segunda-feira, 29 de julho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Roberto Freire: ‘Lula não vai voltar por que não saiu’ (Dilma).

Ela é uma marionete, o poder é exercido, nas sombras, por Lula. Isso é muito ruim, nenhum país consegue ser bem administrado por alguém que está nas sombras. E deu uma demonstração de que o governo dela é guiado pelo fisiologismo. Ela só consegue montar sua base em função de tantos ministérios para distribuir entre os petistas e aliados. É puro clientelismo, não tem nada de interesse público nisso. Tudo o que ela diz é uma demonstração de quão incompetente e inepto é o governo dela.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS. In “Para oposição, Dilma admite governar à sombra de Lula”, O Globo, 29/7/2013

Para Aécio Neves, governo de Dilma é 'incapaz' e 'refém'

Senador tucano reage à entrevista da petista à Folha e afirma que ela 'zomba da inteligência dos brasileiros'

Provável candidato do PSDB diz que crítica ao desempenho de FHC reflete 'obsessão' do PT com o ex-presidente

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O senador mineiro Aécio Neves, provável candidato do PSDB nas eleições presidenciais do ano que vem, afirmou ontem que o governo da presidente Dilma Rousseff chegou ao fim "de forma prematura", um ano e meio antes do fim do mandato de Dilma.

"O sentimento que fica [...] é o de um governo incapaz de novas iniciativas, refém das circunstâncias que o cercam", disse Aécio ao comentar em sua página no Facebook a entrevista que Dilma concedeu à Folha, publicada ontem.

Na entrevista, a presidente diz não dar importância aos petistas que defendem a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato nas próximas eleições. "Esse tipo de coisa, entre nós não gruda, não cola", disse. "O Lula não vai voltar porque ele nunca foi. Ele não saiu."

Em mensagem publicada no Facebook, Aécio afirmou tque a entrevista reflete a "obsessão do PT" com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é criticado por Dilma em alguns momentos.

Perguntada sobre as dificuldades que encontra para manter a inflação dentro da meta oficial, a presidente disse à Folha que Fernando Henrique não cumpriu a meta em três dos quatro anos no qual ela vigorou em seu governo.

Para Aécio, Dilma "zomba da inteligência dos brasileiros" ao ignorar "as gigantescas diferenças entre as conjunturas das duas épocas".

Para o presidente do oposicionista DEM, senador José Agripino (RN), o recado foi "claríssimo": "Os erros que estão levando às manifestações nas ruas não são só dela, são dos dois governos do PT".
O ex-vice-governador de São Paulo Alberto Goldman (PSDB) ironizou: "Lula nunca saiu, e Dilma nunca entrou".

Para o presidente do também oposicionista PPS, deputado Roberto Freire (SP), a petista "apenas reconhece sua nulidade" na entrevista.

A base governista da Câmara dos Deputados defendeu Dilma. Segundo o vice-presidente da Casa, André Vargas (PT-PR), aqueles que falam em "volta, Lula" "não compreendem o PT, Lula e Dilma".

Líder da bancada do PMDB na Câmara, o deputado Eduardo Cunha (RJ) definiu Dilma como "consequência do Lula. Um fracasso de seu governo seria um fracasso do Lula".

Na entrevista à Folha, Dilma voltou a defender um plebiscito para a reforma do sistema político brasileiro e rebateu a proposta --apoiada inclusive pelo PMDB, seu aliado-- de redução do número de ministérios, hoje em 39.

Sobre a reforma política, resistências em sua própria base de apoio praticamente sepultaram as chances de que haja alterações já em 2014. Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), Dilma "corajosamente enfrenta esse tema".

Sobre o ministério, Cunha afirmou: "Manter o número não mudará a relação com o PMDB, mas vamos continuar defendendo a redução".

Fonte: Folha de S. Paulo

Adversários criticam declaração de Dilma

Presidente disse que Lula "não vai voltar porque não saiu" da vida pública

Dilma Rousseff não pecou pela incoerência, diz a oposição, ao afirmar que o ex-presidente Lula "não vai voltar porque ele não saiu" em entrevista publicada no domingo pelo jornal Folha de S.Paulo. Para seus aliados, no entanto, a declaração da presidente evidenciou o trabalho de forma unitária estimulado pelo PT.

Um movimento pela candidatura do ex-presidente parte de setores aliados insatisfeitos com a gestão atual. A pressão ganhou força com a queda de popularidade de Dilma após os protestos nas ruas. Questionada sobre o tema, a presidente respondeu que ela e Lula são "indissociáveis":

– Esse tipo de coisa não gruda, não cola. Falar em "volta, Lula" e tal... Eu acho que o Lula não vai voltar porque ele não foi.

O presidente do PPS, Roberto Freire, disse que a petista "apenas reconhece sua nulidade" e se "autodefine como marionete". Para o presidente do DEM, José Agripino Maia, o recado de Dilma foi "claríssimo":

– Os erros que estão levando às manifestações nas ruas não são só dela, são dos dois governos do PT.

Número de ministérios não deve ser reduzido

Na base governista da Câmara, as afirmações da presidente tiveram boa acolhida. Para o vice-presidente da Casa, André Vargas (PT-PR), aqueles que falam na volta do ex-presidente Lula não compreendem o PT, Lula e Dilma.

Líder da bancada do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ) afirmou concordar com Dilma:

– Realmente, não pode existir o "volta, Lula" porque ela (Dilma) é uma consequência do Lula. Um fracasso de seu governo seria um fracasso do Lula.

Na entrevista, Dilma disse que não cogita reduzir o número de ministérios. Na sua avaliação, essa medida não diminui gastos do governo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, cuja saída do ministério é cogitada há algumas semanas, teve sua permanência garantida pela presidente. Com um forte discurso de defesa da política econômica do governo, afirmou que a inflação está "cadente" e o desemprego, sob controle.

Sobre os protestos, disse que não ficou assustada e que houve uma reação emocional rápida das pessoas à violência policial. A presidente voltou a defender a necessidade de uma reforma política e que esse tema seja discutido em um plebiscito, já que reconhece a dificuldade de o atual Congresso levar o tema adiante.

Fonte: Zero Hora (RS)

Para oposição, Dilma admite governar à sombra de Lula

Petistas e aliados concordam que os dois governos são indissociáveis

Júnia Gama e Mônica Tavares

-Brasília- A oposição reagiu à entrevista em que a presidente Dilma Rousseff, no jornal "Folha de S. Paulo" afirma que não haverá o "Volta Lula" porque ele nunca teria saído. Para os líderes da oposição, Dilma mostrou fragilidade ao admitir que age à sombra de Lula. Em sua página de rede social, o senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) criticou a "obsessão" de Dilma pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, citado duas vezes na entrevista, e considerou que Dilma anunciou ao país que "o governo não fará nenhum esforço no sentido de diminuir sua estrutura e, com isso, reduzir o seu custeio"

Na entrevista, a presidente negou todas as dificuldades econômicas apontadas inclusive por parlamentares de sua base e pelo próprio Lula, e garantiu que o governo cumprirá a meta de inflação pelo décimo ano consecutivo. E lembrou que Fernando Henrique não cumpriu a meta em três dos quatro anos dele em que a meta vigorou.

Fernando Henrique está em viagem à Europa, segundo sua assessoria, e Lula não quis comentar a entrevista.

Parceria é exaltada

"Ao insistir em comparar o seu governo com a gestão do ex-presidente, a presidente Dilma zomba da inteligência dos brasileiros ao tratar apenas de números absolutos, ignorando as gigantescas diferenças entre as conjunturas das duas épocas"? defendeu Aécio. "O sentimento que fica ao final da entrevista é o de um governo incapaz de novas iniciativas, refém das circunstâncias que o cercam. Enfim, um governo que chegou ao seu final de forma extremamente prematura", acrescentou.

O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), exaltou a parceria entre Dilma
e Lula. Para o petista, no início do governo houve uma tentativa de despregar a imagem do ex-presidente à nova gestão.

— Lula, Dilma e o PT são três seres que não se separam, nem na alegria, nem na dor. O que a presidente disse é a expressão do sentimento que perpassa toda a base do PT. No início do governo, houve uma tentativa de dissociá-la do Lula, como se tudo que ele tivesse feito não servisse e ela fosse a gestora que iria mudar as coisas, mas isso não colou.

O deputado reforçou, no entanto, que associar Lula a Dilma não significa que será indiferente para o partido qual dos dois será o candidato em 2014:

— A Dilma é a candidata do PT, não é o Lula. Ele terá o papel de nosso porta-estandarte, de sair pelo Brasil mostrando nossas realizações.

Para o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), a declaração de Dilma sobre a indissociabilidade com Lula confirma o que a sociedade brasileira já desconfiava:

— Ela é uma marionete, o poder é exercido, nas sombras, por Lula. Isso é muito ruim, nenhum país consegue ser bem administrado por alguém que está nas sombras. E deu uma demonstração de que o governo dela é guiado pelo fisiologismo. Ela só consegue montar sua base em função de tantos ministérios para distribuir entre os petistas e aliados. É puro clientelismo, não tem nada de interesse público nisso. Tudo o que ela diz é uma demonstração de quão incompetente e inepto é o governo dela.

O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), avaliou que as declarações da presidente são uma tentativa de dividir com Lula e o PT a responsabilidade pelos "acertos e desacertos" de seu governo, em um momento de queda brusca de popularidade.

— Ela colocou claramente que a responsabilidade pelo malogro do governo não é só dela. É uma forma de se associar ao Lula e ao PT para dividir seu insucesso. Ela resolveu adotar um discurso demagógico. Basta olhar o resto do mundo: só países de quinta categoria têm tantos ministérios. Dá para cuidar das minorias sem esses ministérios que, até hoje, não mostraram a que vieram — disse Agripino.

O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), concorda com a presidente quando ela associa seu governo a Lula. Para o deputado, o sucesso e o fracasso de um são estendidos ao outro.

— Realmente, não dá para separar uma coisa da outra, então não existe volta Lula e fica Dilma, não dá para dissociar. A responsabilidade já é comum, não pelos motivos que ela coloca, mas porque, para o eleitor, ela foi escolhida e bancada pelo Lula.

Cunha, que é autor de uma PEC para limitar o número de ministérios, criticou a presidente por ter se posicionado contrária à diminuição de pastas.

— Vamos manter nossa proposta, existe um simbolismo em reduzir, porque você passa para a população que quer cortar gastos. Com menos ministérios, temos menos ministros, menos secretários-executivos e menos pessoas usando avião da FAB.

Os presidenciáveis Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva foram procurados pelo GLOBO e não foram encontrados. A assessoria de Campos não retornou as ligações, e a de Marina informou que, por ser domingo, ela estaria com a família e não iria comentar.

"(Dilma avisa que) O governo não fará nenhum esforço no sentido de diminuir sua estrutura e, com isso, reduzir o seu custeio"- Aécio Neves Senador (PSDB-MG)

Fonte: O Globo

Fragilidade de Dilma e movimentos de Serra atrasam apoio do PSD à reeleição

Fernando Gallo, Ricardo Chapola

A despeito da queda da presidente Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas - e da movimentação para ser candidato à Presidência do ex-governador José Serra (PSDB) - a maior parte dos diretórios estaduais do PSD tende a defender a reeleição da petísta em 2014. No entanto, o mapa de apoio à petísta no partido comandado pelo ex-prefeito Gilberto Kassab é instável: lideranças regionais que o próprio PSD divulga como decididas disseram ao Estado que a questão está em aberto.

Essa situação ocorreu em quatro Estados, dos quais dois estavam no primeiro anúncio feito por Kassab em fevereiro, três meses antes de Dilma contemplar o PSD com a Secretaria da Micro e Pequena Empresa. A consulta do partido, cujo objetivo é mostrar unidade nacional, só foi divulgada com 14 diretórios - todos pró-reeleição.

No levantamento feito pelo Estado, 14 lideranças regionais disseram que devem apoiar a reeleição - Mato Grosso foi o único a não responder, mas declarou posição pró-Dilma em março. A reportagem questionou como os diretórios se posicionavam. frente à recente queda de popularidade de Dilma e a possível entrada de Serra na disputa ao Planalto. Dois Estados disseram que não vão fazer campanha para a petista.

Animado pela queda da presidente, Serra confidenciou a aliados que alimenta o sonho de disputar a Presidência pela terceira vez. O tucano voltou a participar de debates, deu entrevistas, aumentou a frequência de reuniões com aliados e até viajou a Brasília para encontrar senadores "independentes".

Um dos principais aliados de Serra, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), tem dito que as portas da sigla estão abertas para o ex-governador. Com o nome do senador mineiro Aécio Neves consolidado como provável candidato tucano ao Planalto, Serra avalia a hipótese de se filiar ao PPS.

Sem fusão. Um dos obstáculos é que a fusão com o PMN - que poderia elevar a atual bancada de 11 deputados do PPS e, consequentemente, o tempo na propaganda de rádio e TV - não vingou. Com isso, para ter uma candidatura competitiva, Serra teria de atrair o apoio do PSD do amigo Kassab, quarta maior bancada da Câmara.

Embora considerado improvável pela maioria do partido, o apoio ao ex-governador é uma hipótese avaliada pela cúpula da sigla. Na quarta-feira, em entrevista ao Estado, o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, opinou que, caso Dilma não concorra, o partido poderá apoiar Serra.

Entre os dez diretórios que se declaram indecisos, o Amapá admite a hipótese de apoiar Serra se Kassab decidir assim. "Vamos acompanhar a decisão que for tomada lá", afirmou o presidente do PSD-AP, deputado estadual Eider Pena Borba.

Na maior parte dos diretórios, o nome do ex-governador é visto com ressalvas. Primeiro, porque o tucano não se colocou de fato na disputa e nem Kassab procurou quem quer que sejapa-ra avisar que o tucano é candidato. Depois, porque o PPS é um partido com pouca estrutura nos Estados. wFora do PSDB (Serra) vai ter dificuldade de montar palanques regionais", afirmou o deputado Vilmar Rocha, presidente do PSD goiano.

Além disso, Serra é tido como um político muito rodado num cenário em que o eleitor pode preferir mudanças. "O PSD partir para um apoio do PPS porque o Serra é o candidato seria difícil O PPS é um partido minoritário em quase todos os Estados", afirmou o presidente do PSD-PA, Sérgio Leão.

Para o presidente do diretório baiano, o vice-governador Otto Alencar, a aliança com o PT está consolidada no plano estadual e no nacional. "Aqui minha aliança com o governador Jacques Wagner não terá nenhuma distensão."

Em alguns dos Estados em que o PSD não tomou posição oficial, dirigentes afirmam esperar uma redefinição do quadro político. É o caso de Goiás, Amazonas, Paraná, Espírito Santo e Roraima. Paraíba e Rondônia, que estavam entre os primeiros diretórios a declarar apoio àree-leição, agora se dizem indefinidos por causa da conjuntura estadual O presidente do diretório gaúcho, deputado Danrlei de Deus, havia dito em maio que "acompanharia a luta de Dilma" e que "todos no partido confiam cegamente no trabalho de Kassab". Agora, diz que vai seguir a Executiva nacional.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Defesa da economia gera controvérsia

Fazenda e BC sentem apoio na fala da presidente; analista vê inflação perigosa

Martha Beck e Roberta Escrivano

BRASÍLIA e SÃO PAULO - A garantia do cumprimento da meta de inflação em 2013 e a defesa do ministro da Fazenda Guido Mantega e da política econômica, feitas pela presidente Dilma Rousseff em entrevista à “Folha de S. Paulo” foram interpretadas de diferentes maneiras. Para técnicos da área econômica, as declarações sinalizaram apoio ao trabalho da Fazenda e do Banco Central, que está sendo alvo de fortes críticas do mercado. Para analista, reforçam uma leniência do governo com a alta dos preços, já que a inflação está próxima do teto da meta fixada para o ano, de 6,5%, e deteriorando a política fiscal.

Para um integrante do governo, Dilma assumiu a responsabilidade sobre o desempenho fiscal e monetário. As declarações da presidente foram parecidas com o discurso que ela fez recentemente no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, quando disse: “Nós construímos o controle da inflação, nós construímos a robustez fiscal” Segundo o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), ao dizer que o ministro da Fazenda fica onde sempre esteve, a presidente reforça seu apoio à condução da economia:

— Tirar o Mantega seria um tiro no pé. Ele conduz a política econômica escolhida por ela.

Dilma alfinetou o ex-presidente Fernando Henrique na entrevista, lembrando que a meta de inflação foi descumprida durante três anos do mandato do tucano. Mas para o economista Ernesto Lozardo, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), os atuais índices inflacionários, mesmo dentro da meta, são mais perversos que os dos anos de 1999, 2001 e 2002.


— Não faz nenhum sentido comparar a situação econômica e inflacionária do governo FH com o de Dilma. O comentário da presidente foi de cunho totalmente político e não técnico — disse Lozardo.

Ele cita que o mandato de Fernando Henrique se seguiu ao período de hiperinflação, e que as bases macroeconômicas estavam em construção. Além disso, salienta, durante os oito anos de governo FH, o mundo viveu as crises da Ásia, da Rússia e do México.

— Tínhamos problemas externos graves. Mas éramos um país em construção, com nova moeda e com uma série de reformas institucionais sendo feitas para garantir o crescimento futuro. Ter a inflação um pouco acima da meta não era um fator tão preocupante.

Já durante o governo de Dilma, a dúvida sobre o controle da inflação é “só mais um sinal de uma economia totalmente desalinhada” Ele pontua que, além do aumento nos preços, o país vive um momento de gastos públicos elevados, excessivas desonerações para estimular o consumo, redução de juro exageradamente rápida, déficit em conta corrente e alta do endividamento bruto:

— Neste contexto, ter inflação é muito preocupante.

Fonte: O Globo

PMN desiste de fusão com PPS para criar o MD

PMN não quer esperar que políticos decidam se vão para MD, entre eles Serra

Desavenças com PPS sobre cargos em diretórios regionais também influenciaram

Marcelle Ribeiro

SÃO PAULO - O PMN (Partido da Mobilização Nacional) bateu o martelo neste domingo e decidiu, em convenção extraordinária realizada em São Paulo, desistir da fusão com o PPS (Partido Popular Socialista) para criar o MD (Mobilização Democrática). A presidente em exercício do PMN, Telma Ribeiro, afirmou que a legenda não quer ficar refém à espera de que políticos com mandato ou não decidam se vão para o natimorto MD, entre eles o ex-governador de São Paulo, José Serra. O tucano negociava com o presidente do PPS, Roberto Freire, uma possível filiação ao MD para se candidatar à Presidência da República pelo MD em 2014, caso a legenda fosse criada.

Telma disse que o “timing” do PMN e do PPS estão diferentes e que desavenças para decidir sobre cargos nos diretórios regionais da nova legenda também influenciaram na decisão. Segundo ela, caso o MD fosse criado, ele não poderia ficar refém de coisa alguma, inclusive de uma possível ida de Serra.

— Partido não é restaurante que você monta e espera os fregueses. Você constrói o partido com os objetivos que justificam as pessoas irem para aquele partido. Não porque A ou B podem ir — disse.

A incerteza de Serra sobre uma possível filiação no MD também pesou. Para Telma, Serra teria que estar convicto da importância da legenda.

— Não gosto de alguém dizendo “eu vou ver se vou ou não vou”. É sinal de que a pessoa não está nos vendo como parceiros. Quem quer vir, vem. Não fala, no último minuto: “espera aí que eu vou ver, se não tiver nenhum lugar melhor para eu ir ou se o lugar onde estou não ficar melhor, aí eu vou”. Partido não deve ser como mercadoria que você pode escolher entre várias possibilidades, pois isso demonstra que não há ideologia — afirmou Telma.

A presidente do PMN disse que não se preocupava com a possibilidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidir que a fusão dos dois partidos não configuraria a criação de uma nova legenda. A assessoria técnica da presidência da Corte teria redigido um parecer com esse entendimento, o que faria com que o MD não tivesse direito ao Fundo Partidário e ao tempo de televisão dos deputados que se filiassem à legenda.

— Para quem trabalha, televisão é apenas um complemento. Não é uma necessidade — afirmou em convenção do PMN em São Paulo.

O PMN, segundo Telma, não viu sentido em esperar que o TSE se pronunciasse sobre a consulta feita pelo PPS.

— Eu vou esperar que ele (TSE) diga isso e depois vou esperar se o outro vai dizer que vem? Que é isso? Partido não é isso. Não posso imaginar que todo esse trabalho que tivemos seja apenas para criar uma zona confortável para alguém. O partido deve levar uma proposta para a nação — disse.

Segundo Telma Ribeiro, nas conversas para a fusão, PPS e PMN teriam combinado que em metade dos estados do país, o PMN presidiria o diretório estadual do MD e na outra metade seria o PPS. O problema é que, de acordo com Telma, o PPS não estava aceitando que alguns dirigentes do PMN presidissem diretórios regionais do MD. Isso estaria acontecendo em estados como o Rio de Janeiro, Paraíba e Minas Gerais. Além disso, integrantes da juventude das duas legendas eram contrárias à fusão.

A presidente do PMN lamentou que a fusão não seja possível.

— Fico triste que não dê para caminharmos. Mas se não pensarmos do mesmo jeito não adianta, é tolice.

Fonte: O Globo

PMN desiste de fusão e reduz opções de Serra

Por Fernando Taquari

SÃO PAULO - O PMN anunciou ontem, em convenção extraordinária, a decisão de não se fundir ao PPS para criar a Mobilização Democrática (MD). A movimentação entre os dois partidos era importante para os planos do ex-governador José Serra de disputar as eleições presidenciais de 2014. O fim das negociações pode reduzir o interesse de Serra de migrar para o PPS e abandonar o ninho tucano.

O PPS via na fusão a oportunidade de elevar sua bancada na Câmara de 11 para 14 deputados com os três parlamentares do PMN. Além disso, a legenda tinha a expectativa de formar uma base com 20 deputados ao abrir, com a união, a janela de um mês para que políticos mudem para novas siglas sem o risco de perder seus mandatos.

O PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, também se beneficiou da janela de infidelidade ao filiar parlamentares insatisfeitos com seus partidos quando foi criado em 2011. Com uma base mais sólida, a candidatura presidencial de Serra seria mais competitiva e atenderia ao projeto do PPS de ganhar musculatura e se fortalecer nas eleições do ano que vem.

O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), lamentou o desfecho das negociações. Segundo Freire, o fim do MD não ajuda a oposição na tarefa de se preparar para enfrentar o governo Dilma Rousseff em uma disputa eleitoral. "De qualquer maneira, já esperava por esse resultado. É uma pena. Nós trabalhamos pela fusão até o fim", afirmou o deputado, que reconhece a incerteza em torno do futuro político de Serra. Para manter a esperança de concorrer ao Planalto, restaria a Serra a hipótese de migrar para o PSD ou lutar pela indicação no PSDB contra o senador Aécio Neves (MG).

Ao bater o martelo contra a fusão, o PMN alegou divergências estaduais e a opção do PPS de priorizar a cúpula do partido nas decisões de temas relevantes e na busca por apoio de parlamentares. Para o PMN, a união deveria ser baseada na construção de uma base de vereadores, sindicatos e militantes. A indefinição de Serra também teria pesado contra o acordo, como reconheceu a presidente em exercício da legenda, Telma Ribeiro.

Pelo acordo inicial, aprovado pelas executivas dos dois partidos em 17 de abril, metade dos diretórios estaduais do MD ficaria sob o comando do PMN. A outra metade seria responsabilidade do PPS. No entanto, não houve consenso na maioria dos Estados, sobretudo Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraíba.

Fonte: Valor Econômico

As verdades, as mentiras e as meia-verdades de Dilma Rousseff – Alberto Goldman

“Propus cinco pactos. Eu tenho um sexto: é o pacto com a verdade”,disse Dilma na entrevista à jornalista Mônica Bergamo na Folha.

Vou aceitar esse jogo da verdade. Vamos lá às verdades:

“Lula e eu somos indissociáveis...o Lula não vai voltar porque ele não foi”. De fato, Dilma é criatura de Lula, o autor e personagem principal. A maioria da população brasileira pensou que estava elegendo uma mulher de personalidade própria. Enganou-se. É o Lula que exerce seu terceiro mandato e agora quer o quarto.

“Quando a gente, nesses dez anos (de governo do PT) cria condições para milhões de brasileiros ascenderem, eles (o povo) vão exigir mais. Essa aceleração (da inclusão) não se deu na qualidade dos serviços públicos”. Milhões também não ascenderam antes de Lula? E quanto à má qualidade dos serviços, todos dizíamos isso, só ela não sabia?

“Nós não somos uma ilha...você não está com aquele vento a favor que estava, não”. Se isso é verdade, e é, porque creditou tudo de bom que houve nesses últimos anos à competência de seus governos? Quando tudo eram flores, foi o governo que fez, agora que são espinhos a culpa é da situação internacional.

“O gigante despertou”. É verdade, despertou. Não adianta mais enrolar.

Vamos agora às mentiras:

“Não estou cogitando isso (enxugamento de ministérios)...vão querer cortar os de direitos humanos, igualdade racial, política para as mulheres...não acho que reduza custos”. Não só se reduziriam custos mas, o mais importante, poderia dar mais eficiência e eficácia à gestão governamental. Por exemplo, o Ministério da Justiça teria uma visão mais abrangente para fazer justiça sem discriminações, o Ministério dos Transportes integraria melhor toda a logística de transportes aglutinando transportes terrestres, hidroviários, os aeroportos e os portos.

“Tudo o que sobe desce, e tudo o que desce sobe”. Não é não! Nas pesquisas, as quais ela se refere, descer é fácil, subir é difícil. Desfeita a credibilidade pelo fato do povo se dar conta da realidade, reconstruí-la é, via de regra, impossível.

“Uma coisa é certa: eu, com médico, me viro. Sem médico, eu não me viro”, se referindo ao programa Mais Médicos. Não se vira, não! Só médico para tratar, sem os instrumentos necessários para trabalhar, não se cuida da saúde da população. O médico, só, não se vira.

“A dívida bruta (do país) está caindo...nunca foi tão baixa”. A dívida bruta está, hoje, em seu ponto mais alto: 60% do PIB. Caiu até 2010 e, a partir daí, vem subindo sistematicamente.

“A inflação é cadente...o tomate está custando 4,50 o kilo”. Não é, já faz tempo, a inflação vem subindo e atingiu mais de 6,5% ao ano, e o tomate, antes da subida, custava muito menos.

Vamos agora às meia-verdades:

“Sabe em quantos anos o Fernando Henrique não cumpriu a meta"? É verdade, em alguns anos do período de FHC a meta não foi cumprida. Mas ele foi o responsável pelo plano real que derrubou a inflação galopante em que o país vivia e permitiu que nos anos seguintes, inclusive no governo Lula, ela pudesse ser controlada. Por que negar esse fato?

“Temos que aumentar a taxa de investimento no Brasil...tanto que tomamos as medidas fundamentais para que isso ocorra. Reduzimos os juros”. Tomaram, sim, lá atrás, depois de manterem por anos juros estratosféricos. Agora estão aumentando, a cada reunião do BC.

“Quero falar do futuro...de agosto até o início do ano que vem, faremos concessões, rodovias, ferrovias....para a ampliação dos investimentos e melhorar a competitividade da economia”. Só agora? Depois de mais de dez anos de estripulias? Isso já ouvimos muitas vezes.

Assim é a Dilma. E assim é o Lula.

Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB, foi governador de S. Paulo

Contra inflação, regra do mínimo é discutida

Desindexar o salário foi opção levantada nos bastidores da Fazenda, mas combatida pela impopularidade

Gabriela Valente, Martha Beck

BRASÍLIA - Mesmo com menos fôlego, a inflação ainda aflige o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que pediu à sua equipe sugestões de novas medidas para domar o problema. O secretário de Política Econômica, Márcio Holland, é o encarregado de propor ações e já levou algumas ao chefe. Uma delas é polêmica, especialmente às vésperas de um ano eleitoral, mas conta com apoio cada vez maior na Fazenda e no Banco Central: mexer na correção do salário mínimo.

Num governo do Partido dos Trabalhadores, ninguém vocaliza publicamente que a fórmula que garantiu ganhos reais à população nos últimos anos é uma pedra no caminho do combate à inflação. Mas técnicos afirmam nos bastidores que seria mais fácil conter a alta dos preços sem ela. A lei brasileira prevê que o rendimento básico da população seja reajustado pela variação do INPC (Índice Nacional de Preço ao Consumidor) do ano anterior e pelo crescimento da economia dois anos anteriores. A regra vigora até 2015.

O problema é que ela contribui para agravar a chamada inflação inercial, que ocorre quando a alta de preços do passado é usada para corrigir valores no futuro. Isso gera um efeito em cascata difícil de conter. Além disso, como boa parte dos beneficiários do INSS recebe o salário mínimo, a situação do governo fica ainda pior tanto do ponto de vista inflacionário quanto de controle dos gastos públicos.

- Esse é um dos piores tipos de indexação porque, além da inflação, leva em consideração o crescimento do passado num momento em que o país pode nem estar crescendo mais - garante um técnico.

Não é hora de mexer no mínimo

Os técnicos da equipe econômica lembram que a indexação é um problema que se agrava quando a inflação gira muito próxima do teto da meta fixada para o ano, de 6,5%. O IPCA, índice que baliza as metas de inflação do governo, acumulado em 12 meses até junho chegou a 6,7%. Segundo eles, quando os agentes econômicos veem uma resistência na inflação, eles começam a querer se proteger da alta dos preços e a transferir automaticamente para produtos e serviços as perdas provocadas pela inflação passada.

Os defensores da regra do salário mínimo alegam que esse não é o momento de tratar do assunto, pois, em 2014, a fórmula será favorável para as contas públicas. Como a economia cresceu apenas 0,9% em 2012, o impacto será menor que nos últimos anos. Segundo o Dieese, 45,5 milhões de brasileiros têm rendimento referenciado no salário mínimo. Somente em 2013, o incremento da renda em função da correção dada por lei foi de 9%.

- Não vivemos uma inflação de demanda, mas de inércia. Tem de mexer na regra do mínimo, porque essa indexação é inviável, mas é impossível fazer isso antes das eleições - avalia o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas.

Mantega sabe dos riscos políticos e, por isso, resiste à ideia de pôr o assunto em discussão. Procurado pelo GLOBO, informou por meio de sua assessoria que isso não está sendo cogitado.

Mas ele quer que a Fazenda ajude o BC a segurar a alta de preços. Os técnicos da pasta trabalham em outras frentes, como a redução do imposto de importação de insumos como aço, fertilizantes e produtos químicos. O tributo de algumas matérias-primas, como aço, foi elevado no ano passado para proteger o mercado brasileiro. A queda da moeda americana, na época, tornava os importados mais competitivos que os nacionais. Agora, no entanto, o Fed (BC americano) sinaliza que vai subir juros, o que deixou o dólar mais forte.

Choque de gestão

O Ministério da Fazenda avalia que já ajudou o BC no combate à inflação. Reduziu impostos sobre tarifas de serviços públicos e negociou com prefeitos o adiamento do reajuste das passagens de ônibus. Isso sem falar no corte adicional de R$ 10 bilhões no Orçamento para ajudar a realizar o superávit primário de 2,3% de PIB em 2013.

No entanto, Mantega quer fazer mais e acabar com a imagem de que o Ministério da Fazenda é menos preocupado com a alta dos preços do que o BC. A pasta vem sendo cobrada a dar um passo adiante:

- Se eu fosse assessor do Mantega, proporia um choque de gestão para recuperar a credibilidade. Precisamos não só cortar despesas, mas melhorar a eficiência dos serviços públicos - afirmou o economista do Banco Espírito Santo Flávio Serrano.

Outra cartada da Fazenda poderia ser atacar o dólar caro. Analistas defendem que o governo zere a cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras sobre a tomada de empréstimos no exterior com prazos inferiores a um ano. Num momento de alta de juros, a liberação poderia atrair capital, diminuir a cotação do dólar e baratear os importados.

Fonte: O Globo

Em boa hora - Aécio Neves

Em sua breve e já inesquecível visita, o papa Francisco legou aos brasileiros exemplos revigorantes e uma oportuna mensagem de otimismo, tão necessária neste ano de tantas dificuldades. "Sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade", foi sua exorta- ção no Santuário de Nossa Senhora Aparecida.

Quem o viu pela televisão ou ao vivo nos lugares onde esteve pôde obter a personificação de um novo sentido de liderança, marcado por posições reformadoras emblemáticas e grandes simbolismos, nesta hora em que tantos questionamentos recaem sobre aqueles que têm a responsabilidade de dirigir instituições: dispensou protocolos de chefe de Estado, desfilou pelas avenidas em carro simples e com as janelas abertas e impediu as ostentações e os exageros de praxe, buscando mais sinergia com os fiéis, postura que adotou desde o primeiro momento em que foi escolhido como sucessor de Bento 16.

Se a juventude esteve no centro de suas mensagens, foi enfático ao advertir que a sociedade deve assegurar a ela as condições "materiais e imateriais" para o seu desenvolvimento, oferecendo fundamentos sólidos sobre os quais se deve construir a vida. Garantir-lhe segurança e educação. Transmitir-lhe valores duradouros, como espiritualidade, solidariedade, perseverança, fraternidade e alegria.

Para quem tem filho ou filha na juventude, como é o meu caso, as palavras alentadoras de Francisco fizeram todo o sentido. "Bote esperança e os seus dias serão iluminados", ele sugeriu aos jovens, em um de seus discursos. Vale, aliás, para jovens de qualquer idade.

Houve oportunidade também para que ele demarcasse como enxerga a questão social nos dias de hoje. Quando eleito, meses atrás, o argentino Jorge Mario Bergoglio escolheu seu nome como papa em homenagem a são Francisco de Assis, indicando a ênfase que colocaria na defesa dos mais carentes.

Na comunidade pobre da Varginha, no Rio de Janeiro, o papa fez o apelo para que ninguém permaneça insensível às desigualdades e possa contribuir para acabar com as injustiças: "A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados".

O papa Francisco mostrou-se bem sintonizado com as manifestações de junho no Brasil. Entre a "indiferença egoísta" e o "protesto violento", termos usados por ele, pregou a alternativa do diálogo e defendeu o respeito aos princípios éticos. "O futuro exige de nós uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza", disse. Esse permanece sendo o objetivo em torno do qual todos devemos nos unir.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

Como o PT perdeu a hegemonia - Renato Janine Ribeiro

Um tempo antes de eleger Lula presidente da República, o Partido dos Trabalhadores alcançou a hegemonia na opinião pública - não em matéria econômica, onde prevalecia a defesa das privatizações, mas na ética e na questão social. Sua vitória em 2002 não foi um passeio, mas se escorou na conquista da opinião pública. O PT nasceu como nosso grande partido ético. De 1981 a 2002, foi esta sua grande característica. O próprio PSDB, fundado em 1988, surgia das costelas do PMDB como um projeto ético - dos descontentes com Orestes Quércia - e a muitos parecia ser o PT palatável, o PT moderado, o PT light; unidos, esperou-se, os dois mudariam o Brasil. Isso não ocorreu.

Mas o PT aumentava seu prestígio. Um ano antes da eleição de Lula, era hegemônico na cultura política brasileira. Sua defesa da decência na vida pública, somada à proposta de justiça social, lhe davam o que Gramsci chama de hegemonia. É claro que precisou mostrar-se realista, dando garantias aos agentes econômicos; mas estava na posição de quem, mesmo perdendo, ganhava moralmente. Pois ganhava nos espíritos, mesmo que perdesse na matéria. A longo prazo, isso conta.

Lembro Al Gore: nos Estados Unidos, as causas sociais se impuseram quando se tornaram éticas - a emancipação dos escravos, o fim da segregação racial. Foi o que o PT fez com a inclusão social.

Intelectuais e políticos se esvaziaram

Hoje, vemos o movimento contrário. A ética deixou de ser o distintivo do PT. Desde a crise do mensalão, em 2005, a oposição se apossou dela. A questão hoje é: se perdeu a hegemonia, se perdeu o domínio das mentes e corações, estará o PT fadado a perder, também, as eleições? Ou as vencerá em 2014, mas só reforçando um descompasso entre a opinião e o voto? E por que perdeu este poder espiritual que, quando lhe faltavam os poderes materiais (o político, o econômico), parecia ser decididamente seu?

Há explicações para isso, mas não me importam aqui as que denunciam a ação dos partidos de oposição (que, afinal, fizeram o que uma oposição faz: oposição) ou a mídia. O que interessa é o que o PT fez para perder a hegemonia. Mas, antes, um pouco sobre essa palavra.

Marx, embora descrevesse bem o funcionamento do capitalismo (não devemos esquecer que seu maior livro se chama "O capital" - e não "socialismo" ou "revolução"), nunca detalhou como se poria fim a ele. Por vários acasos, esse papel coube a Lênin, líder de um partido secundário num país atrasado, mas que foi onde se deu a revolução. Lênin delegou a tarefa a um partido único, composto de revolucionários profissionais e organizado em torno do segredo e da hierarquia (para ser exato, do "centralismo democrático": primeiro, um debate livre; depois, a decisão em assembleia; depois disso, obediência estrita à decisão da maioria). Foi o que funcionou nos países pobres, de Estado hipertrofiado e sociedade atrofiada, em que o comunismo se impôs nas décadas que se seguiram a 1917.

Gramsci, comunista italiano, que passou seus últimos anos de vida nas cadeias de Mussolini, propôs outra via. Em países de forte sociedade civil, a conquista dos espíritos seria mais importante do que a vitória pelas armas. Essa ideia singela mas forte inspirou uma forte renovação democrática na esquerda, comunista ou não. Foi influente no Brasil. Ressalta o combate cultural, ideológico, numa sociedade democrática. Explica como o PT foi crescendo. Explica também como, em seus anos no governo, o PT se enfraqueceu. Pois hoje o PT é quase só um partido de poder, ao contrário de seu passado; se perder o poder federal, será uma pálida sombra do que já foi.

Exemplos não faltam. Depois da eleição de Lula, o PT teve dois presidentes com ideias, José Genoino e Tarso Genro; foram os únicos a perder esse cargo. Os dirigentes que estão no partido ou no Legislativo pesam menos do que quem está no Executivo. Isso porque no governo, no mundo da assinatura, você faz acontecer; já no Senado, na Câmara, no mundo da palavra, você não gera resultados imediatos tangíveis. Um político ganha ao ir para um ministério; mas, se ele for um líder, com isso perdem o partido e a opinião política. E saíram de cena os intelectuais identificados ao PT - uns porque romperam com ele, como Chico de Oliveira; outros, simplesmente, se calaram. O partido perdeu líderes, adquiriu gestores. Hoje, o discurso de defesa do governo se concentra na defesa dos programas - emergenciais - de inclusão social, como o Bolsa Família e o ProUni. Aprovo-os, mas eles, se resolvem um passado odioso, não desenham um futuro. O PT deixou de ser um partido de propostas, mesmo que estas fossem utópicas.

Poderia ser diferente. A meu ver, no capítulo da moral o PT poderia enfatizar que o grande escândalo ético brasileiro era, dez anos atrás, ter quase metade da população nas classes D e E. Deveria insistir no caráter ético das políticas contra a miséria e a própria pobreza. Não deixaria, então, o tema ético ser tomado, como aconteceu, pela oposição - que coloca em segundo plano a miséria e o que se fez contra ela, para se concentrar nas acusações de corrupção, que atravessam nossa história desde a colônia com muita retórica e pouco resultado.

Mas não é esse o combate que o PT tem travado. Basta ver o bordão do terceiro mandato petista - "País rico é país sem pobres". Admiro essa redefinição do que é riqueza, como o contrário do sonho de Miami. Mas poderia ser "país digno". Poderia ser "país ético". A riqueza, sobretudo quando medida em termos de consumo, consegue apoio somente a curto prazo - um apoio que se esvai quando se esgota o consumo. Ética, dignidade, esperança têm alcance mais longo.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

Mais uma tentativa sobre a reforma política - Marcus Pestana

Fechamos o semestre legislativo. Retomaremos as atividades na próxima semana. Ao apagar das luzes, uma porta foi aberta para uma derradeira tentativa, na atual legislatura, de aprovação de uma reforma política que modernize nossa democracia. Todas as tentativas anteriores esbarraram na impossibilidade de construção de consensos mínimos para mudanças mais profundas, e não apenas cosméticas.

A panaceia improvisada pela presidente da República, de convocação de uma Constituinte exclusiva, não resistiu 24 horas. O plebiscito se revelou complexo e inadequado, diante dos questionamentos da OAB acerca de matérias constitucionais e das opções não permitirem escolhas binárias e casadas com outros temas conexos. Poderíamos sair do plebiscito, por exemplo, com 30% dos votos para o distrital misto, 25% para o distritão, 20% para o distrital puro e 15% para a lista fechada. Como ficaria? Ou aprovar o recall para os mandatos, só viável no distrital puro, com a manutenção do sistema eleitoral atual.

Diante das expectativas criadas na sociedade, a Câmara dos Deputados instalou um grupo de trabalho. São 14 deputados representando os maiores partidos políticos e um coordenador designado pelo presidente da Câmara. Como porta-voz do PSDB na antiga comissão especial sobre o tema, fui o indicado pelo partido.

Vamos arregaçar as mangas e exercitar a arte da política na tentativa de contornar os impasses e transformar em possível o necessário. Confesso que não carrego um otimismo exagerado, pois a tendência é que as divergências anteriores sejam repostas. Mas se o pessimista já nasce derrotado, o otimista tem alguma chance. Portanto, à luta, mãos à obra!

Irei defender os seis pontos aprovados pela Executiva Nacional do PSDB e anunciados pelo presidente, senador Aécio Neves, em coletiva à imprensa.

O PSDB propõe, em nome da consistência programática e da aproximação maior da representação política com a sociedade, o voto distrital misto. Também o fim das coligações proporcionais é essencial para evitar que o eleitor seja induzido a erro, votando em A e elegendo Z. Após profunda avaliação, o PSDB propôs o fim da reeleição e o mandato de cinco anos, consciente em ser seu criador, mas que a experiência recente recomenda a mudança. Isso não afetaria os atuais mandatários. No elenco de propostas consta a cláusula de desempenho para que só tenham acesso à representação no Congresso, ao Fundo Partidário e a tempo de TV partidos com um mínimo de representatividade social, coibindo os partidos de aluguel. Completa o projeto partidário a introdução de regra em que o tempo de TV tenha a proporcionalidade calculada apenas sobre os votos dos partidos dos candidatos a titular e vice, tirando “valor de mercado” do tempo de TV de partidos não integrantes da chapa majoritária.

É com essas propostas em mãos que encararei a nova tarefa, sempre lembrando Ulysses Guimarães, para quem a matéria-prima da política era a saliva.

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB-MG)

Fonte: O Tempo (MG)

Salvem Dilma! - Ricardo Noblat

Que ninguém fique privado do necessário e que a todos sejam asseguradas dignidade, fraternidade e solidariedade. —O PAPA

Dilma disse à “Folha de S. Paulo ”: “Lula não vai voltar por que não saiu. ” Foi em resposta à pergunta se ele voltaria a ser candidato à Presidência da República em 2014 quando , a principio , Dilma tentará se reeleger . O que Dilma quis dizer com essa história de “não voltar por que não saiu?” Objetivamente , nada. Apenas fugiu de uma resposta direta à pergunta . Razoável. Nem ela sabe o que vai acontecer .

UMA COISA É termos uma presidência compartilhada como temos hoje. Dilma não se sente segura para governar sozinha. Pede conselho a Lula sempre que a infelicidade bate à sua porta. Se não pede, ele oferece por telefone . Ou por meio de ministros e assessores que devem o emprego a ele e não a Dilma. Bem, outra coisa é proceder como Lula quando Dilma substituiu José Dirceu na chefia da Casa Civil.

PARA ENGANAR os tolos, Lula passou os dois últimos anos do seu segundo mandato repetindo que Dilma governava tanto quanto ele. E que era melhor gestora do que ele. Dilma fazia o que Lula mandava. Muitas das sugestões que deu foram acatadas por Lula, outras não. Lula entregou a gerência do governo a ela para governar à vontade. Não se governa sem fazer política. Muito menos se governa centralizando tudo.

LULA TEVE melhor equipe do que Dilma tem. Embora soubesse lidar com políticos, cercou-se de gente que também sabia. Os bons ventos sopraram a economia enquanto governou. Por hábil e carismático, levou no gogó a maior ia dos brasileiros sempre que se viu em aperto. Depois de consultar amigos, viu que não valeria a pena batalhar pelo terceiro mandato consecutivo. Deu um tempo. Chamou Dilma. Espera reciprocidade.

HÁ CONDIÇÕES para que a reciprocidade se consuma. Mas Dilma está obrigada a reagir . Sua popularidade não poderá continuar caindo. Falta mais de um ano para a próxima eleição. Se Dilma chegar feito um trapo em março, não parecerá natural anunciar para deleite certo do distinto público: “Senhoras e senhores, o candidato do PT e de nove entre dez partidos à Presidência da República será Luiz Inácio Lula da Silva".

QUE BRINCADEIRA é essa? A melhor gestora do governo Lula teria fracassado ao se tornar gestora do seu próprio governo? Ou simplesmente Lula mentiu ao imputar-lhe a falsa condição de melhor gestora? Lula pensa que é assim? Que o país engolirá a desculpa de que o mau desempenho de Dilma surpreendeu até ele mesmo? Mas que uma vez de volta ele haverá de correr atrás do tempo perdido?

O EVENTUAL retorno de Lula passará pela reabilitação de Dilma. A permanência do PT no poder passará pela reabilitação de Dilma. Se candidata outra vez ela talvez não se reeleja. Mas se for alijada da disputa presidencial para evitar uma derrota é quase seguro que o PT acabará alijado do Palácio do Planalto. Sem arrogância alguma, aceita-se apostas. Cartas à redação. Ou melhor: e-mails

Na semana passada, Arthur Lyra (AL), líder do PP na Câmara dos Deputados, localizou por telefone em Nova York o senador Cyro Nogueira (PI), presidente do partido . O PP tem 40 deputados federais. E quase todos estão dispostos a negar seus votos ao governo a partir desta semana. “Não deixe que façam isso ”, apelou o senador . “Sinto muito , presidente , mas eles se sentem desprezados pelo governo ”, respondeu Arthur . “Então proceda assim ”, sugeriu Cyro: “Morra pela presidente . Mas não se deixe matar .” E desligou. Arthur acha que entendeu

Fonte: O Globo

O valor da palavra - Valdo Cruz

Francisco foi embora, o papa que foi ao encontro das ruas e não das autoridades. Para muitos, deixa palavras de esperança e renovação. Para outros, sentimentos de decepção ao não tocar em temas tabus, como aborto.

Respeito e compreendo a reação do segundo grupo, mas fico com o primeiro. Não esperava do pontífice pregação revolucionária de questões morais, mas nutria grande expectativa sobre sua mensagem à juventude quanto a seu lugar no atual cenário político e social.

Digo que não me frustrei. Pelo contrário. Ele conclamou os jovens a assumir o protagonismo das mudanças sociais, estimulou-os a seguir nas ruas e pediu que nunca desanimem nem percam a confiança diante de notícias de corrupção.

Diria que o papa cumpriu muito bem sua missão de semeador. Suas palavras tocaram mentes e corações e partiram de quem dá exemplos concretos de segui-las. Se vão produzir frutos, só o tempo dirá.

É bom lembrar, para desgosto da nossa classe política, que foram lançadas em período de terreno fértil, propício para que tenham impacto real no cotidiano daqueles que o seguiram nestes dias no Brasil.

Por aqui, a turma das ruas redescobriu sua força e temos pela frente eventos catalisadores de atenção, como Copa do Mundo e eleições. Cenário que gera insegurança no mundo político e pode ser oportunidade única para sairmos de vez do quadro de acomodação.

A tendência é que, nas próximas eleições, a taxa de renovação no Congresso seja a mais alta da história. Nada mais merecido. Afinal, a classe política estava totalmente divorciada da população. Acordou no susto e ainda não sabe muito bem o que fazer para sobreviver.

Poderia começar dando mais valor à palavra empenhada e dando exemplos concretos de segui-la, tal como Francisco. Só que aqui, na capital federal, isso tem sido produto cada vez menos valorizado.

Fonte: Folha de s. Paulo

Governo sem marca - José Roberto de Toledo

Indagados pelo Ibope em qual de 25 áreas o governo de Dilma Rousseff tem melhor desempenho, um em cada três brasileiros disse "nenhuma" ou não soube responder. Mas esse nem é o maior problema da presidente. O que deve preocupar Dilma, seus subordinados e o PT é o que responderam os outros dois terços.

O terço sem resposta é, na maior parte, formado pelos que acham a atual gestão ruim ou péssima. Neles, Dilma pode perder a esperança: não são, não foram, nem serão seus eleitores. Se a presidente tem chance de se reeleger, será graças aos outros dois terços. E esses estão, na melhor das hipóteses, dispersos.

Nenhum dos 25 temas apresentados pelos pesquisadores aos entrevistados chegou a 10% das respostas. Elas se pulverizaram em taxas de um dígito entre assuntos tão distintos quanto "agricultura" e "capacitação profissional" (ambas com 6% de citações); entre "energia elétrica" (5%) e "cultura e lazer" (6%); "geração de empregos" (5%) e "educação" (3%).

Áreas que projetaram o governo Lula, como combate à "fome/miséria", tiveram - perdão pelo trocadilho - míseros 7% de citações. O maior destaque da atual gestão é "habitação/moradia", com 8% de lembranças. Vale lembrar que o Minha Casa, Minha Vida é uma herança. Mais do mesmo. Ou, como diria Dilma, Lula não vai voltar porque nunca saiu.

A menos que se acredite que o governo vai tão bem que as pessoas não sabem escolher qual sua maior qualidade, o significado da pesquisa é que o governo Dilma não tem marca. Não se distingue por nada especial no imaginário popular. Não diz a que veio.

As causas variam de acordo com o ponto de vista do observador. É culpa da "má comunicação oficial", dirão uns. É da "imprensa golpista", responderão outros. Melhor mirar as consequências.

Se não fica marcado como solução, o governante se torna o problema. Indagados sobre em qual área o governo tem pior desempenho, 99% dos brasileiros identificaram logo uma resposta. E, ao contrário das virtudes, mais da metade dos defeitos se resume a três áreas. Infelizmente para Dilma, são todas fundamentais: saúde (36%), educação (12%) e corrupção (9%).

Se um em cada três brasileiros diz que a maior falha do governo federal é na saúde, por outro lado nenhum afirma que a saúde é onde ele se sai melhor. Difícil imaginar por que o PT cogita lançar o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para concorrer ao governo de São Paulo. Só se for para trocar o ministro.

Entre os paulistas, por causa da queda da aprovação de Geraldo Alckmin depois dos protestos, o governador tucano ficou no zero a zero em termos de aprovação. As avaliações ruim+péssimo (26%) anularam o ótimo+bom (também 26%). Virou um governo regular (46%). A diferença é que Dilma tem saldo negativo de 15 pontos em São Paulo: 23% de ótimo+bom contra 38% de ruirn+péssimo.

Além de ajudar a explicar a queda repentina da popularidade de Dilma, a falta de uma marca positiva do governo federal é um desestímulo aos militantes do PT e aos simpatizantes da presidente. Não há um argumento sólido, baseado na opinião pública, para defender a sua reeleição. Volta-se sempre aos "dez anos" de conquistas, ou seja, a continuidade da era Lula.

Esse circunstância pode ser passageira. Mas para ela passar, dependerá de o governo federal realizar algo notável nos próximos 14 meses e saber comunicar o feito. Não é um desafio pequeno ern meio a um cenário econômico mundial adverso.

Do contrário, resta à presidente confiar no petismo, que costuma garantir pelo menos 25% dos votos e uma vaga no segundo turno da corrida presidencial. E torcer para que seu adversário no turno final, por comparação, pareça pior, do que ela ou uma incógnita arriscada demais para o eleitor.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A segunda encíclica de Lula - Vinicius Mota

Mesmo antes das manifestações de junho, a rota do governo federal vinha sendo ajustada para tornar-se mais conservadora. Na economia, o nacional-desenvolvimentismo já havia sido abalado pelo surto de autonomia do BC nos juros.

Na política, um acúmulo de reveses e escaramuças com aliados tornara embaçado o trâmite de toda proposta reformista do Planalto. A presidente perdeu iniciativa parlamentar, com seu poder de veto ameaçado pela maioria legislativa.

O saldo dos protestos, associado a sinais recentes de mais fraquejo na atividade econômica, tende a reforçar a opção pela transição conservadora até a eleição do ano que vem. O trauma com o fracasso da iniciativa plebiscitária ajudará o governo a assimilar essa lição.

Enquanto o PT faz "mise-en-scène" para exercitar o figurino esquerdista, o ex-presidente Lula sabe que precisa reconquistar interlocução e credibilidade na direção oposta. Empresários, banqueiros, a velha classe média e vastos contingentes populares de regiões menos dependentes de recurso estatal passaram a enxergar alternativa de poder em outras freguesias.

Há ingenuidade na discussão sobre o retorno de Lula como candidato em 2014. Voltar nessas condições seria flertar com a derrota ou, na melhor hipótese, com um governo fraco e acossado por todos os flancos no quadriênio seguinte.

O papel de Lula será o de costurar o retorno de sua criatura ao convívio tolerável, quiçá amigável, com o centro e a direita. Agirá para que, num possível duelo com Marina Silva --ou até Aécio Neves--, Dilma Rousseff volte a significar voto de segurança.

Espere-se, portanto, um avanço do governo na agenda conservadora --na economia, na política, nos costumes-- ao longo dos próximos 15 meses. A segunda versão, embora não explícita, da Carta ao Povo Brasileiro está sendo elaborada pelo signatário da original.

Fonte: Folha de S. Paulo

O voto do Papa - Paulo Brossard

Havia escrito artigo em que analisava as chamadas reformas para mostrar que os empreendimentos humanos sempre admitem reformas ou que outro nome recebam, dado que nunca são perfeitos; é natural que se corrija o corrigível para aperfeiçoar e não para piorar, o que é óbvio, e o que escrevi a respeito era exatamente isto, procurei mostrar que algumas medidas anunciadas como aprovadas pelo Congresso chegavam a ser ineptas, ineptas no sentido jurídico, que nada tem de ofensivo, por dizer apenas que não são aptas a corrigir um defeito ou suprir uma deficiência.

Mas acabando de ler o que o Papa proferira no Teatro Municipal do Rio endereçado a políticos e empresários ou para dirigentes como também ele disse, devo dizer que a passagem de Sua Santidade pelo Brasil, a meu juízo extraordinária, rica em termos espirituais e sem esquecer questões profanas, cada qual de maneira adequada; basta dizer que ele não deixou de enfrentar o mundo da política, talvez o mais profano, porque a um tempo agrupa todas as grandezas e misérias de que o homem é capaz e o papa Francisco, como se autodenominou, pediu a reabilitação da política.

Desde estudante até o dia em que vesti a toga de juiz, exerci atividade política inclusive partidária, ou seja, de 1945 a 1989, durante mais de 40 anos, frequentei o mundo cuja reabilitação é pedida pelo Papa; nessa longa peregrinação tive a fortuna de privar com as melhores figuras que me foi dado conhecer e outras que comporiam o polo contrário; pensei de imediato na importância da sentença de alguém como o Papa em relação a um setor da vida brasileira que deveria ser o mais qualificado da sociedade.

Seja por esta, seja por aquela razão, a verdade é que todas as opiniões têm curso nesse setor, e o mais raro é o que permanecesse na linha média, nem das excelências, nem das fraquezas, razão pela qual me parece que de ordinário é um setor malvisto e mal compreendido e, por conseguinte, também mal apreciado.

De modo que, ao ler o que dissera o papa Francisco a respeito da reabilitação da política, senti mais uma vez a marca da profundidade da observação papal ante a singeleza da palavra reabilitação. Reabilitação diz muito, mais do que parece. Desde que conheci a Raul Pilla, nele vi um homem cuja vida pública, política, funcional, profissional e pessoal formavam uma unidade. Mostrou mais de uma vez sua capacidade de transigir, de ceder, de contemporizar, mas mantendo-se sempre fiel ao norte fixado.

Ao ser promulgada a Constituição de 1946, o centro acadêmico dos universitários da então Universidade de Porto Alegre, hoje do Rio Grande do Sul, prestou uma homenagem a dois constituintes professores da universidade: um da Faculdade de Direito, Elói José da Rocha, outro da Faculdade de Medicina, Raul Pilla.

No discurso que este proferiu agradecendo a homenagem, ele disse: É a política ao mesmo tempo a mais bela e a mais feia, a mais nobre e a mais desprezível das atividades humanas, tanto mais desprezível e feia nas suas deformações, quanto mais nobre e bela na sua pureza originária. Porque, se ela se pode definir a arte do bem comum, converte-se na arte do mal supremo, quando se deixa tomar da paixão do poder e esquece os seus altos objetivos.

Tenho para mim que a denominada classe política com ou sem razão decente, desfruta de mau conceito; é verdade que a função dos parlamentos tradicionalmente é vista com malquerença, mas hoje esta nota está agravada, o que me faz pensar que nunca foi tão oportuna a súplica papal quanto à reabilitação da política. É um trabalho a ser feito, à maneira de Tácito, sine ira et studio.

Jurista e ex-ministro aposentado do STF

Fonte: Zero Hora (RS)

'Há uma opção sempre possível: o diálogo' - Leia a íntegra do discurso do Papa no Teatro Municipal

Excelências,
Senhoras e Senhores!

Agradeço a Deus pela possibilidade de me encontrar com tão respeitável representação dos responsáveis políticos e diplomáticos, culturais e religiosos, acadêmicos e empresariais deste Brasil imenso. Saúdo cordialmente a todos e lhes expresso o meu reconhecimento.

Queria lhes falar usando a bela língua portuguesa de vocês mas, para poder me expressar melhor manifestando o que trago no coração, prefiro falar em castelhano. Peço-vos a cortesia de me perdoar!

Agradeço as amáveis palavras de boas vindas e de apresentação de Dom Orani e do jovem Walmyr Júnior. Nas senhoras e nos senhores, vejo a memória e a esperança: a memória do caminho e da consciência da sua Pátria e a esperança que esta, sempre aberta à luz que irradia do Evangelho de Jesus Cristo, possa continuar a desenvolver-se no pleno respeito dos princípios éticos fundados na dignidade transcendente da pessoa.

Todos aqueles que possuem um papel de responsabilidade, em uma Nação, são chamados a enfrentar o futuro "com os olhos calmos de quem sabe ver a verdade", como dizia o pensador brasileiro Alceu Amoroso Lima ["Nosso tempo", in: A vida sobrenatural e o mundo moderno (Rio de Janeiro 1956), 106]. Queria considerar três aspectos deste olhar calmo, sereno e sábio: primeiro, a originalidade de uma tradição cultural; segundo, a responsabilidade solidária para construir o futuro; e terceiro, o diálogo construtivo para encarar o presente.

1. É importante, antes de tudo, valorizar a originalidade dinâmica que caracteriza a cultura brasileira, com a sua extraordinária capacidade para integrar elementos diversos. O sentir comum de um povo, as bases do seu pensamento e da sua criatividade, os princípios fundamentais da sua vida, os critérios de juízo sobre as prioridades, sobre as normas de ação, assentam numa visão integral da pessoa humana. Esta visão do homem e da vida, tal como a fez própria o povo brasileiro, muito recebeu da seiva do Evangelho através da Igreja Católica: primeiramente a fé em Jesus Cristo, no amor de Deus e a fraternidade com o próximo. Mas a riqueza desta seiva deve ser plenamente valorizada! Ela pode fecundar um processo cultural fiel à identidade brasileira e construtor de um futuro melhor para todos. Assim se expressou o amado Papa Bento XVI, no discurso de abertura da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Aparecida.

Fazer que a humanização integral e a cultura do encontro e do relacionamento cresçam é o modo cristão de promover o bem comum, a felicidade de viver. E aqui convergem a fé e a razão, a dimensão religiosa com os diversos aspectos da cultura humana: arte, ciência, trabalho, literatura... O cristianismo une transcendência e encarnação; sempre revitaliza o pensamento e a vida, frente a desilusão e o desencanto que invadem os corações e saltam para a rua.

2. O segundo elemento que queria tocar é a responsabilidade social. Esta exige um certo tipo de paradigma cultural e, consequentemente, de política. Somos responsáveis pela formação de novas gerações, capacitadas na economia e na política, e firmes nos valores éticos. O futuro exige de nós uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza. Que ninguém fique privado do necessário, e que a todos sejam asseguradas dignidade, fraternidade e solidariedade: esta é a via a seguir. Já no tempo do profeta Amós era muito forte a advertência de Deus: «Eles vendem o justo por dinheiro, o indigente, por um par de sandálias; esmagam a cabeça dos fracos no pó da terra e tornam a vida dos oprimidos impossível» (Am 2, 6-7). Os gritos por justiça continuam ainda hoje.

Quem detém uma função de guia deve ter objetivos muito concretos, e buscar os meios específicos para consegui-los. Pode haver, porém, o perigo da desilusão, da amargura, da indiferença, quando as aspirações não se cumprem. A virtude dinâmica da esperança incentiva a ir sempre mais longe, a empregar todas as energias e capacidades a favor das pessoas para quem se trabalha, aceitando os resultados e criando condições para descobrir novos caminhos, dando-se mesmo sem ver resultados, mas mantendo viva a esperança.

A liderança sabe escolher a mais justa entre as opções, após tê-las considerado, partindo da própria responsabilidade e do interesse pelo bem comum; esta é a forma para chegar ao centro dos males de uma sociedade e vencê-los com a ousadia de ações corajosas e livres. No exercício da nossa responsabilidade, sempre limitada, é importante abarcar o todo da realidade, observando, medindo, avaliando, para tomar decisões na hora presente, mas estendendo o olhar para o futuro, refletindo sobre as consequências de tais decisões. Quem atua responsavelmente, submete a própria ação aos direitos dos outros e ao juízo de Deus. Este sentido ético aparece, nos nossos dias, como um desafio histórico sem precedentes. Além da racionalidade científica e técnica, na atual situação, impõe-se o vínculo moral com uma responsabilidade social e profundamente solidária.

3. Para completar o "olhar" que me propus, além do humanismo integral, que respeite a cultura original, e da responsabilidade solidária, termino indicando o que tenho como fundamental para enfrentar o presente: o diálogo construtivo. Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce, quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: cultura popular, cultura universitária, cultura juvenil, cultura artística e tecnológica, cultura econômica e cultura familiar e cultura da mídia. É impossível imaginar um futuro para a sociedade, sem uma vigorosa contribuição das energias morais numa democracia que evite o risco de ficar fechada na pura lógica da representação dos interesses constituídos. Será fundamental a contribuição das grandes tradições religiosas, que desempenham um papel fecundo de fermento da vida social e de animação da democracia. Favorável à pacífica convivência entre religiões diversas é a laicidade do Estado que, sem assumir como própria qualquer posição confessional, respeita e valoriza a presença do fator religioso na sociedade, favorecendo as suas expressões concretas.

Quando os líderes dos diferentes setores me pedem um conselho, a minha resposta é sempre a mesma: diálogo, diálogo, diálogo. A única maneira para uma pessoa, uma família, uma sociedade crescer, a única maneira para fazer avançar a vida dos povos é a cultura do encontro; uma cultura segundo a qual todos têm algo de bom para dar, e todos podem receber em troca algo de bom. O outro tem sempre algo para nos dar, desde que saibamos nos aproximar dele com uma atitude aberta e disponível, sem preconceitos. Só assim pode crescer o bom entendimento entre as culturas e as religiões, a estima de umas pelas outras livre de suposições gratuitas e no respeito pelos direitos de cada uma. Hoje, ou se aposta na cultura do encontro, ou todos perdem; percorrer a estrada justa torna o caminho fecundo e seguro.

Excelências,
Senhoras e Senhores!

Agradeço-lhes pela atenção. Acolham estas palavras como expressão da minha solicitude de Pastor da Igreja e do amor que nutro pelo povo brasileiro. A fraternidade entre os homens e a colaboração para construir uma sociedade mais justa não constituem uma utopia, mas são o resultado de um esforço harmônico de todos em favor do bem comum. Encorajo os senhores no seu empenho em favor do bem comum, que exige da parte de todos sabedoria, prudência e generosidade.

Confio-lhes ao Pai do Céu, pedindo-lhe, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, que cumule de seus dons a cada um dos presentes, suas respectivas famílias e comunidades humanas de trabalho e, de coração, a todos concedo a minha Bênção.

Voluntarismo inconsistente - Paulo R. Haddad *

Keynes dizia que, em época de crise, somos guiados, em grande parte, pelos fatos sobre os quais temos maior confiança, mesmo que eles sejam decididamente menos relevantes para as questões em debate do que outros fatos sobre os quais nosso conhecimento é vago e escasso. Essa atitude se torna propensa a induzir desastres no contexto em que uma economia se torna complexa e na qual as interdependências e transversibilidades no processo decisório passam a prevalecer sobre as soluções simplistas.

Não é difícil identificar as probabilidades de que esses desastres possam ocorrer em situações em que as decisões tomadas vão na direção contrária às regras fundamentais de acumulação e de operação do sistema econômico. Especificamente no caso brasileiro trata-se de confrontar as regras de uma economia mista de mercado que convive adequadamente com a intervenção governamental visando à estabilidade da economia, à melhor distribuição de renda e de riqueza, assim como à mitigação das externalidades negativas sobre os ecossistemas. Nesse tipo de economia, o sucesso da intervenção governamental depende da consistência técnica das decisões, assim como da qualidade de sua negociação política com os que ganham e com os que perdem com essas decisões.

Convencionalmente, admite-se que numa economia de mercado os preços exercem três funções na organização das atividades econômicas. Transmitem apenas a informação importante e somente para as pessoas que precisam conhecê-la. A intervenção governamental na economia não deveria, pois, cruzar essas linhas de transmissão, ampliando as incertezas, os ruídos e os riscos no processo de tomada de decisões dos agentes e protagonistas dos mercados.

De acordo com a segunda função, os preços proveem um incentivo para que se adotem os métodos de produção que são menos custosos e, portanto, para que se utilizem os recursos disponíveis nos propósitos mais valiosos para o conjunto da sociedade. Os instrumentos de intervenção servem para provocar ajustes na oferta e na procura de mercado, visando a corrigir as consequências de sua operação (poder de mercado, danos ecológicos, etc.).


A terceira função do sistema de preços determina quem obtém quanto da produção gerada, ou seja, a distribuição de renda. É aqui que a intervenção governamental adquire sua maior importância numa sociedade marcada historicamente pelas assimetrias e desigualdades de oportunidades entre famílias, grupos e classes sociais, regiões e segmentos produtivos.

Mas o processo de intervenção governamental não pode ocorrer num contexto de voluntarismo dos dirigentes públicos. Ou seja, quando assumem recorrentemente as crenças e as atitudes proposicionais de quem pensa modificar o curso dos acontecimentos apenas por seu alvedrio. Uma atitude que se torna mais equivocada quando se pensa também que ela pode ser respaldada e legitimada apenas por índices de popularidade.

Esse comportamento diretivo e autoritário comete dois erros básicos. O primeiro é destacado por Keynes. O principal objetivo da acumulação de capital ou de riqueza é produzir resultados ou resultados potenciais num período relativamente distante. O fato de que nosso conhecimento do futuro é flutuante, vago e incerto torna muito difícil ter uma visão mais clara e responsável de como se distribuem consistentemente as perdas e os danos de decisões casuísticas e pragmáticas sobre os grupos sociais no presente e no futuro.

O segundo equívoco de um voluntarismo recorrente como estilo de governo é apontado por Jean Ladriére. Numa sequência interminável de intervenções casuísticas de curto prazo, a lógica interna do sistema econômico torna os decisores públicos incapazes de superar sua própria condição se deixando conduzir pelas exigências que não cessam de nascer de suas próprias iniciativas. De curto em curto prazo, vão armando suas contradições e armadilhas das quais, muitas vezes, as portas de saída levam a resultados não esperados e ao desgaste político.

As novas teorias do crescimento econômico endógeno colocam em questão a dicotomia entre políticas de curto prazo e politicas de longo prazo. Não vale, pois, a regra pragmática: para problemas de curto prazo, soluções de curto prazo, com base na falsa interpretação do aforismo de que, no longo prazo, poderemos estar todos mortos. As teorias que buscam analisar as flutuações ou os ciclos reais de negócios mostram que estes podem ter uma influência poderosa no longo prazo.

Por exemplo: o governo federal expandiu o escopo e a abrangência das políticas sociais compensatórias como mecanismo privilegiado de política anticíclica de defesa dos níveis de renda e de emprego, sobrepondo-lhes cada vez mais benefícios e beneficiários. Essas ações compensatórias (Bolsa Família, previdência social, benefícios continuados, etc.) já financiam dramaticamente a sobrevida de quase 100 milhões de brasileiros. Há, por outro lado, o comprometimento dos recursos fiscais para investimentos de infraestrutura econômica indispensáveis para o crescimento no longo prazo. Comprometem-se, também, os recursos para financiar políticas públicas (educação de qualidade, serviços de saúde, transporte coletivo, reversão da decadência de áreas deprimidas, preservação, conservação e reabilitação de ecossistemas) visando a reduzir as desigualdades e assimetrias sociais, e não apenas os indicadores de pobreza. Comprometendo-se, enfim o desenvolvimento humano no longo prazo daqueles a quem pretendem dar assistência social no curto prazo.

Uma característica do atual voluntarismo na formulação e na implementação de políticas públicas é insistentemente confundir objetivos com instrumentos, ações de curto prazo com perspectivas de longo prazo, mecanismos de comando e controle com regras de mercado, etc. Como destaca Eric Hoffer, usualmente só vemos as coisas que estamos procurando e de tal forma que, muitas vezes, passamos a vê-las onde elas nem estão.

* Paulo R. Haddad é professor do IBMEC/MG, foi ministro da fazenda e do planejamento.

Fonte: O Estado de S. Paulo