segunda-feira, 12 de agosto de 2013

OPINIÃO DO DIA - Fernando Henrique Cardoso: futuro nacional

Quando se pensa em valorizar os aspectos culturais é preciso reconhecer que nesse mundo que está em ebulição há valores que precisam ser reforçados.

A questão fundamental tem a ver com a Justiça, mais do que simplesmente o desenvolvimento da economia

Temos conseguido crescer socialmente sem ter tido um crescimento do PIB espetacular. Não vemos que o Brasil cresceu em outra medida, em outros aspectos que são muito importantes, inclusive do "soft power". Crescemos como democracia, como liberdade.

Não crescemos naquilo que é básico, a noção de igualdade, pelo menos perante a lei, igualdade formal ainda que seja. Falta muito no sentido da equidade.

Talvez o que motive mais as pessoas venha a ser o sentimento da decência e da dignidade. O que aconteceu nas ruas ultimamente é o exemplo de que o país está integrado ao mundo, que as pessoas têm acesso aos novos meios de comunicação e que aqui também está nascendo um sentimento novo que é o de que eu sou uma pessoa que está conectada e quero opinar.

Mas seguramente esse novo mundo, no qual considero que o Brasil tem um futuro, vai depender da criatividade nossa e de outros para abrir as instituições de modo tal que o processo deliberativo seja mais amplo e o processo decisório passe por um crivo mais amplo. Temos uma distância enorme entre as aspirações que estão postas e as respostas institucionais.

Vamos ter que caminhar muito mais na direção do social, na direção do cultural, do conhecimento e do respeito ao outro. Não podemos ter medo de nos expor ao mundo, não imaginar que podemos nos desenvolver fechando-nos, mas imaginar que para que possamos fazer isso com força de afirmação, temos que sentir dentro de nós a vontade de mudar essas coisas que são as que mais doem."

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República. In palestra na Academia Brasileira de Letras. O Globo/ Merval, 11/8/2013

Dilma gasta mais do que Lula em propaganda

A presidente desembolsou R$ 1,78 bi, em média, por ano, valor 23% maior que no governo de seu antecessor

Os gastos com propaganda do governo federal, incluindo estatais, é nos dois primeiros anos da gestão de Dilma Rousseff 23% maior, na média, do que nos oito anos de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente também vem gastando mais - cerca de 15% na média, na comparação com o segundo mandato de Lula. Com Dilma, o gasto médio por ano foi de R$ 1,78 bilhão e, com Lula, R$ 1,44 bilhão. Em dez anos de governo petista foram desembolsados, somando todos os órgãos da administração, cerca de R$ 16 bilhões, em valores corrigidos pela inflação, segundo levantamento feito pelo Estado. O valor é quase igual aos R$ 15,8 bilhões previstos para o programa Mais Médicos até 2014. Os dados foram solicitados, via Lei de Acesso à Informação, a cada um dos órgãos que a Secretaria de Comunicação Social informou ter assinado algum contrato publicitário desde 2003. O valor total pode ser maior, porque o Banco do Brasil não forneceu os dados de 2003 a 2009.

Dilma supera Lula nas despesas com propaganda; juntos, gastaram R$ 16 bi

Os gastos com propaganda do governo federal, incluindo estatais, é nos dois primeiros anos da gestão de Dilma Rous&eff 23% maior, na média do que nos oito anos de mandato de sen antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente também vem gastando mais - cerca de 15% na média, na comparação com o segundo mandato de Lula,

Ao todo, em dez anos de governo petista foram desembolsados, incluindo todos os órgãos da administração, cerca de R$ 16 bilhões, em valores corrigidos pela inflação, segundo levantamento inédito do Estado.

Á quantia é quase igual aos R$ 15,8 bilhões que o governo pretende investir no programa Mais Médicos até 2014, Com o valor também seria possível fazer quase duas obras de transposição do Rio São Francisco, atualmente orçada em R$ 8,2 bilhões. Em mobilidade urbana, seria possível construir entre 25 km e 30 km de metrô em São Paulo - um terço da atual malha - ou então colocar de pé, na capital paulista, cinco monotrilhos iguais ao que ligará o Jabaquara ao Morumbi, na zona sul, passando pelo aeroporto de Congonhas. O dinheiro gasto pelo governo com publicidade poderia também manter congelada em R$ 3 a tarifa de ônibus na cidade de São Paulo durante 50 anos.

Ainda para efeito de comparação, o valor é duas vezes superior aos recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAG) que Dilma anunciou para a capital paulista há dez dias, e que servirá para construir 127 km de corredores de ônibus, recuperar os mananciais das represas Billings e Guarapiranga, drenar vários córregos da capital e construir moradias para 20 mil famílias.

Os dados sobre os gastos com publicidade foram solicitados, via Lei de Acesso à Informação a cada um dos "órgãos que a Secretaria de Comunicação Social (Secom) informou ter assinado algum contrato publicitário desde 2003, Os dados foram computados com base na resposta fornecida por eles - o governo federal afirmou que não dispõe dessas informações de maneira centralizada.

Ao comentar os resultados do levantamento, o governo ressaltou que as despesas da administração direta - ministérios e Presidência - têm o objetivo de "levar à população, em todo o território nacional, informações de utilidade pública para assegurar seu acesso aos serviços a que tem direito e prestar contas sobre a utilização dos recursos orçamentários".

No caso dos gastos da administração indireta, como as estatais, o governo argumentou que se trata de empresas que, apesar de públicas, concorrem no mercado, portanto precisam ter a imagem bem trabalhada.

Atualmente Dilma enfrenta problemas de popularidade, que já bateu recordes, mas, depois das manifestações de junho, enfrentou uma forte queda. No fim de semana, o DatafoIha divulgou nova pesquisa que mostra uma pequena recuperação da aprovação do governo.

Médias comparadas. Nos dois primeiros anos de mandato da presidente Dilma, o governo federal gastou R$ 3,56 bilhões, média de R$ 1,78 bilhão por ano.

Nos oito anos de Lula, o governo desembolsou R$ 11,52 bilhões, média de R$ 1,44 bilhão. No primeiro mandato, a média foi de R$ 1,32 bilhão, No segundo, de R$ 1,55 bilhão - sempre lembrando que se trata de valores atualizados pela inflação.

O dado global de gastos com propaganda, de R$ 16 bilhões, pode ser, na verdade, ainda bem maior. Isso porque o Banco do Brasil se recusou a informar os seus gastos com publicidade entre 2003 e 2009, Só há dados disponíveis de 2010 a 2012, Por essa razão, a fim de evitar distorções, os dados referentes ao banco só foram incluídos 110 valor global, ou seja, nos R$ 16 bilhões, mas descartados na comparação entre os anos.

Apenas para se ter uma ideia, entre 2010 e 2012, o Banco do Brasil gastou, também em valores corrigidos pela inflação, R$ 962,3 milhões com publicidade, média anual de R$ 320,7 milhões. É, no período, o segundo órgão que mais gastou, atrás da Caixa Econômica Federal.

Banco do Brasil à parte, a Caixa Econômica, a Petrobrás e os Correios somados representam 51,12% de tudo o que o governo destinou a ações publicitárias nos dez anos de gestão petista.

Por causa do peso dessas três gigantes, a administração indireta - que engloba autarquias, fundações, sociedades de economia mista, empresas públicas e agências reguladoras -concentrou 69,4% dos gastos do governo com publicidade.

Três companhias energéticas que integram a administração indireta - Alagoas, Piauí e Rondônia não responderam ao questionamento do Estado.

Na administração direta, apenas o Ministério do Trabalho e Emprego não enviou seus dados de despesas com publicidade.

A Secom, que formula a estratégia de comunicação da Presidência, é o órgão mais gastador da administração direta, tendo sido responsável pelo desembolso de R$ 1,68 bilhão no período de dez anos. Ela é seguida pelos ministérios da Saúde, das Cidades e da Educação.

Tanto no caso da administração direta quanto da indireta, houve aumento dos gastos publicitários de 2003 para 2012. No primeiro caso, saltou de R$ 255 milhões paraR$ 626 milhões, aumento de 146%. No segundo, de R$ 775 milhões para R$ 1,15 bilhão, crescimento de 48%.

Também nos dois casos, o pico de gastos ocorreu em 2009. A Secom e os ministérios gastaram R$ 752 milhões, e a administração indireta, R$ 1,22 bilhão. Era o terceiro ano do segundo ano de mandato de Lula.

Por tradição, governos gastam mais no ano que antecede a eleição, porque a legislação eleitoral impede que, 110 último ano de mandato, o gasto com publicidade ultrapasse a media dos três anos anteriores.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Novo diretor atuou em 21 processos contra a ANS

Diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o advogado Elano Figueiredo representou o plano de assistência médica Hapvida em pelo menos 21 processos contra o órgão regulador e o Ministério da Saúde. A maioria das ações, propostas na Justiça Federal do CE e do RJ, buscava reverter punições por não pagar tratamento de segurados.

Diretor atuou em 21 ações contra ANS

Fábio Fabrini, Andreza Matais

BRASÍLIA - Novo diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o advogado Elano Figueiredo representou o plano de assistência médica Hapvida em pelo menos 21 processos judiciais contra o órgão regulador e o Ministério da Saúde. A maioria das ações, propostas na Justiça Federal do Ceará e do Rio de Janeiro, visava a reverter punições aplicadas à empresa por se negar a pagar o trata¬mento de segurados.

Figueiredo é alvo de processo na Comissão de Ética da Presi¬dência da República por esconder sua ligação com a Hapvida.

A investigação foi aberta a pedido da Casa Civil, após o Estado revelar que o diretor omitiu no currículo enviado ao Planalto ter sido representante jurídico do plano, que atua no Nordeste.

O nome do advogado foi aprovado em sabatina do Senado em julho, seis dias após a indicação pela presidente Dilma Rousseff. Nomeado no último dia 2, ele deve assumir a Diretoria de Fiscalização da ANS, que se ocu¬pa, no âmbito administrativo, dos processos de irregularidade contra planos de saúde.

Ficarão sob o guarda-chuva do novo diretor as investigações da Hapvida, que, segundo o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (Idec), é a 4ª operadora do País com mais reclamações na ANS por negativa de cobertura de consultas medicas, exames de sangue, partos e cirurgias.

Questionado pela reportagem do Estado, Figueiredo ale¬gou que, ao assumir o cargo na ANS, se retirou das ações judiciais da Hapvida. Ele adianta que vai se declarar impedido de atuar nas centenas de processos administrativos da empresa que tramitam na agência.

O advogado prestou serviços para o plano nordestino em vários períodos, de 2001 a 2010 - entre outubro de 2008 e junho de 2010, teve carteira assinada. Figueiredo também representou a Unimed contra consumi¬dores, em número menor de casos. No currículo enviado ao Pa¬lácio do Planalto, ele informou apenas ter atuado na "gestão de departamentos de advogados e estratégias jurídicas, na área de saúde". Além da omissão, o Conselho de Ética da Presidência avaliará eventual conflito de interesse na situação do novo diretor da agência.

Pressões. Figueiredo enfrenta : pressões não só fora da ANS para deixar 0 cargo. Servidores da agência enviaram uma carta ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, pedindo a troca do diretor por causa das ligações dele com a operadora do Nordeste.

Na Justiça Federal, a Hapvida ajuizou ação contra a ANS para i anular multa aplicada por cancelamento indevido de contrato com um cliente diabético, que precisava de uma cirurgia.

Nos autos, Figueiredo argumentou que o paciente já tinha a doença quando assinou o contrato, o que liberaria o plano para a rescisão. "Percebe-se que a promovente procedeu de for¬ma abusiva", avaliou o juiz, mantendo a multa. Em caso semelhante, a Hapvida se negou a pagar o tratamento de segurada com insuficiência renal, que sofria de lúpus e hipertensão. Figueiredo tentou na Justiça Federal, em vão, derrubar a sanção de R$ 35 mil, dada pela ANS.

Para lembrar

A Comissão de Ética da Presidência da República deu um prazo de dez dias para que o novo diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Elano Figueiredo, responda ofício com pedido de informações se ele foi ou não advogado de um plano de saúde. O órgão questionou também por que o dado teria sido omitido de seu currículo, apreciado pelo Congresso, quando passou por sabatina para assumir o cargo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Saúde pública - Cariocas esperam até 4 meses por consulta

Conseguir uma consulta num posto médico no Rio não é tarefa fácil. Daniel Soranz, subsecretário municipal de Saúde, admite que a espera pode demorar quatro meses, mas ressalta que o tempo chegava a nove meses: “Ainda não é razoável, mas estamos avançando." A aposentada Marlene Silva, por exemplo, já esteve quatro vezes no Centro Municipal Renato Rocco, no Jacaré, e ainda não foi atendida por um médico. Além de ficar horas na fila, ela teve que conviver com galinhas na área de triagem

Postos nada saudáveis

Cariocas madrugam na fila e esperam 4 meses por uma consulta médica na rede municipal

Taís Mendes

Serviço enfermo

O carioca ainda precisa madrugar para conseguir atendimento nos centros municipais de saúde da prefeitura. E nas filas, duas queixas comuns: a falta de médicos e a demora para conseguir uma consulta, que pode chegar a quatro meses. Enquanto a cobertura do programa Saúde da Família é de 41%, quem não é beneficiado sofre para ter acesso à saúde. Em alguns casos, nem insistindo muito. A aposentada Marlene Silva tentou quatro vezes atendimento no Centro Municipal de Saúde Renato Rocco, no Jacaré, sem sucesso. No posto, muitos se queixam da recorrente falta de médicos. A espera é longa, e as companhias não ajudam: barulho e poeira de obra, ratos e até galinhas ciscam livremente com seus pintinhos entre os pacientes na área de triagem.

A primeira vez que Marlene esteve no posto, há dois meses, era uma quarta-feira e ela não conseguiu marcar uma consulta porque a agenda só abre às segundas. Na segunda-feira seguinte, bem cedo, Marlene voltou e, na triagem, foi informada horas depois de que a médica havia sido intimada pela Justiça para prestar assistência em domicílio. Sem médico, não haveria atendimento naquele dia. Também não haveria como marcar consulta para outro dia, porque a agenda da semana já estava lotada.

- Voltei na segunda-feira seguinte. Aí, soube que o meu endereço residencial não está contemplado pelo Saúde da Família. Para esses casos, são apenas duas senhas por dia. Mas a agenda também já estava lotada para toda a semana - contou Marlene.

Com catarata em estágio avançado, Marlene voltou na quarta-feira, conforme orientação de uma funcionária do posto, para verificar se havia desistência e conseguir um encaixe. Não foi possível. Ela lembra que, além de toda a dificuldade para marcar uma consulta, protagonizou situações inusitadas:

- Primeiro disseram que não adiantava tentar telefonar porque "nunca se sabe se o telefone estará funcionando, já que ele sempre quebra". Outro dia, uma atendente se recusou a sentar-se no lugar destinado à triagem, que fica na área externa, porque havia cocô de rato em cima das mesas. Ela disse que isso era comum, e apenas raspou o cocô do rato para o chão e foi embora. Outra, desavisada, nos atendeu naquele local - lembrou.

O centro de saúde está em obras e, além de galinhas, há muito entulho e lixo no terreno ao redor do prédio.

- A aparência do posto me assustou. Só voltei lá porque precisava de encaminhamento para um hospital de referência, mas nem isso consegui. Se fosse para me tratar, saía correndo dali - disse Marlene.

Na Zona Sul, o Centro Municipal de Saúde João Barros Barreto, em Copacabana, é novinho em folha, mas enfrenta problemas semelhantes aos do posto do Jacaré: a falta de médicos e, consequentemente, a demora para marcar uma consulta.

- É muito difícil marcar consulta. Em geral, leva-se quatro meses para conseguir. Por causa disso, meu prejuízo é grande. Sem a receita, não consigo o remédio da pressão gratuitamente e tenho de pagar R$ 80 do meu próprio bolso - reclamou Dalva Gonçalves, de 65 anos.

E quando o problema não é a falta de médicos, outras ausências também atrasam o processo. Eliane de Oliveira Santos, de 59 anos, foi em vão ao posto de Copacabana na quarta-feira passada:

- Vim marcar consulta para levar o resultado dos exames, mas o funcionário que marca não veio e não tem ninguém para substituí-lo. Disseram para eu voltar na segunda-feira. Há anos faço tratamento nesse posto, e piorou muito.

Segundo Dalva, boa parte das pessoas da fila - que começa a se formar às 6h - volta para casa sem atendimento médico:

- Por volta das 7h, eles distribuem as senhas, mas nunca dá para todo mundo.

O subsecretário de Atenção Primária, Vigilância e Promoção da Saúde, Daniel Soranz, reconhece que o tempo é longo, mas afirma que a prefeitura está trabalhando para reduzi-lo:

- Antigamente, levava nove meses. Agora, são quatro. Ainda não é razoável, mas estamos avançando para reduzir esse tempo. Há previsão de inauguração de novas clínicas da família, que, com certeza, vão reduzir as filas e o tempo de espera nos postos.

Justamente para não perder a senha, Sérgio Luiz Attan, de 45 anos, madrugou quinta-feira passada na fila do Centro Municipal de Saúde Antônio Ribeiro Neto, no Centro. Morador de Anchieta, ele chegou às 4h30m e conseguiu garantir o primeiro lugar na fila para uma consulta médica:

- Estou há dois meses com o pé torcido tentando uma consulta. No posto lá perto de casa não tem ortopedista - contou.

Sérgio conseguiu até um banco velho, abandonado na rua, para suportar a espera. Do outro lado da calçada, na fila para fazer exame de sangue, a moradora de Tomás Coelho Maria José Conceição, de 50 anos, não teve a mesma sorte. Pouco antes das 7h, ela aguardava, em pé desde as 4h, a abertura do centro municipal de saúde.

- A gente precisa madrugar no posto porque o Saúde da Família não atende. Já procurei ajuda, com falta de ar, e não tinha médico - contou Maria José.

Governo promete ampliar atendimento

Soranz, que é médico sanitarista, afirmou que no início da atual gestão, em 2009, a cobertura do Saúde da Família no município era de apenas 3,5% da população, com 68 equipes. Com a inauguração de 70 clínicas da família em toda a cidade, o programa alcançou a cobertura atual de 41,6%, com 813 equipes. Atualmente, 2,5 milhões de pessoas são assistidas e, segundo o subsecretário, o programa será ampliado para cobrir 70% da população até 2016. Ainda de acordo com ele, a cidade tem 130 postos de saúde, e 80 já foram reformados. Os demais passarão por obras até 2016.

- Tínhamos um dos piores sistemas de saúde, uma das menores coberturas entre as capitais do país. Além disso, a cidade tinha a menor quantidade de postos de saúde por habitante do país. Saímos de seis milhões de procedimentos de atenção primária por ano para mais de 20 milhões realizados em 2013. O sistema está se ampliando numa velocidade importante. Sabemos que ainda há muito a fazer, mas estamos caminhando em uma velocidade que nunca se caminhou. Os exames de sangue, que levavam seis meses para ter resultado, por exemplo, agora ficam prontos em 15 dias - argumentou o subsecretário.

No caso específico do posto do Jacaré, Soranz garantiu que o número de médicos já foi ampliado, mas não disse em quanto. Segundo ele, a obra será finalizada em outubro, e o posto poderá atender com mais qualidade.

- No Renato Rocco só havia quatro médicos. Hoje tem muito mais.

Com relação à presença de galinhas no posto, o subsecretário não soube informar de onde poderiam ter vindo:

- Isso não é nada adequado. Vamos verificar o que está acontecendo - afirmou.

Fonte: O Globo

Propina na Petrobras: deputado irá ao STF para instalar CPI

"Época" denunciou negociatas com verba pública para políticos do PMDB

Vinicius Sassine

BRASÍLIA - O deputado Maurício Quintella (PR-AL) disse ontem que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) esta semana para que seja instalada a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. Segundo Quintella, as denúncias de desvio de verbas de contratos internacionais da Petrobras para políticos do PMDB, publicadas neste fim de semana pela revista "Época", ampliam as possibilidades de investigação na Câmara.

O engenheiro e ex-funcionário da Petrobras João Augusto Rezende Henriques disse, em entrevista à "Época", que peemedebistas de Minas receberam propina de contratos internacionais assinados pela estatal - até julho do ano passado, a diretoria da área internacional da Petrobras era ocupada por Jorge Zelada, apadrinhado pelo PMDB mineiro. Na denúncia, o engenheiro citou o atual ministro da Agricultura, Antônio Andrade, e o presidente da Comissão de Finanças da Câmara, João Magalhães. Ainda segundo Henriques, o dinheiro teria sido utilizado para abastecer o caixa da campanha de Dilma Rousseff na eleição de 2010.

Quintella foi um dos autores do pedido de criação da CPI. O requerimento para a instalação, com a quantidade suficiente de assinaturas de deputados, foi protocolado há dois meses e meio e, até agora, não houve decisão do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), sobre a existência ou não de fato a ser investigado.

O primeiro pedido de CPI, que reuniu 199 assinaturas - 28 a mais que o mínimo necessário, 171 -, partiu de três deputados: Quintella, Carlos Magno (PP-RO) e Leonardo Quintão (PMDB-MG). Como existe uma fila de pedidos de CPI, esta não deve ser instalada até o final de 2014, a não ser que haja uma decisão judicial. Este é o motivo do recurso ao Supremo.

- O presidente da Câmara pediu para esperarmos até o fim da semana passada, quando haveria uma resposta da Petrobras, o que não ocorreu. Estávamos pedindo que a CPI entrasse pelo menos na fila de instalação. Com as novas denúncias (da revista "Época"), não tem como o Congresso continuar deixando de fazer uma investigação séria - disse Quintella.

Revista publica áudios de entrevistas

Um dos líderes de partido que assinaram o pedido da CPI, o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) também defende a CPI para aprofundar as investigações:

- Já havia a vontade de instalar a CPI, com o número suficiente de assinaturas. As novas denúncias têm de ser investigadas. Na época, assinei o pedido porque as denúncias existentes já eram graves.

Agora, os parlamentares aguardam o posicionamento de Quintão, que é um dos autores do pedido de CPI e integra a bancada peemedebista mineira. O GLOBO tentou falar com o deputado ontem, mas ele não atendeu as ligações.

Na noite de sábado, Henriques divulgou uma nota para negar que tivesse dado entrevista à "Época". Disse que não interferia nos contratos da área internacional da Petrobras e que nunca fizera repasses de recursos a pessoas e a partidos, "sejam eles PT ou PMDB".

A revista, então, publicou em seu site os áudios das entrevistas com o engenheiro, com trechos em que ele fala dos repasses de propina ao PMDB de Minas e para a campanha de Dilma em 2010, entre outros trechos.

O requerimento de CPI propôs uma ampla investigação nos contratos internacionais da Petrobras. O pedido surgiu principalmente a partir da compra pela estatal de uma refinaria em Pasadena, nos EUA em 2006. Desde então, a Petrobras investiu US$ 1,18 bilhão no negócio (R$ 2,53 bilhões).

Fonte: O Globo

Marina tem só quatro dias para criar o partido

A candidatura da ex-senadora depende dos cartórios eleitorais. Eles precisam validar 300 mil assinaturas para a formação da Rede Sustentabilidade, mas estão sobrecarregados com a implantação do sistema de biometria

A corrida de Marina

Ex-senadora tem até quinta-feira para completar a validação de 500 mil assinaturas e oficializar a criação do partido Rede Sustentabilidade a tempo da disputa presidencial de 2014. Mesmo em alta nas pesquisas para a disputa ao Planalto, aliados admitem que ela pode ser obrigada a negociar a candidatura por outra legenda.

Daniela Garcia

Apontada por pesquisas eleitorais como o maior obstáculo à reeleição da presidente Dilma Rousseff, a ex-senadora Marina Silva tem pela frente quatro dias decisivos para uma eventual campanha ao Palácio do Planalto. Até quinta-feira, a Rede Sustentabilidade, encabeçada por Marina, precisa validar cerca de 500 mil assinaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para regularizar o novo partido, criado para dar sustentação à candidatura presidencial da ex-petista. O partido tem o relógio como principal inimigo para o projeto, já que 300 mil assinaturas ainda precisam ser validadas para a formação da Rede. Com dificuldades para consolidar os documentos em cartório, a pré-candidata pode ser obrigada a estudar vias alternativas para encarar a disputa eleitoral.

Hoje, a Rede informou que tem cerca de 800 mil assinaturas coletadas. Dessas, 600 mil foram entregues aos cartórios, mas apenas 189 mil foram validadas. Integrantes da legenda alegam que a regularização está sendo prejudicada pelo atraso dos cartórios. Segundo eles, os funcionários locais estariam sobrecarregados de trabalho, devido à implantação do sistema de biometria. “Os cartórios deveriam fazer esse processo em, no máximo, 15 dias. Mas muito deles estão demorando mais do que isso”, disse o deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ).

Outro membro da Rede, o ex-deputado federal José Fernando Aparecido (MG), reforça que o partido recolheu quase o dobro de assinaturas requeridas pelo TSE, prevendo a morosidade dos serviços em cartórios. “Nós estamos, agora, nas mãos da justiça eleitoral e contamos com a boa vontade dos cartórios para que façam o trabalho deles dentro do prazo.” O movimento, segundo ele, também já conta com 11 comissões estaduais, duas a mais do que o exigido pelo TSE.

Em reunião com a Comissão Nacional Provisória da Rede, ontem em Brasília, Marina Silva disse que está buscando com a justiça eleitoral uma solução para o atraso. Temendo que o partido seja prejudicado pela falha dos cartórios, ela anunciou que se reunirá, nesta semana, em audiência com a corregedora-geral do TSE, ministra Laurita Vaz, e com a presidente do tribunal, ministra Cármen Lúcia. “Não é justo que paguemos pela demora dos cartórios. Nós fizemos tudo o que a legislação nos pediu”, sustenta José Fernando.

Confiança

Membros da Rede parecem manter o otimismo, apesar da proximidade do prazo final estipulado pelo TSE. “Há esperanças de que esse processo seja cumprido até o fim, mesmo que seja no fio da navalha”, afirma Alfredo Sirkis. A esperança está fundamentada no registro de crescimento de popularidade da ex-senadora em pesquisas eleitorais. Segundo o Datafolha divulgado no último fim de semana, Dilma Rousseff enfrentaria um segundo turno contra Marina Silva, caso as eleições fossem hoje. A pré-candidata é a única que vem conquistando avanço gradual nos números do estudo, ao contrário do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que variou de 17% para 13%, e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que oscilou de 7%para 8%.

Em relação à última pesquisa, realizada em meio às manifestações de junho, Marina subiu de 23% para 26%. Segundo o Sirkis, o novo partido casa com as reivindicações das ruas, especialmente ao questionar o modelo político vigente. “A governabilidade tem de incluir, cada vez mais, a sociedade. Não pode haver espaços abertos. Do contrário, os políticos ocuparão.”

Caso o movimento perca o prazo, Marina e aliados discutirão uma alternativa para 2014. Até o momento, não houve debate sobre união da Rede com outros partidos, segundo Sirkis. “Isso só poderá ser discutido depois de quinta-feira. Por enquanto, vamos continuar juntando esforços para a construção do partido.”

Fonte: Correio Braziliense

Rede teme que lentidão de cartórios prejudique partido

Lei exige validação de ao menos 492 mil assinaturas para criar nova legenda

Membros do partido que Marina tenta criar afirmam já ter recolhido 850 mil assinaturas no país

Renata Agostini

BRASÍLIA - A ex-senadora Marina Silva reclamou ontem do atraso de cartórios para validar as assinaturas de apoio à criação da Rede Sustentabilidade, partido que tenta montar a tempo de participar da corrida presidencial de 2014.

"Não vamos pagar o preço por deficiências que não são nossas", disse ontem durante reunião da comissão nacional provisória da entidade, em Brasília. Ela não quis se manifestar sobre os resultados da pesquisa Datafolha.

Ela afirmou que buscará saídas com a corregedora-geral da Justiça Eleitoral, ministra Laurita Vaz, com quem deve ter uma audiência nesta semana, e com a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Cármen Lúcia.

"Estamos fazendo um esforço e torcendo para que os cartórios façam essa certificação no tempo necessário", disse Marina. A legislação exige a apresentação de 492 mil assinaturas certificadas em cartório e a Rede tem que fazer isso até outubro para participar das próximas eleições.

A Rede afirma que recolheu 850 mil assinaturas e já encaminhou 550 mil delas aos cartórios, mas muitos vêm desrespeitando o prazo legal de 15 dias para responder ao pedido. Apenas 190 mil foram validadas até agora.

Segundo Marina, alguns cartórios têm poucos funcionários para atender o grande volume de pedidos de validação. Mas ela reclama também da falta de parâmetros na análise das assinaturas dos eleitores, o que faz com que pedidos sejam anulados.

A ex-senadora mencionou o caso de jovens que nunca votaram e idosos, cuja participação nas eleições não é obrigatória. Os cartórios exigem a assinatura do eleitor nas últimas eleições para validar seu apoio à legenda. "Essas pessoas não têm culpa de nunca ter votado", disse Marina.

Fonte: Folha de S. Paulo

Bem nas pesquisas, Marina corre risco de não ter partido

A ex-senadora Marina Silva, que teve 26% das intenções de voto na pesquisa Datafolha, atrás apenas da presidente Dilma, pode não completar o processo de criação da Rede Sustentabilidade a tempo de disputar a eleição de 2014. Cartórios ainda têm de certificar 300 mil

Com voto, mas sem partido

Atrás apenas de Dilma nas pesquisas, Marina corre o risco de não viabilizar criação da Rede

Paulo Celso Pereira

Contra o relógio. "Não podemos pagar por algo que não é culpa nossa", diz Marina sobre atrasos nos cartórios

Prazo apertado

BRASÍLIA - Segunda colocada nas pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de 2014, e avançando cada vez mais na preferência do eleitorado, a ex-senadora Marina Silva enfrenta grande dificuldade para criar sua Rede Sustentabilidade. Para ser candidata pelo seu novo partido, nas próximas eleições, será preciso que a legenda seja registrada pelo Tribunal Superior Eleitoral até 5 de outubro, mas não será fácil.

Marina disse ontem que os cartórios eleitorais não têm respeitado o prazo de 15 dias para validar as assinaturas de apoio que o partido apresenta. Com isso, apesar de a Rede já ter coletado cerca de 850 mil assinaturas e apresentado cerca de 550 mil aos cartórios eleitorais - mais do que as 491.656 necessárias -, apenas cerca de 200 mil foram certificadas.

Será uma corrida contra o tempo para tentar validar mais 300 mil assinaturas até o fim de agosto, prazo considerado seguro para que o processo de criação do partido seja concluído até o início de outubro. Mas a ex-senadora segue otimista, a despeito da preocupação manifestada por alguns organizadores da nova legenda, que já até jogaram a toalha.

- Até o final da semana, chegaremos a 600 mil assinaturas entregues aos cartórios. Nós estamos cumprindo os prazos. Coletamos as assinaturas dentro dos prazos, encaminhamos para os cartórios dentro dos prazos, mas, infelizmente, uma parte dos cartórios não consegue atender o prazo de 15 dias para dizer se aquela ficha está certificada ou não. Alguns deles estão extrapolando em muito estes prazos - reclamou a ex-senadora ontem, em Brasília, onde participou de encontro da direção da futura legenda. Na pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana, ela aparece com 26% das intenções de voto, atrás apenas da presidente Dilma Rousseff, que tem 35%. Marina cresceu três pontos percentuais desde a última pesquisa.

Pedido de socorro à corregedora
Segundo Marina, vários cartórios têm número de funcionários insuficiente para realizar as checagens e, além disso, muitas assinaturas de jovens e idosos vêm sendo invalidadas por falta de registro da presença deles em eleições recentes. Os jovens, por nunca terem votado, e os idosos, por não terem votado recentemente, já que estão desobrigados pela lei eleitoral.

Diante dos percalços enfrentados, Marina pediu uma audiência com a corregedora-geral da Justiça Eleitoral, Laurita Vaz, para buscar uma solução. Há entre os organizadores do partido a expectativa de que a Justiça Eleitoral seja mais flexível, uma vez que o atraso pode se dar por causa dos problemas nos cartórios.

- Estamos juntando um volume de questões para uma conversa com a corregedora eleitoral nacional, para ver como podemos encaminhar. Nossa expectativa é que as coisas possam ser resolvidas. Nós coletamos 350 mil assinaturas além das necessárias exatamente para prever a perda em função de erros que são reais, pois não queremos validar coisas com problemas - afirmou Marina.

Mas ela espera que a Rede não perca o prazo por um atraso da Justiça eleitoral:

- Agora, também não queremos pagar o preço por falta de parâmetro que não é culpa nossa nem do cidadão. Não podemos pagar um preço por algo que não é culpa nossa. Nós estamos observado os prazos legais, esta é a nossa vantagem. Vamos pedir a orientação das autoridades, tanto da corregedora como da ministra Carmem Lúcia (presidente do TSE).

"Suspense até o último minuto"
Admar Gonzaga, ministro-adjunto do Tribunal Superior Eleitoral, não comenta a situação específica da Rede, mas explica que qualquer partido em fase de criação precisa cumprir exigências legais, e a corte não tem controle absoluto sobre os prazos:

- Quando o pedido chega, existe um prazo para impugnação, e o Ministério Público Eleitoral precisa ser ouvido. Não se trata apenas de uma vontade do tribunal de avaliar ou não o caso. O tribunal não pode ser responsabilizado.

Dirigentes da Rede consideravam o dia 15 deste mês, quinta-feira, como a data ideal para ter todas as assinaturas conferidas e aí ingressar no TSE. Cientes de que esta perspectiva já está descartada, integrantes da comissão provisória da legenda tentam agora ingressar no tribunal com todas as assinaturas até o fim do mês. Assim, a Rede precisaria que, em um mês, o tribunal recebesse o processo, o MPE se pronunciasse e os prazos de impugnação corressem sem problemas e sem diligências para, enfim, ter o registro deferido.

- Vai ser suspense até o último minuto - avalia um destes integrantes.

Uma comparação com a situação do PSD dois anos atrás, quando ele atravessava um drama para ser criado, dá a dimensão da dificuldade da Rede. O PSD acabou conseguindo o registro apenas uma semana antes do fim do prazo (início de outubro), mas, em meados de agosto, tinha cerca de 530 mil assinaturas certificadas em cartórios. A Rede tem hoje cerca de 190 mil.

Além disso, é preciso que se obtenha de nove tribunais estaduais a certificação de que a legenda conseguiu um número mínimo de representantes. Quando pediu o registro, o PSD tinha apenas uma destas certificações e conseguiu as outras oito ao longo do processo. A coordenadora nacional de coleta de assinaturas da Rede, Marcela Moraes, considera que este problema está perto de ser resolvido:

- São duas condições para que seja caracterizada a exigência de que o partido tenha formação nacional. Uma são as 491.656 certificadas em todo território nacional e a outra é um mínimo de assinaturas em pelo menos nove estados. Demos entrada nos TREs de 11 estados, e já temos 19 (estados) que atingiram o mínimo de certificadas. Portanto, haverá diversos outros estados que também vão ingressar com os pedidos de reconhecimento do mínimo nas próximas semanas.

Não é apenas Marina que está refém da criação do partido para garantir sua candidatura em 2014. Três deputados federais que trabalham abertamente na criação da legenda, Alfredo Sirkis (PV-RJ), Domingos Dutra (PT-MA) e Walter Feldman (PSDB-SP), vivem situação delicada. Os três sabem que há pressões dentro de suas atuais legendas para que eles sejam retirados da chapa de candidatos, caso a Rede não seja criada a tempo.

- Já sabíamos que esta situação de ter uma definição a respeito da legalização da legenda na bucha criaria dificuldades grandes, especialmente em relação à montagem de chapas de deputados federais e estaduais. O potencial da Rede no Congresso era chegar a 20 deputados nesta legislatura, mas tem apenas três porque fomos bastante desapegados - explica Sirkis.

Para Sirkis, mesmo que a Rede consiga ser criada até outubro, haverá dificuldade de montar chapas que assegurem boas bancadas.

Fonte: O Globo

Ascensão de Marina amplia pressão sobre Aécio no PSDB

Sem espaço no partido, Serra quer 'comparação' direta com senador mineiro

Em terceiro lugar no Datafolha, Aécio espera crescer com maior exposição na televisão em setembro

Daniela Lima, Catia Seabra

BRASÍLIA, SÃO PAULO - A ascensão da ex-senadora Marina Silva na corrida presidencial e o desempenho tímido do senador mineiro Aécio Neves (PSDB) reavivaram antigas divisões no principal partido da oposição sobre a melhor maneira de enfrentar a presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014.

Os resultados da mais recente pesquisa do Datafolha, divulgados ontem, mostram que o senador mineiro perdeu quatro pontos no cenário mais provável. Marina Silva foi a única candidata no campo da oposição que avançou, indo de 23% para 26%.

Aécio teve desempenho inferior ao do ex-governador paulista José Serra (PSDB), que perdeu duas eleições presidenciais para o PT e pensa em se candidatar de novo em 2014. A pesquisa divulgada ontem é a primeira do Datafolha em que Serra é testado.

Serra disse ontem que deseja uma "comparação" direta com o mineiro. "Independente de ser candidato ou não, a pesquisa não permite uma comparação adequada entre mim e Aécio", afirmou. "Fica evidente como o quadro sucessório é mutante."

Sem mencionar os rivais, Aécio afirmou que os números do Datafolha refletem o maior conhecimento dos candidatos que disputaram eleições anteriores, como Serra e Marina. "É a informação mais relevante", disse o senador.

A pesquisa mostra que 77% do eleitorado conhece Aécio, 87% conhecem Marina Silva e 96% sabem quem Serra é.

Desde que assumiu a presidência do PSDB, em maio, Aécio ganhou projeção para construir sua candidatura. Ele deverá ser a estrela dos programas que o PSDB exibirá em cadeia de rádio e televisão em setembro, no espaço reservado pela legislação para a propaganda dos partidos.

Sem espaço no PSDB, Serra estuda a possibilidade de mudar de partido para concorrer às próximas eleições. Os números do Datafolha mostram que isso dividiria ainda mais o eleitorado tucano, prejudicando ele e Aécio.

Serra foi convidado neste ano a se filiar ao PPS para se candidatar a presidente. Ele tem cogitado até a possibilidade de disputar uma prévia no PSDB com Aécio, embora saiba que o senador tem hoje apoio majoritário na sigla.

Nos cenários em que os dois tucanos foram testados juntos pelo Datafolha, Serra e Aécio, somados, praticamente empatam com Marina. Concorrendo sozinho, Serra se sai um pouco melhor que Aécio, que não consegue atrair todos os votos de Serra com o rival fora da disputa.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), vice-presidente do PSDB, disse que a sigla deveria ter realizado prévias para escolha de seu candidato em vez de abraçar a candidatura de Aécio no início do ano.

"A especulação de que Serra vai sair só provoca instabilidade. Em vez de dividir o partido, deveríamos promover a unidade", afirmou Dias.

O deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), um dos principais aliados de Aécio, disse que a posição de Dias não reflete a da maioria do partido.

"Aécio conseguiu unir o PSDB", afirmou. "O fato é que uma eleição que era dada como certa agora está totalmente aberta. Está claro que o povo descartou a continuidade automática do governo Dilma como principal opção."

Mesmo entre os mais próximos do senador mineiro, há cobranças para que ele seja mais incisivo. "O que a pesquisa mostra é que todos os candidatos que não são Dilma Rousseff ou Marina Silva precisam falar mais com o povo", afirmou o deputado Sérgio Guerra (PSDB-PE).

Fonte: Folha de S. Paulo

Eduardo Campos volta a criticar antecipação de debate eleitoral

FORTALEZA - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), possível candidato à Presidência no próximo ano, afirmou que os resultados da pesquisa Datafolha, na qual aparece em último lugar, oscilando entre 3% a 8% das intenções de voto, não mudam a estratégia do PSB para 2014.

Campos criticou a antecipação do debate eleitoral e voltou a dizer que 2014 será decidido "no tempo certo".

Segundo ele, "é preciso uma unidade de todos os brasileiros" para "ajudar o Brasil a retomar o seu crescimento". "Isso não vai ser feito antecipando um pleito eleitoral, eleitoralizando o debate."

O governo Dilma Rousseff, apoiado pelo PSB de Campos, tem acumulado más notícias na área econômica. Campos não assume publicamente sua candidatura à Presidência, mas tem se articulado com políticos e empresários para acumular força.

"Em 2014 vai ter eleição, no tempo certo cada força política vai ver qual é a maneira que entende e pode ajudar mais o Brasil. Essa ansiedade não tem ajudado", disse.

Fonte: Folha de S. Paulo



Democracia representativa e participação - Marcus Pestana

Um tsunami de cidadania, indignação e participação explodiu nas ruas em junho e julho. De forma inesperada e imprevisível, surpreendeu lideranças políticas e sociais, intelectuais e analistas. O esforço para a compreensão do impressionante e inovador fenômeno ainda vai consumir rios de tinta em artigos, entrevistas e estudos. Algumas coisas importantes foram escritas por FHC, Fernando Gabeira, Luiz Werneck Vianna, André Lara Resende, entre outros. Uma das questões mais interessantes, mas não propriamente nova, é a recolocação no Brasil, em novo patamar, das discussões sobre as relações entre Estado e sociedade e as dimensões de representação e participação direta na democracia.

Instituições, partidos políticos e lideranças reagiram, num primeiro momento, de forma atabalhoada, acuados e traumatizados. Algumas mudanças foram introduzidas, alguns avanços conquistados. Mas o mais importante foi a verdadeira chacoalhada na realidade, dominada, até então, por uma impressão de que tudo ia bem no país e de que a hegemonia petista, cada vez mais pragmática e sem conteúdo transformador, sustentada no mais puro patrimonialismo e fisiologismo, teria vida longa.

Da sua parte, os movimentos de rua apresentaram no “day after” uma natural dificuldade de fixação de agendas e de representação para a construção do diálogo com governantes e instituições.

Não houve um único movimento, como foram o das Diretas Já e o pelo afastamento de Collor. Foram múltiplos movimentos, expressando angústias e expectativas diversas, multifacetados, sem agenda ou dinâmica únicas, espontâneos em seu início. Cidadãos independentes, jovens sem vinculações, famílias inteiras se misturaram a skinheads, anarco-punks, black blocks, militantes “clandestinos” de diversos partidos rechaçados em suas tentativas de participação aberta. Sem palanque, sem palavras de ordem unificadas, sem objetivo estratégico claro, sem um caminho previamente imaginado para a conquista de utopias perseguidas ou de plataformas políticas consensuais.

Além disso, é preciso não absolutizar o sentido e o significado do movimento, glamourizar todas as suas faces e permanecer perplexo e acuado quando valores essenciais para a democracia são agredidos. Vale lembrar que democracia é expressão da maioria, e que uma minoria ruidosa não pode impor sua lógica à maioria por vezes silenciosa. A violência defendida como instrumento legítimo por alguns segmentos, por exemplo, não obteria sequer 1% de apoio em eleições livres e democráticas.

Diante de um fenômeno novo que abalou profundamente o “status quo”, a precipitação de intervenções eivadas de populismo, demagogia e oportunismo é escolha equivocada, como suposta “resposta às ruas”. A democracia e a economia brasileira amadureceram muito nas últimas décadas e é preciso firmeza e solidez para defender o patrimônio coletivo conquistado. Evidentemente com as necessárias e inevitáveis correções de rumo.

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB de Minas

Fonte: O Tempo (MG)

A ordem veio de cima

O Tribunal Superior Eleitoral sumiu com os pareceres técnicos que sugeriam a reprovação das contas do PT na época do mensalão e da campanha da presidente Dilma em 2010. Documentos revelam que isso ocorreu por determinação do ministro Ricardo Lewandowski.

Rodrigo Rangel

Em outubro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal monopolizava as atenções do país quando alinhavava as últimas sentenças aos responsáveis pelo escândalo do mensalão. Naquele mesmo mês, só que em outra corte de Justiça e bem longe dos holofotes, um auditor prestava um surpreendente depoimento, que jogava luz sobre episódios ainda nebulosos que envolvem o maior caso de corrupção da história. O depoente contou que, em 2010, às vésperas da eleição presidencial, foi destacado para analisar as contas do PT relativas a 2003 — o ano em que se acionou a superengrenagem de corrupção. Foi nessa época que Delúbio Soares, Marcos Valério, José Genoino e o restante da quadrilha comandada pelo ex-ministro José Dirceu passaram a subornar com dinheiro público parlamentares e partidos aliados. Havia farto material que demonstrava que a contabilidade do partido era similar à de uma organização criminosa. Munido de documentos que atestavam as fraudes, o auditor elaborou seu parecer recomendando ao tribunal a rejeição das contas. O parecer, porém, sumiu — e as contas do mensalão foram aprovadas.

Menos de dois meses depois, ocorreu um caso semelhante, tão estranho quanto o dos mensaleiros, mas dessa vez envolvendo as contas da última campanha presidencial do PT. O mesmo auditor foi encarregado de analisar o processo. Ao conferir as planilhas de gastos, descobriu diversas irregularidades, algumas formais, outras nem tanto. Faltavam comprovantes para justificar despesas da campanha. A recomendação do técnico: rejeitar as contas eleitorais, o que, na prática, significava impedir a diplomação da presidente Dilma Rousseff. como determina a lei. Ocorre que, de novo, o parecer nem sequer foi incluído no processo — e as contas de campanha foram aprovadas. As duas histórias foram narradas em detalhes pelo auditor do Tribunal Superior Eleitoral, Rodrigo Aranha Lacombe, em depoimento ao qual VEJA teve acesso. Ambas cristalizam a suspeita de que a Justiça Eleitoral manipula pareceres técnicos para atender a interesses políticos — o que já seria um escândalo. Mas há uma acusação ainda mais grave. A manipulação que permitiu a aprovação das contas do mensalão e da campanha de Dilma Rousseff teria sido conduzida pessoalmente pelo então presidente do TSE, o ministro Ricardo Lewandowski.

O depoimento do auditor, que trabalhou no TSE de 2003 até o ano passado, foi prestado ao juiz Carlos Henrique Perpétuo Braga, secretário-geral do TSE e braço-direito da atual presidente do tribunal, a ministra Cármen Lúcia. Veio precisamente de Cármen Lúcia a decisão que, em junho de 2010, aprovou com algumas ressalvas as contas do mensalão. O auditor Lacombe afirma que a ministra foi induzida a erro pela assessoria, que teria ignorado graves irregularidades apontadas, por exemplo, em documentos da Receita Federal que mostravam movimentações financeiras muito além das declaradas pelo PT e empréstimos fajutos tomados junto aos bancos BMG e Rural no auge do mensalão. Lacombe diz que a assessoria da ministra foi "negligente, porque eram graves e de fácil comprovação as irregularidades". O auditor relata que, na sequência, recebeu a incumbência de produzir um relatório sobre o caso e identificou um rosário de problemas que, nos pareceres anteriores, haviam sido solenemente ignorados. Um dos pontos centrais do parecer do auditor dizia respeito a uma resolução baixada um ano antes pelo próprio TSE segundo a qual o tribunal não pode desconsiderar documentos fiscais que indiquem irregularidades na movimentação financeira dos partidos, especialmente quando esses papéis forem provenientes de auditorias da Receita. Era exatamente o caso do PT, que após o mensalão havia sofrido uma devassa do Fisco. Com essa e outras considerações, o parecer elaborado por Lacombe que indicava a rejeição das contas foi então encaminhado à direção do tribunal para que fosse juntado ao processo e servisse de subsídio para a decisão da relatora. "Eu nunca fiquei sabendo desse parecer", garante a ministra Cármen Lúcia.

Parte integrante de uma sindicância instaurada para apurar exatamente a má conduta de servidores do setor de fiscalização partidária do tribunal, o depoimento do auditor Lacombe também revela articulações que possibilitaram a aprovação das contas da campanha da então presidente eleita, Dilma Rousseff. Durante o trabalho, ele concluiu que gastos superiores a 2 milhões de reais não estavam devidamente comprovados com documentos fiscais, como exige a lei. Eram, em sua maior parte, despesas com passagens aéreas. Na opinião do auditor, a irregularidade deveria levar à rejeição das contas de Dilma. Lacombe relata que, primeiro, foi orientado pela chefia imediata a alterar o parecer. E que, como ele não cedeu, outros auditores foram designados para elaborar um novo documento. É aí que surge a revelação mais surpreendente do depoimento: Lacombe disse ter sido informado, tempos depois, de que a alteração havia sido feita "a pedido do ministro Ricardo Lewandowski".

A afirmação causou perplexidade e, num primeiro momento, muitas dúvidas. Primeiro, porque não é normal que o presidente do tribunal interfira no teor de um parecer da auditoria. Segundo, porque qualquer juízo de valor sobre questões técnicas do processo só pode ser feito pelo ministro-relator do caso — ainda assim, apenas no momento de elaborar sua decisão. Em ambos os casos, Lewandowski não era nem uma coisa nem outra. Diz a atual presidente do tribunal, a ministra Cármen Lúcia: "Um presidente do tribunal não despacha com os funcionários da área técnica. Um presidente do tribunal nem fica sabendo de parecer. Não acredito nem em sonho que ele (Lewandowski) tenha feito isso". "Isso é muito grave. O ministro não podia mandar alterar um parecer da área técnica", define um ex-presidente do tribunal, que pediu para não ser identificado. Mas quem garante que foi mesmo o ministro o responsável pela interferência indevida?

Em seu depoimento, o auditor conta ter ouvido essa versão da boca de uma auxiliar do próprio Lewandowski. Procurado por VEJA, o ministro negou que tenha feito qualquer incursão a favor do PT ou da presidente Dilma Rousseff. Em nota, ele disse que a Coepa, o órgão técnico do tribunal encarregado da análise de contas eleitorais e partidárias. é formado por profissionais de alto nível de especialização, que trabalham com "absoluta independência e isenção". "Diante dessas características", escreveu o ministro, "é impossível a interferência externa ou interna de quem quer que seja nas conclusões da Coepa, que delibera com plena autonomia, tendo como base a legislação aplicável e os documentos que integram os autos do processo." Esclarecido? Não. Documentos anexados à sindicância desmentem o ministro. Eron Vieira Pessoa, funcionário do TSE, confirmou que Lewandowski convocou uma reunião com os servidores do setor de fiscalização para reclamar do parecer que opinava pela rejeição das contas da campanha presidencial petista em 2010. "Na oportunidade, o ministro presidente externou frontal discordância e descontentamento com o entendimento exarado pela unidade técnica", disse Eron. A postura do ministro, segundo o funcionário, "motivou a alteração do entendimento da unidade técnica". Ou seja: Lewandowski, que diz ser impossível a interferência de quem quer que seja, interferiu no processo que analisava as contas petistas — e inverteu a conclusão dos peritos.

VEJA teve acesso a outros documentos ainda mais contundentes, incluindo mensagens eletrônicas despachadas pelo próprio Lewandowski, que revelam o empenho dele na aprovação das contas de campanha da presidente Dilma Rousseff. Faltavam dez dias para a cerimônia de diplomação da presidente eleita. Nas mensagens trocadas com assessores, o ministro, que nada tinha a ver com o processo, cujo relator era o juiz Hamilton Carvalhido, demonstra irritação com o teor do parecer que pedia a rejeição das contas — um "problemão", nas palavras dele. "Não estamos lidando com as contas de um "boteco" de esquina, mas de um comitê financeiro de uma presidente eleita com mais de 50 milhões de votos. Se fosse assim, contrataríamos um técnico de contabilidade de bairro", escreveu o ministro a Patrícia Landi, sua funcionária de confiança e então diretora-geral do TSE.

Em outra mensagem, em resposta a uma minuta que acabara de receber apontando justamente as irregularidades nos documentos apresentados pelo PT. o ministro estrila: "Não entendi! Qual a diferença entre faturas e notas fiscais para o efeito de prestação de contas? É uma irregularidade insanável? As despesas não têm origem? Foram fraudadas?". Ele segue indagando: "Quais as consequências práticas dessa desaprovação? Não seria possível a aprovação com ressalvas ou essa era a única alternativa? De quem foi a decisão? Qual a repercussão desse parecer sobre a diplomação dos candidatos eleitos?". "Quero receber explicações detalhadas por ocasião do meu retorno na quarta-feira", arremata o ministro, em tom imperial. Diligente, Ricardo Lewandowski estava em viagem ao exterior. "Assim que voltou a Brasília, ele reuniu os chefes do setor e ordenou as alterações nos pareceres", disse a VEJA um graduado funcionário da área técnica. Como queria Lewandowski, as irregularidades apontadas nas contas da candidata Dilma Rousseff foram desprezadas. Como queria Lewandowski. as contas foram aprovadas na semana seguinte, a tempo de não criar nenhum "problemão" para Dilma nem para o PT. Nesta semana, o Supremo Tribunal Federal retoma a parte final do julgamento dos mensaleiros. Analisará os últimos recursos dos 25 réus condenados à cadeia. Provavelmente serão reeditados os acalorados debates entre o relator do processo, o ministro Joaquim Barbosa, e o revisor Ricardo Lewandowski, que sempre defendeu a absolvição dos principais acusados.

Com reportagem de Hugo Marques

Fonte: Revista Veja

Fundador do PT deixa o partido - O sonho acabou

Fundador do PT e um dos mais simbólicos parlamentares do Congresso, o deputado Domingos Dutra, do Maranhão, anuncia que vai deixar o partido.

Robson Bonin

O PT foi engolido pelo sistema

Desde que trocou o quilombo de Saco das Almas, onde nasceu, pelo Congresso Nacional, em Brasília, o deputado Domingos Dutra, do PT do Maranhão, alimentava um sonho: pôr um ponto-final na histórica supremacia da família Sarney, que há décadas comanda a política no estado. Dez anos atrás, quando finalmente seu partido chegou ao poder, o parlamentar passou a enfrentar o dilema da realidade. Fundador e militante histórico do PT. Dutra, graças à política de alianças firmadas pelo ex-presidente Lula, se viu transformado de adversário a parceiro formal do PMDB de Sarney. O deputado jamais aceitou essa condição. Os dois mandatos de Lula e os dois anos e meio de Dilma Rousseff, porém, não só consolidaram a aliança com Sarney como também subordinaram o PT maranhense ao comando e aos interesses dos peemedebistas. Na semana passada, a realidade finalmente se impôs em sua plenitude: Dutra jogou a toalha e resolveu anunciar sua desfiliação do PT. "É falta de honestidade política da minha parte ficar num partido dominado pelos Sarney", explica.

A decisão do deputado maranhense diz muito sobre o que era e o que se tornou o PT ao longo do seu processo de ascensão ao poder. Aos 57 anos, Dutra é o retrato de uma face esquecida do petismo. Fiel às bandeiras históricas — a defesa de causas ligadas aos direitos humanos, aos negros, índios e quilombolas — o deputado é do tempo em que os petistas pregavam a ética na política e saíam à rua para vender broches e camisetas para manter a independência partidária e sustentar a luta por mudanças no sistema político. Dutra fundou o PT no Maranhão no mesmo dia em que o partido foi criado em nível nacional. Na semana passada, ao lembrar desse detalhe, ele chorou enquanto repisava seus 33 anos de militância. Sentado em uma poltrona do gabinete, com os pés descalços — ele usa sandálias de tiras de couro, o jeito simples que marca sua atuação na Câmara — desabafou: "Vou sair com dor no coração. Ninguém deixa uma história assim. Mas saio por coerência com aquilo que o PT sempre se propôs, que foi emancipar os mais pobres".

Amigo de Lula, com quem conviveu desde os primeiros dias de PT — ele guarda até hoje fotos antigas como a que ilustra esta página —. Dutra não perdoa ao ex-presidente por ter transformado o partido naquilo que o PT nasceu para combater. "O Lula e o Zé Dirceu cansaram de comer camarão seco e ovo com farinha lá no Maranhão comigo. Em 1994, ele fez a caravana da cidadania. Eu era presidente do PT no estado. Cortamos o Maranhão todo de ônibus de linha, dormindo em casa de militante. Eu vi o Lula esculhambar o Sarney em praça pública", indigna-se. "Ele teve a chance única de limpar esse mundo político, mas não quis. Os 300 picaretas que ele denunciou continuam no mesmo lugar no Congresso", completa.

É a lembrança dos tempos de dificuldade e de luta contra o sistema vigente que magoa o deputado. Filho de uma quebradeira de coco e um lavrador, Dutra não enriqueceu na política e jamais deixou o Maranhão. Por isso ressalta que é doloroso ver toda a soberba — os jantares, os vinhos caros, os restaurantes e o dinheiro abundante — dos companheiros de Brasília. "Continuo comendo camarão seco e ovo cozido com pinga até hoje. Eu não bebo uísque", diz. O maranhense é um dos poucos petistas que consideram justo o julgamento do mensalão. "É triste ver companheiros nossos condenados por corrupção, mas o PT se perdeu e foi engolido pelo sistema."

Inconformado com o distanciamento ideológico do partido de sua origem, e sem espaço no PT para lutar contra o domínio da família Sarney, Dutra passou a ajudar a construir a Rede Sustentabilidade, da ex-senadora e também ex-militante petista Marina Silva. Ele estuda se candidatar no próximo ano pela nova legenda.

Por que o senhor vai sair do PT?

Isso vem desde a minha greve de fome em 2010, quando o diretório nacional obrigou o PT do Maranhão a se coligar com os Sarney. No dia da intervenção, o Manuel da Conceição, um dos fundadores do PT, tentou falar três vezes na reunião, mas o José Genoino e o José Dirceu não deixaram. Ele veio ao plenário da Câmara e entrou em greve de fome comigo. Agora, já estamos chegando a 2014 e continua essa relação promíscua. Recentemente, um militante nosso usou dez segundos de uma inserção na TV para dizer que o Maranhão é atrasado. A fala saiu do ar porque o Sarney mandou o Rui Falcão tirar. Saio por coerência com aquilo que o PT se propôs, que foi emancipar os mais pobres.

Qual a razão para essa mudança de foco?

Essa é uma conta que deve ser debitada ao presidente Lula. Não consigo entender a dívida que o governo e o PT têm com o senador José Sarney e sua família. 0 único estado que continua em situação de miséria e corrupção absoluta é o Maranhão. Se tem alguém que é responsável por isso, esse alguém é o Lula. Ele sustenta essa oligarquia.

O senhor disse que é militante e amigo pessoal de Lula desde a década de 80.

O Lula teve a chance única de limpar esse mundo político, mas não quis. Os 300 picaretas que ele denunciou continuam no mesmo lugar no Congresso - e o pior é que muitos agora são nossos aliados. Achei muito simbólico o Sarney, que não larga quem está no poder, deixar a Dilma no dia da posse dela e ir levar o Lula a São Bernardo do Campo. Há uma intimidade muito grande entre os dois. Eu gostaria que o presidente Lula fosse um embaixador dos índios, dos negros, dos quilombolas, e não um intermediário de gente como Sarney e Eike Batista.

Como o senhor definiria hoje o Partido dos Trabalhadores?

A história do PT sempre foi feita com a ideologia dos seus militantes. Em 1982, fui candidato a vereador em São Luís só para divulgar o PT. Na primeira campanha do Lula, todo mundo vendia camiseta, fazia bingo, pedia contribuição individual em festa para arrecadar dinheiro. Eu fiz muita feijoada e vendi muita rifa no Maranhão para construir o partido. O PT se perdeu. Foi engolido pelo sistema.

O senhor se refere ao mensalão?

Embora tenha a clareza de que houve muitas mudanças positivas nestes dez anos, deu no que deu: o mensalão e toda essa gente condenada. Lamento muito o mensalão.
É uma tristeza ver companheiros da gente condenados por corrupção. Eles tiveram os melhores e mais caros advogados, ampla defesa, e foram condenados em um julgamento longo e transparente no Supremo.

Fonte: Revista Veja

Ignorância, sacanagem e mediocridade, um desserviço à democracia. – Alberto Goldman

A primeira vez que ouvi falar sobre o trem de alta velocidade ( "trem bala") foi em 1993, quando fui Ministro dos Transportes do governo Itamar Franco. Recebi representantes de uma empresa alemã ( não sei se foi a Siemens ) que me propunham fazer os estudos de viabilidade do trem entre São Paulo e Rio sem qualquer custo para o governo federal. Já tinham trabalhado com o mesmo intuito para o GEIPOT, empresa estatal que fazia projetos e planejamento para o governo. Claro, de graça, autorizei os estudos. Durante muitos anos não ouvi mais falar-se do assunto.

Quando fui vice governador de São Paulo e Secretário de Desenvolvimento, no governo Serra, fui procurado por um grupo italiano que dizia que tinha feito os mesmos estudos e chegado à conclusão de que a obra era viável. Duvidei, analisei as bases do estudo e mantive a minha descrença. Em 2008 recebi representantes do governo federal ( BNDES, Ministério dos Transportes e ANTT ) que mostraram o trabalho feito por uma empresa contratada pelo BNDES para a viabilização do empreendimento. Mais uma vez percebi que era uma aventura, uma fantasia da dupla Lula/Dilma, que pretendia concluir a obra para os jogos da Copa, em 2014. Fala-se agora em 2020.

Desde então o modelo de negócios da obra já foi mudado dezenas de vezes. Marcada a publicação do edital dezenas de vezes. Prevista para ser executada exclusivamente com recursos privados, foi Incluído o financiamento do BNDES, a participação do governo com recursos orçamentários, a participação dos fundos de pensão, dos correios, assegurada a garantia da demanda de passageiros, a participação da estatal VALEC, da recém criada EPL, a mudança das taxas de remuneração do capital e outros diversos malabarismos para viabilizar o intento.

A presidente, os ministros, os dirigentes dos diversos órgãos públicos já realizaram centenas de reuniões com os interessados, ALSTOM, CAF, SIEMENS, com os japoneses, coreanos, chineses, mudando e mudando os termos do negócio, adiando e adiando a publicação dos editais, sempre tentando colocar o negócio em pé. Nada. Passaram-se anos e nada. Agora, vários já desistiram e teriam sobrado as três primeiras. A ALSTOM estaria com a proposta nos finalmente(s), a CAF enrolada com o acidente na Espanha e a SIEMENS pedindo mais prazo.

Nunca antes nesse país se viu tamanho rolo entre o interesse público e o privado, o governo abrindo as pernas para os empreendedores que ainda assim não se mostram seguros ou satisfeitos. Sobre isso, a imprensa se cala. E acabo de ouvir no JN que lá nos idos de 2004 o governo paulista teria atendido a um pedido de adiamento de uma semana em uma licitação de trens de CPTM, como se isso fosse um crime. Como se fosse um escândalo.

Que o cidadão comum tenha dificuldades de entender tudo o que se passa, em compreendo. O que não aceito é que parte da mídia impressa, falada e televisiva trata do assunto de forma leviana. Tudo para se apresentar ao público como equilibrados entre as duas maiores forças políticas do país. Já que tiveram de apresentar o episódio do mensalão, sob o comando do PT, em seus detalhes, com dirigentes petistas condenados, e o que virá mais nas próximas semanas, procuram, sob pressão do governo e do PT, alguma irregularidade nos governos do PSDB. Nenhuma semelhança, mas não estão aí para esclarecer.

Ignorância, sacanagem e mediocridade, é um desserviço à democracia.

Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB, foi governador de S. Paulo

De médicos e letras - Paulo Brossard

Por motivos ignorados, o governo, ou sua chefe, interferiu ostensivamente no setor elétrico ao antecipar a renovação das concessões e impor a redução das contas de luz; deixou para o futuro prover os meios para a solvência da medida simpática. Agora parece ter chegado a hora das dificuldades aparecerem em sua real expressão; alguns alvitres sugeridos foram afastados e o problema continuou insoluto. Até quando não se sabe. O caso revela o que tem sido dito. O governo tem gasto e muito. Mas de maneira inadequada, deixando de lado setores fundamentais. Baseando sua concepção de política econômica no aumento do consumo, desprezou investimentos ditos de base ou de infraestrutura, e só agora, segundo divulgado, teria se convencido da necessidade de rever seu traçado teórico; ora, os seus efeitos dessa revisão, quando efetivada, não se colhem no dia seguinte; enquanto isso, o termo de quadriênio se aproxima, a reeleição tem data certa e os resultados podem ser tardios. Esse raciocínio parece explicar sinais de desconforto supostamente experimentado pela chefe de governo aferrada à modesta queda da taxa inflacionária; longe de mim contraditá-la, mas me permito notar que enquanto a presidente dá ao fato caráter de permanência, seu ministro da Fazenda ao mesmo tempo alude à tendência de aumento da inflação no segundo semestre do ano em curso. E esta foi, em editorial, observada sensatamente que seria irresponsabilidade negar a existência de pressões inflacionárias...

Mudo de assunto. Semana passada, participei do lançamento de mais um livro, e era o terceiro em período que não fora longo. Dei-me então conta de que os autores eram altas expressões da medicina, ao mesmo tempo que frequentavam as boas letras. Pela ordem dos lançamentos, são eles: o Dr. Nei Mário Amaral, autor de Desesperadamente Vivo, elegante edição da "Buqui", o Dr. Fernando Lucchese, Não Sou Feliz, Por Quê?, e cuja copiosa produção é editada pela L&PM, e o Dr. James Freitas Fleck, o último a ingressar nas cidades das letras, com o volume Conexão Anticâncer, as múltiplas faces do inimigo interno, em bela edição da Movimento.

Desnecessário dizer que todos os três volumes têm traços mais ou menos acentuados com as atividades profissionais dos autores. Na roda de médicos a que cheguei, ocorreu-me lembrar que parece que os médicos voltaram a ser escritores, pois se vários fundadores da Academia de Letras eram médicos ilustres e ao longo do primeiro centenário a prática se repetiu, o mesmo ocorreu no Rio Grande do Sul; no jornalismo, Fábio de Barros e Raul Pilla, ambos professores de Medicina, Fábio de Barros, sob o pseudônimo de Vitoriano Serra, durante anos exerceu o jornalismo, dominava as letras antigas, gregas e latinas e a literatura ocidental, predominantemente francesa e alemã; Raul Pilla, durante decênios, escreveu na imprensa no Rio Grande, São Paulo e Rio de Janeiro artigos preferencialmente de natureza política, pois durante toda sua vida também exerceu atividade política, sendo parlamentar e dirigente partidário; sua linguagem tinha a correção, nobreza e limpidez, assim como invejável poder de síntese que o caracterizava. Outro consumado mestre da pena foi Olintho de Oliveira, como crítico de arte, Ramiro Barcelos, o autor da insuperável sátira Antônio Chimango, mais adiante Cyro Martins e Dyonélio Machado, médicos e autores consagrados; e pedindo perdão pelas omissões e para encerrar com um contemporâneo, o Dr. José A. Camargo, notabilidade cirúrgica nacional e internacional e que semana por semana escreve admiráveis crônicas em sua simplicidade e humanidade. Teria muito a dizer, mas o tempo acabou, quer dizer, o tempo não, o papel.

*Jurista, ministro aposentado do STF

Fonte: Zero Hora (RS)

Dia dos pais - Aécio Neves

Escrevo na manhã de domingo (11), enquanto espero pelo almoço com minha filha.

Acabei me decidindo por esse tema em função do simbolismo da data que, apesar de tão esmaecida pelo viés comercial, acaba por reforçar a constatação da velocidade dos dias e da inevitável dificuldade que muitos de nós temos em priorizar tempo, compromissos, desejos e expectativas.

Por mais diferente e única que seja cada experiência, existem algumas questões que, em maior ou menor grau, são comuns a todos os que experimentam o sentimento da paternidade.

E algumas delas foram agravadas no Brasil de hoje.

A primeira, mais óbvia, é o temor de que, em algum momento, nossos filhos acabem alcançados pela alarmante e dramática violência que se abate sobre a nossa juventude. Trata-se de uma tragédia de muitas faces, entre as quais se destacam os homicídios e os acidentes de trânsito, contados aos milhares por ano, e que justificam os temores e apreensões de tantos pais e mães.

Outra preocupação é o alto desemprego entre os jovens, que destoa do discurso do pleno emprego tão alardeado pelo governo. A taxa para quem tem entre 16 e 24 anos está quase três vezes acima da média, pontuando em 15%, o que confirma que ainda devemos a eles novas portas de oportunidades para que possam construir suas vidas profissionais e conquistar sua preciosa autonomia.

A mim preocupa, sobretudo, o desafio de construção de um senso ético que faça sentido para as novas gerações e que, para ser coletivo, precisa ser, antes de tudo, individual.

Para os nossos filhos, o mundo virtual é o mundo real e chama a atenção o crescimento de relatos de bullying, da cruel e gratuita exposição da privacidade provocada por amigos na internet. Infelizmente, estão longe de constituir episódios isolados e parecem apontar para uma triste e desrespeitosa banalização das relações humanas.

Há uma geração que precisa ser ouvida para ser fortalecida em seus valores e identidades, desafio que se impõe à sociedade como um todo.

Recente pesquisa do Ipea, realizada com 10 mil jovens em todo o Brasil, mostra a forte sintonia da juventude brasileira com o conjunto de reivindicações da população: educação de qualidade; melhoria dos serviços de saúde; acesso a alimentos; governo honesto e atuante; proteção contra o crime e a violência; melhores oportunidades de trabalho; transporte eficiente e estradas.

Mas é Dia dos Pais.

Pai é para sempre. Mesmo quando não está mais entre nós. Por isso, dedico a coluna desta segunda-feira especialmente àqueles que, como eu, ainda não se acostumaram com a cadeira vazia no almoço de domingo.

Aécio Neves, senador e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

O gigante dormiu. De novo - Ricardo Noblat

Acho que é o momento de acabar com o toma lá dá cá
Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado

Previdente, esse rapaz. Sabe onde pisa. Como relator do novo regimento interno do Senado, Edison Lobão Filho (PMDB-MA), no exercício do cargo que seu pai, ministro das Minas e Energia, deixou vago, decidiu sumir com a palavra ética. Está no Houaiss: “Ética é o conjunto de preceitos sobre o que é moralmente certo ou errado”. Moral “é o conjunto de regras de condutas desejáveis num grupo social”.

HÁ DENTRO DO regimento um código de ética. É sobre ele que juram os parlamentares na hora em que tomam posse dos seus cargos. Se depender de Lobão Filho , a palavra desaparecerá do código. Afinal, o que é ética para você poderá não ser para ele, argumenta o senador . “A ética é uma coisa muito subjetiva, muito abstrata” . Daí... Daí que Lobão está sendo apenas realista. E menos hipócrita do que seus colegas.

FRAUDAR NOTAS fiscais para justificar gastos com verba de gabinete é faltar com a ética ou não? E omitir da Justiça dinheiro recebido para pagar gastos de campanha? E embolsar grana por fora para votar como manda quem pode? E retardar a instalação de uma CPI à espera de que seus apoiadores desistam dela em troca de vantagens? É espantosa a quantidade de políticos que procedem assim impunemente . Quase todos .

TEM UMA CPI pronta no Senado destinada a se lambuzar com o mar de lama que escorre das obras da Copa do Mundo. Poderia estar funcionando. Mas Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, deu um tempo para que seus pares pensem melhor a respeito . Um pensou e tirou a assinatura: Zezé Perrela (PDT -MG). Outro — João Alberto de Souza (PMDB-MA) — topa tirar , desde que empregue o filho no governo.

CADÊ O GIGANTE? Ele não havia acordado? Foi em junho último que manifestações diárias sacudiram o país. Num único dia, mais de três milhões de pessoas gritaram slogans, enfrentaram a polícia e algumas botaram para quebrar . Nunca os políticos temeram tanto o povo. A presidente da República falou à Nação. O Congresso prometeu aprovar em regime de urgência um lote de benfeitorias sob o título de Agenda Positiva.

PARA AUMENTAR o sufoco dos alvos preferenciais do gigante, o Papa Francisco passou uma semana entr e nós dando lições de humildade. E, antes de ir embora, aconselhou os jovens a irem para as ruas. O gigante ganhou na internet até a companhia de um canal exclusivo de televisão só para amplificar seus maus modos. No ar , a Rede Ninja! Pois , cansado — quem sabe? —, resolveu dormir outra vez. Para quê? Quanta preguiça!

O QUE A presidente propôs fracassou — reforma política, constituinte exclusiva, plebiscito ou mesmo referendo, dois anos a serviço dos mais pobres para quem desejasse se graduar em medicina. O senador Cristovam Buarque (PDT -DF) qualificou de engodo o pacote de promessas do Congresso. Ministros e políticos voaram nas asas da FAB e ofereceram caronas a amigos e parentes. Amarildo desapareceu.

A CARA DE BOM moço do PSDB foi seriamente desfigurada pelo escândalo das licitações dirigidas. O lobista do PMDB na Petrobras chocou o distinto público com suas histórias medonhas. Uma delas sobre dinheiro para a campanha de Dilma. Outras, que aguardam publicação, sobre gente só um tiquinho menos graúda do que Dilma. Os Ninjas estão na berlinda de castigo, tamanha é a série de depoimentos que abalou sua reputação.

GIGANTE ESQUISITO, esse. Faz o maior auê, sai de cena de mãos vazias e se recolhe para pegar no sono. Não, não é hora de deitar em berço esplêndido

Fonte: O Globo

Despolarização eleitoral - José Roberto de Toledo

Despolarizar é perder os polos, mas é também perder o rumo. O termo se aplica ao cenário eleitoral brasileiro de hoje. Nem uma, nem duas, mas uma série de pesquisas evidencia que a polarização PT-PSDB está moribunda. Não é pouca coisa matar uma tradição que domina as eleições presidenciais desde 1994.

A disputa tucanopetista marcou cinco das seis corridas ao Planalto na redemocratização. Políticos e marqueteiros ficarão saudosos do velho duelo. Não parece ser o caso dos eleitores.

Na pesquisa Datafolha deste final de semana, a soma das intenções de voto da candidata do PT, Dilma Rousseff, com as do PSDB, Aécio Neves, não chega a 60% dos votos válidos. Nos pleitos anteriores, petistas e tucanos, juntos, ficaram com pelo menos 80% dos votos, às vezes com 95% no primeiro turno.

Dilma e, principalmente, Lula reconquistaram parte do eleitorado petista. O problema está no outro polo. O candidato do PSDB não decola. Aécio Neves perdeu terreno e está mais perto do quarto colocado, Eduardo Campos (PSB), do que da segunda posição de Marina Silva (sem partido), segundo o Datafolha. Pior, os tucanos seguem divididos. Emissários de José Serra fizeram gestões junto aos institutos de pesquisa para incluir o nome do ex-governador nas sondagens de intenção de voto, apesar de o PSDB já ter, teoricamente, escolhido Aécio como candidato.

Quando as gestões foram feitas ainda não havia estourado o escândalo da formação de cartel e pagamento de propina envolvendo metrô e trens urbanos paulistas. Resultado da pesquisa: o lançamento simultâneo de Aécio e Serra (caso este saia do PSDB para disputar a Presidência por outra sigla) seria um abraço de afogados. Um tiraria votos do outro, submergindo as chances dos dois de chegar ao segundo turno.

A perda de protagonismo eleitoral não é de agora. O PSDB encolheu nas eleições municipais de 2012. Elegeu menos prefeitos do que tinha. As prefeituras são importantes bases de apoio para deputados, governadores e presidenciáveis. E não fica nisso.

Os tucanos, pelo que mostra o Datafolha, também pagaram pedágio às manifestações contra o status quo da política. As suspeitas de superfaturamento das obras sobre trilhos construídas durante os governos do partido descarrilaram sua imagem. Como um tuiteiro escreveu: "O que aconteceu com o PSDB? Virou PT?"

Não adianta os caciques tucanos dizerem que os partidos vêm de sacos diferentes. A opinião pública vê uma farinha só. Quando as duas siglas se igualam negativamente no imaginário do eleitor, o PSDB perde mais porque seu eleitorado cativo é menor. Tanto é assim que os petistas mostraram resiliência no Datafolha.

A despolarização ajuda Marina Silva. Ela provou novamente que é a maior beneficiária dos protestos de rua. Seu discurso de "horizontalidade", de defesa de um novo jeito de fazer política, é o mesmo de boa parte dos manifestantes. Como consequência, ela é a única que cresce sem parar depois que as ruas efervesceram.

O que lhe sobra de popularidade, falta de consistência à candidatura. Não tem nem partido ainda. A Rede de Marina está enroscada junto aos cartórios eleitorais, que tardam em reconhecer as assinaturas necessárias à fundação da legenda. Mesmo que consiga, lhe faltará base parlamentar de apoio.

Presidentes eleitos por siglas nanicas no Brasil não costumam durar. Veem-se logo dependentes de um grande partido para sobreviver no Congresso. Foi assim com Jânio Quadros e a UDN, com Fernando Collor e o PFL. Uma hora o presidente se rebela, perde sustentação e dá no que deu.

O cenário despolarizado é um sonho para o PMDB. Se Dilma ganhar, o partido está na chapa. Se der Marina, a nova presidente cairia por gravidade no seu colo. A política brasileira pode perder os polos, mas o centro continua onde sempre esteve.

Fonte: O Estado de S. Paulo