domingo, 13 de outubro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Ulysses Guimarães: Constituição cidadã

A Nação nos mandou executar um serviço. Nós o fizemos com amor, aplicação e sem medo. A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa, ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca.

Ulysses Guimarães, presidente da constituinte, In discurso da promulgação da Constituição de 1988.Ontem (12/10/2013), há 21 anos, Ulysses desaparecia no mar.

O Brasil em 20 anos: PSDB melhorou serviços e PT reduziu desigualdade

Série histórica da Pnad mostra pontos fortes de governos tucano e petista

Foram comparados cerca de 130 indicadores. Apesar dos avanços, especialistas alertam para o desafio de buscar qualidade. No momento em que a campanha de 2014 invade 2013, a análise dos dados dos últimos 20 anos permite comparar ganhos e perdas do Brasil. O governo Fernando Henrique (PSDB), assim como o de Itamar Franco, se destacou em expansão de serviços como iluminação e telefonia, redução do analfabetismo e acesso à educação. As gestões petistas do ex-presidente Lula e da presidente Dilma reduziram mais a desigualdade, aumentaram a renda e geraram mais empregos. É o que relata Paulo Celso Pereira a partir da análise da série histórica da Pnad, do IBGE

Os trunfos de tucanos e petistas

A partir de dados do IBGE, O GLOBO aponta os avanços do PSDB e do PT nas últimas décadas

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA - Há anos uma disputa toma conta do debate político nacional: o que mudou mais o Brasil, a década dos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, entre 1992 e 2002, ou a das gestões Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff ? Ou, colocado de forma mais sintética: o PSDB ou o PT? Nos últimos anos, incontáveis discursos e peças publicitárias foram feitos para tentar fazer valer um ou outro ponto de vista. A partir da divulgação, há duas semanas, da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, referente a 2012, O GLOBO traçou uma comparação dos avanços, e eventuais retrocessos, ocorridos nas duas últimas décadas.

Com base nos números, é possível afirmar: os tucanos foram os responsáveis por avanços mais sólidos na Educação, na expansão de serviços públicos e na ampliação dos bens de consumo básicos, enquanto os petistas tiveram resultados sensivelmente melhores nos indicadores relacionados ao trabalho, à renda e à redução da desigualdade social. No total, foram comparados cerca de 130 indicadores levantados anualmente pelo IBGE.

Isso permite uma análise do Brasil que Itamar Franco recebeu de Fernando Collor de Mello em 1992 — já que o mineiro foi empossado em outubro daquele ano e co-locou tucanos em postos-chave —, da situação deixada por Fernando Henrique para Lula no fim de 2002 e dos avanços obtidos pelo PT até o fim do ano passado. Para permitir uma análise fiel dos dados, a reportagem utilizou números do IBGE que excluem os dados recentes referentes à área rural da Região Norte, zona que só começou a ser pesquisada na PNAD em 2004.

Luz e água: expansão nos anos 90

No período entre 1992 e 2002, houve uma expansão sensivelmente maior nos serviços públicos básicos — iluminação elétrica, esgotamento sanitário, abastecimento de água e coleta de lixo — do que na década petista. No caso da eletrificação, apesar da propaganda oficial intensa do governo Lula em relação ao programa “Luz Para Todos” a maior expansão do sistema ocorre na década anterior, quando o percentual de domicílios atendidos sai de 88,8% para 96,6%, deixando a situação perto da universalização, praticamente obtida em 2012, com o atendimento de 99,7% das residências.

Vale destacar, no entanto, que quanto mais próximo da universalização chega um indicador, mais difícil é conseguir avanços, o que justifica, em parte, neste caso, uma evolução menor na última década. Na coleta de lixo, a diferença é ainda maior. Entre 1992 e 2002, o percentual de domicílios com lixo coletado vai de 66,6% para 84,8%, um avanço de 27,4%. Desde o fim do governo FH, o crescimento foi de 6,01%. Com a estabilização da moeda e a abertura da economia durante os governos Itamar/FH, os eletrodomésticos básicos, como geladeira, fogão e televisão, também chegaram aos domicílios mais pobres. A expansão desses itens é aproximadamente duas vezes maior nos governos tucanos em relação aos governos petistas.

O avanço nas máquinas de lavar roupa e dos filtros de água, no entanto, são mais relevantes entre 2002 e 2012. Educação é outra área medida pela Pnad em que os avanços obtidos entre 1992 e 2002 foram mais relevantes. Os governos Fernando Henrique/Itamar praticamente universalizaram o ensino fundamental, elevando de 86,6% para 96,9% o índice de crianças entre 7 e 14 anos na escola. A vantagem se repete na expansão do número de crianças de 5 e 6 anos e de 15 a 17 anos em sala de aula. No primeiro grupo, o avanço é de 43,2% entre 1992 e 2002, contra 19,2% entre 2002 e 2012; e entre os adolescentes a diferença é ainda maior: 36,6% na década tucana contra 3,4% na década petista.

Os índices também são favoráveis aos tucanos na redução do analfabetismo e na elevação do percentual de pessoas com mais de oito anos de estudo. O grande trunfo dos petistas são os indicadores sobre trabalho, redução da desigualdade social e elevação da renda real dos brasileiros. Na comparação fechada das duas décadas, a vantagem do governo petista no avanço da renda real, corrigida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor, é ligeiramente superior — 26,3% — contra 25,5% entre 1992 e 2002.

Com governos petistas, desemprego caiu

A dinâmica dos avanços foi muito distinta. Com a criação do Plano Real e a consequente estabilização de preços, a renda média do trabalhador avança 43% entre 1992 e 1996. A partir daí, no entanto, ela inicia uma trajetória de queda contínua até o fim do segundo governo FH, em 2002. No caso dos governos do PT, a renda real do trabalhador cresce permanentemente desde 2004.

— No governo Fernando Henrique, o aumento da renda se deu basicamente pela estabilidade de preços, e no governo Lula por crescimento econômico, aumento do salário mínimo, queda do desemprego e pela formalização (do emprego) — avalia o professor do departamento de economia da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos. O avanço na redução da desigualdade durante os anos Lula/Dilma também chama atenção.

O índice de Gini, um indicador internacional que mede a concentração de renda, teve redução de 11,4% entre 2002 e 2012 contra apenas 1,4% entre 1992 e 2002. Junto com os dois resultados acima, a situação do desemprego pode ser apontada como o terceiro grande trunfo petista. Trata-se de um dos poucos índices importantes da pesquisa em que uma gestão (PT) obtém avanços relevantes, enquanto a outra ( PSDB) apresentou retrocessos. Durante os governos Itamar/FH, o desemprego cresce 39,2%, com o percentual de desocupados entre a população economicamente ativa indo de 6,5% em 1992 para 9,1% em 2002.

Nos governos Lula e Dilma, a trajetória é inversa, e em dez anos o desemprego cai 30,8%, terminando 2012 com 6,3% da população desocupada. Com um sindicalista na Presidência da República e vários outros em ministérios-chave na Esplanada, o governo Lula marca um avanço na formalização do trabalho: o percentual de trabalhadores com carteira assinada aumenta 34,2% em 10 anos, contra 1,7% na década anterior. O avanço é quase idêntico ao de contribuintes da Previdência Social, que aumenta 34% na década petista, contra 5,6% na era tucana.

Trabalho infantil: redução

Apesar de os governos Itamar/FH obterem resultado relevante na redução do trabalho infantil — 53,6% entre as crianças de 5 a 9 anos e 44,7% entre as de 10 a 14 anos — a ação do PT foi ainda maior para pôr fim a essa chaga: uma redução de 76,5% no percentual de crianças entre 5 e 9 anos que trabalham e de 61,9% no caso das crianças de 10 a 14 anos. Com esses avanços nas últimas duas décadas, a mancha do trabalho infantil está praticamente superada no país: em 2012, 0,4% das crianças entre 5 e 9 anos e 4,3% das entre 10 e 14 anos trabalhavam no Brasil. Entre os principais indicadores de trabalho, apenas dois apresentam dados favoráveis aos tucanos.

Trata-se da presença das mulheres no mercado de trabalho, que cresce 7,5% nos governos Itamar/FH contra 2,6% nos governos Lula/Dilma, e da formalização dos empregados domésticos. Entre 1992 e 2002, há um aumento de 48,7% no percentual de trabalhadores domésticos com carteira assinada contra 11,6% de crescimento entre 2002 e 2012. Chama atenção o fato de que na ultima década, ao mesmo tempo em que melhora a qualidade do trabalho, cai o percentual de pessoas que trabalham por conta própria ou são empregadores.

Fonte: O Globo

O Brasil em 20 anos: Para especialistas, desafio é avançar em qualidade

Segundo eles, universalização da Educação não é garantia de aprendizado

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA - Apesar de os indicadores da Pnad mostrarem avanços em praticamente todas as áreas nas últimas décadas, especialistas alertam para as deficiências difíceis de serem percebidas a partir apenas da análise desses números. A questão central é que muitas vezes os resultados quantitativos positivos ofuscam problemas qualitativos. O caso mais evidente é o da Educação. De acordo com Rosa Ester Rossini, professora titular do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), apesar de o ensino fundamental estar praticamente universalizado, o nível de aprendizagem ainda é muito baixo. — Desde a ditadura, nós temos dados de alfabetização para consumo externo.

Hoje, entre 40% e 60% dos estudantes de primeira à quarta série não sabem ler ou escrever. Igual percentual de alunos da quinta à oitava série sabe ler e escrever, mas não sabe o que lê e escreve. A situação é alarmante. Há, por exemplo, uma enorme perda de qualidade na entrada de jovens na universidade. O jovem, hoje, entra na faculdade e não sabe pensar. Sabe copiar e colar. Temos que começar quase do zero — lamenta a professora.

Luta por igualdade e equidade

Sobre os resultados obtidos na Educação pelos dois períodos de governo, o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos reforça entendimento comum entre especialistas que analisam dados: — Quando você chega a percentuais de 95% ou 96%, aumentar é muito difícil. Então, você tinha pouca coisa para fazer no governo Lula em relação à inclusão no ensino fundamental, por exemplo.

O professor da UnB analisa um outro problema não revelado de imediato pelos números: mesmo com os avanços na renda e no nível de emprego, ambos ainda atingem mais fortemente o mesmo grupo que mais sofria na década de 1990, que são os brasileiros com educação média. — Se você pega a curva do desemprego, as taxas mais baixas estão entre os analfabetos e os de educação superior. Ou seja, o problema do desemprego no Brasil está na educação média. A estrutura do desemprego não mudou. Nos anos 1990 e hoje ela é similar.

Ela se desloca, mas a estrutura é exatamente a mesma — explica Ramos: — O aumento do salário mínimo beneficia os trabalhadores menos qualificados. No caso dos trabalhadores do ensino médio, há uma estagnação em termos reais do salário. Isso ocorre porque as pessoas estão chegando ao mercado de trabalho com educação média e como há um excesso de oferta isso tende a reduzir os salários. A professora Rosa Ester Rossini, especialista em questões de gênero, destaca também que o avanço na participação das mulheres no mercado de trabalho não deve ser fruto de comemoração intensa. Segundo ela, é resultado das dificuldades das famílias de serem mantidas apenas com o trabalho dos maridos.

E, ao mesmo tempo, de uma opção das empresas por remunerações menores. — Em relação ao trabalho da mulher vejo conquistas enormes, mas elas, no fundo, entraram no mercado de trabalho porque, com o número de horas que o companheiro trabalha durante a semana, é impossível manter a família em condições mínimas. Então, a intensificação não é só uma conquista. A mulher entra no mercado e não ganha igual ao homem, talvez só no serviço público. A gente tem que lutar é por igualdade e equidade — reforça Rosa Ester. Outra diferença grande entre os dois governos é em relação à formalização do emprego, que levou a carteira assinada para trabalhadores de ambos os sexos. Há ampla vantagem para os governos petistas.

O professor Carlos Alberto Ramos diz que seu marco inicial é a adoção do câmbio flutuante e a desvalorização do Real em 1999: — O corte da formalização é nitidamente em janeiro de 1999, com a desvalorização do Real. Não se sabe muito bem por que, mas depois que você adotou a taxa de câmbio flexível, você tem um processo de formalização muito forte, que se junta com um aumento do salário mínimo.

Fonte: O Globo

O Brasil em 20 anos: Petista e tucano não chegam a consenso

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA - Os especialistas em políticas sociais do PT e do PSDB fazem análises diferentes dos avanços obtidos de parte a parte nas duas últimas décadas. Professor da Unicamp e presidente da Fundação Perseu Abramo, que é ligada ao PT, o economista Márcio Pochmann avalia, por exemplo, que o aumento no consumo de bens como geladeira, televisão e máquina, ocorrido nas duas décadas, ainda que em níveis distintos, tem razões diferentes: — Nos anos 90, a modernização se deu pela abertura comercial, que fez com que tivéssemos a entrada de muitos produtos importados baratos, associados à estabilização monetária.

Não houve necessariamente o efeito renda. Tivemos um déficit comercial violento a partir de 1996. Na década de 2000, o efeito se deu mais por emprego, renda e crédito. E por ter sido o efeito emprego renda o impacto na desigualdade, e na pobreza foi maior. Ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ( Ipea) durante o governo Lula, Pochmann considera que o posicionamento do governo do PT em relação ao salário mínimo e às leis trabalhistas foi decisivo para obter o avanço na renda e na formalização do emprego: — Embora os empregos fossem de menor remuneração, ela subiu por causa do aumento do salário mínimo. Teve também um fato diferente que foi o ativismo sindical.

O resultado dos acordos coletivos na década de 1990 foi pior, enquanto no governo Lula os salários subiram acima da inflação. Nos anos 1990, a lógica nas relações de trabalho era de flexibilização, havia uma quantidade enorme de empregos terceirizados e a perspectiva de mudar a CLT, o que levou a um crescimento da informalidade. A partir de 2003, a perspectiva foi de aumentar a fiscalização e houve intenção clara do governo de que a CLT não seria alterada e que os contratos deveriam ser feitos com base na CLT.

‘Núcleo duro da exclusão’

O professor afirma também que os méritos nos avanços educacionais não são exclusivos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: — Acredito que a responsabilidade maior tenha sido da Constituição de 1988, que estabeleceu as condições concretas para que o Brasil pudesse buscar a universalidade ao menos no ensino fundamental. No governo Lula, está praticamente atendida — afirma, fazendo raciocínio semelhante em relação ao avanço nos serviços: — É preciso analisar com detalhe, mas na medida em que vai atendendo a todos, o que falta é o núcleo duro da exclusão.

Possivelmente é mais fácil avançar o saneamento em cidades médias e grandes do que em municípios mais distantes. Coordenador de políticas sociais do Instituto Teotônio Vilela, ligado ao PSDB, o deputado Eduardo Barbosa (MG) ressalta a importância de se demonstrar que os avanços em boa parte dos setores teve início ainda na década de 1990: — o que a gente precisa desmistificar é a ideia de que o Brasil começou a partir do governo Lula. Isso é mentira. Os números mostram uma consequência de resultados que começaram lá atrás e que possibilitaram um planejamento de políticas públicas universais, na Educação e na Saúde, que trouxeram impacto na vida das pessoas.

Na avaliação do tucano, embora os indicadores de desigualdade tenham caído nos últimos anos, é preciso se criar urna nova visão sobre o que é a pobreza. E destaca a importância dos serviços básicos de saneamento e abastecimento de água, que evoluíram na gestão tucana, para melhorar as condições de vida dos mais pobres: — Temos de ampliar o conceito de pobreza. Não podemos dar uma falsa impressão para a sociedade e para a população que precisa da política de transferência de renda. A situação de pobreza não pode estar centrada no foco de renda per capita. Esse conceito depende de políticas estruturantes como saneamento.

Estabilização da moeda

Assim como Pochmann, no entanto, Barbosa considera que os avanços obtidos nos governos do PT em relação à redução do desemprego não podem ser creditados apenas aos méritos do ex- presidente Lula, mas sim à estabilização da moeda no governo Fernando Henrique: — A questão da estabilidade econômica possibilitou a empregabilidade com ascendência. É consequência, ninguém gera emprego da noite para o dia. Os dados mostram que não foram muitas vezes os investimentos públicos que geraram esse emprego.

Fonte: O Globo

Ao comentar Datafolha, Aécio diz que PSDB é ‘principal alternativa no campo da oposição’

Senador diz que o governo ‘é quem deve estar preocupado’

SÃO PAULO - O senador Aécio Neves (PSDB), ao comentar a pesquisa Datafolha divulgada neste sábado pelo jornal Folha de S.Paulo, disse, em nota, que os números “são extremamente positivos para o PSDB” e que o partido é a “principal alternativa no campo da oposição”. O levantamento apontou Aécio como um dos possíveis candidatos com o menor índice de rejeição, com 24%, atrás apenas de Marina Silva, que tem rejeição de 17% dos eleitores.

“O governo é quem deve estar preocupado. Apesar da alta e permanente exposição da presidente nos veículos de comunicação, e sendo uma candidata que tem o conhecimento de 100% dos eleitores, foram as candidaturas alternativas ao governo que proporcionalmente mais cresceram", afirma o tucano no texto.

Na avaliação do deputado federal Carlos Sampaio, líder dos tucanos na Câmara, a pesquisa mostrou que o potencial de crescimento de Aécio é muito grande.

- O levantamento mostrou que o potencial de crescimento da candidatura de Aécio Neves é muito grande. É a segunda menor rejeição entre todos os possíveis candidatos, o que sinaliza grande capacidade de crescer. A candidatura Aécio mostra uma decisão acertada do comando do PSDB e que tudo está acontecendo a seu tempo - disse o deputado.

Para o líder, o levantamento do Datafolha também revelou que o PSDB se consolidou como o principal partido de oposição ao governo do PT.

- Mesmo depois de uma semana de exposição intensa do governador Eduardo Campos e da ex-senadora Marina Silva na mídia, o Aécio apareceu bem colocado em todos os cenários, o que mostra que o PSDB está consolidado como principal partido de oposição ao governo de Dilma Roussef. Marina e Campos estão mais identificados com o PT, já que o PSB apoiava o atual governo e Marina foi ministra de Lula - disse o deputado.

O fato de o ex-governador José Serra ter aparecido com a maior taxa de rejeição na pesquisa é atribuído, segundo o deputado, ao fato do tucano ser conhecido de 100% do eleitorado.

- É até natural essa rejeição, já que 100% dos eleitores o conhecem. A rejeição pode ser uma consequência de atitudes, como a de 2006, quando Serra deixou a prefeitura de São Paulo para concorrer ao governo. Mas no atual cenário, o PSDB trabalha com a candidatura Aécio - diz o deputado.

A pesquisa Datafolha mostrou que numa eventual disputa com Aécio Neves e Eduardo Campos, Dilma seria reeleita já no primeiro turno, com 42% das intenções de voto, enquanto o candidato tucano ficaria com 21% e Campos teria 15%.

Fonte: O Globo

PSB e Rede comemoram 'dois dígitos' de Campos no Datafolha

Aécio diz que PSDB é principal alternativa da oposição

Daiene Cardoso, Laís Alegretti, Tânia Monteiro e Pedro Venceslau

Dirigentes do PSB do governador Eduardo Campos e da Rede da ex-ministra Marina Silva comemoravam o “crescimento significativo” do governador pernambucano na pesquisa Datafolha, divulgada neste sábado A presidente Dilma Rousseff seria reeleita no primeiro turno, hoje, se concorresse com Eduardo Campos e Aécio Neves (PSDB).

Após uma semana de intensa exposição por conta da aliança com Marina, Campos alcançou 15% das intenções de votos num cenário em que disputa com Dilma Rousseff (42%) e Aécio Neves (21%). Na sondagem anterior, de agosto, o pernambucano atingia de 8% a 5%, dependendo do cenário.

Para o PSB, Campos se mostra o mais viável para disputar um segundo turno com Dilma. “O Eduardo passou a ser uma via possível”, comemorou o presidente do PSB paulista, deputado Márcio França. “Achávamos que, com muita sorte, chegaríamos a dois dígitos só no final do ano.” O líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), destacou no Twitter que Campos dobrou o índice de intenção de votos sendo conhecido por só 25% do eleitorado. Segundo a pesquisa, 8% dos entrevistados conhecem “muito bem” o governador e 17% o conhecem “um pouco”. “É um crescimento que não pode ser contido e isso vai irritar ainda mais os adversários”, afirmou o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral.

Mais competitiva. A pesquisa revela, porém, que Marina ainda é bem mais competitiva. Ela alcança 29% num cenário em que disputa com Aécio (17%) e Dilma (39%). Internamente, há aliados que acreditam na inversão do jogo e veem Marina a candidata do PSB.

O deputado Walter Feldman (PSB), dirigente da Rede, classificou como “extraordinário” o crescimento de Campos e nega a existência de pressão para Marina ser a cabeça de chapa. “Os dados são todos favoráveis à nossa aliança”, afirmou. “A pesquisa foi muito positiva para Campos e Marina, neutra para Dilma e preocupante para o PSDB”, afirmou o deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ).

No Planalto, assessores da presidente minimizaram o crescimento de Campos. Um deles disse ao Estado que a aliança com Marina produziu “muita marola” e pouco resultado. "As pesquisas, neste momento, quando ainda não existem candidaturas definidas, devem ser sempre vistas com serenidade. Mas os números divulgados pelo Datafolha são extremamente positivos para o PSDB, porque confirmam que somos a principal alternativa no campo da oposição", afirmou o presidente nacional do partido e provável candidato, senador Aécio Neves (MG). "O governo é quem deve estar preocupado. Apesar da alta e permanente exposição da presidente nos veículos de comunicação, e sendo uma candidata que tem o conhecimento de 100% dos eleitores, foram as candidaturas alternativas ao governo que, proporcionalmente, mais cresceram", acrescentou.

O presidente do PSDB mineiro, deputado federal Marcus Pestana, disse no Twitter que os números são “excelentes” para Aécio e Campos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Rede já mapeia ação ambiental de Dilma

Assessores de Marina Silva mapeiam pontos vulneráveis do governo Dilma Rousseff na área ambiental. Marina deve entrar no palco das eleições presidenciais afirmando que, em vez de avanços, o que se viu foi retrocesso

Debate ambiental ressurge: Marina cita retrocesso e PT vê Campos como vidraça

O debate da sustentabilidade, eixo da campanha de Marina Silva em 2010 está de volta ao centro da cena. Assessores da ex-ministra do Meio Ambiente já estão mapeando os pontos mais vulneráveis da administração Dílma Rousseff na área de preservação ambiental. Marina deve adentrar o palco das eleições presidenciais - por ora ao lado do governador Eduardo Campos (PSB) - afirmando que, em vez de avanços, o que se viu no atual governo foi um enorme retrocesso. Do outro lado, no ensaio para o contra-ataque, governo e PT praticamente já definiu o alvo de suas baterias: o parceiro pernambucano da ex-ministra.

O objetivo é mostrar que a maioria dos aliados de Marina no PSB, sobretudo Campos, que preside o partido, está a anos-luz de serem bons exemplos na defesa do meio ambiente. Da bancada de parlamentares do PSB ao presidente do partido, não vão faltar críticas.

O caso do Código Florestal, que define limites para o uso da propriedade rural, é um bom indicador do que vem por aí. O grupo de Marina, tradicionalmente alinhado com ONGs ambientalistas, considera que sua aprovação, em 2012, foi um retrocesso;e atribuem a responsabilidade ao PT e ao governo.

"Ela deixou a questão correr solta no Congresso, favorecendo os setores ultraconservadores", diz o biólogo e ambientalista João Paulo Capobianco, um dos assessores mais próximos de Marina. "Nunca se viu antes uma ligação tão íntima entre governo e conservadores do Congresso. Estamos assistindo a um retrocesso absoluto na questão ambiental.".


Em Brasília, Luiz Antonio Carvalho, assessor especial do gabinete; da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, tem outro enfoque para a questão. "Entre os que defendiam as posições mais conservadoras e extremistas no debate do Código, que não reconheciam sequer direitos inscritos na Constituição, encontram-se parlamentares que hoje estão no PSB ou apoiam a candidatura de Eduardo"Campos", diz ele. Na lista de nomes que o assessor da ministra lembra de imediato aparecem o de Paulo Bornhausen, que liderava o DEM na Câmara na época do debate e hoje comanda o diretório estadual do PSB em Santa Catarina; e Heráclito Fortes, outro que trocou o DEM pelo PSB. Ele também cita nomes de integrantes da bancada ruralista que manifestam simpatia pela candidatura do governador pernambucano, como Abelardo Lupion (DEM-PR) e Ronaldo Caiado (DEM-GO).

As ações de Campos não vão escapar de rigorosa análise. "O PIB pernambucano cresceu no padrão chinês. Resta saber qual foi o padrão para a questão ambiental", diz Carvalho.

Pancada - As impressões do ambientalista e deputado licenciado Carlos Mine (PT-RJ), que sucedeu à ex-ministra na pasta do Meio Ambiente no governo Lula e hoje é secretário estadual no Rio, não são nada favoráveis a Campos. Ele conta que, em abril de 2008, logo após ocupar a cadeira de ministro, constatou que ò Estado que mais desmatava o remanescente da mata atlântica era Pernambuco.

"Os usineiros estavam plantando nas encostas e no leito de pequenos rios, literalmente", diz.

Ruralistas - A questão da aliança entre governo e setores ruralistas conservadores tende a ser onipresente. Na avaliação de assessores de Marina, a excessiva proximidade entre Dilma e a bancada ruralista no Congresso é que estaria por trás do fato de não ter sido criada nenhuma ; área de conservação ambiental desde 2011. Também seria a causa de terras indígenas e quilombolas não terem sido ampliadas de maneira significativa.

Não por acaso, o primeiro sacrificado na coalizão PSB-Rede foi o deputado Caiado, histórico ruralista e líder da bancada do DEM na Câmara. Na semana passada, após ouvir a ex-ministra insinuar que não haveria espaço para os dois no mesmo barco da eleição, ele a acusou de "intolerante" e retirou o apoio que vinha dando a Campos.

Curiosamente, umas das vozes mais firmes que têm se levantado em defesa de Dílma é a da senadora Kátía Abreu (TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CMA), recém-filiada ao PMDB. "Se conhecesse saberia que o Código Florestal trouxe segurança ao campo. Não é mais como na época em que ela era ministra e produzia decretos 24 horas por dia."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dez anos de distribuição da Bolsa PT

Um dos programas mais badalados das gestões petistas completa 10 anos este mês. O Bolsa Família já não rende os mesmos dividendos políticos da época de Lula, mas especialistas concluem que o programa deve ser mantido

Carro-chefe petista

Com 50 milhões de pessoas beneficiadas, o Bolsa Família completa 10 anos este mês. Políticos e especialistas avaliam, no entanto, que a influência eleitoral será menor em 2014 do que nas disputas presidenciais de 2006 e 2010

Paulo de Tarso Lyra, Renata Mariz e Étore Medeiros

“O Bolsa Família é uma coisa muito boa. Esse dinheirinho serve para as despesas da casa, para comprar uma roupinha para a criança, um leite, uma verdura. É pouquinho, mas já remedia, é melhor do que nada”, comenta Helena Rosa Nascimento, de 58 anos. Há 21 anos, ela e o marido, o pedreiro Cândido Ribeiro Antunes, de 69 anos, migraram de Teresina para o Jardim Céu Azul, bairro de Valparaíso (GO), onde moram com a filha e a neta. O pedreiro diz que nunca viu político falar a verdade, a não ser por uma exceção. “O único que vi falar algo e ajudar o povo foi o Lula. Ele deu ao menos o trabalho.” O reconhecimento ao ex-presidente é feito pelas urnas. “Voto nele há muito tempo, se ele for candidato, voto nele de novo.” Com a neta Rianna Paula nos braços, dona Helena brinca com a bebê, falando em um tom infantil: “Eu quero é que a Dilma ganhe, não quero que ela saia”.

Distante 31km da família de Helena e Cândido, a cabeleireira Ivone Bastos, 30 anos, trabalha três vezes por semana no salão de uma prima. Mudou-se há um mês com a família para o condomínio Porto Rico, em Santa Maria, onde mora em uma casa de dois cômodos, emprestada por um primo de William Alves, o marido de Ivone. Ela diz que não sabe quem paga os R$ 134 que recebe todos os meses, mas responde, em tom de dúvida, sobre quem criou o Bolsa Família: “O Lula?”. Ivone não ajudou a eleger Dilma Rousseff. “Não gosto dela, quando ela entrou, fez foi piorar. Votei no César. É César? Serra!”, relata. Quanto às eleições de 2014, ela confessa não saber quem são os candidatos. “Não faz diferença para mim.”

As opiniões de Helena/Cândido e Ivone/William retratam o peso eleitoral do Bolsa Família, principal programa de transferência de renda do governo federal, que beneficia 50 milhões de pessoas e 13 milhões de famílias. A uma semana de completar 10 anos da edição da medida provisória que instituiu a ajuda social, o Correio ouviu especialistas, políticos e beneficiários para avaliar os ganhos, os erros e a força nas urnas. A conclusão é clara: o Bolsa Família não pode e não será extinto, mas a influência dele nos votos dados ao PT não será tão grande como foi em 2006 e 2010.

A análise baseia-se também em números levantados pelo Correio (leia ao lado), especialmente no Nordeste, principal região beneficiada pelo programa federal. Na Paraíba, por exemplo, entre 2006 e 2010, a proporção de famílias que recebem o valor mensal subiu de 36,2% para 39%, mas a votação no PT caiu de 65,3% para 53,2%. Em Pernambuco, apesar do expressivo aumento de famílias contempladas (33% para 50%), o número de votos que Dilma recebeu em 2010 foi de 61,7%, ante os 70% de Lula quatro anos antes.
A mesma realidade tende a se repetir nos estados mais ricos da Federação. O Rio de Janeiro, por exemplo, ampliou de 8% para 12% o número de beneficiados pelo programa. Mas o PT, que teve 49,1% dos votos com Lula, recebeu apenas 31,5% com Dilma. Em Minas Gerais, os dois lados da balança diminuíram. Em 2006, 20% das famílias recebiam o Bolsa Família, enquanto em 2010 eram 17%. Já os votos no PT caíram de 50% para 46,9%, respectivamente.

Resultados
Para o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Denílson Bandeira Coelho, não há como negar que a criação do Bolsa Família mudou geograficamente o voto no PT e assegurou as vitórias de Lula e Dilma no Nordeste, região mais pobre do país. “Mas, hoje, o eleitor analisa outros programas do governo, como o Minha Casa, Minha Vida, o Seguro Defeso (voltado para pescadores carentes) ou o Plano Safra da Agricultura Familiar”, disse Denílson.

Isso não significa que, a longo prazo, o programa poderá ser extinto. “Quase 80% dos municípios brasileiros têm menos de 10 mil habitantes e são extremamente pobres. O dinheiro federal, incluindo o Bolsa Família, a aposentadoria urbana e a rural, são fundamentais para movimentar a economia local, estimular o associativismo e o empreeendedorismo”, citou.

O secretário-geral do PT, deputado Paulo Teixeira (SP), afirma que hoje o eleitor está em busca de outros direitos. “A população hoje quer educação, saúde, segurança e transporte urbano com mais qualidade”, enumerou. Já o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), reconhece que o Bolsa Família cumpriu seu papel, mas acabou estagnado apenas na questão da renda. “Ele tem um ponto de partida e um ponto de chegada, mas não tem pontos de saída. As próximas eleições cobrarão mais dos candidatos”, acredita Agripino.

Vice-presidente do PSB e um dos articuladores da pré-campanha de Eduardo Campos ao Planalto em 2014, Roberto Amaral avalia que a influência do Bolsa Família no voto do eleitorado é algo que ainda não pode ser desconsiderado. “Temos muitos municípios cuja economia se apoia apenas no programa. Pode ser que no passado a influência fosse maior. Mas desprezar esse componente político na hora da eleição é um erro”, analisou Amaral.

Das primeiras iniciativas até o programa atual
Muita gente reinvindica a paternidade da ideia do Bolsa Família. Entenda como tudo começou:

Apesar de as primeiras discussões sobre transferência de renda terem começado ainda na década de 1970, só em 1991, um projeto de lei com a ideia foi apresentado pelo então senador da oposição, Eduardo Suplicy, primeiro representante do PT eleito para o Senado. Previa complementação de renda para maiores de 25 anos que ganhasem menos de 2,5 salários mínimos. Com apoio de todos os partidos, a proposta seguiu para a Câmara, onde nunca foi votada.

Surgem os primeiros programas de transferência de renda condicionada no Brasil, implementados pelas administrações petistas do DF e de Ribeirão Preto (SP), e pelo PSDB em Campinas (SP), no ano de 1995. Exigia a escolarização das crianças das famílias beneficiárias. O formato serviu de inspiração para projetos futuros, além de conquistar o apoio amplo tanto de políticos quanto da academia.

Em 1997, projeto de lei do deputado Nelson Marchezan, do PSDB-SP, partido do então presidente Fernando Henrique Cardoso, transformou-se no Programa de Garantia de Renda Mínima Vinculada à Educação (PGRM). Concedia apoio financeiro a programas de renda mínima associados à educação em municípios mais pobres, dos quais era exigida contrapartida de 50%. Poucas prefeituras aderiram.

Recursos obtidos pelo Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, recentemente aprovado, possibilitaram, em 2001, a transformação do PGRM em Programa Nacional de Bolsa Escola (PNBE). Era destinado a famílias com crianças de 6 a 15 anos e renda per capital inferior a meio salário mínimo. Na sequência, veio o Bolsa Alimentação, para famílias com gestantes, nutrizes e crianças de até 6 anos. A condição era saúde preventiva, vacinação e pré-natal, além de outros benefícios menos abrangentes.

No início da gestão Lula, em 2003, foi criado o Programa Nacional de Acesso à Alimentação , que integrava o Fome Zero, carro-chefe do novo governo na área social. Mas era preciso corrigir a fragmentação dos programas da era FHC. Com os resultados pífios do Fome Zero, o governo criou, em outubro do mesmo ano, o Bolsa Família, que se expandiu rapidamente. Regras novas foram incorporadas ao longo do tempo, como as ditadas recentemente pelo programa Brasil Carinhoso, que se integra ao Bolsa Família.

Fonte: Correio Braziliense

Entrevista: Pimenta da Veiga: ‘Aécio pode sair de Minas com 4 milhões de votos’

De volta à política após quase 15 anos afastado, o ex-ministro,ex-deputado federal e ex-prefeito de Belo Horizonte Pimenta da Veiga (PSDB) assumiu a presidência do Instituto Teotônio Vilela em Minas com a missão de coordenar no Estado a campanha do presidenciável tucano Aécio Neves (MG) à Presidência.

• O senhor já se inteirou das questões políticas de Minas?

Nunca me distanciei das questões mineiras. Mesmo não atuando diretamente, tinha um grande volume de informações. Me dá muita alegria quando ando pela rua, agora que meu nome voltou à tona.

• O nome do senhor voltou à tona inclusive para disputar o governo, Tem essa disposição?

Minha tarefa fundamental é ajudar a organizar 0 Estado para um grande movimento político que está se iniciando e que, espero, tenha caráter nacional. É importante que comece em Minas, porque muitos dos principais movimentos políticos da história nacional começaram aqui. Estamos marcando reuniões regionais para politizar a vida do Estado de maneira que os mineiros compreendam as oportunidades que se abrem agora.

* O senhor se refere à provável candidatura do senador Aécio Neves à Presidência?

Sim. Porque há 60 anos houve um movimento igual em torno do Juscelíno Kubitschek e foi fundamental para a eleição dele. Ele se elegeu por causa de Minas. Precisamos repetir isso em tomo de Aécio. Se conseguirmos o que prego, podemos sair daqui com 4 milhões de votos. Isso fará a diferença.

* O senhor fala isso já dando como certa a candidatura de Aécio. E o ex-governador José Serra?

A data símbolo de 5 de outubro foi muito boa para nós por várias razões. Mas, sobretudo, porque pregavam que o PSDB perderia pedaços e que o ex-governador Serra deixaria o partido. Nada disso ocorreu. Estou certo de que Serra que é uma das melhores figuras do partido, estará inteiramente integrado nesse esforço que esta! mos começando em Minas.

* Como avalia a aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos?

Alguns analistas acreditam que o maior prejudicado foi Aécio. Talvez analistas tendenciosos. Quem ganhou foi a oposição. Como estou certo de que nos encontraremos no segundo tumo, porque Aécio estará no segundo turno, tenho que festejar este fato. As oposições se fortaleceram. A grande vítima foi a Dilma, que perdeu apoios de dois ex-ministros. Não por acaso o ex-presidente Lula não disse nada. Ele ficou perplexo. Não conseguiu digerir.

• Essa terceira via não indica a dificuldade de o PSDB se apresentar como alternativa?

Em todo lugar a eleição se dá entre situação e oposição. Quem não está nesses dois polos sugere a terceira via. Mas, por várias razões, mais uma vez essa eleição será entre o PT, que considero decadente, e o PSDB, que tem todas as condições de voltar à Presidência.

• As pesquisas mais recentes mostraram a Marina à frente de Aécio. É um problema?

A Marina não é candidata. E não é uma contagem aritmética. A tem tantos pontos, B tem tantos pontos, se unem e dará tantos pontos. Haverá certamente um movimento nas pesquisas em prejuízo da Dilma. Mas espero que (Marina e Campos) consigam reunir forças.

• E em relação à eleição em Minas? Porque O PSB já fala em candidatura própria?

O PSB tem todo direito de lançar candidatura e será respeitada por nós. Mas é preciso aguardar a evolução dos fatos.

• A presidente tem feito várias visitas a Minas. É uma resposta a esse movimento?

E uma tentativa de resposta. Só que ela perdeu três anos. Não vai recuperar em poucos meses tudo que deixou de fazer. O Planalto virou as costas para Minas, Não adianta agora vir com promessas mirabolantes. Não é a caneta do governo federal, que ficou sem tinta por tantos anos e agora vem generosa, que vai mudar. A Dilma está se debatendo para corrigir os erros que cometeu, mas não há mais tempo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

2014 é Eduardo contra Lula

Juntos desde 1979, a próxima eleição deverá ser o "divisor de águas" na relação político-pessoal do socialista e petista

Bruna Serra

Eufórico com o anúncio da filiação de Marina Silva ao PSB, o governador Eduardo Campos entrou no escritório da Link Propaganda, em Brasília, na noite do sábado (5), sem saber como a notícia seria recebida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Falou aos presentes - que já começavam a redesenhar o programa do PSB que foi ao ar na quinta-feira (10), já com imagens do evento - do seu respeito pelo ex-presidente. Destacou a todos os publicitários envolvidos na pré-campanha socialista que jamais, durante a eleição, entrará em confronto com Lula. Mesmo que seja provocado.

Lula e Eduardo se conheceram em 1979, no comício que marcou o retorno do ex-governador Miguel Arraes do exílio na Argélia. Eduardo tinha 14 anos. Poucas relações de carinho tiveram tantas demonstrações públicas. Mesmo assim, os dois estão diante de uma crise na relação. O líder petista e o presidenciável do PSB devem protagonizar uma guerra de forças na eleição de 2014. Lula, em defesa da reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), e Eduardo, com o discurso de renovação, das "novas" práticas políticas, da nova República.

Desde o anúncio da chegada de Marina - que tem clara postura de oposição ao governo petista -, Campos subiu o tom. Classificou as alianças do governo como "mofadas", tratou o presidencialismo de coalizão como uma forma de "fatiar o Estado" e deu mais um passo no distanciamento do líder que um dia já lhe chamou de "achado de Deus", em cerimônia no Estado.

A boa relação entre Lula e o afilhado político - como era chamado o governador durante o primeiro governo do petista, quando firmou-se como um dos principais conselheiros do ex-presidente - começou no Ministério da Ciência e Tecnologia, que Eduardo assumiu na primeira gestão Lula (2003-2006).

Em meio a maior crise política do governo, o mensalão, Eduardo Campos licenciou-se do ministério para retornar à Câmara Federal, num gesto de desprendimento, disposto a fazer a defesa pública do então presidente, que desabava nas pesquisas. Em 2005, Eduardo chegou a pensar em desistir de disputar o governo de Pernambuco por um pedido do ex-presidente. Terminou eleito no segundo turno com apoio de Lula, que forçou o PT a passar pelo constrangimento de dividir o palanque estadual no primeiro turno. Em 2006, Humberto Costa (PT) era um dos candidatos mais bem posicionados na corrida sucessória.

Em 2010, Eduardo foi o responsável pela articulação que culminou com a retirada do nome do ex-ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que pretendia disputar a Presidência pelo PSB. Outra vez, a pedido de Lula. Mas a relação de desgaste com a administração Dilma terminou por dar início a um afastamento. O ápice foi a decisão do governador em lançar Geraldo Julio a candidato a prefeito do Recife, ano passado, contra o palanque de um PT dividido na capital. Especulações davam conta de que Lula teria ficado chateado e a relação entrou em "banho-maria".

Ainda assim, o ex-presidente não esteve no Recife para reforçar o palanque do PT, evitando enfrentamento direto com Eduardo. De lado a lado, as concessões e pressões foram muitas, mas nunca suficientes para uma separação.

Um dos maiores entusiastas da candidatura presidencial de Eduardo Campos, o deputado federal Márcio França (PSB-SP), minimizou os tensionamentos entre os aliados e afirmou não acreditar que o ex-presidente esteja chateado ou disposto a fazer uma campanha dura contra Eduardo.

"Lula é um craque. Ele não vai deixar essa campanha abalar a relação deles. Eduardo não quer isso. Nossa candidatura é legítima e, ao final, quando Eduardo estiver eleito, Lula vai estar mais protegido com ele do que com a Dilma", pontuou o parlamentar.

França disse ainda que ambos são suficientemente maduros para entender que a política se faz com debates. "No final de tudo isso, vocês da imprensa vão achar que foi o Lula que bolou tudo", disse, gargalhando, o deputado. Procurado pelo JC, o vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, esquivou-se de comentar o distanciamento entre Lula e Campos. "Eles têm uma relação muito pessoal, não me sinto à vontade para opinar sobre", despistou.

Para o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Joviniano Neto, a aliança entre PT e PSB chegou a um esgotamento esperado, uma vez que, o Partido dos Trabalhadores prefere trabalhar com a manutenção da sua hegemonia no arco de forças que sustentou suas administrações até aqui. "A aliança do Eduardo com o Lula foi boa enquanto durou. É importante destacar, neste caso, que aliança não é identidade e não implica em subordinação. Mas mesmo diante dessa postulação de Eduardo, acho que a relação dele com o Lula tentará ser preservada por ambos. Eduardo pensando na sua eleição e governabilidade. Lula querendo manter o diálogo em caso de segundo turno e até na reeleição da presidente Dilma Rousseff tentar trazer o PSB de volta à base", pondera.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Embate, agora, será por atrair aliados

Passado o impacto da aliança PSB-Rede, presidenciáveis começam a caça às legendas. PDT e PCdoB estão na mira. PT inicia esta semana ofensiva contra socialistas

Passado o primeiro impacto da aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva, os presidenciáveis começaram uma verdadeira caçada aos aliados. No Partido dos Trabalhadores, o clima é de indignação com a postura do governador de Pernambuco. Por orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os petistas começam esta semana uma ofensiva para isolar o PSB, comprometendo parcerias importantes para os socialistas, a exemplo das reeleições dos governadores do Espírito Santo, Renato Casa Grande, e do Amapá, Camilo Capiberibe, ambos integrantes do partido de Eduardo.

Por isso, os petistas começaram um trabalho intenso de bastidor para evitar que dois partidos da base da presidente Dilma Rousseff (PT) possam debandar: o PDT e o PCdoB. Essas são as legendas que estão na mira do presidenciável do PSB.

O PDT porque vem externando sua insatisfação com o tratamento que recebe no governo, e o PCdoB - apesar de se apresentar como um aliado fiel do PT desde 1989 - tem parcerias firmadas com o PSB em vários Estados, como é o caso de Pernambuco.

Professor da Universidade de Brasília (UNB), Octaciano Nogueira pondera que o panorama de alianças não deve se alterar até dezembro. "Depois do impacto do anúncio da adesão de Marina, a hora é de esperar. Eduardo vai cortejar diversos partidos, conversar com muita gente, mas ninguém vai anunciar uma adesão tão cedo antes de surgirem pesquisas que apontem um caminho", pondera.

Pelo lado petista, destaca Nogueira, a reforma ministerial deve contemplar aliados, acalmando a base. "Quando começar a reorganização de cargos nos ministérios, os partidos vão se sentir mais à vontade para barganhar, já que Campos surge como alternativa. Se forem contemplados, dificilmente deixarão o governo. Infelizmente, é assim que funciona", destaca.

Defendendo a tese de que o PDT está mais propenso a deixar o governo, o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Joviniano Neto ressalta a parceria do PCdoB com o PT. "O PDT já está até com negociações em curso. Mas se o Campos arrancar o PCdoB do governo será um reforço substancial à candidatura dele. Realmente, muda o cenário", argumenta. "Seria um golpe no PT pela representatividade que o PCdoB tem. Aliado desde sempre, com um histórico de parcerias e defesas da gestão petista", esclarece.

Legado petista

Os professores são unânimes em lembrar que a batalha pelo legado petista definirá a força da candidatura de Eduardo Campos. "O PT tem um histórico de reforçar seus legados nas campanhas, especialmente na questão social. Ora, dois ex-ministros terão força para convencer os demais partidos que também podem fazer a defesa dessas conquistas como suas, o que quebra a hegemonia à qual o PT está habituado", destaca Joviniano Neto. (B.S.)

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

A esquerda que falta - Luiz Sérgio Henriques

Mais de um autor clássico de estudos sobre partidos, sua afirmação como instrumento da política de massas, seus limites e mesmo processos de involução oligárquica, chamou a atenção para o papel representado pela social-democracia alemã e os partidos de esquerda que a tiveram por décadas como referência indiscutível Nem é preciso voltar a Robert Michels e sua lei de ferro da oligarquização do partido operário. Um autor mais próximo, o italiano Umberto Cerroni, nos legou um livro pequeno e útil sobre a Teoria do Partido Político (Livraria e Editora Ciências Humanas, 1981), escrito no tempo em que alguns julgavam possível ou oportuno renovar o repertório dos velhos PCs a partir daquilo que sé convencionou chamar, num certo momento, de eurocomunismo.

Curioso o fato de que Cerroni, sem nem de longe se referir a acontecimentos brasileiros, que lhe eram desconhecidos, ritmava genericamente o processo de criação de um partido de esquerda em três sequências mais ou menos inevitáveis de um mesmo roteiro. Em primeiro lugar, uma pré-história social,uma fase propriamente pré-política, marcada por embates sociais e econômicos. Logo em seguida, a abertura da nova agremiação para a política, ainda que arrastando o peso de limitações corporativas ou, no jargão da tribo marxista, "economicistas". E, por fim, a plena assimilação de uma função "estatal", como capacidade de dirigir estrategicamente a sociedade e o Estado, liberando-o, na boa hipótese, do elitismo liberal avesso à incorporação das massas.

O autor não sabia, mas naquela altura começava sua trajetória no cenário brasileiro um partido que, já no nome, trazia o i que ele caracterizava como "persistente economicismo". De fato, um certo "partido dos trabalhadores" portava não só a afirmação orgulhosa de setores novíssimos da economia e da sociedade - nucleados em tomo do operariado do ABC paulista e de parte significativa da intelligentsia, profundamente redefinida pela modernização conservadora pós-1964 mas também, com a "Vaidade de partido", alguma dose de desprezo pela mediação político-institucional, campo no qual então se tecia a frente política que iria derrotar o regime autoritário.

Esse alheamento da mediação institucional, se bem que não estivesse fadado a impedir a contínua e regular expansão do novo partido, conformaria, sem dúvida, uma cultura política específica, um modo de conceber a competição democrática, um modo de se comportar nos momentos históricos cruciais. Valha como exemplo definidor o comportamento assumido por ocasião da aprovação da mais avançada das Constituições brasileiras, há apenas 25 anos. Mesmo assinando o pacto constitucional, o Partido dos Trabalhadores votou contra seu conteúdo, apresentando um texto alternativo que só agora, nas palavras do seu dirigente máximo, vem reconhecido como provável fator de ingovemabilidade, se adotado, e expressão de um radicalismo de facção.

A autocrítica aparece tardia, tímida e pouco articulada, especialmente da parte de quem esteve à frente do Estado brasileiro por dois mandatos e ainda detém considerável poder e influência nas coisas da República - mais até do que seria de esperar numa democracia madura, que tivesse a escorá-la, à esquerda, uma força ou forças com sentido alto de Estado, e não de ocupação ou partidarização das suas instâncias decisivas como recurso de poder para a cooptação quase generalizada de atores políticos e sociais frequentemente antagônicos.

Trata-se, dissemos, de uma cultura, de um modo de ser na sociedade e nas instituições não isento de riscos para a livre dialética democrática. Quase : não há setor da sociedade a salvo dos procedimentos de cooptação: no Parlamento, partidos de criação recente, nascidos, longe do roteiro cerroniano, como meros empreendimentos para esvaziar as agremiações oposicionistas, são assediados com a perspectiva de um poder que parece avesso à perspectiva normal da alternância democrática. Na vida econômica, à falta de um horizonte que se possa minimamente chamar de socialista, no sentido de modelo alternativo viável, o risco é a afirmação de um capitalismo mercantil, tão perigoso quanto o seu oposto liberal para o estabelecimento de uma relação equilibrada entre mercado e economia, bem como para a possibilidade de regulação democrática da própria economia.

Essa surpreendente capacidade de fagocitose se equilibra - de modo eleitoralmente rendoso, mas substantivamente falso - com a seleção "sábia" do inimigo a ser abatido, seja de que maneira for. Um cenário no qual o "neoliberalismo tucano" faz as vezes de cômodo alvo retórico contra 0 qual se movimenta o sistema de poder do partido hegemônico, com seu séquito de empreiteiras, bancos e o grande negócio agrário, para não falar de todo o leque mais expressivo da velha e atrasada direita política nacional.

Tanto quanto a vista descortina, não seria mesmo possível ir além de variados tipos de compromisso entre as forças de mercado e as razões civilizadoras e emancipadoras da democracia política Não se poderia cobrar da esquerda hegemônica e muito menos dos setores da esquerda democrática que suprimissem o mercado ou o sistema de empresas, num surto estado-cêntrico que, no passado, se revelou insuficiente e até nocivo à ideia de uma sociedade tendencialmente autorregulada.

Poder-se-ia, no entanto, esperar, depois de um quarto de século de vida constitucional, a presença iluminadora de uma esquerda de governo que compreendesse plenamente a sociedade aberta, o Estado Democrático de Direito e a defesa esclarecida da supremacia da esfera pública nesse tipo de Estado. Seria, na verdade, o terceiro passo da construção proposta por Cerroni, um passo que, entre nós, apesar das aparências, ainda não foi dado.

Tradutor e ensaísta. É um dos organizadores das "obras" de Gramsci no Brasil e vice-presidente da Fundação Astrojildo Pereira (FAP).

Fonte: O Estado de S. Paulo

Uma alternativa para o Brasil - Eduardo Campos

Dois movimentos políticos que agiam na defensiva notaram que sua aliança transformaria a estratégia em possibilidade de ofensiva

O olhar atento à história recente do Brasil leva à conclusão de que os ciclos políticos coincidem com a ascensão, envelhecimento e substituição dos partidos no poder. A ausência de renovação impõe uma dinâmica de obsolescência das legendas.

Nos anos 1980, o MDB/PMDB foi vetor principal da redemocratização. Uma década depois, o PSDB cumpriu a tarefa de matar a hiperinflação e construir os alicerces da estabilidade econômica. No período seguinte, o PT, apoiado nos pilares da democracia e da estabilidade, pôde comandar um ciclo de inclusão.

Todas essas forças operaram apoiadas nas conquistas das etapas que as precederam, ainda que muitas vezes as tentações da política peçam a negação retórica do passado. Mas essa negação não resiste à análise. Sem 1985 não haveria 1994, e sem 1994 não haveria 2002.

Sem democracia, não haveria como o país superar um impeachment; sem estabilidade, não seria possível distribuir renda.

Toda força política momentaneamente hegemônica sofre a tentação de enxergar-se como o ponto final do bonde da história. Mas é ilusão. Hoje, por exemplo, assistimos ao enorme desejo de que se abra um novo ciclo na política brasileira.

É disso que tratarão as eleições do próximo ano. Como superar a velha política para que o poder possa ser mobilizado na construção do novo, na pavimentação dos caminhos necessários e possíveis para alcançar outro patamar --eis a questão.

Precisamos remover o velho arranjo político, ou nenhuma agenda inovadora será viável.

Cada um por sua própria estrada, o Partido Socialista Brasileiro e a Rede Sustentabilidade vinham tateando em busca do novo.

O PSB, que governa seis Estados e mais de 400 cidades, estava empenhado em construir gestões democráticas, inovadoras e sérias, lutando para valorizar a função primeira do Estado: servir à sociedade. A Rede, procurando compreender e reunir a imensa energia represada nas aspirações dos jovens, nas preocupações com o bem-estar das gerações futuras, na busca obsessiva por uma economia renovada e mais democrática.

Certamente teriam convergido num eventual segundo turno, se as circunstâncias perversas da política brasileira não tivessem antecipado esse desfecho. Quando alguns imaginaram que poderiam represar completamente o rio da história, foram surpreendidos pela água que jorrou das frestas do dique, até derrubá-lo.

Eis por que a convergência entre o PSB e a Rede Sustentabilidade aconteceu com tamanha e surpreendente naturalidade. Porque já eram dois vetores de uma única inquietação: romper com estruturas fossilizadas para abrir caminho ao futuro.

O desenvolvimento sustentável é a releitura contemporânea mais próxima do socialismo democrático.

Dois movimentos políticos que agiam taticamente na defensiva, lutando para sobreviver em terreno desfavorável, notaram que sua aliança transformaria a estratégia em possibilidade de ofensiva.

O Brasil, infelizmente, acostumou-se a debater eleições como se se resumissem a pesquisas, tempo de rádio e TV e palanques estaduais. Mas a política é muito mais do que isso. Sua beleza está em trazer para si o debate programático do futuro, sobre como romper as amarras da inércia, e avançar.

Pretendemos contribuir para que o processo eleitoral supere a tentação da mediocridade, para que os eleitores sejam contemplados com uma opção consistente, transparente e sincera, que lance luz sobre deficiências e aponte caminhos para atender as exigências da sociedade.

Como dissemos ao selar nossa aliança, a luta da sociedade brasileira tem alcançado importantes conquistas: a redemocratização, a estabilidade econômica, a redução das desigualdades sociais. A única forma de aprofundá-las é avançar. Por isso, unimos forças para apresentar ao Brasil uma alternativa.

Eduardo Henrique Accioly Campos, 48, economista, é governador de Pernambuco desde 2007 e presidente nacional do PSB desde 2006

Fonte: Folha de S. Paulo

Sem alterações - Merval Pereira

A primeira pesquisa de opinião depois do anúncio da união entre a ex-senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, divulgada ontem pelo Datafolha, tem boas notícias para a presidente Dilma, que continua amplamente favorita, e, além de boas notícias para Marina, também, que confirma a posição de mais forte adversária à reeleição da presidente, podendo ir ao segundo turno nos dois cenários em que aparece como candidata. Além disso, ela é a candidata da oposição que dá mais dificuldades à presidente Dilma num eventual segundo turno, embora a presidente vença em todos os cenários.

A pesquisa mostra, porém, que Marina não transfere todos os seus votos para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Eles vão, igualmente, para a presidente Dilma e para o candidato oposicionista Aécio Neves, no único cenário em que Dilma é eleita no primeiro turno. Também o ex-governador de São Paulo José Serra ganha fôlego na tentativa de ser mais uma vez candidato a presidente pelo PSDB, pois aparece em segundo lugar num cenário em que o governador de Pernambuco é o candidato do PSB. Em confronto com Marina, tanto Serra quanto Aécio Neves, o provável candidato tucano, perdem.

O melhor cenário para Serra é o em que ele enfrenta Dilma e Campos, levando a eleição para o segundo turno, o que Aécio não consegue em nenhum dos cenários. O melhor cenário para a presidente Dilma é o atual, em que Eduardo Campos e Aécio Neves são os candidatos da oposição. Este é o único caso em que a presidente seria reeleita no primeiro turno. É o único cenário também em que o tucano Aécio Neves chega em segundo lugar o que não vale muito para o partido, pois não estaria no segundo turno pela primeira vez nos últimos anos.

Claro que muita coisa acontecerá ainda até junho, prazo final para as convenções partidárias escolherem seus candidatos, mas a notícia mais importante é a comprovação de que a ex-senadora Marina Silva continua sendo a principal candidata da oposição, mesmo depois da manobra política que fez. É sinal de que ela manteve seus apoiadores, mesmo aqueles que são contrários à união com o PSB ou, no limite, à sua inserção na política tradicional para disputa a Presidência. A união com Campos, no entanto, não teve muita utilidade para Marina, além de dar-lhe legenda para concorrer à Presidência da República, única razão visível, aliás, para que ela se filiasse ao PSB.

Quem tem menos a comemorar na pesquisa é o tucano Aécio Neves, mas na disputa interna com Serra ele tem bons argumentos para prever crescimento durante a campanha. Serra é o candidato mais rejeitado, e também o mais conhecido da oposição, Aécio só é mais conhecido que Campos: 78% dizem que o conhecem, mas apenas 17% o conhecem “muito bem’ Para se ter uma ideia de comparação, Serra é conhecido por 97% dos entrevistados, sendo que 40% dizem conhecê-lo “muito bem’ Em compensação, Aécio só é menos rejeitado do que Marina, que tem o menor índice de rejeição e é conhecida por 88% dos eleitores.

A única vantagem do governador de Pernambuco que surge desta pesquisa é que ele é o menos conhecido de todos os candidatos e, portanto, tem teoricamente mais possibilidade de crescer à medida que for conhecido nacionalmente. A situação do momento mostrada pela pesquisa tranquiliza a presidente Dilma, que manteve o favoritismo depois do primeiro grande lance político da campanha eleitoral antecipada, e confirma que a ex-senadora Marina Silva tem condições de confrontá-la se conseguir crescer durante a campanha eleitoral.

Para isso, poderá ter uma estrutura partidária razoável com o PSB, o que lhe daria mais musculatura do que em 2010, quando concorreu pelo Partido Verde e teve tão pouco tempo de TV quanto terá desta vez. O aumento do tempo de TV é diretamente ligado às parcerias que poderão ser feitas para a campanha eleitoral, mas as restrições que o Rede Sustentabilidade faz, como aos representantes do agronegócio, limitam as coligações, que seriam mais amplas se Eduardo Campos estivesse na disputa sozinho..

Fonte: O Globo

Salvaram-se todos - Denise Rothenburg

Os três pré-candidatos se consideram vitoriosos nessa atual fase do processo, até quem estava fora

Passada uma semana do movimento de Marina Silva em direção ao presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, as amostras do eleitorado servem para deixar todos os pré-candidatos felizes. O que é raro, em se tratando em pesquisas de intenção de voto. Sempre tem aquele que fica meio borocoxô quando se dá conta de que a situação lhe é desfavorável, ainda que estejamos a um ano da eleição. Desta vez, entretanto, foi diferente.

Das consultas feitas por telefone pelos partidos ao Datafolha divulgado ontem, as pesquisas indicam que todos ganharam, até quem era tido como carta fora do baralho. Todos consideram que tem o que comemorar no cenário do momento, com a presidente Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves e o governador Eduardo Campos no papel de concorrentes em 2014. A presidente-candidata ultrapassa a barreira dos 40%, o que os petistas consideram uma excelente performance, capaz de animar militantes e arrebanhar mais votos para lhes dar com segurança uma vitória no primeiro turno.

Os oposicionistas também não se consideram derrotados e veem o cenário como um grid de largada. Aécio rompe a marca dos 20% (tem 21%, oito pontos a mais), o que foi considerado positivo pelos tucanos. Eduardo passou aos dois dígitos, está com 15%, sete a mais, o que foi comemorado pelos socialistas.

O que vale de pesquisa nessa atual fase da corrida eleitoral é o potencial de mexer com a política. E dada as intenções de voto em favor de Marina Silva e de José Serra, tanto Eduardo quanto Aécio ainda viverão um período de pressões para que deixem de ser candidatos e apoiem aqueles que apresentam hoje uma performance melhor e, desde já, asseguram um segundo turno contra Dilma.

A mudança de candidato, no entanto, é improvável. Ainda mais nesse momento, em que os dois vivem momentos parecidos em relação ao eleitorado. Aécio hoje tem o controle do PSDB assim como Eduardo tem o leme do PSB. Ambos têm maioria nos respectivos diretórios para assegurar a candidatura. Ou seja, só deixam de ser candidatos se quiserem.

Para completar, tanto Eduardo quanto Aécio aparecem em terceiro contra Dilma, nos cenários em que um dos dois deixa de ser candidato e ambos são bem menos conhecidos do que os seus respectivos concorrentes internos, Marina e Serra. Os políticos ainda têm em conta que o único período de igualdade de condições para um candidato se tornar mais conhecido é a campanha em si. E nesse caso, dificilmente os candidatos e seus apoiadores estarão dispostos a perder essa oportunidade. Ainda mais agora, nessa conjuntura em que todos têm esperanças em relação ao futuro.

O PSB, por exemplo, se mostrava exultante ontem ao falar sobre o potencial de seu candidato. Seus integrantes dizem que, se no intervalo de uma semana Eduardo chegou aos dois dígitos e mais de 40% dos eleitores não sabem quem ele é, o maior trabalho dele agora é se tornar conhecido e assim ultrapassar Aécio.

Da parte do PSDB, Aécio é mais conhecido que Eduardo Campos e menos do que Serra. Ainda tem potencial para crescer, mas seus aliados passam a ter uma preocupação em não deixar Eduardo avançar tanto ao ponto de ultrapassar o tucano. Daí, a ideia de setores do PSDB de trabalhar a partir de agora no sentido de “vender” Eduardo como um subproduto do PT. Ocorre que essa posição é perigosa porque, se vingar, traz o risco de reaproximar PT e PSB. Parte do PSDB considera que Aécio não tem muita saída, a não ser jogar atirando Eduardo num lugar mais próximo aos petistas agora, mas não tão perto que permita a Lula resgatar o antigo aliado. Haja talento para empreender essa tarefa. Aliás, chegamos a fase em que todos terão que demonstrar talento político. E isso, os personagens da atual cena parecem ter de sobra. Até Dilma, que muitos consideram avessa a esse meio, tem algum talento e, onde falta, aparece Lula para compensar.

Enquanto isso, no QG petista…
A pesquisa Datafolha deixou ainda no PT a sensação de que os aliados, embora importantes, não têm tanto poder de influenciar o eleitor na hora de definir o voto em favor de um candidato a presidente. Afinal, a única eleitora forte que estava contra Dilma era Marina. E se os votos dela se distribuíram, é sinal de que, na hora de votar para presidente, ninguém manda no eleitor.

Essa avaliação, na opinião de muitos, pode ser um perigo, se acabar se disseminando no partido. Algo que tenha um efeito tão ruim quanto aquela entrevista em que o marqueteiro João Santana previu a vitória de Dilma no primeiro turno e chamou os protagonistas da oposição de anões.

Quem é do ramo da política costuma repetir todos os dias que não se ganha eleição de véspera. Por isso, todo o cuidado é pouco. Se o PT não tiver sabedoria e humildade para organizar os palanques estaduais e um dos atuais adversários se mostrar mais viável quando for mais conhecido, é bem capaz de os petistas terminarem surpreendidos, apesar de, no momento, todos ganharem. Mas a eleição esta tão longe que todo o cuidado é pouco. Um passo em falso e todo esse cenário de hoje pode se alterar. Não dá para esquecer que foram as impressões de Marina e de Eduardo sobre os movimentos do PT que acabaram aproximando os dois. Se essas impressões chegarem ao eleitor, talvez o futuro seja diferente. Afinal, não dá para deixar de ter em mente que, até aqui, salvaram-se todos e não tem nanico nessa disputa.

Fonte: Correio Braziliense

Tem jogo - Eliane Cantanhêde

A boa notícia para Dilma é óbvia e, portanto, era esperada: com uma candidatura a menos, justamente a da segunda colocada, a presidente seria reeleita em primeiro turno, caso a eleição fosse hoje.

Mas falta ainda um ano e a má notícia para Dilma e o PT é a resposta que o Datafolha captou para a pergunta que não quer calar desde a ida de Marina Silva para o PSB: ela leva ou não seus votos para Eduardo Campos?

Num primeiro olhar, o espólio de Marina é diluído quase que igualmente por Dilma, Campos e Aécio. Num olhar mais atento, entretanto, vê-se que ela transfere votos, sim, para o novo parceiro Campos.

Em eventual segundo turno, Dilma e Michel Temer teriam 46% contra 37% da chapa Campos-Marina. Não é uma situação confortável a um ano da eleição, até porque a dupla do governo é amplamente conhecida, enquanto 43% dos eleitores simplesmente não sabem quem é Campos. Logo, ele tem bom potencial de crescimento, agora empurrado por Marina.

Os novos aliados, porém, terão um aquecimento atribulado até o início oficial do jogo. No confronto nome a nome, Marina ainda é a principal opção oposicionista, enquanto Campos continua na lanterninha.

Campos precisa ter nervos de aço para suportar a pressão e a expressiva vantagem competitiva de Marina. E Marina precisa controlar, ou adiar, sua determinação em ser presidente da República.

Quanto a Aécio, discreto estava, discreto continua nas pesquisas. Com o agravante de que Dilma tem Lula, a caneta, a exposição e os palanques --até com taxistas de Brasília. E Campos tem Marina e atrai os holofotes como novidade e grande incógnita que é. E Aécio, a que veio? Só para conversar?

O mérito da pesquisa divulgada ontem, portanto, é confirmar que tem jogo. A eleição não está decidida. É difícil competir com o arsenal da gigante Dilma, mas os "anões" da oposição têm lá suas armas.

Fonte: Folha de S. Paulo

Jogo jogado - Dora Kramer

O discurso de que um ou outro pode ser o titular da chapa presidencial será mantido por Eduardo Campos e Marina Silva até dezembro, mas a ordem dos fatores está definida: o governador será o candidato a presidente e a ex-senadora fica na vice.

Foi nesses termos que ela o procurou na véspera do anúncio da aliança e é assim que concorrerão. Não que estejam mentindo quando dizem que a definição virá em 2014. Estão dando tempo ao tempo, esperando a virada do ano para, em janeiro, explicitar em público o combinado em particular.

Até lá, investem na preparação do tão falado "conteúdo programático" -a ser divulgado aos poucos também a partir de janeiro - e farão uma dobradinha em diversos atos políticos com a seguinte simbologia: Marina entra com o sonho e Campos entra com o trabalho braçal de viabilizar material e politicamente a empreitada.

Antes de prosseguir, uma informação importante: esqueçam que um dia Eduardo Campos disse que não seria candidato se o ex-presidente Lula da Silva entrasse na disputa, A declaração perdeu a validade, por dois motivos: primeiro, o jogo é considerado por ele jogado e, segundo, não acredita nem por um segundo que Lula será candidato no lugar de Dilma Rousseff.

A sorte, portanto, está lançada. E se dependesse de Marina e dos companheiros de Rede favoráveis à aliança, a composição teria sido assumida desde o início. Ela não nutre ilusões quanto às resistências que enfrentaria junto ao "establishment". Como a disposição dela é ganhar - se fosse só para marcar posição teria ficado de fora ou ido para o PPS neste aspecto foi pragmática.

Sendo assim, por que adiar a oficializaçâo da chapa* por que o suspense, por que deixar em aberto algo que já está fechado? Por razões táticas e estratégicas. Na conversa que tiveram em Brasília* o governador ponderou e a ex-senadora concordou que não seria bom entregar o jogo aos adversários logo na partida. "Quanto mais dúvidas tiverem, mais difícil fica a reação", disse ele.

Além disso, Marina Silva precisaria de tempo para "trabalhar" seus correligionários contrários à aliança e convencer seu eleitorado sobre o acerto da decisão. A indefinição oficial permite ainda que os dois deem prioridade à discussão programática que, do contrário, ficaria em segundo plano em relação às candidaturas.

" Pesou outro fator: se não assumir desde já a vice, a ex-senadora, como diz um aliado de Campos, permanece "viva no processo" e ajuda o governador a se tornar conhecido devido à geração de notícias decorrentes da aliança. Efeito que o PSB já espera ver nas próximas pesquisas por causa da exposição do governador nos meios de comunicação.

Por fim, a preservação do segredo -ainda que de polichinelo mantém em alta o interesse dos políticos e da imprensa sobre o que vai acontecer. "Se dizemos logo o que e como vai acontecer, a novidade envelhece", disse a Marina a voz da experiência " de Eduardo Campos, cujo quinto filho nasce em fevereiro batizado Miguel como o bisavô Arraes.

Relativa. O ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, diz que no Brasil "ninguém vota no vice". Tenta reduzir a importância da aliança Campos-Marina; é do jogo. Embora diga uma verdade, não rende homenagem a um movimento de seu partido, o PT. Quando Lula da Silva se aliou a José Alencar, em 2002, não buscava, eleitores na pessoa do empresário-senador. Queria vencer resistências e mandar um recado tranquilizador ao time "de cima”.

Plenária. José Serra é enigmático quanto à aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva.
Perguntado a respeito em seguida ao anúncio, respondeu: "A assembleia, sem dúvida, vai continuar em sessão".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Navios de Campos - Tereza Cruvinel

Queimando navios, Eduardo Campos tem mais a perder na aliança com Marina. Mas, num tempo de política sem riscos, isso o distingue de seus pares

Para a estética da política, em sua hora de “Geni”, é bonito e quase comovente o discurso da dupla Eduardo Campos/Marina Silva sobre os objetivos maiores de uma aliança em que os ganhos de cada um seriam secundários em favor de um projeto alternativo para o país (a ser elaborado) e de uma nova prática política (que estariam inaugurando). É cedo para saber em que essa aliança dará, mas, por ora, não são claros os ganhos, reais e potenciais, do governador, que se arrisca a perder não apenas a cabeça de chapa para Marina, caso as pesquisas continuem apontando maior potencial de votos para ela, depois de terem os dois anunciado que o candidato será escolhido em 2014.

O que eles estão protagonizando não é mera “oscilação de conjuntura”, como disse a presidente Dilma Rousseff, para nada dizer sobre esse acidente no percurso para a reeleição. Alianças entre dissidentes já derrotaram regimes e também já se revelaram inócuas. Há muito caminho pela frente, mas as contradições iniciais sugerem mais perdas para o governador do que para a ex-senadora que, fora da aliança, estaria fora da disputa ou faria voo solo pelo PSB, com menor potencial ofensivo ao projeto continuista do PT. A desfeita ao deputado Ronaldo Caiado rendeu-lhe a hostilidade de uma ala do DEM. Na sexta-feira, o PTB pernambucano, liderado pelo senador Armando Monteiro, deixou o governo estadual. O PT também entregará os cargos amanhã, coisa que deveria ter feito logo que o PSB rompeu com o governo Dilma. Para dar um sinal de abertura à recomposição, acabou se dando mal. Uma ala do partido aderiu a Campos e não quer deixar seu governo. Um vexame. Campos perderá também apoios importantes no empresariado por conta da rigidez de Marina em questões ambientais. Terá contra a chapa a oposição do agronegócio, que não engole Marina. Vão aflorar as divergências entre eles sobre energia e economia. Será ela capaz de flexibilizar posições nessas questões? Se for, perderá apoios entre os seguidores que já não gostaram da adesão a um partido convencional, de forma unilateral e vertical, depois de falar tanto em decisões horizontais. Sem falar nos doadores de campanha simpáticos ao governador, agora informados de que ela prefere campanhas financiadas pela sociedade e a militância. Um sonho lindo, que o PT já teve no passado.

Descontada a mágoa, Caiado verbalizou o que alguns pensam mas não dizem no PSB: “Em vez de a Marina aderir ao governador Eduardo Campos, de repente ele é que aderiu à Marina e incorporou o espírito dela”. Ainda que não houvesse mais remédio para a aliança com o PT e com Lula, que o fez ministro e o apoiou para governador, Campos era um candidato com total controle sobre seu partido, tinha o estado praticamente unido em torno de sua candidatura e vinha recebendo adesões de forças importantes nos outros estados. Dispensou Caiado e terá que administrar a aceitação de outros aliados conservadores, como os Bornhausen (SC) e o ex-senador Heráclito Fortes (PI). Pedir que deixem o PSB, agora que o tempo de filiação já passou, seria molecagem. Campos estava também muito próximo do PSDB, que continua saudando a aliança, mas agora vai demarcar o terreno. Ainda que chegasse em terceiro lugar, seu apoio seria valioso no segundo turno. Rompido com o PT, talvez ganhasse a vice numa chapa tucana recomposta. Muito jovem, reconhecido como político hábil e bom gestor, estaria acumulando forças para concorrer em 2018. Se a aliança tiver sucesso eleitoral, pois foi feita para ganhar votos e não para inovar o vocabulário, ele estará no panteão, mesmo cedendo a candidatura. Se a proposta de terceira via para quebrar a polaridade PT-PSDB fracassar, terá ele perdido mais que ela. Ele está queimando alguns navios. Mas política sem risco merece outro nome, e nisso ele se distinguiu de seus pares. Agora, vamos ver o que mais acontece em um ano de travessia mais agitada.

Vamos combinar
A procriação de partidos volta à pauta na provocação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao STF, sustentando a perda de mandato de parlamentares que migram para partidos novos. Como é sabido, o STF abriu essa janela ao decidir que o nascente PSD teria direito ao tempo de tevê e ao Fundo Partidário decorrentes das filiações recebidas, pois tratava-se de partido novo.

Vamos combinar: há poucos meses, o Congresso tentou fechar essa janela, com o projeto que foi demonizado pela oposição como sendo um casuísmo para impedir a criação da Rede e a candidatura de Marina Silva. A crônica política fez coro. Aprovado na Câmara, teve a votação suspensa no Senado por liminar insólita do ministro Gilmar Mendes. Quando ela caiu, PT e PMDB, ressabiados pelas pancadas, desistiram. Agora, o projeto foi aprovado, como cadeado em porta arrombada.

Reagindo a Janot, o STF pode, enfim, julgar a ação do PPS contra a decisão anterior que beneficiou o PSD. Mas o Supremo, tão onisciente, será capaz de reconhecer que errou e, mais grave ainda, de tomar uma decisão que, aplicada retroativamente, atearia fogo ao quadro partidário e eleitoral? A decisão só afetaria mudanças futuras, acha o procurador. Então, não é preciso a palavra do STF, porque o Congresso já aprovou o projeto que valerá para o futuro. Mais eficácia terá, para organizar o poleiro, a aprovação da nova cláusula de barreira, limitando o acesso ao fundo e à tevê aos partidos que obtenham 3% de votos nacionais e 3% em nove estados. Desde que o STF não venha a derrubá-la novamente, como já fez em 2006.

Fonte: Correio Braziliense