sexta-feira, 28 de junho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Marina Silva: as ruas, uma surpresa

As manifestações nas ruas do Brasil nos colocam uma grata surpresa: o atual modelo político, além de desautorizado pelo repúdio na polifonia das multidões, também está sendo descontinuado, desconstruído e, ao menos simbolicamente, sepultado. Isso pode assustar, mas devemos nos alegrar por termos chegado a um ponto de virada, em que é possível fazer a história fora do museu, deixar a velha e estagnada repetição que nos condena a andar sem sair do lugar.

Tenho dito e repetido: é hora de metabolizar, não de capitalizar. Para além das reações, podemos construir respostas, reelaborando, sobretudo, os improvisos que a surpresa do momento nos obriga a fazer e colocando em debate as soluções dadas no susto.

Marina Silva, ex-senadora, in “No susto”, Folha de S. Paulo, 28/6/2013

Manchetes dos jornais de hoje

O GLOBO
O Brasil nas ruas: Deputado desafia ordem de prisão do STF e some
Base apoia plebiscito, e oposição, referendo
Menos protestos, e mais um morto
BC avisa: PIB será menor; e inflação, maior
IPI de geladeira e móvel aumentará

FOLHA DE S. PAULO
Planalto defende plebiscito
conciso sobre reforma
Deputado não cumpre acordo de se entregar e está sumido
Alckmin corta secretaria para cobrir perda de receita do metrô
Violência do Estado dificulta atos pacíficos, diz Passe Livre
Dono da Azul e BNDES negociam compra da TAP

O ESTADO DE S. PAULO
Aliados apoiam plebiscito; oposição vê manobra de Dilma
Lula e as redes sociais
Senado dos EUA aprova reforma imigratória
IPI de móveis e linha branca sobe 2ª feira
Copa das confederações: Legado, só estádio, diz Valcke, da Fifa

VALOR ECONÔMICO
Demanda menor reduz juro no crédito para construção
BC prefere superávit fiscal estrutural
Commodities em baixa no semestre

BRASIL ECONÔMICO
BC ainda aposta no consumo apesar dos indicadores
Royalties da discórdia

ESTADO DE MINAS
O dia depois da guerra
Reforma política: Base aliada aprova plebiscito genérico

O TEMPO (MG)
Assembleia Popular define nova manifestação para o fim de semana
Comandante da Polícia diz que manifestações em BH são pacíficas
Oposição se une contra plebiscito e defende realização de referendo
BC prevê crescimento menor

CORREIO BRAZILIENSE
Burocracia emperra a vontade das ruas
Mais inflação e PIB menor, prevê o Banco Central
Comércio perde R$ 9 bilhões com protestos
IPI para móveis e linha branca volta no dia 1º

GAZETA DO POVO (PR)
Planalto tenta assumir controle sobre a agenda das manifestações
Burocracia impede a construção de presídios
Senado dos EUA aprova lei de imigrantes
Argentina segura o trigo

ZERO HORA (RS)
Governo quer plebiscito, oposição quer referendo
Manifestantes mantêm Câmara ocupada em SM
Abaixo do previsto: Móveis e linha branca terão elevação de IPI

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Protestos no País já deixaram 6 mortos
Preço de fogão e geladeira deve subir

O que pesna a mídia - editoriais dos jornais de hoje

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

O Brasil nas ruas - Menos protestos, e mais um morto

Os protestos pelo país foram menos intensos ontem. No Centro do Rio, num ato contra “ a violência policial e a corrupção, cerca de 5 mil pessoas marcharam até a sede da federação das empresas de ônibus.

O comércio sofre perdas de R$ 350 milhões a cada dia de manifestação.

No Guarujá (SP), um jovem de 16 anos morreu atropelado por um caminhoneiro que desviava de um protesto. Jovens de países da América Latina, como Chile, Paraguai e Costa Rica também saíram às ruas em atos contra governos e políticos

Dia de protestos e negociações

Manifestantes retomam atos em todo o país, enquanto políticos tentam dar resposta aos protestos

Gustavo Goulart, Sérgio Ramalho e Vera Araújo

Enquanto a Polícia Federal caça o deputado federal Natan Donadon (RO), expulso do PMDB e foragido da Justiça depois de receber ordem de prisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pelas condenações de peculato e formação de quadrilha, milhares de brasileiros voltaram às ruas ontem para pedir o fim da corrupção e melhores serviços públicos. As manifestações, porém, foram menos intensas.

No Rio, pelo menos cinco mil pessoas protestaram contra a impunidade e por mais dinheiro para a Educação, entre outros temas.

Em Brasília, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) resolveram mostrar a cara, duas semanas depois do início da onda de manifestações.

Em Fortaleza, após uma grande protesto pacífico, vândalos tentaram furar o bloqueio da polícia no perímetro de segurança do estádio do Castelão, onde ocorria a partida entre Espanha e Itália, e provocaram novas cenas de violência. Em Salvador e Porto Alegre também houve protestos, com número menor de manifestantes, em relação aos dias anteriores.
Em Brasília, a presidente Dilma Rousseff obteve, no Palácio do Planalto, o sinal verde dos partidos aliados ao governo para propor um plebiscito para fazer a reforma política. A base governista já discute incluir entre os temas do plebiscito o fim da reeleição e a ampliação para cinco anos do mandato do presidente da República. A ideia de plebiscito, porém, é rechaçada pelos partidos de oposição, que prefere realizar um referendo.

Juntos, PSDB, DEM e PPS emitiram nota na qual chamaram de "tentativa de golpe" a fracassada ideia de Constituinte para tratar do assunto. E defenderam, no lugar de um plebiscito - no qual os temas de reforma política seriam diretamente tratados pela população -, um referendo, em que o Congresso discutiria as mudanças na legislação e submeteria o resultado do debate parlamentar aos eleitores. Para a oposição, o governo tenta desviar o foco dos problemas sociais ao focar a discussão sobre a reforma política.

Manifestação pacífica ocupa o Centro do Rio

PMs reforçam a segurança da sede do Legislativo e da federação de ônibus

Milhares de pessoas voltaram a ocupar de forma pacífica as ruas do Centro do Rio ontem à tarde, numa manifestação organizada pelo Fórum de Lutas Contra o Aumento da Passagem. Cerca de cinco mil pessoas participaram do ato, de acordo com o 5º Batalhão da Polícia Militar (BPM). A Avenida Rio Branco foi totalmente interditada na altura da Presidente Vargas, que chegou a ficar bloqueada, nos dois sentidos, entre a Avenida Passos e a Candelária, onde a concentração começou. Depois de chegarem na Cinelândia, o grupo seguiu pela Rua Araújo Porto Alegre e ocupou a Avenida Presidente Antônio Carlos, que foi fechada. A passeata seguiu sem confrontos pela Rua Primeiro de Março até a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), parou em frente à sede da Federação da Empresas de Transporte do Rio (Fetranspor), na Rua da Assembleia, e voltaram para a Cinelândia.

Diferentemente dos outros dias de protesto, em que manifestantes com bandeiras de partidos políticos foram hostilizados, desta vez sindicatos e membros de partidos participaram do ato sem ser incomodados. Alguns manifestantes levaram instrumentos musicais e formaram uma banda em meio ao protesto, que teve cartazes com dizeres e palavras de ordem contra a violência policial, a corrupção, a falta de verba nas universidades, defendendo melhor qualidade de ensino na universidade pública.

O protesto foi marcado uma plenária que reuniu cerca de mil pessoas no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ, no Centro, no início da semana. Na página do evento no Facebook, mais de 9 mil pessoas haviam confirmado presença no protesto. A Polícia Militar mas informou que o policiamento foi reforçado na região com pelo menos 400 agentes. Somente em frente à Alerj, na Rua Primeiro de Março, ficaram cerca de 200 PMs. Do outro lado da rua, no número 10 da Rua da Assembleia, onde funciona a sede da Fetranspor, outro grupo de cerca de 200 policiais reforçava a segurança. Grupos de policiais militares em fila indiana seguiram a passeata pelas laterais, enquanto outro grupo permanecia à frente dos manifestantes, mas não houve registros de confusão. Ao longo da passeata, os manifestantes eram saudados por pessoas que estavam nos prédios, que piscavam as luzes dos escritórios à medida que eles passavam, além de jogar papel picado.
Apesar do clima de tranquilidade, alguns manifestantes chegaram a cobrir os rostos e a colocar máscaras de gás ao chegar perto da Alerj, palco, na semana passada, de violentos confrontos entre vândalos e a PM. Mas os organizadores pediram que eles não escondessem o rosto, e o ato prosseguiu sem incidentes.

TJ dispensa juízes por causa do ato

O comércio do Centro fechou as portas mais cedo, mas dezenas de vendedores ambulantes aproveitaram a passeata para trabalhar. Como Paulo Sergio Bernardo, de 50 anos. Auxiliar de serviços gerais, ele vendia bandeiras do Brasil, mas reclamou que o ato de ontem tinha menos manifestantes que o da semana passada.

- Da outra vez, consegui vender 300 bandeiras a R$ 10 em uma hora e meia. Hoje, em 30 minutos, vendi apenas 40 - lamentou o ambulante.

A concentração para o ato começou pouco antes das 16h na Candelária, onde policiais militares pediam aos manifestantes que se afastassem de possíveis vândalos. Eles distribuíram panfletos com os dizeres "Ajude-nos a proteger você. Afaste-se dos que insistem em vandalizar uma manifestação pacífica".

A estudante do programa Jovem Aprendiz Beatriz Gonçalves, de 16 anos, participava pela primeira vez das manifestações no Rio, protestando a favor da educação. Beatriz, que mora na Ilha do Governador, contou que, por causa do horário de trabalho, não pôde participar dos outros atos. Ela chegou mais cedo, com oito amigos.

- Sem conhecimento, não se muda um país - disse a estudante.

Por causa do protesto, a presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargadora Leila Mariano, pediu que todos os juízes deixassem o prédio do TJ, que fica na Avenida Presidente Antônio Carlos.

Outros dois grupos se juntaram aos manifestantes que se concentravam na Candelária: um deles, formado principalmente por professores, saiu da Lapa e seguiu pela Avenida Presidente Antônio Carlos, passando pela Rua Primeiro de Março, e o outro, com cerca de 300 pessoas, saiu do Largo de São Francisco, onde fica o IFCS. O grupo que estava concentrado no Largo de São Francisco se dirigiu à Candelária por volta das 17h.

As mortes no Complexo da Maré também entraram na pauta de reivindicações. Manifestantes levavam cartazes pedindo uma polícia menos truculenta e gritavam palavras de ordem como "A Maré está conosco". Um grupo de moradores da comunidade levou cartazes pretos com os nomes das vítimas da operação que deixou nove mortos, além de um sargento do Bope, na madrugada de terça-feira.

Em Fortaleza, 84 são presos por vandalismo em passeata

Minoria confrontou a PM e causou depredações; sete ficaram feridos

Um dos mais violentos confrontos entre a polícia e manifestantes ocorrido em Fortaleza desde a última segunda-feira mudou ontem a rotina de uma das principais vias de acesso à Arena Castelão, onde jogavam Espanha e Itália, pela Copa das Confederações: o vai e vem dos veículos na Avenida Dedé Brasil foi substituído por carros incendiados, ônibus e placas de publicidade depredadas e uma enxurrada de pedras, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Sete pessoas ficaram feridas e, segundo a Secretaria de Segurança Pública, 84 foram detidos por vandalismo.

O protesto, que reuniu cerca de cinco mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, iniciou de forma pacífica. Pela manhã, os manifestantes se reuniram em frente à Universidade Estadual do Ceará (Uece) e saíram em passeata com uma extensa pauta de reivindicações: a criação de um fundo para obras contra a seca, mais investimentos em Educação e Saúde, a redução da tarifa de ônibus dos atuais R$ 2,20 para R$ 2 e a suspensão das obras do Acquário. Por volta do meio-dia, as duas pistas da avenida já estavam tomadas pelos manifestantes, entre eles, estudantes, trabalhadores e representantes de entidades do movimento estudantil e sindical.

Ao tentarem passar pela primeira barreira policial, distante apenas três quilômetros do estádio, um pequeno grupo entrou em confronto com a PM e passou a jogar paus e pedras nos agentes de segurança, reação que os demais manifestantes tentaram conter. O grupo furou o primeiro bloqueio, mas foi contido na segunda barreira policial, formada pelo Batalhão de Choque, que avançou e, com apoio da Força Nacional de Segurança, tentou afastar a minoria exaltada com bombas de gás lacrimogêneo. O grupo reagiu e incendiou pneus, cadeiras e um carro de reportagem de uma emissora local, a TV Diário, afiliada da Rede Globo. Depois, depredou o veículo de outra emissora de TV e atirou pedras contra um ônibus que levava torcedores para a Arena Castelão. Os demais manifestantes tentaram contê-los, gritando "Sem violência", sem sucesso. A polícia usou mais bombas de gás lacrimogêneo e dispersou o grupo. Dos 84 detidos, 57 são adultos e 27, adolescentes.

Em Salvador, após uma manifestação pacífica em defesa do passe livre, da redução da tarifa de ônibus da capital e contra a corrupção, que, segundo a PM, reuniu cerca de duas mil pessoas, um pequeno grupo de manifestantes que se dirigia à Estação da Lapa, principal terminal de ônibus do Centro, entrou em confronto com a polícia, que virou alvo de pedras e rojões. Dois contêineres foram incendiados no local. Assim como em Fortaleza, eles tentaram furar o bloqueio policial e houve reforço do Batalhão de Choque, que usou gás lacrimogêneo para afastá-los.

Mais cedo, os líderes do Movimento Passe Livre (MPL), que esperavam entregar uma carta com 21 reivindicações ao prefeito ACM Neto (DEM), foram recebidos pelo secretário Municipal dos Transportes, José Carlos Aleluia, vaiado pelos manifestantes.

Um grupo de manifestantes também foi recebido em Maceió (AL), mas pelo presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas. Eles participaram de um protesto pacífico contra a corrupção e pela redução da tarifa de ônibus e pediram que a Justiça proíba o reajuste de R$ 2,30 para R$ 2,85.

- Não há clima para se aumentar a passagem de ônibus em Maceió. O Tribunal de Justiça de Alagoas é sensível à voz das ruas - disse o presidente do TJ, José Carlos Malta

(Odilon Rios e Biaggio Talento, da Agência Tarde, com o G1)

Fonte: O Globo

O dia depois da guerra

Destruição

Cenários desoladores nas lojas e revolta dos comerciantes. Era a situação da Avenida Antônio Carlos após as depredações e saques da véspera. As mais atingidas foram as concessionárias de veículos. Em apenas uma delas, o prejuízo é de R$4 milhões. "Já cheguei chorando e implorando para que não roubassem nem destruíssem nada", lembrou a empresária Ana Paula Freitas, que evitou a invasão de sua estamparia. Para piorar, os seguros raramente indenizam por esse tipo de incidente. Só quando há uma cobertura adicional, que encarece a apólice em até 50%.

Desespero

Buscar forças para superar a dor. Era o que restava à família de Douglas Henrique de Oliveira Souza, de 21 anos, que morreu depois de ter caído do Viaduto José Alencar, na Pampulha, durante a manifestação. Auxiliar de logística de uma empresa de Contagem, ele havia faltado ao serviço para ir ao protesto. O corpo será sepultado hoje, em Curvelo, onde o rapaz passou grande parte da vida. Das outras cinco pessoas que caíram do mesmo viaduto nas várias manifestações, quatro continuam internadas. Na quarta-feira, o total de feridos chegou a 16 e 15 já tiveram alta.

Prisões

Setenta e nove adultos e 30 adolescentes, num total de 109 detidos por depredações, roubos e outros oito crimes cometidos quarta-feira. Esse foi o balanço apresentado pela Polícia Civil. Permanecem presos 26 maiores e apreendidos 18 menores. A maioria tem antecedentes criminais. Uma força-tarefa trabalha para identificar e prender outros marginais. Segundo o delegado Anderson Alcântara, há dois grupos extremistas radicais adeptos do vandalismo, com ligações em outros estados e até países, envolvidos nas ações violentas em BH, que já estão sendo rastreados.

Depois do quebra-quebra, uma família em pedaços

Belo Horizonte ainda conta os prejuízos de uma das maiores ondas de vandalismo de sua história. As primeiras estimativas falam em milhões de reais. Mas uma família já sabe que jamais vai conseguir quantificar o que perdeu durante a manifestação de quarta-feira, que arrasou a Avenida Antônio Carlos. "A morte do meu filho não vai representar os cinco centavos de redução da passagem e os políticos vão continuar roubando. A única mudança que vai ter é na minha alma, que agora tem um vazio. Ele não mudou a história do país, mas a da nossa família." A fala carregada de dor e revolta é de Neide Caetano de Oliveira, de 43 anos, mãe de Douglas Henrique de Oliveira Souza, de 21, morto durante a manifestação na Pampulha. Douglas não pertencia a grupos políticos nem carregava bandeiras. Foi ao protesto contrariando a mãe, que havia lhe pedido para ficar em casa. "Ele queria lutar por um Brasil melhor, por saúde e educação, que é o que todos querem, mas mudou a nossa família", completa a irmã Letícia Aparecida, de 22.

Longe da baderna e das confusões, o grito de protesto de Douglas foi interrompido em um pulo dado em falso de cima do Viaduto José Alencar, que faz a ligação das avenidas Antônio Carlos e Abrahão Caram, no acesso ao Mineirão. Segundo um dos dois amigos que o acompanhavam na manifestação, Fernando Fernandes, Douglas tentou pular a mureta do viaduto para alcançar a outra pista, mas não viu o vão livre entre os dois lados. De acordo com a Polícia Civil, não haverá investigação sobre a morte, pois ainda não há indícios de crime. Outros cinco manifestantes foram pegos pela mesma armadilha nos protestos de sábado e quarta-feira. A proteção instalada pela Prefeitura de Belo Horizonte na terça-feira não evitou o risco, pois impedia o acesso apenas nas cabeceiras do elevado

A mãe assistiu a tudo pela televisão e, na hora do acidente, identificou o filho pela cor da camisa. "Vi o Douglas deitado no chão. Meu filho era muito especial na minha vida, falava que me amava todos os dias", diz Neide, em prantos. "Não sei se conseguirei superar esta dor", completa. Filho de pais separados, Douglas se mudou com a mãe, as duas irmãs e uma sobrinha, há cerca de dois anos, de Curvelo, na Região Central, para Contagem, na Região Metropolitana de BH. O pai mora em São Francisco de Paula, no Centro-Oeste do estado. Teve que ser internado com hipertensão ao saber da morte do filho.

O jovem nasceu em Oliveira, também no Centro-Oeste de Minas, mas passou grande parte da vida em Curvelo, onde será sepultado hoje, às 8h, no Cemitério Santa Rita. O velório começou ontem, às 18h. "Viemos do interior para estudar, pois lá não há muitas oportunidades. Queríamos uma vida melhor", diz a irmã. Segundo o primo Pedro Henrique Caetano, de 23, Douglas sonhava em cursar engenharia elétrica. De família simples, o jovem não voltou aos estudos e acabou se dedicando ao trabalho.

Havia seis meses que era funcionário da Usifast, empresa de logística em Contagem. Lá, trabalhava como auxiliar de logística e ajudava a colocar as mercadorias nos caminhões. Pegava serviço às 6h da manhã, mas, na quarta-feira, faltou ao expediente para ir à manifestação. Desde a semana passada estava entusiasmado com os movimentos de protesto e, no perfil do Facebook, chegou a convocar os amigos para irem para a rua. Compareceu à manifestação de sábado e chegou a postar fotos dos protestos de quarta, pouco antes do acidente. Ontem, a morte virou assunto nas redes sociais, onde muitos lamentaram a tragédia.

"Ele morreu lutando, mas não sei se valeu a pena. Fatalidade ou não, morreu por aquilo que acreditava. Era uma pessoa cheia de planos, aventureiro, bonito", lamenta a irmã Letícia. Para o primo, fica a imagem de um jovem que tentou fazer a diferença. "Ele tinha uma luz própria e não esperava ninguém fazer nada por ele. Ia sempre atrás. No sábado, chegou a me falar que a manifestação tinha a nossa cara e que ele iria participar, porque, desse jeito, faria a diferença", conta.

Confronto em dia de jogo

Pela segunda vez, desde o início da Copa das Confederações, o entorno da Arena Castelão, em Fortaleza, transformou-se em palco de confronto entre a polícia e manifestantes que protestavam contra os gastos elevados na construção dos estádios. Cinco policiais militares e pelo menos 20 pessoas que participavam do movimento ficaram feridas. PMs utilizaram spray de pimenta, gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. A Polícia Militar do Ceará informou ter feito 92 prisões. Cinco mil pessoas participaram da mobilização.

Integrantes do movimento disseram que, durante o protesto, guardas municipais, responsáveis pela proteção do patrimônio público, teriam usado, pela primeira vez, o chamado canhão sônico. A arma não letal provoca um ruído muito forte que causa náuseas, desorientação e dores pelo corpo. O equipamento foi bastante utilizado nos Estados Unidos em 2012, durante protestos contra encontro do G-20 (grupo dos 20 países mais ricos) que ocorria no país. No fim da tarde, a Guarda Municipal comunicou por meio de nota que a arma não foi acionada. "Oficialmente, a Guarda Municipal de Fortaleza não dispõe de canhão de som. Nunca compramos esse material", informou.

Os confrontos foram travados na Avenida Dedé Brasil, uma das principais vias de acesso à Arena Castelão, que ontem foi palco da eliminação da Itália, nos pênaltis, pela Espanha. O ato teve início às 11h. A PM montou três barreiras até o acesso principal do Castelão. Por volta das 12h30, os manifestante chegaram ao primeiro bloqueio. O clima ficou tenso às 14h. Manifestantes queimaram pneus num trecho da Avenida Dedé Brasil. A polícia utilizou balas de borracha e bombas de efeito moral para dispersar o grupo. Pelo menos cinco ônibus que levavam torcedores para a Arena Castelão foram interceptados. Um dos veículos acabou sendo destruído. Mais cedo, pessoas que protestavam incendiaram um carro de reportagem que fazia a cobertura do ato. Ao todo, três carros da imprensa foram destruídos. A situação foi controlada no fim da tarde.

Salvador Uma passeata com cerca de 2 mil pessoas, convocada pelo Movimento Passe Livre, cobrou a redução do preço das passagens no transporte público da capital baiana. Em coro, os manifestantes gritavam, em frente à Prefeitura de Salvador: "Só em Salvador a tarifa não caiu".

No Rio Grande do Sul, o governador Tarso Genro (PT) anunciou ontem que instituirá o passe livre estudantil no transporte intermunicipal em 1º de agosto. Os alunos atendidos pela medida serão os que residem em uma cidade e estudam em outra, no ensino médio ou na universidade. Estudos preliminares apontam que o impacto será de R$ 10 milhões por ano, e a estimativa é de que sejam concedidos 200 mil passes por mês.

No Rio de Janeiro, 5 mil pessoas foram às ruas, no fim da tarde de ontem, para pedir melhorias no serviço de transporte público e a libertação de manifestantes presos em protestos anteriores. Houve registro de pequenos tumultos entre os próprios manifestantes, mas o ato foi pacífico. Também foram registradas manifestações pacíficas ontem em Florianópolis, São Paulo, Maceió, Porto Alegre, Recife, Goiânia e Santa Maria (RS).

Enquanto isso...

...ministro não vê pobres nos protestos

O ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, Marcelo Neri, disse ontem que "não é a mulher negra de favelas da periferia" que está nas ruas protestando. Para ele, a forte queda da desigualdade na última década, que beneficiou os mais pobres do país, está provocando uma reação de parte da sociedade. "O pessoal do lado belga da Belíndia talvez tenha razões para não estar satisfeito", afirmou. Em palestra, o ministro apresentou dados sobre a queda da desigualdade no período que coincide com os governos petistas de Lula e Dilma Rousseff. "A renda dos 10% mais pobres cresceu 550% mais rápido do que a dos 10% mais ricos. Não tenho o perfil dos manifestantes, mas talvez não sejam os mais pobres da sociedade, que foram os beneficiários da última década", disse ele, que acumula o cargo com a Presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Fonte: Estado de Minas

Na praça, um começo com flores e serenata

Durante duas horas e meia, a manifestação realizada ontem diante Palácio Piratini teve clima de quermesse. Havia música ao vivo executada de cima de um trio elétrico, grupinhos conversando animadamente e venda de pipoca, quentão, churrasquinho e cerveja.

– Virou festa junina – comentou uma jovem, provocando riso entre os amigos.

Foi uma noite de novidades dentro da onda de protestos que balançou Porto Alegre nas últimas semanas. O grupo Porto Alegre Vai Parar, que vinha convocando milhares de pessoas para as manifestações anteriores com uma pauta em contra a PEC 37 e a corrupção, não participou, para não fomentar vandalismo.

Em consequência, a manifestação ganhou a cara do Bloco de Luta pelo Transporte Público, uma organização formada por partidos como o PSOL e o PSTU e por uma série de organizações de esquerda. Teve menos gente dos que nos protestos anteriores e assumiu contornos mais tradicionais, com centenas de bandeiras de sindicatos e discursos. Foi a primeira vez que houve discursos em Porto Alegre.

Entre os militantes políticos, também havia muitos cidadãos comuns, que foram levar suas próprias pautas de reivindicação. Alessandra Moreira, 34 anos, e seu marido, Sidnei Vieira, 62 anos, levaram o filho Vitor, nove anos, para participar. Com a máscara do Anonymous, o menino exibia seu cartaz de protesto: "Eu poderia estar jogando no computador, porém estou lutando por um Brasil melhor".

– Nós o trouxemos para que ele cresça com essa ideia de mudança – disse a mãe.

No meio da festa, um helicóptero parou em cima da praça. Na parte debaixo ostentava um painel eletrônico onde sucediam-se mensagens apaziguadoras: "Não ao vandalismo", "Sem partido", "Não deixem os vândalos agirem. Denunciem", "A polícia está aqui pela segurança de todos". Nesse momento, no caminhão de som, a pessoa que discursava chamava a Brigada Militar de "fascista".

O helicóptero incomodou alguns manifestantes:

– Para fazer fazer isso, tem de ser alguém com muito dinheiro. Alguém que quer colocar sua manifestação individual como se fosse de todo mundo. Não representa o grupo que está aqui. O que eu quero saber é quem representa – criticou o pedagogo Guilherme Oliveira, 31 anos.

Sindicalistas gritavam ao microfone "A praça é nossa". Deles e dos policiais, na verdade. Toda a Matriz estava palmilhada por PMs, que faziam um cerco em torno dos prédios dos três poderes ali localizados: Palácio Piratini (sede do Executivo), Palácio Farroupilha (sede do Legislativo) e Palácio da Justiça (antiga sede do Judiciário, hoje Corregedoria e Memorial), em precaução contra depredações. Afinal, o prédio do Judiciário chegou a ser apedrejado, numa manifestação há 10 dias.

Algumas ruas ficaram abertas para que os manifestantes pudessem se dirigir para lá, mas outros trechos – como a parte da Duque de Caxias fronteiriça à sede do Executivo e também o trecho próximo ao Teatro São Pedro – foram fechados.

PMs ganharam rosas de manifestantes

O bloqueio levou os manifestantes a gritar palavras de ordem contra o governador Tarso Genro, pela grande presença de PMs no local. O protesto, aliás, foi convocado "contra a criminalização dos movimentos sociais". Por volta das 19h cresceu o número de manifestantes, chegando a cerca de 5 mil pessoas. Havia muitos sindicalistas, professores, integrantes do movimento gay e estudantes, mas a uma certa distância era possível ver um grupo de mascarados, muitos deles adolescentes, fazendo uma reunião à parte. Eles consumiam bebida alcoólica e ouviam música em rádios.

Tarso Genro resolveu abrir as portas do Piratini para um grupo de 12 manifestantes, o que ajudou a diminuir as vaias. Ficou reunido com eles por cerca de uma hora, a partir das 19h30min. Até então, tudo era calma – até flores para os PMs os manifestantes ofereceram. Dois amigos e colegas de trabalho, os técnicos de informática, Daniel Martins, 26 anos, e Ariel Varriento, 23 anos, seu uniram para distribuir 700 rosas.

Mas a preocupação pairava no ar:

– Se a gente precisar correr, vamos por ali – disse uma jovem ao namorado, indicando a Rua Jerônimo Coelho. Porto Alegre viveu ontem outro dia de protestos e vandalismo. O ato começou com serenata e terminou com bombas de gás, em frente à sede do governo estadual. A fórmula foi a mesma: maioria pacífica e minoria belicosa, com confusão no final.

Agora, os caminhoneiros

Os caminhoneiros vão aderir à onda de protestos para pressionar o governo e o Congresso em busca de soluções para as questões que afetam a categoria. A convocação partiu do Movimento União Brasil Caminhoneiro, que disse contar com "concordância unânime" do setor (motoristas de caminhão, cooperativas, transportadoras e outras empresas de serviços) de apoio imediato às manifestações populares. A paralisação começa às 6h da próxima segunda-feira e termina às 6h de quinta, dia 4 de julho.

Protestos pelo país

Também houve protestos em São Paulo, Florianópolis, Goiânia, Aracaju, Salvador, Maceió, Teresina, Blumenau (SC), Chapecó (SC), Petrolina (PE), Sorocaba (SP) e São José dos Campos (SP) – a maioria, pacíficos.

PELO RIO GRANDE DO SUL

- Manifestantes em Passo Fundo (foto) protestaram contra o reajuste da tarifa de ônibus pela 10ª vez. Eles defendem a revogação do aumento autorizado em abril, de R$ 2,45 para R$ 2,70. Por determinação do prefeito Luciano Azevedo (PPS), as empresas de transporte coletivo deverão reapresentar as planilhas de custo que geram a tarifa na próxima semana.

- Um grupo de centenas de pessoas realizou passeata em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, pedindo passe livre para estudantes e maior segurança pública. Manifestantes avaliaram que interdições na BR-116 não seriam efetivas, já que a Polícia Rodoviária Federal faz bloqueios antecipados e desvia os carros por dentro da cidade.

- Na mesma região, dezenas de pessoas entraram na Câmara de Vereadores de São Leopoldo. Assim como em Novo Hamburgo, o grupo decidiu não realizar bloqueios na BR-116.

- O trânsito foi pauta em Capão do Leão, no sul do Estado. Dezenas de pessoas cobraram soluções para mortes ocorridas na BR-293.

- Em Paraí, protesto reuniu cerca de 300 pessoas, que percorreram cinco quadras da cidade. Eles pediram por melhores salários para os professores, mais hospitais e o fim da corrupção.

- A rodovia Pinheiral-Vale Verde (ERS-405), no trevo de acesso a Passo do Sobrado, no Vale do Rio Pardo, foi interrompida por cerca de 30 minutos. Os manifestantes pediram reformas e redutores de velocidade no local.

- Em Campina das Missões, no Noroeste, ativistas realizaram caminhada na cidade. Em Santa Rosa, centenas de pessoas criticaram os valores gastos por vereadores e defenderam a construção de um canil.

Fonte: Zero Hora (RS)

Protestos no País já deixaram 6 mortos

Confirmação das mortes do metalúrgico que caiu de viaduto em Belo Horizonte e de um jovem atropelado por caminhoneiro no Guarujá-SP elevou número de vítimas durante as manifestações.

Balanço

SDS apresentou números da confusão de quarta-feira, no Recife: seis feridos, sete manifestantes detidos e dois adolescentes apreendidos.

Queixas

Ativistas questionam polícia. Caso de maior repercussão foi o da estudante presa e levada para o Bom Pastor, que pretende processar o Estado.
Polêmica

Partidos aliados deram apoio ao plebiscito defendido por Dilma. Oposição quer referendo. Veja as diferenças entre as propostas.

Mortes em protestos já são 6

Jovem que caiu de viaduto em Belo Horizonte e outro atropelado por caminhão no Guarujá (SP) morreram quarta à noite

BELO HORIZONTE - Subiu para seis o número de mortes ligadas à onda de manifestações pelo País. Em Belo Horizonte, o metalúrgico Douglas Henrique Oliveira, 21 anos, morreu na noite de quarta-feira, horas após cair de um viaduto durante um protesto nas proximidades do Mineirão. Na mesma noite, um jovem de 16 anos morreu atropelado por um motorista de caminhão que tentou desviar de uma manifestação no Guarujá (SP).Antes, duas mulheres já haviam morrido atropeladas na segunda-feira durante protesto numa rodovia em Goiás. No dia 20, o estudante Marcos Delefrate, 18, morreu atropelado por um motorista que avançou sobre os manifestantes em Ribeirão Preto (SP). Na sexta-feira (21), morreu em Belém a gari Cleonice Moraes, 54, intoxicada por gás lacrimogêneo ao tentar fugir de uma confusão em um protesto.

No Guarujá, o jovem morto estava de carona na bicicleta do amigo. Ele foi socorrido no Pronto-Atendimento Médico da Rodoviária, mas não resistiu aos ferimentos. O amigo, de 17 anos, ficou gravemente ferido, mas não corre risco de morte. O caminhoneiro foi preso em flagrante.

Na capital mineira, de acordo com testemunhas, Douglas Henrique de Oliveira tentou pular de uma pista do Viaduto José Alencar para outra, mas caiu no vão que há no meio, de uma altura de 5 metros. Ele foi levado para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII com fraturas múltiplas e traumatismo craniano e foi submetido a cirurgia, mas não resistiu. O acidente aconteceu no fim da tarde, quando um grupo protagonizava um embate com os militares que faziam a segurança no entorno do Mineirão, onde o Brasil enfrentava o Uruguai pelas semifinais da Copa das Confederações. Um vídeo feito por um manifestante mostra o momento em que ele despencou.

O corpo do metalúrgico será enterrado hoje na cidade de Curvelo, na região central de Minas. A mãe dele, Neide Souza, tinha medo e o alertava para os riscos, segundo a irmã, Letícia Souza. "Perdeu uma vida a troco de nada", disse ela.

Seis pessoas já caíram do viaduto nas três manifestações realizadas no entorno do Mineirão. Um deles, Luiz Felipe Aniceto, 22, caiu no último sábado. Ele está internado na UTI e respira com ajuda de aparelhos. O quadro é grave.

Prisões

A Polícia Civil mineira anunciou que até a manhã de ontem foram presos 79 adultos e apreendidos 30 adolescentes acusados de participação nos tumultos durante as manifestações em Belo Horizonte. Segundo a Polícia Civil, entre os adultos, 26 tiveram prisão em flagrante decretada e permanecem presos. Os outros 53 foram ouvidos e liberados. Ontem também foi dia de limpeza e de contabilizar os prejuízos causados pelo protesto. Uma concessionária em que os manifestantes puseram fogo ficou completamente destruída.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Burocracia emperra a vontade das ruas

O governo terá dificuldade em implementar as medidas anunciadas em resposta às manifestações populares. Não há consenso nem mesmo sobre o plebiscito para a reforma política, principal bandeira do Planalto.

Voz das ruas presa na burocracia dos políticos

Os manifestantes que ocupam as ruas do país vão ter dificuldades para desembrulhar o pacote de bondades anunciado pela presidente Dilma Rousseff e pelo Congresso Nacional. Na visão de especialistas, as medidas já votadas pelos deputados e senadores ou prometidas por eles e pelo governo federal não resolvem plenamente os problemas apontados pelos protestos. Em alguns casos, as demandas ainda não tiveram sequer solução prevista.

As propostas para fazer a reforma política — tema agora classificado como "imprescindível e urgente" por políticos e pelo governo federal — não encontram consenso nem mesmo na base governista. Na reunião com a presidente ontem, líderes de partidos aliados toparam o plebiscito, mas se alguns se mostraram desacreditados com a proposta. Se sair mesmo do papel, a previsão de integrantes do Judiciário é de um processo demorado e caro para os cofres públicos.

As iniciativas que começam a se tornar realidade não apontam soluções claras. Ao ouvir os gritos pelo fim da corrupção, os senadores resolveram tirar da gaveta e aprovar um projeto que transforma a corrupção ativa e passiva em crime hediondo, o que dobra a pena mínima atual (dois anos) e dificulta a concessão de benefícios, como a liberdade mediante fiança. Para especialistas, a medida, que segue para análise na Câmara, não significa o fim da corrupção.

"A majoração de pena não tem relação direta com a diminuição do crime. Existem vários estudos que mostram isso. Não quero dizer que não precisamos de uma revisão da legislação penal, mas corrupção se combate com transparência, abertura de canais com a população e reforma política", defende o juiz Márlon Reis, um dos diretores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes também faz ponderações. "Temos um sistema penal e uma Justiça Criminal altamente falhos e lentos, que permitem que muitos escapem pela prescrição", disse.

Na Câmara dos Deputados, uma das medidas da agenda positiva já colocadas em prática foi a análise do fim do voto secreto em cassações em uma das comissões da Casa. Para o analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto Queiroz, a decisão "responde parcialmente" aos anseios da população. "O titular do poder é o eleitor, que delega aos eleitos que votem em seu nome. O eleitor tem que saber como essa pessoa se posiciona no exercício da função em todas as votações, inclusive de vetos presidenciais."

Na saúde, Dilma anunciou a contratação de médicos estrangeiros e a abertura de vagas em cursos de medicina. Para a professora de saúde pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro Lígia Bahia, a presidente deu a resposta ao público errado. "Ela deve estar com problema de audição. A contratação de médicos é para cidades do interior. Não resolve o que os cartazes dos grandes centros pedem: "Hospitais padrão Fifa". Solução para a saúde é investimento no Serviço Único de Saúde (SUS) e valorização política dele", defende.

Agenda política

O analista político do Diap, Antônio Augusto Queiroz, diz que a agenda positiva mostra que "as instituições estavam sendo lenientes nas suas funções". "É positiva essa reação e é uma questão de sobrevivência, já que tem eleições no ano que vem", avalia Queiroz. Para Márlon Reis, é preciso abrir canais a fim de que as demandas da população não se acumulem. "Os Três Poderes foram surpreendidos pela necessidade de ouvir amplos setores da sociedade que não têm canais para falar sobre suas demandas. Com esse acúmulo, houve a pressão popular. Devem ser criados mais mecanismos para que as pessoas consigam veicular sua voz."

No Judiciário, o presidente do STF e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Joaquim Barbosa, decidiu enviar ofícios a todos os tribunais estaduais e federais para que cumpram a meta de julgar até o fim do ano um total de 121,8 mil processos ingressados na Justiça antes de 2011 relacionados à improbidade administrativa e crimes contra a administração pública. Por enquanto, só 36% dos casos foram julgados. Ele classificou de "pífios" os índices obtidos, até agora, pelos tribunais.

Confira quais são os entraves do pacote de reivindicações, promessas de medidas e projetos aprovados como respostas às manifestações

Plebiscito

São grandes as divergências no Congresso a respeito da ideia de se fazer um referendo ou um plebiscito sobre a reforma política. A proposta também encontra resistência no Judiciário

Contratação de médicos estrangeiros

O anúncio feito pela presidente Dilma de contratação de "milhares" de médicos estrangeiros gerou críticas de entidades de saúde. O Ministério da Saúde anunciou que o edital de chamamento para médicos trabalharem na periferia e no interior do país deve sair ainda este ano

100% dos royalties do petróleo para a educação

Aproveitando os protestos, Dilma Rousseff pressionou o Congresso a aprovar a destinação de 100% dos royalties para a educação. A Câmara, no entanto, aprovou 75% para a educação e 25% para a saúde. O projeto ainda será votado no Senado

Inflação

O primeiro pacto proposto pela presidente é o da responsabilidade fiscal, "para garantir a estabilidade e o controle da inflação". Não foi dito como isso vai ser feito

Mobilidade

Dilma prometeu R$ 50 bilhões em recursos novos para investimentos em transporte público. Parte do dinheiro, no entanto, já foi prometida antes. Além disso, a liberação pode ser incompatível com a responsabilidade fiscal e o esforço para controlar a inflação

Meta 18

O presidente do STF e do CNJ, Joaquim Barbosa, disse que vai enviar ofício a todos os tribunais estaduais e federais cobrando o julgamento, até o fim do ano, de 121 mil processos de improbidade e crimes contra a administração pública. No meio jurídico, muitos acreditam que a meta não será cumprida

Voto aberto

O projeto que está na fila para ser aprovado acaba com o voto secreto apenas nos casos de cassação, ponto mais consensual entre os parlamentares. Eles se recusaram, por exemplo, a acabar com o sigilo nos casos de apreciação de veto presidencial. Na prática, continua havendo voto secreto no parlamento

Corrupção como crime hediondo

Estudos mostram que a transformação da corrupção em crime hediondo pode não significar a redução da corrupção. Além disso, o projeto aprovado no Senado deixa de fora do rol de hediondos crimes como lavagem de dinheiro, fraude em licitação e evasão de divisas

Proposta de passe livre para estudantes

Tramita no Senado projeto em regime de urgência que assegura gratuidade no transporte público para estudantes de instituições públicas e privadas. O texto é de autoria do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e a ideia é votá-lo antes do recesso de julho. Em relação à pauta da tarifa zero no transporte público, defendida nos protestos, Dilma já descartou a possibilidade

Redução de ministérios

Medida defendida após o início dos protestos, encontrará resistência no Palácio do Planalto. Hoje, existem 39 pastas. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ironizou a proposta e sugeriu que os governos estaduais comecem cortando as secretarias

Cura gay

Embora os parlamentares prometam derrubar em plenário o projeto conhecido como Cura gay, a proposta não resolve a principal bandeira dos movimentos em defesa dos direitos humanos, que é a retirada do pastor Marco Feliciano do posto de presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados

Fonte: Correio Braziliense

Aliados apoiam plebiscito; oposição vê manobra de Dilma

Na reforma política, base propõe fim da reeleição para 2018; PSDB, DEM e MD defendem referendo

Em reunião com a presidente Dilma Rousseff, presidentes de partidos da base aliada pediram a inclusão, no plebiscito sobre a reforma política, de perguntas relativas ao fim da reeleição a partir de 2018. Dilma fará nos próximos dias reunião ministerial para avaliar o quadro político e enviará segunda-feira ao Congresso mensagem sugerindo a convocação do plebiscito. O presidente do PT, Rui Falcão, disse que o partido quer uma reforma política que tenha validade nas eleições de 2014. Os presidentes de PSDB, DEM e MD, os maiores partidos de oposição, se manifestaram contra o plebiscito. Eles chamaram a ideia de "manobra diversionista" e saíram em defesa de referendo em que o povo aprova ou rejeita uma decisão já tomada pelo Congresso.

Partidos da base apoiam plebiscito, mas sugerem fim da reeleição na consulta

Presidentes de dez partidos da base aliada e de líderes na Câmara e no Senado disseram à presidente Dilma Rousseff que apoiarão a convocação de um plebiscito sobre a reforma política, mas, provocaram mal-estar ao propor um debate sobre o fim da reeleição e mandato de cinco na consulta popular e ao enfatizar que mudanças no sistema só devem vigorar em 2018. Dilma e o PT vão insistir numa reforma que vigore em 2014.

Embora a sugestão dos aliados tenha sido para que o fim da reeleição comece a valer a partir de 2018, não afetando a campanha de Dilma pelo segundo mandato, a simples referência ao assunto constrangeu o governo. O Estado apurou que, mesmo com a garantia de que eventual mudança não vai valer para ela, Dilma é contra incluir questões sobre o fim da reeleição no plebiscito.

Ela fará uma reunião ministerial nos próximos dias para avaliar o quadro político e enviará na segunda-feira ao Congresso uma mensagem sugerindo a convocação de plebiscito sobre a reforma política. .

Apesar de aceitarem o plebiscito, senadores e deputados da base aliada admitiram não haver tempo hábil para uma reforma política profunda até outubro. Em três reuniões ao longo do dia ontem, Dilma ouviu "senões" sobre a conveniência de convocar um plebiscito agora, de afogadilho. Apesar das resistências, a maioria dos partidos aliados concordou em sair do Planalto com um discurso público favorável à consulta popular.

Não demorou muito, porém, para que as divergências viessem à tona. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), disse a Dilma que a melhor forma de impulsionar a reforma política seria por meio de um "referendo", depois da lei aprovada pelo Congresso, mas ela não gostou da ideia. A oposição também quer um referendo (veja na
página A6).

Diante do ceticismo de aliados, preocupados com a possibilidade de a reforma política ser só para "inglês ver", com pouca chance de incluir mudanças no financiamento de campanha e no modelo de voto para as eleições de 2014, Dilma não se conteve. "Alguma coisa tem de valer para 2014", disse ela, segundo relato de presidentes de partidos presentes na reunião.

O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), afirmou que a pergunta sobre o fim da reeleição presidencial, com mandato de cinco anos, pode entrar "sem problemas" no plebiscito. "Mas isso só seria para 2018", ressalvou ele. "Time que não faz gol leva, e nós estamos levando agora", resumiu Raupp, avaliando o clima das ruas. Não sei por que o constrangimento com essa ideia. "Não é para cassar mandato de ninguém agora", emendou o senador Eunício Oliveira (CE),líder do PMDB.

Autocrítica. Provável candidato do PSB à Presidência em 2014, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, disse a Dilma que todos os poderes precisam fazer uma autocrítica diante dos protestos que levaram mais de 1 milhão de pessoas nas ruas, nos últimos dias.

"Precisamos rever falhas e erros cometidos. As instituições foram sacudidas e é fundamental vivermos uma renovação", afirmou Campos, que também preside o PSB e poderá enfrentar Dilma em 2014. "É como se a classe política e os poderes estivessem na era analógica e a sociedade, no sistema digital."

"O plebiscito deve conter quatro ou cinco perguntas", afirmou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que conduz o diálogo político com o Congresso. "Questões sobre sistema de governo não vão entrar porque o parlamentarismo já foi rejeitado pela população."

Se a ideia do plebiscito vingar, ao menos duas perguntas passarão pelo crivo da consulta popular: qual deve ser o tipo de financiamento de campanha (público, privado ou misto) e qual o modelo de voto (distrital, proporcional ou distrital misto) preferido por eleitores. É nessa lista que até aliados querem incluir a pergunta sobre o fim da reeleição.

O presidente do PTB, Benito Gama – recém-nomeado para uma diretoria do Banco do Brasil - e o líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), também sugeriram proibir a reeleição a partir de 2018.

Oposição diz que só aceita referendo

Os presidentes dos maiores partidos de oposição se manifestaram contra a realização " de plebiscito sobre pontos da reforma política. Em nota divulgada ontem, Aécio Neves (PSDB), José Agripino (DEM) e Roberto Freire (MD) chamaram a intenção da presidente Dilma Rousseíf de “manobra divérsionista” e saíram em defesa de um referendo? em que o povo aprova ou rejeita uma decisão já tomada pelo Congresso.

Enquanto a presidente Dilma estava reunida com líderes da base aliada no Planalto, as lideranças da oposição unificaram seu discurso contra os pactos assumidos por ela na última segunda-feira. “A iniciativa de plebiscito, tal como colocada hoje, é mera manobra diversionista, destinada a encobrir a incapacidade do governo de responder às cobranças dos brasileiros, criando subterfúgios para deslocar a discussão dos problemas reais do País”, diz a nota.

A eleição em que a população escolhe uma entre diferentes propostas sobre um tema, como prevê o plebiscito, foi um dos pactos propostos por Dilma em reunião com governadores e prefeitos na segunda-feira sem consulta anterior aos parlamentares. “Somos favoráveis à consulta popular. Mas não sob forma plebiscitaria do "sim” ou do “não”. Legislação complexa, como a da reforma política, exige maior discernimento, o que só um referendo pode propiciar”, defendem os oposicionistas.

Criticando os gastos inevitáveis com o plebiscito, Aécio defendeu o referendo, destacando que ele pode até ocorrer junto com as eleições do ano que vem. “A construção de um plebiscito é muito complexa. Essa é a responsabilidade do Congresso, submeter a decisão a um referendo popular”, disse o senador, provável concorrente de Dilma em 2014.

Para Aécio, Agripino e Freire, a presidente tenta acalmar as vozes que tomaram conta das mas nas últimas semanas com a promessa de um novo sistema político, mas tenta dar visibilidade à realização do plebiscito depois de ser derrotada na “tentativa golpista de uma Constituinte restrita”. Diz ainda a nota: “Se tivesse, de fato, desejado ! tratar com seriedade esta im-I portante matéria, a presidente já teria, nesses dois anos e meio, manifestado à nação a sua proposta para o aperfeiçoamento do sistema partidário, eleitoral e político brasileiro”.

Encontro» O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes (SP), disse que nenhum convite for mal de encontro com a presidente foi feito até o momento. A conversa com a oposição foi uma promessa feita por Dilma na segunda-feira, depois de propor o plebiscito, umaprerrbgati-va do Congresso.

Líderes do governo dizem que a reunião será na segunda-feira. Quando houver convite, avisou Aloysio, as oposições vão definir suas diretrizes. Segundo o presidente do DEM, senador Agripino, o grupo deve apresentar uma pauta com 26 propostas detalhadas - entre elas “redução pela metade no número de ministérios e cargos comissionados do governo e revogação do decreto que proíbe a divulgação dos gastos em viagens presidenciais”, explicou. Também há pontos sobre educação, saúde e segurança.

Na Câmara, as lideranças de oposição também se reuniram e já anteciparam que, na reunião com a presidente, não aceitarão a restrição do debate à reforma política.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Em nota, PPS, DEM e PSDB dizem que plebiscito é manobra diversionista de Dilma

Por: Luis Zanini

PPS, DEM e PSDB divulgaram nota nesta quinta-feira condenando a proposta de plebiscito apresentada pela presidente Dilma Rousseff. No documento, os partidos denunciam a estratégia do governo federal de multiplicar a polêmica com a realização de plebiscito sobre a reforma política depois da tentativa golpista e fracassada de uma constituinte exclusiva.

Para as legendas de oposição, a iniciativa do plebiscito é “mera manobra diversionista, destinada a encobrir a incapacidade do governo de responder às cobranças dos brasileiros”. Ressaltam que se Dilma desejasse tratar o assunto com seriedade já deveria ter apresentado sua proposta para o aperfeiçoamento do sistema partidário.

PPS, DEM e PSDB se posicionam também favorável à consulta popular, mas não na forma de plebiscito por entender que uma questão complexa como a reforma política que exige a realização de referendo.

Para o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), a sociedade precisa estar atenta para as manobras diversionistas lançadas pelo Palácio do Planalto. "Primeiro vieram com o golpismo da constituinte exclusiva, agora querem insisitir num plebiscito. A reforma política é uma matéria complexa e não pode ser definida por um simples plebiscito de sim ou não", afirmou o deputado.

Freire explica que a ideia da oposição é que a Câmara agilize a tramitação do projeto de iniciativa popular apresentado pela OAB, CNBB e Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral, discuta junto com outras propostas em tramitação no Congresso, faça os devidos ajustes, e aprove a reforma política. "Depois disso, faríamos um referendo", explicou.

Abaixo a íntegra do documento.

“Nota das oposições

Os partidos de oposição ao governo federal – Democratas, PPS e PSDB – estão firmemente empenhados em buscar soluções e respostas para os problemas e anseios que os brasileiros têm manifestado nas ruas, de forma democrática e pacífica.

Por esta razão, ofereceram ao amplo debate uma agenda propositiva, que há tempos defende, com medidas práticas e factíveis de curtíssimo prazo, nos campos do imprescindível combate à corrupção, ampliação da transparência na área pública e fortalecimento das políticas nacionais de saúde, segurança, educação, infraestrutura e combate à inflação.

Os partidos de oposição denunciam e condenam a estratégia do governo federal de, ao ver derrotada a tentativa golpista de uma constituinte restrita, buscar, agora, multiplicar a polêmica em torno da realização de plebiscito sobre a reforma política. Se tivesse, de fato, desejado tratar com seriedade esta importante matéria, a presidente já teria, nesses dois anos e meio, manifestado à nação a sua proposta para o aperfeiçoamento do sistema partidário, eleitoral e político brasileiro.

Somos favoráveis à consulta popular. Mas não sob a forma plebiscitária do sim ou não. Legislação complexa, como a da reforma política, exige maior discernimento, o que só um referendo pode propiciar.

A iniciativa do plebiscito, tal como colocada hoje, é mera manobra diversionista, destinada a encobrir a incapacidade do governo de responder às cobranças dos brasileiros, criando subterfúgio para deslocar a discussão dos problemas reais do país. Tudo isso se dá enquanto se agrava o cenário econômico, com recrudescimento da inflação, pífio crescimento e acelerada perda de credibilidade do governo aos olhos dos brasileiros e do mundo.

As oposições registram que continuarão debatendo, como sempre fizeram, as questões que interessam aos brasileiros. Jamais faremos oposição ao País.

Brasília, 27 de junho de 2013.

Aécio Neves – Presidente nacional do PSDB
José Agripino – Presidente nacional do Democratas
Roberto Freire – Presidente nacional do PPS
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Fonte: Portal do PPS

Oposição chama plebiscito de 'manobra diversionista'

Em nota, PSDB, DEM e PPS afirmam que consulta sobre reforma política é para tirar foco das cobranças feitas nas ruas

Os partidos da oposição ao governo Dilma Rousseff, PSDB, PPS e DEM, definiram como "manobra diversionista" a proposta de realizar um plebiscito sobre a reforma política, apresentada pela presidente nesta semana. Em nota divulgada na tarde ontem, quinta-feira, 27, as siglas afirmam que a presidente colocou o tema em debate para ofuscar as cobranças feitas durante as manifestações.

Após os protestos ocorridos nos últimos dias no País, Dilma apresentou como uma das respostas às reivindicações a proposta de fazer mudanças no sistema partidário e eleitoral. Depois da reação contrária à criação de uma assembleia constituinte, a presidente sinalizou que conversaria com os parlamentares, aliados a da oposição, para discutir como realizar o plebiscito. O encontro com as siglas da base aliada foi nesta quinta e com a oposição ainda não há data definida. Segundo informou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, a reunião "será em breve".

Os parlamentares afirmam ainda que vão participar do debate com o governo e apresentar medidas "práticas" e de "curtíssimo prazo" no combate à corrupção e melhorias da saúde e educação. Sobre a reforma, as siglas disseram-se favoráveis à consulta, mas sob referendo, ou seja, quando o eleitor se manifesta contra ou a favor a uma lei já criada.

Na nota divulgada nesta tarde, os presidentes das três siglas, Aécio Neves (PSDB), José Agripino (DEM) e Roberto Freire (PPS), afirmam que falta seriedade ao governo para debater a reforma política. "Se tivesse, de fato, desejado tratar com seriedade esta importante matéria, a presidente já teria, nesses dois anos e meio, manifestado à nação a sua proposta para o aperfeiçoamento do sistema partidário, eleitoral e político brasileiro."

Para eles, ao propor a consulta, o governo tenta "encobrir a incapacidade" de dar respostas às reivindicações vindas das ruas e tira de foco a discussão dos "problemas reais".
 
Fonte: O Estado de S. Paulo

Oposição rechaça proposta de plebiscito para reforma política

Em nota, partidos de oposição avaliam que o governo cria ‘subterfúgio para deslocar a discussão dos problemas reais do país’

BRASÍLIA — A oposição classifica como “manobra diversionista” a proposta da presidente Dilma Rousseff para realização de um plebiscito sobre a reforma política. Na avaliação do PSDB, DEM e PPS , o governo está “criando subterfúgio para deslocar a discussão dos problemas reais do país”. Em nota oficial divulgada nesta terça-feira rechaçam a possibilidade de um plebiscito.

“Somos favoráveis à consulta popular. Mas não sob a forma plebiscitária do sim ou não. Legislação complexa, como a da reforma política, exige maior discernimento, o que só um referendo pode propiciar”, diz o texto.

A nota é assinada pelo presidente do PSDB, Aécio Neves, presidente do DEM, José Agripino, e pelo presidente do PPS, Roberto Freire.

Leia a nota na íntegra:

“Os partidos de oposição ao governo federal – Democratas, PPS e PSDB– estão firmemente empenhados em buscar soluções e respostas para os problemas e anseios que os brasileiros têm manifestado nas ruas, de forma democrática e pacífica.

Por esta razão, ofereceram ao amplo debate uma agenda propositiva, que há tempos defende, com medidas práticas e factíveis de curtíssimo prazo, nos campos do imprescindível combate à corrupção, ampliação da transparência na área pública e fortalecimento das políticas nacionais de saúde, segurança, educação, infraestrutura e combate à inflação.

Os partidos de oposição denunciam e condenam a estratégia do governo federal de, ao ver derrotada a tentativa golpista de uma constituinte restrita, buscar, agora, multiplicar a polêmica em torno da realização de plebiscito sobre a reforma política. Se tivesse, de fato, desejado tratar com seriedade esta importante matéria, a presidente já teria, nesses dois anos e meio, manifestado à nação a sua proposta para o aperfeiçoamento do sistema partidário, eleitoral e político brasileiro.

Somos favoráveis à consulta popular. Mas não sob a forma plebiscitária do sim ou não. Legislação complexa, como a da reforma política, exige maior discernimento, o que só um referendo pode propiciar.

A iniciativa do plebiscito, tal como colocada hoje, é mera manobra diversionista, destinada a encobrir a incapacidade do governo de responder às cobranças dos brasileiros, criando subterfúgio para deslocar a discussão dos problemas reais do país. Tudo isso se dá enquanto se agrava o cenário econômico, com recrudescimento da inflação, pífio crescimento e acelerada perda de credibilidade do governo aos olhos dos brasileiros e do mundo.

As oposições registram que continuarão debatendo, como sempre fizeram, as questões que interessam aos brasileiros. Jamais faremos oposição ao País”.

Fonte: O Globo

Planalto defende plebiscito conciso sobre reforma

Dilma quer limitar questões de plebiscito para reforma política

Presidente propõe consulta popular restrita a cinco perguntas para conter pressão de aliados e da oposição

Financiamento de campanha e novo sistema para eleição de deputados seriam temas do plebiscito

Valdo cruz, Tai Nalon, Breno Costa, Gabriela Guerreiro, Catia Seabra e Márcio Falcão

BRASÍLIA -A presidente Dilma Rousseff definiu que enviará ao Congresso uma mensagem de no máximo cinco pontos sugerindo a realização de um plebiscito para nortear a elaboração de uma reforma política, mas seus aliados querem acrescentar mais questões, como o fim da reeleição.

Depois de três reuniões com presidentes de partidos e aliados da Câmara e do Senado, Dilma conseguiu o apoio da maioria de sua base para sua ideia de plebiscito, mas foi avisada de que a proposta de fazer poucas perguntas pode não vingar e que nem todas as regras podem valer para a eleição de 2014.

Ela se reuniu com políticos da 11h às 22h. "A situação é grave, se não fosse grave não estaríamos aqui", afirmou Gilberto Kassab (PSD).

O governo decidiu encaminhar sua mensagem ao Congresso na terça, listando pontos --não perguntas-- que deseja incluir no plebiscito. Entre eles, financiamento de campanha (público, privado ou misto) e sistema de votação --voto proporcional, distrital, distrital misto e se em lista aberta ou fechada.

Os pontos coincidem com aqueles que o PT defende. O partido quer financiamento público e voto em lista fechada, no qual os eleitores votam em uma relação de candidatos elaborada pelas legendas.

A inclusão do fim da reeleição é apoiada por congressistas aliados. O líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque, quer discutir ainda a unificação das eleições e mandatos de cinco anos, que valeriam a partir de 2018.

O governo é contra. E, como ameaça, insinua que se a população derrubar a reeleição, o candidato do PT será o ex-presidente Lula.

Nas reuniões de ontem, Dilma disse que algumas regras têm de valer em 2014. Segundo ela, a população tem expectativa de que algo "já mude na política" rapidamente.

Dilma recusou ainda sugestão de aliados de trocar o plebiscito por um referendo.

"Isso pode ser o pior dos mundos", retrucou a presidente, dizendo que a população poderia "rechaçar" uma reforma política aprovada pelo Congresso. "Ficaríamos sem mudanças, não é o que deseja a voz das ruas."

O ministro Alozio Mercadante (Educação) defendeu que o ideal é um plebiscito com poucas perguntas. "Nós vamos tratar daquilo que é essencial, das balizas. É isso que se espera do plebiscito."

Ao final da primeira reunião, com presidentes de partidos, o governador Eduardo Campos (PSB-PE), que pode disputar a eleição presidencial contra Dilma, alertou que nem todas as regras devem valer no ano que vem.

Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) disse que essa pode ser uma das perguntas do plebiscito, que poderá questionar a população se as regras poderiam valer para o próximo ano mesmo que sejam aprovadas fora do prazo legal --um ano antes da eleição de 2014.

Constituinte foi barbeiragem do governo, diz Lula a aliados

Defensor da proposta, ex-presidente criticou maneira como ela foi articulada

Ideia lançada por Dilma para promover reforma política e dar uma resposta aos protestos acabou descartada


BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou com petistas da estratégia do governo Dilma Rousseff para dar uma resposta à onda de protestos pelo país. A aliados, Lula chamou de "barbeiragem" a articulação.

Antigo defensor da ideia, ele queixou-se da forma "atabalhoada" como foi gestada a proposta da convocação de uma constituinte exclusiva para discutir a reforma política, sem uma discussão prévia com o Congresso. Mais ainda, do recuo da iniciativa apenas um dia depois.

Ainda segundo petistas, Lula criticou especialmente a decisão de consultar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) sem que governistas, entre eles o vice-presidente Michel Temer (PMDB), fossem ouvidos.

Dentro do PT, a atuação dos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Aloizio Mercadante (Educação), que auxiliam Dilma, também tem sido objeto de reparos.

Após a onda de manifestações que tomou conta das ruas do país, Dilma propôs um pacto nacional que incluía, entre outros pontos, a convocação da constituinte para a reforma política. Menos de 24 horas depois recuou após reação do Congresso e de ministros do Supremo Tribunal Federal para quem a medida é inconstitucional.

O governo passou então a defender a ideia de um plebiscito para a reforma. Ontem Dilma fez três reuniões no Planalto com congressistas e presidentes de partidos aliados para discutir o tema.

A proposta de plebiscito também não agrada a aliados do ex-presidente. Na avaliação deles, a consulta é temerária: como cabe à Câmara elaborar as perguntas, nada impede que assuntos controversos como o fim da reeleição entrem no plebiscito.

Lula teria telefonado a Mercadante para externar sua insatisfação. A assessoria do Instituto Lula diz desconhecer o telefonema.

Na semana passada, a presidente foi a São Paulo para consultar seu padrinho político sobre a explosão de protestos pelas ruas do país. A convocação de uma constituinte não estava na pauta.

Interlocutores afirmam que Lula tem reservado sua opinião a público restrito, como o grupo de jovens recebido na quarta-feira. Após ouvi-los, Lula disse que o governo deveria apresentar dados em defesa da gestão petista.

Uma deficiência apontada na comunicação do governo está em registrar as obras de mobilidade urbana como gastos da Copa, alimentando a ideia de que esse custo é para a construção de estádios.

O secretário-geral da Presidência e principal nome ligado a Lula no ministério de Dilma, Gilberto Carvalho, confirmou que Lula tem ouvido os movimentos sociais.

"O presidente Lula fez uma reunião ontem [anteontem] com os jovens, que eu soube que foi muito interessante. Acho natural os partidos procurem nesse momento articular as suas bases, suas militâncias para fazer esse debate, fazer essa disputa que está dada na sociedade."

Fonte: Folha de S. Paulo

Governo Dilma não fala a mesma língua das ruas - Roberto Freire

Apesar do clamor popular que ganhou as ruas do país nas últimas semanas, Dilma Rousseff vem mostrando que não entendeu a mensagem transmitida por milhões de brasileiros descontentes com os rumos da nação. O discurso da petista na última segunda-feira (24), na reunião com governadores e prefeitos no Palácio do Planalto, seria adequado se proferido por uma presidente recém-eleita, jamais por uma líder que exerce o cargo máximo da República há dois anos e meio e cujo partido está no poder há uma década.

Como se não tivesse qualquer responsabilidade pelos equívocos cometidos por sua própria administração, Dilma se comporta como mera espectadora da realidade brasileira. Ao anunciar “pactos” nacionais em áreas cruciais como saúde, educação e transporte, com medidas que já poderiam ter sido colocadas em prática, a presidente cria um factoide para esfumaçar a inescapável constatação de que os principais alvos das manifestações são o PT e o governo federal. Segundo uma pesquisa do Datafolha, a indignação com a corrupção foi apontada como o grande motivo para a participação nos protestos realizados em São Paulo, sendo mencionada por 50% dos manifestantes. Em resposta, a presidente prometeu mais transparência e defendeu uma nova legislação que classifique os crimes de corrupção como hediondos. Mas a realidade insiste em desmentir a propaganda petista.

Recentemente, o governo colocou sob sigilo todas as informações e os gastos relativos às viagens internacionais de Dilma, que só poderão ser consultados quando ela não estiver mais exercendo a função. Outro escândalo que escancara a desfaçatez da presidente é o estouro no orçamento da Copa do Mundo de 2014, competição que deve se transformar na mais cara da história, alcançando R$ 33 bilhões só em despesas de governos. Apesar da promessa do ex-presidente Lula de que o Brasil não desembolsaria dinheiro público para a Copa, a União já comprometeu R$ 1,1 bilhão nos estádios que receberão jogos do torneio, entre incentivos fiscais e subsídios em empréstimos.

O chamado “padrão Fifa”, que criou arenas assépticas às quais o torcedor pobre não tem acesso, se contrapõe à degradação dos hospitais ou à precariedade da educação, entre outras mazelas do país. Além da leniência do governo com a corrupção, que resultou em episódios históricos como o caso do dinheiro na cueca e o escândalo do mensalão, a sociedade brasileira se vê diante de outro tipo de ameaça às instituições. Dilma flertou perigosamente como golpismo ao propor um plebiscito sobre a convocação de uma Constituinte exclusiva que tratasse da tão desejada reforma política.

Detentora de uma gigantesca base aliada no Congresso, a presidente teve 30 meses para encampar alterações no sistema político- eleitoral e não o fez. Agora, tentou atropelar a Constituição e o Parlamento, ignorando uma prerrogativa que é dos deputados e senadores, e só recuou graças à repercussão negativa de sua proposta. Encurralada pela pressão popular, que não aceita mais o discurso vazio da propaganda e clama pelo fim da impunidade, pelo respeito às instituições e por serviços públicos de qualidade, Dilma não conseguiu decifrar o grito que emerge das ruas. E a cada nova tentativa de entender esse fenômeno, fica ainda mais distante dos reais anseios do povo.

Deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS/MD

Fonte: Brasil Econômico

No susto - Marina Silva

Diz Ricardo Goldenberg, no livro "Política e Psicanálise": "O leão só salta uma vez, dizem os caçadores, para significar que não terão segunda chance se atirarem fora da hora. O instante não dá outra oportunidade, a surpresa cobra soluções de improviso, no susto".

As manifestações nas ruas do Brasil nos colocam uma grata surpresa: o atual modelo político, além de desautorizado pelo repúdio na polifonia das multidões, também está sendo descontinuado, desconstruído e, ao menos simbolicamente, sepultado. Isso pode assustar, mas devemos nos alegrar por termos chegado a um ponto de virada, em que é possível fazer a história fora do museu, deixar a velha e estagnada repetição que nos condena a andar sem sair do lugar.

Tenho dito e repetido: é hora de metabolizar, não de capitalizar. Para além das reações, podemos construir respostas, reelaborando, sobretudo, os improvisos que a surpresa do momento nos obriga a fazer e colocando em debate as soluções dadas no susto.

De nada adianta o frenesi de anúncios com pompa de grandes soluções, sem a sincera disposição de ver e perceber, de escutar e compreender o que dizem as manifestações. Se formos capazes de ver mais que a superfície, o que fizermos terá maior altura e profundidade.

Nossa nova visão deve se traduzir numa agenda de país, não numa mera pauta de reivindicações. Essa agenda nos fará evitar o que vinha ocorrendo a olhos vistos: o sacrifício dos valiosos ganhos econômicos e sociais dos últimos anos em função do atraso do sistema político e da baixa qualidade de nossa representação.

Uma agenda para o Brasil sustentável pode ser feita com todos, a partir do novo termo de referência dado nas ruas. Os que anunciam ventos da mudança acordaram os que dormiam em berço esplêndido na Esplanada. Agora, todos têm diretrizes para trabalhar.

Exemplos? A reforma política não deve ser para garantir a estabilidade de quem já tem poder, mas para melhorar a representação e ampliar a participação. O pacto federativo deve dar a Estados e municípios novas responsabilidades mas também novos meios para cumpri-las. A educação não deve ter só a promessa de recursos quando jorrar o petróleo do pré-sal, mas metas a serem alcançadas agora. A saúde, não só médicos visitantes, mas a revisão do sistema para ampliar a capacidade instalada. Além de arquivar a PEC 37, devemos ter instituições mais transparentes. Em tudo podemos ir mais alto e mais fundo.

É preciso estender às ruas o "nós" que responde à pergunta: quem escolherá as perguntas? Devemos ouvir quem já fornece ideias --como a conferência proposta pela Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político.

Basta reconhecer que o poder --se não está com todos-- é de todos. Sem susto.

Marina Silva, ex-senadora

Fonte: Folha de S. Paulo