terça-feira, 23 de julho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Roberto Freire: candidatura Serra

"Serra, neste processo [de viabilização da candidatura presidencial pelo PPS/MD], está liderando e, portanto, não pode ser o último a decidir. Acho que essa decisão será tomada em breve, mas o Serra é o Serra e tem o seu próprio tempo de avaliação. O tempo dele não é apenas o legal, mas o tempo político, até porque é preciso que consiga arregimentar aliados".

Roberto Freire, O Estado de S. Paulo, 20 de julho de 2013.

Papa arrasta multidão nas ruas e evita tom político no palácio

Apesar do susto com engarrafamento da comitiva no caminho da catedral, desfile no papamóvel foi tranquilo.

No Palácio Guanabara, Pontífice se limitou a falar de temas religiosos e da importância da fé católica, enquanto a presidente Dilma Rousseff vinculou a Jornada Mundial da Juventude aos desejos de mudança expressos pelos jovens nas ruas do país nas últimas semanas.

Recebido com festa por uma multidão de fiéis apaixonados, o Papa Francisco frustrou, em seu primeiro discurso em terras brasileiras, a expectativa de quem aguardava palavras de preocupações sociais com menções ao momento turbulento por que passa o país. No Palácio Guanabara, em cerimônia oficial de boas-vindas com a presidente Dilma Rousseff, o Pontífice se limitou a falar de temas religiosos e dos objetivos evangelizadores da visita. A presidente, por sua vez, fez questão de vincular a Jornada Mundial da Juventude aos desejos de mudança expressos pelos jovens nas ruas do país nas últimas semanas.

Curiosamente, ainda durante o voo para o Brasil, o Papa se queixou da crise econômica e alertou para o risco de se criar uma geração de jovens que nunca trabalhou. Ele fez um apelo para que os jovens e idosos não sejam "isolados do tecido social" o que seria uma injustiça. Logo após desembarcar, a comitiva ficou presa num engarrafamento, deixando a segurança estressada. Mais tarde, já no papamóvel, o passeio pelo Centro do Rio foi tranquilo e levou os fiéis ao delírio.

Discurso morno

Em seu primeiro pronunciamento no Brasil, Papa evita falar sobre onda de protestos

Luiz Ernesto Magalhães, Rodrigo Rötzsch

Recebido ontem com festa por uma multidão de fiéis apaixonados - antes mesmo do desfile em carro aberto que o protocolo oficial de sua visita previa -, o Papa Francisco frustrou, em seu primeiro discurso em terras brasileiras, a expectativa de quem aguardava algum tipo de menção ao turbulento momento pelo qual passa o país. No Palácio Guanabara, alvo de alguns dos mais violentos protestos da onda que tomou o Brasil nas últimas semanas, o líder da Igreja Católica se limitou a falar dos objetivos evangelizadores de sua visita, com algumas pitadas de preocupações sobre o futuro dos jovens em um mundo que não consegue se erguer de uma profunda crise econômica. Sobre a efervescência nas ruas do Brasil, porém, ele se calou.

- Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso ingressar pelo portal de seu imenso coração. Por isso, permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a essa porta. Peço licença para entrar e transcorrer essa semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo. Venho em seu nome para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração. A paz de Cristo esteja com vocês - disse ele, no início de seu discurso de cerca de dez minutos, o último evento oficial de um dia que começou com uma longa viagem ao Brasil, seguida de um tumultuado deslocamento do aeroporto ao Centro, onde desfilou em carro aberto antes de seguir para o Palácio Guanabara.

O Papa falou depois da presidente Dilma Rousseff, única autoridade brasileira, das dezenas presentes na recepção, a discursar. Ela sim, por sua vez, fez questão de vincular a Jornada Mundial da Juventude aos desejos de mudança expressos pelos jovens nas ruas do país nas últimas semanas, que solaparam a popularidade de seu governo.

- Nós brasileiros, somos homens e mulheres de fé. A fé é parte indelével do espírito brasileiro. Falo da fé religiosa e falo também da crença que cada um de nós tem quanto à nossa capacidade de melhorar nossa vida. A crença de que o amanhã pode ser melhor que hoje. Esse foi o sentimento que moveu, por exemplo, nas últimas semanas, centenas de milhares de jovens a irem às ruas. Os jovens exigem respeito, ética e transparência. Querem que a política atenda aos seus interesses, aos interesses da população, e não seja território dos privilégios e das regalias. Desejam participar da construção de soluções para os problemas que os afetam. A juventude brasileira está engajada na luta legítima por uma nova sociedade, e este é um momento muito especial para a realização desta Jornada Mundial da Juventude - afirmou.

"Cristo bota fé nos jovens"

Dilma, porém, tentou passar a ideia de que a pressão das ruas era um desdobramento das conquistas sociais obtidas pelos dez anos de governos do PT.

- Democracia, como sabe Vossa Santidade, gera desejo de mais democracia. Inclusão social provoca cobrança de mais inclusão social. Qualidade de vida desperta anseio por mais qualidade de vida. Para nós, todos os avanços que nós conquistamos são só um começo. Nossa estratégia de desenvolvimento sempre vai exigir mais, tal como querem todos os brasileiros e todas as brasileiras. Exigem de nós a aceleração e o aprofundamento das mudanças que iniciamos há dez anos

O Papa, que leu em português claro um discurso escrito previamente, porém, concentrou-se na sua mensagem religiosa.

- Vim para encontrar os jovens que vieram de todo o mundo, atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor. Esses jovens provêm de diversos continentes, falam línguas diferentes, são portadores de variadas culturas, e, contanto, em Cristo encontram as respostas para as suas mais altas e comuns aspirações. Cristo abre espaço para eles, pois sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende do coração dos jovens quando conquistados pela experiência de sua amizade. Cristo bota fé nos jovens, e lhes confia o futuro de sua própria causa. Também os jovens botam fé em Cristo.

Embora o forte esquema de segurança - que interditou o entorno do Palácio Guanabara horas antes de o Papa chegar ao Brasil - tenha garantido que elas não acontecessem na presença de Francisco, novas cenas de confronto entre polícia e manifestantes começaram em Laranjeiras antes mesmo de Francisco chegar ao Sumaré, onde ficará hospedado durante a semana. Isso mostra que os protestos continuarão na ordem do dia durante a Jornada, ainda que longe do discurso do Papa.

Aliança de combate à pobreza

Como já fizera em conversa com jornalistas no avião que o trouxe ao Brasil, o Papa usou parte de seu discurso para expressar preocupação com o futuro da juventude.

- A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo, e por isso nos impõe grandes desafios. A nossa geração se mostrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhes espaço?

Dilma também falou da crise em seu discurso, dizendo compartilhar das posições do primeiro Papa latino-americano de resistência à "globalização da indiferença". Ela pediu que o Brasil e a Igreja unam seus esforços numa "ampla aliança global de combate à fome e à pobreza".

- Sabemos que a fome e a sede de justiça têm pressa. A crise econômica nos obriga a um novo senso de urgência para combater a desigualdade - afirmou a presidente.

Entre os dois discursos, uma quebra de protocolo para selar a aliança: Dilma deu dois beijinhos nas bochechas do Papa.

Antes de dar início à jornada, Francisco passará ainda por Aparecida (SP). Em seu discurso, porém, ele fez questão de falar a todo o povo brasileiro "da Amazônia aos Pampas, dos vilarejos às metrópoles"

- Ninguém se sinta excluído do abraço do Papa.

Fonte: O Globo

Papa diz que falta de trabalho pode criar ‘geração perdida’

Em discurso no Palácio Guanabara, Francisco cobrou educação e estrutura para jovens; Dilma pediu apoio para iniciativas globais; Quebrando o protocolo, papa andou sem blindagem, ficou preso em congestionamento e beijou crianças

Em seu primeiro discurso no Brasil, diante da presidente Dilma Rousseff e de autoridades no Palácio Guanabara, no Rio, papa Francisco cobrou educação e meios materiais para que os jovens possam se desenvolver, e deixou claro que sua viagem terá forte caráter político. No avião que o trouxe ao Brasil, ele alertou para o risco de se criar uma geração perdida diante da incapacidade de os jovens encontrarem trabalho em todo o mundo. Dilma criticou em seu discurso os protestos que têm tomado o País e pediu a participação do pontífice para "transformar iniciativas pontuais em globais". Ao chegar, Francisco embarcou em um carro sem blindagem. No trajeto até o centro, com os vidros abaixados, ficou preso em congestionamento e saudou fiéis. Também andou de papamóvel aberto e beijou crianças. Hoje, ele não tem agenda pública. Amanhã, vai a Aparecida (SP), onde anteontem uma bomba de fabricação caseira foi encontrada no banheiro do Santuário.

Para o papa, "juventude está em crise" e corre o risco de "nunca trabalhar"

Jamil Chade

RIO - Em seu primeiro discurso no Brasil, diante da presidente Dilma Rousseff de políticos e autoridades no Palácio Guaitábara, no Mo, o papa Francisco cobrou educação e meios materiais para que os jovens possam se desenvolver, e deixou claro que sua viagem ganhará forte caráter político. Antes mesmo de desembarcar, ainda no avião que o levou ao Brasil, o papa fez um ataque direto às receitas dos governos para lidar com a crise internacional. E alertou para o risco de se criar uma geração perdida diante da incapacidade de os jovens encontrarem trabalho.

Francisco ainda cobrou os políticos. "A nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhes espaço: tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento, oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a vida, garantir-lhe segurança e educação, para que se torne aquilo que pode ser", disse o pontífice.

Oficialmente, Francisco viajou ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), mas aproveitará a semana que passará no Brasil para dar indicações do que pretende como papa, fará alertas aos políticos e se reunirá com cardeais para debater a situação latino-americana.

O alerta sobre o impacto da crise mundial foi primeiro dado ainda no avião. Aos jornalistas, revelou sua preocupação com a exclusão social, principalmente no caso dos jovens. "Essa primeira viagem é para encontrar os jovens. Não em isolamento, mas no contexto de suas sociedades", disse. "Quando nós isolamos os jovens, fazemos uma injustiça. Eles pertencem a uma família, a uma cultura, á um país e a uma fé, Não podemos isolá-los da sociedade. Por isso é que quero encontrar os jovens em seu tecido social."

O pontífice continuou: "É verdade que a crise global não tem sido suave com os jovens. Li, na semana passada, quantos deles estão sem trabalho e acho que estamos correndo o risco de criar uma geração que nunca trabalhou", alertou o papa.

Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que, em alguns países, mais de 50% dos jovens estão sem emprego e, pior, sem perspectiva de trabalho (mais informações abaixo) . "A juventude está em crise", alertou o pontífice. "Estamos acostumados com uma cultura descartável. Fazemos isso com frequência com os idosos e, com a crise, estamos fazendo o mesmo com o j ovem. Precisamos de uma cultura de inclusão"-, continuou Francisco.

Para o papa, o problema da exclusão também afeta os mais idosos - e não só os jovens. "É verdade que os jovens são o futuro do povo, porque têm energia. Mas eles não são os únicos que representam o futuro. Os idosos também, porque têm a sabedoria da vida."

"Momento oportuno". Francisco afirmou que chega ao País em um "momento oportuno", por causa dos protestos, e dá o primeiro sinal concreto de sua simpatia pelos movimentos sociais que ganharam as ruas - ontem, manifestantes tomaram a região central do Rio e houve novamente confrontos (mais informações na página A14).

O argentino, porém, deixou claro que não chegou para desafiar e quer um "diálogo de amigos". Não por acaso, teceu longos elogios ao Brasil e à sua população. "Nesta hora, os braços do papa se alargam para abraçar a nação inteira brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e religiosa", declarou. "Desde a Amazônia até os Pampas, dos Sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do papa."

, Em português e com leve sotaque, o papa brincou durante discurso no Palácio Guanabara, quando se dirigiu aos jovens e usou linguagem pouco habitual para um pontífice. "Cristo bota fé nos jovens", disse, destacando uma das motivações da Jornada. Mas alertou: "Também os jovens botam fé em Cristo". Abusando de expressões, o pontífice chegou a dizer que "os filhos no Brasil são a menina dos nossos olhos".

"Aprendi que, para ter acesso ao povo brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração. Por isso, permitam me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta", discursou. "Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado Jesus Cristo."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Pesquisa: educação e saúde são as principais reivindicações dos jovens

Governo honesto aparece em 4º lugar, segundo estudo feito antes dos atos

Juliana Castro

Algumas das bandeiras levantadas nas manifestações que tomaram conta do país em junho aparecem como as principais prioridades de jovens brasileiros, de acordo com levantamento divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estudo foi feito em maio, antes da série de atos. O item mais citado pelos jovens foi educação de qualidade (85,2%), seguido pela melhoria dos serviços de saúde (82,7%). Essas são também as demandas mais citadas mundialmente.

O instituto considerou jovens aqueles com idade de 15 a 29 anos, assim como estabelece a Constituição. O Ipea, órgão vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, pediu para cada entrevistado escolher, entre 16 temas, seis que seriam prioritários. O método é o mesmo utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) na pesquisa My World, feita pela internet, cujo objetivo é subsidiar a definição das novas Metas do Milênio, a partir de 2015.

A terceira opção mais citada pelos jovens brasileiros foi o acesso a alimentos de qualidade (70,1%). Em quarto apareceu ter um governo honesto e atuante (63,5%), demanda que, em nível mundial, fica na quinta colocação. A melhoria nos transportes e estradas, citada por 40,9% dos jovens como uma prioridade, foi a demanda que deu início à série de protestos. No mundo, esse tópico é apenas a 15ª prioridade entre as 16 possibilidades.

Mudança climática em último

Na última colocação entre as principais demandas da juventude brasileira está o combate às mudanças climáticas, opção citada por apenas 7,3% dos entrevistados. Na lista internacional, essa demanda aparece na 12ª colocação. A pesquisa comparou as prioridades dos jovens com as dos não jovens. Para os que estão fora da faixa etária de 15 a 29 anos, a principal demanda é a melhoria dos serviços de saúde (86,6%). Em segundo, a educação de qualidade (80,5%). Ou seja, há uma inversão de prioridades em relação aos jovens.

- É normal essa inversão. Os jovens querem mais educação de qualidade, enquanto a pessoa que vai ficando mais velha pensa mais na questão da saúde - afirmou Marcelo Neri, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e presidente do Ipea.

A pesquisa mostra ainda que o número de jovens nunca foi e nem nunca será tão grande no país como agora: atualmente, o grupo é formado por 51 milhões de pessoas, o que corresponde a 26% da população brasileira. É um percentual próximo da média mundial.

- Fazer parte deste grupo tem vantagens e desvantagens. Esse grande número de jovens pode ajudar a diversificar e especializar a mão de obra do país, ajuda na interiorização da educação técnica e superior, mas, por outro lado, se não for expandido o número de vagas, esses jovens vão enfrentar o vestibular mais difícil de todos os tempos. Têm a vantagem de ser um grupo que vai ter poder de barganha, mas têm como desvantagem a concorrência no mercado de trabalho - disse Ricardo Paes de Barros, coordenador do estudo "Juventude levada em conta".

Segundo o Ipea, esse ápice no número de jovens no Brasil vai até 2022, quando o processo refluirá, e a população dessa faixa etária cairá a uma velocidade maior que a dos demais países. A expectativa é que o número de pessoas entre 15 e 29 anos decline em 15 milhões até 2050.

- O Brasil não está isolado neste fenômeno. Ele se destaca junto com a China - disse Neri.

Uma curiosidade é que, apesar de serem em números absolutos a maior população jovem já existente no Brasil, os pais dessas pessoas que hoje têm de 15 a 29 anos foram, proporcionalmente, a maior população jovem. Por conta da queda da mortalidade, o maior número de idosos, seja em números absolutos ou relativos, será alcançado pelos filhos de quem hoje está na faixa etária jovem.

O Ipea fez as entrevistas em domicílio com pouco mais de dez mil pessoas. A pesquisa faz parte de um amplo estudo que está sendo desenvolvido pelo governo, com análises sobre as áreas de demografia, Educação e mercado de trabalho em relação ao jovem.

Fonte: O Globo

PT já fala em 2º turno na eleição de 2014

O PT admite que Dilma Rousseff pode não vencer a eleição no primeiro turno. Proposta de resolução levada ao Diretório Nacional diz que o partido enfrentará "intensa luta política e ideológica" e os protestos criaram "nova situação".

PT já prevê dois turnos em 2014 e pede que autoridade de Dilma seja preservada

Vera Rosa

BRASÍLIA - O PT já admite que a presidente Dilma Rousseff pode não vencer a eleição de 2014 no primeiro turno, ao contrário do que previa o marqueteiro João Santana. Proposta de resolução levada ao Diretório Nacional, no sábado, diz que o partido enfrentará "intensa luta política e ideológica, incluindo aí dois turnos de eleições presidenciais". Para os petistas, é preciso que a autoridade de Dilma seja "preservada e defendida" com mais ênfase porque os protestos de rua geraram uma "nova situação política".

Em debates internos, os petistas, ao avaliar o significado dos protestos de junho, reconheceram "graves equívocos políticos 11aprática do PT" e a necessidade de "reorientação" e "reconstrução das bases sociais e dos vínculos populares" do partido diante dos "sinais de fadiga da velha ordem institucional".

"Sabemos (...) que, para estar à altura destes desafios, nos caberá analisar o novo quadro, reconhecer com humildade os erros cometidos e reciclar nosso programa, estratégia e condutas destaca o documento.

O texto ainda não foi aprovado. A corrente majoritária do PT, a Construindo uni Novo Brasil (CNB), está rachada e não houve acordo para a votação da resolução, que ainda pode ser alterada e só passará pelo crivada Executiva Nacional em agosto, As divergências foram acentuadas com pressões de alas à esquerda do PT para que o tom de críticas ao governo Dilma - que enfrenta dificuldades na economia e queda de popularidade - fosse acentuado.

A versão preliminar da resolução afirma que o principal porta-voz da "trava ao desenvolvimento" está nos monopólios de comunicação. Além disso, os petístas veem uma "barricada de interesses" – formada pela "hegemonia conservadora sobre as principais instituições do Estado, como Congresso e Justiça" ~ erguendo obstáculos para a ação da presidente Dilma.

Eduardo Campos - Em outro documento, intitulado "O Brasil quer mais e melhor", a chapa ; que apoia a reeleição do deputa" do Rui Falcão à presidência do PT pede cuidado com os "porta: vozes dos capitais" na disputa de.2014. Mesmo sem citar o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o texto faz referência indireta a ele ao argumentar que "os neoliberais e neoconservadores" querem outro bloco social no poder e podem, buscar novas opções. Seus porta-vozes, hoje, são o consórcio DEM, PSDB, PPS, o que não quer dizer que : não busquem alternativas futuras para candidaturas avulsas : ou de partidos que abriguem seus interesses", ressalva a tese do grupo de Falcão. Provável candidato à sucessão de Dilma, Campos adotou o slogan "é preciso fazer mais e bem feito",

Os dois textos do PT combatem a chamada ditadura do marketing político e eleitoral A chapa de Falcão faz uma autocrítica das ações do PT e diz que o governo Dilma ainda não cumpriu todas as tarefas. f "(».) Tudo o que foi feito não é suficiente para colocar o universo das políticas públicas em diálogo permanentemente fértil com as grandes causas de nos -so tempo", destaca o documento, que contém 48 tópicos.

A tese foi apresentada pela CNB, tendencia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em conjunto com as correntes Novo Rumo e PT de Lutas e de Massas. As eleições que vão renovar a cúpula do PT estão marcadas para 10 de novembro. Falcão é o favorito para continuar no comando do partido,

Correção de rumo - Embora a tese do grupo trate Dilma como "uma estadista, uma líder que tem ouvido o País" e destaque que o Brasil viveu, nos últimos dez anos, ao melhor momento de suas políticas públicas", há várias linhas com apelos para correção de rumo. "Para atualizar o projeto para o País é preciso discutir os rumos do desenvolvimento sustentável que defendemos. As orientações da política econômica que, guiada pela perspectiva da distribuição de renda, combine equilíbrio fiscal, controle do câmbio e crescimento com condições de ampliação do financiamento do Estado", afirma o texto.

Se Falcão ganhar a eleição, o documento norteará a ação do PT para os próximos quatro anos e servirá de parâmetro para a construção do programa de reeleição de Dilma. "A distribuição de renda e o acesso ao consumo não bastam para impulsionar a emancipação das pessoas, construir um desenvolvimento em bases sustentáveis e formar maiorias que sustentem as reformas sociais e políticas defendidas pelo PT" diz o texto.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PT vai tirar menção ao 2º turno de texto oficial

Rui Falcão quer evitar 'interpretação malévola'

BRASÍLIA - Para evitar o que chamou de "interpretação malévola", o presidente do PT, Rui Falcão, determinou que se exclua de documento do partido a previsão de segundo turno na eleição presidencial.

No fim de semana, o PT discutiu o conteúdo de uma resolução sobre o cenário político. Apresentado pela Fundação Perseu Abramo, vinculada ao PT, e submetido ao comando do partido, o documento previa até ontem, em sua versão original, uma eleição em dois turnos para a Presidência no ano que vem.

O texto precisará ser aprovado pela Executiva do partido e pode sofrer alterações.

"Sabemos ter pela frente um período de intensa luta política e ideológica, incluindo aí dois turnos de eleições presidenciais, para governo, Senado, deputados federais e estaduais", dizia o texto.

Por orientação de Falcão, a expressão será retirada. Segundo ele, a redação não era "prenúncio de que haverá dois turnos", mas a constatação de que "toda eleição majoritária tem dois turnos".

"O texto final não conterá isso. Para ninguém achar que estamos prognosticando eleição em dois turnos, o texto ficará assim: vamos enfrentar o processo eleitoral de 2014', o que é uma obviedade."

Obtido pela Folha, o documento defendia ainda uma reforma ministerial e mudanças na política econômica, além de conter críticas às alianças firmadas pelo governo. O próprio Falcão propôs a inclusão de trechos duros para o governo Dilma, como a previsão de novas manifestações no ano que vem.

Ele rechaça, porém, a ideia de que o texto revele descontentamento dos petistas com a presidente Dilma Rousseff, especialmente depois que ela faltou à reunião de seu partido sob o argumento de que se dedicaria à segurança da visita do papa Francisco ao Rio.visita do papa Francisco ao Rio.

Fonte: Folha de S. Paulo

Serra sonda partidos para disputa em 2014

Tucano conversa com PV, PSD e PTB sobre candidatura à Presidência

Gustavo Uribe

Costura política. Serra negocia apoios e pode mudar de partido este ano

SÃO PAULO - Sem espaço para disputar a sucessão ao Palácio do Planalto em 2014 pelo PSDB, o ex-governador de São Paulo José Serra tem sondado dirigentes de siglas como PV, PSD e PTB sobre a possibilidade de alianças para uma eventual candidatura presidencial. Segundo líderes partidários com os quais o tucano conversou nos últimos dias, ele tem demonstrado animação e interesse pelo cenário eleitoral do ano que vem e não descarta a chance de deixar o PSDB para a disputa nacional.

O fracasso da fusão entre PPS e PMN, para a formação do MD, frustrou as perspectivas de se criar uma janela, na Lei de Fidelidade Partidária, para políticos da base aliada insatisfeitos com o governo da presidente Dilma Rousseff. Isso, porém, não acabou com a possibilidade de uma eventual filiação de Serra ao PPS. Ele tem conversado regularmente com os presidentes do PPS, Roberto Freire, e do PSD, Gilberto Kassab; na última semana, almoçou com o presidente nacional do PV, José Luiz Penna. Um encontro com líderes do PTB em São Paulo é esperado para a próxima semana.

- Ele (Serra) disse que ainda não tem horizonte definido, mas observou com interesse o quadro nacional. Estava animado com possibilidades para 2014 - disse Penna.

PSD não decidiu quem apoiará

No PSDB, a avaliação é a de que Serra só se filiará ao PPS se tiver a certeza do apoio do PSD para uma eventual candidatura à Presidência. O partido do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, ainda que esteja à frente da indicação na Secretaria da Micro e Pequena Empresa, não declarou oficialmente apoio à candidatura de Dilma à reeleição. A chance de o PSD apoiar Serra, na avaliação de líderes nacionais do próprio partido, não é descartada. No entanto, é considerada pequena, mesmo com a perspectiva de queda do desempenho do atual governo nas recentes pesquisas de intenções de voto.

- Até o momento, o nosso apoio à presidente Dilma está fechado, está sacramentado. Não há no partido nenhuma discussão em torno de um outro apoio - disse o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz.

Presença maior em público

Caso continue no PSDB, o ex-governador de São Paulo tem duas opções eleitorais para o ano que vem: a Câmara dos Deputados ou o Senado. Em conversas reservadas, Serra tem recusado essas duas alternativas. Com o naufrágio do MD, o comando tucano considera pouco provável que o ex-governador se arrisque em um voo solo no PPS. Sem uma janela na Lei de Fidelidade Partidária, o diagnóstico é o de que poucos parlamentares colocariam em risco o seu mandato para acompanhar o tucano, o que enfraqueceria uma eventual candidatura ao Palácio do Planalto em 2014.

A avaliação de aliados de Serra é a de que, no atual cenário eleitoral, com a queda da popularidade de Dilma, o ex-governador pode se tornar a principal voz de oposição ao governo federal e, assim, colher dividendos eleitorais. Nesse sentido, além de manter conversas com dirigentes de eventuais siglas aliadas, o tucano tem intensificado aparições públicas.

Semana passada, participou de evento na sede do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), em Bauru. Amanhã, participa de debate sobre política econômica na AGO Associados

Fonte: O Globo

Campos vê 'conotação política' em denúncia

Angela Lacerda

RECIFE - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, provável candidato do PSB à Presidência, acredita que há conotação política na denúncia sobre suspeita de superfaturamento de contratos do seu governo com a empresa ideia Digital, que levou a Polícia Federal a pedir abertura de investigação ao Ministério Público do Estado.

"A primeira preocupação é de esclarecer e não desqualificar, ter a atenção de responder à sociedade com tranqüilidade e com presteza", disse ele, depois de explicar que nada foi provado em relação a Pernambuco. Agora, ninguém aqui é inocente para achar que não tem interesse político", acrescentou. E repetiu: "Ninguém é inocente".

De acordo com a denúncia, publicada pela Folha de S. Paulo, a suspeita é de financiamento ilegal para campanhas do PSB. A Ideia Digital assinou contratos no valor de R$ 77,5 milhões, em 2011 e 2012, para informatizar escolas no Estado.

"A Polícia Federal não fala, não prova, não comprova absolutamente nada em relação a Pernambuco", afirmou Campos em entrevista depois da 6.s.a Reunião da Sociedade Brasileira da Ciência e Tecnologia (SBPC), no campus da Universidade Federal de Pernambuco.

Os recursos saíram do Ministério da Ciência e Tecnologia. Presente ao encontro da SBPC, o então ministro Sérgio Rezende disse que tudo o que assinou "teve parecer técnico e jurídico" e se houve algum problema, "foi com o executor", O atual ministro, Marco Antonio Raupp, não quis falar à imprensa.

Em sua entrevista, o governador disse ainda que o Inquérito "foi lido por advogados do Esta; do e por controladores de carreira. Tudo o que cabia fazer foi feito". Assim que surgiu a suspeita, prosseguiu ele, o governo acionou a Controladoria-Geral do Estado e reteve os cerca de RS 18 milhões ainda não pagos à Ideia Digital. O Tribunal de Contas do Estado também entrou no caso.

Dessa equipe participa o conselheiro João Campos, primo do governador. Este defendeu também o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, também do PSB e suspeito de envolvimento. Para Campos, Coutinho é "homem sério, honrado e de vi: da pública combativa".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Rede, partido de Marina, já tem 100 mil assinaturas válidas

Flávia Pierry

BRASÍLIA - A ex-senadora Marina Silva trava uma corrida contra o tempo para conseguir registrar seu partido, a Rede Sustentabilidade, dentro do prazo que lhe permitirá concorrer nas eleições do ano que vem. O grupo divulgou ontem que já conta com cem mil assinaturas conferidas pelos cartórios eleitorais, mas precisa de pelo menos 500 mil apoios confirmados para dar entrada no pedido de registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A Rede terá de se apressar: o processo deve ser concluído até 4 de outubro para que Marina possa se candidatar à Presidência em 2014.

Para o advogado eleitoral Torquato Jardim, ex-ministro do TSE, a Rede tem de cinco a seis semanas para entregar as assinaturas conferidas ao TSE, que precisa de mais algumas semanas para concluir o processo. Segundo a Rede, foram coletadas cerca de 800 mil assinaturas, mas nem todas foram distribuídas aos cartórios do país para conferência.

Pela lei 9.096/95, a Rede tem até a terceira semana de agosto para levar a documentação completa ao TSE. Quando recebe as certidões de validade das assinaturas, com a ata de criação do partido e o estatuto, o TSE tem 48 horas para enviar o processo a um relator, que consulta o Ministério Público. Outro prazo começa a correr: o de dez dias para o MP pedir dados para sanar possíveis falhas. Depois que o MP devolver o processo, o TSE ainda tem 30 dias para conclui-lo.

Até 30% dos apoios devem ser recusados, estima sigla

Mesmo tendo confirmado apenas um quinto dos apoiadores que a lei determina para poder constituir um novo partido, a Rede acredita que conseguirá reconhecimento, pelos cartórios, dos 500 mil eleitores necessários, pelo menos, para a legenda ser criada ainda este ano. Foram coletadas cerca de 300 mil assinaturas a mais do que define a lei, para garantir que, mesmo que entre 25% a 30% de apoiadores da Rede sejam recusados pelos cartórios, como estimam os próprios organizadores da legenda, o partido possa ser instituído.

Marina Silva tem dito que a prioridade é criar o partido, e não garantir que ela seja candidata em 2014. Se a Rede não for criada a tempo, a especulação é que ela poderá concorrer por outra legenda.

O advogado José Gerardo Grossi, ex-ministro do TSE, também avalia que o prazo que a Rede dispõe para ter todas as assinaturas verificadas é curto, mas ressalta que a maioria dos cartórios eleitorais já está com o processo digitalizado, o que facilita a checagem.

- Tem sido rápido examinar isso, quando não há diligências, que geralmente são pedidas para reconhecer firmas, cobrar documentos. Vai depender da agilidade da Rede. Se montar esquema de trabalho ágil, certamente dará tempo, os cartórios são bem rápidos hoje - afirma o advogado. - Não é fácil chegar a registrar um partido. Depende muito de pessoas trabalhando nos cartórios e no partido em formação.

Fonte: O Globo

Eles estão de brincadeira - Marco Antonio Villa

No já histórico junho de 2013, as ruas foram ocupadas pelos cidadãos. Foi um grito contra tudo que está aí. Contra os corruptos, contra os gastos abusivos da Copa do Mundo, contra a impunidade, contra a péssima gestão dos serviços públicos, contra a violência, contra os partidos políticos.

Dois poderes acabaram concentrando a indignação popular: o Executivo e o Legislativo. Contudo, o Judiciário deve ser acrescido às vinhas da ira.

Neste mesmo espaço, em 13 de dezembro de 2011, escrevi um artigo ("Triste Judiciário") tratando do Superior Tribunal de Justiça, o autointitulado tribunal da cidadania.

Um ano e meio depois resolvi consultar o site do tribunal (www.stj.jus.br) para ver se tinha ocorrido alguma modificação nas mazelas que apontei. Para minha surpresa, tudo continua absolutamente igual ou, em alguns casos, pior.

Busquei inicialmente o número de cargos. Vi uma boa notícia. Eram 2.741 em 2012 e em 2013 tinha diminuído para&. 2.740. Um funcionário a menos pode não ser nada, mas já é um avanço para os padrões brasileiros. Porém, ao consultar as funções de confiança, observei que nos mesmos anos tinham saltado de 1.448 para 1.517.

Fui pesquisar a folha dos funcionários terceirizados. São 98 páginas. Mais de 1.550 funcionários! E tem de tudo um pouco. São 33 garçons e 56 copeiras. Afinal, suas excelências têm um trabalho desgastante e precisam repor as energias. No STJ ninguém gosta de escadas. É a mais pura verdade. São 34 ascensoristas: haja elevadores! Só de vigilantes - terceirizados, registre-se - são 264. Por ironia, a empresa contratada chama-se Esparta. E se somarmos os terceirizados mais os efetivos, teremos muito mais dos que os 300 espartanos que acompanharam Leônidas até as Termópilas, longe, evidentemente, de comparar suas excelências com o heroísmo dos lacedemônios.

Resolvi consultar a folha de pagamentos de junho. Fiquei só na letra A. Não por preguiça. É que preciso trabalhar para pagar os impostos que sustentam os salários das suas excelências.

Será que o tribunal foi isento da aplicação do teto constitucional? Dos cinco ministros que abrem a lista, todos recebem salários acima do que é permitido legalmente.

Vamos aos números: Antonio Carlos Ferreira recebeu R$ 59.006,92; Antonio Herman de Vasconcelos e Benjamin, R$ 36.251,77; Ari Pargendler, R$ 39.251,77; Arnaldo Esteves Lima, R$ 39.183,96; e Assusete Dumont Reis Magalhães, R$ 39.183,96. Da lista completa dos ministros, a bem da verdade, o recordista em junho é José de Castro Meira com o módico salário de R$ 63.520,10. Os ministros aposentados também recebem acima do teto. Paulo Medina, que foi aposentado em meio a acusações gravíssimas, recebeu R$ 29.472,49.

O STJ revogou o artigo 5º da Constituição? Ou alterou a redação para: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, exceto os ministros do STJ"?

O tribunal é pródigo, com o nosso dinheiro, claro. Através do que chama de aviso de desfazimento, faz doações. Só em 2013 foram doados dezenas de veículos supostamente em estado "antieconômico." Assim como refrigeradores, mobiliário, televisores e material de informática. É o STJ da felicidade. Também, numerário não falta. Para 2013 o orçamento é de 1 bilhão de reais. E estamos falando apenas de um tribunal. Só para pagamento de pessoal e de encargos sociais estão alocados 700 milhões. Sempre pródiga, a direção do STJ reservou para a contribuição patronal da seguridade social dos seus servidores a módica quantia de 100 milhões (mais que necessário, pois há servidores inativos recebendo R$ 28.000,00, e pensionistas com R$ 35.000,00).

O tribunal tem 166 veículos (dos quais 20 são ônibus). Por que tantos veículos? São necessários para o trabalho dos ministros? Os gastos nababescos são uma triste característica do STJ. Só de auxílio-alimentação serão destinados R$ 24.360.000,00; para assistência médica aos ministros e servidores foram previstos R$ 75.797.360,00; e à assistência pré-escolar foram alocados R$ 4.604.688,00. À simples implantação de um sistema de informação jurisdicional foi destinada a fabulosa quantia de R$ 22.054.920,00. E, suprema ironia, para comunicação e divulgação institucional, o STJ vai destinar este ano R$ 14.540.000,00.

A máquina do tribunal tem de funcionar. E comprar. Em um edital (e só consultei os meses de junho e julho) foram adquiridos 1.224 copos. Noutro, por R$ 11.489,00, foi contratada uma empresa de eventos musicais. Estranhamente foram adquiridos 180 blocos para receituário médico, 50 blocos para ficha odontológica e 60 pacotes - cada um com 100 unidades - de papel grau cirúrgico (é um tribunal ou um hospital?).

É difícil entender a aquisição de 115 luminárias de uma só vez, a menos que o prédio do tribunal estivesse às escuras. Pensando na limpeza dos veículos foram adquiridas em julho 70 latas de cera para polimento. Tapetes personalizados (o que é um tapete personalizado?) custaram R$ 10.715,00 e de uma vez compraram 31 estiletes.

Não entendi, sinceramente, a razão de adquirir 3.360 frascos de 1.000 ml cada de álcool. E o cronômetro digital a R$ 1.690,00? Mas, como ninguém é de ferro, foi contratada para prestar serviço ao STJ a International Stress Manegement Association.

Mas, leitor, fique tranquilo. O STJ tem "gestão estratégica". De acordo com o site, o tribunal "concentra esforços na otimização dos processos de trabalho e na gestão da qualidade, como práticas voltadas à melhoria da performance institucional e consequentemente satisfação da sociedade". Satisfação da sociedade? Estão de brincadeira.

Marco Antonio Villa é historiador e professor da Universidade federal de São Carlos (SP).

Fonte: O Globo

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo

O Papa e o poder
Foram momentos em que a agenda positiva se impôs aos fatos negativos das últimas semanas no Rio de Janeiro, os três encontros entre a presidente Dilma Rousseff e o papa Francisco. Primeiro, ao recepcioná-lo na Base Aérea do Galeão; depois, na cerimônia de boas vindas no Palácio Guanabara, a sede do governo fluminense; finalmente, a conversa a sós, de 15 minutos, cujo verdadeiro teor vale por uma confissão. Apesar do sucesso da agenda oficial, transmitida em tempo real, foi gritante a distância entre o poder e o povo carioca, que foi às ruas para receber Francisco.

O chefe da Igreja Católica primou pela austeridade, pela simplicidade e pela simpatia. No trajeto entre o aeroporto e a Catedral Metropolitana, deixou aberto o vidro do carro e acenou para a multidão. Seus seguranças quase foram à loucura quando a comitiva papal foi cercada pela muldidão na avenida Presidente Vargas, situação imprevista. O desfile de papamóvel pelas ruas do centro foi consagrador, como já era esperado. Não houve qualquer cena de violência.

A recepção no Palácio Guanabara, porém, só não foi gelada por causa da emoção que o papa Francisco despertou entre os familiares das autoridades presentes. Estavam lá os principais ministros de Dilma Rousseff, alguns governadores e representantes do clero; os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN); o governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB) e o prefeito carioca Eduardo Paes (PMDB). Nunca estiveram tão próximos do papa e tão longe de seu rebanho.

Protestos
O mesmo grupo que azucrinou o governador Sérgio Cabral nas últimas semanas, inclusive acampando em frente ao seu apartamento no Leblon, patrocinou um protesto nas imediações do Palácio Guanabara, cuja segurança foi muito reforçada. O grupo queimou um boneco do governador após a cerimônia oficial de boas vindas; depois, o pau comeu. Um “beijaço” também foi patrocinado pelos grupos LGBT, reivindicando os direitos dos homossexuais, nas escadarias da igreja de Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado.

Reforma// A bronca da presidente Dilma Rousseff com o PMDB na Câmara deve aumentar. O líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), resolveu encampar a proposta de emenda constitucional (PEC) da bancada do PMDB que limita em 25 o número de ministérios. Do jeito que a coisa vai, o governo corre o risco de ver a PEC aprovada.

Irmã Dulce
O governador Jaques Wagner (foto) aproveitou a visita do papa Francisco para levar uma mensagem de paz e fraternidade dos baianos ao novo pontífice e solicitar um encontro com ele, no Vaticano. Wagner deseja reforçar os apelos dos baianos para que a irmã Dulce seja santificada.

Pensando bem
Caiu a ficha da cúpula do PT em relação à resolução do diretório nacional aprovada sábado, que responsabiliza os aliados pela “putrefação” da política brasileira e apoia a redução do número de ministérios. Obviamente, mirou os ministros dos partidos aliados que julga apodrecidos: PMDB, PP, PR, etc. O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) e os capa-pretas Valter Pomar e Carlos Árabe estão reescrevendo o documento para publicação oficial.

Diálogo
O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), e o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), saíram em defesa da permanência do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) como coordenador do grupo de trabalho encarregado de elaborar uma proposta de reforma política. Argumentam que o ex-líder do governo dialoga com todas forças políticas, pré-condição para o sucesso na empreitada. Vaccarezza foi desautorizado a falar em nome do PT pelo líder da bancada, José Guimarães (PT-CE).

Em queda
O clero brasileiro vê a visita do papa Francisco como uma oportunidade de aumentar o número de fiéis, em queda no Brasil. Segundo pesquisa DataFolha, eram 75%, em 1994; e 64%, em 2007. Agora, o número de católicos caiu para 57%

Contraponto
A divulgação do balanço do Bradesco, ontem, serviu de contraponto aos humores do mercado. O lucro cresceu, a inadimplência caiu, o crédito subiu e a ação do banco teve alta de mais de 4%. Presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco Cappi (foto) comemorou: “O cenário é benigno para o segundo semestre”. Segundo ele, as pessoas continuam com seu principal ativo: o emprego. E o governo conseguiu absorver a turbulência externa.

Acordo final/ O governo da Colômbia e a guerrilha das Farc adiaram para 28 de julho a retomada de negociações de paz em Havana, que inicialmente começaria no dia 22. O xis da questão é a participação dos guerrilheiros, após a deposição das armas, nas eleições colombianas.

Saúde/ A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) limitou em 9,04% o índice máximo de reajuste para os planos de saúde médico-hospitalares, individuais e familiares, contratados a partir de janeiro de 1999 ou adaptados à Lei 9.656/98. O teto vale, retroativamente, para o período entre maio de 2013 e abril de 2014. A medida atinge diretamente 8,4 milhões de pessoas.

Azebudsman/ Na coluna de domingo, paulistano da gema, errei de gaúcho: o Palácio Guanabara fica na avenida Pinheiro Machado, em Laranjeiras, e não Borges de Medeiros, que fica na Lagoa. Ambos foram políticos notáveis da República Velha.

Fonte: Correio Braziliense

Panorama Político - Ilimar Franco

Pingo nos is
A minoria, segundo o líder do PT, José Guimarães (CE), está vendendo uma versão: que a bancada não apoia Cândido Vaccarezza (SP), coordenador da reforma política. Explica que a nota do partido nunca foi contra o Vaccarezza. "O que fizemos pode ser comparado a dizer que o Arlindo Chinaglia é o líder do governo, mas quem fala pelo PT sou eu", afirma Guimarães.

A segurança do Papa Francisco
Foram carregadas de alguma tensão as reuniões prévias à chegada do Papa Francisco, ontem no Rio. O Vaticano e o Ministério da Justiça tiveram conversas duras sobre segurança. O governo insistiu no uso de veículos blindados. Mas os emissários do Vaticano rejeitaram, pois o desejo do Papa era ter contato com os fiéis, como ocorreu ontem. Vencido, o representante do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) afirmou que as autoridades brasileiras não poderiam se responsabilizar por essa atitude. Os negociadores do Papa mataram no peito e garantiram que eles assumiriam os riscos. O mais importante era respeitar a vontade do Papa Francisco.

"Entendo o sofrimento do Nordeste e a religiosidade de sua população"
Papa Francisco
Ao receber documento pela reabilitação do vaticano do padre Cícero, que lhe foi entregue pelo líder do PT, José Guimarães (CE)

O pacto
A despeito de estarem disputando quem vai enfrentar a presidente Dilma no segundo turno, os candidatos Aécio Neves (PSDB), Marina Silva (Rede) e Eduardo Campos (PSB) fizeram um pacto de não agressão.

Dá a volta por cima
O ex-senador tucano Tasso Jereissati voltaria ao Senado, em 2014, conforme pesquisa Ibope. Ele tem 43% das intenções de voto, contra 19% do senador Inácio Arruda (PCdoB) e do trabalhista Heitor Ferrer. Para o governo, o senador Eunício Oliveira (PMDB) chega a 50%. O secretário Mauro Filho (PSB) tem 16% e o ministro Leônidas Cristino (PSB), 10%.

Nas mãos de Kassab
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, que foi prefeito de São Paulo graças a José Serra, está com o destino do tucano nas mãos. Serra só se viabiliza candidato à Presidência, no ano que vem, se tiver o apoio do partido de Kassab.

Duas táticas da social-democracia
A ala esquerda do PT critica a presidente Dilma por ela ter agregado setores além da base social do ex-presidente Lula. Criticam as gestões de Eleonora Menicucci (Mulheres) e Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário), alegando que o governo deixou de lado esses segmentos para ter o apoio de evangélicos e ruralistas. Cobram ainda que a presidente Dilma se reaproxime do partido.

Fogo amigo
A oposição não está só. Há gente no PT criticando os resultados práticos dos anúncios do governo Dilma logo após o início das manifestações. A avaliação é que foi feita "muita espuma", e nada ainda foi entregue de fato.

Batido o martelo
O novo secretário-executivo do Ministério do Turismo será Sérgio Brauner, atual chefe de gabinete do ministro Gastão Vieira. O primeiro cogitado, Fábio Motta, foi mantido numa das secretarias da pasta, a pedido do PMDB da Bahia.

O principal dirigente
do PCB no estado do Rio na ditadura, Antônio Ribeiro Granja, será homenageado pelos seus 100 anos sábado, em Vitória.

Fonte: O Globo

Painel - Vera Magalhães

Desconfiança mútua

Pesaram na decisão de Dilma Rousseff de não comparecer à reunião do Diretório Nacional do PT no último sábado as pressões escancaradas do partido por mudanças no governo, sobretudo na articulação política. A avaliação do Planalto é que, mesmo depois de a presidente ter feito gestos na direção do partido, como receber a bancada, não cessou o coro interno de "volta Lula''. O tom da resolução do PT com críticas ao governo confirmou a apreensão de auxiliares da presidente.

Trégua Para contrabalançar a ausência, Dilma irá à etapa de Salvador das comemorações dos dez anos do partido no poder, na quarta-feira. Estará ao lado de Lula.

Alvo... Além das críticas à economia, dirigentes petistas voltaram a atacar a gestão de Paulo Bernardo (Comunicações). O PT defende debate sobre a regulação do setor.

...móvel Na cúpula do partido, no entanto, a ordem é evitar críticas abertas a nomes específicos do governo e apenas sugerir mudanças gerais, justamente para não aumentar a tensão com Dilma.

Conjunto... Na falta de nomes para o lugar de Ideli Salvatti, o PT lista Ricardo Berzoini, um dos deputados mais incisivos nas críticas ao governo, e até o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

... vazio Além de estar às voltas com o ambicioso e polêmico Mais Médicos e de ser cotado ao governo de São Paulo, Padilha dificilmente deixaria a pasta com maior orçamento da Esplanada para voltar a outra que já ocupou.

Vai... A assessoria técnica da presidência do TSE redigiu parecer em que declara que a fusão de dois partidos não configura a criação de nova sigla. Portanto, a legenda não teria direito a fundo partidário e tempo de TV dos deputados que se filiarem a ela.

...e vem O parecer desanima dirigentes do PPS, que tentam fusão com o PMN, mas não é definitivo. O ministro Dias Toffoli pode adotá-lo ou não ao responder à consulta sobre o tema.

Prévias A aliados, Geraldo Alckmin disse acreditar que José Serra deveria continuar no PSDB e disputar com Aécio Neves a indicação do partido para a Presidência.

Tensão... De olho no percurso do papa na chegada ao Rio, José Eduardo Cardozo (Justiça) demonstrava tensão cada vez que o papamóvel parava e Francisco colocava o corpo para fora para beijar crianças. "Ainda bem que ele não desceu", desabafou.

...máxima Desde anteontem no Rio, Cardozo e outros ministros acompanharam parte do cortejo pela TV no Palácio Guanabara. Todos estavam preocupados com a segurança do papa.

Tudo na... Quem acompanhou a solenidade de recepção ao papa classificou como "pura distração'' Joaquim Barbosa não ter apertado a mão de Dilma após cumprimentar o pontífice.

... santa paz O presidente do STF já havia falado com a petista antes, na presença de Sérgio Cabral, enquanto aguardavam Francisco chegar ao Palácio Guanabara.

Formação O ministro Guilherme Afif Domingos discute a elaboração de projeto que inclui as micro e pequenas empresas na lei que determina que companhias tenham em seus quadros de 5% a 15% de aprendizes.

Visita à Folha Claudio Yukio Miyake, presidente do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Marco Antônio Manfredini, secretário-geral do CRO-SP, Rubens Figueiredo, consultor, e Chico Damaso, assessor de imprensa.

Tiroteio

"Lanço um desafio a quem me acusa: se existem milicianos ligados a mim nos protestos, que apresentem fotos e nomes."DO DEPUTADO ANTHONY GAROTINHO (PR-RJ), sobre a acusação feita por adversários de que ex-policiais ligados a ele estão nas manifestações do Rio.

Contraponto

#SaiDaRua

Há cerca de um mês, quando os protestos em todo o país estavam no auge, o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), recebeu pedido de audiência de um grupo de moradores de ruas. O pedetista convocou os secretários das áreas sociais para receber a comissão.

--E então, qual a reivindicação de vocês?

--Queríamos reclamar dos manifestantes --disse o representante do grupo de dez moradores de rua.

Diante da perplexidade dos políticos, que esperavam uma lista de pedidos, o porta-voz continuou:

--Estão fazendo muito barulho. Só queremos dormir...

Com Andréia Sadi e Bruno Boghossian

Fonte: Folha de S. Paulo

Proselitismo religioso - Merval Pereira

Pelo menos no seu primeiro pronunciamento em solo brasileiro, o Papa Francisco não deu margem à politização de sua mensagem, como esperavam o governo brasileiro e os católicos ligados à Teologia da Libertação. Ao contrário da presidente Dilma, que aproveitou a ocasião para fazer um discurso de cunho eminentemente político, com autoelogios aos 10 anos de governo do PT, o Papa ateve-se à exaltação da força dos jovens, tema específico da Jornada Mundial da Juventude: "Cristo bota fé nos jovens e confia-lhes o futuro e sua própria casa. E também os jovens botam fé em Cristo", garantiu o Papa na cerimônia de boas-vindas no Palácio Guanabara.

Enquanto o Papa discursou por apenas 15 minutos, a presidente Dilma levou o dobro do tempo para dar um tom político claramente fora de hora. Como que esperando que o Papa fosse se referir aos recentes protestos ocorridos pelo país, Dilma tratou de se justificar, repetindo a tese de Lula, que atribuiu os protestos aos sucessos dos governos petistas: "Democracia gera desejo de mais democracia. E inclusão social provoca cobrança de mais inclusão social. Qualidade de vida desperta anseios por mais qualidade de vida. Para nós, todos os avanços que conquistamos são só um começo", disse a presidente.

Ela afirmou que a juventude brasileira clama por mais direitos sociais. "Mais Educação, melhor Saúde, mobilidade urbana, Segurança, qualidade de vida na cidade e no campo". Na parte mais diretamente partidarizada, a presidente Dilma afirmou ainda que o Brasil "se orgulha de ter alcançado extraordinários resultados nos últimos dez anos na redução da pobreza. Fizemos muito e sabemos que ainda há muito a ser feito."

O Papa Francisco, que em outras oportunidades tratou de temas como a desigualdade e a necessidade de haver melhor distribuição de renda, estava a fim de falar apenas do seu objetivo central, que é a arregimentação da juventude para o catolicismo: "Cristo abre espaço para eles, pois sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende do coração dos jovens", afirmou em seu discurso.

Como já havia feito na sua chegada ao Rio, quando se arriscou, sem perder o bom humor, no contato físico com o povo que cercou seu automóvel, o Papa Francisco fez questão de reafirmar a busca do despojamento ao destacar que não trazia "nem ouro nem prata, mas apenas Jesus Cristo".

Como se quisesse acentuar sua preocupação com o aspecto religioso de sua visita, ele garantiu que depois de amanhã pedirá por todos os brasileiros a Nossa Senhora Aparecida, "invocando sua proteção materna sobre seus lares e famílias".

Num país em que a Igreja Católica já foi hegemônica e hoje é amplamente majoritária, mas onde o pluralismo religioso vem se consolidando, com o crescimento dos evangélicos, o Papa parece mais empenhado em aproximar os jovens da religião, num proselitismo mais religioso que político.

O professor Cesar Romero Jacob, diretor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, lançou recentemente o e-book "Religião e Território no Brasil: 1991/2010", da Editora da PUC, que mostra que a Igreja Católica perdeu 24 pontos percentuais em 30 anos, quando o número de católicos caiu de 89% da população para 65%.

Provavelmente, o Papa Francisco terá ocasião, em sua visita ao país, de abordar temas como transparência na Igreja Católica e na política, globalização, opção preferencial pelos pobres, diálogo com os não crentes e ateus, que o aproximam da Igreja da América Latina. Mas, assim como é muito crítico a uma "civilização consumista, hedonista, narcisista", com "pessoas descartáveis", ele também tem uma visão crítica da política atual: "Algo aconteceu com nossa política, ficou defasada em relação às ideias, às propostas... As ideias saíram das plataformas políticas para a estética. Hoje, importa mais a imagem que o que se propõe. (...) Saímos do essencial para o estético, endeusamos a estatística e o marketing".

Fonte: O Globo

Evangelho social - Tereza Cruvinel

No Brasil, sob os olhos do mundo, o papa Francisco poderá lançar o seu "evangelho social", ao falar para mais de um milhão de jovens católicos e seis mil jornalistas credenciados

A imprensa européia vem prevendo que, em sua passagem pelo Brasil, o papa Francisco lançará seu “evangelho social”, uma espécie de programa de governo para o seu pontificado, iniciado em março. Seu conciso discurso de chegada, entretanto, foi muito focado na importância do resgate da juventude para a fé, embora tenha referido-se à pobreza e à desigualdade, temas da saudação da presidente Dilma Rousseff. Mas a semana do papa no Brasil está apenas começando, com toda a carga de expectativas que desperta em relação ao futuro da Igreja. Lateralmente, virão os reflexos sobre a nossa política interna.

Francisco não escolheu o Brasil como plataforma para esta esperada apresentação de diretrizes, como ele mesmo destacou. Veio para participar da Jornada Mundial da Juventude, o que nem sempre seus antecessores fizeram. A decisão de comparecer pessoalmente ao evento, em sua edição em um país de seu continente de origem, marcado ainda pela pobreza e a exclusão, foi um sinal que ele emitiu logo depois da posse, dizem os vaticanistas. No Brasil, ele falará a seis mil jornalistas credenciados para cobrir a viagem, e a mais de um milhão de jovens, de diversos países, que participarão da Jornada. “A partir do Brasil, ele falará a todas as periferias abandonadas e humilhadas do planeta”, registrou o periódico espanhol El País. Proliferam, mundo afora, as comparações de viagem de Francisco ao Brasil com a de Carol Wojtyla/João Paulo II à sua Polônia natal, quando o regime comunista mal começava a dar sinais de exaustão, e sua presença foi um empurrão a mais na derrocada.

As expectativas aqui não são muito diferentes, chegando o teólogo Leonard Boff a prever que a passagem de Francisco pelo Brasil demarcará mais claramente a “ruptura” que ele representará para a Igreja. É razoável esperar isso de quem se apresenta como sendo apenas “o bispo de Roma”, condenando “a tirania do dinheiro” e a “globalização da indiferença”.

Ontem, afora os improvisos no trajeto pelo centro do Rio, tudo transcorreu dentro da normalidade e do esperado. Até mesmo seu destemor, ao manter o vidro aberto quando cercado por fiéis ansiosos para tocá-lo. E o forte toque pastoral do discurso, no qual se destaca a tirada simpática: “Cristo bota fé nos jovens”. Agora, começa a semana que pode ser histórica para a Igreja.

Dilma e Francisco

Em março, quando Jorge Mario Bergoglio, cardeal de Buenos Aires, foi eleito para suceder a Ratzinger/Bento XVI, a presidente Dilma Rousseff foi uma das primeiras governantes do mundo a confirmar presença na missa solene da posse, em Roma. Para isso, cancelou viagens domésticas e adiou mudanças no ministério. Levou-lhe azulejos de Athos Bulcão, com o símbolo do Divino Espírito Santo, e ganhou um não protocolar beijo na face. Como ontem.

Naquela época, registramos aqui a sua disposição de buscar um novo relacionamento com a Igreja. Ela já decidira oferecer todo o apoio logístico do governo para a realização da Jornada Mundial da Juventude. Queria deixar para trás os atritos ocorridos em 2010. Naquelas eleições, Dilma tinha o apoio de progressistas como Dom Tomás Balduino e Dom Demétrio, mas os conservadores, liderados pelo paulista Nelson Westrupp, chegaram a lançar um manifesto enumerando atos do PT a favor do aborto e condenando sua candidatura. Alguns padres pregaram contra ela nas missas, por conta das antigas declarações relacionadas ao aborto, questão levada ao próprio Bento XVI por bispos do Maranhão. Isso contribuiu muito para que ela não fosse vitoriosa no primeiro turno.

Agora, porém, os problemas de Dilma são de outra natureza. O que ela enfrenta é a corrosão da popularidade, depois das manifestações de rua criticando os políticos e cobrando qualidade nos serviços públicos. Ela não deixou de se referir a eles, na saudação de ontem ao papa, destacando os justos anseios da juventude por uma vida melhor. Seu discurso foi uma proposta de aliança, entre o governo e a Igreja, para ampliar as ações de combate à pobreza e à desigualdade. Destacou as mudanças sociais inclusivas, sintonizadas com o evangelho, ocorridas a partir do governo Lula, reconhecendo porém que “ainda há muito a ser feito”. Especulou sobre o poder da Igreja para conferir prioridade planetária às políticas contra a pobreza. Um discurso de dois endereços, voltado para a própria Igreja e também para a juventude insatisfeita e rebelde que puxou os protestos e fez a popularidade dela despencar.

As diferenças entre o governo e a Igreja não vão desaparecer e a aliança proposta pode não se concretizar. Mas é bastante provável que Dilma já tenha conseguido, pelo menos, neutralizar as resistências que enfrentou em 2010, e a indiferença da cúpula episcopal brasileira aos radicais conservadores que lhe atacaram tão duramente. Já será um enorme ganho, diante das novas dificuldades que surgiram no caminho dela.

Ainda o IBOPE

A corrosão das intenções de voto da presidente Dilma e a supremacia do ex-presidente Lula sobre todos os candidatos já haviam sido revelados. A novidade da pesquisa IBOPE/Estado de São Paulo, divulgada na semana passada, foi o crescimento acentuado de Marina Silva, que alcançou até mesmo um empate técnico com Dilma, em uma simulação de segundo turno. Outra, o crescimento dos que, hoje, votariam em branco ou nulo, somando 19%. Esses são sinais de que o eleitorado está procurando novidades e está disposto a experimentar. Por isso mesmo, no meio político já se aposta em uma eleição com grande número de candidatos. Não tantos como em 1989, quando 22 se inscreveram, mas bem mais que os três ou quatro efetivamente competitivos dos pleitos seguintes.

Fonte: Correio Braziliense

Mundo da Lua - Dora Kramer

O grande tema que emergiu da reunião do Diretório Nacional do PT realizado no fim de semana, em Brasília, não foi a "renovação profunda" proposta dias antes pelo comandante em chefe da tropa, Luiz Inácio da Silva.

O assunto foi uma briga da bancada na Câmara dos Deputados e a aprovação de um documento que repetia sugestão feita pelo PMDB sobre mudanças no Ministério e na política econômica.

Do ponto de vista do que vem acontecendo no Brasil, da virada do processo eleitoral de 2014 de cabeça para baixo, dos problemas que o partido no poder tem para resolver e os desafios que precisa enfrentar, uma reunião pífia, desconectada da realidade.

Neste aspecto, fez bem a presidente Dilma Rousseff de não comparecer ao encontro a pretexto de ter mais o que fazer em reunião de trabalho para tratar da visita do papa Francisco. Passou o recado de que o momento é de dar mais atenção ao País que ao partido, não se contaminou com divisões internas e evitou ser fotografada com José Dirceu, que lá estava.

O PT engalfinhou-se na irrelevante questão: a presença de Cândido Vaccarezza no comando da comissão que vai elaborar proposta de reforma política porque não "representa" a bancada devido à sua proximidade com o PMDB. No fim, foi indicado Ricardo Berzoini como o representante do pensamento do partido sobre a reforma.

Sim, Berzoini. O mesmo que presidia o PT na época em que petistas foram presos com dinheiro para comprar um dossiê contra o tucano José Serra e foi apontado pelo então presidente Lula como responsável pela contratação dos por ele chamados de "aloprados".

Para a bancada petista na Câmara esse deputado "representa" o partido que não vê nada demais em dizer isso no momento de intenso questionamento externo e nenhuma autocrítica interna. No lugar de "reformulação profunda", o que se tem é a renovação do visto de permanência dos petistas no mundo da Lua.

Gabeira. Os partidos o têm procurado, o mundo político muito tem especulado sobre a possibilidade de uma candidatura de Fernando Gabeira ao governo do Rio, mas ele manterá afastado de si esse cálice.

Cético quanto à hipótese de se realizarem mudanças de fundo nos meios e modos de governar, Gabeira prefere se manter no rumo da volta ao jornalismo a se comprometer com esse ou aquele partido, cujas estruturas estão "ancoradas no século passado".

Pretende, sim, ajudar a oposição tanto no plano estadual quanto local, mas acha que pode dar maior contribuição na retaguarda analítica escrevendo artigos, fazendo palestras e reportagens sobre a complicada cena brasileira.

Aprendiz. Quando apareceu na sexta-feira passada para falar brevemente sobre o quebra-quebra que se seguiu aos protestos nas cercanias do edifício onde mora no Leblon, o governador Sérgio Cabral referiu-se ao "aprendizado" do poder público no trato desse tipo de situação.

Incorreu numa inversão de valor: governantes não têm que usar o governo para "aprender"; candidatos é que precisam estar suficientemente preparados para, uma vez eleitos, enfrentar os problemas e oferecer soluções.

O uso abusivo do marketing nas campanhas esconde defeitos, ressalta qualidades inexistentes e dificulta a avaliação correta por parte do eleitor.

De outro lado, o deslumbramento com as facilidades do poder leva boas ações de governo a se perderem nos desvãos do mau comportamento de governantes.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Discurso errado na hora errada - Eliane Cantanhêde

O encontro com o papa Francisco no Rio foi a grande chance de Dilma Rousseff aparecer bem desde que a economia derrubou 8 pontos de sua popularidade e as manifestações lhe roubaram outros 27. No mínimo, ela ganhou uma excelente foto, num dia em que as pessoas foram às ruas felizes por receber o papa --e não só para reclamar.

Nesse momento de profunda descrença nos partidos e muita crença na chegada de um papa que simboliza ruptura e humildade, o contraste só pode ter sido proposital: com o mesmo voluntarismo de sempre, Dilma não foi à reunião do diretório do PT por um motivo pueril, numa clara provocação, e foi ao papa com um discurso político e fora de lugar.

Digamos que Francisco foi Francisco, Dilma foi Dilma. Um foi o papa despretensioso, que dispensa ouro, capas de veludo e pompas para se colocar cada vez mais próximo do povo. A outra foi a presidente de expressão arrogante, num momento em que está acuada, precisa se justificar e luta bravamente para recuperar a popularidade perdida.

Enquanto a fala do papa foi essencialmente religiosa e despojada, num português agradável e cheia de adjetivos gentis para o Brasil e para os jovens, Dilma recorreu a todos os chavões lulistas, enalteceu as mudanças "que inauguramos dez anos atrás" e amplificou a versão de Lula no "New York Times", definindo as manifestações que atingiram em cheio seus índices nas pesquisas não como a derrota que foi, mas como uma vitória sua e de Lula.

No discurso da presidente, pulularam autoelogios ao Brasil e à era petista, além de chavões de palanque: direitos, justiça social, solidariedade, fome, desigualdade, ética, transparência. Eis a dúvida: para quem Dilma estava falando? Para o papa ou para o eleitor? Para o milhão e meio da Jornada Mundial da Juventude ou para o milhão e meio de pessoas nas ruas exigindo dignidade, fim da corrupção, serviços decentes?

Valeu pela foto, não pela fala.

Fonte: Folha de S. Paulo

Sucessão sem um nome de São Paulo - Raymundo Costa

A menos que José Serra entre no páreo, a eleição de 2014 será a primeira, desde o restabelecimento das diretas em 1989, sem um candidato de São Paulo na disputa. Com seus 31 milhões de eleitores, São Paulo pode fazer a diferença, sobretudo se for rompida a polarização PT-PSDB que marcou as últimas eleições. Serra certamente está fazendo esta conta, se é que já não a fez.

Desde Júlio Prestes, na revolução de 1930, São Paulo não elege um paulista para a Presidência. O último foi Rodrigues Alves, e não por acaso uma gigantesco óleo do ex-presidente ocupa espaço imponente num dos salões do Palácio dos Bandeirantes. Mas sempre apresentou um nome com algum simbolismo das transformações pelas quais passou o maior Estado do país, como viriam a ser Jânio Quadros, que era de Mato Grosso, o carioca Fernando Henrique Cardoso e o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva.

Na eleição de 1989 havia 22 candidatos, sendo cinco de São Paulo. Todos se mostraram mais ou menos competitivos. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Mario Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS), Guilherme Afif Domingos (PL) e Ulysses Guimarães. Passou para o segundo turno com Fernando Collor de Mello o pernambucano Lula da Silva, líder dos metalúrgicos do ABC.

Serra e Alckmin dominam São Paulo nos anos 2000

Nas preliminares, as referências eram Ulysses Guimarães, presidente do PMDB, e Aureliano Chaves, do PFL, as duas siglas responsáveis pela transição democrática. Covas e Afif Domingos tiveram seus momentos, ao longo da disputa, que, afinal, elegeu Collor e Lula para o segundo turno. Cerca de 450 mil votos, em relação a Lula, tiraram Leonel Brizola, um dos favoritos no início da eleição, do segundo turno. O desempenho de Brizola, em São Paulo, foi pífio.

Na eleição seguinte, depois do impeachment de Collor e da breve passagem de Itamar Franco pela Presidência, dois candidatos de São Paulo: Fernando Henrique Cardoso e, novamente, Lula. FHC levou no primeiro turno, impulsionado pelo fim da superinflação e do início da estabilidade propiciada pelo Plano Real.

A campanha de 1994 representou também o fim do outrora poderoso PMDB paulista e da bandeira desenvolvimentista erguida por Orestes Quércia naquela eleição. Quércia teve 2,7 milhões de votos e ficou abaixo de outro candidato de São Paulo, o folclórico Enéas Carneiro, do Prona, que teve 4,6 milhões de votos. Fernando Henrique fez um governo de reformas com o fim de monopólios e abertura da economia, a agenda prometida mas não cumprida de Collor.

Reformou também a Constituição para estabelecer uma figura nova na cena política: a reeleição. Ganhou novamente no primeiro turno e novamente de Lula, ambos com origem política em São Paulo, os dois com visões além do desenvolvimentismo industrial paulista. Lula ganharia por fim em 2002 contra um candidato tipicamente paulista, José Serra. Nessa eleição, um carioca, Anthony Garotinho, chegou a ameaçar a passagem de Serra para o segundo turno (ele teve 17,86% dos votos contra os 23,19% do tucano).

É curioso observar como desde o ano de 2000 todas as eleições para prefeito de São Paulo, governador do Estado e presidente da República foram disputadas, em nome do PSDB, ora por Geraldo Alckmin, ora por José Serra. Alckmin foi candidato a prefeito em 2000 e 2008; nas duas ficou em terceiro lugar; Serra, em 2004, quando ganhou de Marta Suplicy, e 2012, quando perdeu para Fernando Haddad (PT). Alckmin ganhou o governo estadual em 2002 e 2010; Serra, em 2006. Serra foi o candidato a presidente em 2002 e 2010; Alckmin, em 2006.

É evidente a falta de renovação, em São Paulo, do partido que há 20 anos se reveza no governo estadual, um domínio que começou com Mário Covas, na eleição de 1994, com um breve intervalo de Cláudio Lembo, do antigo PFL, que assumiu quando Alckmin deixou o cargo para disputar a Presidência da República - o vice de Serra, em 2010, era Alberto Goldman, outro tucano.

O PT, diga-se, até a escolha de Fernando Haddad para disputar com Serra as últimas eleições municipais também girou em torno do mesmo: Marta Suplicy, três vezes candidata a prefeita desde 2000, e Aloizio Mercadante, duas vezes candidato ao governo do Estado, no mesmo período. Além deles, só José Genoino, que disputou o governo em 2002, e agora Haddad, o vencedor da última eleição para prefeito.

Com seus 31 milhões de votos, São Paulo representa mais de um quinto de todos os eleitores do país. O segundo maior colégio é o de Minas Gerais. Tem metade disso: 15,1 milhões de votos. O terceiro é o Rio de Janeiro com 11,8 milhões. Votos decisivos, sobretudo se a eleição de 2014 não for uma disputa polarizada entre PT e PSDB como foi nos últimos anos. São Paulo pode ser o bilhete de passagem para o segundo turno, em caso de diferenças mínimas como em 1989, quando Lula teve 17,19% dos votos válidos e Brizola, 16,51%. São contas que estão sendo feitas também por Aécio Neves.

O que não quer dizer que o candidato com mau desempenho em São Paulo não possa vencer as eleições. Prova disso são Lula, em 2006, que perdeu a eleição para Alckmin, em São Paulo, por cerca de 3 milhões de votos, e o mineiro Juscelino Kubitschek, que ficou em terceiro lugar na eleição presidencial, em São Paulo: o vencedor, no Estado, foi Ademar de Barros (PSP), terceiro em nível nacional, seguido do brigadeiro Juarez Távora (UDN), o segundo mais votado em todo o país.

JK partiu de uma avassaladora votação em Minas Gerais, 713 mil de 1,3 milhões de votos. Mas à época os dois colégios não eram numericamente tão diferentes: São Paulo tinha então 1,9 milhão de eleitores.

No momento, José Serra é o nome que restou aos paulistas. Mas para isso ele precisa mudar de partido, pois o PSDB está bloqueado por Aécio Neves, e provar que pode ser um candidato de mudança, o que só deve ocorrer com o naufrágio do governo Dilma Rousseff. E na fila já estão Marina Silva (Rede) e Eduardo Campos (PSB).

Fonte: Valor Econômico