segunda-feira, 9 de setembro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Roberto Freire: Dilma, um ato ilegal

Era para ser um pronunciamento republicano, em uma data histórica, mas se transformou em palanque eleitoral.

O que ocorre neste governo é a continuação do que ocorria na gestão de Lula: uma perda absoluta de valores republicanos e democráticos.

Foi um pronunciamento eleitoreiro, como o que ela fez por ocasião do 1º de Maio. Esperamos mais da Justiça desta vez, porque sempre que se deixa um ato ilegal impune ele inspira mais ilegalidades.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS. In “PPS diz que irá ao TSE contra pronunciamento de Dilma”. O Globo, 9/9/2013

Atos devem ter menos impacto devido à baixa adesão

Aliados de Dilma e cientistas políticos estimam que popularidade da presidente será pouco afetada desta vez

Cristiane Jungblut

-Brasília- Governistas e oposição avaliaram que foi baixa a adesão aos protestos ocorridos no Sete de Setembro devido à radicalização e à violência das manifestações. Na visão de aliados, o Palácio do Planalto deverá capitalizar a pouca mobilização, mas só conseguirá sucesso se mostrar firmeza ao criticar os radicais. Já a oposição diz que isso não é garantia de que a presidente Dilma Rousseff está bem junto à população. Para o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), a população continua insatisfeita.

— A mobilização esperada era para ser muito maior do que a que ocorreu. O recado foi dado: a sociedade não quer ser confundida com (quem faz) quebra-quebra. Mas isso é um (diagnóstico) falso positivo para o governo. O quadro para a presidente Dilma não está bom. A equipe ministerial dela é frágil — disse Caiado, apontando problemas de gestão do governo.

Vice-líder do do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR) também acredita que a adesão aos protestos foi menor do que se esperava.

— A mobilização ficou aquém do que alguns previam — admitiu.

Na opinião do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), a população repudia atitudes radicais. Ele acrescentou que a popularidade da presidente Dilma Rousseff vem se recuperando nas pesquisas devido às ações do governo.

Para o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), as manifestações foram dominadas por "baderneiros"

— Os fatos mostraram que não houve manifestação de rua, só baderneiros, que agiram de forma anárquica. Tem um grupo de anarquistas, e anarquista é bandido como os outros. O governo tem que responder com firmeza a isso. A população não está feliz (com este tipo de ação) — disse Cunha.

Procurado, o Palácio do Pia-nalto não comentou as manifestações.

Fonte: O Globo

Para analistas políticos, radicais prejudicam democracia

Segundo professor, sociedade não apoia práticas violentas

O professor de Ciência Política da Universidade de Brasília David Fleischer avaliou que os protestos ocorridos no feriado de Sete de Setembro não afetarão a popularidade da presidente Dilma Rousseff. A seu ver, diferentemente do que ocorreu durante as mobilizações que varreram o país em junho, desta vez, as forças policiais estavam mais preparadas.

— Neste fim de semana, a polícia já contava com decisões judiciais para obrigar os mascarados a se identificarem e monitorou bem as redes sociais. Mesmo assim, em Brasília foi difícil acompanhar a mobilidade dos manifestantes — disse, observando que houve uma melhora nos resultados da economia, com avanço do PIB e desaceleração da inflação. — Tudo indica que a popularidade da presidente vai continuar subindo, aos poucos.

Ações que remetem ao fascismo

Na avaliação do professor de Filosofia Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Roberto Romano, grupos como o Black Bloc, que incitaram atos de violência nos últimos protestos pelo país, acabaram afastando muitas pessoas das manifestações públicas. Para ele, estes movimentos, cujas práticas remetem mais ao fascismo que ao anarquismo, não contam com o apoio da maioria da sociedade.

— Eles não têm nenhum respeito pela opinião dos cidadãos, sua missão é desprovida de poli-tica. E continuam mais isolados do que quando entraram (nos protestos). Efetivamente, não terão o apoio das multidões, e cumprem este papel de afastar as revindicações que viriam para a rua. Quando se tem um grupo minoritário que age desta maneira, o que se faz é contribuir para menor dose de democracia — afirmou.

O professor considera ainda que, ao impor o seu ponto de vista por meio da violência, estes grupos se aproximam de setores da Polícia Militar que não estão preparados para o diálogo e para a disciplina, mas apenas para o uso da força.

Para ele, a ação de tais grupos, que se dizem anarquistas, recorrem à violência e têm atuação internacional, é semelhante ao de setores da esquerda que adotaram a luta armada durante a ditadura militar brasileira;

— São vanguardas que não têm retaguarda; são vanguardas de ninguém. Isso me lembra muito, durante a ditadura militar, as pessoas que pegaram em armas para livrar o país do regime da época. Eles achavam que, tomando em armas, as multidões os seguiriam. Isso foi uma ilusão muito grande.

Colaborou: Gustavo Uribe

Fonte: O Globo

Para ministro, manifestações perderam o foco

O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) afirmou ontem que os protestos de 7 de Setembro, violentos e esvaziados, perderam o foco e abafaram as demandas dos movimentos sociais. Em São Paulo, dos 40 manifestantes detidos, quatro permaneciam na prisão.

Protesto esvaziado perdeu foco, diz ministro

João Domingos, Ricardo Della Coletta

BRASÍLIA - Responsável pelo diálogo do Palácio do Planalto com movimentos sociais e entidades da sociedade civil, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou ontem que os protestos de 7 de Setembro, pelo fato de terem sido violentos e esvaziados, não conseguiram impor uma reivindicação clara para que o governo federal possa tentar respondê-la.

"Eu preferiria que as manifestações tivessem sido vigorosas e pacíficas. Esvaziadas como foram, não dá nem para saber as bandeiras das reivindicações", afirmou o ministro da presidente Dilma Rousseff.

Na avaliação preliminar do governo federal sobre os atos de anteontem, o fato de o protagonismo ter sido tomado pelos grupos radicais como os Black Blocs acabou abafando os movimentos sociais que tradicionalmente realizam, em parceria com a Igreja Católica, o Grito dos Excluídos na mesma data.

"É ruim que as pessoas tenham medo das manifestações", disse Carvalho. "A democracia perde com isso". Para o ministro, é preciso que todos aprendam as lições que podem ser tiradas das manifestações de ma de anteontem. Se foram bem menos volumosas do que os protestos de junho, é porque "algo de errado aconteceu".

Carvalho destacou o fato de o desfile de 7 de Setembro, com a presença de Dilma, ter sido pacífico em Brasília. A presidente chegou a manifestar o temor de que a onda de protestos no domingo fosse muito grande, e que saísse do controle das forças de segurança. Tanto é que durante o desfile, na Esplanada dos Ministérios, perguntava a seus ministros, a todo instante, como é que estavam as ruas.

Dilma ficou sabendo, por exemplo, que enquanto ela via o desfile num palanque montado em frente ao Ministério da Defesa, cerca de 200 jovens se reuniam a cerca de um quilômetro, do outro lado da pista, onde fica o Museu Nacional.

Ao deixar o desfile no carro oficial, Dilma foi vista ao telefone, recebendo informações sobre a organização dos movimentos, em todo o País.

Desde junho, quando ocorreram os protestos mais fortes e mais de 1 milhão de pessoas ocuparam as ruas das principais cidades, Dilma vinha sendo informada diariamente sobre a tendência dos movimentos reivindicatórios. Com mais de um mês de antecedência ela sabia que estavam sendo marcados protestos para o 7 de setembro.

Na véspera, a presidente chegou a fazer um pronunciamento em cadeia de rádio e TV para prestar conta das promessas feitas ainda em junho, como resposta dos atos daquele mês.

Prisões. As manifestações de anteontem acabaram com mais de 200 pessoas presas em várias capitais do País. Ontem, muitos manifestantes ainda permaneciam na cadeia por dano ao patrimônio público.

Em São Paulo, de 40 detidos, quatro permaneciam na prisão até ontem. Além dessas pessoas, quatro adolescentes detidos foram encaminhados para a Fundação Casa (ex-Febem).

No Rio, onde 77 pessoas foram presas, só uma continua na cadeia por portar uma bomba., Nove pessoas foram encaminhadas a delegacias para identificação por estarem portando máscaras e 19 foram autuadas mas, em seguida, liberadas.

Em Minas, cuja capital, Belo Horizonte, também registrou tumultos anteontem, as 17 pessoas detidas continuam presas. Elas estão em uma penitenciária. A maior parte é acusada de formação de milícia armada, desacato e depredação.

Em Brasília, onde também houve confrontos entre manifestantes e PM, todos os 50 detidos foram liberados.

Fonte: O Estado de S. Paulo

'Confronto chama mais atenção que demanda social'

Victor Vieira

Apesar da queda de participantes em relação a anos anteriores, organizadores do Grito dos Excluídos, marcha tradicionalmente organizada peia Igreja e por movimentos sociais no Dia da Independência, não acreditam no enfraquecimento dos protestos nem em perda de protagonismo para os Black Blocs.

"Não é culpa do movimento. A questão é que os confrontos entre policiais e manifestantes chamam mais a atenção do que as demandas sociais dos grupos que protestam", afirma Ari Alberti, membro da coordenação nacional do Grito dos Excluídos. Alberti, que é da Pastoral dos Migrantes de São Paulo, considera as reivindicações dos movimentos anarquistas corno legítimas, mas afirma que é contrário aos métodos mais agressivos, que envolvem atos de vandalismo contra símbolos do sistema capitalista. "Nossos atos costumam ser pacíficos", diz.

Para João Zafalão, integrante da direção da Central Sindical e Popular, a violência afasta as pessoas das ruas, mas os eixos de reivindicação são próximos entre os grupos. "A luta é pela melhoria dos serviços públicos e no combate à corrupção", avalia Zafalão, que também organizou o Grito em São Paulo.

Com o tema juventude, a 19a edição do Grito dos Excluídos não conseguiu pegar carona nas mobilizações de junho e julho. Em São Paulo, duas marchas do movimento reuniram cerca de 1.500 pessoas, segundo a PM. "Pensamos que o número chegaria a quatro, cinco mil participantes", reconheceu Paulo Pedrini, integrante da Pastoral Operária e da coordenação da passeata em São Paulo.

Holofotes. Segundo o cientista político da Unesp Marco Aurélio Nogueira, é natural que movimentos Black Blocs, que adotam táticas de destruição de símbolos do capital, como bancos, sejam mais lembrados durante os protestos. "Embora tenham uma pauta de reivindicações mais difusa, a tática de vandalismo desses grupos é espetacularizada e aparece na mídia", afirma Nogueira.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Manifestações de rua: Protestos de sábado não intimidam Dilma

Pelo contrário. A presidente foi aconselhada por alguns assessores mais próximos a intensificar suas aparições públicas, como já vem fazendo. A avaliação no Planalto é de que as manifestações do 7 de Setembro perderam força popular e foram patrocinadas por grupos organizados

Blindada, Dilma acredita ter escapado de protestos

Depois do 7 de Setembro, Planalto avalia que movimentos refluíram e ficaram restritos a grupos violentos, sem apoio popular. Governistas tentam elaborar plano contra vandalismo

Denise Rothenburg

BRASÍLIA – As manifestações do 7 de Setembro em várias cidades brasileiras não vão tirar a presidente Dilma Rousseff das ruas. A avaliação do governo, de um modo geral, é de que os movimentos de massa refluíram e, em muitos locais ficaram restritos a grupos interessados em violência. Foi o que se viu, por exemplo, em parte dos protestos no Rio de Janeiro, Brasília, Fortaleza, Curitiba e Belo Horizonte. Dentro do governo e no Congresso, há quem esteja disposto a chamar a Ordem dos Advogados do Brasil, o Ministério Público, governadores, prefeitos, para, em parceria com a Força Nacional, estabelecer um plano de ação conjunta para pôr um basta no vandalismo que tomou o lugar dos manifestantes. Na cerimônia de celebração da data em Brasília no sábado, o Planalto reduziu o tempo de desfile e reforçou a segurança próxima ao palanque de Dilma.

No Congresso, o PT encampou a ideia: "A OAB e o Ministério Público não podem dar guarida a mascarados que saem às ruas para quebrar tudo. Não é mais um movimento social, é uma ameaça à ordem social", afirma o líder do partido na Câmara, José Nobre Guimarães, do Ceará. Ele contou que assistiu ao desfile do 7 de Setembro em Fortaleza, onde um grupo de 500 pessoas quebrou lojas e carros. "Em Fortaleza, era possível destacar muito bem os dois grupos. Cerca de 1.500 pessoas participaram do Grito dos Excluídos, que todos os anos faz o seu protesto por melhores condições de vida. Do outro lado, 500 pessoas quebraram tudo o que viam pelo caminho. Isso tem que acabar", afirmou. "Movimento social terá todo o nosso apoio. Reclamações por mais saúde, educação, segurança têm o nosso apoio. Agora, mascarados quebrando tudo, não", diz o líder petista.

Exageros 
Até no Democratas, que ao lado do PSDB e do PPS integra o tripé oposicionista no Congresso, há uma visão de que há exageros a merecer uma atenção por parte do poder público. "Os governos precisam entender que as manifestações não perderam o fôlego. Estão apenas contidas. Não houve uma reposta clara por parte do governo federal no que diz respeito à saúde, à educação e aos anseios gerais do povo brasileiro. E restou o vandalismo para chamar a atenção. Obviamente, há exageros que merecem providências por parte do poder público e essas providências também não foram adotadas", diz o líder do DEM no Senado, José Agripino.

Os governistas consideram que a presidente Dilma deve se poupar de tratar diretamente desse tema, deixando as respostas ao vandalismo a cargo do Ministério da Justiça. No 7 de Setembro, coube ao ministro José Eduardo Cardozo monitorar de perto o que ocorria nas principais cidades do país. No palanque presidencial, ele recebia informações atualizadas sobre os protestos. Enquanto isso, Dilma acompanhava o desfile, numa Esplanada sitiada.Dentro do governo, há quem diga que a presidente precisa repetir a dose da visita que fez à Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, no mês passado. O passeio, acompanhado pelos ministros Aloizio Mercadante, da Educação; e Marta Suplicy, da Cultura, foi considerado um sucesso pelos assessores de Dilma que cuidam da imagem presidencial e pelo publicitário João Santana. Ela abraçou populares, citou a lanchonete Xodó, que fica na praça, tentando resgatar a simpatia de um eleitorado que hoje é visto pelos próprios petistas como fiel ao ex-governador Aécio Neves, pré-candidado do PSDB à Presidência.

Na equipe de Dilma, há quem defenda que ela faça outros passeios assim, de surpresa, em cidades do Nordeste e do Sul do país, de forma a se aproximar mais das pessoas e tirar a imagem de "brava" e "irascível" quando contrariada. Entre assessores e ministros, o cálculo é de que se a presidente unir essas "voltinhas" com a apresentação de resultados em vários setores, ainda que em solenidades no Planalto e nos estados, o caminho para a reeleição estará pavimentado. Hoje, por exemplo, Dilma sanciona às 15h a Lei dos Royalties, com a destinação de recursos para educação. Assim, abre a semana pós-Sete de Setembro com a sensação de movimento e canal direto com os anseios da população em geral. Na avaliação dos palacianos, essa maioria também não apoia o vandalismo.

Prisões pelo Brasil
Um dia depois dos protestos do Sete de Setembro, pelo menos 20 pessoas continuavam presas em três capitais que tiveram manifestações tensas. Em Belo Horizonte, de 56 detidos no sábado, 15 estavam presos até ontem. Na capital fluminense, palco de conflito entre manifestantes e a Polícia Militar ainda durante o desfile cívico da Independência, 77 pessoas acabaram detidas. Delas, apenas uma ainda estava presa na noite de domingo. Já em São Paulo, que teve agências bancárias destruídas durante as mobilizações, 46 pessoas foram detidas e 14 seguiam presas.

Fonte: Correio Braziliense

As costuras de Marina

Juliana Braga

BRASÍLIA – A menos de um mês do final do prazo para o registro de seu partido, - Rede Sustentabilidade -, e com o número mínimo de diretórios já garantido, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva começa a focar em viabilizar politicamente sua candidatura à Presidência da República. Envolvida desde o início do ano com a criação da Rede, ela deixou para depois dessa etapa condicionante a costura de acordos, que já estão sendo estudados pelos seus prováveis adversários desde as eleições municipais do ano passado. Quem será o vice que comporá sua chapa, arregimentar filiados e as alianças locais com seus respectivos palanques são as principais preocupações. Apesar da correria para conseguir viabilizar a Rede, interlocutores próximos têm repetido, desde o começo, que em nenhum momento Marina pensou em plano B ou considerou a hipótese de a legenda não dar certo. Ainda assim, os esforços nesse primeiro momento foram todos concentrados na coleta e validação de assinaturas em cartórios eleitorais.

Mesmo parlamentares entusiastas da proposta admitem que Marina deixou para a última hora a preocupação com elementos importantes de uma campanha. "Nem parece que ela quer ganhar a eleição. Parece que ela ficou inebriada pelos 20% que obteve em 2010. Parece que ela gostou de ser uma pop star", analisa um sonhático, como se auto-intitulam os simpatizantes da sigla em processo de criação.A preocupação mais urgente são as alianças e os palanques locais. Apesar de a Rede ter o apoio de parlamentares que desejam se filiar, muitos estão preocupados com a viabilidade de suas candidaturas na nova legenda. É o caso, por exemplo, do deputado federal Domingos Dutra (PT-MA). Acumulando insatisfações com seu partido, ele anunciou que deixará o PT, mas agora, admite a possibilidade de procurar outra legenda para se filiar caso a Rede não se viabilize.

Interlocutores afirmam que Marina espera que, depois de criada, a própria Rede vá dando os caminhos de como devem se desenhar essas coligações. "Não tenho ideia de como vai ser o partido, ela tem deixado isso muito solto, esperando que a Rede vá se montando. Para quem não tem mandato, pode não ter nenhum problema", analisa o deputado Ricardo Tripoli (PSDB-SP). Um outro "marineiro" que não quis se identificar, no entanto, avalia que essa indecisão pode comprometer a eleição. "Como sustentar uma candidatura à Presidência sem um candidato ao governo de São Paulo, por exemplo?", questiona.

Para ele, a opção de lançar o partido depois das eleições municipais e evitar estar amarrada com coligações estaduais pode ter feito com que a Rede perdesse um tempo precioso tanto para a estruturação do partido quanto para costurar apoios. Na sua avaliação, Marina terá de apostar em apoios individuais de políticos simpáticos a ela, e tentar uma coligação "pró-Brasil" com pessoas de vários partidos.

Fonte: Estado de Minas

TSE decide registro do Solidariedade

Paulo de Tarso Lyra, Diego Abreu

Dois debates em curso no plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vão sacudir o Congresso Nacional a menos de um mês do prazo para filiação partidária dos interessados em disputar as eleições de 2014. Na terça, 10 de setembro, o TSE decide se concede o registro para o Solidariedade, legenda criada pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, e que poderá atrair até 40 deputados e três senadores. Além disso, o tribunal precisa analisar, ainda sem data para o julgamento, se partidos nascidos da fusão de legendas já existentes poderão atrair parlamentares sem que estes percam o mandato. Até a sexta-feira, 74 deputados já tinham mudado de sigla.

Pela lei da fidelidade partidária, esse benefício só vale para as novas legendas, como é o caso do Solidariedade e da Rede, partido da ex-senadora Marina Silva e que ainda tenta a confirmação de seu registro no TSE. Se dois partidos já existentes se fundirem, os deputados que migrarem para eles poderão perder o mandato. Além disso, a nova legenda não terá direito ao tempo de televisão e ao fundo partidário. “Essa regra é injusta. Por que dois partidos, que têm votos e já disputaram as eleições, têm um tratamento diferenciado de uma legenda criada apenas para tirar tempo de televisão e fundo partidário dos demais?” questionou o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).

A criação do Solidariedade é dada como certa entre seus articuladores. O partido tem diretório em 16 cidades e conseguiu validar 520 mil assinaturas — o número mínimo necessário é de 492 mil. “Se não tivesse sido contestada a tramitação em uma fase intermediária do processo, a legenda já teria sido criada”, disse o presidente interino do partido, Marcílio Duarte.

Ele não quis comentar as notícias de que Paulinho tenha negociado com alguns governadores para que esses atraíssem deputados para o novo partido e, em troca, ganhariam dois minutos no horário eleitoral do ano que vem. Procurado, Paulinho nem sequer comenta a criação da legenda. “Quem cuida disso é o Marcílio.”

Análise
O plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começou a examinar, em agosto, uma consulta formulada pelo PPS sobre a fusão de partidos. O voto favorável ao tratamento igualitário foi dado pelo ministro José Antonio Dias Toffoli e o assunto deve voltar a ser tratado nesta semana. O ministro Marco Aurélio Mello, que também votará, alerta que a jurisprudência do tribunal é no sentido de que não cabe a migração em caso de fusão. “Surge uma nova sigla, mas os partidos são os mesmos. Penso que, segundo a jurisprudência do TSE, não cabe a migração, pois o deputado corre o risco de incorrer na infidelidade partidária”, disse o ministro.

Fonte: Correio Braziliense

Contamos com Campos candidato", diz Guerra na entrevista

Por Murillo Camarotto

RECIFE - Três meses depois de cobrar publicamente mais apetite do senador Aécio Neves (PSDB-MG) na pré-campanha presidencial, o deputado federal Sérgio Guerra (PSDB-PE) passou, em maio, o comando do partido para o mineiro. Desde então, o parlamentar vem cuidando mais da saúde e acompanhando de perto as lutas do MMA, um de seus hobbies.

Diagnosticado com câncer no pulmão e na cabeça, Guerra intensificou o tratamento no Hospital Sírio-Libanês, onde foi atendido pelo oncologista Paulo Hoff, o mesmo que cuidou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. Submetido a um medicamento novo, diz estar "teoricamente curado".

Em julho, o tucano liderou a comitiva parlamentar que foi a Las Vegas (EUA) assistir à derrota do brasileiro Anderson Silva para o americano Chris Weidman. "Uma vergonha", avalia o parlamentar, que diz ter ajudado a trazer as lutas do UFC ao Brasil, com o apoio do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, cujo filho também seria fã da modalidade.

No octógono político, Sérgio Guerra atua intensamente na pré-campanha de Aécio. Há duas semanas, acompanhou o senador no jantar na casa do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). A estratégia tucana para a corrida ao Planalto, ele conta, está baseada na premissa de que Campos será candidato.

Pernambucano com passagem pelo PSB, Guerra tem ótima relação com Campos, apesar de estarem sob sua batuta os únicos deputados estaduais de oposição ao governador. O tucano, entretanto, acredita em aliança com o PSB em São Paulo, Minas, Paraná, Alagoas, Amazonas e Distrito Federal.

Em desvantagem no Nordeste, Aécio vai comandar a reunião do PSDB no dia 21, em Maceió. No programa do partido no fim do mês, o mineiro vai mostrar, in loco, problemas sociais e de infraestrutura na Paraíba e no Ceará.

De acordo com Guerra, a candidatura de Campos vai ajudar a quebrar a dicotomia petista da luta entre ricos e pobres. Ele avalia, porém, que o governador de Pernambuco terá que falar menos para o empresariado e mais para o povo. Para isso, será preciso decidir se o PSB é governo ou oposição.

Enquanto falava sobre os meandros do universo do MMA, Guerra foi convidado a mudar o tema da conversa para política. "Agora vamos falar de coisa chata, deputado?", indagou a reportagem do Valor. De pronto, o tucano respondeu: "Se não for de José Serra...".

Valor: Em fevereiro, o senhor disse que Aécio precisava intensificar o ritmo. Já está a contento?

Sérgio Guerra: Aumentou. Desde que assumiu o partido, indiretamente ele faz forte campanha a presidente. Primeiro, porque sendo presidente do partido, tem que interagir com os Estados. Segundo, porque tem que interagir com outros partidos e, terceiro, porque tem que interagir com aliados.

Valor: Nesse ritmo, ele chega bem a 2014?

Guerra: Uma ideia é não fazer nenhuma forma de apresentação acadêmica, clássica. Do tipo "eu vou e atrás vem uma multidão de políticos". Isso termina afastando o potencial candidato do povo.

Valor: O senhor participou do jantar com Aécio e o governador Eduardo Campos. Do que trataram?

Guerra: Não é novidade que conversem. Eles se falam há muito tempo.

Valor: Mas e das possíveis alianças, não falaram?

Guerra: O PSDB e o PSB não são inimigos. São partidos amigos, que se combinam em certas áreas. Mas os dois projetam disputar 2014 e querem que essa eleição seja grande, múltipla e quebre a polarização e o discurso governamental, de que eles são a favor dos pobres e os outros, contra.

Valor: O PSDB trabalha sua estratégia em um cenário com Campos candidato a presidente?

Guerra: Nós e quase todos. A candidatura de Eduardo, como a de Marina [Silva], são necessárias.

Valor: Para garantir o 2ºturno?

Guerra: Isso o povo já garantiu nas ruas, nos últimos 90 dias. Agora Eduardo tem que resolver um problema. Está fazendo discurso para empresário e precisa fazer para o povo. E discurso para o povo é, primeiro, ele resolver se é da oposição ou do governo. Mas torcemos pela candidatura, não porque pode nos levar ao 2º turno, mas para quebrar essa dicotomia. Quando eles [PT] não têm mais o que fazer, vem o Lula falar da elite contra as massas. Depois, vai jantar com os caras do Bradesco.

Valor: Aécio disse que deseja construir algo ao lado de Campos no futuro, mas o governador não mostra o mesmo entusiasmo.

Guerra: O que Aécio e Eduardo desejam uma política de boa vizinhança. Agora, os partidos, para se juntarem ou se dividirem, dependem das circunstâncias. Por ora, cada um tem seu projeto.

Valor: Concorda que eles disputam o mesmo eleitorado e o mesmo grupo de potenciais aliados?

Guerra: O jogo ainda vai ser jogado. Eduardo não divide só o nosso campo, divide o outro também. A marca dessa eleição é que vai prevalecer não mais as estruturas formais, mas a opinião pública.

Valor: Estudo que um banco americano publicou considera Campos o mais forte adversário de Dilma.

Guerra: Isso é um exercício de futurologia. O Brasil mudou radicalmente nos últimos 90 dias e não sei quantas vezes vai mudar até a eleição. Acho que Aécio e Eduardo vão disputar o campo dos que querem mudar o ambiente. Compreendo a candidatura da Marina como algo que nega o que está aí, mas até agora ela não propôs o que fazer. A negação, em um primeiro momento, tem apoio, mas depois as pessoas vão querer discutir o que fazer. Nesse momento, Aécio e Eduardo terão grande condição de crescimento e acredito mais no nosso candidato do que no do PSB.

Valor: Mas deve haver alguns palanques duplos entre PSDB e PSB.

Guerra: Muito provável. São Paulo e Minas têm muitas chances. [Os partidos] Também conversam em Alagoas, Paraná, em Minas Gerais, podem conversar em Brasília, no Amazonas...

Valor: A iminente prisão dos petistas do mensalão pode beneficiar eleitoralmente o PSDB?

Guerra: Os protestos produziram um choque de realidade e ficou claro que a popularidade de Dilma não era tão sólida. Depois, quando a população volta para casa, uma parte dos que estavam com ela voltam. Mas o governo não recuperou seus fundamentos e está cada dia mais inseguro.

Valor: O governador Geraldo Alckmin também sofreu com as manifestações. São Paulo preocupa?

Guerra: Sim. Acho que no quadro de São Paulo, é claro que o partido tem necessidade de renovação. Ponto. No mais, é um governo convincente. Os governos do PSDB fizeram um trabalho real, concreto. É evidente que é uma questão de renovação, que foi subestimada no passado e espero que não seja no futuro.

Valor: O ex-governador José Serra vem ensaiando uma saída do partido. Como está isso?

Guerra: Não estou informado. Acho que o Serra é um grande político, um homem público impecável, tem imenso prestígio no partido, mas não é o caso de ser candidato a presidente. Não é questão de achar que não tem méritos, é questão de não ser o candidato adequado para essa eleição, até porque o partido tem candidato.

Valor: Mas o sentimento no partido é de que ele fica no PSDB?

Guerra: Acho que ele tem a ver com o PSDB tanto quanto o PSDB tem a ver com ele. Não vai acontecer nada, ele vai continuar no partido.

Fonte: Valor Econômico

Mensalão o julgamento - Definição do momento da prisão divide STF

Parte do tribunal acha que será preciso esperar mais uma rodada de recursos dos condenados antes de executar penas

Procuradora pode levar pedido de prisão imediata diretamente a Joaquim Barbosa ou submetê-lo ao plenário

Com a aproximação do fim do julgamento do mensalão, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) começaram a traçar possíveis cenários para o desfecho do processo. Uma das principais dúvidas diz respeito ao momento em que os réus condenados terão de iniciar o cumprimento de suas penas na cadeia.

Em conversas reservadas, parte dos ministros admite que seria possível determinar o envio imediato dos condenados à prisão se o Supremo rejeitar os chamados embargos infringentes, recursos que poderão levar à realização de um novo julgamento.

Na quarta-feira, o STF definirá se esse tipo de recurso é válido. Os embargos infringentes são previstos para casos de condenação por placares apertados. Dos 25 condenados no mensalão, 12 conseguiram pelo menos quatro votos a favor da absolvição --de 11 possíveis-- e podem apresentar esses recursos.

Embora alguns ministros avaliem que a recusa a analisar os embargos infringentes já possa resultar em prisão imediata dos condenados, ministros como Marco Aurélio Mello afirmam que o tribunal precisa aguardar pelo menos mais uma rodada de apresentação e julgamento de recursos antes de determinar o cumprimento das penas.

Há precedentes para os dois casos. Em 2008, o Supremo mandou para a prisão um condenado por assassinato depois de analisar o primeiro recurso que ele apresentou contra sua condenação.

Mais recentemente, no caso do deputado federal Natan Donadon (ex-PMDB-RO), o STF aguardou a apresentação de um segundo recurso contra a condenação antes de determinar o envio do parlamentar ao presídio.

Posição decisiva nesta etapa do processo caberá à Procuradoria-Geral da República. Como o presidente do STF, Joaquim Barbosa, tem dito a interlocutores que não pretende abrir a discussão sobre a prisão dos condenados, caberá à procuradora Helenita Acioli provocar o tribunal.

Helenita, que exerce interinamente a chefia do Ministério Público Federal porque o novo procurador-geral, Rodrigo Janot, ainda não tomou posse, já avisou que pretende renovar o pedido de prisão imediata se os embargos infringentes forem recusados.

Ela não revelou, contudo, se submeterá o pedido ao plenário do Supremo, logo após os debates sobre os embargos infringentes, ou se seguirá o exemplo de seu antecessor, Roberto Gurgel, que no ano passado, após o fim da primeira fase do julgamento, fez o pedido de prisão diretamente ao ministro Joaquim Barbosa, que é o relator do caso.

Questionada sobre a estratégia que ela pretende usar, a assessoria de Acioli disse que a procuradora ainda está pensando em como agir.

Num dos cenários traçados, um ministro ouvido pela Folha disse acreditar na possibilidade de a procuradora esperar o fim do julgamento e repetir a estratégia de Gurgel. Nesse caso, Barbosa poderia decidir sozinho a prisão imediata dos réus e depois submeter a determinação aos colegas no plenário.

Se o pedido de prisão for submetido ao plenário primeiro, a expectativa dos ministros é de que haverá um debate acalorado sobre o tema. Se Barbosa decidir as prisões sozinho, ministros dispostos a votar pela liberação dos condenados presos poderiam ficar constrangidos.

Há ainda a possibilidade de a corte admitir julgar os embargos infringentes, o que adiaria o desfecho do processo por mais um ano pelo menos, segundo os ministros.

Fonte: Folha de S. Paulo

PPS diz que irá ao TSE contra pronunciamento de Dilma

Era para ser um republicano em uma data histórica que se transformou em palanque eleitoral’, diz presidente do partido, Roberto Freire

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA - O PPS anunciou que vai ingressar junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com representação acusando a presidente Dilma Rousseff de uso eleitoral da cadeia de rádio e TV convocada na última sexta-feira, quando fez um pronunciamento sobre o Sete de Setembro. A informação é de nota oficial do PPS. O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), criticou o tom utilizado por Dilma no pronunciamento. Na sexta-feira, o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, também anunciou que o seu partido tomará a mesma atitude.

- Era para ser um republicano em uma data histórica que se transformou em palanque eleitoral - disse Freire, ao justificar a medida judicial.

O parlamentar adiantou que a ação pedirá o pagamento de multa, conforme prevê a legislação. O partido alegará que a presidente fez campanha eleitoral antecipada para 2014.

No pronunciamento, Dilma fez destacou o programa Mais Médicos e os “pactos” que propôs após as manifestações de junho, quando sua popularidade despencou. O PPS entrou com outra representação contra pronunciamentos eleitoreiros da presidente, no 1º de Maio deste ano, Dia do Trabalhador.

- O que ocorre neste governo é a continuação do que ocorria na gestão de Lula: uma perda absoluta de valores republicanos e democráticos. Foi um pronunciamento eleitoreiro, como o que ela fez por ocasião do 1º de Maio. Esperamos mais da Justiça desta vez, porque sempre que se deixa um ato ilegal impune ele inspira mais ilegalidades - disse Freire, na nota do PPS.


Fonte: O Globo

Entrevista - Fernando Gabeira: O Estado se tornou uma extensão do PT

Afastado da política, o jornalista e escritor diz que ainda se considera de esquerda, critica os governos petistas e não vê mais o socialismo como alternativa viável

Por José Fucs

Ex-guerrilheiro, ex-deputado federal, jornalista e escritor, Fernando Gabeira já se reinventou várias vezes. Aos 72 anos, decidiu deixar a política - embora continue filiado ao PV e ainda dê palestras ocasionais para militantes do partido - e voltar ao jornalismo. Em seus artigos, publicados quinzenalmente no jornal O Estado de S. Paulo, tem batido no PT, no governo e no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Gabeira lançará um programa de reportagens na GloboNews, com estreia prevista para domingo dia 8. Nesta entrevista a ÉPOCA, ele afirma que o socialismo deixou de ser uma opção viável de poder e critica o aparelhamento do Estado pelo PT.

ÉPOCA - Ao longo de sua trajetória política, o senhor passou pela luta armada, pelo PT e pelo PV. Hoje tem sido um crítico do PT, do governo e da esquerda. O que aconteceu?

Fernando Gabeira - O que mais me incomoda é a sensação de que você é detentor de uma verdade importantíssima e de que todos os seus atos devem ser relevados por isso. O que me distingue dessa esquerda é que, para mim, os fins não justificam os meios. É preciso trabalhar dentro dos critérios democráticos. Também me incomoda que, uma vez no poder, eles se sentem os donos do Estado. O Estado brasileiro passou a ser uma extensão do PT. A política externa brasileira é do partido, e não nacional. Isso também me incomoda muito. O Brasil se apresenta ao mundo com as limitações mentais, ideológicas, do PT. Tenho vergonha de um presidente da República, como o Lula, que diz que a oposição no Irã parece uma torcida de futebol. Tenho vergonha de um presidente que diz que os presos políticos em Cuba são semelhantes aos presos comuns no Brasil. Ao se atrelar a alguns países da América do Sul, abandonando a possibilidade de relações com o resto do mundo, eles prestam um desserviço. Não que a integração regional não seja importante, mas o Brasil precisa se abrir também para outros centros, com uma capacidade tecnológica maior. Você não pode associar seu destino a esse grupo de países, como eles fizeram, por causas ideológicas.

ÉPOCA - Como o senhor analisa os 12 anos do PT no poder, com Lula e Diima, do ponto de vista político?

Gabeira - Politicamente, o grande problema do PT foi ter prometido uma renovação ética no Brasil - e, ao chegar ao governo, aliar-se aos políticos que eles criticavam, recorrer aos mesmos métodos usados antes e incorporar outros igualmente condenáveis. Nesse aspecto, o PT significou algo muito negativo para o Brasil, porque, no fundo, dizia que quem propõe mudar ou traz a esperança está apenas enganando a população, e que os artífices da esperança são os mesmos que construirão uma nova armadilha. Isso acaba se transformando em aumento do voto nulo e do voto em branco. Leva a um rebaixamento da legitimidade do poder constituído.

ÉPOCA - Em sua opinião, a condenação dos réus no processo do rnensalão poderá levar a uma mudança na forma de fazer política no Brasil?

Gabeira - Considero a condenação dos acusados no mensalão uma grande advertência. Primeiro, porque ataca a corrupção política. Segundo, porque mostra ao homem comum que o acesso à Justiça não é impossível. Eles gastaram mais de R$ 60 milhões com honorários de advogados e perderam. Isso traz uma expectativa de que haja mais cuidado na prática política e de que a Justiça seja feita com mais frequência. Agora, pelo que conheço do Congresso, jamais haverá mudança que não seja imposta. Eles só mudarão forçados pelo instinto de sobrevivência. Existe no Brasil uma tendência de o eleitor esquecer em quem votou. Esquecendo em quem votou, você não tem a quem cobrar. A população precisa ter o nível de vigilância e de cobrança permanente que os americanos têm em relação a seus congressistas.

ÉPOCA - Até que ponto as manifestações de junho devem contribuir para essa mudança?

Gabeira - Essas manifestações foram muito positivas. Elas desfizeram a sensação de que tudo ia bem, de que vivíamos numa prosperidade e estávamos supersatisfeitos. Mostraram que a população está insatisfeita com os serviços que recebe pelos impostos que paga, com a corrupção e com o governo. Essa demonstração alterou muito o quadro, inclusive a psicologia e o comportamento dos próprios políticos. Pelo menos, aquela arrogância, aquela distância em relação à população, desapareceu. Isso tudo constituiu algo novo e bom no Brasil. Como todas as manifestações de massa, há um momento em que elas refluem. As pessoas não podem ficar permanentemente na rua, a não ser que haja um objetivo claro, que você esteja prestes a derrubar um governo. Não era esse o caso, uma vez que, no Brasil, vivemos numa democracia, e os governos se sucedem por eleições.

ÉPOCA - Como o senhor analisa a violência que tomou conta das manifestações?

Gabeira - Desde o princípio, houve atos de violência, contrapostos pela imensa maioria que participava da manifestação de forma pacífica. Uma vez que os grupos que se manifestavam pacificamente refluíram, sobrou o território para a violência. Hoje, você continua vendo as manifestações como se fossem uma continuidade daquelas que aconteceram em junho, mas não há vínculo real entre esse pessoal que está nas ruas e as multidões que, dois meses atrás, saíram às ruas das principais cidades do país.

ÉPOCA - Durante as manifestações de junho, surgiu o fenômeno da Mídia Ninja. Eles afirmam que a imprensa profissional é parcial. Como o senhor vê essa questão?

Gabeira - Se examinar friamente as manifestações, todos os temas levantados ali nasceram do trabalho da grande imprensa. Queiram ou não, as redes sociais metabolizam o material que vem da grande imprensa. Dentro de suas limitações, a grande imprensa tem de estar atenta a tudo. Se houver alguma coisa nas redes sociais para ela metabolizar, ela metaboliza também. Não tem espaço proibido. Então, não é justo dizer que a grande imprensa manipulou as informações sobre o que aconteceu nesse período. A grande imprensa denunciou insistentemente os fatos que indignaram as pessoas.

ÉPOCA - Parte do PT e outros grupos de esquerda têm uma vi-
são semelhante da imprensa profissional e defendem o "controle social da mídia". O que o senhor pensa disso?

Gabeira - Na Inglaterra, a partir da experiência dos tabloides, que romperam certos limites e invadiram a privacidade de autoridades e de cidadãos comuns para obter informações, caminhou-se no sentido de equacionar a questão. Só que lá quem comandou o processo foi um governo conservador, nitidamente desinteressado em controlar a imprensa. No Brasil, todas as manifestações em defesa do controle social da mídia surgem do PT, num contexto latino-americano em que os controles são, na verdade, tentativas de censura - com o uso de instrumentos clássicos da esquerda, chamados de "sociais", mas que são aparelhados pela própria esquerda. Quando o PT diz "é preciso o controle social da mídia", está dizendo "é preciso o controle social da mídia, sobretudo o controle social por parte de entidades que nós controlamos".

ÉPOCA - Hoje, 25 anos depois da queda do Muro de Berlim, o socialismo ainda faz algum sentido? O capitalismo venceu?

Gabeira - Não há dúvida de que o capitalismo predominou e o socialismo deixou de ser uma alternativa desejável. Isso não significa que algumas ideias de esquerda e de direita não continuem presentes no universo político. Certas ideias de que as pessoas são culpadas pela própria pobreza continuam existindo. Certas ideias de que as pessoas precisam ser protegidas na velhice, ter uma aposentadoria digna, também continuam aí. Hoje, não se fala mais tanto em capitalismo versus socialismo. Fala-se mais numa forma de modernizar e democratizar o capitalismo.

ÉPOCA — Vários de seus artigos recentes geraram críticas duras da esquerda. Até de "reacionário" já o chamaram. O senhor ainda se considera alguém de esquerda?

Gabeira - Considero-me uma pessoa de esquerda. Não me importo muito com as críticas, vejo como algo normal na política. Pessoas que admiro muito, como o poeta Octavio Paz, também foram chamadas de reacionárias em vários contextos. Às vezes, também chamo o pessoal do PT de reacionário, porque, no meu entender, tudo o que detém o avanço é um gesto reacionário. Tudo depende do ponto de vista.

ÉPOCA - O senhor ainda acredita na transformação do homem, no surgimento de um "novo homem"?

Gabeira - Não acredito mais nisso. Não acredito em "novo homem". Aliás, essa coisa de criar o "novo homem" serviu para muita repressão. Os homens que não cabiam nesse modelo costumavam ser fuzilados. Entre os obstáculos para o Brasil atual está uma série de ideias e de comportamentos que seguram o país. Existe uma vontade normal de, pelo menos, sintonizar o país com o que ele tem de mais moderno. Hoje, a província da política não está sintonizada com o que o Brasil tem de mais moderno. Acredito hoje em ajustar esse polos.

Fonte: Revista Época

Agronegócio – Aécio Neves

Semana passada vi de perto, dessa vez na cidade de Sorriso (MT) --considerada a capital nacional do agronegócio e nosso maior produtor individual de soja--, exemplos práticos das contradições que comprometem o desempenho da nossa economia.

Ao mesmo tempo em que nos orgulham os ganhos formidáveis de produtividade no campo, é desoladora a descrença dos produtores na capacidade do governo federal de prover investimentos mínimos, em logística e em infraestrutura, que garantam menores custos e maior competitividade no momento de escoar a produção.

A frustração é de tal ordem que ouvi de muitos deles o desejo de plantar menos, já na próxima safra, por não haver sequer condições adequadas de armazenagem.

Com o crescimento do PIB projetado ao redor de apenas 2% ao ano, o setor rural resiste de forma heroica e produz resultados que devem ser reconhecidos e saudados pelos brasileiros: no segundo trimestre, em comparação com o primeiro, o PIB agropecuário cresceu mais que o dobro do PIB. O crescimento foi de 14,7% no primeiro semestre, se comparado com o mesmo período de 2012, enquanto o setor de serviços cresceu 2,1% e a indústria, 0,8%.

A grande performance reflete as transformações ocorridas quando a estabilização da economia decretou o fim do uso especulativo da terra e inaugurou a fase da busca pela eficiência na produção.

É notável, desde então, a crescente utilização de novas tecnologias e métodos de manejo, tornando produtivo e eficiente o setor, da porteira para dentro.

As dificuldades a serem superadas estão da porteira para fora e são as mesmas que outros setores enfrentam. O Programa de Investimento em Logística acaba de completar um ano sem realizar nem sequer um leilão para obras em rodovias, ferrovias e portos.

Esse é o terceiro ano consecutivo em que o Brasil cai no Índice de Competitividade Mundial, divulgado pelo Institute for Management Development: em 2010, ocupávamos o 38º lugar; em 2011, o 44º; em 2012, 46º. Na edição 2013, o Brasil caiu mais cinco posições --está em 51º lugar entre 60 países.

O resultado são montanhas de grãos ao ar livre (principalmente soja e milho) por falta de armazenagem; quilométricas filas de carretas para chegar aos portos; escassez de ferrovias, além de navios e contêineres parados nos portos, multiplicando custos e reduzindo competitividade.

É uma realidade que penaliza a economia como um todo e atinge intensamente o setor do agronegócio, cuja cadeia produtiva contribui com 22% na formação do PIB nacional.

A ausência de planejamento, o improviso e a prioridade dada ao marketing têm condenado os desafios do Brasil real ao esquecimento.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

Metástases - Paulo Brossard*

Depois dos episódios gerados pela intemperança bolivariana nas relações com o nosso país, que, aliás, as vem suportando com insensibilidade córnea, assim como por sua benquerença em relação à prática agressiva, levou o governo ao silêncio. Se esta foi a reação na esfera oficial, fora dela não desapareceu o desconforto. Deste, pode ser apontado programa que teve marcante repercussão dada a qualificação de seus participantes. Trata-se do programa Painel, semanalmente produzido sob a direção de William Waack, profissional de larga experiência.

A ideia central não poderia ser mais objetiva acerca do que aconteceu com o Itamaraty e a política externa do Brasil nos últimos anos. Da conversação participavam o embaixador Rubens Antônio Barbosa, que encerrou sua atuação diplomática à frente das duas mais importantes embaixadas, em Londres e em Washington, o professor Marco Antônio Villa e o cientista Guilherme Casarões. O embaixador começou dizendo que não ocorrera mudança na política geral, que continuava voltada aos mesmos objetivos, mas que ocorreram certas preferências antes inexistentes, de inspiração ideológica e, o que é mais, por vezes contrárias aos interesses brasileiros, o que é muito grave; exemplificou com o procedimento dado ao Paraguai, quando por muitas razões merece um tratamento especial, fatores antigos e atuais como os milhões de brasileiros que lá vivem e trabalham, a necessária energia elétrica gerada em Itaipu, e assim por diante; no entanto, o Brasil contribuiu para a suspensão paraguaia do Mercosul, sem uma justificativa e contra os interesses do Brasil; não é tudo, a Bolívia tem feito poucas e boas em desfavor do Brasil e, não obstante, não lhe cessam as blandícias por parte do nosso governo, lembrou a brutal expulsão da Petrobras e suas instalações, a revogação do acordo de fornecimento de gás e o consequente agravamento do preço a níveis quase insuportáveis, o incidente em avião do Ministério da Defesa revistado arbitrariamente, o afastamento de três embaixadores de postos importantes em solidariedade à Bolívia, em razão da revista em avião de Evo na Europa, e, por fim, a recusa de salvo-conduto ao senador boliviano asilado pelo Brasil, descumprindo cláusula expressa na disciplina internacional do asilo e que veio a motivar o de
sencontro atual. Isto sem falar na reiterada submissão à Argentina, como agora está ocorrendo novamente.

E, para encerrar, o sumaríssimo afastamento do embaixador a quem fora confiada a chefia do Itamaraty, em horas, coisa jamais vista, sem precedente. Teria sido a derradeira mesura de homenagem ao governante boliviano. Tudo era consequência de uma novidade inserida na estrutura da instituição, quebrando mais de século de observância, a política externa é nacional, e não partidária. Por uma espécie de metástase que se propaga, a deformação tem se ampliado a outros setores, como a Petrobras e o Banco do Brasil, e de outros de maior expressão transformados em sucursal de um partido.

Para encerrar, recorro a que disse o professor Marco Antônio Villa, o Itamaraty foi atingido como instituição e parece não saber o que quer.

*Jurista, ministro aposentado do STF

Fonte: Zero Hora (RS)

O que desejam os sustentáveis? - Renato Janine Ribeiro

Li com atenção o programa do Rede Sustentabilidade. Um partido que nasce com ênfase ética deve ter o manifesto levado a sério. Uma coisa é seguir as ações de Marina Silva e dos líderes do Rede; outra é examinar seu programa. Com toda a simpatia que sinto pelo Rede - só o critiquei por querer mais dele, não menos -, isso me preocupou. Não tenho certeza do que desejam. Provavelmente querem eleger Marina presidente da República. Mas me parece que não priorizam uma bancada parlamentar. Nem estou seguro de que pretendam, tão cedo, governar. Então, o que desejam?

O Rede tem uma linguagem elevada. Diz que quer mudar o mundo. Mas, quando entra no concreto, começa pela economia e segue pela política institucional. É o que ele mais elabora. Mas por que principia pelos meios e não pelos fins? Salvo para alguns economistas e políticos, economia e política são meios. O fim deve ser a mudança do modelo de sociedade, que não é um tema essencialmente econômico. O Rede deveria dar peso concreto, em seus dez pontos, ao que elogia no mundo da vida. Este mundo da vida, hoje, é o de maior liberdade pessoal na história. Podemos mudar de quase tudo, atualmente - de emprego, profissão, cidade ou país, estado civil, religião; alguns, até de sexo. Essa liberdade é preciosa. Cada vez menos gente tem de fazer ou ser o que não quer. Mas ela debilita os laços sociais - o que exige que sejam recriados: um poema de Maiakovski, que Maria Bethânia gravou, falava em reinventar a família. Estes assuntos parecem mais da vida privada do que da política, mas é Marina quem cita, e bem, Freud e Lacan. Só ela, dos candidatos, faz isso.

Primeiro grande ponto: as propostas de reforma política são falhas. Apenas somam boas intenções. Quer candidaturas independentes, mas não diz que para tanto há que extinguir o voto proporcional, que garante a presença de todas as ideias na Câmara. Mas é justamente o proporcional que dá lugar no Congresso aos verdes e o dará ao Rede. Ou será que este gostaria de não ter nenhum deputado? Será que aposta só na Presidência? Além disso, a proposta de abolir a reeleição para o Executivo, que teria mandatos mais longos, faria um presidente eleito num ano conviver com uma Câmara eleita em outro - o que é confusão à vista... A vantagem da reeleição, dizia Thomas Jefferson há dois séculos, é dar um mandato de oito anos com recall no meio. Cinco ou seis anos são demais para um mau presidente, pouco para um bom. E usa-se a máquina com ou sem reeleição.

Programa ignora ciência e cultura feitas no país

Segundo ponto: a falta de menção ao pensamento brasileiro na cultura e na ciência. O substantivo "cultura" só aparece em sentido figurado (cultura da corrupção, cultura da paz). O programa não diz que a cultura enriquece nosso povo. Nem fala na tecnologia aqui criada. Não usa as palavras ciência ou universidade. Embora o Rede tenha membros cientistas, apresenta o Brasil como objeto a ser conhecido, em sua rica diversidade, não como um sujeito que conhece e utiliza esta riqueza. Nosso país aparece só como oportunidade de conhecimento e de ação. O Rede realça nossos biomas mas não valoriza nossas universidades, importante conquista que são. O desenvolvimento científico é referido como consequência futura, não como causa presente.

Como pesquisador, sinto falta. Na divisão internacional do trabalho, voltaríamos a ser natureza sem cultura? Machado de Assis uma vez mostrou o Rio a um estrangeiro. Mas, no fim, o outro olhou para a baía de Guanabara e disse: bonita mesmo é essa natureza! Machado não gostou: comparado com a natureza, tudo o que fizemos de nada vale? É como apagar do mapa o agente humano.

Terceiro: vejo que o programa avançou em relação ao de 2010, que não salientava questões da miséria e pobreza. Agora, já na segunda linha aponta a desigualdade social como um de nossos grandes problemas. Nas dez propostas, fala em "erradicação da pobreza". Isso é bom. Mas seu discurso de economistas liberais prevalece sobre o dos movimentos sociais. Se não se ligar a este último, a causa sustentável carecerá de densidade humana. O programa parece recear dizer o que possa ser interpretado como sendo de esquerda ou mesmo de teor social. Ao se falar em desigualdade, em moradia, em transporte, sempre está presente o conflito social, mas o texto não o enfrenta. Ou, talvez, o Rede tenha mais a dizer à direita esclarecida do que à esquerda esclarecida, duas posições que respeito e que merecem crescer, para melhorar o diálogo e o debate em nossa política.

É claro que há pontos positivos, como a preocupação ecológica e seu interesse pela linguagem dos jovens e a do futuro. A "nova política" e o uso das redes para um relacionamento mais democrático e horizontal têm grande valor. Aliás, segundo me disse um líder do Rede, o manifesto seria um texto ainda em construção. Penso que deveria ser mais debatido, não só pelos sustentáveis, mas pela sociedade.

Até porque, caso em 2014 se embole a disputa pelo papel de antagonista do PT, Marina pode chegar à final - e até vencer. Mas não creio que essa proposta, que é de lenta difusão e absorção, sustente um governo tão logo. Vencendo prematuramente, fracassará no Planalto. Projetos de mudança precisam amadurecer. Não perdem em demorar. A situação é parecida com a do PT nos seus primeiros 20 anos. Assim, se o Rede ganhar em 2014, terá dificuldades. Não terá tido tempo de crescer, de acertar os compassos. Mas o programa precisaria valorizar mais a cultura, a ciência, a pesquisa brasileira e, se quiser, abrir maior espaço para as causas sociais. É o que deveríamos esperar de um partido que pode ter futuro.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo

Fonte: Valor Econômico

Cenários espelhados - Denise Rothenburg

O quadro pré-eleitoral de São Paulo é um dos mais claros até o momento e tem várias características muito semelhantes ao nacional, com quatro pré-candidatos intrincados num jogo de tirar votos e aliados uns dos outros

Todos os políticos acompanham atentamente o que se sucede na política paulista nos últimos meses. E antes que os paulistas fiquem “se achando”, essa atenção toda ocorre porque o cenário pré-eleitoral por lá atualmente é o nacional visto pelo espelho. No comando do país, a presidente Dilma Rousseff está certa de que enfrentará um segundo turno. Tal e qual o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, que já prepara seu jogo para 2014 pensando em dois rounds no ano que vem. E, até aqui, essas duas eleições terão quatro candidatos. No Brasil, despontam Dilma, o senador Aécio Neves, do PSDB; a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, da Rede; e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pelo PSB. Em São Paulo, há Geraldo Alckmin, do PSDB; o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, do PT; o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, do PMDB; e o ex-prefeito Gilberto Kassab, pelo PSD.

No plano dos adversários de Dilma e Alckmin, as situações são parecidas. O presidente do PSDB, Aécio Neves, explora o antipetismo da mesma forma que o ministro Alexandre Padilha tenta explorar um sentimento antitucano, ou seja, aquela parcela dos paulistas que não vota no PSDB e quase levou Celso Russomano ao segundo turno na eleição para prefeito da capital.

Tanto em São Paulo quanto no plano nacional, essa fase da disputa apresenta personagens meio fora da curvatura normal da política bem situados nas pesquisas e que podem surpreender lá na frente. A ex-ministra Marina Silva surge no plano nacional da mesma forma que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, do PMDB, aparece no cenário paulista. Guardadas as devidas proporções, são opções do eleitorado fora do veio tradicional, meio “alternativos” e prontos para atrapalhar os planos de quem é considerado especialista na articulação.

Marina e Skaf hoje tiram fôlego e reduzem o potencial de atores que já apresentaram grande capacidade de articulação política e têm um pé no governo federal. Na cena nacional, esse lugar é ocupado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que também preside o PSB. E, em São Paulo, quem está nessa posição é o ex-prefeito da capital Gilberto Kassab, habilidoso a ponto de ter transformado o que era para ser um partido pequeno em uma bancada expressiva na Câmara dos Deputados. O PSD é o quarto maior partido da Casa, com 45 deputados.

Kassab foi criado à sombra do PSDB de José Serra, da mesma forma que Eduardo Campos cresceu politicamente sob as asas do PT de Lula. Hoje, entretanto, ambos não têm as melhores relações com os sucessores de Serra e de Lula. Eduardo não é melhor amigo de Dilma da mesma forma que Kassab não vive uma relação das mais amigáveis com Geraldo Alckmin. E, além de precisar de alguns votos da massa que elegeu Dilma e Alckmin, tanto Eduardo quanto Kassab têm de “engolir” outros adversários para ter alguma chance real.

Marina hoje tira votos de Eduardo Campos, assim como Paulo Skaf tira votos de Gilberto Kassab. Entre os estrategistas de Eduardo Campos e de Gilberto Kassab há quem diga que para terem chances reais Eduardo precisa engolir Marina e ainda tirar alguns votos de Aécio Neves, quem tem hoje a melhor e maior estrutura eleitoral para concorrer contra a presidente Dilma. No plano estadual, Kassab precisa ultrapassar Skaf e ainda tirar votos do petista Alexandre Padilha. Não por acaso, o ex-prefeito e atual presidente do PSD avisa desde já que apoiará Dilma na sucessão presidencial e que sua dívida com Serra está quitada. Kassab tem ciência de que alguns eleitores do PT em São Paulo serão fundamentais para seus projetos eleitorais e busca a neutralidade da presidente na disputa estadual.

Eduardo Campos, por sua vez, também busca votos de simpatizantes de Lula desiludidos com Dilma. Por isso, sempre que se refere ao governo exalta os ganhos obtidos pelo país no período pós-redemocratização. Mas alerta que é preciso fazer mais, centrando as crítica ao período da atual presidente. Trabalha ainda no sentido de tirar apoiadores do PT e de Aécio Neves, embora tenha relações cordiais com o presidente tucano. Na Bahia, por exemplo, Eduardo espera ter o apoio do PMDB de Geddel Vieira Lima, que já deu sinais de aproximação. A propaganda peemedebista em Salvador exibida recentemente apresentava que a Bahia não merecia o governo que tinha (de Jaques Wagner, do PT) e falava maravilhas da gestão de Pernambuco.

Além de todos esses movimentos, os pré-candidatos não tiram os olhos de São Paulo por um outro motivo: José Serra. Seus amigos dizem que um dia ele se olha no espelho e diz que fica no PSDB. No outro, a mesma imagem revela a decisão pela partida. Ainda bem que 5 de outubro, o prazo final para filiação de candidatos em 2014, está logo ali.

Fonte: Correio Braziliense

A favor de quem? - Valdo Cruz

Cada um é livre para fazer aquilo que considera mais adequado, mas quando se está, de fato, a serviço de uma causa, é bom refletir um pouco sobre o resultado e a eficácia de suas ações.

Se o desejo é, realmente, chacoalhar a classe política e forçá-la a sair da zona de conforto, os protestos de Sete de Setembro mostraram que os manifestantes se perderam no caminho desde junho.

Faltou gente na rua, sobrou baderna. A fantasia junina deu lugar à raiva e ao medo. Mistura que pode até estimular arruaceiros, mas serve exatamente à classe política que eles dizem querer combater.

Seguindo nesta toada, as ruas ficarão cada vez mais vazias. E o coro em defesa da repressão aos baderneiros só aumentará. De novo, algo que só presta aos donos transitórios de palácios, acostumados a este tipo de jogo, no qual se perpetuam.

Talvez por isso seja o momento de tirar as máscaras dos mascarados. Não de todos, mas de alguns, que se intitulam defensores de causas genéricas e estão mais preocupados em causar em causa própria.

Por sinal, o uso da máscara nos protestos, que de início serviu para animar o conjunto de alegorias e fantasias dos manifestantes, tornou-se símbolo do medo e do desejo de depredar camufladamente.

Defendê-las pode ter um sentido carnavalesco e descompromissado, mas, neste momento, serve aos que já não estão mais servindo a um movimento que tendia a ser higienizador da nossa velha classe política.

Desde muito a máscara serviu, na maior parte das vezes, aos que não têm coragem de enfrentar a luz do dia. Precisam se esconder para dar sequência a seus atos. Nada a ver com aquele sentimento de heróis mascarados dos quadrinhos.

O fato é que os nossos mascarados de hoje estão fazendo um jogo que acaba interessando aqueles que, pretensamente, seriam seus alvos. Fica a pergunta: exatamente a favor de quem eles estão?

Fonte: Folha de S. Paulo

Emenda Black Bloc - José Roberto de Toledo

Os políticos sobreviveram ao 7 de Setembro. E até ganharam mais independência. Sem gritar, apostaram na surdina que os protestos do Dia da Independência não alcançariam o mesmo nível da maré humana de junho. De fato, não chegaram nem perto. Foi uma onda violenta, mas sem volume.

Do ponto de vista da opinião pública, os protestos viraram um estorvo provocado por um punhado de indignados mascarados. São cada vez mais violentos e reprimidos cada vez com mais violência pela polícia. Prisões se multiplicam, mas a reação aos excessos policiais não é ampla nem solidária ao ponto de inibir a ação da tropa de choque. A repressão está ganhando essa.

A primeira manifestação em massa da classe média em duas décadas foi sequestrada pelos Black Blocs e assemelhados. Perdeu a força de uma ação coletiva. As imagens de bombas, correrias e apedrejamentos transmitidas sem cortes pela internet vão se repetindo até perderem a novidade, o interesse e a audiência.


Os anarquistas são bons de tática, mas péssimos de estratégia. Ao radicalizarem suas ações, capturaram o movimento e alienaram as outras facções que davam volume às manifestações. Perderam amassa que os protegia. Isolados, são alvo fácil da polícia.

Salvo aparecer um mártir, o ciclo das manifestações tende a se fechar da mesma maneira que começou. Com a narrativa dos protestos enfatizando cada vez mais a violência. Em vez de baderneiros, agora eles são identificados como Black Blocs - mesmo quando não são. Mudou a palavra, não o significado.

Em meio à fumaça, repórteres são hostilizados por manifestantes e agredidos por policiais. Quando o narrador é vítima, seu relato ganha ênfase na descrição da violência. Tudo isso afasta os pacatos marchadores de junho do palco dos protestos.

Perde-se a rua - mesmo que temporariamente - como catalisadora de uma mobilização ampla da sociedade. Sem ela, perdem força as reivindicações por reformas da estrutura de poder. Os políticos, com raras exceções, estão em dívida com os Black Blocs.

A ressaca. À medida que a onda reflui, os efeitos da ressaca se tomam visíveis. Pichações e vitrines quebradas são de menos. O maior estrago ainda está por vir. É que alguns dos alvos dos protestos saíram deles mais poderosos do que entraram - e sem tomar pedrada nem respirar gás lacrimogêneo. Congresso e partidos estão mais fortes e, possivelmente, endinheirados.

No meio da confusão que virou a base governista depois que a popularidade de Dilma Rousseff despencou, deputados aprovaram o Orçamento impositivo. É um nome pomposo para garantir a destinação de até R$ 7 bilhões por ano aos seus currais eleitorais - além, é claro, de comprar novos.

Se passar no Senado, a proposta vai criar, na prática, 594 Casas da Moeda. Os 513 deputados e 81 senadores vão dispor de R$ 12 milhões cada um. O resultado será o aumento da desigualdade regional e a perpetuação, no poder, de quem imprime esse dinheiro.

Levantamento de Daniel Bramatti e Diego Rabatone, do Estadão Dados, mostra que, atualmente, menos da metade dos municípios brasileiros recebe recursos de emendas parlamentares. Só recebem aqueles lugares onde o deputado eleito é bem votado ou onde ele pretende cooptar o prefeito para se reeleger. Os outros 51% de municípios não veem um tostão sequer.

Com o Orçamento impositivo a desigualdade vai piorar, porque o valor destinado pelos parlamentares vai aumentar ridiculamente. Uma minoria vai receber muito e muitos não receberão nada. Pior, a força de quem já está no poder será ainda maior do que a dos aspirantes ao cargo, diminuindo a renovação do Congresso.

Por agradecimento, os parlamentares deveriam mandar uma emendinha para ajudar o movimento Black Bloc.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Redes sociais: revolução democrática e fascismo eletrônico - Marcus Pestana

O desenvolvimento das sociedades modernas é marcado pela introdução contínua de inovações tecnológicas. As grandes navegações, a máquina a vapor, as ferrovias, a energia elétrica, o aço, o motor a combustão, a química produziram saltos no capitalismo.

A inovação tecnológica não carrega, em si, conteúdo ético. Einstein não pensou na bomba atômica quando produziu verdadeira revolução na física. Santos Dumont se abateu quando assistiu aviões servindo aos bombardeios na Primeira Grande Guerra Mundial.

O desenvolvimento da computação e o surgimento da rede mundial de computadores patrocinaram a transição para o mundo contemporâneo pós-moderno. A internet é, sem dúvida, um enorme avanço, uma revolução. A globalização financeira, o e-commerce, a transmissão de dados, a comunicação online transformaram de forma definitiva e radical a sociedade.

A internet é neutra do ponto de vista ético. A questão é o seu uso. A internet serve para aproximar pessoas, patrocina campanhas humanitárias, viabiliza a democracia eletrônica. Mas pode também servir ao crime organizado e à pedofilia.As redes sociais são filhas da internet e vieram para ficar. Geram uma mudança qualitativa nas relações humanas e abrem possibilidades enormes para a radicalização da democracia. A eleição de Zapatero na Espanha, em 2004, a Primavera Árabe e as mobilizações de junho no Brasil são demonstrações vivas da força das redes sociais na democracia.

As redes sociais são instrumento importante para trabalharmos a transparência na vida pública, democratizarmos as informações, ativarmos discussões coletivas e ouvirmos a sociedade. Mas, é fundamental estarmos atentos ao nascimento de um autoritarismo cibernético, um “fascismo eletrônico”, no qual impera a irracionalidade, a agressão gratuita, o desrespeito, a mentira, a calúnia. Escondidos no biombo de perfis fakes ou no anonimato inconsequente do mundo virtual, a suposta coragem traduz a covardia de quem não quer se expor à luz do dia e disputar democraticamente posições.

Recentemente sofri “assédio moral” pelas redes em dois episódios. Na discussão interna da Câmara, que antieticamente foi vazada, sobre a questão do Ecad e dos direitos autorais, quando traduzia argumentos alternativos vindos de artistas como Fernando Brant, Danilo Caymmi, João Bosco, Aldir Blanc, Paulinho da Viola, Joyce, entre outros. Também na votação da cassação não consumada do deputado Donadon, condenado e preso – obviamente apoiaria a perda de seu mandato. Na ocasião, me ausentei em função da trágica morte de meu cunhado, exigindo minha presença ao lado de minha família.

Debate livre e aberto, troca de opiniões, exercício de cidadania e participação: essa é a face positiva das redes sociais. Intimidação, grosseria, mentira, calúnia, irresponsabilidade, xingamento despropositado é o que a nossa experiência democrática tem que arquivar na “lata do lixo da história”.

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB em Minas

Fonte: O Tempo (MG)

Painel - Vera Magalhães

Um caso de cada vez
Luís Roberto Barroso não deve levar a julgamento nesta semana o mandado de segurança no qual decidiu suspender a votação da Câmara que manteve o mandato de Natan Donadon (ex-PMDB-RO). "Assim que a Câmara preste informações e o Ministério Público se manifeste, eu levarei na semana seguinte", diz o ministro do STF. Ele explica que a técnica correta em direito é "decidir um caso de cada vez" e que sua decisão se refere ao regime fechado, e não a outros regimes prisionais.

Me dê motivo O ministro argumenta que uma pessoa presa em regime fechado por mais tempo que o restante da duração de seu mandato "tem impossibilidade jurídica de conservá-lo". "Neste caso, não cabe nenhuma decisão política da Câmara."

Sem inovação Ministros do STF contrários à revisão das penas aplicadas aos condenados por formação de quadrilha no julgamento do mensalão lembram que os critérios para a condenação de Donadon foram os mesmos.

Dois pesos No julgamento de Donadon, José Antonio Dias Toffoli, relator do processo, também aplicou pena maior pelo fato de o deputado ser o líder da quadrilha.

Como assim? A defesa feita por Ricardo Lewandowski da admissibilidade dos embargos infringentes foi considerada "absurda" por outro ministro da corte.

Duas coisas O colega do ex-revisor do mensalão diz que não cabe comparação com outro tipo de ação, e que a afirmação de que há precedentes desse recurso no STF em matéria penal é "um verdadeiro absurdo".

Deadline Apesar da promessa de Barack Obama de dar até quarta-feira uma resposta sobre a espionagem feita pela agência americana NSA no Brasil, Dilma Rousseff não quer transformar a data em um prazo definitivo. O Planalto acredita que vai precisar de várias reuniões para conseguir uma posição satisfatória sobre o caso.

Stand by Enquanto a situação não se resolver, Dilma manterá suspense sobre sua visita a Washington, prevista para 23 de outubro. Por outro lado, a presidente confirmou que fará uma viagem oficial ao Peru, em novembro.

Via... Entidades lideradas por OAB e CNBB entregarão amanhã ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), sua proposta de reforma política.

... rápida Sem as assinaturas necessárias para um projeto de iniciativa popular, o grupo obteve apoio de parlamentares para antecipar a apresentação do texto. O objetivo é acelerar a tramitação da proposta, permitindo que seja votada a tempo de valer para as eleições de 2014.

Cúpula O ministro Alexandre Padilha (Saúde) fez ontem à tarde a primeira reunião com o time que vai comandar a articulação política de sua provável candidatura ao governo de São Paulo. Estavam presentes o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o prefeito da capital paulista, Fernando Haddad.

Triângulo O esforço de Geraldo Alckmin (PSDB) para levar o deputado Márcio França (PSB-SP) de volta a seu secretariado envolve o PSC. Pessebistas e tucanos tentam convencer o suplente de França, filiado à sigla cristã, a desistir de assumir a cadeira de deputado, deixando a vaga com o PSB.

Sem partido Em busca de recursos, dois prefeitos do PSDB em São Paulo abriram os braços para o PT. Diego de Nadai (Americana) convidou Alexandre Padilha para uma inauguração e Zé Milton (São José do Barreiro) escreveu uma carta a Dilma para pedir socorro para o município.

TIROTEIO

A baixa adesão aos protestos no Rio mostram que os vândalos perderam a guerra e adotam uma postura radical contra a cidadania.
DE JORGE PICCIANI, presidente do PMDB-RJ, sobre as manifestações de sábado contra o governador Sérgio Cabral, que tiveram mais de 70 detidos e 14 feridos.

CONTRAPONTO

Marketing segmentado

Em discussão sobre a reforma eleitoral no Senado, Aécio Neves (PSDB-MG) descreveu a eleição de um município mineiro, nos anos 50, disputada por duas famílias.
Cabos eleitorais de uma das famílias vestiram camisetas de fiscais, ficaram parados nas estradas e perguntaram a cada eleitor qual era o candidato de sua preferência. Aos partidários da família opositora, respondiam:
-Você só vota amanhã, porque hoje vão votar os outros, para não ter muita confusão na cidade.
A família que usou os "fiscais" recebeu 90% dos votos, já que os opositores só apareceram no dia seguinte.

Com Andréia Sadi e Bruno Boghossian

Fonte: Folha de S. Paulo