achou que poderia encarar a tarefa, que ninguém jamais se daria conta do seu improviso jazzístico, numa cerimônia em que muitos cantavam e alguns líderes mundiais viviam momentos de poses para o Facebook. Denunciado como impostor, Thamsanga declarou-se doente mental e disse que foi assaltado pelos anjos. Ele mesmo não tem a mínima ideia do que traduziu e ficou surpreso com o cerco da imprensa.

No meu trabalho cotidiano tenho encontrado muita gente que recebe entidades do além ou teve contato com seres do outro mundo. Mas em quase todos os casos seres e entidades enviam mensagens compreensíveis. Que tipo de falange atacou Thamsanga no momento em que falavam grandes líderes mundiais? O que queriam dizer com essa tradução? Tudo bem, continuemos juntos?

Se fossem anjos budistas trabalhariam com o koan, uma forma de ensinamento que desafia a compreensão racional, como, por exemplo, ouvir o barulho de palmas de uma só mão. Mas não era isso. Os anjos pareciam se rebelar contra a linguagem política nas cerimônias, melhor cantar e dançar do que ouvir o que os franceses chamam de langue de bois, palavras sem contato com a realidade.

O Brasil terá eleições no ano que vem. Imagino o que aconteceria se a mesma falange baixasse nos intérpretes dos programas eleitorais gratuitos. Nesse caso teríamos, sim, grandes espetáculos. É possível que radicalizem e saiam, literalmente, cobras e lagartos dos punhos das camisas, e nossas telas iriam reproduzir imagens de telas fantásticas da Antiguidade.

O mal do intérprete sul-africano é comum num cotidiano em que a tecnologia avança a passos que não podemos seguir. Muitos se perguntam se ainda estão dizendo coisa com coisa nessa corrida veloz atrás dos novos instrumentos, novas explicações dos cientistas e divulgadores que constituem a Terceira Cultura. Essa expressão foi criada por C. P. Snow, que via duas culturas nitidamente separadas, a científica e a, por assim dizer, literária e humanística. A Terceira Cultura seria uma tentativa de cientistas e divulgadores preencherem a distância entre as duas.

Nesse campo, estamos numa fase de convergência dos discursos, de reencontrar um terreno comum em que não sejamos intérpretes no funeral um para o outro. Mas na política brasileira a performance de um intérprete como Thamsanga não é mais necessária. As pessoas sabem que aquilo não faz sentido, é apenas um amontoado de frases vazias, sem contato com a realidade.

As manifestações de junho já vão longe. Mas em muitos programas partidários foram elogiadas, como se os partidos estivessem envolvidos nelas e não fossem um alvo de sua crítica.

Não mudaram nada em suas estruturas, não se abriram para a sociedade. E agora virão dizendo como Thamsanga: socorro, precisamos continuar juntos.

Desmascarada a impostura de Thamsanga, valeu ao menos como uma lição para os poderosos do momento: não são apenas as versões que contam, existe ainda um sentido de realidade. O que se vê hoje no Brasil é uma falange de interpretes de funeral criando uma versão própria para fatos consolidados, como o julgamento do mensalão.

Os anjos que possuíram Thamsanga apenas desconstruíam o discurso. Os que voam no imenso céu da América do Sul oferecem versões articuladas, chegam na forma de pássaro para Nicolás Maduro, desenham o efígie de Hugo Chávez nas paredes de Caracas, transformam em guerreiros do povo brasileiro quem cometeu crimes contra a democracia.

Chega um momento em que todos descobrem as falhas do intérprete. O que podem dizer os anjos aos dirigentes do Rio num momento em que começam as chuvas de verão? Depois que possuíram Thamsanga, fiquei mais atento aos anjos. Passaram por aqui na tempestade. Frequentaram alguns sites que diziam: manifestantes protestam contra enchentes. Como se estivessem protestando contra um fato natural e seu alvo simbólico fosse São Pedro. Reapareceram no discurso político: as chuvas são um problema de décadas; nosso bloco está no poder há apenas pouco mais de uma década, logo, esperem mais algumas décadas para julgar nosso trabalho.

Tenho poucas esperanças no processo eleitoral. Thamsangas de todos os níveis vão ocupar as telas. Muita gente vai perceber que não fazem sentido e recusar o processo, por meio dos votos em branco e nulos. Isso não impede que haja vencedores e que continuem inspirados pelos anjos. Uma versão histórica transmitida pelos anjos que os possuíram. Los Angeles defensores dos pobres e dos oprimidos.

Como muitos ainda se impressionam com os gestos do intérprete, sua faixa azul e os olhos assustados, é possível que sua mensagem seja aceita pela maioria dos eleitores. É a mensagem de ano-novo de Thomsonga: socorro, precisamos continuar juntos. Para a qual também existe uma outra versão respeitável: precisamos continuar juntos, socorro!

Jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

A longevidade de uma oligarquia- Michel Zaidan Filho

Existe uma forte tendência, nos estudos sobre o chamado "Poder local", de assumirem a forma de uma etnografia política, bem feita, minuciosa e bem documentada. Há quem afirme ser o âmbito da política municipal o mais despolitizado de todos, uma vez que o componente eleitoral do voto é muito mais forte do que o político ou o ideológico. Daí a forte tendência dos gestores municipais serem da situação, governistas inveterados. É preciso considerar também a grande dependência financeira da maioria dos munícipios brasileiros em relação ao governo federal e estadual, sobretudo em tempos de disciplina fiscal e redução do IPI. Daí o pragmatismo político dos prefeitos. Acima de tudo, gerentes, não políticos.

Contudo, há descrições e descrições. O antropólogo norteamericano Clifford Geertz fala em uma "descrição densa" que é ao mesmo tempo uma interpretação do objeto a ser descrito. Neste ponto, queremos situar o novo livro do cientista político e sociólogo Antonio Ruyter Bezerra sobre a saga da família Coelho, em Petrolina, como um meio termo entre a descrição pura e a descrição densa, de Geertz, já que o trabalho pertinaz de Ruyter é resultado de uma tese de doutorado em ciencias sociais.

Quais são as categorias de análise utilizadas na etnografia política da família Coelho? - Aquelas da sociologia política de Max Weber, sobretudo os tipo ideais de dominação política (tradicional, carismática e moderna). Que tipo de dominação se atribuiria ao caso de Petrolina: a dominação tradicional, oligárquica e patrimonialista. Quanto a isto, poderia se perguntar se é lícito atribuir a este tipo ideal de dominação uma espécie de racional instrumental, chamada pelo autor de "liberal", tanto quanto os conceitos de burocracia e empresa capitalista.

A ensaística brasileira tem utilizado os conceitos de patrimonialismo, familismo, oligaquia, clientelismo, fisiologismo, filhotismo e compadrio, como se quisesse afirmar que se trata de uma tipo de dominação (essa do Nordeste agrário) tradicional, baseada na força, na ignorância ou na dependencia financeira e social dos mais humildes. Tal constatação estaria também associada a um processo de "modernização conservadora", que se atualiza economicamente e tecnologicamente, mas permanece socialmente e politicamente atrasada. É o que quer dizer o famoso livro de Peter Eisenberg sobre Pernambuco: Modernização sem mudança. Este processo seria mais visível no sertão onde as brigas de famílias são frequentes e é baixo o grau de socialização política nas comunidades locais, imperando um tipo de política do amigo e do inimigo. Aliás, esse processo - no caso de Petrolina - já ganhou um nome: Aspersor e Voto, parafraseando o título do famoso livro de Victor Nunes Leal - Coronelismo, Enxada e Voto.

O que predomina nesse processo de modernização: o cálculo e a razão instrumental ou o homem cordial e os vínculos de parentesco e de amizade? Pela análise da maioria dos sociólogos, o homem cordial. O tipo ideal weberiano da dominação racional-legal aplicar-se-ia à dominação moderna, urbana e industrial, do trabalho assalariado e do mercado capitalista. As fortes raízes rurais da persistente influência política da família Coelho faria dela uma tipo de dominação tradicional; embora a terceira geração posso começar uma nova forma de dominação política. Poder-si -ia acrescentar que a ausência de uma sociedade civil robusta e de meios de comunicação independentes, junto ao poder econômico de uma família poderosa, podia explicar essa persistência. E que a formação de uma esfera pública democrática (apoiada numa opinião pública mais esclarecida) poderia fazer surgir novos candidatos, associações e partidos. Junte a isso, a fragilidade da estrutura partidária, num modelo federativo desigual e diferente, como o nosso. O que representam os partidos políticos, a nível municipal e estadual: sublegendas para acomodar dissidências oligárquica ou familiar, independentemente dos rótulos ou legendas políticas?

E a utilização do conceito de "oligarquia", feita pejorativamente pelos cientistas sociais brasileiros? - Norberto Bobbio diz que a nossa democracia procedimental não passa de uma rotatividade de oligarquias no poder, com a autorização periódica da cidadão. Grupos que são minorias, não necessariamente familiares ou hereditárias. E a oligarquia política que governa o estado de Pernambuco? Ela é atrasada ou moderna? É racional-legal ou patrimonialista? É burocrática (ou gerencial) ou familista?

Fica pendente no livro de Ruyter a questão do surgimento do contraditório e de uma autêntica oposição. Quem é a oposição em Petrolina: os sindicatos rurais e urbanos, a classe média escolarida, o "povo de Dilma"? O PT, o PSDB, o PMDB? Ou como é possível ser opocisão em Petrolina, sem se aliar a um dos lados da família Coelho ?. Talvez tenhamos que remontar ao livro clássico de Sérgio Buarque de Holanda e ao capítulo sobre a "nosso revolução". Processo de longa duração que vem junto com a urbanização, o mercado capitalista, os meios de comunicação de massa, a racionalidade do mundo do trabalho e da empresa capitalista, liberta da dependência social e política dos senhores rurais e chefes políticos locais. E com a nacionalização dos pleitos, das candidaturas e da própria discussão sobre modelos de gestão e de governo. Finalmente o que dizer de LULA e do petismo, que têm tanto voto em Petrolina, é o aliado dos trabalhadores, da classe média, dos chefes políticos locais, do governador e seus senadores, alguns da própria região. E o que dizer da política de alianças do PT a nivel nacional, incluindo Jader, Sarney, Collor, a Igreja Universal, a Assembléia de Deus e o que mais vier?

Sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

"Black blocs" e os 50 tons de vermelho - Rudá Ricci

Distinguir as motivações dos manifestantes e diminuir a possibilidade de as ações violentas se legitimarem é fundamental para a paz

Em 1840, Lorenz von Stein empregou pela primeira vez o conceito de movimento social, perplexo com as práticas sindicais do movimento operário francês. Revelava um profundo estranhamento em relação às mudanças sociais aceleradas carregadas pela industrialização e urbanização europeias.

Cento e setenta anos depois, as manifestações de junho geram o mesmo estranhamento envolvendo cientistas sociais brasileiros que deveriam, ao menos, ter olhar treinado para compreender as filigranas do social. As manifestações, desde o início, tiveram atos de violência como elemento constitutivo. Em junho, contudo, eram refutados pela maioria dos manifestantes. Mas a partir de julho, já se percebia uma gradativa tolerância. O que mudou? A total insensibilidade de autoridades públicas em procurar negociar.

De maneira torta, as ruas de junho lançaram pontes para o campo institucional. Ao criticarem acidamente governantes, abandonaram o cinismo e pragmatismo políticos que vinham tomando parte do eleitorado. Havia uma ponte levantada que autoridades públicas não souberam utilizar. Ao contrário, procuraram responder como reação instintiva, muitas vezes revertendo posições assumidas dias antes para, logo depois, voltarem atrás.

Uma geração de políticos que desconhece que ao gestor público cabe negociar e liderar. Cabe compreender que seu planejamento nunca pode ser normativo, mas flexível ao desejo social. Interditado o diálogo, o espaço para a revolta se abriu. Com o conflito, práticas violentas se reproduziram nos protestos.

"Black bloc" não é um agrupamento específico, mas uma tática de ação direta, de inspiração anarquista, empregada por quem desejar, ao estilo "faça você mesmo". Nas manifestações, as práticas "black blocs" foram sendo apropriadas por diferentes agrupamentos: de anarquistas a jovens da periferia revoltados com a violência policial (absolutamente desorganizados), passando por grupos com vínculos com o crime organizado.

Para quem procura compreender o que se passa nas ruas deste segundo semestre, considerar todos como um bloco com as mesmas motivações é retornar à política do café com leite da era Washington Luiz, quando a questão social ainda era tratada como caso de polícia.
Se a própria Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro avalia apenas duas UPPs como positivas, segundo a Folha noticiou, afirmar que os "black blocs" contribuíram para o fim da política de pacificação é, no mínimo, estranho.

O combate à violência se faz com inteligência. Distinguir motivações e procurar diminuir a possibilidade de as ações violentas se legitimarem é fundamental para consolidar a cultura da paz. Ao contrário, criminalizar indistintamente como política de inibição do protesto social, não apresentar saída para o diálogo, reduzir o papel do governante à condição de mero gestor da máquina pública é não aprender com as lições que vieram da Argentina (com as Assembleias Populares de 2001), da Islândia (com a Revolução das Panelas, em 2008) e os confrontos que envolveram tantas outras mobilizações nacionais neste século. É ignorar todos os estudos sobre movimentos sociais que se seguiram à perplexidade de Lorenz von Stein.

Rudá Ricci, 51, sociólogo, é diretor do Instituto Cultiva e membro do Fórum Brasil do Orçamento

Fonte: Folha de S. Paulo