quarta-feira, 24 de julho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Alberto Aggio – a mentira de Dilma

Um discurso pobre e mentiroso, enganador. Vai ter que confessar, porque mentira, na religião católica (ao contrário do estatuto do PT) é pecado."

Alberto Aggio, professor da UNESP , sobre o discurso de Dilma no Palácio Guanabara, saudando o Papa Francisco. In Facebook, 22/7/2013

Lula diz que vai defender Dilma com ‘unhas afiadas’

O ex-presidente Lula disse ontem que vai lutar com as "unhas afiadas" para defender a presidente Dilma Rousseff dos ataques dos adversários. Em palestra no Museu Nacional, em Brasília, Lula disse que Dilma é vítima de "preconceito" por parte da elite brasileira e sofre "falta de respeito" por ser mulher. "Dilma não é mais do que uma extensão da gente lá. Nós seremos responsáveis pelos acertos e pelos erros que ela cometer", afirmou.

Lula promete ‘lutar com unhas afiadas’ por Dilma

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que vai lutar com "unhas afiadas" para defender a presidente Dilma Rousseff de ataques dos adversários. Em palestra no Museu Nacional, Lula disse que Dilma é vítima de "preconceito" por parte da elite brasileira e sofre "falta de respeito" por ser mulher.

"Dilma não é mais do que uma extensão da gente lá. Nós seremos responsáveis pelos acertos e pelos erros que ela cometer", afirmou Lula. Aplaudido pela plateia, formada em sua maioria por negros que participavam do Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, o ex-presidente disse que os "conservadores" começam a "colocar as unhas de fora" para tirar o PT do poder, em 2014 e prometeu ajudar Dilma. "Eles estão com preconceito contra Dilma maior do que o que tinham contra mim. É a maior falta de respeito a uma i mulher da qualidade da Dilma Rousseff. Será que eles têm essa falta de respeito com a mãe deles, com a mulher deles, como têm com a Dilma?", perguntou.

Apesar da fragilidade política do governo, Lula acha que Dilma vai superar os problemas. "Tenho a convicção de que ela está no caminho certo, a despeito das dificuldades que enfrenta." Para Lula, a inflação é um "mal a ser extirpado da política econômica" e o governo precisa fazer um "esforço monstruoso" para impedir seu retomo.

Plebiscito, Em entrevista, Lula saiu em defesa do programa Mais Médicos e do plebiscito proposto por Dilma - e descartado pelo Congresso - para fazer a reforma política. "Se os médicos brasileiros não querem trabalhar no sertão, que a gente traga médicos estrangeiros", disse.

"Vamos fazer a reforma política, vamos fazer plebiscito. Por que temos medo dessas coisas?"

Ele descartou o "Volta, Lula", que começou a ser entoado no próprio PT. "Não existe essa possibilidade. Eu, se pudesse, ia voltar a jogar bola, mas o Felipão parece que não está me olhando com bons olhos", brincou.

Não faltaram no evento gritos de "Volta, Lula" nem o habitual coro de "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula". O ex-presidente sorriu e disse: "Se alguém pensa que Lulinha está com 67 anos pegou câncer e está velho, saiba que com pernambucano não acontece isso. Eu vou continuar incomodando."

Também alfinetou o PMDB ao talar sobre o número de ministérios. "Estou vendo um zum-zum-zum na imprensa de que tem gente que vai pedir para a Dilma reduzir o número de ministérios. Fiquem espertos porque ninguém vai querer acabar com o Ministério da Fazenda nem com o da Defesa. Vão tentar mexer no Ministério da Igualdade Racial, no das Mulheres e no dos Direitos Humanos", advertiu. A proposta de cortar 14 dos 39 ministérios foi apresentada pelo presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN).

Lula mostrou-se cauteloso ao comentar os atritos do PT com Dilma, por causa de sua ausência na reunião do diretório petista no sábado. "O PT apoia 150% a presidente e não há hipótese de haver divergência que não seja superada."

E não faltaram críticas à imprensa. "Ontem (anteontem) eu vi o papa beijar a nossa Dilma nas duas bochechas e não vi isso em jornal nenhum. Agente não tem que ficar com raiva porque Deus estava vendo", afirmou.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Lula: Dilma não deve diminuir o Ministério

Ex-presidente afirma que ideia de redução serviria para atingir Igualdade Racial e Direitos Humanos

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA - Em meio à crise na relação entre o PT e a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em cena ontem para defender a presidente, apagar o incêndio com o partido e deixar claro que pretende atuar intensamente na política nos próximos anos. Mas sem ser candidato. Diante de um público quase integralmente formado por integrantes dos movimentos negro, de mulheres e do PT, Lula criticou os pedidos - feitos pelo PMDB e setores do PT - para que Dilma reduza o atual número de 39 ministérios, e defendeu as pastas sociais:

- Estou vendo um zum zum zum que tem gente que vai pedir para a presidenta Dilma diminuir ministério. Olha, fiquem espertos, porque ninguém vai querer acabar com o Ministério da Fazenda, com o Ministério da Defesa. Vão querer mexer com a Igualdade Racial, com os Direitos Humanos. Eu acho que a Dilma não vai mexer, eles vão falar que precisa fazer ajuste, precisa diminuir. Não tem que diminuir ou aumentar, tem que saber para que serve.

O ex-presidente desembarcou na capital federal para dar uma palestra no Festival da Mulher Afro Latino-Americana e Caribenha, no Museu da República, e foi recebido aos brados de "Lula, guerreiro do povo brasileiro" e "Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula". Com um discurso em tom de campanha, como sempre faz, levantou a plateia:

- Eu não fiz tudo o que fiz na vida para agora achar que estou errado. Eu tô mais motivado, e se alguém pensa "ah, o Lulinha está com 67 anos, pegou um câncer..." Eu não tenho tempo para parar e não preciso ser governo para fazer as coisas nesse país. Se eu incomodo, vou continuar incomodando, vou continuar falando - afirmou, tratando em seguida das divergências entre Dilma e grupos do PT. - Eu acho que a gente tem que dizer claramente: a Dilma não é nada mais do que uma extensão da gente (PT) lá. Nós seremos responsáveis pelos acertos e pelos erros.

Lula mostrou que estará em campo para defender o legado do PT, dele e de Dilma:

- Portanto, companheiros, o que a gente percebe é que mais uma vez os setores conservadores começam a colocar as unhas de fora. Eu que já estava cortando a minha, vou deixar a bichinha crescer, porque não tem moleza nesse país. Nós construímos o que construímos com muito sacrifício, todo mundo sabe o que nós sofremos para checar aonde chegamos. Portanto, a luta continua.

Na saída do evento, o ex-presidente voltou a negar pretensões de ser candidato novamente, ironizando o movimento "Volta, Lula":

- Não existe essa possibilidade, querido. Eu se pudesse ia voltar a jogar bola, mas o Felipão parece que não está me olhando com bons olhos

Perguntado sobre como está a relação do PT com Dilma - que não compareceu à reunião do diretório nacional do partido para a qual foi convidada no fim de semana -, Lula respondeu:

- É maravilhosa (a relação). Eu não sei quem descobre umas divergências que não existem. Eu fui presidente do PT e da República e muitas vezes eu não pude ir a reuniões do diretório do PT e nem por isso tinha divergência. O PT apoia 150% a presidenta Dilma, se precisar, 200%. Não há hipótese de ter divergência que não seja superada. Se tiver alguma coisa, vai ser discutida entre o partido e a presidenta.

Lula disse ainda que a queda de popularidade nas pesquisas não preocupa "nem um pouco". Assim como havia feito na semana passada, o ex-presidente voltou a dizer que está totalmente curado do câncer, e atacou os autores de um suposto boato de que ele teria tido metástase. Também reiterou a defesa da reforma política e saudou os protestos que tomaram as ruas recentemente.

O crescimento da inflação foi o único assunto que levou o ex-presidente a demonstrar cautela:

- Acho que a inflação é um mal a ser extirpado da política econômica brasileira. Tenho certeza que a presidenta Dilma pensa exatamente isso e que o ministro Guido pensa exatamente isso. Nós temos que fazer um esforço monstruoso da sociedade e do governo para não permitir que a inflação dê qualquer sinal de volta porque só tem um setor que perde com a inflação: é quem vive de salário mensal.

Fonte: O Globo

Ciro: Dilma pilota aliança com base na 'putaria'

Para ex-ministro, presidente é inexperiente e vive cercada por gente de 5ª categoria

Em entrevista concedida ontem à emissora de rádio Verdinha AM, do Ceará, Ciro Gomes, ex-ministro dos governos Fernando Henrique e Lula, disse considerar urgente a necessidade de uma reforma ministerial que sinalize à sociedade uma ação do governo após os protestos de rua. Mas Ciro questionou a experiência da presidente Dilma Rousseff para liderar esse processo, principalmente por comandar uma aliança política "assentada na putaria e na roubalheira".

Sem meias palavras, Ciro Gomes considerou desastrosa a sequência de pronunciamentos de Dilma na televisão após os protestos.

- A Dilma convocar uma rede de televisão, falar quase 10 minutos, para não dizer absolutamente nada, inventar uma lambança de uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma política, não tinha um cartaz na rua pedindo reforma política, embora seja uma pauta emergente para a sociedade brasileira. Depois, trocar os pés pelas mãos nesse negócio dos médicos, porque tem um problema sério, mas resolver desse jeito, esquecendo a condição de trabalho, trazendo médico do estrangeiro sem revalidar o diploma. Essas fórmulas são de uma equipe de quinta categoria - afirmou Ciro.

"Dilma é meio arrogante"

O ex-ministro prosseguiu na crítica destacando que as medidas propostas não deram em nada, e que a presidente deveria fazer uma reforma profunda no ministério, eliminando muitas pastas:

- Dilma não é má pessoa, ela é uma pessoa decente, trabalhadora, é meio arrogante, muito inexperiente, e cercada de gente de quinta categoria, pilotando uma aliança que é assentada na putaria, com licença da má expressão, na fisiologia, na roubalheira, no clientelismo. É isso aí.

Fonte: O Globo

Lula eleva o tom e vai ao ataque

Em clima de campanha, o ex-presidente discursou para 500 pessoas em Brasília e defendeu o programa Mais Médicos e a contratação de profissionais estrangeiros. Ele também condenou os críticos de Dilma e a proposta de redução de ministérios

Lula defende programa Mais Médicos

Em discurso com tons presidenciais, o petista afirmou que não quer "tirar emprego de brasileiro", mas "levar profissionais a quem precisa"

Juliana Braga

Sob aplausos de uma plateia com 500 pessoas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou em defesa do programa Mais Médicos, lançado pela presidente Dilma Rousseff, há duas semanas. “Se os médicos brasileiros não querem trabalhar no sertão, que a gente traga médicos do exterior”, disparou ele, em palestra no Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, no Museu Nacional de Brasília. Lula também responsabilizou a “elite” pelo fim da CPMF e a consequente redução dos recursos destinados à saúde.

O ex-presidente tentou afastar a tese de que o programa diminuirá as chances para médicos brasileiros, em um tom de quem ainda está à frente do governo: “Ninguém quer tirar o emprego de ninguém. Longe de mim tirar emprego de brasileiro. O que eu quero é levar médico para quem não tem médico. Isso é o que a gente tem que fazer”, afirmou Lula. Ele afirma que a importação de profissionais é “importante”, enquanto o país não formar os profissionais necessários para preencher as vagas. “Qual é o problema? Qual é o preconceito com a gente de fora?”, provocou.

Sobre a CPMF, ele afirmou que, desde que o imposto foi revogado, a área da saúde perdeu R$ 350 bilhões. “Nós sabemos que é preciso melhorar muito a saúde no Brasil. Todo mundo aqui sabe, a Dilma sabe, eu sei, você sabe. Entretanto, é importante que este país não esqueça que eles, a elite brasileira, a pretexto de diminuir imposto neste país, tirou no primeiro ano do meu segundo mandato a CPMF”. Lula disse ainda que a “elite” tem acesso aos planos de saúde, e que o objetivo seria prejudicá-lo. “A mim não, eu tenho acesso a esses planos (de saúde)”, completou.

Em um contexto de queda acentuada da popularidade de Dilma Rousseff e dos rumores de rusgas na relação entre os dois, Lula foi enfático na defesa da presidente. “Estão com um preconceito contra ela, maior do que o que tinham contra mim”, acredita ele, sem fazer referência a quem seriam as pessoas contrárias aos governos petistas. “A maior falta de respeito, e a uma mulher da qualidade da Dilma. Será que é só porque ela é mulher? Será que eles têm falta de respeito com a mãe deles, como têm com a Dilma Rousseff?”, insinuou.

O ex-presidente também comentou sobre a redução de ministérios. Lula acha que os defensores da diminuição das pastas querem a exclusão daquelas ligadas à área social. “Fique esperto, porque ninguém vai querer acabar com o Ministério da Fazenda, ninguém vai querer acabar com o Ministério da Defesa. Eles vão tentar mexer no Ministério da Igualdade Racial, no dos Direitos Humanos”, afirmou.

No fim, ele ainda brincou com o episódio da espionagem norte-americana no país. Ao falar sobre o Brasil como uma nação importante, e dos grupos de países em desenvolvimento que começam a se reunir — como os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e o ASA (Cúpula América do Sul e África)—, o ex-presidente disse que agora os países desenvolvidos até “escutam” os telefonemas dos mais pobres. “Eu acho que o (presidente dos Estados Unidos, Barack) Obama está nos ouvindo aqui. Abraço, irmão!”

Fonte: Correio Braziliense

Médicos vaiam, xingam e se viram de costas para ministro da Saúde

Justiça do DF notifica AGU a se manifestar em 72 horas sobre ação

André de Souza

Protesto na Bahia. Com faixa contra o ministro da Saúde, cerca de 500 médicos participam de caminhada por ruas de Salvador: Mais Médicos contestado

Caixão de ministro. Em Recife, médicos fazem enterro simbólico de Padilha

BRASÍLIA - Não está fácil a vida do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para promover pelo país o programa Mais Médicos. Nos dois últimos dias, em suas viagens ao Pará, Maranhão e Amazonas, ele foi alvo de protestos de médicos contrários ao programa. Houve vaias, gritos de "judas" e até mesmo médicos virando as costas para o ministro.

Padilha, que tenta obter a adesão dos gestores municipais para o programa, usou o Twitter para tentar demonstrar que não está abalado com os protestos. "Com o #maismédicos hoje no Pará, Maranhão e Amazonas, saí mais convicto: sou médico, mas estou ministro da Saúde, como tal penso na saúde dos 200 milhões de brasileiros", relatou na noite de segunda-feira e acrescentou: "Vi manifestações legítimas, mesmo que muitas truculentas e arrogantes. Mas seguiremos em frente, a saúde dos brasileiros em primeiro lugar".

No Pará, segundo informou o sindicato local, os médicos levaram faixas e cartazes exigindo que seja aplicado o exame de revalidação do diploma para profissionais formados no exterior. Num dos pontos mais polêmicos, o programa abre a possibilidade de trazer médicos de fora sem revalidar o diploma. Outro ponto que causa atrito entre governo e entidades médicas é a obrigatoriedade de os estudantes de Medicina que começarem o curso a partir de 2015 terem de trabalhar dois anos no Sistema Único de Saúde (SUS) para obter o diploma. "Durante o evento, o auditório (...) ficou tomado por médicos e partidários do programa que se dividiram entre aplausos e vaias ao ministro da Saúde", informou o Sindicato dos Médicos do Pará, em nota.

Na segunda-feira, Padilha enfrentou outra manifestação no Maranhão. A Federação Nacional dos Médicos chegou a divulgar, em seu site, uma foto em que o ministro fala ao microfone enquanto um grupo de médicos lhe dá as costas. No Twitter, o ministro criticou a postura do grupo: "Hoje no #maismédicos no Maranhão, os 15 colegas viraram as costas para todos os presentes: ministro, conselheiros, secretários e profissionais de saúde".

Na noite de segunda, Padilha chegou ao Amazonas, onde recebeu o título de Cidadão de Manaus. Mas não escapou dos protestos. Ele teve de ouvir gritos de "traidor da classe médica" e "judas". O Ministro permaneceu em Manaus até às 12h de ontem.

Defesa em dez estados

Também ontem, participaram do esforço do governo para promover o programa a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, que foi a Porto Alegre, e o secretário de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, Luiz Odorico Andrade, que foi a São Paulo. Integrantes do governo foram a dez estados promover o programa: São Paulo, Minas, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Ceará, Pará, Maranhão e Amazonas.

Enquanto isso, os médicos continuaram a guerra na Justiça contra o Mais Médicos. Ontem, a Justiça Federal do Distrito Federal notificou a Advocacia Geral da União (AGU) a se manifestar em 72 horas sobre uma ação do Conselho Federal de Medicina (CFM), que pede que os conselhos regionais da categoria não sejam obrigados a fazer o registro provisório dos médicos formados no exterior inscritos no Mais Médicos.

A Federação Nacional dos Médicos (Fenam) também entrou ontem com ação civil pública na Justiça Federal contra o Mais Médicos. A ação aponta a falta de garantias trabalhistas aos médicos que participarem do programa, já que receberão bolsas, em vez de salários.

A Fenam reclama também da possibilidade de trazer médicos formados no exterior sem o exame de revalidação do diploma. Segundo a entidade, isso caracterizaria exercício ilegal da Medicina. Diz que não há garantia de que os estrangeiros terão proficiência na língua portuguesa.

Em Brasília, o ex-presidente Lula saiu ontem em defesa do programa. Com um rol de críticas à "elite brasileira", ele defendeu a vinda de médicos estrangeiros para locais onde os profissionais brasileiros não chegam:

- O que nós precisamos é de ajudar o povo pobre desse país e precisa melhorar a Saúde, sim. A presidenta Dilma apresentou um plano, o Mais Saúde (sic), e se os médicos brasileiros não querem trabalhar no sertão, que a gente traga médicos para trabalhar. Ninguém quer tirar emprego de ninguém, longe de mim tirar emprego de um médico brasileiro, mas o que a gente tem que fazer é levar médico para quem não tem médico. Quem mora na capital de São Paulo e procura os hospitais melhores, não falta médico. Mas para quem mora na periferia de Brasília falta.

Em tom de campanha, o ex-presidente ainda criticou a exigência de revalidação do diploma. Segundo ele, boa parte dos médicos brasileiros não poderia exercer a Medicina.

- Apenas 27% dos médicos brasileiros passam no exame da Conselho Federal de Medicina. Então nós temos que encontrar uma solução, conversando com os médicos, com os sindicatos, com todo mundo. O que nos queremos é fazer com que a gente preencha esse espaço. Enquanto a gente não forma, vamos trazer gente de fora para ajudar. Eu estava com isso aqui, está atravessado na minha garganta - pontuou.

Fonte: O Globo

Lula diz que colocará as 'unhas de fora' contra adversários

Pressionado por aliados do PT a se candidatar em 2014, ex-presidente afirma que não pensa em aposentadoria

Em evento em Brasília, petista relativiza corte de ministérios e defende Dilma de ataques de 'setores conservadores'

Márcio Falcão e Ranier Bragon

BRASÍLIA - Em um discurso de mais de uma hora em que criticou as manifestações de rua, a imprensa, as elites, a oposição e até o PMDB, o ex-presidente Lula disse que não tem hora para se aposentar da política e que, em reação a uma suposta ação dos "setores conservadores", vai voltar a colocar as unhas de fora.

O petista, que participou de encontro com movimentos negros em Brasília, afirmou que a presidente Dilma Rousseff sofre mais preconceito do que ele no Planalto.

"A Dilma não é nada mais do que uma extensão da gente lá. Nós somos responsáveis pelos erros e acertos. Mais uma vez os setores conservadores começam colocar as unhas de fora e eu, que já estava cortando as minhas com os dentes, vou deixar a bichinha crescer", afirmou em um momento em que se referia às manifestações de rua.

"Se alguém pensar que Lulinha está com 67 anos, já pegou câncer... Eu não tenho tempo para parar. E não preciso ser governo para fazer as coisas nesses país."

O discurso do ex-presidente acontece em meio à pressão de aliados para que ele seja o candidato à Presidência em 2014, o que ele nega.

Apesar de defender as manifestações, Lula fez reparos aos protestos. O primeiro sobre a negação à política, que segundo ele abriu caminho para ditaduras, nazismo e fascismo. O segundo, sobre a saúde. Lula lembrou a derrubada da CPMF (o "imposto do cheque") pelo Senado em 2007 e exaltou a proposta de Dilma de trazer médicos do exterior para suprir o deficit de atendimento nas periferias.

Mais uma vez, atacou "as elites". Disse que é o poder público quem paga seus convênios médicos (devido ao abatimento parcial no IR) e citou inclusive seu tratamento contra um câncer no hospital Sírio-Libanês. "Eu nem preciso nem de plano, só o Lula já é um plano, ninguém nega nada ao Lula."

Ministérios

Lula não poupou nem mesmo o principal aliado do governo, o PMDB. Sem citar o nome, ele atacou a proposta defendida pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e pelo vice Michel Temer (PMDB), de redução dos ministérios.

"Quem tem que mexer é a Dilma e eu acho que a Dilma não vai mexer. [...] Fiquem espertos porque ninguém vai querer acabar com o Ministério da Fazenda, Defesa. Eles vão tentar mexer na Igualdade Racial, nos Direitos Humanos", afirmou.

Apesar da declaração, interlocutores apontavam que Lula recomendara a Dilma corte de pastas para sinalizar austeridade em um momento de turbulência econômica.

Em sua gestão (2003-2010), Lula elevou a Esplanada dos Ministérios de 24 para 37 pastas. Dilma criou mais duas.

Sobraram também no discurso de Lula farpas para o presidente dos Estados Unidos. Em tom de ironia, Lula afirmou que Barack Obama deveria estar monitorando seu discurso em referência às acusações de espionagem americanas no país.

Ao criticar a imprensa, Lula voltou a dizer que era vítima de "maldade" e "preconceito" em seu governo e insinuou que parte da mídia não deu destaque ao tratamento "afetuoso" do papa Francisco em relação a Dilma.

Fonte: Folha de S. Paulo

Ex-presidente faz críticas à mídia durante encontro

BRASÍLIA - O ex-presidente Lula disparou ataques à imprensa durante seu encontro ontem com movimentos sociais.

O petista disse ter sido vítima de "maldade" e "preconceito" em sua gestão. Afirmou que certamente alguns jornalistas estavam irritados por não poderem mais falar mal dele e, na sequência, demonstrou mágoa com um episódio ocorrido em 2004.

"A maldade comigo era tanta que eu ganhei uma bala, mas eu estava sentado na cadeira e não tinha onde guardar. Desembrulhei a bichinha e coloquei o papel com muito cuidado no pé da cadeira. (...) Tamanha foi minha surpresa que a capa do jornal era só o papel de bala."

Ele não fez referência a nenhum veículo de comunicação. Em 2004, a Folha publicou fotos mostrando que Lula comeu um bombom e jogou o papel no chão.

O ex-presidente também insinuou que há preconceito de parte da mídia em relação a sua sucessora, Dilma Rousseff. Para ele, parte da imprensa não deu destaque ao tratamento afetuoso do papa Francisco em relação a Dilma. "Ontem eu vi o papa beijar a nossa Dilma nas duas bochechas e isso não apareceu em muitos canais de TV."

No discurso de Lula, sobraram ainda farpas para o presidente dos EUA, Barack Obama. Em tom de ironia, o ex-presidente disse que Obama, que o chamou de "o cara" em 2009, deveria estar monitorando seu discurso, em referência às acusações de espionagem americana no Brasil.

O petista também exaltou a concessão de novos direitos aos trabalhadores domésticos. "Eu, na verdade, acho que nós só vamos ter um país justo quando a gente não tiver empregada doméstica".

A volta de Lula a Brasília não foi prestigiada por políticos. Ele disse que seguiria um discurso institucional e lembrou ter sido multado pela Justiça Eleitoral por falas anteriores --mas não resistiu e improvisou, sendo bastante aplaudido. No final, tirou fotos e distribuiu autógrafos.

Fonte: Folha de S. Paulo

Declaração de Falcão sobre Casagrande irrita socialistas

Presidente do PT disse que governador do ES não daria palanque a Campos

Maria Lima

BRASÍLIA - Depois de desagradar ao PMDB, o presidente do PT, Rui Falcão, deixou furioso o PSB, do governador Eduardo Campos (PE). Em entrevista ao jornal "Valor Econômico", Falcão disse que o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, do PSB, teria se comprometido a não subir no palanque de Campos caso ele dispute com a presidente Dilma Rousseff a Presidência da República. Procurado pela direção do partido para desmentir a declaração, Casagrande confirmou o encontro com Falcão, mas preferiu não polemizar, alegando que todos conhecem sua posição de só falar de eleição no ano que vem.

- Não fui eu que o procurei, foi ele que me procurou (Casagrande). Não disse que vai apoiar a Dilma, mas que a Dilma vai ter palanque. (...) Ele não fará palanque para ninguém. Porque ele vai estar comprometido com o PT, com o PMDB e tal - disse Falcão ao "Valor".

Eduardo Campos não quis responder a Rui Falcão, mas mostrou grande incômodo. Coube ao secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, ligar para Casagrande logo cedo.

- O Rui Falcão falou em seu nome e parece que foi nomeado como seu porta-voz. Deu declarações inaceitáveis e esdrúxulas - disse o dirigente do PSB.

- De jeito nenhum. Você e o Eduardo conhecem a minha posição. Não foi isso que eu disse na conversa com ele - teria respondido Casagrande, segundo Siqueira.

- Então desminta! Não precisamos da opinião dele sobre o PSB - pediu Siqueira, sem uma resposta direta do governador.

Procurado pelo GLOBO, Casagrande mandou dizer, via assessoria, que teve encontro casual com Falcão há três meses, mas que não confirmava o teor da conversa relatada pelo petista.

Fonte: O Globo

Eduardo Campos ‘empareda’ alas do PSB que insistem em apoiar Dilma

Pedro Venceslau, Ermo Pires

O governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, deflagrou um movimento para emparedar alas do partido que ainda resistem a seu. projeto de concorrer ao Planalto em 2014.

Motivado pela queda brusca de popularidade da presidente Dilma Rousseff por seu crescimento nas últimas pesquisas de intenção de votos, ele ampliou o diálogo com diretórios defensores da reeleição de Dilma e com movimentos sociais que orbitam na área de influência do partido. No último sábado, discretamente, 200 dirigentes de movimentos sociais do PSB reuniram-se em Brasília e divulgaram nota de apoio candidatura de Campos. O aumento da adesão a Campos poderia antecipar o lançamento de uma pré-candidatura em setembro.

“Temos uma alternativa a oferecer ao Brasil que é a candidatura a presidente da República do nosso líder, o presidente nacional do Partido Socialista brasileiro, Eduardo Campos”, diz a nota. "A construção da candidatura precisa ser tocada por todos os segmentos do partido. O PSB está unido na decisão de ter candidatura própria, Acreditamos no final de um ciclo que foi liderado pelo PT, disse ao Estado Joílson Cardoso, coordenador do braço sindical do PSB.

Aliados do governador garantem que as mudanças no cenário político após as manifestações de junho contribuíram para minar resistências de setores da sigla em relação à candidatura própria. Hoje, o entorno do governador acredita que só o PSB do Ceará estaria com Dilma. Antes das manifestações, os cinco governadores da sigla além de Campos - Camilo Capiberibe (AP), Renato Casagrande (ES), Ricardo Coutinho (PB), e Cid Gomes (CE) e Wilson Martins (PI) tinham reservas ao voo próprio.

A candidatura é uma realidade. Temos maioria amplíssima”, disse Carlos Siqueira, primeiro-secretário nacional do PSB, que coordenou o processo de mudança na direção do partido em Minas (veja abaixo).

O governador também intensificou sua articulação no Rio de Janeiro e se reaproximou do deputado federal e ex-jogador Romário. A relação entre os dois estava estremecida desde a campanha de 2012. Campos trabalha para atrair o prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso, presidente estadual do PSB no Estado. Como ainda não teve êxito, poderá tomar medidas para deixá-lo isolado dentro do partido.

No Rio, o partido está rachado, mas Campos amplia cada vez mais sua influência no diretório estadual “Sinto hoje o partido unido em torno da posição que o Eduardo tomará em 2014”, resume o deputado Glauber Braga (PSB-RJ).“Gomo posso ter candidato contra um governo se faço parte dele?”, rebate Cardoso. Para ele, boa parte do PSB fluminense apoiará a presidente Dilma.

O caso do Espírito Santo é emblemático. Os aliados de Campos davam como certo que o governador Casagrande tinha fechado posição com a candidatura própria em 2014. Mas ontem foram pegos de surpresa com uma declaração de Rui Falcão, presidente do PT, ao jornal Valor. O petista afirmou ter ouvido de Casagrande que haverá um palanque para Dilma no Estado. Um dirigente do PSB ligou para o governador capixaba reclamando duramente da declaração e perguntou se ele se tornou “porta-voz” do PT. Ouviu como resposta um desmentido e o apoio a Campos.

Vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral é considerado o maior aliado de Dilma no partido. Ele se recusa a debater a candidatura própria. “Não é o momento. Vamos viver 2013 cm 2013,. e 2014 em 2014.” Para Amaral, a antecipação da candidatura de Campos teria impacto na reeleição de alguns governadores do PSB. “Nós temos uma meta muito importante e muito difícil que é renovar os nossos governos. E fundamental criar um clima de tranquilidade para as sucessões.

“A candidatura é uma realidade. Temos maioria amplíssima” Carlos Siqueira lº Secretário Nacional do PSB

Fonte: O Estado de S. Paulo

Deputado aliado do governador e de Aécio assume PSB em Minas

Missão de Júlio Delgado é criar palanque e alianças para que o partido se torne competitivo no Estado

Marcelo Portela

BELO HORIZONTE - O deputado federal Júlio Delgado assumiu ontem a presidência do PSB em Minas com a missão de viabilizar um palanque no Estado, segundo maior colégio eleitoral do País, para Eduardo Campos caso se concretize o projeto de candidatura do governador à Presidência.

A decisão foi anunciada após uma série de reuniões em Belo Horizonte entre dirigentes mineiros e o primeiro secretário nacional da legenda, Carlos Siqueira, para quem a candidatura de Campos "extraoficialmente já está na rua". "Na prática, o partido está adotando todas as providências porque sabe que terá candidatura própria. Oficialmente ficará para o ano que vem (o lançamento da candidatura) porque assim prevê a legislação eleitoral", declarou.

Delgado assume o comando da legenda no lugar do ex-ministro Walfrido Mares Guia, amigo pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que declara abertamente apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff. "Não tinha condição de ele (Walfrido) continuar na presidência com essa posição, Mas foi muito correto conosco e não há problema em continuar no partido", frisou Siqueira.

"Nosso foco aqui é permitir que a gente possa ter palanque, disputar candidatura majoritária, além de chapas competitivas em níveis estadual e federal", explicou Júlio Delgado. A decisão foi estratégica, já que, além de ferrenho defensor da candidatura de Campos, o deputado é próximo ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), também provável candidato em 2014. Aécio trabalhou pela eleição de Júlio Delgado para a presidência da Câmara no início do ano. "O sentimento e o intuito da Executiva Nacional em nos alçar à presidência neste momento é justamente porque temos uma boa relação com o senador Aécio", admite Delgado.

De acordo com deputado, a direção do PSB avalia que a eleição de 2024 "fatalmente será de dois turnos", tanto para a Presidência quanto para o governo de Minas. "Nesse contexto, tanto o Eduardo é importante para o Aécio, quanto o Aécio é importante para o Eduardo. Amanhã, se der um segundo turno em que o Eduardo passar, a gente sabe qual o sentimento do PSDB. Se der segundo turno com o Aécio e nós ficarmos coerentes com o compromisso partidário, ficamos muito mais à vontade para sustentar uma eventual passagem dele, se essa for a vontade da sociedade. O importante é que estejam sintonizados. A máxima vale para um e para o outro", ressaltou.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Jornada mundial da juventude : Rio falha no teste de transporte

Um dia após erro da prefeitura deixar o Papa Francisco engarrafado na Avenida Presidente Vargas na chegada ao Rio, o que alarmou responsáveis pela segurança do Pontífice, ontem peregrinos e cariocas sofreram com uma pane no metrô, que ficou parado por mais de duas horas. Passageiros chegaram atrasados ou tiveram de se espremer em ônibus para chegar à missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude, em Copacabana. Visitantes também se queixam dos ônibus, cujos pontos não informam rotas e horários de chegada de veículos. Na saída da missa, à noite, o trânsito voltou a ficar caótico. O secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório, disse que o dia não será melhor hoje, já que o Vaticano mantém em sigilo o roteiro da visita do Papa a um hospital na Tijuca

Via crucis para ir à missa

Pane de mais de 2 horas no metrô atrapalha ida para abertura da jornada e volta do trabalho

Fabíola Gerbase

Confusão. Policial militar ajuda na devolução de bilhetes para peregrinos e demais passageiros que não conseguiram embarcar na estação Uruguaiana, no Centro, após a paralisação do metrô: falta de informação provocou reclamações

Depois de o Papa Francisco ter ficado preso num engarrafamento na Avenida Presidente Vargas quando fazia seu primeiro percurso no Rio, ontem foi a vez de o metrô decepcionar no quesito transporte na Jornada Mundial da Juventude. Como já virou rotina para os cariocas, no primeiro dia do evento, em que o metrô recebeu verdadeiras procissões de peregrinos a caminho da missa de abertura da JMJ em Copacabana, o sistema de transporte sofreu uma pane e ficou parado por mais de duas horas. O rompimento de um cabo de energia na altura da estação Uruguaiana levou à interrupção do serviço das 16h19m às 18h32m e criou um cenário caótico nas várias estações das linhas 1 e 2. Tumulto na devolução de bilhetes de embarque, acessos lotados e debandada em busca de pontos de ônibus foram alguns dos efeitos da paralisação do metrô.

Sem conseguir embarcar na Uruguaiana rumo a Copacabana, por volta das 17h25m, um grupo de sete peregrinos do Paraná decidiu andar em direção à estação da Glória, onde, até aquele momento, o serviço estava funcionando. Eles foram caminhando pelo Centro tendo a mineira Teresa Cristina de Almeida como guia. Mal sabiam que pouco depois, entre 17h30m e 17h40m, toda a Linha 1 seria fechada. Antes disso, apenas o trecho da Central ao Catete estava sem funcionar. Ainda antes das 18h, a Linha 2 também parou.

Já um grupo de alemães teve mais sorte: eles chegaram à Uruguaiana logo antes da reabertura da estação, que ocorreu às 18h48m. Quando eles começavam a deixar o local para tentar pegar um ônibus até Copacabana, o portão foi reaberto pelos seguranças.

- Ontem usamos o metrô e não tivemos problema. Hoje ficamos meio perdidos - disse Florian Böck, de 21 anos.

Essa, aliás, era a principal expressão estampada no rosto dos peregrinos que deixavam a estação. Uns poucos seguranças do metrô e policiais militares tentavam dar conta das perguntas de centenas de passageiros sobre o que estava causando o problema, quando o serviço voltaria a funcionar e que ônibus poderiam pegar para sair dali. Com um megafone, um segurança anunciou que o metrô sofrera uma pane elétrica e que não havia previsão para a reabertura. Depois disso, as informações voltaram a ser dadas na base do grito.

Tumulto na devolução de bilhetes

Em alguns momentos, houve bate-boca entre seguranças e passageiros que se aglomeravam fora da estação. Dentro do espaço, o principal tumulto aconteceu no momento em que foi anunciado pelos alto-falantes que os passageiros poderiam pegar um tíquete de devolução para usar em outro dia. Houve empurra-empurra, e policiais militares ajudaram na distribuição dos bilhetes. Pelo menos três pessoas passaram mal. Uma mulher que estaria grávida desmaiou e foi carregada por um bombeiro e dois PMs. A porta de vidro da sala dos seguranças acabou quebrada na confusão.

O gerente comercial Sidney Santos estava dentro do trem parado na plataforma da estação Uruguaiana no momento do problema. Segundo ele, foi possível ouvir uma pequena explosão. Outros passageiros relataram ter visto faíscas sob a composição.

- É um absurdo. Ficamos uma hora esperando no trem sem receber qualquer informação. Só então vieram nos informar que o metrô não ia mais funcionar. Não sei como farei para ir para casa. Só Deus sabe. É uma vergonha - disse Sidney, após sair da estação.

Muitos outros passageiros decidiram esperar pelo retorno do serviço, até mesmo dentro do trem, apesar dos pedidos de evacuação da estação. Foi o caso da auxiliar administrativa Márcia Veloso:

- Estava indo embarcar e ouvi um estouro. Depois disseram que havia uma pane geral. Decidi esperar porque para ir de ônibus até Irajá demoro umas três horas. De metrô gasto meia hora.

Para o estudante Sergio Henrique Mendes, que pretendia embarcar rumo a Maria da Graça, o pior foi ficar esperando sem receber uma explicação mais precisa:

- A gente não recebe qualquer satisfação, nem uma previsão para poder se planejar. Ficamos sem saber o que fazer. Como a cidade recebe um evento desse tamanho, com a presença do Papa, com essa total falta de condições?

Também impedido de entrar na estação, Antonio Carlos Regalado, dono de uma agência de turismo, criticou o serviço:

- Está claro que não deram conta do movimento da jornada. Eles já não dão conta em dia normal, né?

Em nota, a Metrô Rio informou que a "energia das linhas 1 e 2 foi interrompida para que as equipes de manutenção trabalhassem em segurança". O trem que estava parado na estação Uruguaiana na hora do problema elétrico foi danificado e precisou ser empurrado por outra composição até o centro de manutenção depois que os trilhos voltaram a ser energizados. A assessoria de imprensa da concessionária informou, ainda, que uma avaliação mais detalhada da pane no sistema seria feita na madrugada de hoje, após o encerramento do serviço. A Metrô Rio negou que tenha havido explosão, estouro ou faíscas na estação Uruguaiana.

Problemas também na volta

Os trens voltaram a circular sem parar na estação Cardeal Arcoverde, em Copacabana (uma das mais usadas pelos peregrinos), no sentido Zona Sul. De acordo com a assessoria da concessionária, a parada acontecia apenas no sentido Centro e a medida era parte do planejamento especial para a jornada. A Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes do Estado do Rio (Agetransp) abriu um boletim de ocorrência para apurar a paralisação do metrô. Hoje pode voltar a haver problemas, já que a prefeitura diz desconhecer os roteiros do Papa.

No fim da missa em Copacabana, os fiéis enfrentaram mais problemas. Os ônibus estavam lotados e o metrô também. Além disso, taxistas cobravam a corrida "no tiro". Devido ao excesso de pessoas, os acessos ao bairro foram fechados pela prefeitura. Depois de aproximadamente 30 minutos, eles foram finalmente liberados por agentes da CET-Rio.

Fonte: O Globo

Rio exige de empresas acesso a dados sobre manifestantes

Governo estadual quer examinar comunicações telefônicas e na internet

Decreto do governador Cabral dá prazo de 24 horas para atendimento de pedidos, mesmo sem autorização judicial

Leandro Colon, Italo Nogueirado

RIO - A comissão criada pelo governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), para investigar atos de vandalismo nas manifestações dos últimos dias exige que empresas de telefonia e provedores de internet forneçam informações sobre participantes dos protestos sem autorização judicial.

O decreto assinado por Cabral determina que as empresas atendam em no máximo 24 horas os pedidos da Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas, criada por Cabral na sexta-feira.

A ação do governador provocou reação do setor de telefonia e de especialistas da área jurídica, que consideram a medida inconstitucional. O sindicato das empresas de telefonia avisou que não tem como cumprir o decreto porque a quebra de sigilo deve ser autorizada pela Justiça.

Já a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) estuda a possibilidade de entrar com uma ação contra o decreto no Supremo Tribunal Federal. "A Constituição Federal assegura a inviolabilidade das comunicações entre pessoas", afirmou o presidente da OAB, Marcus Vinicius Coêlho. "O decreto é inconstitucional."

Ao anunciar a criação da comissão, na sexta-feira, o secretário da Casa Civil, Régis Fichtner, divulgou uma versão do texto do decreto que não incluía o parágrafo sobre acesso a dados telefônicos.

Em nota divulgada ontem à noite, a assessoria do governo do Rio diz que a comissão não tem poderes para quebrar sigilos e que caberá à Justiça autorizar os seus pedidos, embora não exista referência a isso no decreto.

A Casa Civil informou à Folha que o trecho sobre acesso a dados telefônicos entrou no decreto a pedido do Ministério Público, que integra a comissão ao lado das polícias civil e militar e da Secretaria de Segurança Pública do Rio.

O Ministério Público não se manifestou sobre a afirmação da Casa Civil até a conclusão desta edição.

A assessoria da Casa Civil defendeu o decreto: "A natureza das investigações exige pronta resposta das empresas de telefonia e de internet a informações solicitadas pela comissão, seja diretamente, sejam as que dependam de mandado judicial."

O presidente da comissão, procurador Eduardo Lima Neto, disse que a comissão não fará quebras de sigilo sem autorização judicial. "Essa estratégia e outras têm a finalidade de dar velocidade à apuração desses fatos. Todos os direitos das pessoas serão respeitados", afirmou.

O governador virou o principal alvo dos manifestantes no Rio, que têm organizado protestos em frente à sua casa e na sede do governo. Houve novo confronto na segunda-feira, primeiro dia de visita do papa Francisco ao país.

O decreto diz que a comissão poderá "praticar quaisquer atos necessários à instrução de procedimentos criminais". De acordo com o texto, o secretário-chefe da Casa Civil poderá "solicitar informações necessárias para a tomada de decisões por parte do governador do Estado".

"Em Estados democráticos de direito, a privacidade é uma garantia fundamental inalienável da sociedade", disse o advogado Bruno Dantas, conselheiro do Conselho Nacional de Justiça.

Para o advogado Técio Lins e Silva, que tem escritório no Rio, o decreto é um "abuso de poder". "É um delírio, abuso de autoridade. Quem edita um decreto desse está brincando com o Estado democrático."

Fonte: Folha de S. Paulo

Alternativa de Cabral contraria Constituição

Três pontos do decreto podem ser questionados na Justiça; lei precisa especificar quais informações seriam requisitadas

Investigar crimes pressupõe a delimitação de quais são os crimes, quais são as vítimas e quem são os suspeitos

Ivar A. Hartmann

O decreto publicado segunda-feira no Rio busca uma solução para atos de vandalismo que têm tumultuado algumas das manifestações populares no Estado.

Entretanto, as alternativas adotadas podem conflitar com a Constituição Federal em ao menos três pontos. Isso torna real a possibilidade de questionamento do decreto na Justiça.

Primeiro, o decreto possibilita violar, sem autorização judicial, o sigilo das comunicações feitas pelos fluminense por telefone ou pela internet.

Uma lei desse tipo precisaria no mínimo especificar que tipo de informações a comissão pode requisitar. Esse tipo de poder irrestrito ao governo para obter dados imita prática do governo norte-americano recém-descoberta e muito criticada pelo próprio governo brasileiro.

De qualquer forma, a Constituição não autoriza os Estados a estabelecer regulações sobre processo ou empresas de telecomunicação. Somente a União pode fazer isso.

Mais importante, a Constituição estabelece direito fundamental contra a possibilidade de que o poder público quebre o sigilo de telecomunicações sem autorização (caso a caso) do Judiciário.

O decreto permitiria ao governo fluminense criar um banco de dados de informações pessoais privadas. Investigar não é captar e armazenar uma massa de dados pessoais sobre o cotidiano de qualquer cidadão. Investigar crimes pressupõe a delimitação de quais são os crimes, quais são as vítima e quem são os suspeitos.

Os "pedidos de informações" mencionados pelo decreto do governador do Rio de Janeiro podem institucionalizar o monitoramento indiscriminado, desvinculado de qualquer investigação específica e sem fiscalização do Judiciário.

O segundo ponto problemático é que o decreto pretende regular o fluxo de trabalho de "todos os órgãos públicos" do Estado ao estabelecer "prioridade absoluta" para as solicitações da comissão. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro é um desses órgãos públicos. Se tentar incluir o Judiciário sob essa regra, o governo do Estado praticará séria violação da independência institucional, um dos pilares da Constituição. Ditar regras de prioridade do Judiciário está além das competências do Executivo.

Atos de vandalismo

Terceiro, o decreto determina que a Comissão realizará "investigação da prática de atos de vandalismo". A equipe será composta inclusive por membros da Polícia Militar, entre outras entidades.

Policiais militares monitorariam as telecomunicações de qualquer cidadão fluminense, sem ordem judicial. A Constituição determina que cabe à Polícia Civil investigar suspeitos de vandalismo. Não à Polícia Militar.

A razão disso fica clara diante da declaração recente da Polícia Militar do Rio: "Quem posta material multimídia na internet incentivando a violência e o #vandalismo é criminoso".

Ao proteger a Marcha da Maconha, o Supremo Tribunal Federal já mostrou que a Constituição garante a liberdade de expressão contra a repressão indiscriminada.

Essa e outras decisões afirmando garantias constitucionais criam grandes obstáculos ao decreto, a despeito do objetivo relevante de proteger população dos vândalos.

Ivar A. Hartmann é professor do Centro de Justiça e Sociedade da FGV Direito Rio

Fonte: Folha de S. Paulo

O bem que o papa Francisco pode fazer ao Brasil - Mércio P Gomes

A alegria, a descontração e a propriamente esculhambação geral com que o papa Francisco foi recebido no Rio de Janeiro augura uma expectativa de retomada do catolicismo popular --popular não no sentido classista da palavra, mas no sentido histórico de tradição-- com todos os seus defeitos e muitas das qualidades que moldaram a cultura brasileira.

Como todos sabem, o catolicismo é um das principais dimensões da formação social e cultural brasileira, junto com as três raças hierarquizadas, mas também miscigenadas, o elitismo e patrimonialismo portugueses e o bandeirantismo tupiniquim. Aqui me concentro no catolicismo popular, seu declínio nos últimos 50 anos e uma possível renovação, sinalizada pela chegada de Francisco.

O catolicismo popular é a principal fonte de sacralização da cultura brasileira tradicional. Ser católico é ser gente humana e é ser social com Deus. Até recentemente, índios que sobreviveram em regiões de colonização tradicional, como o Nordeste, se constituíram cristãos para serem reconhecidos como gente. Alguns consideram isso sinal de opressão e colonialismo, mas não podem negar que foi a estratégia para os índios serem aceitos pela orbe e sobreviverem com integridade. Seus descendentes mestiços assim o são.

Os negros, escravos ou livres, os mulatos e cafuzos também se imbuíram do catolicismo e tinham certeza de que só pertencendo a irmandades e contribuindo para a Igreja é que podiam ser vistos como gente digna de respeito.

Os descendentes da elite portuguesa, mestiços ou puros, os donos do país, contavam com o catolicismo para reger a sacralidade da vida e, sem dúvida, para controlar seus impulsos de mando absoluto e de desvios bandeirantistas.

Assim, ao longo de nossa formação histórico-cultural o catolicismo popular se tornara a âncora que estabilizava o barco oscilante dos conflitos internos da cultura brasileira. Evidentemente tem em si uma forte dimensão conservadora, que favorece o sentimento centrípeto de nossa cultura, mas é para isto precisamente que serve a religião na consolidação de um povo e uma cultura. No plano existencial o catolicismo popular alivia o sofrimento, consola os injustiçados, ameniza a maldade dos opressores e os integra a todos num sentimento de comunidade.

Assim tem sido desde a chegada dos jesuítas em 1549, com a afirmação de nossa lusitanidade, em altos e baixos, a imposição sobre todos do catolicismo tridentino e sua paidéia, não obstante as eventuais disputas entre Igreja e Estado e a irremovível presença de sentimentos religiosos indígenas e africanos.

Até que o frenesi da modernidade rachou a segurança da cultura popular brasileira, a qual se abriu a novas dimensões religiosas, especialmente o protestantismo evangélico, e a sentimentos anti- ou trans-religiosos advindos da sacralização da ciência. Dado que a ciência se comporta como um agnosticismo e tão-somente contribui para o espírito hedonista do nossos tempos, é o caráter do protestantismo evangélico que desafia a hegemonia do catolicismo popular e consequentemente a sacralidade tradicional da cultura popular brasileira.

De um pai inalcançável, distante porém bondoso qual um avô, junto a um filho reto, porém mundano, e um elusivo e misterioso espírito, que perdoam pecados e fazem vista grossa para as exigências dos novos costumes, um panteão de santos caridosos, incluindo uma mãe acolhedora, que intervêm sobre o absolutismo paterno, a custo zero, mas com alto grau de ineficiência, e uma plêiade de sacerdotes malemolentes, identificados pelos mesmos defeitos de seus rebanhos (ainda que sob um aceitável manto de hipocrisia), eis que surge um pai todo-poderoso e um filho espiritual diligente e exigente, ambos supostamente alcançáveis por contato direto, que só perdoam por um compromisso de retorno a uma retidão comportamental mitológica, mediados por sacerdotes histriônicos e espetaculares que falam despudoradamente sobre valores e custos, prometem benefícios mundanos, cobram caro, porém no limite das possibilidades dos seus rebanhos, e indubitavelmente entregam um produto final com eficiência e para a satisfação dos seus membros.

Reagindo à desestruturação da vida social, que, antes consolidada, dera suporte à cultura popular brasileira, e ao hedonismo da pós-modernidade, esta quase só acessível a classes sociais abastadas, degenerada em vulgaridades culturais, o protestantismo evangélico alcançou o coração dos desvalidos e, ao impor um novo regramento, lhes deu um sentido de integridade pessoal e uma participação no sagrado da vida. O crescimento vertiginoso do protestantismo evangélico, nos últimos 50 anos, se deu precisamente onde a desestruturação aconteceu com mais profundidade: nas metrópoles que recebem imigrantes, nos estados expansionistas e nas cidades que incharam em favelas, mocambos e vida extremamente custosa, até para as históricas carências em que sempre viveram.

A disputa original entre catolicismo e protestantismo se deu no limiar da modernidade, uma olhando para o passado, a outra construindo o futuro. No Brasil, defasado no seu tempo histórico, esse embate se dá muito tempo depois, já quase como farsa, e só parcialmente nesses moldes, na medida em que o que fora futuro ainda consegue prover às classes desvalidas uma chance de entrar na modernidade. Para isso o empuxo evangélico exige a quebra da cultura tradicional brasileira, mirando o lado hipócrita da corte sacerdotal católica, sua ineficiência, seu anacronismo comportamental e seu comprometimento com o sistema hierárquico brasileiro. Daí porque os fiéis evangélicos aceitarem e acatarem os meneios comportamentais de seus próprios sacerdotes. Porém, fundamentalmente, o que os compensa diante desses reconhecidos desvios é o sentimento de participação no sagrado, que lhes dá identidade e integridade.

A Igreja Católica reage de vários modos ao desafio do concorrente, todos, ao que parece, ineficazes. A propalada opção pelos “pobres” e oprimidos, por um viés político, esbarra num embate rancoroso contra o Estado, contra qualquer governo, como bem vemos na atualidade. Não comove os corações, não retifica ações injustas, não promove sociabilidades novas, cria tão-somente ilusões políticas. Nesse sentido cai bem a frase de Jesus, no sentido de que seu reino não é o mesmo de César. Já a recusa à modernidade comportamental da cúria sacerdotal, seu arraigamento à paidéia tridentina, sua rígida e anacrônica liturgia ofuscam e desviam o sentido do amor –ao próximo, à dignidade da vida humana e à natureza-- que é e deve ser a principal, se não a única, contribuição verdadeira ao sagrado da vida.

Pode ser que o histerismo evangélico e o autismo católico se recuperem de seus predicamentos. Difícil prognosticar, já que a vida pós-moderna ainda tem muitos recursos a exercer e prepondera sobre o mundo.

Do lado evangélico, sua multiplicidade de estilos dificulta sobremodo a formação de uma tomada de consciência antropológica que lhe permita retificar desvios e conciliar antagonismos e com isso seguir um caminho reto, próprio de sua formação original, de cunho calvinista.

Já no catolicismo, o que temos agora, e com repercussões no Brasil, é a potencialização de uma instituição secular, coesa, que tem auto-consciência de seu passado e consciência antropológica do mundo atual. O duplo, e não de todo descontínuo, pontificado que domina a Igreja Católica, um auto-consciente pontífice germano, em modo dormente, e um iluminado pontífice argentino, em modo messiânico, cria uma tensão positiva que pode sinalizar um portal para a re-afirmação do sagrado na vida.

Quem sabe? Ao ver o encantamento religioso com que foi recebido o jesuíta Francisco, alguém pode se lembrar de José de Anchieta ou Antonio Vieira, pregadores e missionários de hereges, ou recordar um Padre Cícero ou um Frei Damião, moldadores do catolicismo popular ainda recorrente, por consolar os desvalidos e amaldiçoar infiéis e ateus.

Que o Brasil precisa desesperadamente ressacralizar sua vida social, não há a mínima dúvida. O hedonismo desenfreado, a corrupção política, a desonestidade pessoal, o domínio do econômico sobre o cultural, a indecisão identitária, o histrionismo, a insensatez, a irresponsabilidade e o descompromisso com a comunidade campeiam pelos nossos sertões e pelos desvãos urbanos. Porém, o que urge fazer não pode ser inspirado por uma nostalgia do passado, senão uma afirmação do presente visando o futuro por uma sacralização que incorpore harmonicamente as necessidades culturais do tempos atuais. Não pelo messianismo, nem pela burocratização de uma (nova) liturgia, nem tampouco pela politização da cultura popular.

O Papa Francisco sabe o que faz ao se mostrar alegre e feliz, tolerante e dialogador, compassivo e acalentador. Seu exemplo parece ser um bom augúrio. Resta saber se será suficiente para enfrentar a tradição curial e o gigantismo institucional, arejar os castelos católicos do mundo, e emular nosso clero para estabelecer uma renovação do catolicismo popular brasileiro.

Se tal não vier a acontecer, paciência, outras forças religiosas e morais poderão surgir num futuro ainda não vislumbrável, para evitar que o mundo entre em convulsão geral.

Mércio P Gomes, antropólogo, professor da UFRJ. Foi presidente de Funai.

Francisco bota fé no povo - Elio Gaspari

No primeiro dia de sua visita, Francisco lavou a alma do Brasil. Engarrafado na Presidente Vargas, num carro com a janela aberta, acariciou uma criança. Era apenas um homem que não tem medo do povo. Percorreu a muy leal cidade de São Sebastião em cenas inesquecíveis. Seu percurso não foi demarcado pelos batalhões de choque, mas por cordões de jovens voluntários, com camisetas amarelas (oh, que saudades da cor das Diretas Já).

Pouco depois, o Papa estava no jardim do Palácio Guanabara, num cenário cavernoso, com o prédio protegido pelo Batalhão de Choque. Submeteram-no a um protocolo redundante, obrigando-o a apertar as mãos de pessoas que já havia cumprimentado na Base Aérea. Havia hierarcas que ganhavam beijinho da doutora Dilma e ai daqueles que saíram só com o aperto de mão. (Noves fora o ministro Joaquim Barbosa, que passou batido pela chefe do Poder Executivo. Ele não faria isso com o prefeito de Miami.) No Guanabara estava a turma do andar de cima. Nela havia gente que, tendo ouro e prata, anda protegida por seguranças pagos pela patuleia da Presidente Vargas.

Até o momento em que Francisco chegou ao Rio, o país viveu o clima neurastênico, no qual se confundia uma peregrinação da fé com uma operação militar que, avaliada pela sua própria pretensão, foi uma catedral de inépcia. Vinte e cinco mil homens da polícia e das Forças Armadas para proteger o Papa. De quem? Num dos momentos mais ridículos já ocorridos em visitas do gênero, um soldado foi fotografado verificando o nível de radioatividade do quarto de Francisco em Aparecida. Os sábios da demofobia planejaram tudo e, como sucede a milhares de cariocas, o Papa acabou engarrafado na Presidente Vargas. Evidentemente, a prefeitura responsabilizou a Polícia Federal e a Polícia Federal responsabilizou a prefeitura, mas isso não é novidade. Para alegria de quem estava na avenida, deu tudo errado e eles puderam ver o Papa de perto.

Todos os detalhes da neurastenia foram conscientes, da divulgação do aparato de segurança à exposição de temores com manifestações. Nenhuma das duas iniciativas era necessária. A exaltação da máquina policial é uma indiscrição, a menos que seu objetivo seja apenas causar temor. Os distúrbios ocorridos nas cercanias do Palácio Guanabara faziam parte do cotidiano do governador Sérgio Cabral, não da rotina de Francisco. Nesse sentido, a janela aberta do carro, o papamóvel com as laterais livres e o cordão dos voluntários vinham da agenda da Igreja, botando fé no povo e nos jovens.

Num discurso impróprio, a doutora Dilma referiu-se às "mudanças que iniciamos há dez anos". Louvava a década de pontificado petista diante de um pastor cujo mandato começou há 2013 anos. Não entenderam nada.

O Brasil é uma democracia que passa por momentos de tensão. O hierarcas de Brasília e do Rio celebraram a suposta eficácia de geringonças eletrônicas (com contratos milionários) e, inexplicavelmente, ecoaram a demofobia e os rituais dos comissários poloneses durante a visita de João Paulo II a Varsóvia, em 1979. Onde havia fé, viram jogos de poder. Perderam uma santa oportunidade de celebrar a fé dos peregrinos e baixar as tensões que envenenam a política nacional.

Fonte: O Globo

Incenso e mirra - Dora Kramer

Quando esteve a primeira vez no Brasil, em 1980, João Paulo II falou das injustiças sociais, mas fez gesto de significado político importante para a época, último governo da era militar: esteve com trabalhadores no estádio do Morumbi e depois recebeu um grupo de sindicalistas, entre eles Luiz Inácio da Silva - o metalúrgico que liderava o renascimento do movimento sindical - e a viúva de Santo Dias, morto durante a greve do ano anterior no ABC.

Não politizou na fala e sim no ato de apoio aos que confrontavam a ditadura. Naquele contexto foi entendido como um mensageiro do respeito aos valores democráticos.

Agora vem o papa Francisco com a atitude correta no momento certo, em seu exemplo de despojamento, pregando na prática o resgate de princípios de conduta a serem adotados na aproximação entre líderes e liderados.

A autoridade, parece dizer ele em cada gesto, prescinde de pompa para atrair apreço e respeito. Ao contrário, quanto mais próximo estiver o representante - no caso dele, do Vaticano e da Igreja Católica, mais apreço receberá do representado.

O contraste das imagens de Francisco carregando sua maleta no embarque em Roma, fechando a porta do carro que o levou da Base Aérea do Galeão à Catedral Metropolitana, optando por acomodações sem luxo na residência da Arquidiocese do Rio, evidenciam o mau gosto e o caráter ofensivo da regalia e ostentação tão caras (estrito e lato sensos) a nossas excelências.

A diferença entre a estreiteza e a amplitude esteve marcada nos discursos do papa e da presidente da República no Palácio Guanabara. Francisco, o pastor, foi modesto: "Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso ingressar pelo portal de seu imenso coração. Por isso, permitam-me que eu possa bater delicadamente a essa porta. Peço licença para entrar e transcorrer essa semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo". Falou de amor e fraternidade.

Dilma, a governante, foi soberba e inoportuna ao tentar absorver para si e seus aliados políticos (não era hora nem lugar de exaltar o "trabalho" de prefeito e governador) a boa atmosfera da visita papal, com um pronunciamento de exaltação aos feitos do governo federal aos quais buscou também associar ações da Igreja. Defendeu de novo a tese de que os protestos decorrem dos "avanços dos últimos dez anos". Falou de pretensão e egoísmo ao desconhecer esforços anteriores.

Uma falha cuja responsabilidade não está esclarecida deixou o papa por longos e aflitivos minutos cercado pela multidão no trajeto do aeroporto à catedral, mas produziu um episódio simbólico de que a convivência com o povo não necessariamente e perigosa.

Depende da qualidade do lastro que sustenta a relação. Francisco nada teme, não obstante seja dever do Estado brasileiro garantir-lhe a segurança sabendo compatibilizar o estilo dele ao manejo das circunstâncias de risco.

O destemor da proximidade já não se pode dizer que seja característica de nossas autoridades e figuras proeminentes da política, que não podem hoje dar um passo sem a proteção do protocolo ou do privilégio sem se arriscar a levar o troco (pelo descaso) na forma de desaforo.

Retrovisor. O PT brinca com fogo em suas escaramuças com Dilma Rousseff. Descontadas as diferenças entre personagens, em 2002 o PSDB interpretou que a perda de capital político do então presidente Fernando Henrique Cardoso não aconselhava a uma defesa contundente de seu governo na campanha eleitoral. O partido baixou a guarda, abriu espaço para o discurso. da "herança maldita" e agora, que tenta resgatar o legado, sofre de déficit de credibilidade para dar o dito pelo não dito.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Futuro ameaçado - Miriam Leitão

A juventude está em perigo em vários aspectos. A morte prematura dos rapazes ronda os jovens do mundo inteiro. O desemprego dos jovens é alto até no Brasil, em que a taxa geral está baixa. Na Europa, há o risco de haver uma geração perdida. E há os jovens que não trabalham nem estudam. A juventude sempre esteve exposta a riscos, mas agora eles se agravaram.

Por isso o Papa Francisco acertou tão completamente quando chamou a atenção para os jovens. Falar deles é natural sendo a Jornada Mundial da Juventude, mas o conteúdo do que disse, tanto no avião quanto ao chegar ao Brasil, mostra que ele está antenado com as aflições que cercam os jovens e que ameaçam a todos nós, por serem eles os donos do futuro.

O desemprego de jovens chega ao ponto calamitoso de 54% na Espanha. Na Grécia, quase 60%, em Portugal, 42%. A média da Europa supera 20%. Fora dessa devastação, só a Alemanha, com 7%, um número melhor do que o do Brasil, que, em maio, registrou 13,6% de desemprego entre jovens de 18 a 24 anos. A taxa geral do país foi 5,8%.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou um estudo recente mostrando que a taxa mundial de desemprego entre quem tem 15 e 24 anos está em 12,6%. Ao todo, são 73,4 milhões de jovens sem emprego. Como as estatísticas só registram os que procuram trabalho, o número é pior porque muitos jovens nem procuraram. O desalento, a gravidez precoce, as drogas são algumas das causas. Um estudo do Ipea registra que em 2010 havia oito milhões e oitocentos mil jovens brasileiros, de 15 a 29 anos, que nem estudavam nem trabalhavam.

As gerações mais jovens no Brasil estudaram mais do que seus pais. Quem tem hoje entre 20 e 24 anos estudou mais do que quem tem entre 40 e 50 anos. E está com mais dificuldade de entrar no mercado de trabalho. A frustração pode provocar traumas e inseguranças que a pessoa carregará a vida inteira.

A morte de jovens do sexo masculino por violência é outro perigo imenso. Eles perdem a vida num percentual muito maior do que a média da população. O Mapa da Violência divulgado pela Secretaria da Promoção da Igualdade Racial mostra que em 2012 a taxa de homicídios, entre quem tem de 12 a 21 anos, sai 1,3 para 37,3 por 100 mil habitantes, entre os brancos, e sai de dois para 89,6 por 100 mil habitantes, entre os negros. Ela aumenta em todo o país, mas aumenta mais entre os negros. Essa tragédia exige dos pais, dos países, dos governantes, das escolas, das organizações não governamentais mais do que tem sido feito para protegê-los da exposição aos riscos.

E muitas vezes eles nem se expõem ao risco; são vitimados sem qualquer explicação. Ficando apenas em um caso, e que ocorreu longe daqui, pense em Trayvon Martin: jovem, negro, indo para a casa da namorada, na Flórida, e com a cabeça coberta pelo capuz da jaqueta. Foi o suficiente para ele ser morto por George Zimmerman, que hoje está solto, inocentado e tendo direito a voltar a portar armas. A estatística de qualquer país mostra que os mais vulneráveis de serem vítimas de mortes violentas são os jovens, e os de minorias raciais.

As pessoas que têm responsabilidade e poder no mundo, qualquer que seja a área de atuação - pode ser formador de opinião, empresário, professor, formulador e executor de política pública -, precisam entender que estamos errando dramaticamente com a juventude. O tema tem que ser pauta diária para se encontrar a solução. Nenhum país tem o monopólio dos erros na política para a juventude. O drama da juventude exposta ao risco de morte, desemprego ou desalento é mundial. E eles são o futuro, como disse o Papa Francisco. Hora de refletir sobre como melhorar as políticas de proteção.

Fonte: O Globo

Lula na disputa - Tereza Cruvinel

O tom de Lula na fala de ontem foi revelador de sua disposição para a refrega política em defesa de Dilma

Falando ontem no Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a retórica cortante que sempre adotou nos momentos cruciais, deixou claro ontem que deixará a reserva de lado para emprestar sua força e popularidade à disputa política, no momento de maior ameaça à continuidade do PT no poder. “Eles estão colocando as unhas de fora. As minhas, eu vinha cortando no dente. Agora, vou deixar crescer.”

A uma plateia de 500 pessoas, ele fez um exaustivo balanço das conquistas dos negros e das mulheres e das relações Brasil-África em seu governo, ao longo do qual lançou vários “cacos”, arrancando risos e aplausos, como registra a matéria de Juliana Braga nesta edição. Em nenhum momento falou de eleição, mas, no fim, disse que não podia sair dali “sem dizer duas coisas que estão me engasgando”. Disse várias, e todas indicadoras de que ele está com enorme disposição para a refrega em favor da presidente Dilma, que tem a reeleição ameaçada pela queda na popularidade e nas intenções de voto. Se não como candidato, pois na saída Lula voltaria a descartar a candidatura; como o grande eleitor, papel que cumpriu com êxito na eleição de Dilma em 2010 e do prefeito Fernando Haddad em 2012.

Começou falando das manifestações, que estaria buscando compreender com cautela e sem ansiedade. “Eu sempre disse que democracia não é pacto de silêncio.” Isso posto, admitindo existirem grandes problemas na área da saúde, afirmou, no velho estilo fustigante, que, em 2007, as elites impediram a prorrogação da CPMF, tirando recursos da saúde que hoje somariam mais de R$ 50 bilhões. “Eles tiraram porque não precisam da saúde pública, têm os melhores planos de saúde, que dão acesso aos melhores hospitais e tratamentos. E dizem que têm porque pagam. Mentira. Quem paga é o povo brasileiro, porque tudo é abatido do Imposto de Renda.” Em tempo, disse que já foi pobre e que precisou de hospital público. “Hoje, tenho aqueles planos, e mesmo que não tivesse, Lula já é um plano.” Daí, pulou para a defesa de Dilma na queda de braço com as corporações médicas em torno da abertura do país ao ingresso de médicos estrangeiros.

O segundo desabafo também começou pelas manifestações, condenando os que delas participam negando a política. “Manifestações contra a política nunca levaram a mais democracia, mas a coisas piores, como o fascismo e o nazismo. Já fui assim. Eu batia no peito e dizia que não gostava de política nem de quem gostava de política. Mas sabe qual é a desgraça de quem diz isso? É que será governado por quem gosta. Então, você tem todo o direito de não gostar de um partido, de um deputado, de um presidente. Mas acorde o político que tem dentro de você, seja você o candidato, porque fora da política não há salvação.” E, novamente, partiu para a defesa de Dilma. “Eles odiavam ela. Depois que ela ganhou, tentaram criar uma cisão entre nós, dizendo ‘o Lula é que não presta’, tentando sempre mostrar uma diferença. Ela deu um chega para lá nisso. Agora, gente, estão com um preconceito contra ela, maior do que o que tinham contra mim. Nunca vi tanta falta de respeito a uma mulher com a qualidade da Dilma. Será que é só porque é mulher? Será que eles têm com a mãe deles a mesma falta de respeito que têm com a Dilma Rousseff? Desrespeitam o país, porque a Dilma é uma extensão nossa lá.”

Antes, voltara ao tema do câncer, já abordado na semana passada, referindo-se à maldade dos que espalharam o boato de que o tumor teria voltado, assegurando que não esconderia o fato: “Eu posso dizer para vocês que o câncer não existe mais”.

Lula encerrou avisando que estava deixando as unhas crescerem. Na saída, em rápida entrevista, voltou a jogar água fria no “volta, Lula”. “Se eu tivesse que voltar a fazer alguma coisa em minha vida, seria jogar futebol. Mas acho que o Felipão não está de olho em mim, não.” Minimizou, por fim, os problemas entre Dilma e o PT, dizendo que ele mesmo foi a poucas reuniões partidárias quando era presidente. Mais que o conteúdo, entretanto, o tom e o ânimo de Lula é que foram reveladores, ontem, de que ele recuperou a melhor forma política e está com fome de disputa.

Um sonho de Francisco

Apesar das expectativas, a primeira fala do papa no Brasil foi eminentemente pastoral. Não houve, ainda, a esperada sinalização política sobre os rumos de seu pontificado, o chamado Evangelho Social. Um de seus púlpitos mais importantes será o de hoje, na Basílica de Aparecida.

Outra expectativa é a de que ele proponha, aqui, a realização de um encontro ecumênico mundial, reunindo líderes de todas as religiões, em torno de objetivos comuns, como a paz e a fraternidade. Segundo o correspondente do jornal espanhol El País no Brasil, Juan Arias, o papa teria confidenciado esse projeto a seu amigo argentino, o rabino Abraham Skorka, em recente encontro que tiveram em Roma.

Fonte: Correio Braziliense

A janela e a rua - Igor Gielow

Absorvida a primeira onda de choque do abalo sísmico que mudou a paisagem do poder, ganha corpo no Planalto a percepção de que é preciso entrar em agosto com medidas de impacto --e que fujam de bruxarias como o malfadado plebiscito da reforma política.

A janela é curta, de duas semanas. A atual está tomada até domingo pela presença midiática do papa Francisco. Já a seguinte ainda não terá a volta do Congresso, onde o clima é de guerra campal e as faturas não param de ficar mais caras.

Segundo esse raciocínio, é agora a hora de mexidas, mas não uma ampla reforma ministerial, que só deve ocorrer mais à frente e poderá embutir alguma redução do desenho da Esplanada como vacina eleitoral.

Para esses governistas, é preciso tratar já de dois pontos nevrálgicos para a batalha da reeleição: economia e articulação política.

Guido Mantega inexiste como fiador de credibilidade. Dilma gosta de insistir em erros, e a inflação do meio do ano mantém o balão de oxigênio ligado sob os escombros na Fazenda.

Mas a economia está parada como um todo, como apontou ao "Estado de S. Paulo" Alexandre Tombini, presidente do BC. Entrevista que, por desancar a política fiscal na véspera do corte orçamentário de mentirinha anunciado por Mantega, foi vista como um manifesto.

Se é isso, não se sabe, mas Tombini tem hoje qualidades para ocupar a cadeira de Mantega, em caso de troca: a confiança da chefe e, supõe-se, o dom de acalmar os mercados.

Na articulação, vital para evitar que o governo passe o resto do ano sob fogo, o xadrez é mais difícil. Os nomes mais cotados para substituir Ideli Salvatti são Ricardo Berzoini e Aldo Rebelo, ambos com resistências de todos os interessados.

Para os defensores do uso da janela, o tempo corre. No governo, a expectativa é a de que a segunda onda dos protestos de rua venha no 7 de Setembro. E que seja ainda maior.

Fonte: Folha de S. Paulo

Repressão na democracia - Merval Pereira

Com a escalada de violência que acontece nos últimos dias, especialmente no Rio de Janeiro, com saques e depredações de patrimônio público e privado, ficou claro que as grandes manifestações de massas não somente representaram um terremoto na política nacional, mas estão a colocar novos desafios para o Estado democrático de Direito.

O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, diretor do Iuperj, está convencido de que "precisamos discutir uma saída para o impasse em que o Brasil e o Rio de Janeiro se meteram, com o ciclo destrutivo de manifestações e repressão".

Diferentemente do que afirmou o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, em recente entrevista, ele ressalta que existem "pelo menos duas dúzias de bons manuais" sobre a atuação da polícia em demonstrações de massas e controle de multidões, todos disponíveis na internet.

Um trabalho do diretor do Police Executive Research Forum (PERF), Tony Narr, e de diversos especialistas aborda as questões mais importantes do controle de manifestações de massas e aponta maneiras de trabalhar o assunto de maneira exitosa.

O Police Executive Research Forum, com sede em Washington, é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 1976, que trabalha com pesquisas e provê assistência técnica e educação executiva para apoiar as polícias e outros organismos de aplicação da lei.

As manifestações de milhares de militantes antiglobalização e anarquistas na reunião do G-7 ocorridas em 1999, em Seattle, promoveram, no dizer dos próprios policiais, "um programa determinado de destruição da propriedade e violência contra os agentes da lei" com ampla cobertura midiática e "forte crítica da imprensa, dos cidadãos de Seattle e dos grupos de defesa das liberdades".

Os policiais do Police Executive Research Forum enumeraram alguns pontos fundamentais para lidar com manifestações de massas em contextos democráticos e de comunicação globalizada e instantânea, fruto da experiência adquirida pela polícia dos países desenvolvidos pós-Seattle99.

Planejamento: (compreende contato prévio com os manifestantes e com outros grupos relevantes (no nosso caso, OAB, MP, partidos etc.), coordenação com outras agências de segurança (Guarda Municipal, Polícia Federal, PM etc.), e logística das forças policiais ou do evento.

Treinamento: compõe-se da consideração dos meios legais utilizáveis, revisão de protocolos para regras de intervenção, uso da força, instrução acerca da necessidade do autocontrole e do respeito ao comando, treinamento em técnicas de "desescalada", instrução específica sobre disciplina, táticas, formações, códigos de comando, movimentos de esquadrão e técnicas de prisão.

Inteligência: procedimentos para coletar e utilizar informação relevante, estabelecendo contato prévio com lideranças do movimento, entidades representativas (OAB, MP etc.), monitoramento das redes sociais, técnicas de monitoramento durante a manifestação, registro completo das ações realizadas, especialmente a coleta de evidências para fundamentar eventuais prisões.

Atribuição de papéis e responsabilidades: em contextos de cooperação entre diferentes agências, definição de uma clara cadeia de comando e controle da operação nos níveis estratégico, operacional e tático, políticas de protocolos de comando - com definições de responsabilidades, objetivos, recursos e planos de contingência, uso de unidades especiais, redes de comunicação e protocolos para lidar com as queixas dos cidadãos. (Amanhã, o uso da força)

Fonte: O Globo