sábado, 3 de agosto de 2013

OPINIÃO DO DIA - Ignácio de Loyola Brandão: Dilma disse que Lula nunca saiu

Então, está explicado.

Se o Lula nunca saiu, tudo o que está acontecendo, economia ruim, inflação, saúde péssima, educação aos pedaços, violência desenfreada, povo nas ruas, é culpa do Lula.

Volte a presidir, Dilma.


Ignácio de Loyola Brandão contista, romancista e jornalista. In “Dilma reconheceu, a culpa de tudo é o Lula”, Caderno 2 /O Estado de S. Paulo, 2/8/203.

Ecos do julgamento - BC fecha banco do mensalão

Ao decretar ontem a liquidação do Banco Rural, envolvido no esquema de pagamento de propina a políticos aliados do governo Lula, o Banco Central informou que a instituição mineira cometeu "graves violações" às normas do sistema financeiro e estava com a situação econômico-financeira comprometida. Por causa da crise de confiança após o mensalão, o patrimônio do Rural diminuiu para um quarto do total. O BC exigiu que o banco retirasse do balanço R$ 200 milhões de créditos tributários que não existiam. Os bens de 18 controladores e ex-administradores — três deles condenados pelo mensalão — estão indisponíveis

O fim do banco do mensalão

Com apenas um quarto do patrimônio que possuía antes do escândalo, Rural é liquidado pelo BC

Gabriela Valente

No centro do escândalo. O Rural "jamais causou prejuízo a quem quer que seja", afirmou a instituição em nota

BRASÍLIA - Oito anos depois do escândalo do mensalão, o Banco Central fechou o Banco Rural, instituição financeira que foi acusada de envolvimento com o esquema de pagamento de propina a políticos aliados do governo Lula, entre 2003 e 2005. De acordo com o BC, o banco mineiro cometeu "graves violações" às normas do sistema financeiro nacional, estava com a situação econômico-financeira comprometida e havia a possibilidade de acumular sucessivos prejuízos. Para o Banco Central, tudo isso representava um risco anormal para os credores que não têm prioridade em caso de falência.

Por causa do abalo na confiança em relação ao Banco Rural depois do escândalo do mensalão, o patrimônio da instituição diminuiu para um quarto do total. Há três meses, o Departamento de Fiscalização do BC exigiu que o banco retirasse de seu balanço R$ 200 milhões de créditos tributários que não existiam, e ainda provisionasse débitos que ocorreriam por ações na Justiça que estavam praticamente perdidas. Isso fez com que o banco ficasse em uma situação de insolvência, com dívidas maiores que todos os ativos. O BC pediu um plano de recuperação ou de venda, o que não foi apresentado.

No julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), no ano passado, dos 37 réus, 25 foram condenados - entre eles, três ex-integrantes da cúpula do banco: Kátia Rabello, ex-presidente e dona da instituição, e os ex-dirigentes José Roberto Salgado e Vinícius Samarane. A ex-diretora Ayanna Tenório foi absolvida.

Kátia foi condenada a 16 anos e oito meses de prisão por lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de divisas e formação de quadrilha. Salgado pegou a mesma pena, pelos mesmos crimes. Samarane foi condenado a oito anos, nove meses e dez dias de prisão, por lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta. Se nada mudar no julgamento dos recursos, as penas deverão ser cumpridas em regime inicialmente fechado.

Banco não estava sob intervenção

A partir da decisão de ontem do BC, os bens de 18 controladores e ex-administradores do Rural, inclusive os que foram julgados pelo STF, já estão indisponíveis. Os correntistas terão garantidos os depósitos - no limite de R$ 250 mil por cliente - pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

Ao contrário do que é de praxe, o Banco Rural não estava sob intervenção do BC. Normalmente, a autarquia toma para si a administração das instituições financeiras com problemas. Tenta sanear e vender o banco. Há pouco mais de um mês, por exemplo, decidiu fechar o BVA, que ficou sob intervenção por oito meses até o principal credor desistir oficialmente da compra.

No caso do Rural, a instituição foi liquidada diretamente. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, explicou que não havia um "plano viável" para a sua recuperação. O banco funcionava normalmente, e a notícia pegou os funcionários e a direção de surpresa.

Assim que foi informada da decisão do BC, a assessoria do Rural divulgou uma nota em que afirmou que não provocou prejuízo a ninguém. Os controladores lamentam a interrupção abrupta, justamente num momento em que se construía uma transição para reforçar o capital da instituição e adequá-lo a seus planos de crescimento. A estratégia, segundo o comunicado, era de conhecimento do próprio BC.

"Os controladores do Banco Rural se viram surpreendidos com a decisão do Banco Central do Brasil de decretar a liquidação extrajudicial da instituição. O Banco Rural tem mais de 50 anos de existência e nesse período jamais causou prejuízo a quem quer que seja", disse a instituição em nota. A direção do Rural disse que vai estudar "medidas cabíveis".

O Rural pode recorrer à Justiça. No entanto, nesse tipo de matéria, o BC consegue manter 98% das decisões de liquidação.

A decisão do BC abrange as demais empresas ligadas ao Rural: o banco de investimentos Rural Mais, o Banco Simples e a Rural Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários. Todo o grupo detinha apenas 0,07% dos ativos e 0,13% dos depósitos do sistema financeiro. "O Banco Central está tomando todas as medidas cabíveis para apurar as responsabilidades", afirmou o BC, em nota. "O resultado das apurações poderá levar à aplicação de medidas punitivas de caráter administrativo e a comunicações às autoridades competentes".

O Rural sofreu seu maior desgaste por estar no centro do escândalo de compra de votos de parlamentares da base aliada do governo Lula. A instituição já tinha sido condenada pelo Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional há um ano. Na instância máxima de processos administrativos do governo, os conselheiros aprovaram a condenação determinada pelo BC em dois processos. Mantiveram a pena de inabilitação de três ex-dirigentes da instituição que são réus no processo do mensalão.

Kátia Rabello não poderá atuar no mercado financeiro por três anos. Salgado e Ayanna Tenório, que ocuparam a vice-presidência, foram banidos da atividade bancária por dois anos. Plauto Gouveia, outro dirigente, foi punido com um ano de inabilitação, que já terminou.

Multa por operação fictícia

Todos os dirigentes foram acusados de simular uma transferência de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) para o Banco Simples, controlado pelo Rural, em 2004. A operação fictícia permitiu a redução dos passivos do Rural. Pela operação, o banco pagará uma multa de R$ 200 mil. O Rural recorreu da decisão.

Um outro processo administrativo, aberto pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), responsabilizou o Rural pelas fraudes no esquema do mensalão. Depois de um recurso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, manteve a condenação, por facilitação de saques de terceiros, como políticos e assessores.

A instituição tinha 49 anos de atuação. Nos anos 1980, passou a ser banco múltiplo com carteira comercial, financiamento de câmbio e financiamento imobiliário. Desde o início da crise econômica mundial, em 2008, bancos pequenos e médios apresentam problemas financeiros. Alguns foram vendidos e outros, fechados.

Fonte: O Globo

BC decreta liquidação do Rural, o ‘banco do mensalão’

O Banco Central decretou ontem a liquidação do Banco Rural por problemas financeiros, alegando que a instituição não tinha um plano viável de recuperação. O Banco Rural alimentou o esquema do mensalão, emprestando recursos ao PT e à agência de Marcos Valério, e também esteve envolvido nas investigações que levaram ao impeachment do presidente Fernando Collor

BC decreta liquidação do Rural, o "banco do mensalão", por problemas financeiros

Célia Froufe, Eduardo Cucolo, Murilo Rodrigues Alves

BRASÍLIA - Epicentro do chamado "núcleo financeiro" do mensalão, o Banco Rural teve ontem sua liquidação decretada pelo Banco Central. A instituição, controlada pela família Rabello, apresentava comprometimento da situação econômico-financeira. Em 2005, o banco foi acusado de abrir e manter contas de pessoas e empresas ligadas ao maior escândalo de corrupção da história do País.

O BC ressaltou também a existência de "graves violações" às normas legais e de estatuto do setor e os "sucessivos prejuízos" como motivos para a ação. Ao apresentar recorrentemente balanços no vermelho, a instituição sujeitava os credores a um "risco anormal". Segundo o BC, pesou também na tomada de decisão, a falta de um plano viável para a recuperação da situação do banco.

Com a ação de ontem, os bens dos controladores e ex-administradores do Rural, um total de 18 pessoas, ficam indisponíveis. A liquidação atinge ainda ãb demais empresas que fazem parte do conglomerado financeiro: o Banco Rural de Investimentos S/A; o Banco Rural Mais; o Banco Simples; e a Rural DTVM.

Ao contrário do que acontece usualmente com instituições em dificuldade, o BC optou desta vez por decretar a liquidação diretamente, sem passar antes pelo trâmite burocrático de intervenção na instituição financeira. Segundo fontes com conhecimento do processo, metade dos depósitos do Rural será coberta pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

Esquema. O Rural alimentou o mensalão, emprestando recursos para o PT e para a agência de propaganda do publicitário Marcos Valério, como ficou comprovado no julgamento da ação penal 470. Três dirigentes da instituição foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A ex-presidente do banco Kátia Rabello e o ex-vice-presidente José Roberto Salgado foram condenados por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e evasão de divisas. No caso do ex-vice-presidente Vinícius Samarane, a condenação foi por lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta.

Antes disso, em 1992, o Rural também teve o nome envolvido nas investigações que culminaram no processo de impeachment do então presidente Fernando Collor. A Comissão Parlamentar de Inquérito, aberta no Congresso Nacional, concluiu que o Rural atuou de forma decisiva no esquema capitaneado por PC Farias. Era do Rural, por exemplo, o cheque que comprou o Fiat Elba, símbolo das investigações contra o governo Collor.

Segundo o BC, o conglomerado financeiro Rural detinha 0,07% dos ativos e 0,13% dos depósitos do sistema financeiro em março de 2013. O BC informou que está tomando todas as "medidas cabíveis" para apurar as responsabilidades.

História. O Banco Rural surgiu no início da década de 1960, com o nome de Banco Rural de Minas Gerais. O nome atual foi adotado quase 20 anos depois. Em 1976, o empresário Sabino Rabello assumiu a presidência do banco. Em 2001, o comando da instituição passou para sua filha, Kátia Rabello, que recebeu a quarta maior pena no julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).

As denúncias do mensalão tiveram início em 2005 e as penas foram anunciadas no ano passado. Em maio deste ano, os advogados de Kátia pediram, em recurso apresentado ao STF, a redução das penas aplicadas à ex-prcsidente do banco, que somam mais de 16 anos.

Tamanho
R$ 2,197 bi era o total de depósitos do Rural em dezembro de 2012

Fonte: O Estado de S. Paulo

Ecos do julgamento - Oposição questiona coincidência da liquidação do Banco Rural

Anúncio veio logo após julgamento dos recursos do mensalão ser marcado

Carolina Brígido, Demétrio Weber

BRASÍLIA - A oposição elogiou a decisão do Banco Central de liquidar o Banco Rural, mas considerou que ela demorou. Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a liquidação "quase inevitável, diante das informações que se tinha sobre a situação do banco":

- Espero que não seja só uma exceção em relação ao Banco Rural. Esta deve ser a regra de atuação do Banco Central - afirmou Randolfe.

O líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), afirmou que o Banco Central agiu tarde:

- O Banco Rural tinha uma relação incestuosa com o governo e com o PT, partido do governo. Foi o grande arcabouço do esquema do mensalão. Já deveria ter sido fechado há muito tempo - disse Bueno.

O líder do PPS chamou a atenção para o fato de que a decisão do BC foi tomada na semana em que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, marcou a data de início do julgamento dos recursos dos 25 condenados, a partir do próximo dia 14 de agosto.

- Por que o Banco Central age dois dias depois que o presidente do Supremo marcou o julgamento? Por que dois dias depois, quando tinha todas as condições de fazê-lo antes? - indagou Bueno.

O vice-presidente da Câmara, deputado André Vargas (PT-PR), disse que a liquidação do Banco Rural não guarda relação com a retomada do julgamento do mensalão, marcada para o próximo dia 14:

- Não acredito nisso. Acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra. O Banco Central age tecnicamente.

O Banco Rural ganhou projeção nacional depois do escândalo do mensalão. Segundo o processo, a instituição disponibilizou R$ 32 milhões ao esquema criminoso em 2003, por meio de empréstimos fraudulentos ao PT e às empresas de Marcos Valério. O valor, segundo a acusação do Ministério Público Federal, chegou a R$ 58,9 milhões após as sucessivas renovações que se estenderam até 2005. O Rural também patrocinou a distribuição das mesadas em 2003 e 2004: era em suas agências que parlamentares e assessores sacavam, na boca do caixa, quantias vultosas. Em troca do dinheiro, os parlamentares apoiariam o governo federal em votações importantes no Congresso Nacional.

As denúncias foram confirmadas pelo STF no julgamento do processo, ocorrido ao longo do segundo semestre de 2012. Segundo o processo, a ex-presidente do Rural Kátia Rabello reuniu-se com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, com a intermediação de Marcos Valério, para discutir a liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco, na qual o Rural tinha interesse. Em troca, o Rural concedeu os empréstimos fraudulentos que abasteceram o esquema.

Os ex-dirigentes do Rural José Roberto Salgado e Vinicius Samarane teriam usado mecanismos ilícitos para conceder os empréstimos, omitindo os reais riscos financeiros das operações. Kátia teria assinado renovações de empréstimos, mesmo com parecer interno alertando para risco da operação.

- Ao invés de vetar renovação de altíssimo risco, Kátia Rabello, mesmo sem conhecimento técnico sobre o mesmo, aprovou a operação - disse o relator do processo, Joaquim Barbosa, durante o julgamento.

No plenário do STF, o advogado José Carlos Dias, contratado por Kátia para defendê-la, argumentou que sua cliente tinha herdado o banco, embora não tivesse nenhuma vocação para a área financeira. Ele ressaltou que, depois da morte da irmã em um desastre de helicóptero, Kátia foi nomeada para o conselho de administração da instituição, mesmo "sem estar preparada".

O STF concluiu que os empréstimos foram simulados e concedidos em desobediência a recomendações da própria instituição e a normas do Banco Central. O Rural teria emprestado R$ 3 milhões ao PT, R$ 19 milhões à SMPB e R$ 10 milhões à Graffiti. Os empréstimos foram renovados a cada 90 dias pelo Rural até 2005, mesmo sem a apresentação de garantias mínimas por parte dos tomadores.

Fonte: O Globo

PSDB vê Cade agindo como polícia política

Órgão investiga cartel em licitações de metrô em São Paulo. Governo Alckmin vê ação para prejudicar gestões tucanas

SÃO PAULO - O governo de Geraldo Alckmin (PSDB) acusou o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de agir como "polícia política" para prejudicar a imagem das gestões tucanas em São Paulo. O órgão, do governo federal, investiga a formação de cartel em licitações do metrô e da CPTM, denunciada pela multinacional alemã Siemens.

Alckmin escalou o secretário-chefe da Casa Civil, Edson Aparecido, para responder a acusação de que o governo paulista deu aval à formação de cartel para licitação no ano 2000, na gestão de Mário Covas, morto no ano seguinte. Como revelou ontem a Folha de S.Paulo, em documentos entregues ao Cade a Siemens diz ainda que "o concluio se estendeu ao governo Alckmin (2001-2006) e ao primeiro ano de José Serra, em 2007".

Aparecido afirmou que o Cade está "sonegando informações da investigação ao governo de São Paulo enquanto faz um vazamento seletivo à imprensa".

"Passados quase um mês (da deflagração da operação), nem o governo, que tem todo o interesse no processo, nem o Ministério Público do Estado têm acesso a essa investigação", queixou-se. "Há um desvirtuamento de um importante órgão, cujo o principal papel é garantir a livre concorrência. Parece que o Cade tem se transformado num instrumento de polícia política", afirmou.

Serra também acusou a entidade. "O Cade, do governo do PT, não apresentou os documentos, vazou (a informação) por baixo", afirmou. Mas defendeu a investigação do caso. "Não tem condição de controlar o que as empresas que participam de uma concorrência conversam entre si. Se o Cade descobriu, ótimo. Foi uma lesão para o Estado e vamos pedir o dinheiro de volta. Só isso."

O ataque tucano fez o Cade reagir. Em nota, o órgão disse repudiar qualquer acusação de instrumentalização política das investigações. "O inquérito é sigiloso, uma vez que o acordo de leniência que deu origem às investigações está protegido por sigilo."

O secretário de Alckmin disse ainda que são "calúnias" as afirmações de que seu chefe, Serra e Covas sabiam do conluio. "Estão enxovalhando a memória do Covas."

A documentação da Siemens, porém, não cita nomes, apenas a secretaria que comandou as licitações (Transportes Metropolitanos). "Foi uma decisão do governo politizar o debate", dizem os tucanos, acrescentando ver na ação do Cade as digitais petistas. Na Assembleia Legislativa, a bancada petista pediu a abertura de uma CPI sobre o caso.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Senador petista ataca Eduardo em Pernambuco

Ao governador, Humberto cobra reconhecimento

Petista diz que Pernambuco recebe tratamento especial da União e lista obras federais. Para ele, governo do Estado não reconhece

Débora Duque

Deflagrada após o governador Eduardo Campos ter indicado a possibilidade de sair candidato à Presidência da República, em 2014, a tensão entre PT e PSB ganhou um novo episódio, ontem, durante o anúncio do "Plano Safra" para o semiárido nordestino, no Centro de Convenções. Com as digitais do governo federal, o programa visa conceder auxílio aos agricultores da região e serviu de mote para que o senador Humberto Costa (PT) cobrasse do governador Eduardo Campos (PSB) o "reconhecimento" dos investimentos direcionados pela presidente Dilma Rousseff (PT) ao Estado.

À uma plateia formada por prefeitos de municípios pernambucanos e auxiliares do governador, Humberto afirmou que Pernambuco recebe "tratamento especial" do governo federal e listou, como exemplo, a execução de obras como a ferrovia Transnordestina e a Transposição do São Francisco, além de outras ações federais. "Tenho certeza que foi por isso que Pernambuco votou maciçamente na presidente Dilma. Porque sabia que daria continuidade à atenção que o ex-presidente Lula (PT) sempre teve a essa parceria e a prioridade de investimentos no Nordeste e mais, especialmente, no nosso Estado", provocou o petista.

O tom do discurso, já repetido por petistas em outras ocasiões, é uma tentativa de frisar que o desempenho da gestão Eduardo depende diretamente da aliança política mantida com o PT. Segundo Humberto, as "parcerias" com o governo federal foram "fundamentais" para o crescimento do Estado nos últimos anos. "Queria fazer esse registro porque no momento de dificuldade que vive o País, não podemos deixar de reconhecer. É exatamente no momento mais difícil é que é preciso reconhecer aquilo que foi feito para que Pernambuco cresça e avance", reforçou.

Ao discursar logo em seguida, Eduardo Campos procurou retrucar as cobranças ouvidas do aliado. Começou dizendo que o plano safra para o semiárido foi resultado de sugestões de vários governadores, inclusive, dele próprio, e não uma criação do governo federal. "Fica aqui o registro do nosso diálogo federativo", disse. Também ressaltou que as políticas do governo federal voltadas para a agricultura familiar incorporaram iniciativas tomadas por seu avô, o ex-governador Miguel Arraes (PSB). "Ainda é preciso romper um século de exclusão política e isso não se faz por decreto", rebateu, referindo-se à desvantagem econômica do Nordeste em relação ao Sul/Sudeste do País.

Questionado sobre o clima de hostilidade durante o evento, Eduardo negou desconforto com as cobranças de Humberto. "Não. Absolutamente, não percebi isso", rechaçou.

Fonte: Jornal do Commercio (PE

Em Minas PSB convida Kalil para fazer chapa com Lacerda em 2014

Socialistas vão promover mudanças internas à sigla para garantir sucesso nas urnas no ano que vem

Alexandre Kalil já negou a intenção de concorrer às eleições em 2014, mas o convite do PSB ao dirigente de futebol foi renovado

Larissa Arantes

O PSB de Minas prepara uma reestruturação ampla para se fortalecer nas eleições de 2014 e uma das estratégias é atrair nomes de peso para compôr a chapa majoritária, da qual deve fazer parte o prefeito Marcio Lacerda. A partir da semana que vem, o partido vai intensificar os esforços para levar para a legenda o presidente do Clube Atlético Mineiro, Alexandre Kalil. O assunto já era comentado desde março, mas a conquista da Libertadores pelo clube renovou a expectativa dos socialistas.

A possibilidade que antes era tratada de forma reservada, foi comentada abertamente pelo presidente do PSB de Minas Gerais, deputado federal Júlio Delgado. “Existe o convite para o Alexandre Kalil fazer chapa majoritária conosco. O Daniel (Nepomuceno) já fez convite pessoal, agora fazemos o convite público para ele se filiar”, disse Delgado ontem. Daniel Nepomuceno é, atualmente, secretário municipal e vice-presidente do Atlético.

A iniciativa faz parte de um conjunto de ações que serão tomadas pelo comando estadual do PSB para o partido ter condições de discutir o pleito do ano que vem “no mesmo patamar” de siglas como o PSDB e o PT. “Se nós conseguirmos desenvolver essa dinâmica, vamos ter chapas competitivas e tentar, com isso, o protagonismo na disputa estadual de Minas também”, avaliou Delgado.

Conjunto. O PSB vai criar uma série de secretarias temáticas na sigla para se aproximar da sociedade. Temas como juventude, movimento sindical e desenvolvimento social serão alvos de colegiados organizados dentro do partido.

Além disso, um conselho político será formado para debater o cenário eleitoral e fazer um verdadeiro raio-X da presença dos socialistas no Estado. O deputado federal Isaías Silvestre irá coordenar o grupo. “O conselho vai funcionar regionalmente, vamos fazer uma leitura da vida do PSB em Minas Gerais para fortalecer a sigla para as eleições”, afirmou o deputado.

O PSB, a partir de agora, ganha uma outra cara com a nova presidência estadual. Antes, o posto era ocupado pelo ex-ministro Walfrido Mares Guia, muito próximo do PT.

Já Delgado é próximo do senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB, e sua escolha foi estratégica para o partido. Caso o governador de Pernambuco e também presidenciável, Eduardo Campos, realmente decida lançar sua candidatura, o deputado terá a missão de criar palanque para ele em Minas Gerais. Caso Campos não saia como candidato no pleito de 2014, mas Aécio, sim, o PSB estará a um passo de se alinhar com os tucanos.

A reportagem tentou falar com Alexandre Kalil, mas não conseguiu. A assessoria de imprensa do Atlético informou que não poderia se posicionar sobre o assunto, apenas o próprio presidente do clube. Kalil já negou, quando questionado em outras ocasiões, a intenção de concorrer às eleições.

Fonte: O Tempo (MG)

PT quer ocupar ruas para mudar mídia

Pedro Venceslau

Favorito na disputa interna pela presidência do PT o deputado estadual paulista Rui Falcão começará sua campanha reeleitoral entre os militantes no próximo dia 13 levantando antigas bandeiras da esquerda, fazendo autocrítica sobre a burocratização da legenda nos últimos dez anos e defendendo mobilizações de rua.

"Cabe ao PT organizar mobilizações e campanhas massivas, em todo o País, em torno de questões cruciais da vida brasileira, como, por exemplo, a democratização das comunicações", diz o texto. O manifesto resgata temas recorrentes no partido na época de sua fundação no início dos anos 80. Fala em reforma agrária, integração da América Latina, compromisso com igualdade de gênero e orientação sexual e com "causas libertárias".

Tratado internamente como a linha mestra do partido nas campanhas de 2014, o manifesto explicita reclamações feitas internamente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"O PT não pode ser apenas uma máquina eleitoral que se mobiliza a cada dois anos. Deve ser um partido militante, de atuação cotidiana", diz o texto. Principal cabo eleitoral de Falcão, Lula aprovou o conteúdo.

O manifesto foi escrito pelo ex-secretário geral da Presidência, Luiz Dulci, atual presidente Instituto Lula e coordenador da campanha do petista. Além da rubrica do ex-presidente, que deve ser a primeira, o documento será assinado por personalidades do partido e quadros políticos das três principais correntes internas do PT: Construindo um Novo Brasil, Novos Rumos e PT de Luta e Massas. Juntas, formam a chapa O Brasil quer mais e melhor. Esse grupo é herdeiro da antiga Articulação, tendência majoritária desde a fundação do partido.

Voz das ruas. A presidente Dilma Rousseff integra o grupo, mas não deve assinar o documento. O texto mostra preocupação com as manifestações de junho e seu impacto na eleição do ano que vem. "É indispensável estreitar ainda mais os laços do partido com os movimentos sociais, seja apontando as suas lutas, seja promovendo campanhas conjuntas em defesa de causas comuns", diz o texto.

O manifesto fala, ainda, em buscar uma "profunda sintonia" com as grandes organizações e movimentos populares, "mas também com as novas redes de ação social".

Em algumas manifestações de junho, petistas foram agredidos e expulsos das passeatas.

O texto escrito por Dulci teoriza que a revolta popular registrada em junho ocorreu devido ao sucesso dos 10 anos de PT no poder - tese já defendida por Lula e por Dilma publicamente. Em nenhum momento o documento cita a queda brusca da popularidade da presidente.

"O novo tempo que construímos traz consigo também novos desafios (...) o de ouvir a voz das ruas e responder criativamente aos seus anseios".

Mais extensa, a tese oficial da chapa de Falcão - um outro documento divulgado nesta semana - avança nessa avaliação e diz que as manifestações exigem do PT uma reformulação positiva de sua estratégia partidária.

"O PT saúda as mobilizações sem ingenuidade nem reatividade. E deseja assumir, livremente, o papel de um dos vetores dessa nova cena nacional." O documento também prega "uma cultura de esquerdas" e ousa mais na autocrítica. "Cabe ao PT enfrentar de uma só vez os riscos da excessiva burocratização e vinculação de seus quadros com os aparelhos de Estado."

No momento em que Falcão se esforça para evitar rusgas com o PMDB depois que o partido foi alvo de críticas de setores do PT, o documento assinado pelos três grupos que apoiam a candidatura dele diz, sem citar nomes, que "setores" do parlamento "antepõem obstáculos à realização da reforma política".

Manifesto e tese deixam claro que, depois de dez anos no poder e sob a pressão das ruas, o PT deve resgatar o discurso de fundação do partido.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Na lei anticorrupção, Dilma compra nova briga com aliado

Andreza Matais, Fábio Fabrini

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff comprou mais uma briga com o PMDB, principal aliado do governo no Congresso, ao vetar trechos da lei que pune com rigor empresas privadas envolvidas em corrupção. O texto sancionado anteontem suprime itens negociados com o partido para assegurar sua aprovação.

Houve críticas à presidente até no PT. "Tem um problema político, porque foram feitos acordos no Senado e na Câmara" afirmou o petista Carlos Zarattini (SP), relator do projeto na Câmara, O líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha (RJ), diz que a bancada vai avaliar a derrabada deles.

Proposta pelo governo Lula, a nova lei tramitou mais de três anos e foi aprovada em julho, para entrar em vigor em fevereiro de 2014. Entre os principais pontos, permite ao gestor público aplicar às empresas multa de até 20% do faturamento bruto por corromper servidores, financiar crimes, usar laranjas para obter benefícios ou fraudar licitações.

O texto aprovado no Congresso limitava a multa ao valor do contrato, o que, na prática, poderia resultar em punição menor, "Vai ser mais um veto derrubado. Desfigura um conjunto de conteúdos aprovados. Nosso compromisso é com a integralidade do texto", afirmou Cunha, acrescentando que desfazer acordos virou uma "prática" do governo Dilma. Na MP dos Portos, o partido diz ter havido quebra de compromisso. "O uso do cachimbo faz a boca torta. Tudo se veta, o que se combina não se cumpre. É preciso um pouco mais de cautela", avisou Cunha.

O líder do PMDB advertiu : que o partido vai manter seu compromisso, nas questões e afetem o caixa, mas a fidelidade não está"garantida em outros temas: "Vão entender depois que o Congresso começar a derrubar os vetos".

Além da regra sobre o limite da multa, Dilma vetou item que considerava a conduta do servidor na análise da pena. Num caso de achaque partido de um funcionário público, por exemplo, a punição da empresa que pagou o suborno poderia ser atenuada. Outro ponto vetado dizia que a Justiça só poderá dissolver, interditar ou proibir empresas corruptoras de obter benefícios se comprovados "dolo ou culpa" na participação em atos ilícitos. O texto sancionado é mais duro, prevendo a responsabilização objetiva.

O governo argumenta que os trechos vetados atenuariam os efeitos da lei. O ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, classificou as emendas ao texto original de "contrabandos" e disse ao Estado que aconselhou Dilma a vetá-los.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A rainha nua - ITV

Dilma Rousseff conseguiu enxovalhar, como nunca antes na história, a reputação da Presidência da República. O grau de confiança que os brasileiros nutrem por ela despencou, segundo nova pesquisa divulgada pelo Ibope. Fica cada vez mais evidente sua incapacidade para enfrentar os crescentes problemas que o país enfrenta. Fica cada vez mais nítida sua falta de talhe para o cargo. A rainha está nua; o tempo de Dilma passou.

Nada traduz melhor o atual estado e a fraqueza da chefe da nação para lidar com as questões do país do que a pesquisa que o Ibope divulgou ontem sobre a confiança dos brasileiros nas instituições e grupos sociais. Dilma Rousseff conseguiu enxovalhar, como nunca antes na história, a reputação da Presidência da República.

O levantamento mostra que o grau de confiança da população na instituição "presidente da República” caiu de 63 em 2012 para 42 neste ano. Foi a maior queda medida pelo Ibope, tanto em termos absolutos (21 pontos), quanto relativos (33%), nesta rodada – a quinta desde que a pesquisa anual passou a ser feita, em 2009.

A brutal queda na percepção positiva que os cidadãos têm sobre a figura da presidente da República também representa o triplo da redução média verificada na confiança que os brasileiros nutrem pelas instituições do país em geral, que foi de 7 pontos ou 13%: passou de 54 para 47 pontos, numa escala que vai de 0 a 100.

Desde que Dilma assumiu o governo, há dois anos e meio, a confiança dos brasileiros na figura da presidente já caiu quase 40%. Até a gestão passada, a Presidência era considerada a 3ª instituição mais confiável, atrás apenas dos bombeiros e das igrejas. Hoje, é apenas a 11ª mais respeitada.

"No primeiro ano de governo de Dilma Rousseff, seu índice de confiança caiu de 69 para 60. Recuperou-se para 63 no ano seguinte, e despencou agora para 42 – uma nota 'vermelha'. Em um ano, saiu da 4ª posição no ranking para a 11ª. Nenhuma outra instituição perdeu tantas colocações em tão pouco tempo”, informa O Estado de S.Paulo, que divulgou os resultados da pesquisa em sua edição de hoje. (A íntegra do levantamento feito pelo Ibope, chamado Índice de Confiança Social, não está disponível para consulta na internet.)

Em regiões e grupos sociais específicos, a presidente goza de ainda menos confiança junto aos brasileiros. No Sudeste, seu índice caiu de 60 para 34 em um ano. Entre as classes A e B, chegou a 36. Só o Nordeste e as classes D e E continuam salvando Dilma de uma avaliação ainda mais amarga.

Entre 2012 e 2013, a queda de confiança foi generalizada e atingiu todas as 18 instituições pesquisadas. Mas as únicas com desempenho tão negativo quanto a presidente da República são o governo federal, com queda de 23% desde 2012, e o sistema público de saúde, com perda de 24%. Ou seja, também estão intimamente relacionadas ao desempenho da atual gestão. Todas as demais instituições perderam menos de 20% entre um ano e outro.

O levantamento vem se somar às pesquisas de opinião pública mais recentes, que demonstram a ascendente desaprovação da população brasileira ao jeito Dilma de governar. Fica cada vez mais evidente sua incapacidade para enfrentar os crescentes problemas que o país atravessa. Fica cada vez mais nítida sua falta de talhe para o cargo. A rainha está nua.

Cada vez mais, os brasileiros vão se apercebendo que estão diante de um governo sem norte, sem comando, sem outros propósitos que não seja unicamente preservar, a todo o custo, o poder conquistado e exercido ao longo de uma década.

O governo Dilma está se notabilizando por conduzir o país a um grau alarmante de paralisia e de preocupante desorientação. Suas propostas e decisões não conseguem sobreviver ao choque da realidade. Suas ideias não correspondem aos fatos. Suas intenções esbarram na inépcia de quem não consegue transformar o que é papel e saliva em realidade.

Suas muitas promessas continuam sem ser cumpridas – vide o que acontece em qualquer uma das áreas de infraestrutura, das ferrovias aos aeroportos e estradas. Sua incapacidade para enxergar o óbvio chega a cegar – veja-se o risco ascendente que agora rondam as privatizações que o governo federal pretende levar adiante nos próximos meses.

A indústria definha, num ziguezague que só tende a levá-la ainda mais fundo para o buraco. O comércio exterior nunca esteve tão mal, abatido por importações cavalares de petróleo num país que até outro dia se dizia autossuficiente. Os serviços públicos continuam em petição de miséria – na pesquisa do Ibope, o sistema de saúde só não é mais mal avaliado que o Congresso e os partidos políticos.

É inegável que a perda de confiança da população na figura que exerce a função mais importante no país acaba respingando nas demais esferas. Com sua péssima atuação à frente do governo, a presidente está conseguindo erodir não apenas o seu capital político, mas também depreciar ainda mais todas as instituições da República. A dose de malefícios que ela está impondo ao Brasil já ultrapassou os limites. A pesquisa feita pelo Ibope é o retrato mais fiel de que o tempo de Dilma Rousseff passou.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

Pobres filhos de Francisco - Guilherme Fiuza

O Brasil sofre de orfandade crônica. Está sempre procurando um pai. De repente o país saiu às ruas, indignado. Parecia ter finalmente entendido que seus problemas não se resolvem com a aclamação de bonzinhos profissionais, e seus melodramas de esquerda. A popularidade dos governantes despencou. O povo sentira o colapso administrativo do populismo, e queria ação. Aí chegou o Papa Francisco.

Milhões de brasileiros saíram às ruas novamente, e o resto do país grudou na tela da TV. O povo revoltado com o império do blá-blá-blá estava, agora, derretido com as palavras bondosas de Francisco. Euforia geral: papai chegou. Vejam como o Papa é simples! Notem como é despojado, com seu carro modesto de janela aberta! Olhem o Papa preso no engarrafamento, sem medo do povo! Vivam os novos tempos!

É comovente ver um povo se lambuzar todo com essas esmolas de esperança.

Esmolas valiosas, aliás, para os profissionais da bondade que andavam chamuscados. Até a presidente da Argentina veio tirar foto com o sorridente Francisco em Copacabana. Cristina Kirchner acaba de vitaminar sua ditadura do bem, com poderes de intervenção estatal na mídia, enquanto sua foto com o Papa bonzinho circula em material de propaganda por todo o país. Como é barato lavar uma reputação...

Dilma Rousseff sabe disso, e também não perdeu a pechincha de Francisco: pegando uma carona na aura imaculada do santo homem, despejou um discurso petista daqueles mais satânicos, cheio de autoexaltações paranoicas e fraudes retóricas convictas. Dilma disse que as manifestações de rua são sinal de dez anos de êxito do PT. E o Papa ouviu sorridente. Deus abençoe a cara de pau.

O desfile de simplicidade e despojamento de Francisco, que custou uns 300 milhões de reais ao contribuinte, foi uma bênção para o governo popular. Não há mau humor no Brasil que sobreviva ao carnaval, e a micareta cristã veio a calhar.

Como se sabe, os brasileiros acham que ajuntamento de gente é sinônimo de grandiosidade. Da mesma forma que as passeatas contra tudo (e contra nada) foram saudadas como um novo Maio de 68, as multidões que atravancaram o cotidiano carioca em torno de Sua Santidade viraram o "show da fé", o alvorecer da boa vontade franciscana etc. De muvuca em muvuca, de mistificação em mistificação, o país vai caminhando epicamente para lugar nenhum.

Recitando sua cartilha progressista, Francisco declarou que não gosta de jovem que não protesta. Pronto: quem mandou você, estudante alienado que só pensa em estudar, ficar em casa? Está excomungado. Por que não fez como o jovem que foi à passeata em Belo Horizonte com um cartaz pedindo "Jô titular!" - um brado indignado para que Felipão escalasse o artilheiro do Atlético-MG? Esse não vai para a lista negra do Papa.

Assim é o populismo: calcula o que a multidão quer ouvir e manda bala. "Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?", disse Francisco, levando à apoteose o presépio progressista. Bem, vamos ajudar esse Papa simpaticíssimo e responder quem é ele: é o representante máximo de uma religião que não tolera as relações homossexuais. Caberia então perguntar ao novo Papa: está propondo uma mudança radical na doutrina do catolicismo? Está indicando que a Igreja deverá aceitar o sexo entre iguais, portanto sem fins reprodutivos?

Se o Papa responder que sim, estaremos diante de uma revolução. Mas se ele não responder - e ele jamais responderá -, a declaração sobre os gays terá sido só uma frase de efeito. Um truque político.

O Brasil revoltado que foi às ruas e invadiu palácios deveria estar farto de truques políticos. Deveria estar farto, ou ao menos desconfiado, de líderes que trazem o paraíso na garganta. As manifestações estouraram porque a vida piorou. E a vida piorou por causa do "show da fé" numa administração fajuta, disfarçada por alegorias e bandeirolas progressistas.

O governo do PT montou em dez anos uma orgia de gastos públicos sem precedentes - e sem investimentos, sem projetos, pura alimentação do parasitismo político. A inflação é o efeito colateral mais visível desse golpe. Mas Dilma acaba de declarar, tranquilamente, que a sua Disneylândia de ministérios não afeta as contas públicas. E que a inflação era um problema no governo Fernando Henrique, não no de Lula e no seu. O PT é especialista em falsidade ideológica por falta de contraditório. Tudo cola. A mentira progressista tem perna longa - pelo menos mais longa que a dos manifestantes ninja, que andam muito e nunca chegam.

Acaba de sair novo relatório de superfaturamento milionário no Dnit - aquele mesmo Dnit que levou à queda do ministro dos Transportes, na famosa faxina de Dilma. Isto é: a ordenha prossegue normalmente. Onde está a mídia ninja? Melhor rezar para Francisco.

Fonte: O Globo

Demagogia na saúde - Miguel Reale Júnior

O levantamento demográfico da medicina no Brasil publicado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em fevereiro, indicou que no nosso país o número de médicos cresceu 74%, na relação por 1.000 habitantes, de 1980 a 2012. Hoje se conta com 2 médicos para cada 1.000 habitantes, enquanto em 1980 a proporção era de 1,15. A meta proposta pela Frente Nacional de Prefeitos é de 2,75 por 1.000 habitantes no prazo de dez anos, o mesmo índice da Inglaterra. Esse crescimento desejado será conseqüência natural em face do número de inscrições nos Conselhos Regionais de formados pelas 201 faculdades existentes: de outubro de 2011 a outubro de 2012 se inscreveram 16.227 novos médicos.

Como destaca o censo demográfico da medicina, o problema não reside no número de médicos, mas na sua distribuição desigual pelas diversas regiões e, muito especialmente, na falta de outros profissionais de saúde, de instalações e equipamentos essenciais ao correto atendimento.

Malgrado esse quadro, o governo Dilma Rousseff, de modo demagógico, visando a satisfazer os objetivos de diminuirá carência de médicos em regiões prioritárias e as desigualdades regionais, criou, por medida provisória (MP), duas frentes: inovou o currículo do curso e permitiu o exercício da medicina aos formados no exterior, sendo a estes desnecessária a revalidação do diploma.

Quanto à primeira medida, inventou-se no currículo de Medicina um segundo ciclo a se realizar após os normais seis anos de curso - como se tal fosse necessário à formação do médico -, consistente na prestação obrigatória de atendimento médico a título de treinamento em serviço, exclusivamente, na atenção básica à saúde e em urgência e emergência no âmbito do SUS. Ignora-se que grande parte dos estudantes, sob orientação de seus professores, já presta, no 5.º e no 6.° anos, assistência a pacientes do SUS.

Essa imposição, da qual consta ter-se desistido, vigoraria a partir de 2021, pois aplicável aos estudantes que ingressassem na faculdade de 2015 em diante. Quem completasse o primeiro ciclo, os seis anos de curso, receberia inscrição provisória do Conselho Regional de Medicina ao se matricular no segundo ciclo, um meio médico, porque autorizado a atuar unicamente na atenção básica à saúde, em urgência e emergência no âmbito do SUS. Depois de cumprido o segundo ciclo receberia o estudante, então, o diploma de médico.

Prevê-se também que caberá ao estudante do segundo ciclo receber a necessária supervisão de sua instituição de ensino, como se isso pudesse ser feito pelas faculdades nos locais para onde será enviado o seu antigo aluno, no atendimento de emergência do SUS.

Trata-se de efetiva chantagem com o formando em Medicina: ou presta serviços ao SUS ou não recebe o diploma de médico - fazendo-se de conta que, depois do curso normal, trabalhar para o SUS seja essencial para a formação médica, para sua qualificação profissional. Viola-se a Constituição, ao se impor um serviço obrigatório admitido pela nossa Carta apenas com relação ao serviço militar. Afronta-se o disposto no artigo 5.º, XIII, pois não constitui, evidentemente, qualificação profissional para o exercício da medicina a prestação de serviços de emergência no SUS.

Caberá ao Conselho Nacional de Educação regulamentar o segundo ciclo, mas este já se manifestou no sentido de transformar em residência médica os anos de trabalho obrigatório no SUS, ideia agora aceita pelo governo. Conforme editorial deste jornal, a residência não poderá ser feita, em geral, na rede do SUS por falta de qualificação para tanto, de vez que a residência, como aperfeiçoamento, apenas é factível em hospital-escola ou de referência. Eufemisticamente se chama de residência o trabalho obrigatório.

Mais grave ainda a segunda medida: elimina-se a necessidade de avaliação de médicos, brasileiros ou estrangeiros, formados no exterior, dispensando o exame de revalidação do diploma. Entrega-se a saúde pública, com cegueira deliberada, a uma aventura. Estudantes mal sucedidos em vestibulares no Brasil, esses médicos formados na Bolívia, na Argentina e em Cuba, em cursos reconhecidamente sofríveis, não precisam do segundo ciclo nem de comprovar preparo técnico.

Quanto ao ensino cubano, basta o relato de ex-presidente do CFM Edson de Oliveira Andrade, que após visita à ilha assinalou: "Os médicos recém-fomrados em Cuba não conseguem aprovação nas provas de revalidação de diplomas no Brasil porque a sua formação é deliberadamente limitada, com ênfase nos cuidados básicos - importantíssimos por certo, porém insuficientes para o exercício de uma medicina plena, como precisamos e exercemos no Brasil".

Recebem os estrangeiros visto temporário de trabalho. Já os brasileiros, e são 20 mil a estudar Medicina na Bolívia, se livraram do vestibular e agora se livram também de revalidar o diploma, pois a MP exclui de incidência as normas do artigo 48, § 2.0, da Lei de Diretrizes e Bases, impositiva da revalidação, e do artigo 17 da Lei n.° 3.268/57, que exige para o exercício da medicina o registro do diploma no Ministério da Educação.

Deve-se lembrar ao ministro Lewandowski, do STF, que não viu urgência na concessão de liminar em ação interposta pela Associação Médica Brasileira contra a MP, poder tomar-se cúmplice da entrada de médicos mal formados, não avaliados, oriundos de cursos insuficientes em países latino-americanos. Urgente é impedir que a saúde seja entregue a profissionais despreparados, buscando magicamente suprir a desigual distribuição de profissionais nas regiões do País.

A demagogia não deve entrar na sensível área da saúde. Certo seria criar plano de carreira para médicos e iniciar ação conjunta com Estados e municípios para dotar de meios a rede pública de saúde. O mais é demagogia.

*Advogado , professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

Fonte: O Estado de S. Paulo

Sem firmeza - Merval Pereira

A ex-senadora Marina Silva, que procura se colocar mais uma vez como presidenciável na eleição de 2014, tem dificuldades para se firmar como alternativa aos governos petistas, já que saiu desse meio e nunca rompeu com os antigos companheiros de maneira explícita. Talvez por esperar receber os votos dos petistas desiludidos.

Para o eleitor da classe média que, ao mesmo tempo, admira sua postura independente e preocupação com o meio ambiente, mas receia a inexperiência e capacidade de articulação política para montar um governo eficiente, ela é uma incógnita atraente. Um dos desafios que enfrenta neste momento é ser a preferida das massas rebeladas nas ruas, mas não se misturar aos vândalos que se infiltram nas manifestações para depredar prédios públicos e símbolos do capitalismo que pretendem destruir , como bancos e lojas.

Eis que ninguém menos que um membro da Executiva Nacional provisória da Rede de Sustentabilidade, o partido que Marina tenta colocar de pé, é flagrado com uma barra de ferro nas mãos nos atos de depredação do prédio do Itamaraty em Brasília, em junho. E o que usava como máscara para cobrir o rosto era uma camiseta da Rede.

O sociólogo Pedro Piccolo Contesini, de 29 anos, admitiu que estava lá naquela noite, mas deu explicação ridícula na sua página do Facebook: “Vi uma barra de ferro no chão e a agarrei, inicialmente com a intenção de me defender , caso as coisas piorassem por ali. Depois, com as emoções à flor da pele, a pressionei algumas vezes contra diferentes pontos de uma estrutura também de ferro do próprio prédio e em seguida a joguei. Não quebrei nada.” Esse detalhe de ter pressionado a barra de ferro contra “diferentes pontos ” do prédio faz parte de tentativa bisonha de se safar da acusação de depredação de prédio público.

Com que intenção alguém “pressiona” uma barra de ferro na estrutura de um prédio, em meio a um tumulto generalizado que incluiu até mesmo a tentativa de incêndio da sede do Itamaraty? Por que alguém cobre o rosto e pega uma barra de ferro numa demonstração pacífica de protesto? A certa altura, Piccolo diz que ficou “excitado” com tudo aquilo.

O nascente partido de Marina Silva agiu como se já estivesse perfeitamente integrado à arcaica estrutura partidária brasileira. Soltou uma nota condenando a violência e, mais adiante , aceitou o pedido de desligamento do membro de sua Executiva Nacional “em decorrência da investigação iniciada pela Polícia Federal sobre sua suposta participação nos atos de depredação do Itamaraty” .

“Suposta” porque, até o momento, Piccolo apenas admitiu estar no local, com o rosto coberto e uma barra de ferro na mão. Garante que não quebrou nada, e a Rede Sustentabilidade lhe dá o benefício da dúvida. A atitude dúbia do partido de Marina, querendo ficar bem com todo mundo, pode lhe custar o descrédito dos que estão nas ruas protestando e rejeitam abaderna como método de ação política.

A ministra Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos, age mais como militante do que como autoridade governamental. Foi por isso que, em maio, tuitou logo , acusando as oposições de ter espalhado os boatos que levaram a uma cor-rida aos bancos dos beneficiários do Bolsa Família, com receio de que o programa fosse ser extinto.

Ficou claro depois que a responsável pela onda de boatos fora a própria Caixa Econômica Federal, que antecipou o pagamento sem explicação. Ontem Maria do Rosário voltou a se precipitar , afirmando que o desaparecimento do pedreiro Amarildo, depois de ter sido levado pela Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha, deveria ser investigado partindo-se do princípio de que a responsabilidade é da Polícia Militar . Eu também temo que Amarildo já esteja morto, como a própria família desconfia.

E também acho que a polícia tem a ver com seu desaparecimento. Mas é preciso esperar as investigações para definir os culpados. O papel da ministra deveria ser o de pressionar para que as investigações sejam rápidas e esclarecedoras, não o de acusar o aparelho policial, mesmo que o histórico aponte nessa direção.

Fonte: O Globo

'Cor ou raça' - Hélio Schwartsman

Não morro de simpatia por cotas raciais. Há algo de incômodo, para não dizer sombrio, na ideia de que o Estado classifique cidadãos com base na cor da pele e outras características fenotípicas.

Mesmo com esse pé atrás, sou sensível aos argumentos de quem defende tais mecanismos de inclusão. Num mundo em que o curso universitário virou a principal mola de ascensão social, é complicado transformar o desempenho em provas (medida que, embora objetiva, encerra uma série de vieses) no critério único de admissão. Não vejo, assim, como absurdos programas de ação afirmativa que levem em conta raça.

O que me parece um desatino é a multiplicação das instâncias em que somos obrigados a declarar a que "cor ou raça" pertencemos. Agora, é praticamente impossível obter algum documento oficial --incluindo registros de nascimento, atestados de óbito, carteiras de trabalho-- sem preencher um quadradinho racial. Pesquisadores já não podem mais nem atualizar seu currículo Lattes na página do CNPq sem autoclassificar-se. Os órgãos menos autoritários ainda produzem formulários que oferecem a opção "não desejo declarar", mas a maioria não é tão tolerante.

Compreendo o interesse do governo em produzir dados que permitam incorporar a dimensão racial às análises estatísticas, mas a participação nessa empreitada, cujo valor científico é bastante discutível, deveria ser um convite, jamais uma imposição.

O linguista Roman Jakobson afirmava que o idioma falado por uma pessoa ajuda a moldar seu pensamento quando a força a explicitar distinções. Falantes do português vemos a Lua como essencialmente feminina, já os que se expressam em alemão pensam o satélite como algo masculino. Meu receio é que a burocracia, ao obrigar que pensemos a nós mesmos em termos de raça, contribua para naturalizar características que desejaríamos ver banidas das relações sociais.

Fonte: Folha de S. Paulo

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo

Descrédito contamina
Houve um tempo, mais ou menos recente, em que o descrédito dos políticos e da política não representava um grande transtorno para a vida nacional. Era um momento em que a economia estava blindada e, fizesse chuva ou sol, nada mudaria os alicerces de seu funcionamento: o famoso tripé “superavit fiscal, câmbio flutuante e meta de inflação” que fora implantado com o Plano Real. E que foi mantido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo depois da saída do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci de seu governo. Nem a crise do “mensalão” rompeu essa blindagem da economia, que acabou servindo de escudo para o próprio governo Lula.

Agora, a situação parece outra, completamente diferente, por causa de duas variáveis: primeiro, a desaceleração da economia mundial, que perdura desde a crise de 2008; segundo, a mudança de orientação da economia pela presidente Dilma Rousseff, que flexibilizou o tripé. Os parâmetros do ajuste fiscal são mais generosos; a inflação ronda o teto da meta, que é de 6,5%; e o câmbio, que ontem fechou em R$ 2,28, mas chegou a R$ 2,31, está sendo administrado pelo Banco Central.

De onde vem o maior perigo de ruptura da blindagem? Do descrédito das principais instituições brasileiras que, entre junho de 2012 e junho deste ano, sem exceção, sofreram grave perda de confiança, a começar pela mais importante de todas, a Presidência da República. Segundo o Ibope, essa foi a que mais sofreu: perdeu 21 pontos em um ano. Em 2010, com Lula no cargo, a Presidência era a terceira instituição mais confiável, atrás apenas dos bombeiros e das igrejas.

Foi geral
A queda no índice de confiança na instituição “presidente da República” foi três vezes maior do que a perda média de confiança das 18 outras pesquisadas, mas ninguém escapou da baixa. A média geral foi sete pontos, de 54 para 47. “É uma crise generalizada de credibilidade. Está refletindo o momento do país, com os protestos de rua. Já havia uma queda leve nos anos anteriores, mas agora a perda de confiança se acentuou”, avalia a diretora do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari.

Congresso
O Congresso e os partidos políticos só não caíram mais porque já estavam em baixa. São lanterninhas no ranking, desde 2009: passaram de 36 para 29 pontos, e de 29 para 25, respectivamente.

Reforma
A propósito do Congresso e dos políticos, o coordenador do grupo de trabalho encarregado da reforma política na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (foto), do PT-SP, negou ontem que o seu relatório sobre a minirreforma eleitoral vise facilitar o descontrole sobre os gastos de campanha eleitoral. “O projeto desburocratiza o processo de prestação de contas e facilita a fiscalização”, garante.

Recibos
Segundo Vaccarezza, os candidatos são obrigados a apresentar recibos dos gastos, a maioria preenchidos a mão. Atualmente, esses documentos não são digitalizados e o controle, quando muito, é feito por amostragem. Hoje, em uma eleição para deputado federal, são apresentados cerca de cinco milhões de recibos. Com a palavra a Justiça Eleitoral.

Melhora relativa// Mesmo com julgamento do mensalão, a confiança no Judiciário também caiu de 52 para 46 pontos, mas como as outras instituições caíram ainda mais, a Justiça foi da 11º para a 10º posição no ranking de confiança das instituições do país.

Cadê Amarildo?
A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, engrossou o coro dos que pressionam o governador Sérgio Cabral (PMDB) e seu secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, a esclarecer o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, no Rio de Janeiro. “A abordagem policial, com o posterior desaparecimento, leva à responsabilidade do desaparecimento toda a investigação, o inquérito com a hipótese clara, concreta, de que seja dos agentes públicos, do abuso de autoridade, da violência policial, algo com o qual não podemos mais conviver”, afirmou a ministra.

Mais uma
O governo criou ontem, por decreto, mais uma estatal. Vai gerenciar a exploração do petróleo do pré-sal. Denominada Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S.A., ou Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), será uma empresa pública federal, sob a forma de sociedade anônima de capital fechado, vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

Quanto vale
A nova empresa, que administrará os contratos de partilha e representará a União nos consórcios, vale pouco para quem vai gerenciar tanto petróleo. O capital social inicial da PPSA é de apenas R$ 50 milhões

Bombeiro/ O líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI), atua como bombeiro na Casa. “A presidente Dilma Rousseff, agora, terá que buscar uma fórmula para acalmar os ânimos na base aliada, e assegurar que o segundo semestre deste ano transcorra sem grandes sobressaltos no Congresso”, avalia.

Estaleiro/ O ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) respira sem auxílio de aparelhos e tem um quadro estável, mas continua na UTI do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, por causa de uma dengue. “Por conta dos novos achados, clínicos e laboratoriais, a equipe médica optou pela transferência do paciente para a Unidade de Terapia Intensiva”, explica a equipe que o atende: os médicos David Uip, Roberto Kalil e Carlos Gama.

Fonte: Correio Braziliense

Painel - Vera Magalhães

Efeito Donadon
Advogados do mensalão e ministros do STF acreditam que o presidente da corte, Joaquim Barbosa, pode levar antes do dia 14 ao plenário a decisão sobre se cabem ou não embargos infringentes no julgamento. A defesa de Delúbio Soares antecipou a discussão desse recurso. Os réus estão pessimistas com o precedente do ex-deputado Natan Donadon. Acham que os ministros podem considerar os recursos protelatórios e mandar expedir os mandados de prisão dos condenados.

Nova ordem O regimento interno do STF estabelece que, nas ações penais originárias, como o mensalão, não há revisor nos embargos. Desta forma, Ricardo Lewandowski não será o segundo a votar, mas o oitavo. Depois de Barbosa votarão Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki.

In loco Casada com a orientação dada a ministros para viajar, Dilma Rousseff vai priorizar nas próximas semanas inaugurações de obras em quatro Estados: São Paulo, Minas Gerais, Paraná, e Santa Catarina.

Resgate Não por acaso, as regiões são aquelas onde a presidente tem registrado o pior desempenho nas últimas pesquisas de aprovação.

Cruzada O governo se prepara para maior reação de religiosos neste fim de semana, quando ocorrem cultos e missas, sobre a sanção presidencial do projeto que assiste vítimas do estupro.

Sem recuo A despeito das críticas, o Planalto vai marcar reunião com evangélicos, já prevista após visita do papa Francisco, para reafirmar que não quebrou acordo feito em 2010, de que não ampliaria as possibilidades de aborto no SUS.

Onde pega Uma das razões de irritação de Dilma Rousseff com Aloizio Mercadante foi que, no entender da presidente, o titular do MEC não se empenhou para fazer prevalecer a destinação de 100% dos royalties de petróleo do pré-sal para a educação, área de sua pasta.

Construção Depois de meses recolhido e dedicado ao governo de Pernambuco, Eduardo Campos volta a falar ao empresariado. O presidenciável do PSB será estrela de almoço do Secovi-SP no dia 22 sobre conjuntura nacional.

Sintonia José Serra pediu informações à cúpula do Palácio dos Bandeirantes antes de reagir às denúncias de formação de cartel nas licitações do metrô e trem de São Paulo. As duas partes concordaram com a linha de destacar a motivação política do Cade na investigação.

De perto O governo paulista estuda uma manobra jurídica para retirar as investigações de dentro do Cade. Auxiliares de Geraldo Alckmin (PSDB) buscam uma jurisprudência que determine a remissão dessas apurações para instituições regionais.

Torcida 1 A preferência interna do PT por Alexandre Padilha para ser o candidato ao governo paulista encontra resistência da parte de alguns aliados.

Torcida 2 O PR, que negocia também com o PSDB de Geraldo Alckmin, tem dito à cúpula petista que preferiria apoiar Aloizio Mercadante ou Marta Suplicy.

#vemprarua Alvo de críticas da oposição, o prefeito Fernando Haddad (PT) ampliou sua agenda pública nas últimas semanas para acompanhar a execução de obras e programas do município. Só ontem, participou de quatro eventos fora da prefeitura.

Time Alfredo Manevy é o novo número dois da Secretaria de Cultura paulistana. Ele trabalhou com o titular da pasta, Juca Ferreira, no Ministério da Cultura.

Fácil O governo federal prepara pacote para reduzir a burocracia dos contratos trabalhistas. O ministro Guilherme Afif (Micro e Pequena Empresa) vai apresentar às centrais sindicais proposta de aplicar as regras do Simples Nacional a esses contratos, unificando tributos e trâmites administrativos.

Com Andréia Sadi e Bruno Boghossian

Tiroteio

"Em vez de explicar as denúncias graves, o PSDB se volta contra o órgão que investiga o que o próprio governo deixou de apurar."
DO DEPUTADO ESTADUAL ÊNIO TATTO (PT-SP), sobre a acusação do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) de que o Cade atua como "instrumento político".

Contraponto

Vaga preferencial

"No lançamento do Fórum Mundial de Direitos Humanos, Garibaldi Alves (Previdência) prometeu ser breve:

--Vou falar dois minutos, conforme prometi à Maria do Rosário, a segunda ministra mais temida da Esplanada.

Diante da surpresa de todos, o ministro complementou:

--O primeiro é o Mantega, que cuida do dinheiro e dos cortes. A segunda é a Maria do Rosário, que me cobra a implementação dos direitos humanos, em especial dos idosos.

Fonte: Folha de S. Paulo

Panorama Político - Ilimar Franco

Tchau, Cabral
O PT do Rio planeja desembarcar do governo Sérgio Cabral (PMDB). Sua Executiva estadual, bancadas e secretários se reúnem para tratar da saída na segunda-feira. A proposta já tem maioria . Para oficializar a decisão , o Diretório Regional ainda ser á convocado . Os secretários petistas vão deixar seus cargos até outubro. A candidatura do senador Lindbergh Farias será reafirmada.

Entre o céu e a terra
O ex-governador José Serra tem muita vontade de entrar no PPS para concorrer à Presidência. Mas essa alternativa está a cada dia mais distante de se concretizar . Seus aliados não querem que ele saia do PSDB. E, para que ele fique , alertaram-no de que ninguém no PSDB vai acompanhá-lo . Mostraram que não há possibilidade, por hora, de aliança do PPS com qualquer outro partido . E citaram pesquisas que mostrariam que, entre os eleitores que votam nos tucanos, há uma preferência por ele em detrimento do senador Aécio Neves. Por causa disso, alguns conselheiros lhe sugeriram permanecer no partido , porque a eleição será no ano que vem e, até lá , tudo pode acontecer.

“Respeito o Tarso. Até porque foi com ele que eu e o Michel acordamos com o Lula . Ele distorce a relação , talvez pelo clima PT x PMDB no Sul” - Henrique Alves, Presidente da Câmara, sobre as críticas do governador Tarso Genro ao PMDB

A cada dia com sua agonia
O PT , que se prepara para desembarcar do governo Sérgio Cabral, é o mesmo que, em 2010, criticou e ameaçou expulsar o deputado Alessandro Molon quando este anunciou que não apoiaria a reeleição do atual governador .

Na pressão
A ministra do TCU, Ana Arraes, mãe do governador Eduardo Campos (PE), foi sorteada para ser a relatora das contas da presidente Dilma. Há pressões para que ela se declare impedida devido à eleição do ano que vem. Eduardo Campos é pré-candidato à presidência pelo PSB. Os ministros do Tribunal defendem que ela não abra mão da tarefa.

Nem todos os iguais são iguais
Nota da tendência petista Mensagem defende a qualificação da aliança do governo Dilma. Cita os aliados PCdoB, PDT e PSB. O PMDB ficou de fora. A Mensagem quer se diferenciar das posições de um dos seus, o governador Tarso Genro (RS)

Do Maracanã à Perimetral
Considerando os recentes protestos, os recuos nas mudanças pretendidas pelos gestores do Maracanã e pesquisas, o vereador do Rio Cesar Maia (DEM) vai iniciar campanha para que o Consórcio Porto Maravilha desista de colocar abaixo a Perimetral. Numa dessas pesquisas, 79% se manifestaram contra. Os entrevistados temem graves problemas de mobilidade na cidade.

Braço de ferro
O ministro Antônio Andrade (Agricultura) anda às turras com o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Andrade não quer nomear o advogado Rogério Figueredo para a Secretaria de Defesa Agropecuária. A indicação foi de Cunha.

Sobre a espionagem
O jornalista Glenn Greenwald, do The Guardian, participará terça-feira da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Vai falar sobre a espionagem do governo americano e o comprometimento de informações.

O GOVERNADOR Cid Gomes (CE) recebeu a confirmação: a reunião dos Brics, em março de 2014, será no Centro de Convenções de Fortaleza

Fonte: O Globo

No comércio exterior, o buraco dos erros políticos - Rolf Kuntz

O Brasil só precisa conseguir um superávit comercial de US$ 4,99 bilhões em cinco meses - média mensal de US$ 998 milhões - para encerrar o ano com o saldo zerado, o pior em 13 anos, mas, ainda assim, muito melhor que o acumulado nos últimos sete meses. Nada mais fácil, se os preços e o volume de vendas de commodities ajudarem, se a indústria se tomar mais competitiva e os ventos forem mais favoráveis no mercado internacional. O entusiasmo criado pelos últimos números da indústria, com crescimento de 1,9% de maio para junho, combina com essa aposta. Olhados com um pouco mais de atenção, no entanto, os dados justificam alguma cautela: a produção industrial está apenas voltando aos níveis de 2011. Não se deve esquecer o tombo do ano passado. Da mesma forma, convém olhar com mais cuidado as cifras da balança comercial. São mais feias do que podem parecer à primeira vista.

O resultado oficial de janeiro a julho inclui, na coluna da receita, US$ 2,81 bilhões de exportações fictícias de plataformas para extração de petróleo. Foram US$ 380 milhões só no mês passado. Em sete, meses, esse tipo de operação ficou no segundo lugar na lista de vendas de manufaturados. Situou-se logo abaixo de automóveis de passageiros (US$ 2,99 bilhões) e logo acima de óleos combustíveis (US$ 2,1 bilhões) e de autopeças (US$ 2,05 bilhões). Só há um problema nessa classificação. O Brasil de fato produz e exporta veículos, óleos, autopeças e aviões (US$ 1,81 bilhão), mas as plataformas são contabilizadas sem necessidade de embarque e sem a realização efetiva de uma operação comercial. Sua "exportação" é apenas uma formalidade para reduzir a tributação sobre equipamentos do setor petrolífero. A operação é legal, mas sua inclusão na balança de comércio distorce as contas. Sem essa receita fictícia, o rombo teria chegado a US$ 7,8 bilhões.

O País, segundo a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Prazeres, ainda poderá ter um saldo positivo este ano, embora muito menor, certamente, que o de 2012 (US$ 19,41 bilhões). O resultado é em grande parte explicável, disse a secretária, pelas operações com petróleo e derivados. Foi um déficit de US$ 15,44 bilhões, 270,31% maior que o de um ano antes. A observação pode parecer razoável, mas o problema da conta petróleo está longe de ser acidental ou passageiro. No ano passado, o rombo, no mesmo período, havia sido 164,26% maior que o de janeiro a julho de 2011. Também isso é conseqüência da política econômica.

As importações de combustíveis e lubrificantes têm aumentado porque a Petrobrás deixou de produzir petróleo e derivados em volumes suficientes. Isso resulta do estilo de gestão adotado no governo anterior, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva subordinou a estatal a seus objetivos políticos. A alardeada autossuficiência nunca foi muito além do marketing presidencial.

O acúmulo de erros minou as finanças e a capacidade produtiva do grupo. Houve investimentos mal planejados, prioridades mal escolhidas, controle de preços e uso da empresa como instrumento de uma política industrial voluntarista. As correções iniciadas pela atual administração tiveram efeitos até agora limitados. A política de preços, apenas atenuada nos últimos tempos, causou danos enormes à produção de etanol, porque o álcool se tomou proporcionalmente mais caro.

O mau estado das contas ex-temas mais uma vez reflete os grandes erros da política econômica. As exportações de produtos básicos e semimanufaturados somaram 60,2% da receita comercial acumulada nos sete meses. A participação dos manufaturados cresceu ligeiramente, de 36,8% para 37,5% (o resto da conta corresponde às chamadas operações especiais). Mais uma vez, portanto, o Brasil se caracterizou como fornecedor de commodities e pagou um preço pesado por isso. Pela média diária, houve redução de 1,6% na receita dos básicos e de 6% na de semimanufaturados.

Esse efeito foi particularmente sensível em julho, quando os preços de 12 das 22 principais commodities foram menores que os de um ano antes. Os valores desses bens são normalmente mais afetados pelas oscilações da demanda que os preços dos manufaturados. Mas a diplomacia comercial, ao desprezar acordos com os mercados mais desenvolvidos, tornou o Brasil mais dependente da América Latina para as vendas desses produtos.

Também na região os produtores chineses vêm tomando espaços dos brasileiros. Nada parece mais natural. Basta levar em conta a baixa qualidade dos acordos comerciais firmados até com os vizinhos e as condições de competição, minadas pelo encarecimento da produção, pelo alto custo do investimento e pelo ambiente -incluído o sistema de transportes - altamente desfavorável aos negócios. A atenção maior ao consumo que à produção afeta a balança comercial desde 2007, quando as importações começaram a crescer mais que as exportações.

Nem o aparente arrefecimento da inflação justifica maior otimismo. Com a pioradas contas públicas, pressões inflacionárias continuarão forçando o Banco Central a manter juros elevados. Mudanças no cenário global complicam o quadro. A alta do dólar é mais um fator de elevação de preços e o financiamento externo tende a ficar mais difícil.

Enquanto isso, o cardápio da política econômica permanece quase invariável com pequenas mudanças para pior. Enquanto ministros da área econômica encenam um corte de gastos de R$ 10 bilhões - tesourada no vento, na maior parte -, a presidente se dispõe a liberar R$ 6 bilhões para amansar uma base parlamentar indócil. A eleição continua dominando as atenções do governo, como se todo o resto, incluída uma economia de uns R$ 4,5 trilhões (cerca de US$ 2,2 trilhões), pudesse esperar.

*Jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

'Hoje o público se interessa mais por mim', diz Gullar

Escritor lança livro infantojuvenil e terá obra poética completa reeditada

'Poema Sujo', de 1976, foi escrito no exílio, quando o poeta não sabia se teria muito mais tempo de vida

Morris Kachani

SÃO PAULO - O pequeno mas aconchegante apartamento em Copacabana onde vive Ferreira Gullar, 82, junto com a gatinha que ganhou de presente da cantora Adriana Calcanhoto há dois anos, reúne um notável acervo nas paredes.

Obras de Siron Franco, Marcelo Grassmann, Rubem Valentim, Osvaldo Goeldi, Alfredo Volpi, e um belo retrato do poeta assinado por Iberê Camargo, disputam espaço com as pinturas de natureza morta feitas pelo próprio Gullar e os móbiles à moda de Calder que ele confecciona.

Pelos sofás e estantes, dependendo do dia, também descansam um punhado de papéis recortados e espalhados ao acaso sobre cartolinas.

Estão em processo de maturação, ele explica. Poderão se transformar em colagens, e quem sabe em livro, como aconteceu no caso do infantojuvenil "A Menina Cláudia e o Rinoceronte", que está sendo lançado agora pela José Olympio. A editora está reeditando toda sua obra poética, com novos projetos gráfico e editorial.

Folha - Como enxerga sua obra, a essa altura da vida?

São momentos diferentes. O começo com "Luta Corporal" (1954) foi rebelde, criativo, audacioso, e deflagrou todo processo futuro da minha poesia. O "Poema Sujo" (1976) tem significação especial pela circunstância em que foi escrito [no exílio] e pela quantidade de matéria humana vivida e inventada --eu não sabia se ia continuar vivo por muito tempo ou não.

Considera-se atemporal?

Até aqui minha obra atravessa o tempo. Mais que isso, hoje o que tem acontecido é que as pessoas se interessam cada vez mais pela minha poesia, ao invés do contrário.

Como surgiu o livro "A Menina Cláudia e o Rinoceronte"?

Ferreira Gullar - Faço as colagens como hobby para me distrair e divertir, há anos. Isso nasceu de umas naturezas mortas que eu desenhava, e ao invés de colorir, recortava papel e colava em cima. Um dia tocou o telefone, fui atender, e o meu gatinho (já falecido) que estava em cima da mesa deu um tapa nos papéis e tirou da ordem. Quando voltei, colei tal como estava.

E desde então?

A partir daí eu desenhava e dava um tapa ao invés do gato. Depois deixei de desenhar e passei só a jogar recortes em cima do papel cartão. Usando tudo que chega aqui, envelope, capa de livro que vou jogar fora, jornal que já li.

Gullar não se comove com momento das artes visuais

Para ele, colagens que agora lança em livro são apenas frutos de um hobby
Escritor vê protestos com consequências positivas, mas critica falta de representação política nos movimentos

Em "A Menina Cláudia e o Rinoceronte", Gullar assina as ilustrações. No livro, Cláudia tenta ajudar uma rinoceronte a engravidar.

Este é o quarto livro de Gullar com a proposta das colagens --já ganhou um prêmio Jabuti de ilustração com um deles, "Bananas Podres".

Sobre esta surpreendente faceta do consagrado poeta, ele comenta, em tom de brincadeira: "Estou virando artista plástico sem querer".

"Descobri o acaso como uma coisa altamente criativa para mim", acrescenta ele, que tem sólida carreira como ensaísta em artes plásticas.

Folha - Por que o acaso?

Como não tenho motivação especial, o acaso sugere caminhos. Inclusive eu acho que esse processo de jogar os papéis à toa devia ser adotado nos colégios, porque qualquer criança pode começar a criar a partir disso. Quando estou fazendo esse trabalho é como se fosse um garoto.

O poema também é fruto do acaso?

O poema é exatamente o contrário, por isso estou há vários anos sem escrever. Porque se não sou levado pelo espanto, não escrevo. A poesia mesmo nasce de um estado de espírito de perplexidade diante do mundo. Não é algo que você faça porque quer. O poema utiliza a linguagem verbal, que é organizada.

Considera-se artista plástico?

Não, eu faço como hobby, como algo que me distrai e diverte. Estou virando artista plástico sem querer (risos).

Como avalia a produção de artes plásticas atual?

Se o cara bota urubu dentro duma gaiola, ou casais nus dentro de um museu, pra mim isso não é arte. Não me comove. Arte é uma coisa que as pessoas fazem, a natureza não é uma coisa que as pessoas fazem.

Como avalia o momento político atual?

É importante o pessoal protestar contra a situação, isso terá consequências positivas.
Só vejo um problema grave, que é de não haver representatividade política nos protestos. O país para ser governado tem que ter partidos e líderes.

E o comunismo?

O comunismo acabou, ele prestou e cumpriu seu papel como visão revolucionária que alimentou gerações e ajudou o processo social a avançar sobretudo na área do trabalhador, que conquistou mais direitos.

Poeta participa de debate em SP na segunda-feira

O poeta e colunista da Folha Ferreira Gullar, que tem a obra relançada neste ano pela editora José Olympio, participa de debate com Augusto Massi, editor, crítico e professor de literatura brasileira da USP, com mediação do repórter especial Cassiano Elek Machado. O evento, promovido pela Folha, pela José Olympio e pela Livraria Cultura, será nesta segunda, 5, às 19h30, no Teatro Eva Herz da Livraria Cultura do Conjunto Nacional (av. Paulista, 2.073). Inscreva-se pelo e-mail eventofolha@grupofolha.com.br, informando nome e RG, ou pelo telefone 0/xx/11/3224-3473 em dias úteis.

Editora planeja 14 reedições e volume de melhores entrevistas

Com mais de 30 títulos publicados desde 1954, quando saiu a primeira edição de "A Luta Corporal", Ferreira Gullar tem há décadas a maior parte de sua produção, especialmente a poética, concentrada na José Olympio.

Até 2014, quanto se completam 60 anos de "A Luta Corporal" --na verdade, há um livro anterior, "Um Pouco Acima do Chão" (1949), mas este Gullar considera uma obra imatura--, a editora carioca pretende reeditar 14 títulos do autor.

Os primeiros saíram há poucas semanas, junto com o infantil inédito "A Menina Cláudia e o Rinoceronte". São eles os títulos mais recentes de Gullar, "Muitas Vozes" (1999) e "Em Alguma Parte Alguma" (2010), e o mais famoso, "Poema Sujo" (1976)

Por estes dias, estão saindo "Dentro da Noite Veloz" (1975) e "Na Vertigem do Dia" (1980), e até setembro chegam "A Luta Corporal" (1954) e "Barulhos" (1987).

Nenhum desses títulos estava fora de catálogo, mas a editora Maria Amélia Mello, que trabalhou no material com Augusto Sérgio Bastos, explica que reeditar é um modo de demonstrar atenção aos grandes autores da casa.

Além do novo projeto gráfico, as obras receberam novos aparatos: a textos de nomes como Alfredo Bosi e Alcides Villaça, somaram-se outros de Augusto Massi, Marco Lucchesi e José Castello.

Para 2014, a JO prevê outras sete reedições e dois novos volumes: uma antologia de textos de arte e uma seleção de entrevistas com o autor de frases como "Não quero ter razão, quero ser feliz".

A Cosac Naify e a Global também detêm obras do autor, como crônicas e ensaios. Os poemas renegados de "Um Pouco Acima do Chão" (1949) entraram como apêndice em "Poesia Completa, Teatro e Prosa", da Nova Aguilar. (RC)

Poeta é um 'laboratório permanente', diz especialista

Ferreira Gullar é o escritor brasileiro mais lembrado, nos últimos anos, como merecedor de um Prêmio Nobel de Literatura. Também costuma ser citado por especialistas como um dos maiores nomes da história da poesia nacional, junto a ninguém menos que Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto.

"Nenhum outro poeta vivo tem tantos poemas tão amplamente reconhecidos como clássicos e antologiados", diz o poeta Antonio Cicero, um dos que colocam Gullar no mesmo patamar de Bandeira, Drummond e Cabral.

"Poema Sujo" (1976) é a obra mais consagrada da carreira que completa seis décadas em 2014, mas volumes como "A Luta Corporal" (1954) e "Na Vertigem do Dia" (1980) desenham uma trajetória de experimentações que resulta universal, na avaliação do poeta Marco Lucchesi.

"Gullar é um laboratório permanente. Ele foi quem mais experimentou na poesia brasileira, com alto grau de consciência dessa experimentação", argumenta.

A universalidade que resulta desse grau de consciência também é uma característica que, para o poeta e tradutor Ivo Barroso, faz do maranhense um poeta singular.

Barroso diz que Gullar chegou a se perder nas experimentações ao se envolver com o concretismo, nos anos 1950, e o cordel, na década seguinte, mas voltou "à poesia com P maiúsculo".

"Ele faz poesia universal, não poesia para quatro pessoas de São Paulo e três do Rio", resume.

É isso o que permite a uma obra angustiada como "Poema Sujo" --homólogo poético de "O Grito", do pintor Edvard Munch, segundo Barroso-- incluir versos tão acessíveis como "Lá vai o trem com o menino/ Lá vai a vida a rodar/ Lá vai ciranda e destino/ Cidade noite a girar", criados como letra para "O Trenzinho do Caipira", de Heitor Villa-Lobos. (Raquel Cozer)

Fonte: Ilustrada / Folha de S. Paulo