segunda-feira, 26 de agosto de 2013

OPINIÃO DO DIA – Luiz Werneck Vianna: jornadas de junho

As jornadas de junho não se voltaram contra as instituições da nossa democracia, mas contra políticas públicas, em especial as de transportes, saúde e educação, problemas palpáveis que remetem ao anacronismo desse Estado que aí está, postado assimetricamente diante da sua sociedade, simulando encarnar em si seus anseios e expectativas, e que entregou sua alma a potências que não controla, na ilusão de que, quando quiser, pode retomá-la.

Luiz Werneck Vianna, professor-pesquisador da PUC-Rio. In “Razões para um mundo fora do eixo”. O Estado de S. Paulo, 25/8/2013

Reforma política no rascunho

BRASÍLIA – Os deputados que fazem parte do grupo de trabalho da reforma política começaram a apresentar suas propostas de mudanças nas regras eleitorais. O relator do colegiado, deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), sugeriu um sistema eleitoral misto, proporcional e majoritário, para deputados; obrigação de eleições primárias nos partidos; limites para doações de pessoas físicas e jurídicas para campanhas; além de redução dos gastos na propaganda de rádio e TV.

O grupo ainda deveria realizar duas audiências públicas sobre o tema, mas resolveu começar a deliberar sobre os projetos na quinta-feira, mesmo sem ter alcançado o consenso. É que eles têm até 17 de outubro para concluir os projetos.

Sirkis defende um sistema eleitoral misto, em que metade dos deputados seria eleita pelo sistema proporcional, sendo que o voto nesse caso seria na legenda e a escolha dos candidatos, por lista preordenada. A outra metade seria escolhida pelo sistema majoritário em distritos eleitorais definidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os eleitores, nesse cenário, teriam direito a dois votos – um para cada tipo de eleição. "A medida, por um lado, fortalece os partidos, e, por outro lado, consagra quem tem voto. Os sem voto seriam os prejudicados, ou seja, aqueles que se elegem na rabeira dos outros e que formam o chamado baixo clero", explicou.

Financiamento O relator também quer limitar as doações privadas para as campanhas eleitorais e permitir que entidades da sociedade civil e associações profissionais possam fazer doações. Hoje só as empresas e pessoas físicas podem doar. "Temos de tentar diminuir a influência do poder econômico nas eleições. O financiamento público exclusivo é uma boa proposta, mas enfrenta grande resistência da sociedade. Além disso, proibir as empresas de doar a candidatos deve promover uma explosão do caixa dois", argumentou o relator.

A proposta do relator também impede a produção de cenas de apoio nas propagandas políticas. Os candidatos deverão aparecer na TV apenas apresentando suas ideias ou sendo entrevistados. "Essas medidas têm uma chance de apoio pela maioria do Congresso neste momento, até porque atende parcialmente ao interesse de grandes e pequenos partidos. É uma pequena janela de oportunidade e temos de aproveitá-la", afirmou Sirkis.

Outros integrantes do grupo de trabalho também apresentaram propostas. Marcelo Castro (PMDB-PI), por exemplo, defendeu o fim das coligações proporcionais, o fim da reeleição para cargos do Executivo e mandato de cinco anos para todos os cargos eletivos. Luiza Erundina (PSB-SP) disse que tentará garantir o voto em lista fechada com alternância dos candidatos indicados pelos partidos entre homens e mulheres.

Fonte: Correio Braziliense

Eleições internas são jogo de cena dos tucanos

Por Raymundo Costa

BRASÍLIA - A realização de prévia para a escolha do candidato do PSDB a presidente tem muita espuma e pouca consistência. Não interessa nem a Aécio Neves nem a José Serra. O ex-governador de São Paulo, nas atuais condições do PSDB, não tem a menor chance de vencer a disputa. O senador Aécio Neves, por seu turno, não quer baixar a guarda e ser surpreendido, mais adiante, caso mantenha o desempenho pífio que exibiu até agora nas pesquisas de opinião pública.

O senador mineiro, atualmente, tem o controle da máquina partidária, mas seu desempenho nas pesquisas ameaça os tucanos com a possibilidade de o partido não passar para o segundo turno em 2014. No Datafolha, Aécio tinha 10% em março, foi a 14% no início de junho e chegou a 17% no fim do mês, após intensa exposição no programa partidário.

Mas já na primeira semana de agosto, a presidente Dilma Rousseff não só recuperou cinco pontos do que havia perdido na pesquisa anterior, como Aécio caiu para 13% e perdeu para Marina Silva (26%) o segundo posto nas pesquisas. Má notícia para os tucanos: desde 1994, PT e PSDB se revezam no segundo turno das eleições.

Hoje há muito mais dúvidas sobre as chances eleitorais de Aécio que havia em maio, quando o senador foi eleito presidente do PSDB. Um comentário corriqueiro na cúpula tucana é que "as pessoas não têm muita certeza de que o Aécio vá a algum lugar, mas já sabem que não querem o Serra". Entre "um discurso ultrapassado", como seria o de Serra, o melhor para seria apostar em um nome novo.

O raciocínio de Serra é diametralmente oposto. O ex-governador disputou duas vezes a Presidência da República, ambas pelo PSDB, e nas duas foi para o segundo turno. Em 2002, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e em 2010, contra a presidente Dilma. No momento, Serra avalia ser o nome da oposição que efetivamente encarna o antilulismo e o antidilmismo.

Serra nunca escondeu a vontade de voltar a disputar a Presidência. Afinal, Lula só levou na quarta tentativa. A mudança na conjuntura nacional levou-o a abrir a discussão de prévias para a escolha do candidato do PSDB, o que na prática sinaliza que ele pode permanecer no PSDB. A alternativa é se filiar ao PPS e disputar pelo partido as eleições de 2014 para presidente.

Percebendo a movimentação do adversário, Aécio disse que aceitava as prévias. O problema é que Aécio, além de candidato a candidato, é o presidente nacional do PSDB. Serra só quer entrar numa disputa em condições "isonômicas", o que certamente não seria o caso de Aécio entrar no jogo como dono da bola e do apito de juiz.

"O Aécio é o presidente nacional do PSDB, tem que cumprir com todas as suas responsabilidades partidárias, o que inclui também esse papel de articulação da unidade interna", diz um dos cinco vice-presidentes do PSDB, o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman. "Como presidente do PSDB, Aécio tem a obrigação de fazer essa narrativa ao partido".

Um obstáculo real para a realização da prévia é o fato de o cadastro de militantes, estimado em 1,3 milhões, ser o mesmo da fundação do partido, em 1988, engordado com "camadas" depositadas ao longo dos anos. Mas para os partidários de Serra essa é uma questão que pode ser resolvida com boa vontade. Se o recadastramento indicar 200 mil filiados aptos a votar já estaria de muito bom tamanho. O risco existe: quando os nomes dos dois foram apresentados juntos em pesquisa Datafolha, Serra (14%) apareceu à frente de Aécio (10%), dividindo os tucanos.

Fonte: Valor Econômico

Marina formaliza hoje pedido de legalização da Rede ao TSE

Ex-ministra corre contra o tempo para viabilizar sua candidatura

BRASÍLIA - A Rede Sustentabilidade preparou uma série de ações simultâneas para tentar conseguir sua legalização no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até o dia 5 de outubro, data-limite para que possa disputar as eleições do próximo ano. A formalização do pedido de registro está marcada para hoje, na sede do tribunal, em Brasília. Com o peso de ser segunda colocada nas pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial do próximo ano, a ex-senadora Marina Silva deve entregar pessoalmente o pedido de registro junto com outros dirigentes da organização.

Com 40 dias para estar plenamente legalizada como partido, a Rede ainda tem pela frente uma série de obstáculos. O primeiro dependerá exclusivamente da boa vontade do Judiciário. Segundo o próprio coordenador jurídico da Rede, André Lima, contados todos os prazos que o TSE e o Ministério Público Eleitoral têm direito, a análise do pedido de registro da Rede poder levar até 48 dias - o que, se ocorrer, automaticamente inviabilizaria a participação dela nas eleições 2014.

- Cinco semanas dá de sobra. O Ministério Público não precisa de 10 dias para analisar, o tribunal não precisa de 30 dias para marcar a sessão. O TSE não precisa de três dias para nomear um relator, pode nomear no mesmo dia, assim como não precisa de três dias para pedir diligência - minimiza o advogado André Lima, citando o prazo de cada órgão.

Esse, no entanto, é apenas o primeiro problema formal que a legenda enfrentará. O grande entrave continua sendo a falta de assinaturas validadas nos cartórios eleitorais. Para a criação de um novo partido, a legislação exige que se tenha ao menos 491 mil apoios de eleitores, e esses devem ser certificados pelos cartórios.

A Rede diz ter encaminhado até sexta-feira cerca de 630.000 fichas aos cartórios, mas destas apenas 250.000 foram certificadas. Dois problemas na certificação afligem hoje os dirigentes da sigla. O primeiro é a já tão propalada lentidão dos cartórios. Apesar de legalmente terem 15 dias para analisar as fichas, alguns deles estão há mais de 60 dias com os documentos e ainda não deram resposta.

Mas há também outro problema. Em média, 25% das fichas apresentadas pelo partido têm sido rejeitadas. Até sexta-feira, o número de rejeitadas já passava de 83.000. Caso essa média de rejeição seja mantida, mesmo que os cartórios concluam nos próximos dias a análise das 300.000 fichas que restam, a Rede ainda necessitaria de mais 20.000 assinaturas certificadas - e os cartórios teriam 15 dias para analisá-las, uma eternidade diante do prazo tão estreito.

- O número de fichas recusadas surpreendeu. Diferentemente dos outros partidos, fizemos um processamento prévio, retiramos as fichas que acreditávamos que não estavam adequadas e as entregamos em lotes de 100, como eles pediram. Colaboramos com os cartórios e nossa crença era que isso reduziria o número de fichas não deferidas. Mas além de não reduzir, as fichas não deferidas não foram justificadas, o que nos impediu de entrar com recurso. Assim, mantido o percentual de recusas, teríamos uma deficiência de 20 mil assinaturas, que queremos repor - explica o deputado Walter Feldman (PSDB-SP), um dos fundadores da Rede.

Segundo ele, o partido seguirá colhendo assinaturas nas próximas semanas para conseguir o quanto antes as necessárias para cobrir o possível rombo.

Rede quer validar 270 mil assinaturas

Em paralelo, a Rede entrará com duas medidas que podem resolver o problema. Primeiro, pedirá que o TSE admita como válidas as assinaturas entregues aos cartórios há mais de 15 dias e ainda não analisadas, o que poderia assegurar imediatamente uma totalização de outras 270.000 assinaturas. Além disso, vai pleitear que os cartórios sejam obrigados a apresentar justificativas para cada uma das fichas rejeitadas para que a Rede possa recorrer. Na avaliação da organização, muitos apoiamentos dados por jovens e idosos, que não votaram nas últimas eleições, estão sendo rejeitados pelo simples fato de os cartórios estarem usando apenas os cadernos da última votação como referência, quando esse contingente pode não ter votado.

Fonte: O Globo

PSB trabalha para divulgar "marca" Campos

Aguirre Talento, Daniel Carvalho

FORTALEZA e RECIFE - Eduardo Campos (PSB) ainda não anunciou candidatura à Presidência em 2014, mas diretórios do PSB deram a largada da pré-campanha e começam a difundir o nome do governador de Pernambuco pelo interior do país.

Comandos estaduais do PSB têm articulado reuniões com prefeitos, vereadores e militantes, com o projeto presidencial na pauta. O objetivo é incitar os pessebistas a divulgar a "marca" Campos.

"Ele não disse a ninguém que é candidato, mas também não negou. Não dizendo que não é, já sabemos que é", disse o deputado federal Gonzaga Patriota (PSB-PE).

Na pesquisa Datafolha de agosto, Campos apareceu como o presidenciável mais desconhecido do eleitorado: apenas 7% disseram conhecê-lo muito bem. No caso da presidente Dilma, esse percentual vai a 58%.

Em Mato Grosso, a direção do partido já promoveu duas reuniões no interior e planeja mais dez até setembro. "Eles [militantes municipais] vão fazer esse diálogo em suas cidades, informando da perspectiva da candidatura de Eduardo", disse o deputado federal Valtenir Pereira, presidente do PSB de Mato Grosso.

No Piauí, dirigentes do PSB pegam a estrada a cada três semanas para reuniões e seminários em que o tema acaba sendo abordado.

O último evento foi no início do mês, em Cristino Castro (555 km de Teresina). "Uma das primeiras perguntas foi se Eduardo é candidato. Eu disse: 'Podem arregaçar as mangas e discutir o nome dele na base'", afirmou Messias Júnior, primeiro-secretário do PSB piauiense.

Há movimentações semelhantes em outros Estados governados pelo PSB, como Espírito Santo e Paraíba, onde o governador Ricardo Coutinho tem participado desses encontros.

"O PSB precisa apresentar uma agenda de futuro e nesse momento quem mais tem capacidade, por sua experiência e história que junta tradição com modernidade, é o companheiro Eduardo Campos", afirmou Coutinho em reunião no mês passado, em João Pessoa.

Alguns Estados estão até mais adiantados: o PSB de São Paulo consultou os filiados e obteve 98% de apoio à postulação presidencial de Campos. Outros Estados repetirão a consulta.
Em Pernambuco, esse trabalho preocupa menos porque Campos já é conhecido.

Mesmo assim, o deputado Patriota tem aproveitado viagens ao interior para conversar com líderes locais.

O próprio Campos tem feito incursões pelo interior do Estado, sempre ao lado de prefeitos, e começou a discutir palanques para 2014.

Fonte: Folha de S. Paulo

Entrevista - FHC: "Acho difícil fazer prévias, a imensa maioria do PSDB quer Aécio"

Por Cristian Klein

SÃO PAULO - Um dos principais entusiastas da candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso põe água na fervura do ex-governador José Serra, que passou a travar uma queda de braço para ser mais uma vez o candidato do partido no ano que vem, depois de derrotado em 2002 e 2010. Para FHC, Serra não vai sair do PSDB, como ameaça, e provavelmente não será necessária a realização de prévia entre ele e Aécio. "Eu acho difícil", afirma Fernando Henrique, em entrevista ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor. FHC argumenta que os tucanos nunca estiveram tão unidos, situação que, em sua opinião, não pode ser desperdiçada. "A dificuldade [para Serra]

é que o PSDB em sua imensa maioria está com Aécio. Então, acho que a pessoa tem que ser realista", diz.

O ex-presidente lembra que nas últimas eleições houve cisão interna, o que gerou indefinição e prejudicou o PSDB na urnas. Serra, afirma, tem direito de postular a candidatura, mas sem atrapalhar.

Na contramão da oposição, FHC diz ser favorável à polêmica importação de médicos feita pelo governo federal: "Não sou contrário, desde que haja clareza e diploma que realmente tenha valor".

A seguir, os principais trechos da entrevista ao Valor:

Valor: Qual tem sido o seu papel na disputa entre Aécio e Serra?

Fernando Henrique Cardoso: Não precisa chegar ao ponto de ser um bombeiro. Acho que temos que dar um pouco de tempo ao tempo. Há dois passos decisivos do Serra. Um é agora: resolver se ele fica no PSDB ou não. Meu palpite: ele fica.

Valor: Por que um palpite?

FHC: Não, somente porque ele não me disse. Eu sou prudente. Mas o Serra é um ser racional. Não tem muito sentido você sair de um partido onde sempre esteve, onde construiu sua história e contribuiu para a história do partido, e ir para uma coisa que você não sabe como é, com um ponto de partida frágil.

Valor: Seria uma candidatura frágil, se for para outro partido?

FHC: É frágil. Qual é a dificuldade? A dificuldade [para Serra] é que o PSDB em sua imensa maioria está com Aécio. Quer o Aécio. Então, acho que a pessoa tem que ser realista, até que ponto tem sentido se apresentar como candidato ou não. Mas isso só o tempo vai mostrar, se é possível ou não.

Valor: Ele pode atrapalhar?

FHC: Ahn... agora não. Porque está muito longe, o povo não está nem aí para esta questão de eleição. Agora, tem um momento, o PSDB vai ter que... Qual foi o nosso problema nas outras candidaturas? É você ter indecisão por muito tempo. Não dá para repetir isso. A vantagem que temos agora é que houve uma tendência consolidada no PSDB pela candidatura Aécio.

Valor: O sr. vê uma diferença grande no processo de escolha desta vez em relação às outras eleições?

FHC: Ah, sem dúvida. Nos outros anos, houve muito mais indecisão. O partido estava mais dividido. Agora não. O que tem é uma aspiração legítima do Serra, mas não é que o partido se dividiu entre um e outro. Neste momento, nos diretórios, que eu saiba, não existe nenhuma cisão dentro do PSDB. O PSDB está ao redor da candidatura do Aécio.

Valor: Há clima para prévias?

FHC: Eu acho difícil. Mas, claro, se o Serra insistir em ser candidato ele tem o direito. Agora o partido também tem a obrigação de dizer: "Vamos resolver isso logo, não pode esperar". Para não cair nos erros do passado.

Valor: Até quando o sr. acha que o partido pode esperar?

FHC: Primeiro temos que deixar passar o que vai acontecer agora no fim do mês. Não adianta especular antes da hora. Meu palpite é que Serra fica. Se não ficar, muda tudo. Por que é ele e outros. Mas não há tendência nenhuma de as pessoas saírem. Não há. Ninguém. Nenhuma força importante. Até porque as dificuldades do governo [federal] são enormes. Nunca houve conjuntura tão favorável a uma alternativa. Nosso dever é construir essa alternativa, com seriedade, o quanto antes e juntando gente.

Valor: O Aécio, em terceiro lugar nas pesquisas, ainda não decolou. Isso não preocupa?

FHC: Não é hora de decolar. O povo só vai se abrir para isso no segundo semestre do ano que vem. É hora de se organizar, de organizar o discurso, ter presença articulada com outros setores.

Valor: Mas a classe política já se prepara e se articula com os demais nomes do cenário, como Marina Silva e Eduardo Campos.

FHC: A Marina, indiscutivelmente, se beneficia, neste momento, dessa onda dos protestos. Agora, no ponto de partida, o Aécio tem [o apoio de] Minas, uma estrutura grande do PSDB e candidatos organizados em praticamente todos os Estados. E o Eduardo tem menos. De fato, vamos ver como é que a porca torce o rabo, quando estivermos na campanha. Quem tem mais organização na oposição é o Aécio. A Marina não tem nem partido. E o Eduardo tem, mas é um partido mais fraco que o PSDB. No ponto de partida, Aécio tem vantagem, independentemente das variações de [pesquisa de] opinião. A opinião está muito longe da eleição. O Serra saiu sempre muito na frente, e não ganhou. Isso é muito relativo.

Valor: Mas o Serra não se espelha na trajetória do ex-presidente Lula, que concorreu quatro vezes até finalmente vencer?

FHC: Sim, mas o partido queria que o Lula fosse. Não é a mesma situação. E o PT não tinha alternativa. São situações diferentes. A candidatura não depende de você. Depende de os outros quererem.

Valor: O Serra pode atrapalhar e jogar contra o Aécio em São Paulo, durante a campanha, numa revanche ao que teria acontecido em Minas, em 2010?

FHC: Primeiro, o Aécio nega isso. Serra ganhou em BH. Segundo, o Serra não pode fazer isso porque seria trair o partido. Acho que isso ele não faz.

Valor: O sr. se sente o patrono da candidatura Aécio?

FHC: Não, a candidatura foi lançada não foi nem por mim, foi pelo [deputado federal] Sérgio Guerra, pelo [ex-presidente do PSDB] Tasso [Jereissati] e eu apoiei Porque o partido está nesta direção e porque eu acho que o momento é de você renovar.

Valor: O sr. é a favor do programa de importação de médicos?

FHC: Não tenho muita clareza. O estranho é o Brasil pagar e o governo de Cuba escolher quem vem. Agora, que obviamente sejam médicos, que haja alguma aferição destes diplomas. Há diplomas e diplomas. Mas não acho que seja errado. Não sou contrário desde que haja uma coisa com clareza, que tenha diploma que realmente tenha valor. Agora, o resto, se for necessário... Sempre fui muito favorável a que houvesse migração, liberdade de movimento de pessoas, o Brasil precisa de gente com competência. Agora, tem que ter algum critério para saber se tem competência mesmo.

Valor: O que o sr. achou do relato de que a presidente Dilma teria saído de motocicleta por Brasília para escapar da rotina, sem ser notada?

FHC: Eu não vi isso. E nem acredito. A quem se atribui ter feito isso foi o [ex-presidente e general João Batista] Figueiredo (1918-1999). Não acho que ela faça isso, não.

Valor: E o sr. já fez ou teve vontade de fazer algo semelhante quando era presidente?

FHC: Esse não é o meu estilo.

Fonte: Valor Econômico

Confiança - Aécio Neves

O que está acontecendo com o Brasil? Trabalhadores, empresarios, donas de casa, muita gente já não esconde a preocupação com os rumos do país e anda fazendo a mesma pergunta. Onde foi parar aquela euforia, inflamada por um discurso que apregoava um patamar de desenvolvimento jamais visto na nossa história?

Já não é possível esconder as fissuras na paisagem econômica. A geração de empregos registrou o pior julho dos últimos dez anos. A renda média do trabalhador vem caindo há cinco meses. O setor de serviços desacelerou, a indústria perdeu competitividade. Com a economia patinando, viramos o "patinho feio" entre as nações emergentes.

O ciclo virtuoso do crescimento chegou ao fim sem as mudanças que o país tanto demanda. Desperdiçamos uma safra recorde de oportunidades durante a última década. E percebemos que agora faltam a aqueles que têm a responsabilidade de governar a energia e a competência necessárias para reagir.

O governo queima credibilidade ao afrontar os fundamentos clássicos da administração e do bom senso. Como entender a manutenção de uma máquina pesada e cara, quando a qualidade da nossa infraestrutura está em 107º lugar no ranking de 144 países do Fórum Econômico Mundial? Qual é nossa prioridade, afinal?

Retrato deste descompasso, o PAC é um inventário de obras inconclusas, com projetos ressuscitados para abastecer palanques políticos. Setores estratégicos da economia pagam o preço de erros sérios de planejamento, como o caso das hidrelétricas do rio Madeira.

Cresce o incômodo com a falta de transparência. O governo injeta bilhões no BNDES e não permite que a sociedade, que paga essa conta, conheça o destino desse dinheiro, alimentando as suspeitas de privilégios que não atendem aos interesses nacionais.

Fica evidente a distância entre discurso e realidade. Os mesmos programas são lançados diversas vezes, como se fossem novas iniciativas. O governo que se recusou assumir a sua parte no compromisso previsto na Emenda 29 e vem diminuindo há dez anos a sua participação nos gastos com saúde é o mesmo que lança projetos improvisados, como o Mais Médicos, que não resolve os problemas, mas alimenta o marketing oficial.

Para voltar a apostar no futuro os brasileiros precisam recuperar a confiança no país. Para tanto é essencial que o governo faça pelo menos o básico: controle a inflação, equilibre as contas públicas, priorize os gastos em educação, saúde e segurança e crie condições institucionais para que os investimentos privados floresçam. Acima de tudo, o momento requer uma gestão de responsabilidade.

Confiança --esta palavra anda fazendo muita falta entre nós.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

Tradição de sumiço - José de Souza Martins

Desaparecimentos políticos à sombra de ‘razões de Estado’ marcam toda nossa história republicana

O tema dos desaparecidos ganhou destaque em função dos casos relativos a desaparecimentos durante a ditadura militar de 1964 a 1985 e também aos trágicos casos ocorridos nos países vizinhos - Argentina, Uruguai, Chile. Tragédias imensas, feridas incuráveis de que tive pequena amostra quando participei do júri do Prêmio Casa de las Américas e do Encontro de Escritores, em Cuba, em 1981. O poeta argentino Juan Gelman, que fazia parte do grupo, em meio a conversações normais e até alegres, caía repentinamente em prantos. O filho e a nora, grávida, alcançados pela repressão da ditadura militar argentina, haviam desaparecido em 1976. O corpo de seu filho só seria encontrado em 1990. A nora fora levada para o Uruguai pelos agentes da Operação Condor. Após o parto, fora assassinada e a filha entregue a um policial que, com a mulher, a criou. Macarena, neta de Gelman, já adulta, seria localizada viva em 2000. Compreendem-se os versos de um seu poema: “Sólo la esperanza tiene las rodillas nítidas. Sangran”.

A incerteza que há no desaparecimento de alguém, na escuridão da espera que não termina, dói mais que a certeza da morte. Há uma anômala sociabilidade da ausência, no vazio da mesa posta à espera de quem não retorna. A presença do ausente grita todos os minutos do dia contra a violência que o levou para o lugar nenhum da tirania de quem achou que tudo podia.

Não basta desaparecer para ser um desaparecido. Nossa memória política dos desaparecimentos tende a cingir-se aos casos da ditadura de 1964, alimentada pela necessária demanda de justiça e do direito de dar sepultura aos que se foram sem dizer adeus. No entanto, os desaparecimentos marcam toda nossa história republicana. Desaparecimentos políticos já constavam do rol de barbaridades praticadas em nome das razões de Estado desde o nascimento da República. A primeira ação política sistemática de que se tem notícia em favor de desaparecidos políticos e também em defesa do que vieram a ser os direitos humanos foi a do Comitê Patriótico da Bahia. Na Guerra de Canudos (1896-97), houve um imenso número de sertanejos prisioneiros, especialmente mulheres e crianças, repartidos e distribuídos entre oficiais e soldados do Exército ou dados de presente a famílias de Salvador. Deportados para longe do sertão, para os Estados de origem dos militares que os levaram, não raro reduzidos a verdadeira escravidão, saiu o comitê à procura dos desaparecidos para restituí-los às respectivas famílias.

Desaparecimentos foram, também, sequelas da repressão que antecedeu o golpe de Estado de 1937. Acusados de conspiração contra a segurança nacional eram caçados à noite, na própria casa, perdendo contato com a família. Muitos deles imigrantes, deportados para os países de origem, separados das respectivas famílias, que nunca mais os viram. Como ocorreu com o sapateiro Francisco Marquez, de São Caetano (SP). A família só teve dele notícia quando ficou sabendo que fora deportado e fuzilado no porto de Vigo, na época da Guerra Civil Espanhola.

Há desaparecimentos por motivos não políticos, como nos casos de raptos de crianças. Os imaturos são indefesos. Ainda não nos convencemos de que na sociedade em que vivemos esquemas protetivos são o modo necessário para prevenir ocorrências.

Mas há os que desaparecem voluntariamente, especialmente jovens. Até porque querem desaparecer, como a mulher adulta que conheci numa conferência que fiz em Copenhague. De uma família muito pobre da roça, ela havia fugido de casa, em Campina Grande, na Paraíba, no fim da adolescência. Foi parar no Rio de Janeiro. Vivia pelas praias, de pequenos roubos e de outros expedientes. Conheceu um grupo de marinheiros dinamarqueses, cujo navio estava ancorado no Rio, que a adotaram durante a permanência, dando-lhe de comer, e dela se valendo para conhecer a cidade. Deixaram-lhe dinheiro e um endereço em seu país, para o caso de querer ir para lá um dia. Ela foi. Receberam-na, arrumaram-lhe abrigo e emprego. Ela se casou com um dinamarquês, que a alfabetizou. Estava bem de vida. Cheia de remorso, pediu-me que a ajudasse a localizar sua família. Queria reencontrá-la e ajudá-la, o que acabou acontecendo.

Outro caso, foi o de d. Pureza Loyola, maranhense, que em meados dos anos 1990 saiu à procura do filho, levado por um traficante de mão de obra e que nunca mais dera notícia. Estava desaparecido havia mais de ano. Pobre, saiu à procura do filho, embrenhando-se nas matas do Pará, seguindo as pistas que ia colhendo, ajudada por peões das muitas fazendas que atravessou. Depois de um ano, encontrou o filho num garimpo, que “esquecera” de enviar alguma notícia à mãe. D. Pureza ganhou, em 1997, o prêmio da Anti-Slavery International, de Londres, por sua campanha pessoal contra a escravidão por dívida.

Os dois casos que menciono são justamente casos de populações que não conhecem o conceito de desaparecimento. Em seu mundo, um dia as pessoas simplesmente se vão.

JOSÉ DE SOUZA MARTINS É SOCIÓLOGO, PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA USP E AUTOR, ENTRE OUTROS, DE A SOCIOLOGIA COMO AVENTURA (CONTEXTO)

Fonte: O Estado de S. Paulo / Aliás

Sobra verbo, falta verba - Paulo Brossard

Quando a crise atual mostrou suas unhas nos Estados Unidos e na Europa do euro, não faltaram ponderações de respeitáveis autoridades da área acerca da gravidade do problema, sendo que uma delas não hesitou em comparar o caso com o flagelo de 1929/1930.

As nossas autoridades, no entanto, "cantavam de galo" diante da ameaça. Lembro que a senhora presidente blasonava ao dizer que o Brasil, que tirara de ouvido a crise anterior, a crise anunciada não lhe faria mossa, pois estava 300% mais fortalecido para enfrentá-la, as reservas externas eram fartas e assim por diante; ora, qualquer pessoa relativamente informada sabe que esses fenômenos vulcânicos podem gerar os mais contundentes efeitos de uma hora para outra, tomando as feições mais inesperadas; ora, ao ameaçar os fatos com gabolices é deixar à calva sua inépcia. Em verdade, os dias passam e a nossa situação se mostra frágil, seja por causas internas, quer por motivações externas, chegando a não ter condições de concorrer no Exterior pelo preço dos nossos produtos em casa, dado o preço dos importados. E agora, ao mesmo tempo em que o governo anda perdendo o fôlego para conter a cotação do dólar, respira aliviado porque a elevação lhe é favorável para aumentar a exportação. A notoriedade dessas realidades dispensa a insistência no assunto. Mas, dia a dia, vêm pipocando notícias várias, indicativos da mesma realidade.

Ao correr os olhos, vejo que o desempenho fraco da economia brasileira atingiu o mercado de trabalho nas regiões metropolitanas, com exceção de Belém e Fortaleza. Outrossim, em 10 anos, foi o pior mês de julho em matéria de criação de empregos e o saldo de 41,5 vagas formais representa queda de 77%, ante ao mesmo mês de 2012. Lembro que até ontem se salientava que, a despeito da generalidade das dificuldades experimentadas o emprego se mantinha; ao que parece, o desemprego começa a dar sinais.

Um dia antes, a notícia era relativa às contas externas que fecharam o primeiro semestre com um rombo de 72% maior do que no mesmo período do ano anterior. "Com um desempenho fraco da balança comercial, o déficit externo chegou a US$ 42,48 bilhões". Para analistas do mercado, "o cenário é preocupante", embora em junho tendo havido alguma melhora.

Segundo o Banco Central, de junho de 2012 para junho de 2013 a dívida externa aumentou de US$ 302 bilhões para US$ 321 bilhões e seus encargos cresceram de US$ 42 bilhões para US$ 60 bilhões; as exportações caíram de US$ 255 bilhões para US$ 239 bilhões, as reservas em dólar do Banco Central pararam de crescer, de US$ 373 bilhões para US$ 371 bilhões e o PIB em dólares encolheu de US$ 2,37 trilhões para US$ 2,29 trilhões. Enfim, os índices que a confiança de consumidores e empresários na economia caíram aos níveis registrados em 2009, auge de crise global.

Em síntese, um a um, esses dados não serão catastróficos, mas não são bons, e o conjunto deles não é nada tranquilizador. De resto, não é incomum que, de repente, os fatos entrem em desvarios, razão por que um pouco de cuidado não faria mal a ninguém. Eles já não ajudam uma candidata à reeleição e, se um novo tremor de terra viesse a ocorrer, poderia ser desastroso para ela. No entanto, a senhora presidente parece estar mais empolgada com sua campanha do que com a nação e as instituições.

*Jurista, ministro aposentado do STF

Fonte: Zero Hora (RS)

Mais médicos, mais diálogo, mais qualidade - Marcus Pestana

A pesquisa Ibope encomendada pela OAB em julho confirmou: a maior prioridade dos brasileiros no campo das políticas públicas é inequivocamente a melhoria da saúde, com 56% das menções.

Isso se dá em meio a uma das mais intensas e radicais polêmicas dos 25 anos de SUS: a importação de médicos estrangeiros.

As pesquisas de opinião, quando detalham a percepção do que seria uma saúde melhor, captam uma visão simplificada, que a associam a mais médicos e mais medicamentos. Embora o SUS tenha avançado em experiências multiprofissionais como poucos países, é inegável que o profissional médico tem centralidade na atenção à saúde das pessoas. A formação médica é cara, longa e altamente especializada. Não é tarefa fácil.

Todos nós queremos mais médicos. E não devemos ter uma abordagem corporativa ou xenófoba em relação à entrada de médicos estrangeiros. A questão é a defesa da qualidade, de condições dignas de trabalho para os profissionais e da preferência para os brasileiros. A forma como o governo Dilma conduziu a questão se revelou atabalhoada, autoritária e carregada de motivações partidárias e eleitorais.

Tivemos, no último dia 14, audiência pública sobre o tema com o ministro Alexandre Padilha, na Comissão de Seguridade Social e Família, da qual sou titular.

Observei na ocasião que os sucessos relativos do SUS, em seus 25 anos, se deveram à enorme convergência política e ideológica em torno dele. Que não poderíamos discutir tema tão complexo e estratégico em clima de Atlético e Cruzeiro, cheio de maniqueísmos e radicalização. Que a escolha do instrumento medida provisória foi um equívoco, já que deveria ter sido um projeto de lei amplamente debatido. O ministro justificou pela urgência. Ora, esse é um problema crônico que acompanha o SUS desde sua fundação.

Acentuei que, até por personalidade e pela experiência por sete anos como gestor em Minas, tenho índole cooperativa e não conflitiva. Tanto que a proposta do edital nacional com preferência para brasileiros foi minha, fato reconhecido pelo ministro.

Mas questionei, mais uma vez, sobre a revalidação do diploma dos estrangeiros como questão de responsabilidade sanitária. Afirmei que o ministro tinha que liderar a luta pelos 10% federais para a saúde e pela carreira nacional médica do SUS. Ou será que bolsas com duração de três anos asseguram o respeito à legislação trabalhista? Não seria uma nova forma de precarização do trabalho? E a comissão cobrada dos médicos pelo governo cubano?

Terminei questionando se o governo Dilma iria aguardar o pronunciamento do Congresso Nacional para implementar a vinda de médicos estrangeiros e se tinha recuado nos dois anos adicionais na formação médica. Não obtive respostas claras. Tudo indica que o Congresso vai ser atropelado e o impasse instalado.

Precisamos, sem dúvida, de mais médicos. Mas precisamos também de mais diálogo e qualidade garantida sempre.

Deputado Federal e presidente do PSDB de Minas

Fonte: O Tempo (MG)

As chances de Eduardo Campos - Renato Janine Ribeiro

Confesso ter minimizado, indevidamente, o alcance das aspirações presidenciais de Eduardo Campos. O governador de Pernambuco não é o candidato com mais chances em 2014, à primeira vista, mas no quadro atual desfruta de condições singulares que podem ser bastante favoráveis.

Vejamos. Campos é o único candidato que, provindo da base de governo, à qual ainda pertence, é capaz de conquistar votos na oposição. Neto de Miguel Arraes, o governador mais odiado pela direita golpista de 1964, tem boas credenciais no campo que vai da esquerda ao centro. E é presidente do PSB, que disputa com o PMDB o segundo lugar na aliança governamental; dependendo do critério, é um ou outro.

Também é quem melhor dialoga com a oposição. Sim, o PMDB pode flertar com ela, mas não dispõe, nem em Michel Temer, de um líder tão livre como Campos para dizer o que pensa. E o que ele pensa agrada a uma parte do eleitorado e dos potenciais financiadores do PSDB.

O governador de Pernambuco no 2º turno muda tudo

Se o PT lidera há bom quarto de século a centro-esquerda em nosso País, e desde 1989 é uma das duas forças principais na política brasileira, a liderança da centro-direita cabe, desde 1994, ao PSDB. Mas é essa liderança que agora entra em xeque. Ou seja, a centro-direita existe e continuará existindo. Disputará com o PT, no voto, a hegemonia política no País. Mas hoje sofre uma crise de liderança que, na verdade, é uma crise interna do PSDB, afetando a vasta faixa de opinião que ele tem representado.

Os conflitos entre Aécio Neves e José Serra pela candidatura à Presidência em 2014, intermináveis, são sinal disso. Podem resultar de ressentimentos, talvez do político paulista. Mas na verdade se trata de uma crise de destino do PSDB e de uma crise de representação da centro-direita.

Estas duas crises merecem tratamento à parte, o que faremos em artigo futuro. Mas, por ora, vamos à conjuntura que favorece Eduardo Campos.

Caso Serra deixe o PSDB para candidatar-se por outro partido, quase certamente selará sua derrota, mas também a de Aécio. Por derrota, aqui, não entendo perder, no segundo turno, para o PT. Entendo algo maior e pior: nem mesmo chegar ao segundo turno. Aqui crescem as chances de Campos, assim como as de Marina Silva.

Agora, o desentendimento interno ao PSDB - ou, se quiserem, a cisma de Serra se dispondo até mesmo a realizar um cisma dentro do partido - já basta para enfraquecer os tucanos, mesmo que Serra não saia. Consta que, na melhor das hipóteses para Aécio, que é sua indicação presidencial sem a saída de Serra, este último fará corpo mole na campanha. Isso é ruim em termos de imagem. Basta lembrar a recente eleição paulistana, em que Marta Suplicy, frustrada pelo dedaço de Lula no intento de concorrer à prefeitura, se afastou da campanha de Haddad, somente se integrando nela nas semanas finais e cruciais. Coincidência ou não, foi quando Haddad disparou para a vitória. Pois é. Um boicote interno à candidatura Aécio já faria muito mal. Mais uma vez, a conjuntura favorece Campos - e Marina.

E há mais uma perspectiva no horizonte. Será lamentável se uma força de opinião significativa como o Rede não puder concorrer em 2014. Mas, se o TSE puser paradeiro ao atraso dos cartórios eleitorais na verificação das assinaturas, o Rede não poderá culpar a ninguém por um eventual fracasso. Terá sido Marina que demorou mais de dois anos a se definir.

Aliás, mesmo que Marina concorra, a ausência de palanques nos Estados expõe sua aspiração a sérias dificuldades. Suas perspectivas de sucesso são as mais difíceis, hoje, de medir.

O que resultaria de um forfait da Rede ou do fracasso da candidatura de Marina Silva, somada a uma crise no PSDB? Aumentarão as chances para Eduardo Campos. Ele pode ganhar a preciosa indicação da segunda vaga (a primeira sendo do PT) para o turno final das presidenciais. Pode realizar o que é o sonho de Aécio, o discurso do político mineiro, que consiste em propor um governo pós-PT e não anti-PT. Também isso não é fácil, mas Campos não está marcado pelo ódio ao petismo, longe disso; e soube distanciar-se do PT não nos tempos de Lula, mas depois que ele deixou a presidência para uma sucessora sem o seu carisma. Mesmo a eleição no Recife, em 2012, que foi a segunda vitória de Campos sobre o antigo e ainda atual aliado (a primeira se deu em 2006), se deu no quadro de um enorme desgaste do então prefeito petista da capital pernambucana.

Um candidato que vem da centro-esquerda, comprometido com causas sociais, com fama de bom gestor, falando aos empresários e que permita vivermos uma campanha que atenue o clima de ódio que cresceu entre PSDB e PT: este o perfil que Campos construiu. Isso não basta para vencer mas, numa conjuntura em que a Rede não compareça e os tucanos se dividam, pode dar certo.

O cerne da coisa é: o que se está disputando?

Serra só pode disputar a Presidência. Estar no segundo turno não lhe basta.

Mas, para Aécio, Marina ou Eduardo Campos, ganhar um lugar no segundo turno já é uma grande vitória. Nas últimas três eleições, o segundo turno foi do PT e do PSDB. Agora, pela primeira vez, o lugar do PSDB está a perigo. Quem ganhar essa posição se consagra, mesmo perdendo na final do campeonato presidencial, como líder da oposição num talvez desgastado quarto mandato petista. Torna-se líder da centro-direita. E, com isso, muda os termos em que a nossa política está sendo jogada. Imaginem uma centro-direita cujo lema é o discurso sustentável. Ou que tenha em Eduardo Campos a expectativa de uma síntese entre o que é melhor do PT e o melhor do PSDB. Tudo muda.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

Só vejo vantagens - Ricardo Noblat

Venho tratar de pessoas, de estruturas, não
Miguel Dalpuim, médico português atraído pelo programa Mais Médico

Sem tolices, por favor. Queriam o quê? Que precisando contratar médicos para fixar no interior do país o governo não o fizesse só por que os nossos têm outros planos? Ou então que contratasse estrangeiros, mas não cubanos por que eles vivem sob uma ditadura? Com quantas ditaduras o Brasil mantém relações? Sabe em que governo o Brasil reatou relações diplomáticas com Cuba? No do conservador José Sarney. Pois não é?

Desembarcaram por aqui no último fim de semana os 400 médicos cubanos que aceitaram trabalhar durante três anos nos 701 municípios rejeitados por brasileiros e estrangeiros em geral inscritos no programa “Mais Médicos”. São municípios que exibem os piores índices de desenvolvimento humano do país, 84% deles situados no Norte e no Nordeste. Os nossos médicos brancos e de olhos azuis não topam servir onde mais precisam deles.

Médicos brancos e de olhos azuis... (Olha o racismo aí, gente!) O que eles querem mesmo é conforto, um consultório para chamar de seu e bastante dinheiro. Igarapés? Mosquitos? Casas de pau a pique? Internet lenta? Medicina, em parte, como uma espécie de sacerdócio? Argh!

Mas a Constituição manda que o Estado cuide da saúde das pessoas. E para isso ele lançou um programa. Acusam o programa de ter sido concebido sob medida para reeleger Dilma. E eleger governador de São Paulo o ministro Alexandre Padilha, da Saúde.

Outra vez suplico: “sin tonterías, por favor”. Queriam o quê? Que podendo atender o povo e ganhar uns votinhos eles abdicassem dos votinhos?

Sarney (ele insiste em voltar!) inventou o Plano Cruzado em 1986 para manietar a inflação. Manietou-a tempo suficiente para vencer a eleição daquele ano. Com a falência do plano foi apedrejado no Rio.

O Plano Real elegeu Fernando Henrique. O que restou do plano o reelegeu.

O Bolsa Família reelegeu Lula, que elegeu Dilma, que terá de suar a camisa para se reeleger. Andar de moto não sua...

Ah, mas um programa ambicioso como o “Mais Médicos” deveria ter sido discutido exaustivamente pela sociedade antes de começar. Deve ter sido discutido, sim, pelo governo, ouvidos também seus marqueteiros.

Importa que funcione bem. Do contrário a gente mata a bola no peito e sai por aí repetindo até perder a voz: “Eu não disse? Não disse?”

Outra coisa: quem sabe o fracasso do programa não derrota Dilma? Hein? Hein? Ela é tão fraquinha... Não fará falta. Se comparado com ela, Lula faz. No mínimo era mais divertido.

Médico cubano não fala português direito! (Ora, tenham dó. Eu passo.) Não podem ser tão bem preparados. Podem e são. Estão em dezenas de países. Até no Canadá. Até na Inglaterra.

Ministro da Saúde, José Serra foi à Cuba conhecer como funcionava o sistema de atendimento médico comunitário. Voltou encantado.

No final dos anos 90, o governo do Tocantins importou 210 médicos, 40 enfermeiros e oito técnicos cubanos. Sucesso total.

Sei: coitado do médico cubano! A maior parte dos R$ 10 mil mensais a que terá direito ficará com o seu governo. E ele não poderá trazer a família. Os demais médicos estrangeiros poderão trazer a mulher e até dois filhos.

Também tenho pena deles. E deixo aqui como sugestão: entre tantas passeatas marcadas para 7 de setembro por que não fazemos uma pedindo o fim da ditadura cubana? Ou pelo menos melhores salários para os médicos da ilha? Já pensou? Abrindo a passeata, representantes de entidades médicas. De jaleco. Atrás, um mar de bandeiras vermelhas para animar a turma. Fechando a passeata, o bloco dos vândalos. E tudo filmado pelos ninjas!

Compartilho o receio de os médicos estrangeiros se frustrarem com a carência de equipamentos no Brasil. Se eles faltam até nas maiores cidades, imagine nas terras do fim do mundo? Se faltam remédios... Ainda assim é melhor ter médicos a não tê-los.

Em certos casos só se resolve problema criando problema. E haverá sempre o recurso à passeata. Se negarem o que pedimos... Se rolar grossa pancadaria...Cuide-se, Dilma!

Fonte: O Globo

Troca-troca geral - Denise Rothenburg

Estamos a menos de um ano da largada para as eleições de 2014 e os cálculos feitos pelos partidos indicam que ninguém terá vida fácil nos estados. Nenhum dos atuais governadores que pode disputar mais um mandato apresenta um quadro de favoritismo absoluto que permita dizer com segurança que a reeleição será líquida e certa. De Norte a Sul, as tensões imperam. E onde a situação começa a clarear, vislumbra-se que a maioria deles terá alianças diferentes daquelas que garantiram a vitória há quase três anos.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, onde o governador Tarso Genro (PT) concorrerá a mais um mandato, a coligação que embalou a candidatura em 2010 não se repetirá. O PSB caminha para apoiar quem ofereça um palanque que sirva de motor para ajudar o pernambucano Eduardo Campos na corrida ao Planalto.

No Distrito Federal, o governador Agnelo Queiroz (PT) passará por uma situação semelhante na campanha à reeleição. O senador Rodrigo Rollemberg, do PSB, será candidato a governador no sentido de ajudar os socialistas na disputa presidencial. Rodrigo tenta construir seus alicerces pela esquerda, tentando atrair não só o PDT, como também aqueles que trabalham para montar a Rede de Marina Silva e, ainda, o PSol da ex-deputada Maninha e do ex-candidato a governador Antonio Carlos de Andrade, o Toninho.

Mas não é apenas o PT que vê os aliados minguarem por conta da pré-candidatura de Eduardo Campos ao Planalto. No Espírito Santo, onde o governador Renato Casagrande (PSB) teria uma reeleição tranquila, o PT tem o vice-governador e não ficará na chapa se Campos for candidato contra Dilma. Afinal, hoje não é intenção do PT dividir os palanques de Dilma com outros candidatos a presidente da República.

No maior colégio eleitoral do país, São Paulo, as dificuldades atingem mais os tucanos do que os governistas. O quadro clareou bastante, mas Geraldo Alckmin (PSDB) ainda não tem a menor segurança em relação à aliança. A saída mais fácil hoje é abrir a vaga de vice-governador ao PSB e colocar no palanque presidencial dois candidatos, o do PSDB (o mais cotado é Aécio Neves) e Eduardo Campos, mas os tucanos não estão muito confortáveis com essa situação.

No Paraná, Beto Richa (PSDB) vê a ampla base sob ataque constante do PT, que tenta lhe tirar partidos para minimizar as chances de reeleição. O mesmo ocorre no Pará do tucano Simão Jatene e em Goiás. No Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini, do DEM, está em dificuldades porque os aliados consideram que ela hoje é mais aliada de Dilma do que oposição. Mas, para ser candidata apoiando Dilma, só se mudasse de partido, o que é um risco por causa da fidelidade partidária.

Por falar em fidelidade partidária...
Há alguns anos, quem mudasse de partido para outra legenda que não fosse novinha em folha estaria sob um risco monumental de ficar sem mandato. Mas agora, a lei que instituiu a fidelidade parece estar a um passo de entrar para a cesta das letras mortas, se é que já não está nesse balaio. Isso porque, a cada dia, aumenta o número de deputados que trocam de partido sem serem incomodados. Quem abriu essa porteira foi Gabriel Chalita, ao deixar o PSB para ingressar no PMDB. Agora, o ex-jogador Romário seguiu essa trilha e migrou do PSB para o PR. Há outros que também estão de mudança de suas legendas.

O que permitiu esse troca-troca foram os acordos entre os partidos, ou a vontade de deixar quem sai de forma amigável uma dívida de gratidão. Afinal, em política, quem um dia se afasta pode virar amigo logo ali na frente. Diante dos acertos, fica no ar aquele cheirinho de que os deputados simplesmente rasgaram a regra da fidelidade partidária, sem dizer isso abertamente. É bom ficar de olho, assim como vamos prestar atenção redobrada na economia e no julgamento do mensalão, temas que comandam as pastas esta semana que se abriu com mais uma pesquisa favorável à presidente Dilma. Há quem diga que, se ela se recuperar mais um pouquinho, as dificuldades no parlamento ficarão a cada dia menores. Essa, entretanto, é outra história.

Fonte: Correio Braziliense

Conversão duvidosa - Valdo Cruz

Até pouco tempo, o mundo empresarial e o mercado faziam a seguinte pergunta a petistas influentes: Dilma vai deixar os juros subirem? Deixou. Agora, o questionamento é outro: ela vai aprender, de fato, com seus erros?

Indagação reveladora do nível de dúvida reinante entre economistas e empresariado sobre o que o governo fará para corrigir seus equívocos e conduzir a economia diante do período de turbulências à frente.

Reflexo dos erros palacianos, a margem de manobra da política econômica ficou estreita. A inflação ainda está acima de 6%, o dólar vive tempos de pressão e incerteza, a gasolina terá de subir e as contas externas registram rombo recorde.

Empresários e analistas têm ouvido que, sim, Dilma assimilou as críticas e já busca ajustar a rota. Deixou de brincar com a inflação como fez até o início do ano, parou de satanizar o desejo de lucro dos empresários e abriu as portas do Palácio do Planalto para sua base aliada.

Passos que, por enquanto, ainda não foram suficientes para eliminar o ceticismo sobre o tamanho da convicção presidencial no novo rumo. Daí a falta de confiança do empresariado na economia brasileira.

Em breve a conversão dilmista será testada. Nesta semana, o BC subirá os juros de novo e pode ser obrigado a aumentar a dose nas próximas reuniões do Copom por causa do dólar em alta, algo que causa arrepios e ranger de dentes no Planalto.

Uma série de leilões de concessões --de rodovias, aeroportos e petróleo-- será feita neste segundo semestre. O resultado mostrará se Dilma realmente entendeu que investidor só entra num negócio que dá retorno e não leva em conta esse discurso de patriotismo.

Enfim, Dilma está mudando, mas outra dúvida fica no ar: a tempo de remover os riscos pela frente e garantir a reeleição? O petismo diz que sim. A conferir. Um resultado já é certo: sua teimosia terá feito o país crescer muito pouco em seu mandato.

Fonte: Folha de S. Paulo

Quando setembro chegar - José Roberto de Toledo

Dois meses depois, o que ficou das manifestações maciças de junho? Haverá conseqüências permanentes dos protestos? Algo mudou na prática? Quem ganhou e quem perdeu? Este é um balanço, parcial e inacabado, do que as ruas trouxeram e levaram.

Dilma Rousseff (PT) foi o para-raios das manifestações. Perdeu popularidade mais rapidamente do que qualquer outro presidente brasileiro pós-ditadura, mas logo que encontrou o fundo do poço começou a escalá-lo, lentamente. Ainda tem a recuperar dois terços do que perdeu, mas sua trajetória. é ascendente. Não se pode falar o mesmo de outros políticos.

Sergio Cabral (PMDB) é, até agora, a principal vítima das manifestações. A aprovação do governador do Rio desmilinguiu-se tão completamente que ! mesmo seu legado na área de segurança a dita pacificação das favelas - sofre contestações como nunca antes. De força eleitoral na própria sucessão, tornou-se contagioso. Só o papa ainda escreve ao governador.

Geraldo Alckmin (PSDB), se houvesse a opção, teria hibernado em maio para acordar na primavera, quando só houvesse flores. Mas seu inverno não acaba. O governador paulista esteve no centro das manifestações: foi sua PM que deu o tiro de largada para os protestos em massa ao disparar balas de borracha contra os filhos da classe média. Agora, corre risco de descarrilar.

Em quase 20 anos de mandarinato tucano em São Paulo, nunca a oposição teve tanta munição contra o Bandeirantes. Os petistas acham que é sua chance. Mas o perfil e o histórico eleitoral paulista sugerem que alternativas podem vir pelo outro lado. Filhotes do malufismo têm motivos para excitação.

Outros governadores já percebe; ram que andar na rua sem sobressaltos é coisa pré-manifestações. Os precavidos, como o governador cearense Cid Gomes (PSB), compraram helicópteros. Outros têm que se contentar com o destino pedestre de ; seus candidatos em 2014, Na Bahia, nenhum dos aliados de Jaques Wagner (PT) está conseguindo chegar a dois dígitos no íbope.

O PMDB usou os protestos para manifestar suas demandas junto ao governo. Aproveitou a fragilidade parlamenar da presidente para aprovar o que mais lhe convém. Mesmo sendo lembrados pouco carinhosamente pelos manifestantes, os caciques peemedebistas federais estão entre os que mais ganharam com os protestos.

Mais importante, o PMDB não deixou passar nada da reforma política que pudesse colocar em xeque o seu poder em Brasília. Aliás, a reforma política é uma expressão desprovida de significado para dois em cada três brasileiros, como mostrou o íbope. Só 7% se dizem bem informados sobre ela. Essa é a maior garantia de que nada venha a udesempodera os peemedebistas.

Marina Silva cresceu nas pesquisas de intenção de voto no pós-protesto, mas custaa viabilizar seu partido. Sem legenda própria, dependerá dos caprichos de um ou outro cacique partidário e terá mais dificuldade para manter a imagem de candidata "outsider" da política tradicional.

Para Marina e os demais presidenciáveis, setembro de 2013 é a chave de 2014. É quando se saberá quem poderá ou não ser candidato por qual legenda. Se José Serra vai continuar empatando a candidatura de Aécio Neves no PSDB, ou se vai empatá-lo no PPS, por exemplo.

Para Dilma, o Sete de Setembro também é o teste que dirá se sua tentativa de resposta às manifestações de junho está surtindo efeito. Se passar na prova das ruas - economia deixar -, a presidente pode escalar o poço com mais segurança. Se tropeçar, está arriscada a voltar, ao patamar para onde havia despencado.

Fora isso, as ruas trouxeram um novo vocabulário para a política: horizontalidade, mídia ninja, black bloc, spray de pimenta. Vamos ver o que sobra depois que setembro passar.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Painel - Vera Magalhães

Me dá um dinheiro aí
Os governadores do Nordeste aproveitaram reunião do Conselho da Sudene, na semana passada, para discutir as dificuldades de caixa enfrentadas pelos Estados. Eles relataram o aumento dos gastos com custeio e pessoal muito acima do crescimento das transferências federais e da arrecadação. A partir disso, decidiram pedir a Dilma Rousseff que o governo federal crie uma linha de financiamento para custeio dos Estados, que ajude a bancar gastos com educação e saúde.

Má hora Antes mesmo de bater à porta de Dilma, os governadores já constataram que será difícil arrancar o subsídio do governo em tempos de preocupação com a instabilidade cambial. Mas lembram que os municípios conseguiram viabilizar uma negociação semelhante.

No vermelho Cid Gomes (PSB) levará o pedido à presidente. Ele usa os números do Ceará para exemplificar as dificuldades nos Estados. Até junho, as despesas com custeio subiram 12,6%, enquanto os repasses federais foram só 4,5% maiores que os do ano passado.

De cima Foi ordem de Dilma o cancelamento da visita que Antonio Patriota faria à Finlândia ontem. O ministro das Relações Exteriores ficou para analisar o caso envolvendo o senador boliviano Roger Pinto Molina, opositor de Evo Morales, que chegou ao Brasil.

Mínimos detalhes Interlocutores afirmam que a presidente marcou uma reunião hoje com Patriota para discutir o caso do boliviano.

Occupy DF O Gabinete de Segurança Institucional apura informações de que um grupo de manifestantes comprará ingressos para acompanhar o jogo entre Brasil e Austrália, no Mané Garrincha, mas não deixará o estádio. Além da capital federal, o governo já detectou que devem ocorrer protestos no 7 de setembro, data do jogo, no Rio.

Todo ouvidos Empresários disseram a Guido Mantega (Fazenda) na semana passada que, para que a economia recupere a credibilidade, é preciso que o ministro assuma postura diferente sobre algumas críticas do mercado.

Rendeu Segundo relatos, o ministro já deu sinal de que ouviu, ao reconhecer publicamente nos últimos dias que causou mal-estar entre investidores a forma de contabilizar gastos do governo.

O alvo Eles se queixam ainda de Arno Augustin (Tesouro), alegando que o secretário simboliza uma das principais causas da perda de confiança na economia, que é a contabilidade criativa.

De olho 1 Os aeroportos paulistas de Guarulhos e Viracopos, concedidos à iniciativa privada, devem ampliar seus sistemas de segurança até abril de 2014, dois meses antes da Copa do Mundo.

De olho 2 A Polícia Federal recomendou a instalação de novas câmeras, por exemplo, para coibir crimes de evasão e descaminho.

No... A prefeitura de São Paulo vai abrir os dados do sistema de GPS instalado nos ônibus da cidade para programadores que participarão de uma maratona hacker, prevista para setembro.

...ponto O objetivo é criar um aplicativo móvel que permita ao passageiro saber exatamente onde está cada ônibus da frota municipal.

Na ativa O ex-presidente Lula enviou uma mensagem em vídeo para ser exibida na posse da federação de trabalhadores da indústria química, na sexta-feira. Dirigentes enxergam o ato como mais um gesto de aproximação do PT com a entidade, vinculada à Força Sindical.

Tiroteio

Uma mentalidade despótica não sintoniza com a nossa. Deve ser um sofrimento para Joaquim Barbosa conviver com a divergência.

DO DEPUTADO FEDERAL ANDRÉ VARGAS (PT-PR), sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal declarar que seu temperamento não se adapta à política.

Contraponto

No xadrez
Chico Alencar (PSOL-RJ) observava a exposição "Parlamento brasileiro: 190 anos de História", na Câmara dos Deputados, na semana passada, quando chegou Rosane Ferreira (PV-PR). Ele, que via o painel "A Câmara dos Deputados começou na Cadeia Velha", brincou com a deputada:
- Veja como já estivemos mal abrigados no passado, colega... Ou seria medida de economia processual?
Ela respondeu:
- Triste mesmo é, já na República, haver parlamentares encerrando suas vidas públicas em cadeias novas...

Com Andréia Sadi e Bruno Boghossian

Fonte: Folha de S. Paulo

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Riccardo Muti - "Nabucco" Sinfonia in Palazzo Montecitorio

Elegia 1938 – Carlos Drummond de Andrde

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as nações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócio do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.