domingo, 27 de outubro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Marco Aurélio Nogueira: ‘um golpe no fígado’

Outubro ganhou especial significado com a filiação de Marina Silva ao PSB e o anúncio de que se estava ali a celebrar uma aliança política de novo tipo, com a qual se alteraria o rumo da política nacional. Por agregar duas personalidades crescidas no perímetro desenhado pelo PT ao longo das últimas décadas, a anunciada aliança pareceu prejudicar mais a candidatura governista que a oposicionista. Lula, com sua conhecida sagacidade, referendou a impressão ao dizer que recebia o anúncio da nova chapa como se fosse "um golpe no fígado" - frase que expressou uma decepção e uma confissão de que algo abalara o equilíbrio do lutador.

Marco Aurélio Nogueira, “Repercussões, expectativas e incertezas”. O Estado de S. Paulo, 26/10/2013

A um ano de eleição, política econômica vai ao palanque

Um ano antes das eleições presidenciais, a economia já virou terreno de disputa entre o governo Dilma Rousseff e a oposição. Na busca por apoio, cada pré-candidato vem tentando convencer que os tempos de crescimento econômico voltarão em 2015. No governo, os sinais são de maior redução das taxas de juros e desvalorização cambial. Já os tucanos defendem forte abertura comercial.

Um ano antes das eleições, política econômica está no centro do palanque

Campanha. Discussões de temas como juros, câmbio e inflação chegaram ao debate político mais cedo que em eleições anteriores, com os pré-candidatos tentando convencer o mercado de que têm a solução para a retomada do crescimento econômico sustentado

Débora Bergamasco João Villaverde

BRASÍLIA - Um ano antes das eleições presidenciais, a economia já subiu no palanque e virou o terreno de disputa entre o governo Dilma Rousseff e a oposição, Na busca por empresários e por apoio do mercado, cada pré-candidato vem tentando de todas as formas convencer que os tempos de crescimento econômico vão voltar em 2015.

No governo, os sinais são de que a "era Dilma II" começará sem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e terá um aprofundamento da estratégia de redução das taxas de juros e desvalorização cambial. Os tucanos, por outro lado, defendem uma forte abertura comercial, o fim das desonerações tributárias a setores específicos, como o atual governo vem fazendo, e o retorno de uma visão mais liberal na economia.

Já o grupo em torno de Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva busca se chancelar como alternativa de política econômica. Para isso, aponta para a recuperação do "tripé macroeconômico clássico" (superávit primário, meta de inflação e câmbio flutuante) e desenvolvimento sustentável.

Segundo Campos afirmou ao Estado, as propostas econômicas serão devidamente explicadas em um documento que será editado pelo PSB e por militantes da Rede recém-filiados aos socialistas. "Há uma crise de expectativa em relação ao atual governo", diagnosticou ele.

Além disso, o grupo de Marina conta com economistas desenvolvimentistas, descontentes com a gestão Dilma, como Paulo Sandroni, da FGV-SP, e liberais antes ligados ao PSDB, como André Lara Resende (um dos formuladores do Plano Real) e Eduardo Giannetti da Fonseca.

Um dos principais conselheiros de Lula e também da presidente Dilma, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo avisa:

"A questão realmente importante agora é saber como será o cenário para os investimentos a partir de 2015. Os empresários, que são os que contratam trabalhadores e investem em tecnologia, produção e serviços, querem saber quem pode assegurar que haverá terreno para se investir fortemente, e isso fará o crescimento deslanchar."

Crescimento. Ao Estado, o presidente nacional do PSDB, j senador e virtual candidato Aécio Neves (MG), afirmou que uma mudança na condução da economia, que faça o ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) voltar para um patamar de 4% ou mais, só ocorrerá com a volta dos tucanos ao poder federal, "Uma vitória do PSDB sinaliza o fim de um ciclo de pouca capacidade gerencial, de privilégios setoriais e de uma economia extremamente fechada e ancorada nos bancos públicos; será a mudança para uma coisa diferente, nova.", disse Aécio, que esteve em Nova York : para encontro com investidores estrangeiros, há duas semanas, e voltou animado: "Todos querem mudança", disse.

O candidato presidencial tucano da última eleição, José Serra (SP), por sua vez, criticou os últimos leilões realizados pelo governo Dilma, que fez das concessões de empreendimentos e obras de infraestrutura ao setor privado sua principal estratégia para recuperar o crescimento econômico, "O governo interfere ao máximo nas licitações que propõe", afirmou Serra, segundo quem "não dá para interferir na taxa de retorno do empresário; o ; que se deve fazer é fixar parâmetros e condições mínimas, e então leiloar", disse.

Debate
"Uma vitória do PSDB sinaliza o fim de um ciclo de pouca capacidade gerencial, de privilégios setoriais e de uma economia extremamente fechada e ancorada nos bancos públicos; será a mudança para uma coisa diferente, nova."
Aécio Neves, senador e pré-candidato do PSDB

"Há no País uma grande crise de expectativa, que vem de muitas atitudes tomadas pelo governo em relação a marcos legais sobre setores da economia, posturas do governo que o mercado muitas vezes não compreende."
Eduardo Campos, governador de Pernambuco e pré-candidato do PSB

"Precisamos mesmo desenvolver instrumentos para sustentar o investimento, e necessitamos de um papel maior do setor privado, mas não podemos abandonar o BNDES ou os bancos públicos, ao contrário."
Luiz Gonzaga Betluzzo, conselheiro econômico de Lula e Dilma

Fonte: O Estado de S. Paulo

Campos vai lançar sua 'Carta' na eleição

Governador planeja repetir Lula e divulgar documento no início da campanha para deixar clara ao mercado sua plataforma econômica

Conrado Corsalette, Malu Delgado

Provável candidato à Presidência em 2014, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), planeja divulgar no início da campanha, em meados do ano que vem, documento no qual pretende deixar "claras" suas intenções na condução da economia do País caso venha a ser eleito.

"Queremos deixar muito claro qual é a nossa visão sobre a economia e o futuro do Brasil", afirma Campos, que usa o verbo na primeira pessoa do plural exatamente para incluir a mais nova parceira, a ex-ministra Marina Silva, que tem boa interlocução com alguns grupos econômicos construída por conta da disputa presidencial de 2010.

A dupla Campos-Marina articula revisitar a estratégia da "Carta ao Povo Brasileiro", apresentada em 22 de junho de 2002 pelo então candidato ao Palácio do Planalto Luiz Inácio Lula da Silva. O petista, na época, enfrentava sérias desconfianças por parte do mercado financeiro e de investidores internacionais por causa de antigas posições radicais de seu partido. Seu objetivo com a divulgação da "Carta" era assumir o compromisso de que os contratos em vigor seriam cumpridos e de que não faria aventuras na área econômica, a despeito das promessas de mudar o Brasil.

Campos, que ideologicamente se define à esquerda do ex-presidente Lula, mas à direita da atual presidente, Dilma Rousseff, j á iniciou um périplo de visitas a empresários brasileiros a : fim de mostrar o que pensa da economia. Tenta explorar queixas frequentes do empresariado ; em relação a Dilma, segundo as quais não há um ambiente seguro para investimentos privados : sob o atual governo e falta clareza sobre marcos regulatórios, além da "ineficiência" de gestão.

"Há neste instante no País uma grande crise de expectativa, que vem de muitas atitudes tomadas pelo governo em relação a marcos legais sobre setores da economia, posturas do governo que o mercado muitas vezes não compreende. Precisamos vencer essa crise de expectativa", diz o governador.

A inquietação é interna e externa, afirma Campos. Por isso, no documento que pretende apresentar no ano que vem, deverá dar sinais também ao mercado externo "para que essas expectativas possam ser revertidas e ajudar o Brasil a retomar a expansão econômica".

Agora, após a recente parceria com Marina, Campos também busca dissipar temores sobre as posições da aliada, principalmente em relação a eventuais restrições ao desenvolvimento motivadas pela bandeira ambiental. Em ação combinada com o governador, Marina foi a : público criticar a presidente e defender o tripé macroeconômico criado no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) superávit primário, meta de inflação e câmbio flutuante.

A dupla quer se apresentar como a alternativa que vai respeitar a estabilidade econômica criada por FHC e a inclusão so-ciai iniciada por Lula. "Um novo ciclo se inicia, uma nova agenda. Não podemos colocar em risco a democracia, a estabilidade ou a inclusão. Quem pode fazer isso? Quem tem a visão equilibrada? É isso que queremos oferecer ao debate", afirma o governador.

A "carta" de Campos, além de reforçar compromissos macroeconômicos, deve apresentar uma plataforma de gestão.

"Pais" do real em campos distintos

O Plano Real, que acabou com a hiperinflação e com isso aju-j dou a fazer de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) presidente da República em 1994, teve quatro "pais". Vinte anos depois, os quatro formuladores entram no ano eleitoral de 2014 divididos.

Enquanto Edmar Bacha e Gustavo Franco continuam cerrando fileiras com o PSDB - Bacha, inclusive, participa ativamente do grupo em torno de Aécio Neves, o virtual pré-candidato tucano à Presidência da República-, André Lara Resende é um dos economistas mais próximos de Marina Silva (PSB). Recém-filiada ao partido, Marina deverá compor chapa com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Para completar o quarteto que criou o Real, o economista Pérsio Arida é um dos sócios do banco BTG, uma das instituições mais próximas da gestão Dilma Rousseff.

O fundador cio BTG, André Esteves, é um dos banqueiros com maior interlocução com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio prepara plano de governo

Com ataques ao PT, presidente do PSDB anuncia para dezembro divulgação das propostas para 2014. Em encontro com líderes paulistas, ele disse que a federação foi destroçada

O senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente do PSDB nacional e pré-candidato do partido à Presidência da República, anunciou ontem em Presidente Prudente, interior de São Paulo, que o partido vai lançar até dezembro uma agenda com propostas e desafios para o Brasil, uma espécie de prévia do plano de governo da legenda para 2014. Segundo ele, o PT, desde que assumiu o governo, não inovou e adotou as mesmas propostas dos anos do governo Fernando Henrique Cardoso.

"A agenda que está hoje em curso no Brasil foi a proposta pelo PSDB lá atrás, a agenda da estabilidade monetária, da lei de responsabilidade fiscal, dos programas de transferência de renda, da modernização da nossa economia, com a privatização de determinados setores. O PT não inovou, não trouxe uma nova agenda. Na verdade, enquanto acompanhou a do PSDB, veio bem. Depois que a abandonou, sobretudo do ponto de vista macroeconômico, as coisas começaram a piorar", criticou o senador, que desde anteontem participa em São Paulo de encontros com prefeitos e lideranças.

Para o tucano, nenhuma das grandes questões da agenda da federação foram enfrentadas pelo atual governo. "Seja o aumento do percentual do fundo de participação, seja o impedimento de desonerações que afetem as receitas dos estados e municípios ou o fim da tributação do Pasep, por exemplo". Aécio disse que as propostas para o Brasil serão discutidas com lideranças de todas as regiões do país, com o objetivo de apontar os investimentos necessários e a maneira de "financiar melhor as ações sociais do governo" e novas opções "para garantir geração de empregos de melhor qualidade".

O senador disse que o Brasil precisa construir uma proposta que passe pelo fortalecimento dos municípios e dos estados, pois, segundo ele, a "federação foi destroçada ao longo dos últimos anos". Para ele, é necessário "maior generosidade" no financiamento da saúde pública, da segurança e da educação. "Onde as pessoas qualificadas ocupem os postos de governo, onde haja uma parceria transparente com o setor privado ao alavancar obras de infraestrutura, onde haja uma reinserção do Brasil nas cadeias globais de produção". Aécio defendeu ainda políticas para a superação efetiva da pobreza. "E não apenas administração da pobreza, como parece querer o PT", criticou.

Candidatura Sobre a candidatura tucana ao Palácio do Planalto, pleiteada também pelo ex-governador José Serra, o presidente do PSDB disse que no momento certo o partido vai definir aquele que irá empunhar a bandeira do partido na disputa. "Não adianta ter uma candidatura se não tiver propostas claras, se as pessoas olharem para o partido e não identificarem nele uma alternativa melhor do que esta que está aí. Acho extremamente positivo que Serra esteja no quadro do PSDB pela sua qualificação. Fiz um esforço pessoal para que abandonasse sua saída do partido", afirmou.

Aécio afirmou que é hora de o partido voltar ao governo. "Está na hora, em benefício do Brasil, de encerrarmos esse ciclo de desgoverno do PT e iniciar um outro de eficiência e responsabilidade para com todas as conquistas que obtivemos até aqui. A grande verdade é que a herança bendita do governo do PSDB está se exaurindo. É preciso novamente um governo do PSDB", defendeu.

Amanhã, Aécio estará em Uberlândia, para iniciar a série de encontros Conversa com os mineiros, reunindo o PSDB e 10 partidos aliados. O governador Antonio Anastasia participa também.

Fonte: Estado de Minas

Para Campos, será inevitável duro ajuste fiscal pós-eleição

Ex-aliado de Dilma prega 'choque de responsabilidade' na economia em 2015

Keynesiano de formação, governador do PSB esboça com aliados pilares de sua plataforma eleitoral na política econômica

Natuza Nery

BRASÍLIA - Independentemente do resultado da eleição do ano que vem, quem quiser governar o Brasil a partir de 2015 terá de fazer um duro ajuste fiscal. A avaliação é do governador Eduardo Campos (PSB-PE), reproduzida por diversos de seus interlocutores.

Pré-candidato à Presidência da República, ele tem defendido em diálogos recentes o que chama de "choque de responsabilidade", um gesto na linha de recuperar a confiança do mercado financeiro para tornar o país governável pelos próximos anos.

"Qualquer que seja o resultado da eleição, será um ano difícil. Vai ter de ser duro para resgatar a confiança. O que conta é a previsibilidade, sem maquiagens", disse o governador durante conversa com auxiliares na semana passada relatada à Folha.

Há menos de um mês, ele ganhou a companhia da ex-senadora Marina Silva no seu PSB e, em pouco tempo, galgou alguns pontos na escada da intenção de votos.

A exposição e mudança das peças do jogo da sucessão levaram ao questionamento, no meio político, sobre o que pensa o governador acerca dos principais problemas da economia.

Na área fiscal, Campos sinaliza com "mix" da doutrina liberal e da pauta desenvolvimentista, corrente na qual afirma se encaixar melhor sempre que um rótulo lhe é cobrado. Em outras situações, apenas responde secamente: "Defendo o crescimento".

De um lado, exige a definição de metas de longo prazo para o superavit primário e o cumprimento estrito da meta fixada pelo governo federal; do outro, mostra simpatia pelo regime de bandas, proposta defendida pelo ex-número 2 da Fazenda, Nelson Barbosa, hoje ligado ao ex-presidente Lula mas que conta com a simpatia de Campos.

Nesse sistema pendular, a União economiza mais para pagar juros da dívida quando o PIB (Produto Interno Bruto) estiver crescendo mais; e promove aperto menor nos gastos quando houver desaceleração da atividade econômica. "Não tem cabimento um superavit de 3% do PIB", diz com frequência.
Sua gestão em Pernambuco fechou 2012 com um déficit de R$ 1 bilhão, mas com um nível baixo de endividamento, conforme dados do Tesouro Nacional.

Para Campos, a União deve cobrir Estados e municípios toda vez que estes não atingirem suas metas. A presidente Dilma Rousseff acabou com a essa obrigatoriedade.

O presidente do PSB se mostra contrário ao método de reajuste do salário mínimo automático, com base na inflação do período e no crescimento do PIB de dois anos antes. Concorda em garantir ganho real ao trabalhador, sem indexação.

Keynesiano por formação, graduou-se em economia aos 20 anos de idade pela Universidade Federal de Pernambuco. Nos tempos de faculdade, passou a simpatizar com as ideias do britânico John Maynard Keynes na defesa de um Estado indutor do investimento, sobretudo em momentos de crise.

Com o passar dos anos, porém, abriu mais espaço para a escola liberal, ampliando ainda mais o leque desde que decidiu disputar o Planalto.

Campos respeita as ideias de Pérsio Arida, um dos formuladores do Plano Real, assim como construiu uma relação próxima nos últimos anos com Luciano Coutinho, presidente do BNDES. Também costuma falar com Tânia Bacelar, especialista em desenvolvimento, da UFPE.

Nos anos 90, assumiu a Secretaria de Fazenda do Estado, à época governado por Miguel Arraes, seu avô. Acabou deixando o cargo após o escândalo dos precatórios.

A secretaria, sob seu comando, autorizou a emissão de títulos públicos para pagar precatórios judiciais. A operação foi considerada irregular. Em 2003, o STF inocentou tanto Campos quanto Arraes, morto em 2005.

Fonte: Folha de S. Paulo

Aécio Neves critica 'desgoverno do PT'

Sandro Villar

O senador mineiro Aécio Neves, presidente e presidenciável do PSDB, criticou severamente o PT e o governo Dilma ao visitar hoje Presidente Prudente, no oeste paulista. "Está na hora de encerrar o desgoverno do PT e colocar novamente o PSDB no governo. Há pesquisas que mostram que mais de 60% da população não quer a reeleição da presidente Dilma. As pessoas querem mudanças, sem a continuidade do PT", atacou em entrevista, sem citar a origem da pesquisa. O tucano, no entanto, reconheceu que a "economia de consumo", incentivada pelo governo, foi "importante em determinado momento".

Aécio também comentou a pesquisa Ibope/Estado: "Não questiono pesquisas, vamos ganhar, a pesquisa que interessa é a do dia da eleição". Já sobre a disputa com José Serra, o senador, mineiramente, preferiu elogiar o ex-governador paulista: "Serra é qualificado, é um privilégio tê-lo nos quadros do partido e também nos ajudando", acrescentando que o PSDB fará a escolha da chapa no começo do ano que vem. "Há uma agenda para a indicação da candidatura, até março será tomada a decisão. Não antecipo decisões", avisou. Ele disse também que não tem preferência por nomes para ser o candidato a vice-presidente.

Se for eleito, Aécio promete um País sem inflação: "É tolerância zero na inflação, a taxa de 6% é alta, o Brasil só cresce 2,5% ao ano, os investidores, como percebi em Nova York, estão pessimistas e sem confiança no Brasil", atacou

Manifestações. As manifestações de junho também foram comentadas. "As manifestações foram um alerta para todos os políticos, não apenas para o governo. Devemos receber as manifestações com humildade, as pessoas exigem serviço público de qualidade", afirmou. De novo, Aécio alfinetou a presidente Dilma Rousseff: "O governo federal não deu respostas às demandas das pessoas".

De olho nas eleições, o senador tucano iniciou um périplo por cidades paulistas. Na sexta-feira, Aécio visitou a região de Ribeirão Preto e, hoje, desembarcou em Presidente Prudente. Ele participou do evento Momento Brasil, promovido por diretórios regionais do PSDB na Faculdade Toledo, com participação de ao menos 300 pessoas.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PSB e Rede exaltam FHC e Lula em plano

Programa híbrido de Campos e Marina reconhecerá avanços dos governos do PSDB e PT, mas proporá 'fim de ciclo'

Dupla recém-aliada apresenta amanhã documento que será base para a campanha presidencial de 2014

Ranier Bragon e Paulo Gama

BRASÍLIA, SÃO PAULO - No ato que realizarão amanhã na zona oeste de São Paulo, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e a ex-senadora Marina Silva devem chancelar documento em que reconhecem as "conquistas" dos últimos anos, mas pregam a necessidade de avançar de uma "maneira diferente".

Selada no dia 5, a aliança entre os dois realizará o primeiro encontro para discutir um programa comum para PSB, partido de Campos, e Rede, sigla que Marina não conseguiu criar a tempo de disputar o Planalto em 2014.

O documento conjunto repetirá discurso dos dois políticos de que tanto a gestão de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) quando a de Lula (2003-2010) trouxeram ganhos para o país, mas que o modelo atual de se fazer política não é o mais adequado para assegurar avanços.

Pelo texto, é preciso um "planejamento estratégico de longo prazo" --outro bordão usado por Marina--, não só limitado ao atual governo.

O documento de referência deve ser dividido em três eixos: a manutenção das conquistas passadas--estabilidade econômica e inclusão social--, a necessidade de novas práticas na política e a promoção do desenvolvimento sustentável.

Uma das intenções é combater a crítica de que Marina seria uma política limitada à atuação ambiental, afirmando que o desenvolvimento que a dupla defende não se restringe à ecologia, mas abrange os campos econômico, social, ético e cultural.

O ato, com cerca de 120 pessoas, terá grupos de discussão, participação de militantes pela internet, e o que os organizadores chamam de "falas inspiradoras", da ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina e do cineasta Silvio Tendler, entre outros.

Ao final, devem ser apontados "cinco grandes desafios para o Brasil". O grupo deve fazer ao menos mais um encontro semelhante até o final do ano.

"É uma discussão sobre as macrodiretrizes e métodos. Não se espera que em um dia você possa [concluir o programa de governo]", afirmou Campos, ontem. O governador está em São Paulo desde sexta-feira para reuniões preparatórias para o evento.

Marina retorna hoje de Miami (EUA), onde recebeu um prêmio, e se encontra no final do dia com o pernambucano.

Depois de oficializado o acordo entre Campos e Marina, parte da Rede se rebelou contra a decisão da ex-ministra. Fundadores deixaram o projeto por discordar da opção da ex-senadora, que não teria consultado a base de mobilizadores para a decisão.

Na sequência, a direção da Rede recusou convite feito pelo PSB para que dois de seus integrantes compusessem o diretório nacional socialista.

As divergências entre os partidos se acentuaram em praças nas quais há interesses distintos no apoio a candidaturas a governador, como São Paulo e Distrito Federal.

Campos e Marina têm dito que formatarão a plataforma de campanha antes de definir quem será candidato a presidente e a vice na chapa majoritária do PSB em 2014.

Nas pesquisas mais recentes de intenção de voto, Marina aparece melhor posicionada que o novo aliado. Segundo Ibope e Datafolha deste mês, Marina tem de 21% a 29% das indicações, contra 10% a 15% de Campos.

Fonte: Folha de S. Paulo

Para Aécio, governo é um ‘software pirata’

Presidente do PSDB usa termo ao comparar atual gestão com a dos tucanos

Silvia Amorim

PRESIDENTE PRUDENTE (SP) - O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, comparou neste sábado o governo da presidente Dilma Rousseff a um "software pirata" e disse, em discurso a políticos e militantes do partido no interior de São Paulo, que é hora de o "software original" voltar a governar o País. O mineiro usou a analogia ao criticar o modelo de privatizações adotado pelo PT no governo federal. "O longo aprendizado do PT, que demonizou as privatizações e concessões por muito tempo, custou muito caro ao Brasil. Eu vejo quase um software pirata hoje sendo executado pelo governo federal. Está na hora de o software original assumir o Brasil", disse Aécio.

Repetindo um antigo discurso do partido, o senador defendeu que os avanços obtidos pelas gestões do ex-presidente Lula e da presidente Dilma somente foram possíveis graças ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Aécio disse, irônico, que FHC deveria ser o convidado de honra da festa de comemoração dos 10 anos do Bolsa Família, quarta (30) em Brasília .

Mais cedo, Aécio defendeu que o PSDB escolha até março o candidato do partido à Presidência. Ele também manifestou preferência de que a vaga de vice seja dada a algum partido aliado, em vez de uma chapa pura.

Segundo o senador, o partido apresentará na primeira quinzena de dezembro um plano de governo para o País - a "agenda do futuro" -, com diretrizes e propostas para áreas importantes como economia, educação, saúde e infraestrutura. A partir daí, será dado início, em janeiro, às discussões sobre o nome do candidato. "A maior das artes da política é administrar o tempo. Uma decisão correta no tempo errado não traz o resultado adequado. Você não pode e nem deve antecipar decisões sem necessidade. Mas também não pode se permitir ser engolido pelo tempo", afirmou.

Embora já haja uma disputa interna ? o ex-governador José Serra também tenta viabilizar-se como candidato ?, o senador disse que a decisão deve ser tomada com "naturalidade".

Fonte: O Globo

PSDB tenta reverter queda da bancada

Com menos da metade de deputados federais que na era FHC, tucanos apostam nas máquinas estaduais e em candidatos celebridades

Eduardo Bresdam

BRASILIA - O PSDB aposta no peso das máquinas estaduais dos oito Estados comandados pelo partido para reverter a queda constante de sua bancada na Câmara dos Deputados nas três últimas eleições. Depois de eleger 99 deputados federais em 1998 quando reelegeu Fernando Henrique Cardoso ao Planalto, a legenda registra queda livre no governo petista e tem atualmente menos da metade do espaço conquistado há 15 anos.

Abancada na Câmara tem peso especial para os partidos porque é com base nela que se calcula o tempo de televisão nas propagandas eleitorais e o tamanho do fundo partidário que será repassado a legenda. Com a iminente formação do bloco PP-PROS, com 68 deputados, os tucanos passarão a ser apenas a quarta bancada, o que não ocorre desde 2002. O PSDB tem em exercício 46 deputados, atrás ainda de PT (88) e PMDB (76). Nas eleições de 2010 foram eleitos 54 tucanos, oito a menos que em 2006 e doze a menos que em 2002, quando o partido foi colocado na oposição.

Para reverter a tendência, a cúpula aposta no peso de seus governadores. Como ao longo destes quatro anos tiveram a máquina estadual para fazer investimentos e angariar apoios, a expectativa é de crescimento das bancadas nestes colégios eleitorais. Dos 54 deputados eleitos em 2010, 33 vieram destes Estados, com destaque especial para São Paulo, onde 13 cadeiras foram dados pelos eleitores aos tucanos.

Na mesma linha, o PSDB quer candidaturas fortes ao governo e ao Senado em outros colégios eleitorais para puxar votos para a legenda. É o caso do Ceara, onde a queda na bancada foi vertiginosa. Em 1998, foram eleitos 12 tucanos pelo Estado, contra apenas 2 em 2010. A queda deve-se à derrocada na política local do principal cacique do partido, Tasso Jereissati. Sua dianteira nas pesquisas para cargos majoritários em 2014 dá esperança à cúpula tucana de que essa situação se inverta e o Ceará volte a contribuir para a formação de uma bancada mais robusta em Brasília.

Presidente do PSDB de Minas Gerais e um dos principais articuladores da pré-campanha de Aécio Neves à Presidência, Marcus Pestana acredita que uma boa montagem dos palanques nos Estados, somada à postulação nacional, ajudará a legenda. "Nossa força de estar à frente de oito Estados e as candidaturas fortes que estamos construindo faz com que projetemos uma ampliação da bancada", diz Pestana.

O raciocínio é semelhante ao do presidente do diretório paulista, Duarte Nogueira. "Temos uma possibilidade clara de ampliar as bancadas nos Estados que governamos e podemos buscar espaço nos nove Estados onde não temos nenhum e nos outros nove onde temos um só", afirma.

"Puxadores de voto". Além do peso dos palanques estaduais, o PSDB tem dedicado tempo à costura de candidaturas de "puxadores de voto", aqueles políticos que podem ter votações expressivas para a Câmara e levar outros correligionários na carona. Entre os apoiadores de Aécio, o cenário visto como ideal
tem o ex-governador de São Paulo José Serra como candidato a deputado federal dentro dessa perspectiva.

O desejo, porém, é contido nas declarações públicas, que sempre deixam a decisão nas mãos do ex-governador. "Gabe ao Serra definir a melhor forma de contribuir com o partido, mas sem dúvida uma candidatura à Câmara ou ao Senado teria um potencial muito bom", afirma Pestana. "Serra pode ocupar qualquer cargo, claro que com uma decisão nesse sentido de disputar a Câmara faria com que fosse o mais votado em São Paulo sem nenhuma dúvida", ressalta Duarte.

Além da pressão sobre nomes tradicionais, os tucanos também têm adotado tática comum à de partidos de pequeno e médio porte, a filiação de famosos. O PSDB montou quase um time.de vôlei com a filiação do técnico Bernardinho (RJ), do ex-jogador e técnico Giovane (MG) e do jogador Giba (PR), A socíalite Narcisa Tamborindeguy é outra possível candidata, assim como o escritor Cesar Romão.

As filiações são defendidas pelos dirigentes como uma alternativa diante do questionamento dos partidos feitos nas manifestações de junho. "A ideia é fazer com que o partido procure atrair as pessoas que queiram mudar a realidade e, depois de junho, o Brasil é outro e os partidos precisam se renovar", argumenta Pestana.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A varinha mágica de Dilma – Editorial / O Estado de S. Paulo

Ao longo da última semana, a presidente Dilma Rousseff declarou ao menos três vezes que seu governo está cumprindo os "cinco pactos" que ela propôs durante as manifestações de junho passado. Não é, portanto, algo casual. Dilma quer fazer o eleitor acreditar que o Brasil, graças à varinha mágica de seu governo, está hoje muito melhor do que há quatro meses.

Em uma das declarações, Dilma sublinhou que sua avaliação é "absolutamente baseada em fatos, em dados, objetiva". A ênfase da presidente na solidez de sua argumentação parece ter a intenção de desmentir o fato, notório, de que seu governo habitualmente fantasia sobre suas ações e tortura números para que eles reflitam o cenário idealizado.

Mas a realidade, como sempre, desmente a ficção criada pelos marqueteiros do Planalto. O primeiro "pacto" que Dilma disse estar "sistematicamente" cumprindo é o da responsabilidade fiscal, que ela classificou como "a mãe dos outros pactos". A presidente voltou ao assunto diversas vezes, afirmando que "é impossível fazer pactos e ao mesmo tempo quebrar o controle da inflação, a estabilidade fiscal e o montante de reservas".

Dilma tem razão quando diz que todos os compromissos que ela assumiu dependem, em primeiro lugar, da responsabilidade fiscal. Trata-se de uma grande conquista do País, após décadas de gastança desenfreada e perda de credibilidade internacional. Aliás, foi justamente graças ao equilíbrio das contas públicas, obrigatório por lei a partir do ano 2000, que os governos petistas puderam incrementar os programas de transferência de renda que tanta popularidade lhes trouxeram.

Para provar que está cumprindo o "pacto" pela responsabilidade fiscal, Dilma afirmou que a inflação está "sob controle" e que o orçamento está "equilibrado". Mas não é possível, por nenhum parâmetro razoável, dizer que uma inflação de 6% esteja "sob controle". Dilma costuma dizer que essa variação de preços está "dentro da meta", mas a meta é 4,5%, e a inflação está no limite da margem de tolerância - e só não subiu mais porque os combustíveis estão com seus preços represados.

Sobre as contas públicas, falar em "equilíbrio" é zombar da inteligência alheia. A contabilidade criativa da equipe econômica já ganhou fama mundo afora. Além dos truques, são cada vez mais necessários, para fechar as contas e cumprir as metas, os dividendos pagos por estatais e as receitas extraordinárias, como o bônus do leilão do Campo de Libra.

Assim como no caso da responsabilidade fiscal, os demais compromissos assumidos durante as manifestações de junho só estão sendo cumpridos no palanque. Dilma mencionou o "pacto" pela reforma política e tornou a defender a realização de um plebiscito sobre as eventuais mudanças - uma proposta que sua própria base no Congresso já rejeitou.

Outro "pacto" que Dilma disse ter cumprido é a melhoria da saúde. Para provar, citou o Programa Mais Médicos - um remendo eleitoreiro destinado a turbinar a candidatura do ministro Alexandre Padilha (Saúde) ao governo de São Paulo. Enquanto isso, o Ministério da Saúde investiu, até agosto, apenas 26,5% dos R$ 10 bilhões que estavam reservados para equipamentos e obras.

A presidente citou ainda, como compromisso cumprido, a melhoria da mobilidade urbana, algo que afinal estava no centro das reivindicações de junho. Na época, ela anunciou uma injeção de R$ 50 bilhões em projetos de transporte público. Mas seus próprios ministros agora admitem que essa meta não será cumprida, principalmente porque faltam projetos viáveis.

Por fim, Dilma mencionou o "pacto" pela educação e disse que este também está sendo obedecido, porque seu governo conseguiu destinar 75% dos royalties do petróleo para a melhoria desse setor. Um dos problemas é que essa destinação só vale para os contratos novos - e, na melhor das hipóteses, o dinheiro só começará a irrigar as salas de aula na próxima década. No entanto, o maior empecilho, como se sabe, não é a falta de recursos, e sim a má gestão das verbas existentes. E isso não se resolve no gogó.

Democracia digital

As manifestações que ganharam as ruas do país em junho mostraram a importância da internet na mobilização das massas. O tempo passou, e ficou a dúvida: será que as ferramentas da democracia digital têm efetividade? No caso do Brasil, essa nova forma de participação política ainda engatinha, mas pesquisadores não têm dúvidas de que seu futuro é promissor.

Imagine poder escolher o prefeito de sua cidade pela internet ou participar de um plebiscito sem sair de casa, direto do celular, tablet ou do computador pessoal. Ficção?

Na Suíça, há uma década, a cena faz parte do cotidiano das pessoas, mas ainda é uma exceção. Por aqui, a chamada democracia digital dá os primeiros passos – com alguns tropeços – rumo a essa nova forma de participação política.

Apesar das dificuldades, pesquisadores são unânimes ao afirmar que o caminho é longo, mas irreversível. A web e suas ferramentas têm potencial para assumir o papel outrora desempenhado pela praça pública de Atenas – onde as decisões eram tomadas sem intermediários, inaugurando o processo democrático – e dar uma nova cara ao sistema.

– Estamos em uma posição única para iniciar essa transformação. Pela primeira vez, em quase todo o continente latino-americano, a democracia não é apenas um intervalo entre ditaduras, e já temos a primeira geração formada nesse novo contexto – avalia Pedro Abramovay, mestre em Direito e diretor da Open Society Foundations para a América Latina.

Mas a mudança não é um processo simples e traz uma série de dúvidas, a começar pelo risco de elitização, já que o acesso à internet ainda é restrito. Isso sem falar nas incertezas quanto ao uso dela. Os abaixo-assinados virtuais, por exemplo, sequer têm validade jurídica, porque as assinaturas das petições carecem de certificação.

– Não há dúvidas de que a evolução é positiva, mas é preciso que seja cercada de cuidados. Do contrário, grupos de interesses podem acabar falando em nome da sociedade, o que nem sempre é bom. Além disso, sempre há o perigo de uma volta do coronelismo em versão online – pondera o professor de Direito da Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Cesar Santolim.

O fato é que esse novo modelo pressupõe uma responsabilização maior do cidadão nos processos decisórios. Em países como Suíça, Islândia e Estônia, os avanços nessa direção são fruto de uma longa trajetória histórica. Não foi da noite para o dia que os islandeses decidiram elaborar uma Constituição via redes sociais e que suíços e estônios passaram a adotar o voto à distância.

No caso da Suíça, o país acumula na bagagem a realização de mais de 500 consultas populares. Aqui, da década de 1960 em diante, foram apenas três em caráter nacional. A última proposta de plebiscito, sugerida pela presidente Dilma Rousseff para realizar a reforma política, gerou controvérsia e não foi adiante.

Especialista aponta limitações culturais

A questão é saber se o Brasil tem condições técnicas para dar o salto definitivo rumo às novas possibilidades propiciadas pelo mundo dos bits. A engenheira de telecomunicações Paloma Maria Santos, editora da Revista Democracia Digital e Governo Eletrônico, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), acredita que sim.

– As limitações são muito mais educacionais, organizacionais e culturais do que efetivamente tecnológicas. O direito de participação cidadã já está na nossa Constituição. O que precisamos é criar mecanismos para isso – afirma Paloma.

Ainda que embrionárias, as iniciativas já existem e, aos poucos, começam a ganhar visibilidade (veja o infográfico acima). Embora a eficácia da maioria delas ainda seja discutível do ponto de vista prático, todas têm pelo menos um mérito: abrir caminho.


"A internet pode ser útil, mas não vai resolver os problemas"

ENTREVISTA : ROLF RAUSCHENBACH Cientista político suíço e pesquisador ligado à USP Integrante do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), o suíço Rolf Rauschenbach dedica-se ao estudo da democracia direta no Brasil, onde faz seu pós-doutorado. Ele vê com bons olhos o avanço das ferramentas digitais, mas faz uma ressalva: a internet não deve ser vista como panaceia. Na Suíça, o voto virtual já existe. Por enquanto, o sistema é possível em 13 dos 26 Cantões (Estados). Em cada um deles, os eleitores estão aptos a usar a ferramenta ou o sistema tradicional.

ZH – Ferramentas virtuais podem ampliar o exercício da democracia direta?

Rauschenbach – A internet pode ser útil, mas não resolverá todos os problemas e depende muito de como for usada. No Brasil, as novas possibilidades tendem a ajudar, mas existem limitações. Muitas propostas populares são apresentadas, inclusive pela internet, mas infelizmente não têm grande efetividade.

ZH – Como isso funciona na Suíça?

Rauschenbach – Desde 1891, os suíços conhecem a ferramenta da iniciativa popular para emendas constitucionais. A população não só apresenta as ideias, como vota, inclusive pela internet. Ou seja, tem poder de aprovar ou de reprovar as propostas, e o Congresso não pode interferir.

ZH – Isso daria certo no Brasil?

Rauschenbach – Não acho que os suíços sejam mais inteligentes ou algo assim. A questão é que esse tipo de sistema exige responsabilidade. Enquanto esse sentimento não estiver introjetado na população, tenho um pouco de medo dos abusos. A mudança teria de ser gradual, começando pelos municípios e pelos Estados.

ZH – Pode haver risco de elitização?

Rauschenbach – Toda ferramenta traz riscos e benefícios. Como nem todas as pessoas têm acesso ao mundo virtual, a democracia digital pode ter efeitos de elitização. Ao mesmo tempo, ela permite a participação das massas por mais um canal e, nesse sentido, traz grandes benefícios. O balanço é positivo para a democracia. Mas o digital não pode substituir as outras instituições. Não pode sanar problemas fundamentais das instituições políticas ou da situação socioeconômica.

ZH – Esse debate coloca em risco o conceito tradicional de representatividade?

Rauschenbach – Vários autores temem que o parlamento perderá a sua função. Mas, na prática, isso não é verdade. No caso brasileiro, as propostas de iniciativa popular seguem dependendo das instituições representativas para ter validade. No fundo, o Congresso não está perdendo poder nenhum. No caso suíço, a alta frequência de decisões populares fornece orientações mais claras sobre as preferências dos cidadãos e permite, indiretamente, uma representatividade melhor.

Fonte: Zero Hora (RS)

Amplia-se o campo da oposição - Sérgio Fausto

Dissidências são um problema para quem está no poder. Exemplos, disso não faltam. O fim do reinado de 70 anos do Partido Revolucionário Institucional (PRI), no México, iniciou-se quando uma dissidência à esquerda lançou candidato próprio nas eleições presidenciais de 1988. Os sucessivos governos da Concertación, no Chile, entre 1990 e 2009, interromperam-se por igual razão. Aqui, no Brasil, o governo de Fernando Henrique Cardoso começou a perder a sucessão quando se rompeu a aliança entre PMDB, PFL e PSDB, em 2001.

Ainda é cedo para prever os reflexos eleitorais da aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva. Mas já é possível dizer que se abriu uma dissidência que ameaça a reeleição de Dilma Rousseff. Não se trata de um evento menor. Campos e Marina são as duas novas lideranças políticas mais expressivas do bloco de forças que se reuniu em tomo da candidatura do ex-presidente Lula em 2002 e 2006.

Não será simples combinar a "sustentabilidade" de Marina com o "desenvolvimentismo" de Campos, tampouco o "utopismo" dela com o "pragmatismo" dele. Não estamos diante,, porém, de uma dupla de amadores. Quem supunha que Marina se enquadrava nessa categoria mudou de ideia depois da ousadia da aliança com o governador de Pernambuco. Foi um lance de mestre não apenas porque surpreendeu a todos, mas principalmente porque definiu um claro objetivo estratégico: pôr um ponto final na já longa permanência do PT no poder. Depois de sentir na carne a mão pesada do governo, pelas dificuldades criadas para o registro de seu partido, ela concluiu, como há muito já o fez a oposição, que a penetração do PT no Estado brasileiro alcançou um estágio perigoso para a vida democrática do País. "Mais quatro anos, não" - essa já era a mensagem implícita da candidatura de Campos. Coube a Marina, entretanto, pronunciá-la em alto e bom som político.

A ex-senadora empresta à aliança a legitimidade das "jornadas de junho". Campos oferece a perspectiva de transformar a aliança na base de um governo viável, com apoio e interlocução mais amplos do que Marina poderia obter. Seria relativamente fácil para o governo neutralizar ambos isoladamente. Contra a ex-senadora pesaria o argumento de que o Brasil é um país complexo demais para ser governado por uma força incipiente, sem base parlamentar e quadros experimentados, à margem das correntes principais da política brasileira. Já a candidatura do governador se encontrava no divã político do ser ou não ser de oposição e ante a dificuldade de converter a alta popularidade em Pernambuco em maior intenção de votos no âmbito nacional. Juntos, Marina e Campos representam um desafio muito mais complicado para o governo.

Pela primeira vez desde que o PT ascendeu ao poder existe a possibilidade real de uma frente de oposições capaz de mobilizar as diversas insatisfações contra o governo e organizá-las em tomo do objetivo de encerrar o ciclo político aberto em 2002. Partido mais bem estruturado da oposição, o PSDB vem com candidato novo para as eleições de 2014. O estilo agregador de Aécio Neves facilita em muito a formação dessaífente de oposições, seja quem vier a encabeçá-la num provável segundo turno. É sintomática a fonna leve e amistosa como o senador reagiu à notícia da surpreendente aliança entre Campos e Marina, mesmo sabendo dos desafios que o fato novo coloca para a sua candidatura. Prova de inteligência política de quem confia em suas boas credenciais como ex-govemador de Minas eterno respaldo de seu partido.

A possibilidade de derrota do governo alargou-se no horizonte. Dilma tem a maioria dos partidos, o que lhe dará mais tempo na televisão, mas é uma maioria com cara velha. E que envelhece a olhos vistos à medida que se intensifica a disputa por cargos e verbas dentro do condomínio governista. Grande parte da energia do governo é consumida em reuniões políticas para fazer e refazer o quebra-cabeças das alianças eleitorais e do loteamento do Estado. Outra parte é destinada a medidas e anúncios que visam a dividendos eleitorais, atividade que se tomou frenética, com ajuda do twitter presidencial. O que sobra é dedicado à tentativa de reconquistar a confiança perdida com os insucessos do "novo paradigma de política econômica" e do "novo modelo de desenvolvimento". Como a tentativa é atrapalhada e os ventos externos não a favorecem, o governo terá um balanço modesto a apresentar em 2014. E dificuldade para convencer que, sob a mesma administração, dias melhores virão nos quatro anos seguintes.

O eventual encerramento do atual ciclo de poder desobstruirá canais para a renovação da vida democrática brasileira. O PT tomou-se uma força conservadora. A lógica férrea da manutenção do poder freia o debate interno ao partido e limita as possibilidades de consolidação de novas forças no campo da centro-esquerda. A dissidência de Marina e Campos é uma resposta a esse cerceamento ativo. De igual forma, a denegação da gravidade específica do "mensalão" é sintoma de esclerose dentro do partido, embora a disciplinada ausência de crítica pareça sinal de força. A mesma lógica férrea da manutenção do poder estimula deliberadamente o auxílio à criação e proliferação de legendas de aluguel, a deterioração da política e das instituições do Estado e o amesquinhamento do debate público.

O possível retomo do PT à planície refletirá a formação de uma maioria em favor de fronteiras de separação mais nítidas entre Estado e governo, entre governo e partido, entre governo, partido e sociedade civil. No Brasil consolidamos algumas conquistas: democracia eleitoral, estabilidade, prioridade à inclusão social. Falta-nos uma República em que o Estado esteja a serviço da coisa pública e o fortalecimento da cidadania, definida como exercício efetivo de direitos e obrigações iguais para todos, seja a razão de ser da vida política. É um logo processo, sem um ponto fixo de chegada. Nesta etapa, avançar nessa construção requer a quebra da hegemonia do PT na política nacional.

*Diretor executivo do IFHC membro do GACINT-USP

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma está grogue – Alberto Goldman

Enquanto os jornais se divertem e os institutos de pesquisas faturam, nós opinamos, embora saibamos , “ad nauseam” ( a dar enjoo ), na teoria e na prática, que essas pesquisas feitas um ano antes do pleito expressam o passado e o presente ( e este amanhã será passado ), e não indicam nada, ou quase nada, do futuro. Mas os leitores eleitores, ao menos os poucos que estão no momento atual preocupados com o que vai acontecer nas próximas eleições, se sentem atraídos pelos números que são apresentados.

Já que estamos opinando, vamos falar sobre o passado e o presente. Para o futuro nem sabemos se o candidato é o Lula, ou a Dilma, se é o Aécio ou o Serra, se é o Eduardo Campos ou a Marina. E quem sabe mais quem?

Em pesquisas anteriores, ainda mais longe do pleito, Dilma ( e Lula ) estava nas alturas. Mas ainda no primeiro semestre já se começaram a sentir os efeitos das dificuldades econômicas do país. No entanto queda mesmo foi depois das manifestações de meados do ano, com a avaliação positiva do governo caindo à metade e a negativa empatando com ela. Em Setembro houve uma recuperação da presidente em 25% do que havia perdido de sua avaliação positiva. Em outubro o quadro se manteve, isto é, os 75% perdidos continuaram perdidos, nada de recuperação. Até pelo contrário, a avaliação negativa, de setembro para outubro, cresceu um pouco. Quer dizer, não foi a nocaute mas se levantou apenas quando a contagem já chegava aos 9 e foi salva pelo gongo. Mas continua grogue, apesar da brutal exposição em toda mídia, diariamente, “como nunca antes nesse país”.

Significativo dessa situação é que, em qualquer cenário atual, Dilma fica em um primeiro turno em 40% de intenções de voto, ou um pouco menos e fica com um pouco mais de 40% nas hipóteses de segundo turno. Vale dizer, mais da metade do eleitorado nacional não pretende sufragá-la. Não é, para ela, uma situação confortável, principalmente se levando em conta que é a presidente, candidata à reeleição, e é quase a única voz que se ouve.

Vice-presidente nacional do PSDB

Revolta dos reservas - Dora Kramer

Depoís de três mandatos presidenciais como dono das regras de funcionamento da aliança partidária montada em 2003 e consolidada em 2006 com a entrada oficial do PMDB na coligação de governo, o PT enfrenta uma espécie de rebelião dos reservas. Continua sendo o protagonista, mas seus aliados já não se conformam com o papel de coadjuvantes passivos. Por uma razão simples e objetiva: eles precisam sobreviver, o que significa disputar eleições locais para se fortalecer no Congresso e no jogo político como um todo, além de trabalhar com a hipótese de um plano B no âmbito federal É o que provoca essa movimentação toda nos partidos ditos governistas, cuja adesão é cobiçada pelos oposicionistas que lhes oferecem em troça espaço que os petistas imaginavam em seu projeto inicial ocupar paulatinamente até se tomarem irremediavelmente hegemônicos. Na política e na sociedade.

Como a banda não toca nesse ritmo e ninguém espera o aniquilamento de braços cruzados, cada um dá o seu jeito na base do salve-se quem puder. A boa posição da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas nessa altura não é garantia de nada. Nem de vitória nem de parceria leal nos Estados, de modo a que os outros integrantes da aliança possam fugir do destino que coube a partidos de oposição esmagados pela fortaleza governista.

Foi isso que moveu o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a se afastar do PT a partir da eleição municipal de 2012 - quando percebeu que o combinado com o ex-presidente Lula em relação à disputa em Recife não era "à vera"; apenas uma maneira de ganhar tempo, levá-lo na conversa e mantê-lo atrelado ao governo com a vaga promessa de uma candidatura presidencial de 2018.

"Tem gente ainda esperando o cumprimento de acordos feitos em 2002% comentou Campos com amigos no inicio do processo de decisão de se candidatar ou não em 2014.

A desconfiança também é o pano de fundo da rebelião que se avoluma no PMDB, onde a cada dia aparece uma seção estadual querendo sair do jugo do PT. Há ainda a tentativa de antecipar a convenção que decidirá sobre a aliança presidencial para 2014. Já são 11 os Estados que reivindicam liberdade para voar.

E mesmo que não haja convenção antecipada, na data oficial o PMDB pode até não romper, mas não ficará unido a reboque do projeto alheio.

Água-benta. Se o combinado entre Marina Silva e Eduardo Campos era não dar espaço para que se disseminasse a cizânia entre os dois, a ex-senadora foi a primeira a quebrar o acordo.

Ao dizer - no programa Roda Viva - que a aliança com a Rede permitiu a Campos ganhar "um pouquinho mais de substância" para fugir à construção de uma candidatura "no diapasão" da velha política.

Ou seja, considera-se uma espécie de salvação da lavoura sem cuja presença o pernambucana ficaria entregue à própria inconsistência e obsolescência.

A murada. Quando José Serra indica que não abandonou o projeto de se candidatar a presidente, o gesto sugere que existe margem para Aécio Neves recuar da candidatura dependendo das circunstâncias (adversas) à frente.

Seria a única hipótese de o PSDB dar a legenda a Serra: por ce ssão do mineiro, presidente e praticamente absoluto no partido. O ex-governador de São Paulo certamente sabe disto.

De fato. "Toda xenofobia é burra", disse a presidente Dilma Rousseff. Aplica-se à crítica do então candidato Lula da Silva, em 2002, sobre a encomenda de uma plataforma para estaleiro de Cingapura no governo Fernando Henrique: "Vocês já viram os Estados Unidos ou a Alemanha contratando empresas que não sejam de seus países"?

Fonte: O Estado de S. Paulo

Relatividades - Tereza Cruvinel

Pesquisas eleitorais a 11 meses do pleito captam humores do eleitorado que ainda serão afetados por muitos fatores. Afora os econômicos, inclua-se, entre os de natureza propriamente política, o nível de conhecimento de cada candidato e a empatia criada com o eleitorado, suas propostas e prioridades, as alianças partidárias, as disputas estaduais. No curso da campanha, pesará o dinheiro e a eficiência dos programas de televisão. No fim da novela, o eleitor decidirá, pesando satisfação ou frustração, entre mudar ou manter no poder um governante ou seu partido. Por tudo isso, é preciso relativizar as pesquisas precoces, apuradas na ausência de ventos fortes sobre a opinião pública, como foram as manifestações de junho. É o caso da última pesquisa Ibope/Estadão, divulgada na semana passada, suscitando leituras precipitadas em todos os quadrantes.

Em relação à presidente Dilma, por exemplo, é açodado dar como certa sua vitória no primeiro turno, que só não ocorreria, segundo a pesquisa, se Marina Silva e José Serra, numa grande reviravolta, fossem candidatos. O PT trombeteou o resultado, mas trabalha mesmo é com os cenário de dois turnos. Mas é também precipitada a conclusão dos adversários de que Dilma já "bateu no teto" e não cresceria mais. A recuperação pós-junho de fato desacelerou-se mas, em onze meses, muitas águas rolarão, a favor e contra sua reeleição. No programa de tevê da semana passada, o PT mostrou que irá com ganas para a disputa, reivindicando o legado de 12 anos no governo, especialmente no social, e com Lula no papel de grande eleitor. Não é pouco, mas os ofendidos com Dilma também são uma legião, que inclui boa parte do empresariado.

Outra leitura apressada foi a de que o provável candidato do PSDB, Aécio Neves, teve sua candidatura ferida pela emergência da dupla Campos-Marina. Para começar, os tucanos estranharam os 14% de referência do candidato, comparados aos 21% obtidos por Vox Populi 10 dias antes, e aos 21% do Datafolha, 12 dias antes. Discrepâncias entre institutos podem reforçar a posição dos que, no Congresso, defendem o projeto que proíbe a divulgação de pesquisas nos 15 dias anteriores ao pleito. Aliados de Eduardo Campos também registraram a diferença entre os 15% obtidos há 15 dias no Datafolha e os 10% apontados pelo IBOPE, invertendo sua tendência de alta. Mas a primeira foi realizada em lima do lance de sua união com Marina, o que pode explicar a diferença. Mas, voltando a Aécio no Ibope, apressaram-se também os socialistas a prever que ele será ultrapassado por Campos até o fim do ano, situação em que poderia ser substituído por José Serra. A ultrapassagem, mesmo que ocorra, não muda o fato de que Aécio tem hoje pleno controle sobre o PSDB. Na hora H, a estrutura, a capilaridade e os palanques que o PSDB terá nos estados farão diferença. Hoje, o PSB/Rede é deficitário nesses quesitos.

Eduardo e Aécio têm espaços semelhantes para se tornarem mais conhecidos e crescer. Ainda não está devidamente avaliado o grau de transferência de apoios de Marina para ele. Certo é que, doravante, a camaradagem inicial entre Aécio e Eduardo dará lugar à disputa pela segunda posição. Reflexo disso, a retração na tendência anterior de montarem palanques duplos nos estados. Eduardo, neste momento, viaja pelos estados tentando montar uma palanque de terceira via para as disputas locais.

Agora vai?
Eleições presidenciais e insatisfações federativas nuca foram uma boa combinação. Na semana passada, depois de longa peleja, prefeitos e governadores viram finalmente aprovado o projeto que altera os juros e o indexador de suas dívidas. O governo concorou e a medida deve beneficiar governadores e prefeitos de todos os partidos, inclusive os da oposição. Não será o bastante, entretanto, para garantir o desenvolvimento regional sem recurso à predatória guerra fiscal. O Senado retomará agora o esforço para aprovar a unificação das aliquotas do ICMS, que só acontecerá se o governo concordar com três outras medidas: a homologação dos incentivos atuais pelo Confaz, a criação do fundo de compensação para os que tiverem arrecadação reduzida, e o fundo de desenvolvimento regional para projetos estratégicos, que podem custar R$ 40 bilhões à União. "É agora ou não será no ano eleitoral de 2014. Os estados estão no limite", avisou o senador Walter Pinheiro (PT-BA) a um faminto Guido Mantega, na sexta-feira, após quatro horas de debate. O ministro da Fazenda, porém, não se comprometeu com os fundos. Logo depois, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou a votação do projeto sobre a autonomia do Banco Central. Pode ser um bode, a ser retirado se o governo sentar para negociar os termos da minirreforma tributária.

Um pesar
Maior que a tristeza por sua morte é o legado de Maurício Azêdo. Na ditadura, combateu a censura, a tortura e o arbítrio. Abraçou o jornalismo sem renunciar às convicções políticas. Da linhagem superior de Barbosa Lima Sobrinho, sucedeu-o na presidência da ABI mantendo-a como sentinela da liberdade de imprensa.

Agenda da Rede
Amanhã e depois, os recém casados Rede e PSB começam a discutir a plataforma política comum. Só então, o acordo pragmático passará a ser programático. Marina Silva destacou o deputado Alfredo Sirkis para representar a Rede na simultânea Conferência RioClima, preparatória da XIX Conferência sobre Mudanças Climática, que acontecerá em novembro, em Varsóvia. Em pauta, os temas da verdadeira agenda nova do mundo, como uma política tributária que favoreça a economia do baixo carbono e a atribuição de valor econômico aos serviços prestados pelos ecossistemas de cada país. Por exemplo, quanto vale o benefício proporcionado ao mundo pela Floresta Amazônica? Sua preservação não devia ser obrigação de todos?

Fonte: Correio Braziliense

Crescimento já! - Eliane Cantanhêde

Já que Eduardo Campos e Marina Silva anunciam seu programa comum amanhã em São Paulo e se colocam como terceira via contra a polarização PT-PSDB, vamos ao que interessa: como garantir o desenvolvimento econômico?

A campanha presidencial corre solta a um ano das eleições, mas o que se tem até aqui é uma exibição desenfreada de Dilma, a tentativa de acomodação de Campos e Marina e o esforço de afirmação de Aécio Neves. De conteúdo, nada.

O debate fundamental, sobre o desenvolvimento, reduz-se, constrangedora ou dramaticamente, a uma guerra verbal que faz a festa dos jornais. Não sobre quem é melhor, mas sobre quem é menos pior.

Aécio classificou o crescimento do PIB com Dilma de "medíocre". Mantega rebateu no Painel, dizendo que nos tempos de FHC foi de 2,3% ao ano e, nos dez anos de PT, de 3,6%. A tréplica tucana veio rápida. Na sua contabilidade, o índice de FHC foi 2,3% ou 2,5%, em média, quando o da América do Sul ficou em 1,3%. Já o de Dilma é de 1,8%, quando a região pula para 5,1%.

Em qualquer hipótese, porém, o crescimento é pífio, compatível com a falta de estratégia brasileira e incompatível com a imensa potencialidade do país. E é isso, e não salamaleques e sacadas geniais de marketing, que deveria estar posto num momento tão crucial.

Uma questão central é a dos capitais privados e internacionais para trazer à tona as riquezas --como o petróleo das profundezas do pré-sal-- e, com elas, bem-estar, tecnologia, inovação e competitividade.

O debate é pobre, atrasado, enviesado, envergonhado e antipedagógico. O leilão dos aeroportos é um escândalo, o de Libra ficou num único consórcio, e ninguém põe a cara para falar do aumento de estrangeiros no BB. Pega mal... O que diriam os companheiros sindicalistas que protestam nas ruas?

Faltam coragem e honestidade de propósitos. O Brasil paga o pato.

Fonte: Folha de S. Paulo

O mundo encantado da doutora Dilma - Elio Gaspari

No Brasil encantado em que vive o Planalto, as obras do trem-bala estariam adiantadas, e ele rodaria em 2016, para a Olimpíada. Felizmente, continua no papel. Depois do Enem deste fim de semana haveria outro (ou já houvera). Infelizmente, foi só promessa da doutora Dilma e do ministro Fernando Haddad. Seu substituto, o comissário Mercadante disse que prefere gastar construindo creches. Por falar em creche, durante a campanha eleitoral, a doutora prometeu mais seis mil (quatro por dia). Em abril, ela disse o seguinte: "Queremos mais, muito mais. (...) Vamos chegar a 8.685 creches." A repórter Maria Lima fez a conta e mostrou que seria necessário entregar 31 novas unidades a cada dia até julho do ano que vem (13 por dia até o fim do governo). A doutora zangou-se: "Minha meta é seis mil creches. Quem foi que aumentou para oito mil?" Ela.

Sua conta era a seguinte: em abril, havia 612 creches prontas, 2.568 em obras e 2.117 contratadas. Somando, chegava-se a 5.397. Se obras em andamento e contratadas são obras concluídas, 2010 foi um grande ano. Terminaram-se as obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e as águas do rio São Francisco foram transpostas.

Promessas.
Para ficar na conta da meta de campanha, admitindo-se que a doutora já entregou três mil creches, até o fim do seu mandato precisa entregar pelo menos oito por dia.

O mundo encantado do Planalto desencadeia uma compulsão mistificadora. Se o governo terminar só quatro mil creches, atire a primeira pedra quem acha esse programa um fracasso. Será um grande resultado que partiu de uma promessa exagerada. Trocando o mundo real (a obra entregue) pelo virtual (a promessa, ou o contrato), o comissariado intoxica-se numa euforia que desemboca na irritação. A última bruxaria do encantamento partiu da doutora Magda Chambrard, diretora da Agência Nacional do Petróleo. Ela anunciou que, nos próximos 30 anos, o Campo de Libra renderá R$ 1 trilhão. Em maio passado a mesma doutora disse que "gostaria de ter mais Eikes" no setor petrolífero. Uma semana depois, começou o inferno astral de Eike Batista e de quem acreditou nele.

O encantamento desenvolve nos governantes uma síndrome de sítio, como se o mundo estivesse contra eles. De onde Maria Lima tirou a referencia às oito mil creches? De uma fala da doutora.

Uma aula de FH para os comissários
Em agosto de 1995, na mesma arapuca em que caiu a doutora Dilma, o programa "Café com o presidente", Fernando Henrique Cardoso disse o seguinte: "Passados seis meses de governo, eu quero anunciar os primeiros resultados positivos dos esforços que nós estamos realizando para combater uma triste realidade brasileira: a mortalidade infantil. E quero começar falando do município de Jaramataia, que fica lá no interior do estado de Alagoas. Até o ano passado, 333 crianças, de cada mil que nasciam, morriam antes de completar 1 ano de idade. De janeiro para cá, esse número caiu para três. Vou repetir, é isso mesmo, caiu para três crianças em cada mil."

Lorota do mundo encantado. Três crianças mortas para mil nascidas vivas, nem na Suíça. Esse era o número de mortes por diarreia em Jaramataia, onde a mortalidade caíra de 333 para 249. Quando a fraude foi revelada, a máquina do encantamento mobilizou-se, e uma médica recebeu um telefonema intimando-a a "não deixar o presidente passar por mentiroso"

FH paralisou a máquina, dizendo mais ou menos o seguinte: "O número estava errado? Então estava errado, e nós não temos que responder à crítica".

No caso dá doutora Dilma, o Planalto explicou que, entre as 8.685 creches mencionadas por ela, havia obras contratadas por Lula. Fica combinado assim.

Aviso amigo
Há sinais de que será necessária uma chacoalhada de pessoas e políticas na condução da economia.

Depois da repercussão dos leilões aguados e das dificuldades de Eike Batista, dividem-se os empresários em dois grupos: um torce por um novo quadro, outro quer que fique tudo como está, para continuar tirando fatias do presunto de um governo atrás de credibilidade.

Alstom
Ou o tucanato paulista tem uma estratégia capaz de causar inveja ao comissariado petista que pretende livrar seus caciques das penitenciárias pelo mensalão ou está numa tática suicida, jogando o escândalo do propinoduto denunciado pela Siemens para dentro da campanha eleitoral do ano que vem.

Pelas provas, depoimentos e cifras, esse caso ultrapassa, de longe, o mensalão. Ali não há domínio do fato, o que há são só fatos dominantes.

Em silêncio
A Arquidiocese do Rio tirou a sorte grande por trabalhar em silêncio. Há cinco anos, ela fez uma faxina nas suas contas, afastou um padre que administrava seu bens e transferiu para uma casa em São José dos Campos o cardeal Eusebio Scheid, substituído por D. Orani Tempesta. Scheid deixou o apartamento de 500 metros quadrados (R$ 2,2 milhões) que fora comprado no Flamengo. O administrador, padre Edvino Steckel, foi acusado de ter gastado R$ 14 milhões em móveis, carros e enfeites. Em 2010, seu substituto foi detido no Galeão quando embar-cava para Portugal com 52 mil euros nas roupas e nas malas.

Agora o Papa Francisco detonou publicamente o bispo da diocese alemã de Limburg, que torrou 31 milhões de euros num palácio episcopal.

John Kennedy
Começa na semana que vem j a avalanche dos 50 anos da ; morte, no dia 22 de novembro, do presidente americano John Kennedy. Juntando mito e mistério, girará em torno de dois grandes temas: Foi Lee Oswald, sozinho, quem o matou? E, se ele não tivesse ido à Dallas, como ficariam os Estados Unidos?

O mistério do crime prosseguirá, e metade dos americanos continuará acreditando que houve uma conspiração. Chegará às livrarias a tradução de "11/22/1963" de Stephen King. (Na rede, em inglês, sai por US$ 12,38.) Conta a história de um sujeito que viajava no tempo e foi a Dallas para impedir que Oswald atirasse. Seu melhor momento está na conclusão, escrita com a ajuda de Ri-chard Goodwin, que foi assessor de Kennedy. Ele especula como ficaria o país se a viagem a Dallas tivesse sido cancelada.

Existem 40 mil livros sobre o presidente. Os melhores estão mais para o estilo Roberto Carlos, e a maioria é ruim. Muito acima da média, está na rede por US$ 15,20 o "Camelot"s Court — Inside the Kennedy White House" ("A Corte de Camelot —Por dentro da Casa Branca de Kennedy"), de Robert Dallek.

Dallek, um moderado de-oto da tese segundo a qual os tiros vieram de Lee Oswald, acrescenta mais um se.

Kennedy teria sobrevivido "se" não estivesse com o colete ortopédico que o mantinha com o tronco erecto. Por quê? Porque, ao levar o primeiro tiro, que entrou pelas costas e saiu pelo nó da gravata, teria se curvado, e o novo tiro não lhe explodiria o crânio.

Fonte: O Globo

Painel - Vera Magalhães

Plano de safra
Depois do curto-circuito com o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), Eduardo Campos (PSB) se dedicou nas últimas semanas a reconstruir as pontes com representantes do agronegócio nacional. O governador de Pernambuco conta, para isso, com os ex-ministros da Agricultura Roberto Rodrigues (de Lula) e Pratini de Moraes (gestão FHC). Campos avisou antes a Marina Silva que faria o aceno aos ruralistas, com os quais perdeu pontos por não rebater o veto da nova aliada a Caiado.

Lua de mel Aliados do pernambucano que procuraram a bancada ruralista justificaram suas declarações sobre Caiado pelo timing, logo após a aliança com Marina. "Não dava para desautorizar a noiva no dia do casamento", diz um cacique do PSB.

Adubo Um cenário em estudo para acalmar Caiado prevê que o presidente do PSB goiano, Vanderlan Cardoso, concorra ao Senado ou a deputado federal e apoie o líder do DEM para o governo.

10 + 10 + 10 Depois da comemoração pelos dez anos de governo do PT e a efeméride de uma década do Bolsa Família, Dilma Rousseff vai bater bumbo pelo "aniversário" de outro programa federal: o Luz Para Todos, que faz dez anos em novembro.

Camisa 10 No entanto, a grande aposta do Planalto para o aquecimento eleitoral serão as inaugurações de seis estádios da Copa na primeira quinzena de dezembro. Auxiliares envolvidos na organização afirmam que o Itaquerão, em São Paulo, será o "grande último ato'' do ano, com a presença de Lula.

Campainha O PSDB, que apostava na exaustão do Bolsa Família como bandeira eleitoral em 2014, viu com cautela a ênfase que o PT deu ao Pronatec, programa de ensino profissionalizante, na propaganda de TV. Para os tucanos, o projeto pode ser vendido como a porta de saída que a oposição cobra.

A conferir Peemedebistas acham que o presidente do PT, Rui Falcão, "joga para a plateia" quando diz que a candidatura de Lindbergh Farias no Rio será prioridade em 2014, apenas para agradar petistas antes da eleição que definirá o novo comando da sigla, em novembro.

Positivo Geraldo Alckmin (PSDB) vai turbinar a agenda de eventos do metrô, que está sob fogo desde as denúncias de formação de cartel no setor. O tucano prepara a entrega do primeiro trem e o início da operação do tatuzão nas obras da linha 5, um dos trechos sob suspeita.

Negócios à parte O Palácio dos Bandeirantes ficou irritado com as críticas que Dilma fez a governos do PSDB no anúncio de investimentos de R$ 5,4 bilhões para o Estado, na sexta-feira. Alckmin pretende manter um discurso de parceria com o governo federal mesmo durante a campanha de 2014.

Calma lá Dirigentes do PR paulista ficaram desconfortáveis com a presença de petistas no evento de filiação do empresário Maurílio Biagi ao partido, na quinta-feira. Biagi é cotado para ser vice do petista Alexandre Padilha na disputa pelo governo, mas o PR quer deixar claro que a aliança não está garantida.

Bolso vazio 1 A Frente Nacional de Prefeitos ficou preocupada com a possível exigência do pagamento dos precatórios dos municípios até 2018, que foi questionada no STF. Para a entidade, a cobrança "vai levar o caos a vários municípios".

Bolso vazio 2 Os prefeitos destacam que o abatimento de suas dívidas com a União, em tramitação no Senado, não abrirá espaço suficiente em seus cofres para permitir o pagamento.

Tiroteio

Sabe qual é a diferença entre o tubarão e o cação? Você come o cação, e o tubarão come você. É a lógica do PT sobre as privatizações.

DE LUIZ PAULO VELLOSO LUCAS (PSDB), ex-prefeito de Vitória, sobre governo e PT fazerem distinção entre privatizações e o programa de concessões de Dilma.

Contraponto

Ideia fixa

Em evento do Ministério da Pesca, na última terça-feira, para a assinatura de um acordo para ampliar a presença do peixe nas merendas escolares, o ministro Marcelo Crivella lia o nome das autoridades quando citou a coordenadora de Alimentação Escolar do FNDE, Albaneide Peixinho. Em seguida, parou a leitura e emendou:

-Mas você deveria trabalhar aqui. Deus já lhe deu até o nome! -brincou Crivella.

Logo depois, o ministro voltou a citar religião: disse que Jesus "não multiplicou vaca, nem galinha, mas peixe", um argumento para provar a importância da pesca.

Fonte: Folha de S. Paulo

Panorama político - Ilimar Franco

Dá ou desce
O presidente do Senado, Renan Galheiros (PMDB), está levando uma dura do PT. Os petistas estão dispostos a apoiar o PMDB para o governo de Alagoas desde que ele seja o candidato. Mas foi advertido de que, se a tarefa ficar com o deputado Renan Filho, o PT não tem como não compartilhar o palanque da presidente Dilma com o do candidato do PP ao governo, senador Benedito de Lira.

Embala que o filho é teu
As gestões do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, para ter o apoio do PT ao governo do Ceará não têm surtido efeito. Os petistas dizem que Eunício tem que cobrar reciprocidade é do governador Cid Gomes (PROS). Afinal, lembram, o peemedebista deu apoio ao atual prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PROS). Já o candidato do PT na época, Elmano Costa, ficou chupando o dedo. A cúpula do PT argumenta ainda: "Como vamos combater o Cid depois de ele enfraquecer o Eduardo (Campos)?"! Além disso, a candidata do governador é a secretária Izolda Cela Coelho (Educação), mulher de Veveu Arruda (PT), prefeito de Sobral, berço político dos Gomes.

"Tudo o que o Eduardo Campos sempre fez (acordos e alianças), e os outros também fazem, a Marina Silva condena
Henrique Eduardo Alves
Presidente da Câmara dos Deputados (RN)

Reencontro da turma
Ern reunião dia destes com a presidente Dilma, Rui Falcão, presidente do PT, perguntou, rindo, se ela compareceria a reencontro de ex-militantes da VAR-Palmarès, organização em que ela atuou na época da ditadura, Dilma sorriu. E não respondeu.

Musa das Diretas
A cantora Fafá de Belém, musa das Diretas, será condecorada terça-feira pelo Senado, em sessão especial pelos 25 anos da Constituinte. Além de Fafá, que participou de dezenas de comícios pelo país cantando o Hino Nacional, receberão a homenagem os ex-presidentes José Sarney, Lula e Fernando Henrique Cardoso.

Congestionamento
Além de São Paulo, o PSB está fazendo gestões para integrar a chapa majoritária do PSDB em Minas Gerais no ano que vem. Mas os tucanos resistem à ideia e tendem a indicar candidatos do partido ao governo e ao Senado, e deixar a vice para o PP.

Perda de sintonia
O comando da EBC (TV pública do governo federal) está na corda bamba. A não transmissão da entrevista de Marina Silva no programa "Roda viva" da TV Cultura, e a ausência de dez segundos de áudio na recente rede nacional de televisão da presidente Dilma são apenas a ponta do iceberg. Pesa ainda mais a evasão de grifes da emissora estatal: Ancelmo Gois, MV Bill e Diléa Frate.

Me dê motivo
O presidente demissionário da EPL, Bernardo Figueiredo, sustentou em reunião do conselho da estatal que o governo estava impondo celeridade no lançamento de editais de concessão e que isso nem sempre é sinônimo de qualidade.

Pedindo a cabeça
Médicos querem tirar Roberto D"Àvila da presidência do Conselho Federal de Medicina. Acusam o dirigente de ter sido fiador de acordo entre Câmara e governo que acabou permitindo a aprovação da MP do Mais Médicos.

O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB), obteve a garantia de que terá o apoio da presidente Dilma ao governo do Amazonas.

Fonte: O Globo