quarta-feira, 9 de outubro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Aécio Neves: acabou o ‘nós ou eles’

O quadro eleitoral deixará de ter aquele maniqueísmo que sempre atendeu muito aos interesses do PT: "Ou nós ou eles". Na verdade, o PT fez isso ao longo dos últimos anos querendo dividir o País em dois: os que apoiam o governo, que são brasileiros de verdade, e os que se opõem ao governo, que torcem contra, que não têm legitimidade para se dizer brasileiros. Algo absolutamente fora da realidade."

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB. In “Quadro eleitoral é 'prenúncio do fim do PT', diz Aécio”. O Estado de S. Paulo, 9/10/2013

Supremo divulga parte do acórdão dos embargos do mensalão

Na sexta-feira começa a correr o prazo de 30 dias para que os condenados entrem com embargos infringentes

Carolina Brígido

BRASÍLIA - O Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou nesta quarta-feira no Diário da Justiça eletrônico a ementa do acórdão dos embargos declaratórios do mensalão, os primeiros recursos analisados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Trata-se de um resumo do julgamento ocorrido entre agosto e setembro. O documento com todas as decisões tomadas no período será publicado amanhã. Com isso, na sexta-feira começa a correr prazo de 30 dias para que os réus entrem com embargos infringentes, um tipo de recurso que dará a 12 dos 25 condenados no processo o direito a um novo julgamento.

A publicação foi feita antes do prazo final da Corte, que venceria em 4 de novembro. A antecipação abre a possibilidade de julgamento de parte da nova leva de recursos ainda neste ano. O relator do processo, ministro Luiz Fux, já deixou clara sua intenção de concluir o caso o quanto antes, para que as penas comecem a ser executadas logo.

Até o dia 15, os réus poderão propor segundos embargos declaratórios – um tipo de recurso que serve para esclarecer eventuais pontos dúbios no julgamento dos embargos declaratórios e não tem o poder de reverter condenações.

Se alguém entrar com esse recurso, o plenário do tribunal terá de decidir se aceita julgá-lo. O STF costuma analisar os segundos embargos. E, ao fim da análise, historicamente decreta o trânsito em julgado – ou seja, o fim do processo – e a prisão imediata do réu. Aconteceu isso no caso do deputado Natan Donadon (sem partido-RO) e pode acontecer com condenados do mensalão que entrem com o recurso. Nessa hipótese, prisão ainda neste ano.

Os réus terão até 14 de novembro para propor embargos infringentes. Segundo o Regimento Interno do tribunal, têm direito ao recurso réus condenados que tiveram ao menos quatro votos pela absolvição. São 12 os condenados nessa situação. Com o fim do prazo dos réus, começa a ser contado tempo igual para o Ministério Público, que vence 13 de dezembro. Com o material em mãos, o relator começará a elaborar seu voto nos infringentes e, em tese, terá tempo hábil para levar pelo menos parte dos recursos ao plenário.

Se começar ainda neste ano, a nova fase dos julgamentos vai durar poucos dias. Isso porque entre 20 de dezembro e 31 de janeiro o tribunal estará em recesso. Portanto, haveria uma interrupção no julgamento, que seria retomado em fevereiro de 2014.

Fonte: O Globo

Nos EUA, Aécio se apresenta como líder da oposição no Brasil

Pré-candidato ao Planalto diz que Marina e Eduardo Campos vieram 'das costelas do PT'

NOVA YORK - O senador e presidenciável tucano Aécio Neves se apresentou como "líder da oposição no Brasil" após palestra a investidores ontem, em Nova York, onde passou o final de semana enquanto Marina Silva anunciou sua aliança a outro pré-candidato, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Perguntado se a nova aliança entre Marina e Campos tira votos do PSDB, o senador mineiro disse que saúda qualquer força oposicionista. "Quem tem capilaridade hoje, quem tem presença nos estados e um discurso claro de oposição é o PSDB", disse ele, que preside a legenda. Aécio caracterizou Campos e Marina como políticos vindos "das costelas do PT". "Dou as boas-vindas a Eduardo e Marina, agora no front oposicionista", disse.

O tucano, entretanto, tem sido avaliado como o maior prejudicado com a aliança.

Em sua fala, Aécio criticou o governo do PT e disse que a presidente Dilma Rousseff age "de forma extremamente intervencionista" em setores como o de energia, política esta que, de acordo com o senador mineiro, afugenta investimentos.

O adversário político do governo petista não deixou de mencionar na entrevista que concedeu após a palestra o crescimento abaixo do esperado e o avanço da inflação.

"A agenda do PSDB, ai contrário, é a agenda de estabilidade, do crescimento, da responsabilidade fiscal, sem maquiagem de números como vem fazendo o PT. É esta agenda que nos vai permitir chegar ao segundo turno e, espero eu, vencer as eleições", afirmou.

Investidores americanos ouvidos após o discurso de Aécio afirmaram na condição de anonimato que o tucano se apresentou como "mais amigável ao ambiente de negócios" que Dilma.

Fonte: Folha de S. Paulo

Aécio: aliança entre Marina e Campos ‘prenuncia o fim do ciclo do PT’

Isabel de Luca

NOVA YORK — O senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, voltou a dizer nesta terça-feira, em Nova York, que a aliança entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a senadora Marina Silva "traz vigor à oposição". Apontado por analistas políticos como o mais prejudicado com o acordo, ele acredita que a união de Campos e Marina – dois ex-ministros de Lula – é, sobretudo, um atestado da vulnerabilidade do atual governo.

— Acho que é uma demonstração clara da fragilização desse modelo que está aí, que nos tem levado a um crescimento pífio ao longo dos últimos anos, com a inflação voltando a crescer, com a estagnação dos nossos indicadores sociais. A presença tanto de Eduardo como de Marina no campo oposicionista deve ser saudada por nós como algo que prenuncia o fim desse ciclo de governo do PT – afirmou.

— Acho que a campanha deixará de ter aquele maniqueísmo que sempre atendeu muito aos interesses do PT. Com novos nomes na disputa haverá a possibilidade de falarmos mais de futuro do que de legado.

Quinze dias depois de a presidente Dilma Rousseff fazer uma palestra em Nova York para acalmar investidores estrangeiros, a convite do Golman Sachs, Aécio adotou um discurso bem diferente, em seminário organizado pelo banco BTG Pactual no hotel Waldorf Astoria. Em tom de campanha diante de uma plateia de cerca de 600 investidores – metade composta de brasileiros –, ele retratou os desafios que o Brasil enfrenta hoje para, em suas palavras, “voltar a ser uma nação confiável, sobretudo para o investimento privado”.

— Os pilares fundamentais da macroeconomia construídos no governo do PSDB foram colocados em risco por uma má-condução da política econômica ao longo desses últimos anos, em que se privilegiou um crescimento apenas pelo consumo, a partir da oferta ampla de crédito, não percebendo que isso teria um limite. Ao mesmo tempo, o Estado agiu de forma extremamente intervencionista em setores como os de energia e petróleo, o que afugenta os investidores. É um alerta que faço, mas uma palavra de confiança na nossa capacidade (do PSDB) de encerrarmos esse ciclo de governo do PT — disse ele antes do discurso, do qual a imprensa não pôde participar.

— Temos instituições sólidas e elas é que nos permitirão a retomada de um ciclo, espero eu, duradouro de crescimento e de credibilidade, porque o ambiente em que sou recebido aqui é de pouco crédito em relação ao Brasil e ao que faz o atual governo.

Segundo Aécio — que já estava em Nova York no fim de semana, enquanto Marina decidia seu futuro —, vencerá a eleição “quem tiver as melhores propostas, mais consistência para garantir a retomada do crescimento, o resgate de valores éticos que o PT colocou a perder ao longo dos últimos anos”:

— O campo está aberto, é uma campanha absolutamente aberta, e o fato consistente que se percebe em todas as avaliações é que mais de 60% da população não querem votar na atual presidente. Existe aí, na minha modesta avaliação, um campo muito fértil para a construção de um projeto alternativo de oposição.

A estratégia do PSDB, ainda de acordo com Aécio, é fortalecer o partido pelo país antes de formar qualquer aliança partidária.

— A partir das alianças partidárias, vamos pensar em chapa, que é algo para ser resolvido só a partir de abril do ano que vem. Até porque a própria candidatura do PSDB terá de ser resolvida no ano que vem — comentou. —É hora de trabalharmos, gastarmos sola de sapato por todo o Brasil. Falarmos também em fóruns internacionais como este, porque os investidores que hoje se afastam do Brasil como reflexo da pouca confiabilidade no atual governo. Eu tenho que dizer que o maior partido de oposição tem uma agenda nova para o Brasil e uma agenda que compreende o setor privado como parceiro e não como inimigo.

Fonte: O Globo

Campos sobe tom de críticas ao governo

Por Murillo Camarotto

RECIFE - Mais confiante após conquistar o apoio da ex-senadora Marina Silva (PSB), o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), está deixando de lado a cautela e já começa a falar abertamente como candidato a presidente da República. Ontem, ele subiu o tom das críticas às ações do governo federal na área econômica. Disse que a atual crise de expectativas é resultados de mudanças equivocadas nas regras do jogo e mencionou o "pibinho".

Em entrevista ao radialista e ex-prefeito de Salvador Mário Kertész, o governador acenou ao setor empresarial, ao dizer que sua aliança com Marina é a primeira resposta para a reversão das expectativas negativas na economia. Também atacou a política de concessões do governo, descartou aliança com o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) e disse que é chegada a hora de "aposentar as raposas que estão gastando a paciência do povo".

De acordo com Campos, o governo federal demorou muito para iniciar a concessão de projetos de infraestrutura à iniciativa privada e, quando o fez, foi ingênuo ao tentar barrar a lucratividade dos empresários. "Quando decidiu fazer [as concessões], disse: "vou fazer com raiva, não vou deixar ganhar muito". A iniciativa privada não vai fazer filantropia. Isso é ingenuidade", afirmou o governador.

O baixo crescimento da economia nos últimos anos, segundo ele, é resultado de uma reação dos investidores às mudanças implementadas pelo governo em áreas como energia elétrica, portos e petróleo. "Isso tudo criou um ambiente em que a economia começou a andar de lado. Esse ato com a Marina é primeira resposta à reversão dessa expectativa. Responde a quem quer investir e a quem foi para a rua [nas manifestações de junho]", disse.

Campos voltou a dizer que seu projeto presidencial vai reconhecer avanços como a estabilidade econômica e a inclusão social, porém foi duro ao defender a necessidade de mudanças na prática política, que nas suas palavras está "mofada e atrasada". Questionado sobre sua relação com Aécio, o pernambucano disse que é boa, mas ressaltou que suas convicções políticas não são as mesmas. "Às vezes as pessoas confundem relacionamento pessoal com coisa política", respondeu.

Antes de encerrar a entrevista, Kertész - que no ano passado disputou e perdeu a Prefeitura de Salvador pelo PMDB -, disse que muitos ouvintes estariam animados com a terceira via representada por Campos e Marina. O pernambucano rebateu: "Terceira via por enquanto".

Fonte: Valor Econômico

PPS retoma debate nas bases sobre candidaturas a presidente em 2014

Dirigentes se reuniram nesta terça-feira em Brasília

Por: Assessoria do PPS

Os membros da Executiva Nacional do PPS defenderam nesta terça-feira, em Brasília, a retomada dos debates na base do partido sobre os rumos que a legenda deve tomar nas eleições presidenciais de 2014 levando em conta os seguintes cenários postos até hoje: candidatura própria ou apoio a Eduardo Campos/Marina Silva (PSB/Rede) ou Aécio Neves (PSDB). A maioria dos integrantes do partido avalia, no entanto, que não há necessidade de pressa para a decisão da legenda e que isso deve se dar apenas em meados do próximo ano. Há possibilidade, alertaram os dirigentes, de outras novidades no cenário eleitoral. Para o partido, a sociedade clama por uma alternativa política ao atual governo. E é nesse campo que o PPS vai atuar.

Com relação a possíveis mudanças, o presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), ressaltou a situação da presidente Dilma Rousseff (PT). “Quem é candidato à reeleição com 38% dos votos fica numa posição muito frágil”, avaliou Freire. Ele analisou que ainda é preciso verificar o impacto da filiação de Marina ao PSB junto às pesquisas de intenção de voto em Eduardo Campos. Também ponderou que o papel do ex-governador José Serra dentro da candidatura do PSDB não está definido.

Candidatura própria

Na reunião, alguns dirigentes do partido defenderam que o partido lance candidatura própria. Para o líder do partido na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), o primeiro passo é formatar um projeto da legenda para o Brasil. “Primeiro temos que fechar as ideias, depois procuramos no partido um nome que se encaixe a esse perfil. Temos a capacidade de construir um projeto programático para o Brasil”, disse Bueno, que chegou a citar como possíveis candidatos o presidente Roberto Freire, o ex-ministro e vereador do Recife Raul Jungmann e a jornalista Soninha Francine, de São Paulo. Outros nomes, como o do próprio líder, também foram citados.

Proposta de consulta aos filiados

Na Executiva, Raul Jungmann (PE), que é diretor da Fundação Astrojildo Pereira, propôs que a entidade elabore uma proposta de consulta aos filiados e à sociedade sobre os rumos que o PPS deve tomar em 2014. Essa ideia será trabalhada e apresentada posteriormente à direção do partido.

Fonte: Portal do PPS

Entrevista: ‘Na cultura da Rede não há lugar para inimigo histórico dos trabalhadores rurais’, diz Marina

Ex-ministra cita o líder ruralista Ronaldo Caiado (DEM-GO), que manifestou seu apoio a Eduardo Campos, e diz que o PSB, seu novo partido, não pode aceitar qualquer aliado

Para ela, é uma armadilha “juntar alhos com bugalhos pensando só em tempo de televisão”, pois isso não tem a ver com nova política

Paulo Celso Pereira

Existe alguma chance de a senhora ser candidata a presidente no próximo ano?

Eu e o Eduardo determinamos que não queremos contaminar a discussão com essa história de lugar de candidaturas. Nós queremos adensar o programa, queremos que as pessoas comecem a ver que aqui está germinando uma nova semente. E se Eduardo está se comprometendo em germinar essa nova semente, estou aqui a ajudar a instituir a sua candidatura, porque ela já está posta. Não vim aqui para ficar urubuzando a candidatura do Eduardo. Se ele tivesse alguma desconfiança que eu estivesse fazendo isso, ele não seria besta de ficar. Nos dispusemos a uma aliança programática e se ela for aprofundada, não apenas no discurso mas no ponto de vista das atitudes, mostrando que o que está sendo dito é aquilo que tem chance de ser feito, prosperará a aliança fática de apoio à sua candidatura. Se não for, valeu a intenção da semente. O Eduardo sabe a riqueza da semente que ele tem aí para plantar e, sendo neto de quem é, tenho certeza que tem a clareza e a responsabilidade histórica no seu papel.

Ou seja, isso é o início de um processo, não o fim?

Isso é o início de um processo de uma aliança programática, não pragmática, que pode vir ou não a ocorrer, mas que eu torço para que seja uma nova semente da política brasileira. Até porque eu e Eduardo somos aqueles que podem quebrar a polarização PT/PSDB, o que pode ser muito bom para o PT e o PSDB, porque o Brasil precisa desse distensionamento. Esse gesto não tem nada a ver com vingança, é um ato em legítima defesa da esperança.

A senhora e ele têm trajetórias muito distintas. Fora o anseio pelo fim da polarização do PT com o PSDB, quais são os pontos que a fizeram decidir por esse acordo?

Não dá para dizer que o Eduardo não é um sonhador. Ele vem da tradição de Arraes, das lutas pela democracia, dos direitos do povo brasileiro. O PSB é um partido histórico, que tem 60 anos, e participou de todas essas lutas. Não há aqui uma incoerência com um partido de direita que não tenha nenhuma realidade fática para esse encontro. A Rede é uma atualização da política, que está acontecendo no mundo inteiro. Ninguém ainda sabe quais serão as novas estruturas e os novos processos para esse novo sujeito político que está surgindo. Eu sempre digo que a verdade não está com nenhum de nós, ela está entre nós. Existem alguns estranhamentos que vão ser tratados a partir de agora. O Eduardo estava tentando viabilizar sua candidatura num ambiente frágil e eu até disse em entrevista que ele estava ainda no mesmo diapasão da Dilma e do Aécio. Mas agora ele pode fazer uma outra escolha e sinto que ele está muito movido.

Ele vinha negociando com partidos dos mais diferentes matizes. A aliança tem que mudar o estilo?

Essa decisão é do PSB e do Eduardo. Se prosperar a contribuição da Rede, é obvio que o (deputado Ronaldo) Caiado (DEM-GO) não se sentirá confortável nesse quadro, e imagino que ele já esteja se preparando para ir para a candidatura do Aécio. Porque, obviamente, na cultura da Rede não há lugar para um inimigo histórico dos trabalhadores rurais, das comunidades indígenas e para quem articulou a derrota do Código Florestal. O que eu sinto é que nós vamos precisar fazer primeiro um adensamento e haverá um alinhamento que nos leva a uma linha de corte, que não imagino que seja a Rede e o PSB fazendo corte, os parceiros também tem o direito de dizer “olha, nessa nova configuração que está posta, com a chegada dessa ecochata da Marina, me dá licença que estou indo embora”.

Então não cabe todo mundo no projeto?

No meu conceito de liderança, não. No meu conceito de liderança, o líder tem que favorecer o ambiente democrático para que todos possam existir, mas ele não é obrigado a estar com todos embaixo da sua asa.

Qual é a expectativa da senhora em relação ao diálogo na questão ambiental?

Minha expectativa com o Eduardo é que a gente primeiro passe por um processo de aprendizagem mútua. Da parte da Rede, nós vamos manejar nossa dificuldade interna, e não é fácil. A gente tinha um programa, uma base social, uma base de quadros muito qualificada em todos os setores. A gente está começando um pequeno desvio e é preciso ter muita delicadeza para esse desvio prosperar. Porque o eixo da sustentabilidade é muito importante, mas a sustentabilidade política é a base da transformação das outras coisas. O atraso na política é que faz com que a gente corra o risco de perder as conquistas, não consiga sair da patinação dos atrasos e muito menos olha para o futuro. Tem uma tarefa a fazer no Brasil que é chamar a responsabilidade à Nova República, pois a Velha República continua governando. O PT e o PSDB precisam assumir a responsabilidade, tem que ir para a maioridade.

A senhora considera os governos Fernando Henrique e Lula parte da Velha República?

O PT e o PSDB simbolizam essa luta, tanto da conquista democrática quanto da estabilidade democrática, dando um passo para a estabilidade econômica e a distribuição de renda. Só que ambos para governar foram ficando reféns da Velha República. O Fernando Henrique na figura simbólica do senador Antônio Carlos (Magalhães) e o presidente Lula na figura simbólica do presidente (José) Sarney. E eu não estou aqui diminuindo a contribuição histórica dessas pessoas, o que estou dizendo é que essa contribuição histórica, com seus ganhos e defeitos, já foi dada. O Fernando Henrique diz que eles disputam entre si para ver quem lidera o atraso. Será que não é a hora de pelo menos se dispor a liderar os avanços? Eu dizia que se ganhasse queria governar com os melhores do PT e do PSDB. Fico imaginando se o PT e o PSDB iriam fazer oposição cerrada a uma ideia de entregar o Brasil para os brasileiros. Isso para não ver a presidente Dilma agora tendo que ser chantageada porque eu e o Eduardo nos juntamos, e os chantagistas já querem mais e mais coisas. Eu não queria estar criando esse desconforto para ela.

A senhora sente que já começam a tentar minar a relação da senhora com o Eduardo Campos?

Eu consigo ver as sementes que as vezes parecem estarem sendo plantadas, como a ideia de que se o Eduardo conseguir um tempinho maior de televisão, aí sim é que ele vai dar o pulo do gato. Vejo isso como uma armadilha. Porque se nós estamos falando em um esforço programático e em novos paradigmas, juntar alhos com bugalhos pensando só em tempo de televisão não tem nada a ver com nova política.

Mas até pouco tempo ele trilhava esse caminho...

Depois desse ato que fizemos, e o olhar da sociedade brasileira está em nós, eu acredito que ficar preso a esse diapasão anterior, com certeza. Mas não é isso que eu sinto do PSB e do Eduardo. O que sinto é que eles sabiam exatamente que estão entrando em uma lógica que se for para ganhar tem que ganhar ganhando, e não ganhar perdendo. Porque se for para ganhar perdendo eu acho que os que estão aí têm até mais competência para fazer isso. A Dilma já sabe essa lógica e imagino que encarar um segundo desafio sabendo que é nessa lógica aí estabelecida deve ser algo muito doloroso.

Há algo que poderia ter sido diferente para viabilizar a Rede?

Não. Quando nós saímos do PV, se tivéssemos ido criar um partido seríamos apenas um ajuntamento de ex-PT, ex-PSOL, ex-PV e alguns independentes. Foi somente após 2012 que veio como unanimidade em todos os cabeças de Rede do Movimento por uma Nova Política a decisão de nos tornar um partido.

Fonte: O Globo

Para Aécio, oposição ganhou

Em Nova York, onde fez palestra para investidores, presidenciável tucano afirma que união de Eduardo Campos com Marina Silva demonstra a fragilidade do atual modelo de governo

Alice Maciel

O presidente do PSDB e pré-candidato à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), disse ontem em coletiva à imprensa que a união de Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (PSB) demonstra fragilização do atual modelo de governo e dá vigor à oposição. "Porque estamos falando de dois nomes colocados, o do governador Eduardo Campos e o da ex-ministra Marina Silva, que vieram das costelas do PT. Ambos foram ministros do ex-presidente Lula e hoje atuam no campo oposicionista", acrescentou. O senador fez uma palestra para investidores em evento promovido pelo banco BTG Pactual, em Nova York.

Para o tucano, a nova chapa da ex-senadora e do governador de Pernambuco ajuda a evitar que a campanha tenha um tom maniqueísta: "Dou boas-vindas a Eduardo e Marina, agora no front oposicionista. E acho que a campanha deixará de ter aquele maniqueísmo que sempre atendeu muito os interesses do PT, ou nós ou eles", afirmou. No sábado, Marina anunciou sua filiação ao PSB, de Eduardo Campos, depois de ter o registro da Rede Sustentabilidade negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por não ter atingido o número de assinaturas exigido.

Aécio disse que a presidente Dilma Rousseff (PT) atuou para impedir a candidatura de Marina, apoiando projetos de lei que inviabilizavam a criação de partidos, e o ex-presidente Lula trabalhou para evitar uma eventual candidatura de Eduardo Campos. "Se ambos os nomes se colocam em condições de disputar contrariamente à vontade expressa do PT, não posso achar isso ruim", observou. "O que é claro hoje é que, seja Eduardo ou Marina candidato, ambos venham a atuar no campo oposicionista e, repito, deve ser saudado por nós como algo extremamente positivo a um ano da eleição."

O grande desafio do PSDB, segundo Aécio, é reconectar-se a setores da sociedade brasileira que já estiveram próximos ao partido, mas que se distanciaram ao longo do tempo. "O grande objetivo neste momento é essa conexão direta com a sociedade. É isso que estamos fazendo no nosso espaço partidário, nos vários seminários que temos realizado por todo o Brasil. Já estivemos no Nordeste, estivemos no Sul na última semana, vamos ao Norte e em seguida ao Centro-Oeste. Também com vários encontros, em especial em São Paulo, em algumas cidades da Região Sudeste. Essa é a prioridade para este ano. As alianças partidárias virão com alguma naturalidade a partir da capacidade que tivermos de sermos intérpretes desse sentimento da sociedade", disse.

De acordo com ele, a partir das alianças partidárias será montada a chapa que vai disputar o pleito no ano que vem. Ainda segundo o tucano, o candidato a vice-presidente será definido em abril. "Até porque a própria candidatura do PSDB terá de ser resolvida somente no ano que vem", ressaltou.

O modelo econômico do governo Dilma voltou a ser alvo de críticas do tucano durante palestra a investidores ontem. "É um momento delicado pelo qual passa o Brasil, farei esse diagnóstico, mas direi que o PSDB é um partido que tem compromisso com a garantia da estabilidade, tolerância zero com a inflação e, sobretudo, o fortalecimento daquilo que construímos lá atrás, com as agências reguladoras e os pilares macroeconômicos de metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário, que nos trouxeram até aqui", disse em entrevista antes de dar a palestra.

Fonte: Estado de Minas

Quadro eleitoral é 'prenúncio do fim do PT', diz Aécio

Tania Menai

NOVA YORK - O presidente nacional do PSPR, senador Aécio Neves (MG), disse ontem, em Nova York, que a aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos deve ser saudada como ao prenúncio do fim do PT para o bem do Brasil". O tucano voltou a afirmar que a união representa o fim do maniqueís-mo entre PT e PSDB nas disputas presidenciais e dará vigor à oposição em 2014.

O tucano, que discursou para investidores privados em encontro promovido pelo banco BTG Pactuai, repetiu a afirmação que fizera em entrevista ao Estado em fevereiro deste ano, bem antes de a dobradinha da ex-ministra com governador de Pernambuco ser cogitada no meio político.

"Ambos vieram das costelas do PT, ambos foram ministros do governo Lula. Esta é a demonstração clara da fragilização desse modelo que está aí e que levou o Brasil a um crescimento pífio ao longo dos últimos anos, com a inflação voltando a crescer, e, sobretudo, com a estagnação dos nossos indicadores sociais", disse Aéeio, antes de iniciar sua palestra.

"Se ambos se candidatam, isso não pode ser ruim. Dou as boas-vindas aos dois."

Para o senador mineiro, a campanha presidencial do ano que vem "deixará de ter. aquele maniqueísmo que sempre atendeu muito aos interesses do PT: "Ou nós ou eles"". "Na verdade, o PT fez isso ao longo dos últimos anos querendo dividir o País em dois: os que apoiam o governo, que são brasileiros de verdade, e os que se opõem ao governo, que torcem contra, que não têm legitimidade para se dizer brasileiros. Algo absolutamente fora da realidade."

Mensalão e manifestações. Aécio criticou, mais uma vez, a condução da economia no governo da presidente Dilma Rousseff, afirmando que o País precisa vencer desafios para voltar a ser uma nação confiável, sobretudo para o investimento privado. ""Vou reforçar que as coisas vão mal mas podem ser corrigidas porque as instituições no Brasil são sólidas."

Na palestra para investidores, o senador disse que o Brasil se aproxima de uma nova encruzilhada, "entre o nítido esgotamento do atual modelo de desenvolvimento e a necessidade da implementação de uma nova agenda" reclamada pelas ruas.

Aécio ligou as manifestações de junho ao mensalão, "onde a mais alta Corte de Justiça puniu e condenou alguns dos principais líderes do partido atualmente no poder, em razão de desvios de recursos públicos, usados para sustentar sua base no Congresso".

De acordo com o senador tucano, "a este sentimento, so-mou-se uma percepção latente sobre a grave insuficiência de serviços públicos de qualidade e a renitente ineficiência do Estado brasileiro".

A assessoria de Aécio informou que a diária de ontem no hotel Waldorf Astoria, onde o senador estava hospedado, foi paga pelo banco BTG Pactual.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Candidatos 'dublê' rondam corrida presidencial

No banco de reservas, Lula, Serra e agora Marina alimentam dúvidas sobre futuro de Dilma, Aécio e Campos

Uma coisa é certa: o mercado político, daqui por diante, virou um campo ainda mais fértil para intrigas. E elas virão

Natuza Nery

BRASÍLIA - A ex-senadora Marina Silva entrou no PSB dizendo apoiar o governador Eduardo Campos como líder de chapa à Presidência da República e se dispondo a ser vice.

O ex-presidente Lula já repetiu inúmeras vezes que sua candidata é Dilma Rousseff para segurar aqueles que, no PT, desejam sua volta ao poder no ano que vem.

O ex-governador José Serra ficou no PSDB e, ao que consta, não prometeu nada ao tucano Aécio Neves.

A surpresa da aliança sacramentada no último sábado produziu um fato curioso. Agora, religiosamente, todos os presidenciáveis até aqui posicionados têm, em comum, um candidato no banco de reserva a lhes ameaçar.

Eis outra esquisitice: todos os "jogadores suplentes" têm hoje mais intenção de voto que do que o time escalado na primeira divisão.

Exatamente por isso, as pesquisas de opinião assombrarão os titulares aqui e ali. Haverá, tal qual uma análise combinatória, cenários eleitorais ora com o plano A, ora com o plano B de cada partido. Se o plano A piscar, o plano B entra em campo.

Marina Silva é o caso mais excêntrico. Trocou seus 26% de intenção de voto no último Datafolha pelos 8% de Eduardo Campos. Em confuso "marinês", chamou seu ingresso no novo partido de "filiação democrática e transitória". O nome, embora pomposo, leva à inevitável tradução: Marina trata o PSB como partido hospedeiro. Ficará nele, protegida por uma legenda, até criar sua própria.

Ninguém nega que a união dos dois em uma única terceira via adicionou charme à chapa, mas também trouxe riscos a eles a aos demais.

No caso da dupla, o problema é, no médio prazo, faltar a Campos os pontos percentuais que sobram em Marina.

Para Aécio, o perigo é fazer crescer sua sombra, José Serra, e animar tucanos que apostam na possibilidade de o mineiro amarelar na reta final por medo de ser abatido pela "terceira via".

Para Dilma, o dano é ressuscitar o bloco, ora dormente, do "volta, Lula" e diluir parte do apoio petista à sua reeleição.

Depois de sábado, já não é preciso fazer gráfico, tirar a média ponderada e calcular o desvio padrão para deduzir que, dessa equação, uma coisa é certa: o mercado político, daqui por diante, virou um campo ainda mais fértil a intrigas. Elas virão.

Fonte: Folha de S. Paulo

E se aparecer a banda ‘Fora PT’? - Elio Gaspari

O comissariado pedirá aos eleitores algo que nenhum partido brasileiro teve: 16 anos de poder efetivo

Marina Silva está no PSB. Está? Disputará a vice (mas pode não disputar) de Eduardo Campos, que até o mês passado estava na base de apoio do governo. Marina tomou uma decisão imperial e fechou o acordo com o senhor do PSB em menos de 24 horas. Disse que fez uma “aliança pragmática” mas logo corrigiu-se: “programática”. Em torno do quê, não se sabe. Se disso resultar apenas uma chapa, tem tudo para ser nova parolagem. Se dessa aliança nascer uma tentativa de frente antipetista, o caminho e a conversa serão outros.

Em matéria de chapa esquisita, ninguém superará a de Tancredo-Sarney. No entanto, aquilo era uma frente contra o que a rua chamava de “isso que está aí”, e Tancredo foi eleito (indiretamente) sem ter apresentado programa. Precisava?

Mário Covas, Ulysses Guimarães e Leonel Brizola não podiam imaginar que o segundo turno da eleição de 1989 seria disputado por Lula e Fernando Collor. Eram dois candidatos contra aquilo que estava ali.

Quem foi para a rua em junho saberá nos próximos meses que o Supremo está pronto para diluir as sentenças do mensalão. Aquilo que Marina Silva exageradamente classificou de “chavismo” é apenas um aspecto do jogo bruto do comissariado petista. Ele foi sentido nos tribunais, nos bancos oficiais, na porta giratória das agências reguladoras e na monumental trapalhada da proposta de Constituinte exclusiva. Isso para não se falar nos grandes circos com padrão Fifa.

A aliança dos dois ex-ministros do governo de Lula tanto pode acabar numa pirueta movida a palavrório como em algo maior. Sinal de seu anacronismo é a notícia de que Fernado Bezerra Coelho harmonizará a aliança “pragmática”, ou “programática”. Até outro dia ele era ministro da doutora Dilma. Faz parte do clã que controla Petrolina há meio século. O PT respondeu às ameaças mais encorpadas com a voz das urnas e prevaleceu porque o eleitorado preferiu “o que está aí”.

O comissariado buscará em 2014 a extensão do seu mandato para até 2018. Serão dezesseis anos corridos. Jamais na história brasileira um partido conseguiu essa marca dentro de um só regime constitucional. Os conservadores do império tiveram catorze anos (1848-1862). Getúlio Vargas teve quinze (1930-1945), com três regimes e uma ditadura. Os militares tiveram 21, com quatro ordens constitucionais. No 16º ano de vida, seu partido, a Arena, estava estilhaçado. Já o PT, vai bem, obrigado, sonhando com uma reforma política que criaria o financiamento público das campanhas (dinheiro na mão do comissariado) e a instituição do voto de lista (o mesmo comissariado alinha os candidatos). Não se tratará apenas de uma tentativa de espichar o tempo de mando. O que há na mesa é um projeto explícito. Jogo jogado.

Para os costumes brasileiros, a longevidade petista seria uma novidade. Contudo, nas quatro maiores democracias do mundo (Estados Unidos, Alemanha, França e Inglaterra), a sociedade deu o poder a blocos de poder longevos que fizeram grandes reformas.

O marqueteiro João Santana acha que Dilma Rousseff será reeleita graças a uma oposição viciada pela “antropofagia de anões”. Marina Silva com Eduardo Campos tanto podem representar isso, devorando o tucanato, como podem formar uma banda tocando “Fora PT”. Os eleitores decidirão quem dança.

Elio Gaspari é jornalista

Fonte: O Globo

Marina e Eduardo: o inesperado ataca de novo - Mércio P. Gomes

O que move o Brasil?

Bem, tem a economia, os conflitos sociais, as religiões, a música, a poesia, o poder. Alguns acham que tem a tradição ou a história, outros acham que não, que tudo no Brasil acontece uma primeira e única vez. Tem a sociologia, a burocracia e o cotidiano para desmentir isso. Sim, há racionalidade no Brasil. Mas, o que vale mesmo, o que menos se espera, o que funciona acima de tudo, quando não há mais o que pensar, é o indecifrável, o "sobrenatural de Almeida", o imprevisto e o impensável, o enigma que desce do pedestal para fazer o mundo girar.

Para lembrar de um caso bem recente: quando o PT foi fundado, em 1980, por suas características de partido sindicalista, cristão e cheio de radicais juvenis, poucos acreditavam que um dia seu presidente, o operário Luiz Inácio da Silva, seria o presidente mais popular do Brasil por duas vezes e elegeria sua sucessora. Estava marcado nas estrelas.

Ou lembrar de um mais antigo: quando no dia 16 de novembro de 1889, o jornalista Silva Jardim foi às ruas para ver o que estava acontecendo, descobriu que o Imperador Pedro II havia sido deposto por um golpe militar, e ninguém dera a mínima, nem para defendê-lo nem para criticá-lo. Baixara a República, como uma manga madura que inexoravelmente cai do galho.

Que espanto é o Brasil! Há três meses, como se fosse do nada, um milhão de brasileiros foram às ruas de centenas de cidades para protestar contra a corrupção política, a incúria administrativa e a falta de moral no país. Encheram o saco, queriam mudanças, os políticos tremeram e tremeram, mas, ao final, aceitaram calados o nada que não foi feito. Mais do que esperado.

Aí, nesta tarde de sábado, 25 anos de aniversário da Constituição Federal, a ex-senadora e ministra Marina Silva, neta de cearenses que foram levados ao Acre para serem seringueiros, ela mesma uma mulher que só se alfabetizara aos 16 anos de idade, deu um verdadeiro e inesperado cavalo de pau na política brasileira ao entrar no Partido Socialista Brasileiro -- PSB -- e declarar apoio ao presidente daquele partido, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, neto do lendário cearense, feito governador de Pernambuco, Miguel Arraes.

Os motivos dados por Marina Silva podem ser claros: fora-lhe negado o registro de seu partido, e ela queria ser coerente com seu ideal de manter-se na política para avançar com propostas e programas, não necessariamente cargos políticos. Daí ter escolhido um partido que já tem dono e candidato a presidente, o Eduardo Campos, e se submeter à possibilidade de baixar de status e ser candidata a vice.

Mas quem pode acreditar nesse discurso? Todos sabem que Marina Silva quer ser presidente da República e acha que tem chance, sim, com 16% a 25% das intenções de voto. Como renegar esse patrimônio? O que há por trás disso?

Mais uma vez o inesperado acontece: parece que nada esquisito há por trás dessa decisão. Simplesmente Marina viu que melhor seria para ela, para seu grupo de apoiadores e para o Brasil (seja que Brasil for) abrir mão de se candidatar a presidente e passar seu patrimônio eleitoral para o neto de Arraes.

Você acredita nisso, caro leitor? Eu acredito. É assim que o Brasil caminha.

Mércio P. Gomes, antropólogo, professor da UFRJ, foi presidente da Funai.

Mortos suspeitos de fundar partidos - José Nêumanne

Nada há a contestar na decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de negar registro ao Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, de vez que não lhe foi apresentado o número mínimo de assinaturas de apoio de eleitores aptos a votar exigido pela legislação eleitoral. Nada justificaria que o tribunal passasse por cima da lei, pois sua função é exatamente garanti-la.

Os políticos - e a ex-senadora acriana é um deles, queira ou não queira, tenha ou não tenha outra imagem perante a população - deveriam saber que a democracia é o império da lei e a norma legal precisa ser cumprida também por eles, que a debatem, votam e aprovam. Marina teve 20 milhões de votos na última disputa presidencial, em 2010. Desde as manifestações de junho, seu nome aparece como a mais viável opção contra a provável reeleição da presidente Dilma Rousseff, que encabeçará uma chapa de muitas legendas, a começar pelas duas maiores, o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). E daí? Isso não a toma isenta de cumprir obrigações legais trabalhosas e complicadas: as assinaturas e os Estados onde elas podem ser obtidas e um prazo.

Faltou o mínimo de competência e sobrou bastante negligência à ex-senadora na coleta das 492 mil assinaturas em nove Estados e, por isso, ela chegou ao prazo fatal, sábado passado, sem tê-las em mão. Não adianta reclamar nem pôr a culpa nos outros. Desde que se desentendeu e saiu do Partido Verde (PV), pelo qual se candidatou à Presidência em 2010, ela teve tempo de sobra para conseguir mais do que o necessário. E certo que sem máquina burocrática federal ou estadual, sem estrutura profissional de apoio para conduzir o processo e sem boa vontade dos políticos com os quais concorre, ela teria dificuldades. A estas se somaram, de acordo com seu depoimento (que não pode ser considerado insuspeito), a má vontade e a lerdeza burocrática dos cartórios nos quais teria de registrar as assinaturas exigidas pela lei.

Os governistas tentaram interpor um obstáculo casuístico à sua pretensão na forma de um projeto de lei criado apenas para dificultar a criação de novas legendas partidárias. A oposição, normalmente desatenta e pouco propícia a enxergar qualquer coisa além dos muros de seus quintais, conseguiu, com o apoio do baixo clero silencioso e, ao contrário dela, atento aos próprios interesses, evitar a aprovação por urgência urgentíssima da providência que, em outras condições de temperatura e pressão, seria bem-vinda para evitar o caos partidário que enfraquece a democracia no Brasil. Mas nem isso lhe serviu de alerta para redobrar os esforços para obter o registro no TSE.

Em vez de fazer uma autocrítica sincera da própria negligência, Marina preferiu atacar os cartórios. Ora essa, cartórios são cartórios e não foram criados para simplificar o complexo, mas para complicar o simples. Não é à toa que cartorial é um termo que carrega um significado nefasto, que designa maçada, delonga, adiamento. Se, como denunciou, cartórios do ABC dos metalúrgicos do PT agiram de má-fé com ela, por que não os denunciou na Justiça nem mobilizou os militantes da Rede para atazanar a vida deles? Ora, ora, como dizia minha avó, desculpa de cego é feira ruim e saco furado.

Apesar disso tudo, convém advertir que são controversas, sim, as decisões do TSE a respeito das duas novas legendas partidárias que aumentaram de 30 para 32 o número dos par-I tidos políticos em atuação no Brasil. Ao aceitar como boas assinaturas de apoio contestadas pelo Ministério Público, algumas entre elas suspeitas de serem de mortos, a Justiça Eleitoral lavou as mãos como o cônsul romano Pôncio Pilatos. Por que decidir a questão para não perder o prazo de 5 de outubro para a criação do Partido Republicano da Obra Social (PROS) e do Solidariedade? Por que não dirimir tais suspeitas?

A presidente do TSE, Cármen Lúcia, ao anunciar a negação de registro ao Rede, lamentou. Por quê? Nada a lamentar. A política é um jogo que se joga com regras preestabelecidas e a própria perdedora deixou claro que logo terá um partido para chamar de seu. Em vez de lamentar o inexorável, o tribunal podia explicar por que aceitou assinaturas suspeitas. Que | hecatombe sofreria o País se o PROS e o Solidariedade não fossem autorizados a negociar seu apoio nas eleições de 2014? O benefício da dúvida a favor do acusado de fraudar assinaturas põe em dúvida o julgamento do tribunal.

O TSE orgulha-se muito da implantação da uma eletrônica, como se esta fosse a decretação automática do fim da fraude eleitoral no Brasil. O gato escaldado Leonel Brizola tinha dúvidas sobre isso desde que os bicheiros da Baixada Fluminense e os militares do regime tentaram tomar-lhe à força a primeira eleição direta para o governo do Estado do Rio, após ter voltado do exílio. Seria paranóia dele? Ao aceitar assinaturas suspeitas para criar dois partidos que para nada servem, a não ser para distribuir dinheiro público e tempo em televisão e rádio às vésperas de eleições pelos bolsos de seus fundadores, a Justiça Eleitoral restaura duas fontes de fraude do tempo dos coronéis: a eleição de bico de pena da República Velha e os eleitores-fantasmas que assombraram a democracia brasileira até o fim do século passado.

Sebastião Néri, em sua hilariante coletânea de casos folclóricos, narra a história do coronel Chico Braga, do Vale do Piancó, no sertão da Paraíba, pende a proximidade do Ceará e o controle dos atestados de óbito no cartório permitiam inflar o eleitorado. Balançando-se numa rede no alpendre de sua casa, o coronel ouviu o apelo para que fosse votar antes do fechamento das umas. "Co"os diachos, menina, já votei cinco vezes hoje e ainda querem que eu vote?", disse à moça que o embalava. Ele morreu, mortos não votam, mas será que podem ajudar a fundar partidos?

*Jornalista, poeta e escritor

Fonte: O Estado de S. Paulo

Disputa aberta - Merval Pereira

O que a presidente Dilma classifica de "vingança" a ex-senadora Marina Silva chama de "legítima defesa" Seja lá o que for, esse sentimento deve ter se aprofundado ontem, quando o Senado, dominado pelas forças governistas, aprovou rapidamente a legislação que tira dos novos partidos o direito a tempo de televisão e fundo partidário, projeto esse que Marina atribui diretamente ao Palácio do Planalto.

Quem acredita que a intenção não foi dar o troco à manobra política de Marina e Eduardo Campos pode fazer tudo, menos política.

; Mais uma vez, a Rede Sustentabilidade, o partido que Marina tenta criar; está bloqueada por um projeto da maioria congressual, o que caracteriza uma ação política truculenta própria de regimes autoritários como o "chavismo" identificado por Marina como a origem desse comportamento que faz o diabo" para manter o controle político do país.

Mais uma vez será preciso recorrer ao Supremo Tribunal Federal para evitar esse prejuízo aos novos partidos, entre eles, a Rede, abrigada provisoriamente no PSB para um trabalho de guerrilha política de combate à polarização entre PT e PSDB.

Essa mágoa, que não é apenas de Marina, mas também de Eduardo Campos, que acusa o governo de bater abaixo da linha da cintura para tirá-lo da corrida presidencial, pode levar a uma ação mais direta contra a presidente Dilma na campanha eleitoral, o que reforçaria a área da oposição. ^

Teremos que ver como Campos e Marina resolverão a questão das coligações regionais. O PSDB havia feito vários acordos com o PSB pelo pais todo, como mantê-los agora? Veremos até que ponto eles são oposição ao PT ou se quererão ficar em posição equidistante dos dois, para não ficarem marcados como meros antagonistas do PT. Eles têm muita preocupação com isso, pois vieram da base governista.

Desde 2010, Marina evita ser contra o PT, não usou na campanha nem mesmo as criticas que teria sobre a atuação da presidente Dilma na Casa Civil, que foi a razão de sua saída do governo depois de, durante quase todo ele, permanecer à frente do Ministério do Meio Ambiente.

O desabafo sobre o "chavismo" do PT, feito de madrugada na sexta-feira para um pequeno grupo de seguidores, não foi reafirmado na entrevista coletiva para que não ela fosse, como esta sendo, acusada de
radicalização à direita.

A diferença é que hoje os dois, especialmente Marina, estão magoados com o governo, a quem atribuem as manobras para tentar impedi-los de participar da corrida presidencial.

O nível de tensão desencadeado pela ação política de Marina e Campos pode reforçá-los, mas pode também trazer uma disputa interna que, mesmo não desejada por qualquer dos dois, pode ser incentivada por fatores externos que afetarão todos os demais competidores de modos variados.

Afinal, a disputa está aberta. O que parece ser hoje o grid de largada para a corrida presidencial de 2014 pode não ser o mesmo em julho, quando os partidos farão suas convenções.

Marina pode continuar aparecendo à frente de Eduardo

Campos nas pesquisas que vierem a ser feitas, a tal ponto que crie uma situação de constrangimento para o governador de Pernambuco, que, nessa hipótese, não teria outra escolha a não ser abrir mão da disputa em favor de sua nova correligionária.

O ex-govemador José Serra certamente ficou inquieto com a decisão de Marina, que abriu uma brecha na disputa presidencial que ele se considera capaz de preencher. Se tivesse tempo, teria mudado de partido para estar em condições de participar da disputa, mas não esperou o último dia para se definir.

Se o senador Aécio Neves não der mostras de que tem condições de reagir nas pesquisas, ocupando o lugar que o PSDB sempre teve entre as duas principais forças políticas do país, é possível que Serra tente reviver seu sonho de disputar a Presidência da República.

E, sobretudo, a presidente Dilma verá de volta Lula a seus calcanhares se a jogada de Eduardo Campos e Marina der certo. O movimento "Volta, Lula" ganhará corpo diante da nova configuração da campanha eleitoral, agora legitimado justamente pela mudança de cenário.

Fonte: O Globo

Desafinados - Fernando Rodrigues

Demorou pouquíssimo para surgirem as contradições na recém-anunciada aliança eleitoral entre Marina Silva e Eduardo Campos.

Indagada por Ranier Bragon e Matheus Leitão sobre quem dessa coalizão será o candidato a presidente, Marina fez inúmeras ressalvas. Depois, foi direta: "Nós dois somos possibilidades e sabemos disso".

Marina não disse nada de novo. Apenas vocalizou uma hipótese que habita a cabeça de todos os que acompanham política. Na última pesquisa do Datafolha, em agosto, ela tinha 28% das intenções de voto. Eduardo Campos pontuava 8%. Agora, ambos estão no mesmo partido, o PSB. Qual é a lógica para inverter a posição dos dois políticos --Marina sendo vice de Eduardo-- ao formar a chapa presidencial em 2014?

Esse dilema flutuará por muito tempo entre os integrantes do PSB e da Rede Sustentabilidade. É improvável ter a resposta definitiva antes de junho do ano que vem, data-limite para o registro de candidaturas.

Coerente com suas posições, Marina Silva disse ser contra qualquer tipo de aliança para obter mais tempo de TV. Quer evitar jogar "o futuro da nação nas mãos daqueles que não entendem a lógica de que o governar juntos' não pode ser feito com base no toma lá, dá cá'".

Ocorre que Eduardo Campos tem pré-alianças heterodoxas já firmadas. Por exemplo, com o deputado Ronaldo Caiado, um ruralista do Democratas de Goiás. Pragmático, o goiano se antecipou sobre a nova realidade: "Marina Silva não me causa nenhum desconforto".

Marina teve reação diversa. Disse enxergar coerência em Ronaldo Caiado, a quem quase indicou a porta da rua: "Ele mesmo vai pedir para sair, se é que não está pedindo".

Ou seja, a dupla Marina-Eduardo não sabe quem será candidato a presidente nem quem será aceito na aliança. Falta afinar o discurso para converter em apoios o fato político protagonizado no sábado passado.

Fonte: Folha de S. Paulo

Uvas verdes - Dora Kramer

Confira-se ao PT o desconto da surpresa. O partido, assim como todo o mundo político, ainda está aturdido com um movimento que estava fora do radar geral.

Natural, portanto, que as reações sejam desencontradas e em boa medida conflitantes entre si, quando não incongruentes. Enquanto rezavam no altar do governismo, Eduardo Campos e Marina Silva eram irrepreensíveis, mas no momento em que resolveram acumular forças para enfrentar o governo passaram a ser tidos como conservadores, incoerentes, retratos prontos e acabados do oportunismo eleitoral.

Uma lógica fundada no preceito do faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.

De uma hora para outra os petistas começaram mesmo a externar preocupação com o destino do PSDB, lamentando os prejuízos que afiliação de Marina ao PSB levará à candidatura de Aécio Neves. Como se os tucanos não fossem seus adversários tão tradicionais quanto preferenciais.

De um modo geral, as análises construídas no PT ainda sob o calor do fato novo enxergam riscos e problemas na aliança entre a ex-senadora e o governador de Pernambuco.

Os petistas reagem penalizados com a gama de obstáculos que veem no horizonte dessa aliança e avaliam que houve um ganho inequívoco para a campanha da presidente Dilma Rousseff. Nesta versão, a maior - senão a única -beneficiária da união de dois ex-aliados contra sua reeleição.

Ora, se as coisas são tão complicadas assim, se há mais dificuldades que facilidades à frente de Marina e Campos, por que se preocupa tanto o PT? Deveria festejar. Mas, ao que tudo indica, o sentimento real que transparece nessas reações é o receio do desconhecido.

Nesses anos de grande poderio os petistas se acostumaram com a simplificação da disputa com os tucanos, contra os quais têm roteiro pronto, repetido a cada eleição, e se desacostumaram com o enfrentamento. A regra agora mudou: foram desafiados por gente oriunda de seu campo que passa a formar um polo de oposição cujo maior trunfo é não se contrapor às qualidades, mas ter nascido e crescido em terreno semeado pelos defeitos do PT.

Nó a desatar. Uma questão se apresenta para as próximas pesquisas de opinião: o nome de Marina Silva continuará a ser incluído na lista dos candidatos a Presidência? Provavelmente sim, porque os institutos de pesquisas não estão submetidos às condicionantes dos partidos.

Nesta hipótese será difícil, para não dizer impossível, medir o efeito eleitoral da união da ex-senadora com o governador de Pernambuco, cujo nome consta no rol de opções apresentadas aos pesquisados e, assim, em tese um adversário e não um aliado de Marina.

De onde a decisão para a formação da chapa, se mantida a disposição dela de ocupar o lugar de vice, não poderá ter como parâmetro só a i leitura numérica.

Calça curta. O senador Aécio Neves falava ao telefone em tom tranquilo, pesava e media palavras logo após a divulgação da aliança Campos-Marina que o alcançou em Nova York.

Até que não aguentou: "Eu chego aqui justamente no meio de um barulho desses!".

Além do limite. É uma armadilha da qual o poder público terá de encontrar um jeito de escapar: se a polícia reprime movimentos violentos, eles ganham adesão social e, em consequência, tornam-se mais ousados e violentos. Se não reprimem o vandalismo, os governos são omissos.

Talvez fosse o caso de figuras proeminentes do País e dos próprios manifestantes de causas legítimas levarem em conta uma evidência: o uso da força é prerrogativa do Estado e a observância da ordem um direito de todos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Embaraçado no Planalto - Denise Rothenburg

O ingresso de Marina Silva no PSB deixou meio embaçado o movimento dos bastidores em torno da reforma ministerial em desenho no Palácio do Planalto. Embora ninguém diga de público que a presidente esteja trabalhando nisso, a avaliação está em curso e os partidos, obviamente, têm lá suas expectativas de poder.

O PTB, por exemplo, aguarda o prometido ministério. Há alguns meses, quando o ex-deputado Benito Gama, da Bahia, assumiu a presidência do partido, foi combinado com o governo que a vaga de primeiro escalão que ficasse desocupada seria entregue ao partido. Surgiu o Ministério da Integração Nacional e a presidente Dilma preferiu um técnico. Menos de 10 dias depois, foi a vez da Secretaria de Portos ficar disponível. Mais uma vez, a presidente escolheu um técnico da área.

Os petebistas observam esses movimentos com a suspeita de que a subida de Dilma nas pesquisas de intenções de voto deu a ela espaço suficiente para dispor do governo a seu bel prazer até que, ali na frente, em dezembro, chegue a hora de segurar aliados. Há ainda a desconfiança de que, mesmo se abrir algumas vagas aos partidos, isso ficará restrito à cabeça, deixando os cargos de segundo escalão nas mãos de técnicos.

O líder do PMDB, Eduardo Cunha, repete quase que diariamente que seu partido tem ministros, mas não tem ministérios. O PR, por exemplo, ressente-se do fato de Dilma ter nomeado César Borges ministro dos Transportes, numa estrutura que o partido não pode dispor. O PP, nas Cidades, também faz as mesmas reclamações. O PTB só não está incluído nesse rol porque não tem um ministério para chamar de seu.

Enquanto isso, no Congresso...
A expectativa de angariar espaços de poder, entretanto, mantém todos os partidos fechados com o Planalto. Nenhum deles hoje se mostra disposto a apoiar outras candidaturas a presidente da República porque, apesar de toda a movimentação dos últimos dias, nada leva à certeza de que Dilma perderá a eleição. Ao contrário. Hoje, quando se conversa com qualquer político, todos dizem que a disputa será difícil, mas a maioria considera que a presidente terá a vantagem. Há quem diga, inclusive, que ela nadará de braçada na hora do vamos ver.

Hoje, entretanto, esses apoios dependem mais da forma como a presidente e o PT tratarão seus aliados do que qualquer outro ingrediente. Se Dilma daqui para frente desdenhar os partidos ao ponto de tratá-los como subalternos, ela verá os aliados migrarem para outros projetos em qualquer hipótese. Se a presidente estiver em paz com as ruas e com o eleitor de um modo geral, essa migração será discretíssima. Se o eleitor, no entanto, demonstrar algum mau humor para com o Planalto, a debandada será à luz do dia.

A primeira nota dessa rebeldia já está em curso. Deputados e senadores estão irados com as tentativas do governo de retardar a aprovação do orçamento impositivo e, por conta disso, o PMDB, por exemplo, está em greve declarada na Comissão Mista de Orçamento. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que deveria ter sido votada em julho, está pendente até hoje. O Orçamento, então, nem se fala. E pensar que, nos Estados Unidos, nem funcionário recebe quando o Orçamento não sai. Se aqui fosse assim, todo o serviço público estaria fadado ao colapso em pleno ano eleitoral. Afinal, as expectativas de aprovação da lei orçamentária até dezembro são cada vez mais remotas. Mas essa é outra história.

Fonte: Correio Braziliense

Poesia contra a polarização - Cristian Klein

A política também tem poesia. Ou pelo menos um simulacro dela. Foi com uma referência ao escritor Rainer Maria Rilke (1875-1926) que o governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) comemorou a filiação da ex-sonhática e agora pragmática Marina Silva a seu partido. A ex-ministra, que não conseguiu criar a sua Rede Sustentabilidade a tempo de disputar a eleição no ano que vem, caiu na teia do pessebista. Mas a aliança foi vendida à opinião pública com ares de novidade, despojamento e criatividade.

"Esqueceram de ver poesia e o poeta dizendo que, onde não havia caminho, nós voamos", afirmou Eduardo Campos, numa declaração que mostrou seu apreço pelo marinês da recém-chegada ex-senadora.

O governador referia-se à polarização da política nacional entre PT e PSDB, que há 20 anos e cinco eleições põe os dois partidos em primeiro ou segundo lugar na corrida ao Palácio do Planalto.

Duas são as margens de manobra que sobram para avançar

Petistas e tucanos se escolheram como adversários e praticamente fecharam o padrão de competição à Presidência, numa estratégia eficiente. Todos que tentaram romper essa dinâmica se frustraram. O que não significa que o arranjo está longe de ser desarmado.

Mas, de fato, será preciso voar para ultrapassar a barreira. Ao longo do tempo, PT e PSDB criaram laços de lealdade com partidos, segmentos da sociedade, além de fundar seus alicerces nos dois maiores mercados eleitorais: São Paulo e Minas Gerais. Só estes dois Estados entre as 27 unidades da Federação representam um terço do eleitorado total. Até o PMDB, maior máquina partidária do país mas de força dispersa e regionalizada, tem papel secundário entre os paulistas e mineiros.

Há uma inércia muito grande nas redes de apoio estabelecidas. Duas são as margens de manobra que sobram para quem quiser avançar. A primeira é pelas franjas, pela conquista gradual de terreno - o que leva tempo. Vide o próprio PT, que apesar de deter, há dez anos, a joia da Coroa que é a Presidência da República, avança devagar em outros espaços de poder já ocupados como Senado, Câmara, governos estaduais e prefeituras.

Se o PT controla o governo federal, os tucanos estão muito bem assentados no nível regional. Com oito governadores, administram três do seis maiores Estados (São Paulo, Minas e Paraná) e mais de 50% do eleitorado nos Estados. O PSDB tem uma extensa máquina estadual que lhe permite sobreviver aos anos de jejum fora do poder central. Isso lhe dá resistência muito maior que as legendas satélites da oposição (DEM e PPS).

A malha de organização política se completa no plano municipal, onde há um predomínio das duas siglas, ao lado do PMDB. As três legendas governam 42,6% das prefeituras e 53% do bolo orçamentário dos municípios. Alterações na balança de poder dependem do sempre fiel da balança, o PMDB, aliado dos petistas, postado na Vice-Presidência da República. É principalmente o deslizamento desta placa tectônica pemedebista que pode abalar o eixo de rotação eleitoral.

Vistos assim, os caminhos estão bloqueados. O PSB de Eduardo Campos fez o que pôde nas urnas até agora para progredir no território. Teve crescimento excepcional comparado às demais legendas, e ainda não foi suficiente. Ganhou moral, prestígio, respeito dos pares - o que é importante - mas não alterou a correlação de força.

Nos últimos anos, foi o partido que mais inflou seu número de governos estaduais - dobrou de três para seis, em 2010 - e municipais. Suas prefeituras em 2000 representavam 4,7% do eleitorado no plano local e subiram para 11%, em 2012. O desempenho coincide com a chegada ao poder federal, em aliança agora rompida com o PT. No mesmo período, os petistas passaram de 18% para 20% do eleitorado nos municípios - o que mostra o grau de dificuldade de se realizar grandes conquistas, num sistema partidário altamente competitivo.

Por baixo, os caminhos estão mapeados, amarrados. Isso se reflete também na escassez de alternativas para Eduardo Campos em montar os chamados palanques estaduais. Na falta de candidatos a governador e de fortes chapas proporcionais de deputados, seu projeto presidencial fica sem as bases necessárias de apoio.

A única saída, então, é pelo alto. Não à toa Campos fala em poesia e do voo por onde outros não veem caminhos. Foi exatamente essa trajetória pelo ar que permitiu à Marina Silva, em 2010, com seu perfil etéreo de características únicas, alcançar 20% da votação à Presidência - mesmo sem grande estrutura partidária. Marina atraiu correntes de opinião que a transformaram num surpreendente furação, ao explorar em seu discurso o ambientalismo, os atalhos para identificação com o voto religioso e o desencanto dos eleitores à esquerda do PT.

Ao filiá-la ao PSB, alegadamente para ser a sua vice, Eduardo Campos busca aproveitar essa mesma solução pelo alto. Resta saber se Marina terá apelo como vice, assim como foi na cabeça de chapa, e se manterá o mesmo frescor de quatro anos antes. Campos e Marina não necessariamente fazem a rima da poesia.

A; canibalização vai acabar. O Senado aprovou ontem, finalmente, o projeto de lei que inibe a criação de novos partidos. Estava engavetado desde que a oposição passou a acusar o governo de casuísmo, numa suposta tentativa de prejudicar a formação do Rede Sustentabilidade e a candidatura de Marina Silva à Presidência. A ex-ministra não conseguiu, de todo modo, aprovar o registro da legenda no TSE. Mas o engavetamento permitiu o inchaço de duas siglas recém-fundadas, o Solidariedade e o Pros. Juntas, cooptaram até agora 43 (63%) dos 68 deputados federais que trocaram de partido, numa autofagia partidária. O projeto não impede a formação de novas legendas e apenas explicita o que já está na lei e contudo foi ignorado pelo STJ, ao analisar o caso do PSD, em 2012: o tempo de TV e o fundo partidário - os dois principais recursos políticos à disposição dos partidos - devem ser distribuídos de acordo com o desempenho na última eleição à Câmara.

Fonte: Valor Econômico

O ‘empate’ de Marina - Zuenir Ventura

Foi a grande, inédita novidade política em meio ao marasmo destes últimos tempos

Discípula de Chico Mendes, Marina Silva aprendeu com “o herói dos Povos da Floresta” uma tática de resistência pacífica empregada contra os desmatadores da Amazônia. Chamava-se “empate” e consistia em reunir mulheres e crianças para com elas formar uma barreira humana que era colocada entre os tratores, as motosserras e as árvores a serem abatidas, deixando o inimigo sem ação. Se não o vencia, pelo menos impedia o seu avanço. Em um desses confrontos, que se tornou lendário, cerca de cinquenta policiais armados tentavam garantir o desmatamento diante de cem seringueiros. De repente, estes começaram a cantar o Hino Nacional e os soldados se perfilaram em posição de sentido. Só restou ao comandante da operação suspender a derrubada.

Nessas histórias, que ouvi há mais de 20 anos no Acre, quando a conheci, aparecia sempre uma figura magra como um graveto que se destacava pela coragem e disposição, apesar de portadora de várias doenças da selva, inclusive uma contaminação por mercúrio. Lembrei-me disso ao ouvir esta semana relatos de quem acompanhou de perto a inesperada decisão de Marina de se filiar ao PSB, desarrumando o quadro político e desorientando o adversário, que, como se estivesse num “empate”, ainda está sem saber o que fazer. Foi assim que respondeu à discutível negação do registro de seu novo partido. Tida por alguns como indecisa e por outros como “caótica”, a Marina da madrugada de sexta-feira para sábado, quando se decidiu, foi outra muito diferente, na opinião dos que estavam com ela. Um deles, o deputado Miro Teixeira, que colaborou na criação da Rede, ficou impressionado com a “capacidade de liderança e a firmeza na decisão” da sua aliada. Segundo ele, foi ela quem teve a original ideia da aliança e quem tomou a iniciativa de propô-la ao governador Eduardo Campos.

Não se sabe o que vai ser desse casamento, tão comemorado, depois da lua de mel. De qualquer maneira, ele conseguiu abalar o esquema bipolar FHC x Lula e alterar um panorama que já era dado como definitivo. Foi a grande, inédita novidade política em meio ao marasmo destes últimos tempos.

Até quando será permitido que vândalos mascarados se infiltrem nas passeatas de protesto, promovendo quebra-quebra e saques de lojas? A Ordem dos Advogados do Brasil classificou os policiais como “jagunços” pelos excessos cometidos nas manifestações. Muito bem. Mas que classificação ela daria aos baderneiros que anteontem mais uma vez levaram o caos ao Centro da cidade depois da marcha pacífica dos professores?

Zuenir Ventura é jornalista

Painel - Vera Magalhães

Efeito colateral
Parlamentares pressionam o comando do PDT a desembarcar do governo e da coligação reeleitoral de Dilma Rousseff em 2014. O deputado Vieira da Cunha (RS) e o senador Pedro Taques (MT) integram o grupo que tenta convencer Carlos Lupi a discutir a saída do governo em reunião ampliada no fim do mês. O PDT tem o Ministério do Trabalho desde 2007, e manteve a pasta mesmo diante de denúncias de irregularidades. Uma ala do partido quer apoiar Eduardo Campos (PSB).

Pé do ouvido A expectativa no Planalto é que Lula, que estará em Brasília amanhã para o encerramento de conferência da OIT sobre trabalho infantil, se reúna com Dilma para discutir as mudanças no cenário eleitoral.

Ataque O ex-presidente e Rui Falcão estiveram ontem com dirigentes do PT de Pernambuco. A sigla foi liberada para entregar os cargos no governo Campos e antecipar a definição do palanque pró-Dilma. O nome mais provável para o governo é o do senador Armando Monteiro (PTB).

Retranca Amanhã será a vez de o PT discutir o caso do Rio. Aliados de Lindbergh Farias defendem deixar já o governo Sérgio Cabral (PMDB), mas a direção nacional prefere adiar essa decisão.

De volta O sociólogo Pedro Piccolo, que havia sido afastado da Rede depois de ser flagrado segurando uma barra de ferro na tentativa de invasão do prédio do Itamaraty, em junho, voltou à cúpula do grupo. Ele participou ontem de reunião com o PSB.

Saudade Campos e Marina se reunirão em São Paulo amanhã. Será o primeiro encontro depois da aliança.

Tribo O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) disse para Ronaldo Caiado (DEM-GO), em tom de brincadeira, após o deputado ruralista dizer que pode apoiar Campos mesmo com Marina na chapa, que estava pensando em entregar a Funai a ele.

Tabu 1 Em vídeo divulgado em portal do PSDB, Aécio faz uma defesa aberta das privatizações da gestão FHC. "O governo federal demonizou as parcerias com o setor privado. Hoje, quem quer voltar ao passado? Nem eles."

Tabu 2 Segundo o pré-candidato tucano, os petistas "demoraram dez anos para compreender que têm que trazer o setor privado para ajudar a investir". "O governo sozinho não dá conta."

Vou de... Antes relutante, Dilma topou ir hoje ao sindicato dos taxistas em Brasília para comemorar a sanção presidencial da permissão para que taxistas repassem a exploração da licença a parentes em caso de morte.

... táxi A presidente havia vetado o mesmo projeto duas vezes, mas o Planalto prometeu sancionar a matéria após o texto ter sido negociado. Ela aceitou ir ao evento após lobby de Gim Argello (PTB-DF), defensor da causa.

Mudou A Fundac, que opera a TV da Assembleia de São Paulo e havia sido desclassificada na nova licitação, obteve liminar e está em primeiro lugar na disputa. Sua proposta é de quase R$ 1 milhão por ano a menos que a da segunda colocada.

Reação A deputada estadual governista Vanessa Damo (PMDB-SP) acusa a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) de manobra "canalha" para barrar a CPI da Eletropaulo. Ela diz que o PSDB quer impedir investigações em contratos com a Siemens, pivô de denúncias no setor de trens.

Parto A criação de força-tarefa em São Paulo para apurar atos de vandalismo em protestos estava em gestação havia mais de um mês. O Ministério Público resistia, e o Judiciário não aderiu.

Tiroteio

"Teremos um debate morno na eleição, com um candidato passando a mão na cabeça do outro. Aécio não tem perfil de contestação."

DO SENADOR ALVARO DIAS (PSDB-PR), sobre as características dos candidatos à Presidência e a necessidade da oposição de confrontar o governo federal.

Contraponto

Médico linha dura

Em visita a um hospital na semana passada, o secretário de Saúde paulista David Uip foi abordado por uma paciente que se queixava de demora no atendimento. O chefe da pasta decidiu que ele mesmo atenderia a moça, que tinha febre e dor de cabeça.

Após examiná-la em um consultório, Uip constatou que o caso era simples e receitou a medicação indicada.

--Preciso de um atestado médico --disse a moça, que havia faltado ao trabalho para ir ao hospital.

--Você não precisa de repouso e nem de atestado. Pode voltar ao trabalho! --respondeu o secretário.

Fonte: Folha de S. Paulo

Panorama Político - Ilimar Franco

A linha da reforma ministerial
Os aliados do governo, como o PMDB, que querem premiar seus quadros na reforma ministerial de dezembro vão estrilar. Com o aval do antecessor Lula, a presidente Dilma quer montar um Ministério técnico para a reta final do mandato. De olho na eleição, dirigente do PT explica: "A ideia é colocar quem entregue o prometido. Não pode ser alguém que acabou de chegar, mas um técnico que já esteja lá e faça acontecer"

0 PTB também quer um ministério
O PMDB não está mais só. O PTB, que está fora do Ministério desde 2009, quando José Múcio deixou a pasta de Relações Institucionais, quer seu ministério. O tema foi tratado ontem, pelo presidente do partido e vice do BB, Benito Gama, e pelo líder na Câmara, Jovair Arantes. Os senadores do PMDB também cobram uma reunião com a presidente Dilma. O líder Eduardo Braga (PMDB) tem relatado as queixas com a demora na nomeação do senador Vital do Rego para a Integração e com os desacertos entre PT e PMDB nas eleições estaduais. Ontem, o líder no Senado, Eunício Oliveira, cobrou da ministra Ideli Salvatti apoio no Ceará e a nomeação de Vital.

PROS quer manter Portos
A despeito da posição do governador do Ceará, Cid Gomes (CE), os deputados filiados ao recém-criado PROS querem manter a Secretaria dos Portos. A pasta era dirigida por Leônidas Cristino. Mas Cid diz que não quer fazer o sucessor para não ser acusado de fisiologismo.

Lulinha paz e amor
Orientação baixada pelo ex-presidente Lula, anteontem, no Instituto Lula: "Não tratar Eduardo Campos e Marina Silva como inimigos." Presentes: o presidente do PT, Rui Falcão, o governador Tarso Genro e Franklin Martins. Eles avaliam que parcela dos eleitores de Marina, com sua desistência, migrará para a presidente Dilma.

Correndo atrás dos antigos aliados
O candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, ligou dos Estados Unidos para o presidente do PPS, Roberto Freire. Eles marcaram uma reunião com a presença de ex-comunistas, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) e Alberto Goldman.


Ô loco meu
O PT quer que a presidente Dilma tenha dois palanques no Rio (Pezão e Lindbergh). Agora, o candidato do PT ao governo do Rio, Lindbergh Farias, anuncia que também quer dois palanques (Dilma e Eduardo Campos). Mas isso não é tudo. O candidato do PR, Anthony Garotinho, anuncia que terá três palanques: Aécio Neves (interior), Dilma (Baixada) e a vice Marina Silva (capital).

Uma no cravo e outra na ferradura
O discurso do candidato do PSB, Eduardo Campos, no programa de TV desta quinta-feira, vai fazer elogios aos avanços do país nos últimos 20 anos. Disposto a romper o Fla-Flu, vai exaltar os presidentes Fernando Henrique e Lula.

Acabou-se o que era doce
O deputado Valdemar Costa Neto deixou ontem a secretaria geral do PR. Ele se licenciou do cargo por tempo indeterminado por causa da condenação no processo do mensalão. Assume no seu lugar o senador Antônio Carlos (PR-SP).

O deputado Fernando Francischini (PR) foi escolhido ontem, por unanimidade, o primeiro líder da bancada do Solidariedade.

Fonte: O Globo