domingo, 14 de julho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Alcides Leite:revanche?

Acredito que o candidato da oposição que se firmar verdadeiramente como contraponto ao governo Dilma terá mais chance. Marina Silva, que ganhou muito com as últimas manifestações de rua, tem um passado muito ligado ao PT e não tem um discurso muito claro de oposição. Aécio Neves ainda não apareceu como um crítico contumaz do governo Dilma. José Serra tem uma imagem mais consolidada de opositor. Ele concorreu com Dilma na última eleição. Ademais, o pequeno PPS tem sido o único partido realmente de oposição no Brasil. Roberto Freire, seu presidente, não hesitou em classificar o projeto lulo-petista de autoritário, de feições fascistas. A derrota de Serra na eleição para prefeito de São Paulo não o enfraqueceu como candidato a presidente. A eleição municipal segue outra lógica da eleição federal. Além disso, quem foi derrotado não foi o José Serra, e sim o seu projeto de esquentar a cadeira até a nova eleição presidencial. O paulistano sabia que Serra não iria se contentar em ser prefeito. Faltando mais de um ano para a eleição presidencial tudo ainda pode acontecer. Mas, quem diria, há um mês, que uma revanche entre José Serra e Dilma Rousseff seria possível?

Alcides Leite é professor da Trevisan Escola de Negócios. In Dilma X Serra: A Revanche?, Blog do Noblat, 12/7/2013

'A base está muito nervosa', diz líder do PMDB

Na tentativa de minimizar perdas políticas, governo e Congresso tentam salvar a própria pele

Maria Lima, Isabel Braga

BRASÍLIA - Todo mundo à beira de um ataque de nervos. Assim está o clima entre parlamentares e integrantes do governo neste final de semestre, depois que a pressão das ruas mudou a pauta e, na tentativa de minimizar as perdas políticas, governo e Congresso tentam jogar a batata quente um no colo do outro. Ainda perplexos e sem saída, PT briga contra PT, o PMDB, contra aliados, e os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tocam a ferro e fogo uma "pauta positiva" para salvar a própria pele.

A semana termina com reuniões marcadas pelo estresse. Sem falar na presidente Dilma Rousseff, no limite da exaustão, tentando mostrar controle da situação, ouvindo movimentos sociais e fugindo de vaias. E dirigentes do Congresso já admitem o descontrole. Numa das votações da semana passada, com prejuízo para o governo, Henrique Alves teria comunicado ao vice-presidente Michel Temer que não tem mais como controlar as decisões do plenário.

No olho do furacão, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, chorou em reunião da Executiva do PT. Num discurso, disse que o PT tinha enfrentado muitas crises em seus 33 anos e que não eram essas dificuldades que iriam derrubar o partido.

- A base está muito nervosa - diz o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), saudado pelo líder do DEM , Ronaldo Caiado (GO), como "o novo líder da oposição".

Um dirigente do PMDB diz:

- Está todo mundo estressado. Já acorda de olho no Facebook para ver se tem manifestação. Renan e Henrique acham que o Planalto quer tirar o foco da crise e jogar para cá. Mas é um tiro pela culatra. Se pegar aqui, pega Dilma também.

Fonte: O Globo

Onda de protestos deteriora relação entre Dilma e Lula

Após manifestações, Lula e Dilma vivem desgaste na relação

Queixas ao governo dificultam sintonia de ex-presidente com sua sucessora, mas petistas descartam rompimento

Divergências sobre reação aos protestos e fator Eduardo Campos fazem convívio atingir pior fase desde eleição

Natuza Nery, Valdo Cruz e Catia Seabra

BRASÍLIA - As manifestações de junho não derrubaram apenas a popularidade da presidente Dilma Rousseff. Elas também ajudaram a desgastar sua relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Petistas dizem que "criador" e "criatura" estão muito longe de um rompimento, e que errará quem apostar nesse desfecho, mas concordam no diagnóstico: a ligação dos dois chegou ao ponto mais difícil desde que Dilma assumiu o cargo, há dois anos e meio.

Nos bastidores do governo e no próprio PT, a distância foi percebida e virou alvo de comentários. Interlocutores de Dilma atribuem a aliados de Lula o vazamento de críticas à atuação do Executivo durante a onda de protestos que sacudiu o país em junho.

Interlocutores de Lula dizem que ele considerou uma "barbeiragem" a decisão do Planalto de propor uma constituinte para a reforma política sem ouvir o vice-presidente Michel Temer (PMDB), mas consultando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), adversário do PT.

Também há queixas partindo do governo. Uma delas: Lula chegou a sugerir a redução do número de ministérios, embora tenha promovido o aumento do número de pastas quando era presidente.

Pessoas que falaram com o ex-presidente nas últimas semanas o descrevem como "preocupado" e dizem que volta e meia ele expressa incômodo com a "teimosia" e a centralização da sucessora.

Desde dezembro, ele tem sido assediado por empresários, banqueiros, sindicalistas e políticos, que em geral reclamam do estilo de Dilma.

Campos

Auxiliares de Lula notaram que o ex-presidente buscou nas últimas semanas uma reaproximação com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que desde o início do ano ameaça romper com o governo para se candidatar à Presidência em 2014.

Os dois se encontraram pela primeira vez após meses de afastamento e falaram por telefone. Numa dessas conversas, em 18 de junho, Lula disse a Campos que descarta a possibilidade de concorrer a presidente no ano que vem.

A reunião ocorreu horas depois de Lula ter tido um encontro com Dilma que foi descrito por petistas como o mais tenso até então. Alguns falaram em "briga" e "discussão acalorada", alimentando rumores depois negados de forma enfática pelos dois lados.

Nos dias seguintes, as queixas se multiplicaram, e manifestações a favor de uma nova candidatura de Lula voltaram a ser feitas em público.

No entorno de Dilma, há quem acuse o ex-presidente de ficar longe da crise para preservar sua imagem. No círculo de Lula, a acusação é considerada absurda e diz-se que ele procura evitar ofuscar a sucessora ou passar a impressão de que tenta interferir em sua administração.

Segundo auxiliares de Lula, ele indicou recentemente que só irá de novo ao encontro de Dilma se for chamado, o que foi interpretado como sinal de frustração diante da falta de acolhimento para sugestões feitas à presidente.

Lula sugeriu mudanças na área econômica do governo, para resgatar a credibilidade da política fiscal, e na articulação com o Congresso, para pacificar a relação do governo Dilma com seus aliados.

Petistas ligados a Lula defendem que a presidente troque pelo menos o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, apontado como responsável pelas manobras contábeis que fizeram o governo perder credibilidade na condução da política fiscal.

Mas Dilma resiste a substituí-lo. Ela também resiste a promover mudanças na comunicação institucional do governo, outro alvo de críticas de auxiliares de Lula.

Fonte: Folha de S. Paulo

Grandes obras do PAC estouram prazos

De 42 projetos lançados em 2007, 40 deveriam estar prontos, mas metade não foi entregue. Custo subiu R$ 100 bi

Governo patina em grandes obras do PAC

Entre os 42 empreendimentos que custam mais de meio bilhão, só 21 foram entregues

Paulo Celso Pereira

A PASSOS LENTOS

OURO VERDE DE GOIÁS (GO) - Na campanha de 2010, a então candidata Dilma Rousseff apareceu em um de seus primeiros programas na televisão rodando o país para mostrar realizações do governo do presidente Lula e fazer novas promessas. Para tratar da infraestrutura, escolheu a cidade de Ouro Verde de Goiás, onde, sobre os trilhos da Ferrovia Norte-Sul, bradou: "Para o Brasil seguir mudando, vamos seguir investindo em infraestrutura, com novas ferrovias, estradas, portos e aeroportos. E apoiar fortemente o setor produtivo nacional". Ao fundo, trabalhadores soldavam os trilhos da obra. Três anos após a visita de Dilma, os trilhos de Ouro Verde estão sem utilização, cobertos por uma camada de ferrugem, e o mato cresce ao redor. A situação da Norte-Sul serve como metonímia daquilo em que se transformou boa parte do PAC, que alavancou a candidatura da gestora Dilma em 2010 e pode ter efeito oposto, em 2014. Das 42 maiores obras apresentadas no primeiro balanço do PAC, em abril de 2007, apenas metade entrou em operação até hoje.

A presidente ligou o sinal de alerta em relação à possibilidade de chegar às eleições sem nenhuma obra marcante que possa ser atribuída a seu governo. Por isso, segundo interlocutores, será definido um conjunto reduzido de obras de grande impacto que possam ser entregues até outubro do próximo ano. A ideia é, sem dizer que as outras serão abandonadas, concentrar esforços e dinheiro sobre as escolhidas.

No Rio, obra com atraso de até seis anos

No Planalto, prospera a avaliação de que a Copa das Confederações foi interpretada pelo eleitor como uma prova de que é possível entregar grandes empreendimentos quando há vontade política. Assim, a população terá dificuldades para aceitar a falta de licenciamento ambiental e disputas judiciais como justificativa para atrasos.

O GLOBO fez um levantamento de todas as 42 obras com investimentos de mais de meio bilhão de reais anunciadas no primeiro balanço do programa. Delas, 21 ainda não foram entregues. Pela previsão inicial, a esta altura, era para que 40 delas estivessem em funcionamento. Se os projetos de energia, que têm uma dinâmica própria, forem retirados da conta, restam 14 grandes projetos de infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias e infraestrutura hídrica), anunciados em 2007. Destes, só quatro foram inaugurados. Dos dez restantes, nove estão com seu cronograma atrasado em pelo menos três anos. Em alguns casos, como no do Arco Rodoviário do Rio de Janeiro, o atraso deve chegar a seis anos. Segundo o primeiro relatório do PAC de 2007, a obra deveria estar pronta desde 2010, mas a previsão mais recente do governo é que ela só seja concluída em 2016.

Analisando caso a caso, a situação é ainda mais desalentadora quando o assunto é preço da obra. Os custos estimados dos 42 projetos já aumentaram R$ 100 bilhões de 2007 para cá, duas vezes o valor que a presidente anunciou semanas atrás para obras de mobilidade urbana nas grandes cidades. Os estouros orçamentários mais alarmantes são os da refinaria de Abreu e Lima (PE) e do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), protagonistas em todas as últimas listas do Tribunal de Contas da União sobre obras com irregularidades graves.

Em abril de 2007, a primeira tinha custo estimado em R$ 5,6 bilhões e deveria entrar em operação em janeiro de 2011. Hoje, a estimativa é que saia por R$ 35,8 bilhões. Só deve ficar pronta em maio de 2015. Em 2007, o governo dizia que o Comperj sairia por R$ 8,2 bi e seria entregue em março de 2012. Hoje, diz que esta obra custará 26,6 bi e ficará pronta em agosto de 2016. Apesar dos quatro anos de atraso, em cada, e da disparada de custos, o último balanço do PAC diz que o ritmo da obra é "adequado", e o mesmo ocorre em outras ações atrasadas.

O governo também considera adequado o ritmo das obras nas rodovias BR-163, entre Guarantã e Santarém, e na BR-101, entre Palhoça (SC) e a divisa com o Rio Grande do Sul. Em 2007, a pavimentação da primeira rodovia e a duplicação da segunda tinham o mesmo custo estimado e data de entrega: sairiam por R$ 1,5 bilhão, cada, e seriam inauguradas em 2010. A previsão hoje é que o trecho da BR-163 fique pronto em dezembro de 2015 e não saia por menos que R$ 2,2 bilhões.

Transposição ficará para próximo presidente

Já a duplicação do trecho da BR-101 SC/RS deve custar R$ 2,4 bilhões e, segundo o governo, fica pronta em dezembro. O Planalto sustenta que o carimbo de "adequado" significa que não há contratempos a serem resolvidos e, por isso, obras atrasadas, mas que tiveram seus problemas resolvidos, enquadram-se nessa categoria.

Nas últimas semanas, duas das grandes obras desse bloco pesquisado pelo GLOBO foram concluídas: a linha de transmissão Tucuruí-Manaus e um prolongamento de 260 quilômetros da Ferrovia Ferronorte (MT). Mas, enquanto a primeira já entrou em operação, a segunda aguarda licença para tal. A inauguração da nova linha da Ferronorte deve contar inclusive com a presença de Dilma .

Para o governo, a situação do setor ferroviário é uma das mais delicadas. Das obras de trens previstas no primeiro balanço do PAC, só o trecho de Araguaína (TO) e Palmas (TO) foi entregue. O visitado por Dilma na campanha, entre Anápolis (GO) e Uruaçu (GO), deveria estar operando desde 2010. A previsão do governo é que ele só fique pronto em abril de 2014, a tempo da próxima campanha.

Outro projeto cujo prazo de conclusão deixou de existir foi o de Irrigação do Baixio do Irecê (BA). A promessa era que a área total irrigável seria de 58 mil hectares. Até agora, apenas a primeira de nove etapas foi concluída, com 4,3 mil hectares irrigáveis. Novela que só perde para a da Transposição do Rio São Francisco. Anunciada em 2003, a obra já teve sua conclusão adiada inúmeras vezes. Em 2007, o Eixo Leste ficaria pronto em 2010, e o Eixo Norte, em 2012, a um custo de R$ 5 bilhões. Hoje, Dilma já sabe que não terá chance de inaugurar nenhum dos dois até o fim deste mandato. A estimativa mais recente do governo é que os dois eixos sejam entregues em 2015, a um custo de R$ 8,2 bi.

Fonte: O Globo

Engajamento agora é outro, revela pesquisa

Roldão Arruda

Os jovens brasileiros desconfiam dos políticos e estão cada vez mais desencantados com os partidos isso não provoca, no entanto, o seu afastamento automático de atividades politicamente engajadas, ligado a organizações que se caracterizam pelo uso de redes sociais e pela estrutura pouco hierarquizada, um número significativo de jovens está se mobilizando em tomo de um amplo leque de questoes políticas e sociais,

Temas que vão da mobilidade urbana à organização de grupos de hip hop e cirieclubes na periferia das grandes cidades fazem parte do cotidiano desses moços e moças, de acordo com três grandes pesquisas realizadas recentemente sobre juventude no Brasil. Embora conduzidas por diferentes pesquisadores e com focos diversos, as três apontaram na mesma direção.

A mais ampla delas, apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foi concluída no ano passado. Ouviu cerca de quatro mil jovens e a análise de seus resultados ainda não foi completamente esgotada,

Denominada Juventude e a Experiência da Política no Contemporâneo, essa pesquisa focalizou grupos organizados e fora das estruturas políticas partidárias, O resultado surpreendeu os pesquisadores, sobretudo pela sua variedade.

Foram localizados desde estudantes fortemente articulados no Movimento Passe Livre na rgião Sul a grupos de hip hop no Nordeste. A lista também inclui jovens em sindicatos rurais, coletivos em escolas públicas e privadas e rádios comunitárias, entre outros casos, "Nos deparamos com muitos grupos em diferentes inserções,.em torno de algum objetivo comum, visando alguma transformação social”, diz a i coordenadora da pesquisa, a psicóloga Lucia Rabello de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Uma das características desses grupos que mais chamaram a atenção foi o desencanto com as formas convencionais de fazer política, “Eles se queixam de estruturas muito verticais e hierarquizadas, com pouco es: paço para o que têm a dizer”, relata a coordenadora.

Periferia* Também em 2012, quando ainda pareciam inimagináveis as marchas de protesto j ocorridas neste ano, a pesquisa Comunicação e Juventudes em Movimento, organizada pelo Instituto Brasileira de Análises Sociais e Econômicas (Ibase),apontou na mesma direção.

Mesmo com foco mais restrito, de estudos de caso, ela detectou a efervescência cie movimentos de jovens de periferia que recorrem cada vez mais a novas tecnologias de comunicação para se organizar e agir.

A coordenadora da pesquisa, socióloga Marina Ribeiro, observa que, embora a porcentagem de jovens organizados ainda seja muito pequena, é significativo o fato de estarem se estruturando cada vez mais fora dos partidos, sindicatos e movimentos sociais já conhecidos. A estudiosa também assinala a existência de um alto grau de insatis fação entre esses jovens.

Ela é causada por razões que vão da precariedade de serviços públicos à falta de acesso a bens de consumo, “Foram essas insatisfações que levaram um millião de pessoas às ruas”, diz.

"A terceira pesquisa, Quebrando Mitos Juventude, Participação e Políticas, é a mais antiga das três. Realizada em 2008, ela detectou insatisfação dos jovens com a estrutura partidária onde menos se esperava, entre militantes de partidos.

Para a coordenadora do estudo, a socióloga Minam Abramovay, o resultado foi um anúncio: “Ao rever o que apuramos no levantamento, concluo que tudo o que vimos agora na ma está sendo anunciado há algum tempo".

Fonte: O Estado de S. Paulo

PMDB cria banda de popularidade para decidir se fica com Dilma

Desnorteado diante da queda na popularidade presidencial e da dificuldade de diálogo com a presidente Dilma Rousseff, o PMDB estabeleceu internamente um "prazo57" e uma meta para manter viva a aliança com a ala petista. Ela terá três meses para alencar - e manter - ao menos 33% das intenções de voto.

Membros do alto escalão do partido aliado avaliam que este seria um patamar razoável para que ela se mostre suficientemente competitiva, com chance  reais de vencer a disputa de 2014 e, assim, dividir novamente o poder com o PMDB.

Os pemedebistas avaliam, que, apesar da queda nas pesquisas? Dilma está “sangrando”, mas não está “morta”, e que a conjuntura atual ainda está "“contaminada” pelas manifestações populares que tomaram, conta do País no último mês.

Caneta* Já é consenso na legenda que o governo, com a caneta na mão, possui instrumentos para conseguir reverter o quadro hoje decadente. Porém, consideram impossível Dilma recompor a imagem de “gerentona eficiente” perante os eleitores e precisará de um novo mote para refazer sua imagem. Interlocutores da presidente discordam desta avaliação, “Quando a economia melhor ai ela vai recuperar a fama de boa gestora”, afirmou um dos braços direitos da governante.

O fato é que, por pior que esteja o contexto, o PMDB ainda não identificou nenhum outro candidato com chances possíveis de ocupar a Presidência e o PT ainda continua sendo a melhor opção. Por isso, chegou-se à necessidade de estabelecer um prazo para que a presidente dê a volta por cima.

O Palácio do Planalto já foi informado de que existe uma ala dentro do PMDB, liderada pelo deputado federal Eduardo Cunha (RJ), que trabalha para o esgarçamento irreversível da aliança com o Partido dos Trabalhadores para as próximas" eleições. A intenção de chegar ao rompimento é dar independência a candidatos a governador para formarem alianças estaduais com o partido que bem entendem.

A presidente ouviu o diagnóstico e admitiu saber que este é o real cenário. Mas para ajudá-la a acalmar o grupo dissidente, Dilma conta com o apoio incondicional de seu vice-presidente, Michel Temer. Além de cumprir seu papel de aliado fiel, Temer sabe que só continuará no poder se o PT lançar Dilma no vãmente como presidenciável.

Se a crise sair do controle e a ala petista que luta pelo movimento ‘Volta, Lula” emplacar, onome escolhido pelos petistas certamente será outro e Temer estará fora do jogo eleitoral.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O inferno astral de Dilma

Nos últimos 50 dias, presidente enfrentou violentos protestos nas ruas, aumento da pressão dos aliados, desconfiança de parte do próprio PT e queda na popularidade

Dilma enfrenta o seu pior momento

Perto do ano eleitoral, e ainda sob o impacto das manifestações de junho, a presidente Dilma Rousseff vê o embalo de crises e a sombra de Lula cada vez maios forte

Débora Duque

Os últimos 50 dias foram turbulentos para a presidente Dilma Rousseff (PT). Ao completar dois anos e meio de mandato, a petista precisou enfrentar crises simultâneas que terminaram por ocasionar uma queda brusca em seus índices de popularidade e, até mesmo, colocar em dúvida sua candidatura à reeleição. Nas ruas, teve que lidar com a onda de protestos em plena Copa das Confederações. No Congresso Nacional, o aumento da pressão da base aliada que, ao sentir o momento frágil do governo, vislumbrou a oportunidade para aumentar a barganha política. Na economia, a baixa nas expectativas de crescimento. E, dentro do próprio partido, a desconfiança de setores que passaram a engrossar o movimento pela volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Diante da sucessão de agendas negativas, permanece, no meio político, a interrogação sobre os motivos que levaram Dilma a entrar no que se chamou de "inferno astral" e quais os caminhos para sair dele "ilesa" antes da eleição de 2014.

Na última quinta-feira (11), o ministro da secretaria-geral da Presidência, Gilberto Carvalho (PT) - um dos mais próximos de Dilma -, buscou passar uma mensagem de "otimismo", resgatando a comparação da crise atual com o desgaste sofrido pelo ex-presidente Lula ao longo de todo o segundo semestre de 2005, após as denúncias do "mensalão". Lembrou que, a despeito do desgaste que atingiu o partido na época, Lula conseguiu recuperar sua taxa de aprovação e se reeleger no ano seguinte.

"Quem viveu 2005, onde já era proclamado por vários editorialistas que o governo Lula tinha acabado, que não ia ter reeleição, tem que ter muita serenidade agora", declarou Gilberto Carvalho.

Mas, na opinião de analistas, o alcance da crise atual é muito mais profundo.

O consultor político Gaudêncio Torquato alerta que o episódio do "mensalão" pouco tem a ver com o momento atual. Ali, diz ele, o desgaste era pontual e restrito a um único partido, o PT. Agora, as causas são difusas e acumuladas. Por isso, a manobra é mais complexa. "O mensalão foi algo pontual. A crise atingiu um único partido e não havia grandes manifestações nas ruas, como se viu no ultimo mês. Agora, o governo está sendo cobrado por problemas que acumula há muito tempo, além de haver uma crise de representação", pondera. Para o cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto, é a falta de articulação política que torna Dilma mais vulnerável numa conjuntura negativa.

O fator decisivo de instabilidade política foram as manifestações que se espalharam pelo País. O estopim delas, porém, foi pontual. No início, os protestos se restringiam à questão da passagem de ônibus e eram localizadas principalmente em São Paulo. A repressão policial, segundo, Velho Barreto, fez a causa se expandir. E, associada à insatisfação generalizada com os serviços públicos, ao distanciamento da classe política das demandas sociais e à evidência dos gastos exorbitantes com a Copa das Confederações transformou o país num barril de pólvora. Dilma chegou a ser vaiada na abertura do torneio Embora não fosse o único alvo de queixas, Dilma foi obrigada a agir.

No anseio de responder "a voz das ruas", anunciou um pacote de medidas com cinco pontos prioritários. A principal delas foi a realização de um plebiscito para a convocação de uma constituinte exclusiva com a prerrogativa de promover uma reforma política. Mas recuou da ideia da Constituinte no dia seguinte, assim que surgiram as primeiras manifestações contrárias de juristas e integrantes da base do governo, como o vice-presidente Michel Temer (PMDB), que não havia sido consultado previamente. Dilma manteve apenas a sugestão do plebiscito que, agora, serviria para coletar a opinião da população sobre a reforma. Foi alvo, novamente, de uma avalanche de críticas por não ter ouvido aliados.

"Ela quis dar respostas rápidas sem analisar a viabilidade", analisa Gaudêncio Torquato. Para Túlio Velho Barreto, porém, o problema foi justamente o contrário. Segundo o pesquisador, a presidente acertou ao relançar a pauta da reforma política, porque o que estava em xeque era justamente as instituições, mas perdeu o "timing" para reagir aos protestos das ruas. Ciente das deficiências nas interlocução com a base aliada, longe de ser coesa, ela apostou na forte pressão popular que pairava sobre a classe política para "forçar" o Congresso - que dias antes teve seu telhado ocupado por manifestantes - a encampar as medidas. Quando resolveu tomar a iniciativa, o movimento das ruas já estava refluindo e a pressão, claro, já não seria a mesma, na opinião de Velho Barreto.

"O tempo dela não foi o tempo das ruas. Quando ela resolveu agir, as manifestações já estavam refluindo e ela perdeu a pressão popular que precisava para fazer o Congresso aprovar as principais medidas", comenta Velho Barreto.

Também perdeu, segundo ele, a chance de tornar-se menos dependente do PMDB, partido com maior força no Congresso. A presidente terminou refém, mais uma vez, de sua base parlamentar com a qual nunca conseguiu manter uma "relação estável" desde que assumiu o governo. Além de ter sido obrigada a recuar na ideia da Constituinte, viu, na última semana, a ideia do plebiscito ser "enterrada" - para utilizar um termo empregado pelos próprios parlamentares - pelo Congresso, que instalou uma comissão própria para discutir a reforma na tentativa de esvaziar a ideia de uma consulta popular prévia. E não foi só isso. A proposta original de destinar 100% dos royalties do petróleo para educação, anunciada por Dilma em rede nacional, também recebeu modificações no Legislativo. Agora, pelo menos 25% dos recursos, serão destinados a Saúde. A base aliada também ensaiou rejeitar a PEC que extinguia a figura do segundo suplente de senador, que constava na lista de "sugestões" enviadas pelo governo federal.

Com a queda de 27 pontos na taxa de aprovação do seu governo no curto intervalo de três semanas, segundo pesquisa Datafolha, a recuperação da popularidade de Dilma, segundo analistas, depende dos avanços na economia, do aperfeiçoamento do diálogo político com a bancada governista, em Brasília, e das ações que serão adotadas daqui para frente com o objetivo de imprimir uma "marca" ao governo. De acordo com Gaudêncio Torquato, Dilma, dificilmente, poderá se apoiar, em 2014, de forma exclusiva nos programas sociais , como fez seu antecessor. A pauta, segundo ele, mudou e a população que viu a renda crescer, nos últimos anos, quer, agora, ter acesso a serviços públicos de qualidade.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Crise e incerteza sobre 2014

A crise e a situação em que vive a presidente Dilma deram um "freio de arrumação" no debate da sucessão

Os efeitos da crise que abate o governo federal sobre a eleição presidencial do ano que vem ainda são incertos. Um dos motivos, segundo analistas ouvidos pelo JC, é que, apesar da queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff (PT), conforme ficou evidenciado na pesquisa Datafolha, de 29 de junho, nenhum dos pretensos concorrentes demonstrou, ainda, ter capitalizado as insatisfações que atingem a atual gestão. Na mesma pesquisa, em que as intenções de voto do senador Aécio Neves (PSDB) sobe de 14% para 17% e a do governador Eduardo Campos (PSB), de 6% para 7%, a única pré-candidata que atinge uma variação acima da margem de erro de três pontos percentuais é a ex-senador Marina Silva, que saiu de 16% para 23%.

Evolução que, no entanto, aconteceu de forma discreta. "A princípio, esse pequeno crescimento tem a ver com a ideia de ela posar como outsider da política, tentando criar um partido com um nome diferente (Rede) que remete para conceitos atuais de rede social e sustentabilidade. Mas até que ponto isso vai vingar, não dá para saber", comenta o cientista político Túlio Velho Barreto. No momento em que a legitimidade e representatividade da classe política está sendo colocada em xeque, de modo "indiscriminado", é difícil, degundo ele, prever quem conseguirá reverter esse clima de animosidade.

O que é possível prognosticar, na opinião do consultor político Gaudêncio Torquato, é que a crise atual tende, com algumas exceções, a forçar a saída de políticos não sintonizados com as demandas sociais, em 2014. "Todas as candidaturas subiram no telhado", avalia. Ele acredita, no entanto, que as candidaturas que incorporarem o sentido do "novo" devem ser beneficiadas em 2014. Além de Marina que, "à primeira vista", segundo Torquato, representa com mais força o clima de "ceticismo" com a política, Eduardo Campos pode encarnar o espírito de "novidade", embora pertença atualmente à base do governo. Por gozar de maior visibilidade e pertencer a um partido que já governou o País, no passado, o senador Aécio Neves teria mais dificuldades nesse sentido, segundo sua previsão.

Ainda que nas pesquisas o ex-presidente Lula siga despontando como "favorito", seu retorno à Presidência, como tenta pregar alguns setores do PT insatisfeitos com a condução política de Dilma, é considerado arriscado. Após sair de dois mandatos com alta popularidade, Lula correria o risco de desgastar sua imagem com mais um mandato porque, dificilmente, segundo Torquato, governaria com a mesma "facilidade" do passado. "Ele é o maior líder político que o País já teve, um ícone, mas o Brasil, hoje, é outro. Além de por em risco sua liderança, acho que não seria tão fácil para ele navegar no País de hoje", pondera. (D.D.)

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Dilma deve dialogar mais, afirma Eduardo

Governador disse que conversou por telefone com o ex-presidente Lula sobre o momento do País, mas negou que a sucessão presidencial tenha sido discutida

RIO DE JANEIRO - Depois de circular durante dois dias pelo interior de Pernambuco, o governador Eduardo Campos (PSB) retomou, ontem, sua agenda política nacional e afirmou que a presidente Dilma Rousseff (PT) precisa "dialogar mais" para evitar o que chamou de "ciclo de aprofundamento" da crise econômica que atinge o País. A declaração foi dada minutos antes de discursar no evento partidário organizado pelo deputado federal Glauber Braga (PSB-RJ), no Rio de Janeiro. Logo na entrada, ele foi saudado pelos militantes do PSB com o grito: "Um passo a frente, Eduardo presidente".

De acordo com Eduardo, o crescimento da economia, nos últimos três anos, foi "baixo" e, para reverter o quadro, é necessário recuperar a "confiança" dos investidores. "A sociedade está sentido o crescimento da inflação, principalmente, no que diz respeito aos preços dos alimentos. O Brasil precisa retomar o padrão que tinha antes deste período", disse. Ele também propôs que partidos do governo e da oposição se "unam" para evitar uma piora na situação econômica do País.

Mesmo se esquivando de comentar sobre a possibilidade de vir a ser candidato à presidência em 2014, o socialista confirmou ter mantido conversas, por telefone, com o ex-presidente Lula (PT) sobre "o momento atual" que vive o Brasil. Negou, no entanto, ter tratado sobre a disputa presidencial. "Encontrar com o Lula não é notícia. O Lula é um amigo, um companheiro de partido", minimizou. Desde que o governador passou a dar sinais de que poderá ser adversário de Dilma, circulam rumores de que o ex-presidente teria se afastado de Eduardo.

Apesar de portar-se como possível candidato, o socialista repetiu que o PSB só tomará uma posição sobre o assunto no ano que vem. "É como diz aquele ditado popular: quem tem pressa come cru", argumentou , acrescentando que essa postura "ganha força" diante do momento político do País. "Não é com a velha política que vamos recuperar a crença do povo brasileiro sobre o futuro do País", justificou.

Questionado sobre a queda nos índices de popularidade de Dilma, dado que ficou evidenciado na última pesquisa do instituto Datafolha, no dia 29 de junho, Eduardo considerou resultado "conjuntural". "Não sei se já havia uma queda tão grande de popularidade como essa, mas eu considero que isso é conjuntural. O importante é que a presidente não perca o rumo estratégico que todos nós desejamos", comentou. Apesar do desgaste da presidente, Eduardo cresceu apenas um ponto percentual nas intenções de voto e apareceu com 7% nessa mesma pesquisa.

O evento de ontem foi primeiro ato político de alcance nacional que Eduardo participou desde a eclosão da onda de manifestações. Sua última agenda política fora do Estado foi no dia 15 de junho, em Araxá (MG), no fórum "Conexão Empresarial".

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Militantes veem religião como barreira para Marina

Ativistas da Rede temem associação de evangélicos com conservadorismo

Ex-senadora condena tentativa 'criminosa' de vinculá-la a Feliciano e diz que o Estado laico é 'melhor para todos'

Daniela Lima

SÃO PAULO - A religiosidade da ex-senadora Marina Silva se transformou numa barreira para a coleta de assinaturas em apoio à fundação de seu novo partido político, a Rede Sustentabilidade, disseram ontem militantes do grupo que trabalha pela criação da sigla.

Marina é evangélica e alguns de seus apoiadores foram a eventos religiosos como a Marcha para Jesus colher assinaturas para a fundação da Rede. A lei exige o apoio de pelo menos 500 mil eleitores para a criação de uma nova sigla partidária.

Em reunião com "mobilizadores" da Rede, voluntários que trabalham na coleta de assinaturas, um dos principais colaboradores de Marina, Rafael Poço, disse ter detectado nas ruas uma "tentativa de associar conservadorismo à religião" e contou que isso tem prejudicado a Rede.

De acordo com o ativista, eleitores simpáticos ao projeto de Marina às vezes manifestam restrições a suas convicções religiosas, e também à participação de empresários na organização da Rede.

"Notícias foram claramente manipuladas para associar a religião a uma coisa negativa", afirmou Poço, dirigindo-se aos outros militantes no encontro de ontem. "Senti isso nas ruas e vocês provavelmente sentiram também."

Poço deu sugestões para lidar com questionamentos ligados a esse tema e lembrou que "o respeito ao Estado laico está no nosso estatuto".

Outra colaboradora da Rede falou em seguida e disse ter encontrado boa receptividade ao buscar assinaturas em atos como a Parada Gay, a Marcha das Vadias e a Marcha da Maconha, que promovem causas às quais os evangélicos em geral se opõem.

Os militantes mostraram especial preocupação com tentativas de vincular Marina ao deputado Marco Feliciano (PSC-SP), que é pastor evangélico e virou alvo de críticas de minorias após assumir o comando da comissão de Direitos Humanos da Câmara.

Em maio, numa palestra no Recife, Marina disse considerar "um erro" criticar Feliciano "por ser evangélico" e não "por suas posições políticas equivocadas". Suas declarações foram interpretadas nas redes sociais como uma defesa do deputado, o que Marina classificou ontem como uma tentativa "criminosa" de vinculá-la a ele.

Marina disse que a Rede não quer "trabalhar a partir de rótulos" e rejeitou a "instrumentalização dessa ou daquela questão para fazer política por caminhos enviesados". "Se há um desejo em fazer um debate sobre a necessidade de deixar claro que o Estado é o Estado laico, não há problema", acrescentou.

Segundo Marina, "um dos segmentos da sociedade que mais contribuiu para que tivéssemos o Estado laico foi o movimento protestante". "Minha convicção me diz que o melhor para todos, quem crê e quem não crê, é o Estado laico", disse.

Fonte: Folha de S. Paulo

As jornadas de Junho – Luiz Werneck Vianna

As jornadas de junho, que prometem entrar julho adentro, quem sabe por quanto tempo persistirão em seu ímpeto que a tudo vem arrostando, agora que já se sabe que ao protesto da juventude — região do social onde tudo começou — deve coincidir com uma massiva demonstração sindical, prevista para o dia 11 do corrente mês. É fato que a agenda dos sindicatos antecede em muito a rebelião juvenil que ganhou fulminante adesão da população dos principais centros urbanos do país que ocupou as ruas em suas manifestações de protesto contra tudo isso que aí está, e que essa agenda amadureceu em um longo processo de deliberação entre os sindicalistas. Também é fato que seus pontos principais foram estabelecidos por fora de motivações especificamente políticas, tais como a redução da jornada de trabalho e a extinção do fator previdenciário, entre outros.

Mas, como se sabe, o diabo mora nos detalhes — é a circunstância da hora presente que situa essa programada ação sindical no teatro tumultuado da cena política atual. São conhecidas as tradições de responsabilidade política e social do nosso sindicalismo, que ocupou lugar de vanguarda nas lutas contra o autoritarismo e pela democratização do país.

O que se espera dele, com sua presença organizada e madura, é mais uma vez intervir no sentido de abrir caminhos, por meio do exemplo de suas ações, para uma saída em que não se perca a oportunidade dessa crise a fim de aprofundar e aprimorar as instituições da nossa democracia, destituindo, na base, as pretensões golpistas e messiânicas que já se fazem ouvir. Em particular, porque essa onda de manifestações ainda não chegou — mas que não tarda — às regiões altamente sensíveis do mundo agrário e das populações indígenas.

Estamos diante de um verdadeiro divisor de águas na história do país, deixando para trás as formas anacrônicas do nosso sistema político, que vem hipotecando a expressão do moderno, cuja palavra chave é a autonomia dos seres sociais diante do Estado e do mercado, ao que há de mais retardatário em nossa sociedade. Não à toa ouve-se das ruas o clamor em favor da abertura da esfera pública à participação popular, até então, mantida ao largo da deliberação das políticas públicas, capturadas pelo jogo de interesses de grupos econômicos e dos políticos que lhes servem, como testemunham à saciedade as da saúde e a dos transportes.

Mas é preciso dizer com todas as letras que os cantos das sereias pela democracia direta em detrimento da democracia representativa com que querem nos enlear, longe de prometer uma demiúrgica aparição de uma potência com o dom metafísico da transformação, nas condições atuais do mundo e do país, camuflam um salvo conduto para o caos e para a liberação dos demônios que nos espreitam, esperando a hora de agir.

Temos em mãos uma carta de navegação — a Constituição de 1988 — já atualizada aqui e ali, e ainda suscetível a outras e oportunas atualizações. É com ela, que admite em seu cerne formas representativas e de participação popular — porque não há muralha da China entre elas —, em meio a essa crise, com seu potencial de ameaças ao que já foi conquistado até aqui, que deveremos seguir viagem.

Luiz Werneck Vianna é professor da PUC-Rio e coordenador do Centro de Estudos Direito e Sociedade.

Fonte: Editorial -Boletim – Cedes. julho-setembro de 2013

“Mais Médicos” para salvar a presidente. Não vai dar certo. – Alberto Goldman

O sinal mais flagrante da perda de rumo de Dilma Rousseff e sua equipe é o programa “Mais Médicos”. Tonteados pela forte e inesperada queda de popularidade da presidente e da avaliação do seu governo – e pelas manifestações populares que pela primeira vez em muitos anos escaparam ao controle do PT e das centrais sindicais instrumentalizadas – saíram tresloucados a busca de uma agenda positiva, em especial procurando enfrentar a questão da péssima avaliação da área da saúde em nosso país.

Esse é um problema que afeta a todos os brasileiros e vem se agravando nos últimos anos pela omissão do próprio governo central que vem procurando transferir aos Estados e Municípios o ônus do atendimento médico atingindo, pelas dificuldades desses níveis de governo, a todos os cidadãos que necessitam do apoio estatal.

A surpresa é o governo federal procurar vender a ideia que a questão se limita à falta de médicos nas regiões mais afastadas e onde vivem as populações mais carentes do país. A verdade não é essa. Em todo o país a demanda é superior à capacidade de atendimento do sistema de saúde. As filas e o péssimo atendimento estão por toda parte. Todos sabem que a carência não é só de médicos. É muito mais a falta de toda a estrutura de apoio aos serviços de saúde: recursos humanos os mais diversos, leitos, equipamentos, laboratórios, medicamentos e, além do volume crescente de recursos necessários que não aparecem, falta gestão eficiente do setor.

A falta de médicos é o que mais salta à vista, mas é apenas o sinal mais visível da falência do atendimento estatal.

O governo ao atacar apenas a questão da falta de médicos, jogou uma cortina de fumaça para enganar a população procurando mostrar uma preocupação, tardia, em relação ao sofrimento de milhões de brasileiros. Puras medidas demagógicas, irresponsáveis, com os olhos voltados para as eleições próximas. Tomou uma medida, ilegal a meu ver, que terá – se tiver - resultados a partir da próxima década, ao obrigar alunos de cursos públicos e privados a trabalhar, compulsoriamente, para o sistema SUS. E, no curto prazo, pretende importar médicos que passariam, quase imediatamente, sem qualquer avaliação mais séria quanto à sua formação e competência, a atender a população nos locais que o governo federal determinar. Um salto no escuro feito sem respeitar as opiniões dos especialistas do próprio setor de saúde.

São gestos de desespero de quem está à deriva. Mesmo que existam médicos que se submetam a esse recrutamento, e que sejam de fato profissionais preparados, não podemos esperar grandes resultados pelo fato de não terão em suas mãos os recursos materiais necessários para enfrentar os desafios que vão encontrar pela frente.

Infelizmente Dilma e seus aloprados – os antigos e os mais recentes – não mostram o mínimo respeito às demandas do nosso povo e colocam em risco um setor vital para a vida de milhões, submetendo-o aos seus interesses eleitorais.

Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB, foi governador de S. Paulo

Reforma política, de novo! - Leôncio Martins Rodrigues

Diante das manifestações populares e, especialmente, da queda em popularidade da presidente, o governo federal não encontrou nada melhor do que trazer à ordem do dia uma reforma política que nem mesmo era uma demanda importante dos manifestantes e que ninguém sabe exatamente qual seria. Mas reformas políticas não são inocentes. Como já mostrou Douglas Rae em seu magistral The Political Consequences of Electoral Laws, as regras eleitorais prejudicam alguns partidos, geralmente os pequenos, e beneficiam os grandes. Ninguém faz reforma política para beneficiar o adversário.

Neste espaço vamos comentar sumariamente algumas das propostas mais importantes. Comecemos pelo voto distrital, deixando de lado a importante questão da delimitação das fronteiras dos distritos. Uma das razões que justificariam a adoção do voto distrital é que os eleitores estariam mais próximos de seus representantes. Há aqui a suposição de que haveria maior proximidade dos candidatos cornos eleitores e que essa proximidade seria benéfica para o funcionamento do sistema. Mas num país federativo da dimensão populacional e geográfica do nosso as situações podem ser muito diversas e as consequências, inesperadas. Em alguns Estados os distritos seriam forçosamente de grande dimensão geográfica e de pequena concentração eleitoral. Em outros, o contrário. Nas 27 unidades da Federação teríamos um leque variado de combinações que podem fazer os candidatos estar mais próximos ou distantes dos eleitores.

A defesa do voto distrital, porém, parte de um pressuposto que necessitaria ser comprovado: o de que o eleitorado é um poço de virtudes cívicas e éticas e tende a punir os políticos de má conduta. Nossa história política mostra que não é bem assim. Políticos corruptos e demagogos, dos que "roubam, mas fazem", são frequentemente reeleitos. A América Latina, em especial, assistiu com frequência à utilização do voto popular para enfraquecer ou liquidar as instituições da democracia. Regimes autoritários podem ter apoio eleitoral e chefes partidários podem chegar ao poder pelo voto.

O sistema distrital tem como um de seus efeitos um veneno mortal para os pequenos partidos, que tendem a ser os mais ideológicos. Se fosse implantado (especialmente na modalidade de maioria simples), tenderia a resultar num sistema partidário de dois ou três partidos, como ocorre no Reino Unido e em todos os países de colonização britânica que adotaram o modelo da antiga metrópole. Seria positivo para a governabilidade, mas reduziria o coeficiente de representatividade. Pequenos partidos doutrinários, depois de algumas eleições sob o sistema distrital, tenderiam a se enfraquecer ou a desaparecer dos órgãos legislativos.

Outra bandeira frequentemente agitada, o financiamento público das campanhas, igualmente conduz os resultados na mesma direção do fortalecimento dos grandes partidos. Serão eles que ficarão com a maior parte da verba vinda do bolso dos contribuintes. Acontece que cumpre haver critérios para a distribuição dos recursos públicos. Não seria lógico (e não aconteceria) que partidos com um número reduzido de cadeiras ou com poucos votos recebessem o mesmo auxílio financeiro que outros com desempenho muitas vezes superior. O financiamento público, em lugar de favorecer os pequenos partidos, contribuiria para a manutenção do status quo partidário.

Passemos a outra proposta sempre imaginada: o sistema de lista fechada. Não vamos discutir aqui as suas modalidades, como a lista partidária bloqueada, em que o eleitor não poderia alterar os nomes nela apresentados, ou a lista flexível, em que o eleitor poderia alterar a ordem ou mesmo excluir nomes. Deixaremos de lado o modo como seria constituída a lista partidária a ser oferecida aos eleitores: em convenção, pela direção partidária, por um comitê ou por outro órgão. Mas a lista, em si mesma, não teria a capacidade de favorecer os grandes partidos ou de fabricar maiorias artificiais nos Legislativos. Seu principal efeito seria aumentar o controle das chefias dos partidos sobre a máquina partidária e, portanto, reduzir a autonomia dos eleitores na escolha dos candidatos.

Por sua vez, a extensão do mandato presidencial para cinco anos, outra proposta que ronda o universo político, teria como efeito a eleição solteira para a Presidência num dado ano. (Por que também não para governador e prefeito?) Depois teríamos eleições municipais e, após dois anos, para aos Legislativos estaduais e federal. O País praticamente só cuidaria de eleições. Seria maravilhoso para os marqueteiros.

Contudo nenhuma das propostas cogitadas pela classe política eleva os índices de representatividade e eficiência do sistema político brasileiro nem, especialmente, diminui a corrupção, o nepotismo e o clientelismo. Nenhuma das eventuais mudanças nos aspectos acima garante que teríamos um sistema melhor que o que já temos.

O sistema eleitoral brasileiro - proporcional com lista aberta para eleições legislativas e majoritário para o Senado e os Executivos – é bastante flexível. E o sistema que dá maior autonomia aos eleitores ante os chefes partidários. Possibilita "candidatos corporativos", "candidatos ideológicos", "candidatos de grupos étnicos" e de outros segmentos minoritários que não teriam chances num sistema majoritário. Certamente, tem muitos defeitos. Mas está na hora de entendermos que não existem sistemas políticos perfeitos. Poderíamos obter melhor resultados se deixarmos de perder tempo com a miragem de grandes reformas e tentarmos medidas corretivas de mais fácil aplicação, como seriam a efetiva aplicação da Lei da Ficha Limpa, a redução do tempo de campanha e do horário eleitoral gratuito.

Cientista político, professor titular do departamento de ciência política da USP e da UNICAMP, seus últimos livros sobre o assunto foram "Partidos, ideologia e composição social" (2002) e "Mudanças na classe política brasileira" (2006)

Fonte: O Estado de S. Paulo

A canoa de Lula nas águas de Heráclito - Gaudêncio Torquato

Qual a possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva voltar a ser o candidato do PT à Presidência da República, desta vez no pleito sucessório do próximo ano? Tem sido essa a mais recorrente pergunta nos corredores da política, instigada pela acentuada queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff na esteira da avalanche de manifestações que vêm sacudindo o País. A resposta está condicionada a outra questão: é possível a mandatária recuperar a avaliação das classes sociais que tinha no início deste ano, a mais positiva entre os chefes de Executivo da contemporaneidade? A resposta não é tão simples, pois agrega um conjunto de fatores, alguns imponderáveis, a começar pelo desempenho da economia nos próximos meses.

A ser pífio o desempenho econômico, com efeitos na inflação, particularmente na área de alimentos, a presidente se defrontará com dois grandes riscos: a perda de controle sobre o processo político-administrativo, com a governabilidade caindo abaixo do ponto crítico; e a perda de capacidade de reverter o processo de desacumulação de força. Sob essas duas situações-limite, é razoável crer na hipótese de que o PT, para preservar seu projeto de poder, convença seu comandante em chefe a voltar à liça. A recíproca é verdadeira. Se a economia correr bem nos trilhos, o controle do poder político será resgatado e a boa imagem, reconquistada.

O vetor de peso de um governante, é bom lembrar, equivale ao de um balanço. A princípio, ele sobe, depois desce, mantendo-se em nível baixo por bastante tempo, até juntar forças para recuperar a posição anterior. O perigo é quando o mandatário atinge o ponto de quebra, aproximando-se do extremo do arco da estabilidade: nesse caso não haverá condições para segurar a queda e acampar o governo em terreno seguro.

Um exemplo clássico de recuperação, segundo o cientista social chileno Carlos Matus, foi o do último governo do presidente Paz Estenssoro, da Bolívia, que empreendeu forte programa de ajuste macroeconômico, sob a condução do ministro do Planejamento Sánchez de Losada. A inflação de 30.000% ao ano destruíra as forças do presidente e de seu partido. A eficácia do programa reduziu a alta dos preços a 30% ao ano, o que deu a Losada, em 1993, a maior votação das eleições presidenciais daquele país. Foi uma típica demonstração da teoria do balanço. Não há comparação, claro, com a atual situação brasileira. Nossa inflação não chega nem a dois dígitos. O exemplo serve para ilustrar a imagem da gangorra, como a que vemos por aqui. Com os preços de alimentos subindo a uma taxa anual entre 14% e 19%, conforme escreveu o economista José Roberto Mendonça de Barros no Estado (A economia está parando, 7/7, B4), é possível prever forte pressão sobre os orçamentos familiares e, se isso ocorrer, expansão da insatisfação social Nesse caso o cenário de queda se manteria.

João Santana, o responsável pelo marketing do governo federal, estipula em quatro meses o tempo para a presidente recuperar o patamar de prestígio. É possível? A resposta vai depender do axioma "quem é dono da flauta dá o tom". A dona é a maestrina da orquestra e é chamada de economia. A lábia do marqueteiro aponta, portanto, para as cartas econômicas que serão embaralhadas para o jogo de 2014.

É evidente que, a par de eventuais trunfos a serem obtidos na mesa da economia, há mais dois cinturões do governo para ajustar, sob pena de irreversível débâcle da imagem presidencial: o político e o de serviços públicos. Se fechar a torneira para as demandas políticas, a presidente ficará sob ameaça de mais derrotas no Parlamento. Caso tampe os ouvidos para o forte clamor das massas nas ruas, arrisca-se a cair no despenhadeiro da rejeição social. Hoje se mostra atenta à onda popular, abrindo um conjunto de iniciativas, como a proposição da reforma política e a implantação de programas, alguns polêmicos, como a importação de médicos e a extensão dos cursos de medicina de seis para oito anos.

Caso não consiga ajustar os cinturões da governança aos corpos econômico, político e de serviços sociais, a candidata à reeleição poderá ser induzida a ceder o lugar ao antecessor, plano B com que trabalha parcela da máquina petista. Daí a inevitável pergunta: a volta de Lula seria a solução para o PT prolongar seu projeto de poder?

O horizonte é nebuloso. Mas algumas hipóteses são razoáveis. A primeira delas é a de que voltar é uma forma de retroceder. O percurso liderado pela primeira mulher presidente seria interrompido para propiciar o reingresso em cena do nome maior do PT. O que não evitaria a sensação de insucesso da estratégia petista.

Outra observação: nem o Brasil nem Luiz Inácio são os mesmos de ontem, o que nos remete à máxima de Heráclito de Éfeso: "Um homem não passa duas vezes no mesmo rio". As águas sempre se renovam. O Sol é novo a cada dia. As duas vezes que Lula atravessou as águas nacionais formaram e fecharam um ciclo, caracterizado pelo aprofundamento das coalizões partidárias (que resultaram no mensalão), por um compadrio patrimonialista entre sindicalismo e Estado, pelo acesso das massas à mesa do consumo e por um estilo populista de governar, que multiplicou contatos com as massas. Atualmente Luiz Inácio se agasalha no conforto de palestras internacionais, sob o manto do carisma e do perfil com maior cacife eleitoral. E tem de cuidar bem da saúde, mesmo exibindo passaporte de seus médicos para voltar a freqüentar palanques.

Navegar no Brasil de hoje é, para os políticos, um exercício de reaprendizagem. A pororoca que se espraia pelo País exige um mergulho profundo nas águas que inundam ruas, becos e vielas. Lula é um navegante. Mas o rio está mudando o curso. Pegar uma canoa em direção ao amanhã, apenas com um "baú recheado de coisas de ontem"... pode dar com os burros n"água.

Jornalista, professor titular da USP

Fonte: O Estado de S. Paulo

Revolucionários ou burgueses? - Clóvis Rossi

Olhares estrangeiros sobre protestos no Brasil e no mundo chegam a conclusões contrapostas

Dois acadêmicos estrangeiros, de posições contrapostas, chegam a conclusões igualmente contrapostas --mas, curiosamente, ambas verossímeis-- a propósito dos protestos no Brasil (e no mundo). O que não significa que sejam verdadeiras, já que paira um imenso ponto de interrogação sobre as manifestações.

Refiro-me a artigos do esloveno Slavoj Zizek, popstar da filosofia, para a "London Review of Books", e do cientista político Francis Fukuyama, famoso por ter decretado "o fim da história" com o triunfo definitivo do capitalismo e da democracia liberal, este para o "Wall Street Journal".

Para Zizek, os protestos são anticapitalistas. "São todos reações a facetas diferentes da globalização capitalista. A tendência geral do capitalismo global de hoje é no sentido de um expansão ainda maior do império do mercado, combinada com o progressivo fechamento do espaço público, a redução dos serviços (saúde, educação, cultura) e uma gestão sempre mais autoritária do poder político", escreve.

Não é difícil, de fato, ler os protestos no Brasil com essa lente. Pediram melhores serviços públicos, entre eles os de saúde e educação, e uma reforma política que desse aos mortais comuns um papel de maior protagonismo ante um poder político fechado em si mesmo.

Resta saber se são protestos contra o capitalismo como sistema, como crê o esloveno, ou contra abusos que podem ser remediados sem jogar o sistema em si no lixo.

De todo modo, é igualmente aceitável a conclusão de Zizek de que as manifestações são uma "tomada de consciência de que a forma atual da democracia representativa não é suficiente para combater os excessos do capitalismo e, portanto, a democracia deve ser reinventada".

Não deixaria de ser uma revolução.

Fukuyama não vê revolução, mas "fermentos":

"O elemento em comum nas recentes desordens na Turquia e no Brasil, como também na Primavera Árabe de 2011 e nos contínuos protestos na China, é a ascensão de uma nova classe média global. Onde quer que se tenha afirmado, essa classe média provocou fermentos políticos, mas quase nunca tem sido capaz de determinar por si só mudanças duradouras".

O cientista político duvida que seja diferente agora.

Ao contrário de Zizek, Fukuyama não vê anticapitalismo, mas o seu oposto no perfil dos manifestantes:

"Grande número de estudos conduzidos em vários países, entre os quais algumas pesquisas do Centro Pew e dados da Pesquisa Mundial sobre Valores da Universidade de Michigan, demonstram que pessoas com nível de instrução mais alto atribuem maior valor à democracia, à liberdade individual e à tolerância com estilos de vida diferentes."

Ou, posto de outra forma, os manifestantes seriam "burgueses que reclamam não só segurança para a própria família, mas também liberdade de escolha e mais oportunidades".

No fundo, é aquela velha história de que tudo depende da cor das lentes com as quais se olha algum fenômeno.

Fonte: Folha de S. Paulo

Uma fábula do protesto de junho - Vinicius Torres Freire

'Povo das ruas' vai se olhar no espelho quando invadir o Castelo do Tudo-Que-Está-Aí

A queixa velha sobre impostos excessivos em troca de serviços públicos ruins tornou-se uma fórmula chocha que tentou traduzir a "voz das ruas". Fez par com a "crise de representação" ou "os políticos não me representam".

Somados, os dois lemas sugerem que no fim desse arco-íris com sete tons de cinza ("tudo que está aí", "políticos") há um pote de ouro a ser aberto e dividido para o bem geral.

No que vai dar um protesto que marcha para abrir as cadeias da Bastilha (o "governo") e descobre que há lá só uma dúzia de presos, em vez de milhares de vítimas dos "políticos" da corte de Versalhes?

Talvez os impostos não sejam tantos assim. Ou melhor: os impostos não são recolhidos com o fim de prover "serviços públicos de qualidade".

Os impostos federais pagam aposentados, salários e aposentadorias dos servidores, juros da dívida, benefícios sociais para miseráveis e coisas como seguro-desemprego. E o dinheiro acabou. O resto, para bancar "educação, saúde e transporte de qualidade", é muito pouco e já é deficit, financiado com dívida.

Tal sistema é feito de camadas arqueológicas do conflito social, aberto ou camuflado. Servidores, que inventaram o Estado e o jeito brasileiros de desenvolvimento (1930-1985), se criaram benefícios nem tão privilegiados assim, mas muito superiores ao do padrão médio de vida (tal Estado também bancou a criação da grande empresa nacional e beneficiários dela, a velha classe média).

Parte do INSS, benefícios para miseráveis e outras melhorias advindas, aos poucos, com a Carta de 1988 foram um remendão que mantém um mínimo de estabilidade sociopolítica num país pobre que tenta ser democrático em um regime de extrema desigualdade e violência. Sem isso, viveríamos em tumulto constante ou coisa pior.

Os juros da dívida remuneram a poupança das famílias muito ricas, ricas e remediadas ("fundos" de banco, por exemplo. No grosso, quem tem alguma poupança recebe juros da dívida).

De onde vem a dívida? Ficou enorme no esforço de estabilizar a economia (acabar com a hiperinflação, anos 1990) sem causar ruptura política ou social maior. Continuou a crescer com deficit para manter o sistema funcionando.

A inflação foi um meio de acumular capital para o Brasil desenvolvimentista, de concentração de renda, de bens para a "nova classe média" dos anos 1960-70 (outro meio de acumular capital, também tirado dos pobres, foi a repressão pura, pau nos trabalhadores peões).

Na fábula dos protestos de junho, o povo das ruas invade a Bastilha ou Versalhes e, sim, descobre que "políticos" e seus clientes (empresas e ricos) levam algum extra.

Mas, lá no fundo do castelo, o povo das ruas vai descobrir que, no grosso, paga para si mesmo, para seus avós aposentados, para acalmar miseráveis, para o subsídio da sua casa ou bens de consumo. Vai descobrir que, enfim, recebe de volta quase tudo que paga, de modo distorcido e desigual, decerto; quem recebe menos é o povo dos cafundós de cidades e sertões.

O povo das ruas vai descobrir que o pote de ouro é pequeno; que redividi-lo vai exigir conversa ou conflito. Talvez descubra que boa parte do ouro não está no castelo estatal.

No fundo desse castelo do "tudo que está aí", enfim, tem um espelho.

Fonte: Folha de S. Paulo

Medicina de padiola - José de Souza Martins

O governo alega que segue o modelo inglês, mas lá o clínico-geral é médico de família. Aqui, nos hospitais públicos, a prática é fragmentária e lotérica

Entre as manifestações de rua das últimas semanas e as respostas que o governo (Executivo e Legislativo) lhes está dando há um descompasso imenso. Os manifestantes exigiram uma coisa e o governo está dando outra. As reivindicações eram quanto à qualidade da medicina oferecida à população, e também quanto à qualidade da educação, da segurança, da vida (e da própria política, nos protestos contra a corrupção). A resposta de presumível maior impacto foi no âmbito da medicina,resposta quantitativa: mais médicos.

Quantitativa, também, no demorado tempo para surtir efeito: 2023. Muitos dos que carecem já de qualidade na assistência médica estarão mortos, como estarão mortos vários dos que decidem sobre os carecimentos do povo, insuficientemente interpretados. Os pobres e famélicos não foram os principais protagonistas das ruas: foi predominantemente a classe média, mesmo aquela forjada nos recursos de arredondamento dos dados estatísticos. Além disso, foram as grandes e médias cidades que gritaram, não os lugarejos do Brasil profundo, o que não quer dizer que não haja ali carências graves e até absolutas.

Assim como a sociedade do governo não está batendo com a sociedade do povo, também a geografia do governo não está batendo com a geografia do povo. O Brasil da governação,nos embates de agora,revela-se um Brasil de estereótipos, ficção de livro, longe do real. O governo entendeu que a rua queria o mais, quando queria o melhor: melhores serviços sociais, melhor governo, reconhecimento de direitos e não favores. Um despiste geral do Executivo e do Legislativo levou a decisões necessárias, sem dúvida, mas não suficientes, bloqueadas durante longo tempo pelo negocismo políti cooportunista, que começam a ser desbloqueadas pelo medo oportunista aos manifestantes.

Ninguém pode deixar de temer a solução quantitativa para a questão da assistência médica, anunciada no improviso das pressões de rua,mesmo que se diga que estavam sendo preparadas havia um ano. Acrescentar dois anos de permanência do estudante de medicina na faculdade, como servidão para receber o diploma, não resolve necessariamente a carência atual e urgente de médicos nem a qualidade dos serviços médicos. O governo alega seguir o modelo inglês. Pode ser. Mas no modelo inglês a formação de médicos tem como destinatária a boa medicina social inglesa, baseada na precedência da clínica vicinal e do clínico geral como primeira instância da assistência médica.

Aqui, o hospital acaba sendo a primeira instância, e o atendimento do clínico geral é mero mediador de triagem. Lá,o clínico-geral é médico de família e é sempre o mesmo médico. Aqui, nos hospitais públicos, a medicina tende a ser fragmentária e lotérica, mesmo que praticada por excelentes profissionais. As demoras entre uma consulta e outra podem estender-se por meses e, não raro, resultados de exames ficam por meses à espera da leitura pelo médico que os pediu. A medicina corre o risco de virar engenharia, não mais regulada pelo tempo da vida, mas pelo tempo da produção. O médico convertido em mão de obra, a boa e artesanal intuição do clínico geral perdendo prestígio.

É igualmente inútil comparar a medicina que está sendo proposta aqui com a medicina social inglesa. Lá, o serviço médico e outros serviços sociais são pensados e organizados com base na premissa comunitária de sua oferta e funcionamento. Não temos essa cultura no Brasil. Aqui, aliás, nada é menos comunitário do que tudo que é anunciado como comunitário. Provavelmente, um complicador dos serviços de medicina pública no Brasil está na própria má organização dos serviços e má utilização dos médicos e dos recursos disponíveis. Nos anos 1970, o professor Walter Leser, secretário de Saúde do Estado de São Paulo e um precursor da medicina preventiva entre nós, mandou publicar um estudo sobre doenças tratáveis e até curáveis que, no entanto, eram causa de mortalidade em São Paulo. Em alguns casos, o índice de mortalidade era alto.

O tratamento e a cura estavam disponíveis; no entanto, não chegavam aos que deles precisavam. Aqui, hospital, como escola, sempre foi motivo de demagogia política: construir prédios, antes de construir soluções. Prédio pode ser eleitoralmente visto. O tratamento e a cura de doenças, não. Em vez de valorização de polos de diagnóstico e tratamento, aqui se centraliza. Basta visitar em qualquer dia de semana a Rua Dr.Eneas Carvalho de Aguiar, que atravessa o complexo do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo, para constatar o congestionamento de ambulâncias procedentes do interior do Estado, de lugares que têm ou poderiam ter seus adequados serviços médicos. Até do Paraná e de Minas Gerais chegam ambulâncias diariamente. Ao que parece, politicamente, o melhor hospital é a ambulância e o melhor médico, seu motorista. A política de saúde pública de muitos lugares é uma política de transportes. Já se disse, até, que o melhor hospital de Brasília é o aeroporto.

José de Souza Martins é sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP e autor, entre outros, de A Política do Brasil lúmpenemístico

Fonte: Aliás / O Estado de S. Paulo

Modelo falido - Merval Pereira

O economista Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ, é um crítico do modelo de desenvolvimento adotado nos últimos 20 anos no país, que denomina Modelo Liberal Periférico e, na sua visão, teria se agravado nos governos petistas de Lula e Dilma devido a uma política econômica equivocada e a um sistema político corrupto e clientelista.

Em seu trabalho "Déficit de governança e crise de legitimidade do Estado no Brasil", Gonçalves analisa os protestos de junho e, ao contrário da leitura predominante, atribui as suas causas não à insatisfação com a mobilidade urbana, mas "a uma crise sistêmica que tem raízes estruturais e abarca graves problemas de governança e de legitimidade do Estado".

Ele considera "um equívoco" a ênfase dada por pensadores de esquerda à influência do "inferno urbano" brasileiro nos protestos, pois "além de negligenciar as raízes estruturais da crise, este enfoque desconhece o papel dos catalisadores que são fenômeno recente e estão associados aos governos petistas (e seus aliados)".

Estes "catalisadores" implicariam um país "invertebrado", com a perda de legitimidade do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) e das instituições representativas da sociedade civil (partidos políticos, centrais sindicais e estudantis, organizações não governamentais.... "Trata-se de um social-liberalismo corrompido por patrimonialismo, clientelismo e corrupção e garantido pelo "invertebramento" e pela fragilidade da sociedade civil", diz Gonçalves.

Segundo Gonçalves, o Modelo Liberal Periférico vem tendo fraco desempenho pelos padrões históricos brasileiros e pelos atuais padrões internacionais, inclusive durante os governos Lula e Dilma. Suas principais características são: liberalização, privatização e desregulação; subordinação e vulnerabilidade externa estrutural; e dominância do capital financeiro. Essa política gerou o que Gonçalves chama de " Brasil Negativado", que expressa a deterioração das condições econômicas e abarca o país, o governo, as empresas e as famílias. As finanças públicas se caracterizam por significativos desequilíbrios de fluxos e estoques, além, naturalmente, dos problemas epidêmicos de déficit de governança e superávit de corrupção (Gonçalves, 2013b). O aumento da dívida das empresas e famílias tem causado crescimento significativo da inadimplência. O aumento da negatividade é resultado da política de crédito fortemente expansionista no contexto de taxas de juros absurdas, fraco crescimento da renda, inoperância da atividade fiscalizadora e abuso de poder econômico por parte dos sistemas bancário e financeiro. Milhões de pessoas (pobres e classe média) estão perdendo o sono porque estão negativadas, não conseguem pagar suas dívidas. E isto causa sofrimento e revolta.

A distribuição limita-se à redistribuição incipiente da renda entre os grupos da classe trabalhadora de tal forma que os interesses do grande capital são preservados; não há mudanças na estrutura primária de distribuição de riqueza e renda no que se refere aos rendimentos da classe trabalhadora versus renda do capital.

Segundo Gonçalves, os governos petistas e seus aliados são os principais responsáveis por esta situação, que estaria levando o país ao desenvolvimento às avessas". Na visão de Gonçalves, o "social-liberalismo corrompido só se consolidou visto que sustentado por transferências e políticas clientelistas e assistencialistas. Depois de dez anos de governo, há a falência do PT, que tem sido absolutamente incapaz de realizar mudanças estruturais no país".

Gonçalves diz que a probabilidade de que as revoltas populares causem mudanças estruturais é pequena. Para ele, a trajetória é de instabilidade pelas seguintes razões: 1) a crise tem raízes estruturais; 2) a crise é sistêmica; 3) não é do interesse dos grupos dirigentes e dos setores dominantes realizar mudanças estruturais; 4) no movimento popular não há convergência de entendimentos sobre as causas e responsabilidades da crise, nem sobre propostas de luta política.

O Brasil "entranha-se em trajetória de fraco desempenho econômico, com recorrentes momentos de instabilidade e crise, e embrenha-se em nuvens cinzentas que turvam o caminho do desenvolvimento social, político, ético e institucional em função dos problemas estruturais que não são enfrentados", escreve Gonçalves.

Segundo o estudo, o mais provável, é a repetição do nosso conhecido drama histórico: êxito a curto prazo da estratégia dos grupos dirigentes e dos setores dominantes, que contam com a perda de fôlego, a exaustão e a fadiga dos manifestantes.

Fonte: O Globo

Mercadante, o articulador do caos - Elio Gaspari

A extensão de seis para oito anos do curso de medicina penalizará quem ralou pagando faculdade privada

Na condição de articulador de iniciativas da doutora Dilma, o comissário Aloizio Mercadante patrocinou três lances de gênio. A saber:

1) A convocação de uma constituinte exclusiva para fazer uma reforma política. Durou 24 horas.

2) A convocação de um plebiscito para que o eleitorado definisse os marcos da reforma. Durou duas semanas.

3) Com o copatrocínio do ministro Alexandre Padilha, da Saúde, propôs a reorganização do ensino médico, aumentando-o de seis para oito anos.

Na semana passada informou-se aqui que as burocracias do MEC e das universidades federais faziam uma exigência maluca para médicos formados no exterior que quisessem revalidar seus diplomas. Caso queira trabalhar no Brasil, um doutor que se formou em Harvard e trabalha na clínica de Cleveland é obrigado a atestar que mora em Pindorama, mesmo tendo nascido aqui. Sem isso não pode pedir a revalidação, que demora até um ano. Até lá, vive de quê?

A exigência será eliminada, tudo bem, mas havia coisa pior. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Inep, não sabe dizer quem pôs o jabuti na forquilha do programa Revalida, muito menos por quê. Essa mesma condição é exigida na rotina das revalidações de universidades federais. Puro obstáculo para blindar o mercado. Produto da onipotência dos educatecas.

Agora Mercadante e Padilha querem que os estudantes de medicina trabalhem no SUS por dois anos. Novamente, trata-se de um exercício de onipotência.

Ele se esconde atrás do argumento do aperfeiçoamento dos médicos. Trata-se de uma lorota, pois o Brasil tem medicina há séculos e suas deficiências não derivam da formação dos doutores, mas do desperdício de dinheiro público e da ganância dos interesses privados, inclusive de médicos.

Imagine-se dois estudantes. Aloizio é filho de um banqueiro, estudou em bons colégios e entrou para uma das melhores faculdades de medicina. Como são todas públicas, fará o curso sem desembolsar um tostão. Alexandre é filho de um bancário que trabalha para o pai de Aloizio. Não teve boas escolas, mas foi aprovado numa instituição privada. A família cacifou algo como R$ 300 mil, só em anuidades.

Seria razoável que Aloizio devolvesse em serviços para o SUS os seis anos de faculdade gratuita. Essa é uma antiga proposta de médicos do setor público. Alexandre, contudo, precisa trabalhar para aliviar o orçamento do pai bancário. Tem 26 anos, estuda há dezoito e agora querem obrigá-lo a ir para um regime de liberdade condicional trabalhando no SUS por mais dois, ganhando entre R$ 3 mil e R$ 8 mil (só os mandarins de Brasília acham que essas duas quantias são similares).

Se os comissários fossem menos onipotentes, os dois anos de serviço ao SUS seriam opcionais para quem estudou medicina em faculdade privada.

Quem entende do assunto jura que essa iniciativa, que começaria a valer em 2015, terá o mesmo destino que a constituinte e o plebiscito, pois é mais fácil mudar um cemitério de lugar do que alterar os currículos das faculdades de medicina.

Vem pro capilé!

Por mais que centrais sindicais apensas às verbas do Ministério do Trabalho sustentem que suas manifestações movidas a mimos de até R$ 70 são espontâneas, vale lembrar:

Em 1978, quando despontou a figura de Lula, ele se opunha ao oficialismo sindical.

Naquela época Nosso Guia dizia o seguinte, numa carta pública ao senador Petrônio Portella:

"As entidades sindicais nascem, se desenvolvem e desaparecem sob a tutela do Estado. (...) Este estado de coisas decorre da filosofia que presidiu a criação dos sindicatos no Brasil. Fiéis a esta filosofia, os legisladores atrelam as entidades sindicais ao governo, antes de tudo, como órgãos de colaboração. Deles dependente para nascer, viver e morrer, o sindicalismo brasileiro, por tradição histórica, sempre aderiu ao governo e regimes vigentes para garantir sobrevivência."

Hoje a chave do cofre está no bolso do PT. Em 2012, os trabalhadores pagaram R$ 2 bilhões de imposto sindical e as centrais embolsaram 10%. Desatrelamento? Nem pensar.

Bonnie & Clyde

É implicância falar dos helicópteros do governador Sérgio Cabral. Coisa de pobre.

Michael Bloomberg, o prefeito de Nova York, adora seu Agusta SPA A109S de US$ 4,5 milhões. Não se sabe se ele já levou para sua casa de verão Bonnie e Clyde, os labradores da namorada.

Cabral e seu cachorro Juquinha voam para Mangaratiba num Agusta AW109 que custou US$ 7,5 milhões.

Diferença: Bloomberg pagou o brinquedo com o próprio bolso.

Haddad precisa das lições de Carlos Lacerda

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, poderia estudar as administrações de governantes que pensaram nas cidades que governaram. Gente como Jaime Lerner em Curitiba e Carlos Lacerda, no Rio. Depois de lutar como um gladiador na defesa da tarifa de ônibus de R$ 3,20, argumentado que sua redução para R$ 3 custaria à prefeitura R$ 175 milhões por ano, abriu duas concorrências para a reforma do autódromo de Interlagos. Preço? R$ 161 milhões.

Interlagos só pode ser visto como autódromo por pessoas incapazes de perceber que aquilo não é uma pista de corrida, mas uma área pública, com 1,5 milhão de metros quadrados, pouco menor que o aterro do Flamengo, no Rio. Só a demofobia explica que não seja um parque aberto à população. Há ali toda uma infraestrutura para as corridas, mas no aterro, bem como no parque Ibirapuera, há museus, restaurantes e uma marina. Suas áreas livres servem aos contribuintes, para glória das cidades. Quando a prefeitura quer, Interlagos vira área pública. Lá o padre Marcelo Rossi celebrou uma das maiores missas já realizadas no país. No mais, é uma donataria mecânica.

Neste ano estão programados uns vinte eventos, todos motorizados, inclusive a corrida do Porsche Club (22 e 24 de novembro). Nos dias vagos, nada. Evento sem rodas listado pela SP Turismo, nenhum. Nas últimas décadas, as sucessivas reformas de Interlagos já custaram à Viúva mais de US$ 100 milhões, mas as atividades para bípedes são ralas. Não existe autódromo de Fórmula 1 dentro da malha urbana de uma cidade sem que haja ali um parque. O de Monza convive com as pistas.

Virá o dia em que um prefeito de São Paulo olhará para Interlagos e dirá que ali erguerá um parque. Ele será lembrado como Lacerda com o aterro e Lerner com os calçadões. Até os anos 50 os governantes de São Paulo incomodavam-se com um alagadiço que os índios denominavam de "pau podre". Um dia o governador Lucas Garcez chamou Oscar Niemeyer e fizeram o parque Ibirapuera.

Fonte: O Globo