segunda-feira, 24 de junho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Luiz Werneck Vianna:as origens do movimento

"Devemos procurar as origens desse movimento que ainda não terminou e não se sabe para onde vai. Fora as redes sociais, não há nada que esteja organizando a sociedade, especialmente essa multidão de jovens, que vem acorrendo à vida social. Não há clubes, não há partidos. Estes (os partidos) vivem inteiramente orientados para sua reprodução política, eleitoral, não têm trabalho de consolidação, de nucleação. A própria Igreja Católica, que antes cumpria um papel muito importante nessa organização, hoje tem um papel muito pequeno. A sociedade está inteiramente isolada da esfera pública. São dois mundos que não se tocam. Por toda a parte viam-se faixas com os seguintes dizeres: “nós não acreditamos na representação que aí está”. Foi um movimento dirigido também contra essa política. Temos que procurar as origens desse processo, que mal começou, nessa forma de relação entre Estado e sociedade, entre política e sociedade. Está evidente que temos que passar por reformas políticas importantes no sentido de que o sistema político se abra à participação. Esses partidos que estão aí foram chamados pelo ministro Joaquim Barbosa de “partidos de mentirinha”. Embora ele seja muito midiático, nesse ponto não há como discordar dele.
 
Um movimento desses, multitudinário, que vai às ruas, sem lideranças conhecidas, é um perigo. Tudo pode acontecer. Abre-se campo para a selvageria. Com quem negociar? Tomara que o processo desses dias – de ontem (17-06-2013) em particular – sirva como uma sinalização poderosa para que mudanças importantes na política brasileira comecem a ser encaminhadas. É um sinal de alerta. Se nada for feito a tempo, se é que ainda há tempo, esse movimento pode ter um desfecho muito ruim. É preciso evitar – e escrevi isso em um artigo que saiu hoje (18-06) no Estadão – que 2013 tenha o mesmo desfecho que 1968, isto é, uma juventude desencantada com a política, radicalizada e que procure formas inadequadas de resolução de problemas."

Luiz Werneck Vianna, sociólogo e professor- pesquisador da PUC-Rio. In “A busca por reconhecimento e participação política: o combustível das manifestações”. Entrevista IHU On-Line, 19/6/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais

O GLOBO
Dilma discute plano de ação com governadores
Crédito terá menor alta em 10 anos
No Rio, atos tomam orla da Zona Sul

FOLHA DE S. PAULO
Dilma inicia pela saúde plano para estancar atos
Grupo faz reunião e reforça campanha pela tarifa zero
Já em Moscou, delator da CIA solicita asilo ao Equador
Consórcio de BCs pede mais austeridade e mais reformas
Mandela está em estado 'crítico', diz África do Sul

O ESTADO DE S. PAULO
Em resposta às ruas, Dilma faz pacote contra corrupção
Convocados pelo Planalto, prefeitos vão pedir ajuda
Brasileiro usa crédito para pagar dívida

VALOR ECONÔMICO
Infraero tem prejuízo com as privatizações
Dilma apressa medidas para responder às ruas
SP muda regras para empresas de ônibus

BRASIL ECONÔMICO
"Cautela com a turma da bufunfa"
Gás muda cidade no Maranhão
Mobilidade

ESTADO DE MINAS
Paz para protestar
Paz para viver

O TEMPO (MG)
Polícia Militar prevê pior confronto na capital mineira na quarta
Prefeitos têm pacote de pedidos para Dilma
OAB e CNBB se unem a protestos
Falta de rumo político afeta economia do País, diz FHC

CORREIO BRAZILIENSE
Nova onda de protestos na última semana dos jogos
De volta ao futuro
Ativista desde criancinha

GAZETA DO POVO (PR)
MP-PR conduz metade dos inquéritos sobre corrupção
Entidades fazem ato para cobrar reforma política
Ex-técnico da CIA pede asilo ao Equador
Dilma discute protestos com governantes

ZERO HORA (RS)
Dilma chama governadores e prefeitos
Dia reservado para novas manifestações

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Dilma discute crise com governadores
Dias contados para concursos caça-níqueis
Pessimismo ronda economia

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Dia reservado para novas manifestações

Ativistas voltam a convocar concentrações puxadas pela questão dos transportes, mas com pauta diversificada.

Protesto e reflexão

Nilson Mariano

Os atos de violência que sobressaltaram o país na semana passada, notadamente no Rio de Janeiro onde desponta a estátua de Drummond, provocaram uma reflexão entre os organizadores das manifestações por melhores serviços públicos e o fim da corrupção. Há a preocupação de que a delinquência de uma minoria possa afetar o andamento de protestos pacíficos e legítimos.

Manifestantes prometem voltar às ruas de Porto Alegre e de outras capitais do país, hoje, em mais protestos contra a passagem de ônibus e por um leque de reivindicações que contempla desde serviços públicos de qualidade até uma reforma política.

A intenção é reprisar os atos que sacudiram o Brasil na semana passada, mas dispensando as minorias delinquentes que se aproveitam da multidão para saquear e depredar.

A temperatura do que pode acontecer hoje podia ser medida no final de semana pelas convocatórias via rede sociais. Como nas vezes anteriores, os protestos são organizados sem a interferência de partidos, sindicatos ou entidades tradicionais. Em Porto Alegre, na noite de domingo, já havia definições, mas pairavam algumas dúvidas. O que parece confirmado: a concentração ocorrerá em frente à prefeitura, a partir das 18h.

– Segunda-feira todos para as ruas – chamava um post assinado pelo Bloco de Lutas Pelo Transporte Público.

As incertezas – que talvez só sejam dirimidas hoje – se referem ao trajeto da manifestação. Uma corrente propunha uma passeata pela Avenida Borges de Medeiros, que culminasse em frente ao Palácio Piratini, na Praça da Matriz. Mas é possível que seja repetido o roteiro da quinta-feira, que tomou a Avenida João Pessoa e desembocou na Avenida Ipiranga, no bairro Azenha.

Há divergências quanto ao percurso a ser feito, mas não sobre o propósito pacífico do ato. No Facebook, foi sugerido que os envolvidos nas cenas de vandalismo da semana passada fiquem em casa para refletir. Insistiu-se para que, uma vez nas ruas, não se deixem arrastar por extremistas.

– Seja diferente. Não derrube, ajude a levantar – escreveu uma jovem.

Também foi recomendado que não sejam levadas bandeiras, camisetas ou faixas identificando partidos políticos ou grupos ideológicos, para manter a essência apartidária do movimento. Mensagens na internet solicitavam que jovens, trabalhadores e a população mostrem a cara.

– Compareça à manifestação sem máscaras. Nosso povo batalhador não tem nada a esconder. Apenas rostos cansados, sofridos e indignados – dizia uma das ativistas.

Desafio é conter as minorias violentas

Preocupação semelhante norteia a preparação de outros eventos pelo país. Os manifestantes que se insurgem contra a corrupção não querem a companhia de desordeiros, que se infiltram para quebrar e roubar. Há o receio de que o furor das minorias, daqueles que sacam martelos e coquetel molotov das suas mochilas para rapinar e destruir, possa comprometer a causa maior de reformar a democracia brasileira.

Os últimos episódios causaram reflexões. Em São Paulo, por exemplo, o Movimento Passe Livre (MPL) chegou a anunciar, na sexta-feira, que desembarcava dos protestos. Oficialmente, alegou que cumprira a missão. Nos bastidores, sabe-se que o MPL preocupa-se com a ação dos grupos radicais – de esquerda e direita – pegando carona nas manifestações populares.

Ontem, o MPL reconsiderou. Fez reuniões em bairros de São Paulo com as comunidades, para esclarecer a campanha por um transporte coletivo eficiente e com tarifa zero. Na página do Facebook, garantiu que irá participar dos próximos atos.

Os protestos anunciados para hoje podem consolidar reclamações já ensaiadas. Uma consulta ao Facebook expõe as que despontam na agenda das ruas: caos na saúde e na educação, superfaturamento nas obras da Copa, corrupção política e a proposta de emenda constitucional (PEC 37) que retira o poder de investigação do Ministério Público.

Fonte: Zero Hora (RS)

Paz para protestar

Depois de mais de uma semana de muita violência nas concentrações populares, o Brasil viveu um dia relativamente tranquilo . Houve protestos de menor dimensão, pacíficos e sem maiores tumultos no Rio, Brasília, Fortaleza e outras cidades. Em Belo Horizonte, em meio a muitos boatos e medo na Feira de Artesanato da Afonso Pena, ocorreram manifestações em alguns pontos da cidade, a maior delas embaixo do Viaduto Santa Tereza, sem incidentes graves.

Uma trégua nos confrontos

BRASÍLIA –A passeata que reuniu 4 mil pessoas ontem na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, convocada para protestar contra a PEC 37, terminou na esquina da Avenida Delfim Moreira com a rua Aristides Espínola, no Leblon, onde fica a casa do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). Desde sexta-feira, dezenas de pessoas estão acampadas no local. A rua foi fechada e está protegida por policiais. Sob uma fina garoa, elas ocuparam cerca de duas quadras e gritaram frases contra o governador. O trajeto entre Copacabana e Ipanema foi tranquilo e animado, com palavras de ordem diversas e manifestações de apoio da população

Na Rua Francisco Otaviano, que liga os dois bairros, manifestantes entoaram um dos gritos mais frequentes nas ruas atualmente: "Da Copa eu abro mão, quero saúde e educação!" Nessa hora, muitos moradores, grande parte de pessoas com mais idade, saíram às janelas e aplaudiram, outras piscavam as luzes dos apartamentos e das portarias, funcionários do hotel Arpoador Inn foram à calçada para bater palmas. "Quem apoia pisca a luz", gritaram. Um hóspede do hotel Fasano, um dos mais caros e elegantes do Rio, atendeu a multidão e piscou a luz do quarto.

No vidro que protege o Posto 9, eram projetadas imagens de cartazes de outras manifestações pelo país com frases como "Acorda Brasil, o país é nosso!", "Basta!" ou "Enfia os 20 centavos no SUS", entre outras. Muitos paravam para fotografar.

Policiais militares acompanham a manifestação. Um carro do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi vaiado pela multidão, que emendou gritos e xingamentos ao governador do Rio. O público da passeata foi composto pelas mesmas pessoas que normalmente ocupam o calçadão da orla da Zona Sul carioca. Havia muitas famílias com crianças. Índios da Aldeia Maracanã também se juntaram à manifestação.

Centenas de pessoas saíram do Posto 4 (próximo ao Copacabana Palace), em direção ao Forte de Copacabana, após fazerem um apitaço. Os gritos dos outros atos se repetiram, como o "Vem pra rua, vem". Turistas estrangeiros se misturam à multidão. Os cartazes simularam placas de trânsito com o sinal de proibido sobre a expressão PEC 37.

Os mercados e farmácias que ainda funcionavam, por volta das 15h30, trabalhavam com apenas parte da porta aberta. Alguns quiosques da Avenida Atlântica foram fechados. Os hotéis reforçaram a segurança, mas os restaurantes da orla funcionaram normalmente. O gerente do restaurante Mondego, que fica em frente ao ponto de encontro da manifestação, Ricardo Portela, disse que não montou nenhuma estrutura especial. "A população está mais calma. Não acredito que vá ter problemas como os que aconteceram nas outras manifestações", disse.

Ocupação No terceiro dia de ocupação de parte da Avenida Delfim Moreira, em frente à residência do governador Sérgio Cabral, manifestantes abriram uma roda de debate para que moradores e pessoas que caminhavam na orla pudessem participar do movimento. Quem quis a palavra teve três minutos para expor suas ideias, sempre sendo aplaudido ao final de cada discurso.

Dentre os temas debatidos estavam os rumos dos protestos, reivindicações como o fim da corrupção, a diminuição dos impostos e a relação dos manifestantes com a Polícia Militar. "Democracia é isso: a pessoa chega, fala o que pensa e, assim, trocamos experiências", resumiu o ator Pedro Casarin, que desde sexta à noite dorme na esquina da Rua Aristídes Espíndola com a Avenida Delfim Moreira.

O dia foi de protestos também em cidades do interior de São Paulo, como Ubatuba, Orlândia e Praia Grande, de Goiás, como Caldas Novas, e do Rio Grande do Sul, como Venâncio Aires, Erechim, Canela, Capão da Canoa e Bagé. A tranquilidade, porém, teve exceções. Em Fortaleza, onde houve partida entre Nigéria e Espanha pela Copa das Confederações, cerca de mil pessoas participaram de ato na pista que dá acesso ao aeroporto da cidade. A via ficou bloqueada por quase duas horas. Vândalos picharam e esvaziaram pneus de carros de emissoras de televisão.

Fonte: Estado de Minas

Nova onda de protestos na última semana dos jogos

De olho nas grandes manifestações previstas para a próxima quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff encontra-se hoje com governadores e prefeitos de várias cidades brasileiras e recebe líderes do Movimento Passe Livre. A expectativa é de que se repitam, em tamanho, em confrontos e em atos de vandalismo, as marchas da semana passada.

Em Brasília, organizadores das três maiores mobilizações se reuniram ontem em frente à Biblioteca Nacional para unificarem os movimentos. Em Belo Horizonte, que recebe a Seleção Brasileira para o jogo contra o Uruguai pelas semifinais da Copa das Confederações, a Polícia Militar teme o agravamento da violência do último sábado.

Dilma entre o discurso e a ação

Sem a certeza do quanto as manifestações dos últimos dias arranharam seu projeto de reeleição em 2014, mas convicta de que precisa dar uma resposta rápida e eficiente para as reivindicações, sob o risco de que a insatisfação das ruas contamine ainda mais o governo, a presidente Dilma Rousseff terá uma semana decisiva. Passou ontem o dia no Palácio do Alvorada recebendo ministros, checando números, buscando propostas. Hoje, estará com governadores e prefeitos de capitais para debater soluções conjuntas para a crise que assolou todos os políticos com mandato eletivo. Dilma também vai receber também representantes do Movimento Passe Livre (MPL).

Aliados e especialistas lembram que Dilma terá que mudar daqui para frente. Além do lado prático de tirar iniciativas do papel ou acelerar as que já existem, terá que alterar seu perfil de atuação. Tão alertada pelos políticos e representantes dos movimentos sociais, a avaliação é de que precisará dialogar mais. Prometeu isso no pronunciamento de rádio e televisão de sexta-feira, ao assegurar que receberá os movimentos sociais e os representantes pacíficos das manifestações, algo que não tem feito até o momento. "O que um presidente tem de mais precioso é o seu tempo. E Dilma, ao centralizar tudo em suas mãos, gasta muito mal essa riqueza. Em vez de agir como presidente, comporta-se como um assessor, fiscalizando detalhes desnecessários de projetos em gestação", diagnosticou um aliado.

O diálogo com o atual movimento torna-se ainda mais complicado porque não se sabe quem , além do MPL, está do outro lado na figura de interlocutor. Se Dilma tem dificuldade em aceitar a legitimidade de atores conhecidos, como fará para autenticar porta-vozes difusos, com queixas diversas? Se nem os comandantes dos protestos se intitulam como tais, com quem a presidente poderá conversar nas próximas semanas para tentar baixar a temperatura das ruas?

Um importante ministro afirmou ao Correio que a presidente precisa, com urgência, identificar quais são esses interlocutores para que o debate seja iniciado. Tudo isso sem abrir mão dos demais representantes dos movimentos sociais, para que eles não se sintam desprestigiados e transfiram o foco da crise para outros pontos.

Além disso, o mesmo integrante do primeiro escalão dilmista defendeu a urgência de se abrir um diálogo sobre o legado da Copa e das Olimpíadas Rio 2016, um dos pontos centrais da pauta dos manifestantes. Para esse ministro, o governo foi tragado pelo argumento de que o dinheiro foi jogado fora em estádios superfaturados, sem que a população comum se beneficiasse disso.

Transporte

Ontem, no Alvorada, dentre as diversas reuniões que teve, a presidente discutiu mobilidade urbana, uma das promessas centrais do governo quando o país conquistou o direito de sediar o Mundial de futebol e os Jogos Olímpicos. As principais obras não saíram do papel e, das que avançaram, muitas delas não ficarão prontas a tempo do torneio. Dilma quer soluções e deve se apegar, ainda mais, nas concessões de aeroportos, portos, rodovias e ferrovias, cujos editais serão lançados ao longo de 2013.

Dilma também precisa, na opinião de pessoas próximas, sair do casulo no qual se envolveu nos últimos meses e conduzir, como estadista, um grande pacto envolvendo governadores, prefeitos e Congresso Nacional. "Chegou a hora de pararmos de falar e de começarmos a fazer. Isso vale para o governo e vale para o Congresso", declarou o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE). "E não adianta apenas fazermos. Temos que ter urgência nessa ação", defendeu o petista.

Ele defende a prioridade para a pauta apresentada pela própria Dilma no pronunciamento de sexta-feira, dentre elas a destinação de 100% de recursos dos royalties para a educação. Além disso, Guimarães vai propor na reunião de líderes da Câmara, marcada para amanhã, que se vote com rapidez o projeto do deputado Mendonça Filho (DEM-PE) que desonera de PIS/Cofins o setor de transportes, bem como o Fundo de Participação dos Estados (FPE).

Reticente, um aliado do Planalto lembrou que a destinação dos royalties para a educação já foi rejeitada uma vez pelo Congresso. O projeto que tramita na Câmara é nova tentativa de Dilma, mas ninguém tem a certeza se ele será aprovado. "Além disso, o Supremo ainda não definiu de quem são os royalties, se dos estados produtores ou não produtores. Por que as pessoas não vão protestar também no Judiciário?", queixou-se o deputado Danilo Forte (PMDB-CE), relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Na cadeia de rádio e televisão da noite de sexta-feira, Dilma também prometeu acelerar a entrada de médicos estrangeiros no país, ideia que vem sendo rechaçada com frequência pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Esse foi um dos assuntos tratados ontem nas diversas reuniões no Alvorada. Como não há consenso e a presidente precisa de respostas rápidas, ela deve anunciar amanhã editais destinados a preencher vagas de médicos residentes e investimentos de R$ 100 milhões na rede pública de saúde.

Ponto por ponto

Confira trechos do pronunciamento da presidente Dilma Rousseff na noite de sexta-feira e em que situação estão as áreas abordadas:

Combate à corrupção

"Ela (a mensagem das ruas) reivindica um combate sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos. Todos me conhecem. Disso eu não abro mão"

Depois de promover uma faxina na Esplanada e demitir ministros envolvidos em corrupção, a presidente chamou aliados dos faxinados para retornar ao governo.

Mobilidade urbana

"O foco será: primeiro, a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que privilegie o transporte coletivo"

Já existe o PAC Mobilidade Urbana, para grandes e médias cidades, mas as obras andam lentamente.

Recursos para a educação

"Segundo, a destinação de 100% dos recursos do petróleo para a educação"
Dilma já enviou projeto de lei para o Congresso Nacional. Depende agora de os parlamentares votarem, e se texto enviado pelo Executivo será alterado.

Médicos do exterior

"Terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde, o SUS"

O governo já estuda a contratação de médicos estrangeiros há um certo tempo, mas encontra resistência da categoria. No fim de semana, quatro entidades médicas, entre elas o Conselho Federal de Medicina, divulgaram nota de repúdio à importação de profissionais.

Diálogo com a sociedade

"Anuncio que vou receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações populares"

Dilma é criticada por movimentos sociais e sindicatos pela falta de diálogo. Apesar de estar enfrentando crise em sua política indígena, é a única presidente nos últimos 18 anos que não recebeu os índios.

Reforma política

"Quero contribuir para a construção de uma ampla e profunda reforma política, que amplie a participação popular"

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a tentar acelerar tramitação de proposta no Congresso, mas está a cargo dos parlamentares colocar a reforma em votação.

Sistema partidário

"É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos"
A presidente colocou a base aliada para aprovar projeto que dificulta a criação de legendas, e, com isso, barrar o Rede Sustentabilidade, de Marina Silva.

Gastos com a Copa

"Em relação à Copa, quero esclarecer que o dinheiro do governo federal gasto com as arenas é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e os governos que estão explorando estes estádios"

Os financiamentos são feitos por bancos públicos, com juros subsidiados pelo governo federal.

"Jamais permitiria que esses recursos saíssem do Orçamento Público Federal, prejudicando setores prioritários, como a saúde e a educação"

Os estados precisarão pagar os empréstimos, ou seja, continua sendo dinheiro público. No caso da educação, governo federal só é responsável pelo ensino superior.

Fonte: Correio Braziliense

O Brasil nas ruas - Dilma discute plano de ação com governadores

Diante de onda de protestos, presidente deve anunciar medidas na área de saúde
Manifestações se repetiram em pelo menos 20 cidades brasileiras, inclusive o Rio; bandeiras se diversificam cada vez mais, e tema do combate à corrupção ganha força. Novos atos estão previstos para hoje e amanhã

Pressionada pela onda de protestos, a presidente Dilma Rousseff convocou para hoje uma reunião com governadores e prefeitos de capitais em busca de uma ação conjunta para melhorar os serviços públicos.

Em busca de respostas

Após manifestações, Dilma reúne hoje governadores e prefeitos para melhorar serviços públicos

Chico de Gois, Geralda Doca e Luiza Damé

BRASÍLIA - Dentro da estratégia do governo federal de dividir responsabilidades e acalmar os protestos que avançam pelo país, a presidente Dilma Rousseff convocou para uma reunião hoje à tarde governadores e prefeitos de capitais, com o objetivo de definir uma linha de ação conjunta para melhorar os serviços públicos. Dilma chegará ao encontro com propostas recicladas e ouvirá muitas cobranças de governadores e prefeitos, que reclamam do não cumprimento de promessas da União, especialmente da falta de investimento federal em mobilidade urbana.

A pauta principal será Plano de Mobilidade Urbana, o que é considerado pouco pelos gestores estaduais e municipais, que vão para o encontro com pautas específicas e dissociadas das reivindicações das ruas: abordam desde problemas de caixa provocados pelo baixo crescimento econômico, até uma Constituinte para fazer a reforma política, pauta do PT.

Em seu pronunciamento em rede nacional de televisão e rádio, na última sexta-feira, a presidente propôs um pacto entre todas as esferas de governo para tentar melhorar os serviços públicos. Dilma disse que seu governo ouve a voz das ruas e que o país precisa de mudanças profundas, entre as quais uma reforma política.

O Palácio do Planalto já tem confirmada a presença de governadores e prefeitos aliados e da oposição, mas as cobranças virão de todos os lados. Além do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, Dilma vai defender a adesão dos estados e municípios à Lei de Acesso à Informação, como forma de dar mais transparência aos atos públicos e combater a corrupção. Vai sugerir a adesão ao Programa Brasil Transparente, da Controladoria Geral da União (CGU), que também já existe.

A presidente deve anunciar melhorias na estrutura pública de saúde: mais hospitais e unidades de atendimento, além de novas vagas em cursos de medicina e para especialistas, a fim de melhorar a rede Médica, o que pode ser uma resposta para neutralizar a resistência à importação de médicos. A vinda de médicos estrangeiros, citada por Dilma no pronunciamento, tem sido continuamente criticada por entidades de médicos.

Combate à corrupção na agenda

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), por exemplo, é um dos que dizem não acreditar que investimentos em obras de mobilidade, por si só, resolvam a insatisfação popular, já que tem retorno de longo prazo. Ele afirma que o grito das ruas é preocupante à medida que prega a negação, a rejeição da classe política. A presidente, disse ele, está preocupada porque, em alguns momentos, a manifestação tem enveredado para o vandalismo e a desordem:

- A questão da mobilidade urbana, que originou os protestos, não será resolvida rapidamente, porque as obras levarão até três anos para serem concluídas. Em várias capitais já existem investimentos em andamento, com recursos do Ministério das Cidades, dos estados e do setor privado.

O governador petista disse que ninguém tem pronto na cabeça um produto, uma resposta para as ruas, nem a própria presidente sabe o que fazer. Segundo Wagner, o principal foco tem que ser a reforma política, prioridade do PT, porque elimina possibilidades de conluio e conchavos, pois uma das principais mensagens dos protestos é a questão da corrupção. Wagner também defende uma modernização da Lei de Licitações.

- A corrupção tem o braço político, mas tem também o empresarial. A Lei de Licitações foi elaborada para ajudar no combate à corrupção, mas está ultrapassada - destacou o governador.

Na visão do governador Jaques Wagner, os recursos gastos para sediar os Jogos da Copa estão mal explicados. Ele destacou que é preciso deixar clara a importância do evento para o Brasil e que os investimentos realizados vão permanecer e ajudar na promoção do turismo, e atrair shows internacionais para os estádios, por exemplo.

Tarso defende passe livre para estudantes

O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, chegará a Brasília disposto a defender passe livre para estudantes, uma proposta que está sendo preparada no governo gaúcho, e a convocação de Assembleia Nacional Constituinte para discutir a reforma política.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, e o prefeito da capital, Eduardo Paes, ambos do PMDB, viajam no fim da manhã. O vice-governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB) criticou o baixo crescimento da economia, por diminuir o poder de resposta dos estados. Antes da viagem, ele e Cabral se reúnem:

- A situação dos estados é muito dura. Há pouca margem de manobra, porque a economia não está crescendo muito, e a arrecadação de impostos diminui. Tivemos menos ICMS, por exemplo. Dinheiro em caixa seria importante para responder aos anseios da população. É um momento muito difícil para todos.

Tucanos fazem reunião prévia

Governadores e prefeitos do PSDB vão comparecer à reunião com a presidente, mas, antes, devem se reunir com o presidente da legenda, senador Aécio Neves (MG), para discutir uma pauta em comum. O governador de Goiás, Marconi Perillo, comemorou em seu twitter o discurso da presidente. "Quero ir ao encontro da presidente Dilma para firmarmos pacto entre União, estados e municípios para ação conjunta em favor dos brasileiros", escreveu ele, continuando: "Ela traduz para toda a Nação a mensagem que o povo nas ruas emite nas veementes manifestações históricas dos últimos anos." E encerrou: "Em seu pronunciamento, a presidente Dilma mostra-se lúcida e de grande capacidade de liderança."

O governador tucano de Minas Gerais, Antônio Anastasia, disse que atenderá ao chamado da presidente, porque se trata de uma questão nacional e vai com o intuito de colaborar. Mas cobrará a retomada dos repasses de recursos para o metrô de Belo Horizonte.

- Vamos pedir para acelerar a retomada dos investimentos. De minha parte, vou apresentar a ela a situação de dificuldades financeiras em que se encontram os estados - disse Anastasia, que irá com o prefeito Márcio Lacerda, do PSB.

A Frente Nacional de Prefeitos (FNP), que reúne as capitais e maiores cidades brasileiras, deve se reunir antes do encontro com Dilma para fechar uma lista de propostas que será levada ao Planalto. No comando da frente estão os prefeitos de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), e de São Paulo, Fernando Haddad (PT).

Pelo governo, devem participar os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo; da Saúde, Alexandre Padilha; da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; de Relações Institucionais, Ideli Salvatti; da Educação, Aloizio Mercadante; das Cidades, Aguinaldo Ribeiro; da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho; e da CGU, Jorge Hage. Todos foram orientados pela presidente a levantar projetos desenvolvidos pelo governo nos estados e municípios e o que poderá ser feito.

Algumas reivindicações

PREÇO DA TARIFA DOS TRANSPORTES: Essa reivindicação começou a ser atendida durante a semana, com a redução do preço em várias cidades

GASTOS COM A COPA: Questionam o valor investido no torneio e qual o legado que sobrará para a população

EDUCAÇÃO E SAÚDE: pedem melhorias em ambas as áreas e exigem mais investimentos

BASTA DE CORRUPÇÃO. Criticam os políticos em geral e a corrupção e atacam a impunidade que deixa os corruptos livres

CONTRA A PEC 37: Questionam a aprovação da emenda constitucional que tira o poder de o Ministério Público investigar

CRÍTICA AOS PARTIDOS: De forma genérica, não querem a presença de partidos no movimento

As propostas em estudo

MOBILIDADE URBANA: o próprio governo já lançou várias vezes pacote de obras nesse sentido; governadores querem recursos para metrô

SAÚDE: Governo deve se comprometer com novas unidades, novas regras para cursos de Medicina e mais especialistas na rede médica

CORRUPÇÃO: Uma das propostas que será apresentada é a modernização da Lei de Licitações

TRANSPORTES: Alguns governadores defenderão o passe livre nos ônibus para os estudantes

REFORMA POLÍTICA: Há em tramitação um projeto que trata do tema, mas está parado. Outra ideia é criar uma Constituinte exclusiva sobre o tema, É uma pauta do PT, defendida por governadores do próprio partido

Fonte: O Globo

'Voz das ruas' leva Dilma a buscar pacote com Estados

Governo também pretende ampliar alcance da Lei de Acesso à Informação

Presidente, que deve receber líderes do MPL, quer tirar do papel o Plano Nacional de Mobilidade Urbana

Valdo Cruz

BRASÍLIA - Na busca de atender a "voz das ruas" e reduzir o desgaste provocado pelas manifestações na imagem do governo e do país, a presidente Dilma reúne hoje com 27 governadores e 26 prefeitos de capitais para tentar fechar um pacote de medidas nas áreas da saúde, educação, mobilidade urbana e transparência.

Antes do encontro, ela deve receber lideranças do MPL (Movimento Passe Livre), que deflagrou a onda de protestos pelo país.

Além das medidas, o governo também passou a avaliar fazer uma reforma ministerial durante o recesso do Congresso, no mês de julho --mas a decisão não foi tomada.

Segundo a Folha apurou, a ordem da presidente à sua equipe é fechar medidas concretas já na reunião de hoje e nos próximos dias. A avaliação do Planalto é que, se os agentes públicos ficarem só no discurso, as manifestações vão continuar país afora.

A pressa do Palácio do Planalto está relacionada ainda a pesquisas reservadas feitas por partidos aliados que já registram novas quedas na aprovação de Dilma.

A última pesquisa do Datafolha mostrou recuo de oito pontos na sua aprovação.

O governo vai anunciar aos governadores e prefeitos a criação de mais 2.000 vagas para médicos-residentes e um plano de construção de hospitais e compra de equipamentos hospitalares no país.
As novas vagas para residência terão anúncio oficial amanhã. O Ministério da Saúde também vai lançar o programa Mais Médicos Brasil, para trazer profissionais formados no exterior.

Na reunião, Dilma também reforçará a intenção de tirar do papel as obras do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que deveriam estar a todo vapor para a Copa do Mundo, mas não decolaram.

Defenderá ainda a criação de um Plano Nacional de Governo Transparente, ampliando o alcance da Lei de Acesso à Informação.

Pedirá também o apoio de governadores e prefeitos para aprovação de projeto no Congresso que destina todos os royalties do petróleo do pré-sal para a educação.

O governo quer ainda definir um plano de combate à violência no país e acertar com os participantes formas de coibir as arruaças.

Reforma

A presidente tem sido aconselhada pelo ex-presidente Lula a fazer mudanças em seu governo, buscando reforçar a credibilidade na área econômica e retomar a interlocução com o empresariado, lideranças políticas e de movimentos sociais.

Segundo petistas, na conversa Lula disse a Dilma que é preciso reagir, sob pena de correr o risco de "perder a eleição no próximo ano".

Assessores reconhecem este como o pior momento da chefe, mas dizem que é preciso ter sangue frio e confiar que a economia começará a registrar números positivos. Dilma passou o dia reunida com sua equipe para preparar a reunião de hoje.

Fonte: Folha de S. Paulo

Em resposta às ruas, Dilma faz pacote contra corrupção

Medidas preveem punições a empresas que fraudarem licitações e ‘Ficha Limpa’ na administração pública Depois de reabilitar “faxinados” e acomodar no ministério partidos que protagonizaram escândalos, o Planalto planeja um atalho para se sintonizar com a “voz da ruas” , que cobra maior rigor com a corrupção. A ideia é viabilizar decretos e mobilizar o Congresso para aprovar projeto que prevê multas pesadas contra empresas corruptoras, informam João Villaverde e Alana Rizzo.

O projeto prevê a taxação de até 20% do faturamento bruto de companhias privadas que subornarem agentes públicos, fraudarem licitações ou que dificultarem as investigações das agências reguladoras e do BC. Além de multas, há previsão de criação do Cadastro Nacional de Empresas Punidas (CNEP). O pacote inclui a edição de dois decretos: um que regulamenta o projeto de lei que prevê punições a integrantes do Executivo que praticarem conflitos de interesse e o decreto “Ficha Limpa” na administração pública.

• Propostas recicladas

As principais medidas anunciadas peta presidente Dilma Rousseff na sexta-feira já estão em discussão no Congresso ou foram lançadas anteriormente pelo governo.

Protestos fazem Planalto criar pacote com punição a empresas corruptoras

Depois de reabilitar "faxinados" e acomodar na Esplanada partidos que foram protagonistas de escândalos, o Planalto planeja um atalho para se sintonizar com a "voz da ruas", que cobrou mais rigor com a corrupção. Com a chancela da presidente Dilma Rousseff, a ideía é deslanchar um pacote de decretos na área da transparência e mobilizar o Congresso para aprovar o projeto de lei 6.826, que prevê multas pesadas contra empresas corruptoras.

O projeto prevê a taxação de até 20% do faturamento bruto de companhias privadas que subornarem agentes públicos, fraudarem licitações ou dificultarem investigações de agências reguladoras e do Banco Central Além disso, o projeto prevê a criação do Cadastro Nacional de Empresas Punidas (CNEP), com a relação de companhias multadas e o tipo de sanção.

A ideia que circula no Planalto é dar urgência à aprovação do projeto, que serviria para afas tar do governo federal a imagem daleniência com a corrupção, levantada por manifestantes nos últimos dias.

O pacote anticorrupção do governo, que não mexe no lotea- mento político dos órgãos, inclui a edição de dois decretos. O primeiro deve ser publicado nas próximas semanas e regulamenta a lei que prevê punições a integrantes do alto escalão do Executivo envolvidos em conflitos de interesse. O texto trata das situações geradas pelo confronto entre interesses públicos e aumenta a chamada""quarentena" no serviço público.

Também está pronto no Planalto o "Decreto Ficha Limpa" na gestão pública. O texto já foi concluído, após longas discussões no governo, e está na Casa Civil aguardando uma posição da presidente. A norma cria critérios para a nomeação de funcionários em cargos de confiança.

Imagem-Nos bastidores, o governo admite que parte da popularidade de Dilma obtida em 2011, quando a presidente demitiu seis ministros após denúncias, foram parcialmente neutralizados em 2012, com o julgamento do mensalão. O processo fez reacender a ligação entre o governo e os petistas envolvidos no caso.

Além disso, com o acirramento da disputa eleitoral, o Planalto passou a reabilitar partidos afastados na "faxina", como o PDT de Carlos Lupi e o PR de Alfredo Nascimento. Também toi contemplado o PDT de Roberto Jefferson, delator do mensalão e condenado no processo.

Crime hediondo

Outra proposta que deve ganhar apoio maior do governo é 0 projeto de lei que torna a corrupção crime hediondo. 0 texto está em discussão na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

Em seu pronunciamento à nação, na noite de sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff citou o termo "corrupção" quatro vezes. "Precisamos muito, mas muito mesmo, de formas mais eficazes de combate à corrupção", disse Dilma, para quem "a melhor forma de combater a corrupção é com transparência e rigor".

De acordo com pesquisa CNT/Ibope divulgada no sábado, os políticos e a corrupção receberam, respectivamente, 47% e 32% das menções dos entrevistados em 79 municípios como principal razão para os protestos dos últimos dias.

O projeto que multa as empresas corruptoras foi enviado pelo próprio governo ao Congresso no início de 2010, mas nunca esteve no topo da agenda de prioridades legislativas do Planalto. Ainda assim, o projeto foi aprovado pela Câmara em 12 de junho, e agora está no Senado.

Segundo o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), que relatou o projeto na comissão específica da matéria na Câmara, o governo acompanhou a tramitação de perto, por meio da Casa Civil e da Controladoria-Geral da União (CGU). Quando questionado sobre os planos do Planalto de apoiar de forma mais entusiasmada o proj eto, Zarattini afirmou que "o governo está com a bola na marca do pênalti, basta chutar para o gol". Se endossar a proposta, segundo Zarattini, Dilma pode receber o texto pronto para ser sancionado antes do recesso parlamentar, em 15 de julho.

A multa e o perdimento de bens, direitos ou valores aplicados com fundamento no projeto serão destinados aos órgão ou entidades públicas lesadas. Haverá um prazo de cinco anos para que os processos administrativos sejam analisados. Pelo texto, a lei entraria em vigor seis meses após a sanção.

Fonte: O Estado de S. Paulo

'Querem faturar com protestos', diz Marina

Ex-ministra critica quem 'surfa na onda' das manifestações, mas afirma que aliados estão 'legitimamente' nas ruas

Potencial candidata à Presidência condena repressão policial e acusa governo de tentar sufocar sua nova sigla

Diógenes Campanha

SÃO PAULO - Enquanto conversava com a Folha por telefone, na quinta-feira passada, a ex-ministra Marina Silva acompanhou, pela TV, as imagens da manifestação que transcorria em Brasília naquela noite. "Meu Deus, a polícia está batendo nas pessoas. Deve estar cheio de gente que eu conheço", afirmou.

Ela disse que se colocava no lugar das mães "desses meninos". Jovens que, segundo ela, colocaram em prática um "ativismo autoral" sobre o qual vem falando "há mais de três anos", e que é uma das bandeiras da Rede Sustentabilidade, partido que tenta criar para voltar a disputar a Presidência em 2014.

Veja trechos da entrevista.


Folha - A sra. vem falando sobre um "ativismo autoral" presente nas manifestações. Sente-se satisfeita com elas?

Marina Silva - Isso é tão grande que seria pretensioso [dizer isso]. Falando com você, estou emocionada. Poxa vida, eu queria muito que o Chico Mendes estivesse vivo, ele entenderia como ninguém o que estou sentindo agora, de poder ter pensado nisso [antes]. E uma demanda que eu vejo oculta é a de um realinhamento político por uma agenda para o Brasil. Parar de o PT querer governar sozinho pegando o que há de pior no PMDB, e a mesma coisa o PSDB. Se continuar no mesmo discurso, vamos continuar indignos dessas manifestações.

O que achou de partidos terem se manifestado após a revogação dos reajustes das tarifas, capitalizando os resultados?

É difícil falar. Me desculpe, mas é ridículo. Você tem a água cavando seu leito na terra e, quando ela transborda depois desse esforço, vê aqueles que querem surfar na onda. Não entenderam nada, não aprenderam nada.

A Rede, que divulgou comunicado dizendo que seus ativistas continuarão "presentes nessas horas", também não pode ser criticada?

Podem até dizer, porque o movimento é tão grande que as pessoas não têm a obrigação de saber que estamos nisso desde sempre. Não registrar que foi uma vitória seria injusto com os milhares e milhares da Rede. A gente nunca levou camisa, bandeira. Todo mundo da Rede que está aí legitimamente opera nessas manifestações, mas ela é multicêntrica. Se você vir as velhas bandeiras querendo surfar, faturar, a Rede é completamente diferente.

Qual acredita ser o seu papel diante desse movimento?

Meu papel é de mais um. A água que cava seu leito faz isso se misturando com a terra. Eu sou mais um nessa mistura de água e terra.

Mas também é uma liderança carismática capaz de juntar pessoas em torno de uma causa, inclusive a de poder voltar a disputar a Presidência...

Tenho dito que quero usar meu carisma para convencer as pessoas de que não dependam do carisma, que não acreditem que tem salvadores da pátria. A pátria é uma construção de todos nós.

A Rede defende a quebra do monopólio dos partidos na política. Não é contraditório formar um partido?

A Rede é um cavalo de Troia. Estamos antecipando o que seria essa nova institucionalidade política. Em vez de ser um partido para que os movimentos fiquem a serviço dele, somos um partido a serviço desses movimentos.

Como a Rede pode atrair esses movimentos, já que causas ambientais não aparecem com veemência nos protestos?

É um erro querer instrumentalizar esse movimento. Seria contraditório com tudo o que tenho dito. A juventude não é atraída por ninguém. Ela é que se atrai e acha ridículo pessoas cheias de cacoetes querendo parecer com eles. Aqueles que têm mais experiência, em lugar de quererem ser donos da ação, deveriam se colocar no lugar de mantenedores de utopias.

Que similaridades vê entre a Rede e esses movimentos?

A Rede tenta ajudar com a atualização do processo político. Nosso esforço está sendo tolhido agora no Congresso. Em vez de os partidos se repensarem, tentam nos sufocar. É muito difícil, porque a característica da estagnação é que as pessoas não veem que estão na estagnação.

A votação do projeto que inibe novos partidos pode ser protelada no Senado, para não dar tempo de questionamento de sua constitucionalidade?

É uma injustiça, mas espero que comecem a entender que o país está mudando. A democracia não é um valor pra ser usado quando algo me beneficia. A base do governo está fazendo com a gente o que tentaram fazer com o PT e a gente reclamava tanto.

Fonte: Folha de S. Paulo, 23/6/2013

A direção do PT está em pânico, diz historiador

SÃO PAULO - Na quarta-feira, enquanto o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Fernando Haddad (PT) anunciavam, constrangidos, o cancelamento do reajuste no transporte, começava a ganhar corpo no comando do PT a ideia de tomar as ruas no dia seguinte, numa tentativa de reverter a imagem de partido vilão dos protestos.

Uma das marcas dos atos que pipocaram em diversas cidades do país foi o repúdio a qualquer tipo de manifestação partidária durante as passeatas. Algo talvez inédito na história das manifestações políticas brasileiras. Desde o início, foram muitos os depoimentos de censura e agressões contra quem tentasse levantar cartaz ou bandeira de partido político.

Com a presidente Dilma Rousseff e o próprio Haddad entre os principais alvos das manifestações, não é difícil entender porque o PT acabou sendo o mais hostilizado.

Na quinta, conforme o plano petista, alguns grupos de simpatizantes da sigla saíram de vermelho com suas bandeiras para se juntar à manifestação convocada para a avenida Paulista. A ideia era "comemorar" a redução das tarifas. O resultado foi um quebra-quebra entre os manifestantes em que os petistas, justamente por estarem de vermelho, ostentando símbolos da legenda, levaram a pior.

O ato simbólico mais revelador da derrota petista foi protagonizado pelo presidente nacional da sigla, o deputado estadual Rui Falcão, de São Paulo.

Na própria quinta, enquanto militantes da sigla ainda apanhavam na rua, Falcão retirou de sua conta no Twitter a mensagem do dia anterior com a hashtag #OndaVermelha. O chamamento que convocava a militância petista para a reação simplesmente desapareceu.

Antes do conflito das bandeiras na Paulista, o historiador Lincoln Secco, autor de livro sobre a história do PT, já tinha uma conclusão sobre a repercussão dos protestos no interior da legenda: "A direção do PT está em pânico".

"É a primeira vez que o PT precisa enfrentar um movimento de massas", constata Secco. "Embora não seja só contra o partido, é contra ele também. Contra alguns de seus governos. Isso é inédito." O PT, diz Secco, não enfrentou esse tipo de problema em 2005, quando o do mensalão veio à tona, porque os protestos convocados contra o governo Lula "não pegaram".

"Acho que só pelos erros que o Haddad cometeu, isso é um indício que a direção do PT está em pânico. Não sabe o que fazer".

Para o pesquisador, os protestos serão lembrados como um marco para a sigla. "O que se viu nesses dias foi um partido que envelheceu distanciado da juventude, de novos movimentos sociais. Controla os antigos, mas não inova."

Entre os erros de Haddad, Secco cita o fato de o prefeito ter autorizado o aumento da passagem de ônibus antes de cumprir a principal promessa de sua campanha, o bilhete único mensal. Lembra também que, ao ficar dando ênfase para um aumento abaixo da inflação, não percebeu que as pessoas não estavam preocupadas com o índice de preço, mas com o aumento em si, qualquer que fosse o reajuste.

Se há um consolo para o partido, está no fato de não parecer existir no atual cenário político nenhuma sigla concorrente em condições de lucrar com os movimentos que tomaram as ruas.

"A partir de um momento, todos políticos deram declarações elogiosas ao movimento: Dilma, Aécio, Eduardo Campos e Marina Silva. Mas eles não têm condições de ir para a rua e dizer isso. Estão disputando a leitura do movimento, não a direção." (RM)

Fonte: Ilustríssima / Folha de S. Paulo, 23/6/2013.

Falta de rumo político afeta economia do País, diz FHC

FHC discutiu a situação econômica atual do Brasil no programa Canal Livre da TV Bandeirantes e afirmou que o cenário não é positivo para o País

Da redação

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso discutiu a situação econômica atual do Brasil no programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, no domingo, 23, e afirmou que o cenário não é positivo para o País. Entre os aspectos destacados por FHC, a desaceleração da China, a recuperação dos Estados Unidos e "a falta de rumo" na política nacional têm afetado a economia brasileira.

Segundo o sociólogo e político, ainda temos uma abundância de dólares no mundo, causada por medidas de relaxamento monetário de bancos centrais estrangeiros, como o Federal Reserve Bank, dos EUA, no entanto esse fluxo não foi canalizado para investimentos no País, por causa de "uma política restritiva, com medo de fazer concessões".

Essa fase de abundância, no entanto, está chegando ao fim com a recuperação da economia dos EUA. Entre os efeitos apontados por FHC sobre este possível fim de abundância, está a desvalorização do real, que "arrebenta muitas empresas e pessoas". Para ele, as medidas do governo para conter esse movimento com atuação do Banco Central no mercado não são suficientes.

"A estabilidade da moeda é fundamental nesse mundo. E houve aqui uma certa hesitação política. O Banco Central custou a atuar, dá a impressão de que tudo é controlado e os capitais ficaram receosos", disse.

Ele também citou que a desaceleração da China pode ter impacto nos preços nas commodities, afetando o Brasil. "Os ventos internacionais não estão a favor do País".

Para Fernando Henrique, contudo, não foi só o contexto que mudou as políticas nacionais também foram equivocadas. "Nós ficamos muito afastados das correntes de renovação", que incluem a revolução tecnológica. "Nós estamos um pouco acanhados nesse processo".

"Falta rumo. Falta operacionalidade, falta gestão, falta competência. Houve uma invasão do Estado no governo por interesses políticos, que, com isso, veem outros interesses, que não são só políticos". Para ele, sobra dinheiro, mas falta direção em como investi-lo. Para FHC, há uma ideia de que o governo pode fazer o PIB crescer quando quiser, contudo "não adianta gastar no que não vai funcionar".

Fonte: O Tempo (MG)

Brasileiros - Aécio Neves

Ainda há um grande esforço para tentar compreender melhor a motivação que leva às ruas milhares de brasileiros, defendendo um sem número de causas e reivindicações. A este respeito, lembrei-me que em outubro de 2011 --portanto há quase dois anos-- assinei um artigo, aqui mesmo, nesta Folha, abordando a imprevisibilidade da política, as grandes transformações em curso e a busca coletiva por uma nova ordem.

Sem qualquer pretensão de leitura antecipada sobre os protestos que hoje varrem o país, inimagináveis há até poucos dias, já naquele momento era perceptível uma crescente onda de desencanto mundo afora com regimes autoritários, a corrupção e a crise econômica, temas encarnados por levantes como o da Primavera Árabe, os Indignados na Espanha e o Ocupe Wall Street, em Nova York.

À época, muitos apontavam aquelas como manifestações "sem bandeira", quando na verdade representavam um múltiplo e crescente inconformismo. Ainda que movido por diferentes frustrações, fenômeno de certa forma semelhante alcançou a realidade brasileira, após longos anos de acúmulo de insuficiências de toda ordem, agravadas pela percepção de grave paralisia gerencial, desperdícios, desvios e enorme frustração com a impunidade.

O inédito movimento brasileiro contrasta com a tentativa de afirmação de um "Brasil cor-de-rosa", como se tivéssemos deixado para trás, em um trecho vencido de história, uma das maiores desigualdades do planeta e as mazelas do nosso subdesenvolvimento. Se avançamos --e avançamos--, não vencemos o principal: continuamos um país pobre, desassistido e injusto.

O que não parecia ser factível tornou-se inesperada realidade: entornou para fora dos limites da política tradicional a percepção sobre obras que nunca acabam e multiplicam orçamentos exorbitantes; o baixo investimento em áreas fundamentais, gerando o sucateamento da saúde, a educação precária e a grave omissão na segurança pública, enquanto bilhões escorrem em programas de financiamento obscuros ou casos mais explícitos, como o de Pasadena, e agora as obras da Copa.

A insatisfação com a realidade está clara na pesquisa Ibope/CNI. Das nove áreas avaliadas, seis são desaprovadas pela maioria da população: segurança pública, saúde, impostos, combate à inflação, taxa de juros e educação.

A desaprovação ao combate à inflação subiu de 47% para 57%. Continuamos a ser um dos países que oferece o pior retorno dos impostos arrecadados em serviços públicos.

Há nesse episódio lições a serem aprendidas por todos os que temos responsabilidade pública, e uma é incontestável: o chamado mundo político tem uma enorme dívida com os brasileiros. E ela precisa ser resgatada.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

O pós-protesto - José Roberto de Toledo

Mesmo antes de o gás lacrimogêneo baixar, algumas consequências da onda de manifestações são visíveis. A saber:

1) Dilma Rousseff está pagando o pato. A presidente não era o alvo das manifestações tempestivas, mas virou seu para-raio. Sua popularidade caiu e continua caindo. No IndiPop do Estadão Dados, que faz uma média de pesquisas de avaliação divulgadas ou não, seu saldo de aprovação (ótimo+bom menos ruim+péssimo) caiu 18 pontos desde março. Só na semana passada, foi de 45 para 40 pontos. Os protestos reforçaram a tendência de queda (blog.estadaodados.com/indipop).

2) A classe média tradicional cansou de Dilma e do PT. A perda de popularidade de Dilma ocorre em todas as regiões e segmentos, mas se concentrou na classe média tradicional. Foi ela, e não os emergentes, que se insurgiu nas ruas. No Sul, no Sudeste e entre quem ganha mais de 10 salários Dilma está num patamar típico de reta final do primeiro turno presidencial. É como se a presidente já tivesse sofrido o desgaste típico de uma campanha eleitoral com ataques e denúncias da oposição.

3) Revolta contra partidos cria espaço para aventuras. Dilma e o PT perdem mais porque têm mais a perder. Mas a revolta é contra os partidos em geral, e a incapacidade do atual sistema político de produzir resultados. Assim, não necessariamente os partidos de oposição, como o PSDB, vão se beneficiar do desgaste dos rivais. Está aberta a porta para salvadores da pátria.

4) Protestos reabriram cenário de 2014. Até poucas semanas atrás, Dilma era franca favorita a se reeleger no primeiro turno. Agora, age para consolidar sua candidatura dentro do próprio partido, contra a turma do "volta Lula". Mais partidos deverão lançar candidatos a presidente, tentando capitalizar parte do descontentamento. A briga é pela outra vaga no segundo turno, porque uma ainda é dos petistas.

5) Manifestações viraram arma para todos os lados. O PT e a esquerda perderam o monopólio das manifestações de rua. Quem saboreou o reconhecimento público e a vitória de suas reivindicações (afinal, revogaram o aumento da passagem, a presidente teve que dar satisfações na TV) aprendeu que tem outras formas de fazer valer seus interesses além do voto. Engajamento tende a aumentar; novas lideranças, a aparecer.

6) Reforma política não é para políticos. A discussão sobre a necessidade de reformar a política deixa de ser assunto exclusivo para políticos profissionais. Novas ideias de representação, diminuindo o poder dos partidos, ganham força. A proposta de financiamento público de campanha está enterrada: dar mais dinheiro de impostos para políticos aparecerem bem na TV é capaz de provocar uma nova onda de protestos.

7) Procura-se um slogan que mobilize todos. A personalização do consumo chegou à política. Motes universais como "combate à fome" já não bastam. As manifestações "pós-20 centavos" mostraram uma enorme pulverização dos desejos. Se alguém conseguir uni-los sob um mote único, larga com grande vantagem sobre os rivais. Mas talvez esse slogan não exista.

8) Quem agrada gregos desagrada troianos. Dilma fez o que era esperado dela ao dar a cara para bater em rede de TV. Tentou transformar a agenda negativa em positiva, recolocando em pauta, por exemplo, a destinação do dinheiro do pré-sal para a educação. Mas quando falou em trazer milhares de médicos do exterior, cutucou um vespeiro. Os nacionais reagiram nas redes sociais e é capaz de irem às ruas. Agora é assim.

9) Espiões sabem menos que as redes sociais. Os órgãos de "inteligência" do governo não previram nada do que aconteceu no Brasil. Caíram em desgraça, por obsoletos. Não é à toa que Obama é fã de bisbilhotar e-mails, SMS e toda forma de comunicação eletrônica. 007 agora é hacker.

10) Não tem décima. "Abaixo os números redondos!"

Fonte: O Estado de S. Paulo

Jogo em aberto - Ricardo Noblat

"É a cidadania, e não o poder econômico,que deve ser ouvida em primeiro lugar"- Dilma Rousseff

É razoável supor que Dilma enfrenta sérias dificuldades para entender o que se passa no país. Se Lula, que é um político esperto, anda pendurado no telefone a pedir, humilde, a ajuda de amigos para tentar decodificar a voz das ruas, quanto mais Dilma, que nem política é, muito menos esperta, e carece de amigos que sejam. Ou de colaboradores informais que gostem dela a ponto de aconselhá-la de graça.

PARA GOVERNAR BEM, um presidente da República tem de se destacar como líder. Não precisa ser um excepcional gestor. Mas líder está obrigado a ser. Como governar sem exercer influência sobre o comportamento, o pensamento e a opinião dos outros — auxiliares e governados? Com seu entusiasmo, o líder contagia os que o cercam. Agindo assim, obtém a adesão deles aos seus planos.

DILMA INFUNDE medo. O medo inibe. Para além de carismático, o líder é um grande comunicador. Dilma não é nem uma coisa nem outra. O líder é persuasivo. Dilma é um chefe mal-humorado e impositivo. O líder é um hábil negociador. Dilma não negocia — manda. O líder é exigente. Dilma é. Não foram poucos os correligionários de Lula que o desaconselharam a indicar Dilma para sucedê-lo.

MAS ELE RESISTIU a todos os apelos. Dizia que Dilma era melhor gestora do que ele. A preferência de Lula por Dilma se escorava em dois principais motivos: ela seria leal a ele. E não seria obstáculo ao seu eventual retorno à Presidência da República. Lula não pensou primeiro no país quando elegeu Dilma sua candidata — pensou nele. E, do seu ponto de vista, acertou. No que importa, ele continua governando.

OS GOVERNANTES modernos não dão um passo importante sem consultar a opinião popular por meio de pesquisas. É assim com Dilma, como foi antes com Lula e Fernando Henrique Cardoso. Espanta que, munido de tantas pesquisas, o staff dela tenha sido incapaz de prever que um gigantesco tsunami estava a caminho. Só acreditamos no que não nos desagrada. E só lemos o que reforça as nossas convicções. Com os governantes não é diferente.

DE TANTO repetir que o mensalão não existiu e de que nenhum governo combateu mais a corrupção do que o dele, Lula acabou acreditando em tais fantasias. Bem como os que renunciaram a pensar com independência para seguir o líder disposto a pensar por eles. A corrupção não impediu Lula de se reeleger, nem Dilma de sucedê-lo. Por que haveria de produzir sérios estragos no futuro? O povo não parecia ligar.

NOS ÚLTIMOS 12 meses, Lula cabalou votos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para absolver mensaleiros e apertou a mão de Paulo Maluf para selar o apoio dele ao candidato do PT a prefeito de São Paulo. Renan Calheiros, que já renunciou à presidência do Senado para não ser cassado, foi eleito presidente do Senado. Está para ser aprovada no Congresso uma proposta que enfraquece o poder de investigação do Ministério Público.

O VICE DE ALCKMIN, governador do PSDB, virou ministro de Dilma sem deixar de ser vice. E o STF ganhou ministros escolhidos com base na esperança de que livrem mensaleiros da cadeia. Resultado: esgotou-se a paciência dos que saíram às ruas para protestar. A repulsa à corrupção está por trás de sua atitude. Por sua vez, Dilma foi forçada a admitir que seu governo ouve as vozes que cobram mudanças.

EM RESUMO: passou recibo de que ou muda ou ficará de fora da próxima eleição. Dilma de fora significava Lula dentro outra vez. Agora, não mais necessariamente

Fonte: O Globo

Um São João diferente - Denise Rothenburg

Há tempos, Brasília não vê uma segunda-feira tão agitada do ponto de vista político e em várias frentes. O mais óbvio é a reunião dos governadores com a presidente Dilma Rousseff em busca de divisão de responsabilidades para dar uma resposta coletiva às manifestações, dirigidas a todos os níveis de governo. 

Na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o juiz Márlon Reis apresentará uma proposta de reforma política no sentido de buscar via sociedade o que os políticos ainda não foram capazes de promover. É uma espécie de Lei da Ficha Limpa, fase II.

Mas, vamos por partes. A reunião com os governadores chega cercada de simbolismos. O primeiro deles é a de que pode estar em curso uma mudança de comportamento da presidente Dilma. Até aqui, ela vem tratando das coisas em "células", bem ao estilo dos núcleos de esquerda que lutavam contra a ditadura militar. Ali, eram poucos os líderes que tinham consciência do todo, ou seja, a panorâmica das ações delineadas ficava restrita, nada podia "vazar", sob pena de os militantes serem presos, torturados e mortos, ou seja, havia justificativa para as células.

Dilma levou esse estilo das células para o governo. Tem um núcleo para cada coisa e não dá ousadia a ninguém. Um dos exemplos mais claros para indicar essa característica de pouca abertura para conhecimento e discussão do todo é a ausência de reunião do conselho político. Como já publicamos aqui em outras oportunidades, Dilma, sempre que é cobrada a respeito dessas reuniões, inclusive as de governadores na Granja do Torto, ela respondia a alguns interlocutores: "Ora, você acha que eu posso discutir política com tanta gente reunida?".

Agora, entretanto, diante da assembleia permanente dos manifestantes na internet, ela parece disposta a adotar um pouco do assembleísmo que era a marca do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Afinal, Lula tem sua origem nos sindicatos onde as decisões são tomadas em amplos auditórios. O ex-presidente, todos os anos, reunia os governadores em Brasília para discutir projetos. Obviamente, no curto prazo os resultados não eram expressivos, mas valia a foto e o contato entre autoridades, a troca de ideias e experiências.

A foto de hoje ajudará nesse sentido de atuação conjunta e a colocar todos no mesmo barco, no estilo "vamos dar as mãos", distribuindo ainda o desgaste. Há quem esteja com receio de que o resultado da reunião seja a presidente cobrando apenas dos governadores as soluções, jogando o coquetel molotov da cartase coletiva das ruas no colo deles. Se fizer isso, não vai funcionar, uma vez que a União concentra hoje maior parte da arrecadação de impostos. Se quiser fazer essa cobrança, terá que dividir também os recursos para atendimento da demanda das ruas.

Enquanto isso, na OAB...

Ontem, mencionei aqui a proposta de reforma política que Márlon Reis apresentará hoje na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A espinha dorsal é uma tentativa de reduzir o peso das empresas nas campanhas, por tabela, na política, para dar lugar à cidadania. Hoje, diz ele as empreiteiras mandam. "Dos deputados eleitos, 369 estão entre aqueles que mais gastaram nas campanhas. Isso precisa mudar", diz ele.

Por isso, o texto que ele apresentará para discussão acaba com as doações de empresas para campanhas políticas. A proposta preserva as contribuições de pessoas físicas, porém limitadas a um salário mínimo por pessoa (hoje seriam R$ 678). Um detalhe é que quem declarou não ter tido renda nos últimos anos não poderá fazer doações. Ou seja, as pessoas que hoje põem tudo em nome de empresas para fugir do Imposto de Renda estarão fora. Sem dúvida, teremos um São João e tanto.

Fonte: Correio Braziliense

Caminho do desconforto - Valdo Cruz

Ainda não é possível dizer até quando a centelha de mobilização que risca o país se manterá forte e acesa. O mais importante, contudo, é que um grupo da sociedade descobriu um caminho para impor desconforto aos donos do poder, em todas as suas dimensões.

Isso é o que mais aterroriza o tradicional mundo político, seja ele de centro, direita ou esquerda. Principalmente às vésperas de uma eleição para presidente, governadores, deputados federais e senadores.

A força da mobilização por meio de redes sociais chegou ao Brasil e deixa tontos os grupos que disputam o poder. Até ontem, achavam que o jogo seguia seu curso normal. Só eles em campo. O resto aplaudia ou vaiava das arquibancadas.

Tanto que alguns dias atrás governo e oposição travavam o debate sobre o copo meio cheio, meio vazio na economia. Um acusando o outro de criar uma situação irreal. Não perceberam que outro copo transbordava logo ali ao lado.

Aí, a turma cansou e invadiu o gramado. Pode até sair momentaneamente. Mas aprendeu o caminho virtual que leva ao centro de campo e voltará a ocupá-lo se os donos do poder seguirem divorciados de setores da sociedade. Ainda mais em ano eleitoral, o que mete medo, literalmente, na classe política.

Representante máxima do poder no país, Dilma demorou a reagir, não chegou a empolgar toda a plateia, mas obedeceu duas regras claras do jogo: disse ter ouvido a voz das ruas e condenou as arruaças, que precisam parar. Até em nome da sequência do movimento.

Agora, ela e os demais donos do poder precisam, de fato, agir. Não basta apenas ouvir e discursar. Como político faz tudo pela manutenção do poder, a expectativa é que produzam algo de concreto.

Bom lembrar que o tempo é curto, e as condições de jogo não são nada favoráveis. A turbulência na economia tende a aumentar e pode complicar o andamento da partida.

Fonte: Folha de S. Paulo

A falta de coordenação e o conflito federativo - Marcus Pestana

Mais uma vez, o plenário da Câmara dos Deputados foi palco de uma noite nada memorável. Mais uma vez, o autismo e a falta de capacidade de coordenação do governo Dilma produziram uma situação onde o conflito federativo explodiu no Congresso, sem nenhuma mediação ou arbitragem. O Congresso, cuja credibilidade e capacidade de exercitar suas prerrogativas têm sido postas em xeque, não cumpriu seu papel. As ideias de nação, Federação e solidariedade foram pelo ralo. O conselho da velha raposa política mineira de que “mais vale um bom acordo do que uma briga ruim” não encontrou eco na representação política da sociedade. Resultado: impasse político e vácuo jurídico. E que não se reclame depois de que o Supremo quer judicializar a política.

Tudo aconteceu na votação das novas regras de partilha do Fundo de Participação dos Estados. O FPE é formado por parcela do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e é transferido para os Estados, assim como o FPM é transferido aos municípios. Para alguns Estados menos industrializados, é a principal fonte de receita para financiar as políticas públicas. Há muito, o governo federal tem aumentado a concentração tributária com a expansão das contribuições não compartilhadas. Além disso, o governo federal acena com chapéu alheio, desonerando unilateralmente os tributos, visando combater o desemprego, mas sem preservar ou restituir a parte de Estados e municípios, já tão combalidos em suas finanças. IPI zero para carros e eletrodomésticos, prefeitos e governadores com menos recursos em caixa.

O Supremo Tribunal Federal havia declarado inconstitucional a lei que regulamentava o FPE. Tínhamos até dezembro de 2012 para uma nova regra do jogo. Falhamos. O Senado não conseguiu construir um texto consensual. O Supremo determinou, então, que a distribuição continuasse pela regra antiga, dando prazo para o Congresso cumprir seu papel até junho de 2013. O Senado produziu uma alternativa e a Câmara dos Deputados, por uma série de razões, tinha que votar até o último 12 de junho. Não votou. E, agora, o vácuo foi produzido e o Congresso acumula mais esse desgaste.

A noite do dia 12 lembrou a votação dos royalties do petróleo. A Federação fraturada sangrando no plenário. Discussão rasa e tumultuada, líderes da base com discurso oposicionista, deputados com a tabelinha na mão votando com um único critério: perda ou ganho de seu Estado de origem. Impasse, conflito e falta de coordenação. Mais uma vez o governo Dilma ausente, omisso, olimpicamente tentando passar a ideia de que não é com ele.

A incapacidade de liderança da presidente, a inoperância da articulação política do governo e as divisões profundas na base de sustentação de Dilma desenham um cenário preocupante num momento em que a economia brasileira emite sinais de exaustão e exige mais do que nunca liderança, capacidade de diálogo e decisões estratégicas.

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB-MG)

Fonte: O Tempo (MG)

O movimento que pareceu sair do nada - Renato Janine Ribeiro

Há movimentos que saem do nada? Ninguém esperava que o Passe Livre mobilizasse assim a nação. Mas isso não significa que tais manifestações sejam um completo enigma. O que não se pode é prever se e quando se darão, nem quais serão seus resultados. Ou seja, não se sabe do seu antes nem do seu depois. Mas vou comentar o que se sabe delas.

Primeiro, este tipo de grande movimento que parece vir do nada começa com o maio de 68 francês, que é além disso o seu paradigma. No dia 15 de março daquele ano, o jornalista Pierre Viansson-Ponté lamentava que "a França [estivesse] entediada", conformista. Uma semana depois, a repressão a protestos contra a guerra do Vietnã e à entrada de rapazes nos quartos das alunas da Universidade de Nanterre detonava o movimento que, rapidamente, cresceu.

Esses movimentos vão bem além de suas causas imediatas. Estas se repetem dezenas de vezes, sem nada resultar. E de repente, a explosão. Que é um acontecimento muito maior que suas possíveis causas. Acontecimento, em inglês, é "happening"; ora, nas línguas latinas, desde os anos 1960 chamamos de "happening" uma grande festa, às vezes promovida por artistas, que tem as características de acontecer só uma vez, não tendo ensaios nem podendo ser repetida. Um acontecimento máximo, um acontecimento em estado puro. Daí, que esses eventos únicos sejam festas. Quem participou dos muitos movimentos de 1968 - na França, em Nova York ou na Califórnia, na Alemanha, na então Tchecoslováquia ou no Brasil - viveu esse clima de festa. Quem se manifestou pelas Diretas-Já em 1984 ou pelo impeachment de Collor, em 1992, festejou nas ruas. Daí, um tom de alegria. As pessoas descobrem que a política pode ser alegre.

A revelação de que a política pode ser alegre

Por isso, ocupam as ruas. A causa imediata das manifestações foi o transporte público de péssima qualidade, que impõe aos pobres o gasto de quatro a oito horas por dia para ir e vir do emprego - uma segunda jornada de trabalho, não paga em dinheiro e que onera a saúde física e mental dos trabalhadores. Mas vejam o simbolismo: estão falando do transporte, isto é, do movimento (e reclamando contra a lentidão, a falta de movimento). "A vida é movimento", dizia em 1651 o filósofo Thomas Hobbes. Estão reclamando da estagnação, que é morte, e clamando pela vida. Uma política que clame por causas ligadas à vida é coisa rara. Não é a política das instituições, não é a da governabilidade, não é a do Parlamento.

E assim a causa imediata funciona como um ímã. Ela atrai tudo o que seja "do bem". Os manifestantes lhe agregam a demanda pela saúde, pela educação e até pelas palavras de ordem que não são da ordem, mas da liberdade, como o célebre "é proibido proibir" do 68 francês, ou o "seja realista, exija o impossível". Tudo adquire as cores das grandes mudanças, daquelas que não aparecem no dia a dia, mas surgem como uma revelação, uma epifania, um momento em que se descobrem novas potencialidades para o mundo e para a vida com o outro, para o viver-juntos. Por isso mesmo, cintila sempre a perspectiva de que uma outra política, mais vital, é possível.

Nem tudo são flores. O Brasil padece de uma cultura política fragílima. Anos de pregação segundo a qual todos os nossos problemas decorrem da corrupção - convicção esta que é uma marca clara da ignorância política - fazem muitos acreditarem que o outro, aquele que discorda deles, não pode ser uma pessoa honesta. Muitos ignoram o que significam democracia e política, a saber: há divergências sérias na condução dos assuntos públicos, que cabe ao voto resolver, mas dentro do respeito ao outro. Chamar o outro de ladrão ou bandido é destituí-lo dos direitos políticos e considerá-lo criminoso. Isso não deveria acontecer, salvo exceções comprovadas de crimes cometidos, entre petistas e tucanos, entre republicanos e democratas, entre trabalhistas e tories. Mas acontece, no Brasil, com alarmante frequência. Daí que, quando as ruas se abrem para o imaginário, uma parte dele seja agressivo e violento. Cito um ativista do Passe Livre, que esteve dia 21 no debate que coordenei no Instituto de Estudos Avançados da USP: a direita e o crime, disse ele, estão hackeando nossos movimentos.

E o "day after"? A revelação de que você pode ocupar as ruas, de que por algumas horas pode tirá-las dos carros e fazer uma festa ali é tão poderosa que corre o risco de ser apenas uma catarse, uma pausa no meio de uma vida que antes e depois será conformista. Muitos manifestantes de 1968, das Diretas ou do impeachment lembram esses momentos como apenas uma festa, mas que em nada mudou suas vidas. Ganharam liberdade sexual, é tudo. Será uma pena se assim for. Epifanias devem mudar, sim, a vida de quem as tem. Você não pode ter uma revelação e não se converter... Que os políticos procurem conduzir "business as usual" é até compreensível, mas as pessoas que sentiram o gosto do diferente deveriam inseri-lo em suas vidas.

Isso, mesmo sabendo, o que é bastante amargo, que a curto prazo quem colhe os frutos não é quem os semeou. A Primavera Árabe, obra de jovens democratas, levou ao poder gente conservadora, como os extremistas da Tunísia e do Egito. Maio de 68 conduziu, em junho daquele ano, à vitória eleitoral da direita. Mas hoje ninguém lembra a direita francesa da época, e todos recordam os estudantes, os jovens, o mês de maio. A sociedade muda. E, assim como 1968 se deu em pelo menos três continentes, de 2011 para cá pode estar surgindo uma segunda onda dessas manifestações tão vitais: com a Espanha, países árabes, Turquia e Brasil, elas parecem estar-se espraiando pelo mundo. O que virá desta segunda onda?

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico