segunda-feira, 3 de junho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Fernando Henrique Cardoso: presidencialismo de coalizão.

"Nós hoje temos governo e oposição, não há mais o que se chamava de presidencialismo de coalizão. Não há coalizão, há dois lados, governo e oposição, e o governo buscando com recursos políticos e de outras naturezas influencias a opinião. Não é um bom sistema.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da República, in Folha de S. Paulo, 28/5/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais em circulação

O GLOBO
Repasse da Petrobras sobe menos que produção
Batalha velada entre Pezão e Lindbergh

FOLHA DE S. PAULO
Com aval da União, dívida
externa de Estados aumenta
Custo de pacote de serviços bancários varia até 89%
Em dia de chuva, Parada Gay leva 220 mil à Paulista
Conflito já deixou pelo menos dois mortos na Turquia
Índio, será que ele é?

ESTADO DE S. PAULO
Tombini vê pouco efeito do dólar na inflação brasileira
Petrobrás corta em 43% contrato com a Odebrecht
CNJ quer barrar verba extra retroativa a juiz
Maioria apoia nova lei das domésticas

VALOR ECONÔMICO
Ganhos reais caem nos novos acordos salariais
Fundos imobiliários perdem apelo
Bancos privados avançam na eficiência
Planos de montadoras da China encalham
Importação de US$ 15 bi em petróleo e gás

BRASIL ECONÔMICO
"Brasil é vítima do próprio sucesso"
País está quase na lanterna na América do Sul
Aposta em corredores exclusivos

ESTADO DE MINAS
Enrolação bilionária
Enem: Especialistas criticam cobrança de decoreba
Trem da alegria: Aumento de até 200% para 4.755 servidores a caminho

CORREIO BRAZILIENSE
"Trem da alegria" prevê reajuste de até 200% para 4.755 servidores
Confusão em concurso da Anvisa
MP critica alteração na Ficha Limpa
Planalto: Afagos para barrar crise
Indígenas: Recolhidas balas de uso da PF

GAZETA DO POVO (PR)
Paraná quer importar gás da Rússia para abastecer indústrias
Turquia vive dias de tensão
Preço do aluguel infla o déficit habitacional
Paraná ainda patina na Lei da Transparência
Tribunal egípcio declara poder Legislativo ilegal

ZERO HORA (RS)
Operação Concutare: Justiça bloqueia bens de suspeitos
Preocupante: Mais jovens atraídos por negócios do tráfico

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Bronca de cinema

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais em circulação

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Em rota de colisão

Pezão e Lindbergh travam batalha nos bastidores e protagonizam impasse na aliança PT-PMDB

Cássio Bruno, Marcelo Remigio

A eleição de 2014 no Estado do Rio se transformou no maior impasse para a manutenção da aliança nacional entre PT e PMDB. Bombeiros dos dois partidos saíram em campo para tentar selar a paz e buscar um acordo entre os pré-candidatos Lindbergh Farias (PT) e Luiz Fernando Pezão (PMDB). Por enquanto, conseguiram apenas promessas de não agressão pública. Mas longe dos olhos dos eleitores, o senador petista e o vice-governador peemedebista agem de modo agressivo na costura de apoios para a disputa do Palácio Guanabara.

Em entrevista ao GLOBO, Pezão, que critica a antecipação da campanha, detalhou a estratégia de fortalecimento de sua candidatura, que vai de investimentos do governo do estado nos municípios com maior potencial eleitoral a cooptar petistas de correntes adversárias de Lindbergh. Já o senador petista, que não concedeu entrevista seguindo recomendações do PT nacional para estancar a crise, busca apoio no primeiro escalão da presidente Dilma Rousseff e se vale de aliados para criticar a administração Cabral. Ele tenta a aproximação com o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), que se distanciou do PMDB fluminense e ensaiou uma pré-candidatura. Aliados do cacique do PRB já participam da caravana de Lindbergh pelo estado. O ministro fortaleceria os laços do petista com os evangélicos.

Enquanto a manutenção da aliança PT-PMDB patina no Rio, Pezão tira as primeiras cartas da manga. O vice-governador decidiu pôr nas ruas a conhecida e eficaz política do asfalto, que ajudou Sérgio Cabral a se reeleger, assim como o ex-governador Anthony Garotinho a passar o cargo para sua mulher, Rosinha.

Ainda este mês, Pezão anuncia o início das obras do programa Bairro Novo, que vai injetar R$ 800 milhões em obras de pavimentação e urbanização em 20 municípios da Baixada Fluminense e Região Metropolitana, além de um amplo projeto de recuperação de estradas no interior.

O asfalto chega como resposta às promessas de infraestrutura que Lindbergh tem feito a prefeitos em sua caravana. A região beneficiada pelo Bairro Novo abriga a maior concentração de eleitores. O programa prevê 750 quilômetros asfaltados.

No mesmo compasso, Lindbergh segue em sua caravana pelo estado com a orientação do ex-presidente Lula para que evite ataques a Pezão. Lula teria se irritado com o senador depois que ele participou de um evento do PT, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, há duas semanas. No encontro, organizado para comemorar os dez anos dos governos Lula e Dilma, Lindbergh atacou Pezão e Cabral, contrariando o ex-presidente.

Após o episódio, Lindbergh tem evitado dar declarações que possam alimentar ainda mais a crise PT-PMDB. E se vale de assessoria especializada para cuidar de sua imagem. Nos bastidores, porém, ele trabalha para minar o governo Cabral. Coordenadores da pré-campanha preparam um programa de governo, e determinaram que um grupo de especialistas vasculhe deficiências em setores da administração peemedebista, especialmente em áreas como Transportes, Educação e Saneamento básico. Os problemas encontrados serão usados, mais tarde, por Lindbergh em discursos públicos e em programas do PT na TV e no rádio.

Pezão ainda aposta na interferência do PMDB nacional para manter a aliança com o PT. A retirada da candidatura de Lindbergh eliminaria o principal obstáculo para o projeto político peemedebista no estado. Também facilitaria a composição de uma extensa aliança partidária nos moldes da construída pelo governador Sérgio Cabral e o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Cabral e Pezão defendem o discurso de que o rompimento da parceria PT-PMDB limitaria o palanque da presidente Dilma Rousseff no Rio e acabaria com a "aliança que mais deu certo no país".

Pezão afirma que o PMDB cumpriu todos os acordos previstos na negociação nacional. No Rio, abriu mão da disputa em oito cidades nas eleições municipais de 2012 e mantém o PT em cargos no estado e na prefeitura. A negociação vai incluir a cobrança da fatura da disputa municipal.

- O Rio atingiu um grau de maturidade política que garante a aliança. A questão não é ter esperança em manter a coligação, mas garantir a participação na aliança nacional, pensar num projeto nacional para o Brasil. O PMDB trabalhou para a eleição da presidente Dilma e vamos lutar até o último momento pela aliança. O PT continua no governo do estado e com duas pastas importantes.

Ainda faz parte da estratégia pré-eleitoral de Pezão a não agressão a adversários. Pezão tem dito "não esperem um discurso de ataque ao senador Lindbergh, pelo menos agora".

Com pesquisas qualitativas nas mãos, ele identifica como algo positivo o que seria uma barreira para sua candidatura: o desconhecimento de seu nome por parte do eleitorado. O atual vice quer tirar proveito do que, hoje, pesa contra:

- Dos nomes que estão na disputa, sou o menos conhecido. Mas os que me conhecem me identificam com o trabalho. Mais de 70% dos entrevistados relacionam meu nome ao trabalho. Cabe aos marqueteiros explorarem essa marca.

Petista busca apoio de prefeitos do PMDB

Além de Crivella, de evangélicos e de ex-aliados de Cabral e Pezão, como o deputado estadual Domingos Brazão (PMDB) e seu grupo, Lindbergh prioriza um entendimento com dois partidos de sua preferência: o PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência, e o PDT, que anunciou a possibilidade de candidatura do deputado federal Miro Teixeira ao estado. Os dois partidos pertencem às bases aliadas de Cabral e de Paes, inclusive com indicações a cargos no primeiro escalão. Na semana passada, em evento no Rio, Campos declarou que a manutenção da aliança do PSB com o PMDB no Rio ainda não está garantida.

A pré-candidatura de Lindbergh tem o peso do apoio de Dilma e de Lula, apesar do impasse com o PMDB. O ex-presidente, por exemplo, já disse publicamente que o petista tem o direito de ser candidato ao governo do Rio. Enquanto isso, Dilma reduziu as suas idas ao estado e, consequentemente, as aparições ao lado de Cabral e Pezão. Dentro do grupo de Lindbergh, o pensamento não é romper como todo o PMDB. O petista também tem se aproximado de prefeitos da legenda e de outros partidos aliados de Cabral.

O senador já dedica a maior parte do tempo à pré-campanha. Ele só fica em Brasília três vezes por semana (terça, quarta e quinta-feira). O restante dos dias é usado para encontros com prefeitos e vereadores.

- Com a caravana, conheceremos as necessidades de cada região. Não é uma caravana eleitoral. É apenas um diálogo com moradores e empresários - afirmou o deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ), coordenador da pré-campanha e do programa de governo de Lindbergh.

PMDB tem mais prefeituras; PT negocia alianças

PDT, PR e DEM apresentam pré-candidatos; PSDB e PSOL estudam nomes para 2014

Além de comandar a máquina estadual, o PMDB de Luiz Fernando Pezão está à frente de 24 prefeituras no Estado do Rio, incluindo a capital. Em seis municípios indicou o vice-prefeito e, em pelo menos 12, Pezão tem prefeitos aliados. Entre os partidos mais fiéis está o PP do senador Francisco Dornelles. O vice-governador costura o apoio de PSD e PSB, também assediado pelo senador Lindbergh Farias e aliado dos petistas nacionalmente.

A composição de um leque de alianças por Pezão preocupa caciques do PMDB. Duas barreiras precisam ser vencidas: a boa aceitação do nome de Lindbergh nas pesquisas de intenções de voto e o não cumprimento de acordos com partidos aliados por parte do prefeito Eduardo Paes. Ele reuniu 19 legendas em torno de sua reeleição. No entanto, não conseguiu acomodar todos em sua administração, provocando críticas. Pelo menos nove estariam descontentes com a pouca - ou nenhuma - oferta de cargos na prefeitura do Rio, como retribuição ao apoio.

Já o PT de Lindbergh soma 11 prefeituras e mantém boas relações com os prefeitos do PSB. Do total de municípios administrados por petistas, Lindbergh ajudou a construir a candidatura de pelo menos sete, que devem retribuir com a máquina municipal. Lindbergh financiou a maior parte das campanhas petistas a prefeito.

O senador ainda tenta contornar resistências a seu nome dentro do PT, lideradas por adversários internos. Entre as prefeituras petistas, a mais importante, Niterói, é administrada por Rodrigo Neves, aliado de Cabral e Pezão e que, em vários eventos do PT, se mostrou contrário a candidatura de Lindbergh. Neves é ex-secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos de Cabral.

Além de Pezão e Lindbergh, são pré-candidatos ao Palácio Guanabara o deputado Miro Teixeira, do PDT, e o vereador Cesar Maia, do DEM. O PR ainda não decidiu entre o deputado Anthony Garotinho e sua mulher, Rosinha, prefeita de Campos. PSDB e PSOL também estudam candidaturas.

Fonte: O Globo

Por Aécio, deputados de MG ameaçam deixar PSD

Apoio a petistas provoca racha na sigla de Kassab

Paulo Peixoto

BELO HORIZONTE - Ante a aproximação entre PSD e o governo Dilma Rousseff, deputados do partido em Minas ameaçam saída em bloco para se manter alinhados a Aécio Neves (PSDB).

O grupo é o mesmo que em 2012 se recusou a apoiar o PT em Belo Horizonte, contra a vontade do presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab.

De uma só vez, o PSD-MG perderia os seis deputados estaduais e também o deputado federal licenciado Alexandre Silveira, que é secretário no governo mineiro.

Esses deputados querem o alinhamento a Aécio em 2014. A cúpula do PSD deve apoiar a reeleição de Dilma e a candidatura do ministro Fernando Pimentel (PT, Desenvolvimento) a governador.

Consumada essa possibilidade, apenas os cinco deputados da bancada federal do PSD-MG, mais próximos ao Planalto, ficariam no partido.

Os estaduais debandariam em bloco. Assim, consideram que terão mais força em negociação com outra legenda.

"Ainda vamos lutar internamente para tentar derrubar a minoria petista, mas nos deixa apreensivos a ação truculenta do Kassab, a intervenção", disse o deputado Gustavo Valadares (PSD).

Os aecistas do PSD falam em migrar para a MD (Mobilização Democrática), nova sigla criada a partir da fusão do PPS e PMN. "A MD é uma das possibilidades, mas há o risco de ela estar contra Aécio", afirmou Valadares.

O presidente do PSD-MG, Paulo Simão, disse que ainda mantém conversas com PT e PSDB e que "é cedo" para se tomar uma decisão.

Fonte: Folha de S. Paulo

Aliados a Aécio se reúnem para conter avanços do PT

Senador tucano quer manter base coesa com vistas às eleições

Isabella Lacerda

Lideranças dos 11 partidos que compõem a base de apoio ao governador Antonio Anastasia no Estado se reúnem, hoje, em Belo Horizonte, para traçar estratégias para as eleições estadual e nacional de 2014. Na pauta, a formação de um bloco multipartidário para viajar por Minas divulgando os dez anos de governo estadual do PSDB e angariando o apoio de prefeitos e vereadores para o projeto sucessório do ano que vem.

O encontro foi organizado a pedido do senador e pré-candidato à Presidência da República, Aécio Neves (PSDB), principal interessado em manter sua base de apoio unida.

Como pano de fundo da articulação aparece, também, a intenção de o grupo não ficar em desvantagem em relação ao PT. Desde maio, os petista já viajam pelo Estado divulgando o nome do ministro do Desenvolvimento e pré-candidato ao governo, Fernando Pimentel.

“É um contraponto às movimentações do PT. Queremos mostrar que estamos unidos e que inúmeros partidos já estão conosco”, declarou o presidente estadual do PSDB, deputado Marcus Pestana.

Disciplina. O movimento multipartidário também é visto como forma de minimizar as disputas internas nos partidos aliados, que ainda não tem definido o nome que representará a base em 2014.

“O momento é de dar publicidade ao governo. A definição do nome será em novembro, depois que terminar o prazo para filiações partidárias”, ressaltou Pestana.

Fonte: O Tempo (MG)

Caruaru na agenda de Aécio

Carolina Albuquerque

Tudo indica que o senador e presidenciável mineiro Aécio Neves (PSDB) deve prestigiar os festejos de São João do município de Caruaru, no Agreste pernambucano, no próximo dia 24. A informação foi repassada pela assessoria do tucano, que confirmou que o compromisso consta na pré-agenda do parlamentar, recém-empossado na presidência nacional do partido. Pouco conhecido pelo eleitor do Nordeste, o senador pretende imprimir um ritmo de andanças mais acelerado pelo País e, especialmente, pela região a partir de julho. A ideia é que as viagens aos Estados aconteçam quinzenalmente.

Caso se confirme à vinda ao tradicional São João de Caruaru, será a primeira vez que o senador tucano vem vê de perto a festividade local. Aécio Neves também deve participar, ainda sem roteiro pré-definido, da festa junina de Campina Grande, na Paraíba.

Apesar de pisar em terras de um provável opositor nas eleições presidenciais de 2014, o governador Eduardo Campos (PSB), Aécio Neves se "sentirá em casa". Ele guarda uma relação pessoal com o socialista - os dois cumpriram mandatos na Câmara Federal na mesma época - e tem boa relação com o governador paraibano, Ricardo Coutinho (PSB). O convite a Campina Grande, porém, partiu do correligionário, senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), adversário de Coutinho.

Se caso vir a Caruaru para a festa junina, Aécio Neves deverá fazer passos semelhantes aos da presidente Dilma Roussef (PT), que, enquanto ministra do ex-presidente Lula e potencial candidata à Presidência da República, assistiu à abertura da festividade e dançou até forró. À época, Dilma também sofria do mesmo mal do presidenciável tucano: ser pouco conhecida e reconhecida fora do eixo Rio-São Paulo-Minas.

Dizem os gurus: marcar presença em eventos de grande público, como o Carnaval e o São João, é ritual obrigatório para quem pretende disputar uma eleição nacional.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Campos terá que convencer os governadores a apoiá-lo

Candidatura presidencial do socialista de Pernambuco enfrenta oposição dentro do próprio partido

Larissa Arantes e Lucas Pavanelli

Não bastasse a dificuldade em construir palanques nos Estados e angariar apoio de outras legendas para sua candidatura à Presidência da República, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), enfrenta resistência de fortes lideranças de seu próprio partido, que querem adiar em cinco anos o projeto da candidatura socialista ao Planalto.

Nos últimos dias, governadores socialistas declararam que o melhor caminho é continuar na base da presidente Dilma Rousseff (PT) e esperar para lançar candidatura própria em 2018. A alternativa de longo prazo surge como saída para evitar a retirada do PSB do governo federal e para levar o partido à eleição de 2018 apoiado pelo PT e pela base de Dilma.

Na última semana, o governador do Amapá, Camilo Capiberibe, criticou a aproximação de Campos com partidos da oposição, como o DEM e o MD (fusão entre PPS e PMN) e sugeriu que a melhor alternativa é aguardar outro momento.

“Fazemos parte da base de apoio da presidente Dilma. Apoiamos a eleição da presidente porque acreditamos que ela era a pessoa mais preparada para dirigir o Brasil. Acho que, neste momento, o melhor é continuar na base de apoio”, afirmou Capiberibe ao jornal “Folha de S.Paulo”.

O discurso engrossou a voz da corrente liderada pelo governador do Ceará, Cid Gomes, e seu irmão, o ex-ministro do governo Lula, Ciro Gomes e, mais recentemente, pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, que também vê dificuldades na candidatura em 2014 e prefere aguardar o pleito de daqui a cinco anos.

“Não temos presença em todos os Estados, não teríamos palanques. Sobre a política de alianças, também haveria muita dificuldade”, alertou Casagrande. Outro que também já se manifestou contrário à candidatura de Campos é o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra.

A favor. Um dos maiores entusiastas da candidatura própria do PSB já em 2014, o secretário nacional do partido, Carlos Siqueira – que trabalha nos bastidores para convencer os próprios socialistas a adotar o projeto de candidatura própria – avalia que a legenda não pode perder o momento. “Temos uma liderança jovem, capaz, bem avaliada. Não há razão para que o PSB abra mão dela”, afirmou.

Quanto ao esvaziamento do apoio a Eduardo Campos, principalmente pelos recentes discursos de governadores do partido, Siqueira minimizou.

“A atitude de Camilo (Capiberibe) e de outros governadores é compreensível porque precisam do apoio do governo federal para administrarem seus Estados, mas internamente há, sim, apoio ao projeto da candidatura própria”, revelou.

Fonte: O Tempo (MG)

Eduardo defende novo pacto político

Débora Duque

Mesmo participando de um evento distante do debate eleitoral, o governador Eduardo Campos (PSB) voltou a defender a construção de um "novo pacto político" no País. Sem citar nomes ou partidos, o socialista disse que é preciso "livrar" o governo de se "entregar às velhas práticas políticas"."Existe a necessidade de se criar um novo pacto político no País para livrar o governo de se entregar às velhas políticas", afirmou, no encerramento da conferência Vox, organizada pela ONG Novo Jeito.

Em declarações anteriores, Eduardo Campos usou o mesmo discurso para questionar a aliança PT-PMDB na esfera nacional. Em encontro com empresários paulistas, em março, ele chegou a dizer que o pacto político que impera no governo "que ajudou a eleger" não têm condições de fazer o país "dar um passo adiante".

Ontem, o governador-presidenciável também pregou a necessidade de construir uma nova "agenda política" para o século XXI. Fez a ressalva, porém, que não basta falar apenas em "sustentabilidade", num possível contraponto ao discurso político da ex-senadora Marina Silva, que tenta criar o Rede.

Após o evento, Eduardo embarcou para o Rio de Janeiro. Em sua agenda administrativa, consta uma visita à fábrica onde serão construídos os canos da Adutora do Agreste, cuja ordem de serviço será assinada amanhã, em Pesqueira. Existe a possibilidade de o socialista abrir espaço para um encontro político com o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que já declarou apoio à reeleição da presidente Dilma.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Afago no PMDB para estancar crise na base

Caciques peemedebistas se reúnem com Dilma em busca de uma solução para resolver os problemas de relacionamento na aliança com o PT e no Congresso

Paulo de Tarso Lyra

Afagos para barrar crisetruePrincipal aliado da base governista, mas com potencial para complicar o projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff, o PMDB deve reunir hoje sua cúpula com a própria Dilma para uma análise dos problemas detectados nas últimas semanas na relação entre eles. Dilma estará reunida com o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), da Câmara, Henrique Alves e com o vice-presidente Michel Temer.

Não será esta a primeira vez que a presidente se vê obrigada a afagar seu fiel escudeiro. No ano passado, quando resolveu destituir Romero Jucá (PMDB-RR) do posto de líder do governo no Senado, colocando em seu lugar o senador Eduardo Braga (AM), ela teve que promover um jantar com os caciques do partido para não deixar a imagem que estaria fazendo uma desfeita. Braga integrava o chamado G8, grupo de senadores que incluía ainda Pedro Simon (RS), Jarbas Vasconcelos (PE) e Roberto Requião (PR), dentre outros, independentes em relação ao Planalto e ao comando partidário.

A relação, no entanto, sempre foi conflituosa. O momento atual, agravado pela vitória épica na MP dos Portos — na qual uma emenda do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), quase pôs tudo a perder — e pela recusa do presidente do Senado, Renan Calheiros, em colocar em votação a medida provisória que criava um fundo para compensar as concessionárias de energia pela diminuição das contas de luz, é mais um capítulo desastroso no casamento entre o PT e o PMDB.

Na verdade, o cenário descompensado de agora potencializa problemas que se acumulam há tempos. O PMDB, por exemplo, jamais esqueceu o fato de que, entre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e o governo Dilma, ele simplesmente encolheu. "Tínhamos o Ministério da Saúde e a Integração Nacional, pasta com capilaridade e dinheiro. Hoje, temos o Turismo com 70% do orçamento contingenciado, e a Agricultura que se acotovela com o Ministério do Desenvolvimento Agrário na elaboração de políticas públicas para o setor", reclama um cacique peemedebista. "Oitenta por cento de nós defende a reeleição de Dilma. Mas 100% quer ser reeleito. É fundamental compatibilizar as duas coisas", completou outra liderança do PMDB.

Pela divisão de tarefas, a expectativa é que Renan exponha os problemas enfrentados com o PMDB no Senado; Henrique com o PMDB na Câmara; e Temer, as queixas gerais do partido. Eleito pela própria Dilma como porta-voz do partido junto ao Planalto, o vice-presidente tem sido visto com desconfiança pelos próprios correligionários ultimamente. Ele estaria sendo acusado de ser mais "governista do que peemedebista" nas negociações com o Planalto. "Renan e Henrique, se forem questionados, poderão também opinar sobre o comportamento da base aliada. Mas tem tanto problema em relação ao PMDB, que isso deve ficar para outra reunião", ironizou um cacique do partido.
Fonte: Correio Braziliense

Inferno astral no Planalto

A presidente Dilma Rousseff aprendeu, nas últimas três semanas, a infinita capacidade da política em oscilar entre momentos bons e momentos ruins. Depois da quase épica vitória na aprovação da MP dos Portos, com o auxílio luxuoso do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Dilma mergulhou em um inferno astral nos últimos 15 dias. Trapalhadas do governo com o Bolsa Família; pibinho (Produto Interno Bruto) de 0,6%, abaixo até mesmo do que o analista financeiro mais pessimista imaginava; alta de juros para conter a inflação; e uma crise incontrolável com o PMDB e a base aliada.

"Se não fosse a habilidade dos líderes aliados, tínhamos derrubado dois ministros e um presidente de banco estatal nessas duas semanas", disse um incomodado aliado do Planalto. As referências são, na sequência, à ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, que atribuiu à oposição a correria dos beneficiários do Bolsa Família às agências da Caixa; o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que, mais uma vez, apresentou um cenário otimista de crescimento econômico que não se concretizou; e o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, que omitiu a informação que o banco que dirige antecipou em um dia o pagamento do benefício, o que pode ter provocado o caos em 13 estados brasileiros.

O debate eleitoral antecipado de 2014 é apontado como um dos responsáveis pela crise política. Na visão de muitos integrantes da base de apoio do governo, essa discussão cega diversos escalões da Esplanada. "À exceção do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que desistiu de disputar o governo de São Paulo no ano que vem, todos os demais ministros estão pensando apenas "em seus quadrados". Mercadante é o único que consegue articular pelo governo", confidenciou ao Correio um senador governista.

Trombadas

Na semana que passou, a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann — candidata do PT ao governo do Paraná —, estranhou-se com o PMDB pelo menos três vezes. No café da manhã com ministros petistas e com o presidente da legenda, Rui Falcão, disse que a aliança com o partido de Michel Temer não era programática. Ouviu de Falcão que "o PMDB é essencial para o governo". Quando Renan decidiu não ler a MP do setor elétrico, ligou para cobrar explicações. "Pelo que me consta, quem foi eleito para presidir o Senado fui eu", retrucou Renan. Diante da presidente Dilma, queixou-se de Renan. Ouviu que, sem o peemedebista no comando do Senado, a situação poderia estar bem pior.

"O que muita gente não entende é que não podemos governar sem o PMDB. E, quanto mais se aproximar as eleições do ano que vem, mais o PMDB vai buscar seu espaço na coalizão", reconheceu ao Correio um assessor governista. "O PMDB tem sido fundamental para nós. A MP dos Portos passou 169 dias parada na Câmara e o presidente Henrique Eduardo Alves aprovou depois de 21 horas de votação. E o Renan votou a MP no mesmo dia que ela chegou ao plenário", declarou Cândido Vaccarezza (PT-SP). Para outro petista, contudo, é justamente o fato de o PMDB comandar as duas Casas que desequilibra o processo. "Se tivéssemos um petista na presidência da Câmara ou do Senado, a negociação com o Planalto ficaria mais fácil", disse um parlamentar do PT de São Paulo.

Para o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), o baixo crescimento da economia é reflexo da crise internacional. "Se nosso governo não tivesse tomado as medidas de desoneração, o emprego não estaria garantido como está", completou. Já para o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), a inflação está de volta, o crescimento é ridículo, os juros estão em alta e a produção agrícola não tem como ser escoada. "Além disso, é inacreditável a desarticulação política. Eles (os governistas) têm 420 deputados na base. A oposição só tem 90. E eles não conseguem colocar quórum para votar uma MP", completou Sampaio. (PTL)

Fonte: Correio Braziliense

Legado - Aécio Neves

Uma coincidência do destino levou num curto espaço de tempo dois dos mais expressivos nomes da história da imprensa e da comunicação no Brasil: Roberto Civita, diretor editorial e presidente do conselho de administração do Grupo Abril, e Ruy Mesquita, diretor do jornal "O Estado de S. Paulo".

Não convivi com Ruy Mesquita, mas me lembro, ainda muito jovem, das referências que meu avô, Tancredo Neves, fazia à maneira inteligente e corajosa que o "Estadão" e o "Jornal da Tarde" encontravam para denunciar a censura da ditadura militar.

Eram usados trechos de "Os Lusíadas", de Camões, e receitas de bolo, em substituição aos textos e fotos cortados pelos censores. Dessa forma, os leitores eram informados da violência que era praticada contra a democracia.

Embora pertencendo a gerações diferentes, tive o privilégio da amizade de Roberto Civita, um dos homens mais extraordinários que conheci.

Em nossos encontros, demonstrava uma crença sempre otimista em relação ao Brasil, mesmo diante dos grandes problemas estruturais e das mazelas da conjuntura política.

Registrei outro dia que Roberto Civita viveu e morreu sem perder a capacidade de sonhar com um Brasil investindo na educação de qualidade para que pudéssemos construir um futuro melhor.

Falava com entusiasmo sobre a importância da educação como espinha dorsal de um projeto de nação. De um lado, o esforço por parte do governo, em suas três instâncias, federal, estadual e municipal.

De outro, a responsabilidade das empresas. Defendia uma maior mobilização da sociedade que pudesse promover o grande e necessário salto do nosso sistema educacional. A implantação da nossa moderna indústria cultural está ligada à história da Abril.

Todos sabemos que há momentos na vida de um país em que a coragem pessoal de um homem pode fazer grande diferença. Roberto Civita levou ao extremo o seu compromisso e o seu amor pelo Brasil fazendo um jornalismo destemido, enfrentando interesses poderosos, não se submetendo a nenhum tipo de pressão.

A "Veja" --uma das maiores revistas semanais de informação do mundo, também censurada brutalmente no regime militar-- foi trincheira da luta contra a ditadura e continua fiel ao compromisso de seu fundador: fazer um jornalismo a favor dos brasileiros.

As biografias de Civita e Ruy Mesquita se cruzam em diversos pontos, em particular na resistência ao arbítrio.

Eles são merecedores das justas homenagens prestadas nos dias recentes, às quais aqui me associo.

Felizmente, vivemos hoje numa sociedade consciente da importância de mantermos intactas as conquistas democráticas pelas quais tantos lutaram e, em especial, a plena liberdade de imprensa.

Aécio Neves, senador e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

Experts, domésticas e maias - José Roberto de Toledo

Raras vezes uma mudança legal alcançou apoio tão unânime na opinião pública quanto a emenda que igualou os direitos dos empregados domésticos aos dos demais trabalhadores. Pesquisa inédita do Ibope mostra que 91% dos brasileiros são a favor. Só 3% são contra.. Os demais não souberam ou não quiseram responder.

O apoio é homogêneo. Independe de renda, escolaridade ou região. Em poucos segmentos os que aprovam são menos de 90%. Entre quem! emprega domésticas beneficiadas pela nova legislação a aprovação é menor, mas a maioria ainda é avassaladora: 83% de apoio. Só 10% dos patrões se declaram contrários aos benefícios - como direito a hora extra e adicional noturno.

O apoio declarado é tão amplo, geral e irrestrito que até suscita dúvidas: se praticamente todo mundo é a favor, por que custou tanto para a nova legislação ser aprovada? Será que há uma dose de "politicamente correto" ou mesmo de vergonha a inibir parte dos brasileiros de se declarar contrário à mudança?

Pode ser que haja uma "espiral do silêncio" que oculte parte dos descontentes. Mas uma explicação melhor é que o universo dos que são diretamente prejudicados pela emenda é muito pequeno.

Só metade dos 8% de brasileiros que empregam domésticas estarão obrigados a adaptar-se à nova legislação. São os 4% de empregadores de mensalistas ou de diaristas que trabalham pelo menos três vezes por semana no mesmo domicílio. Os outros 4% têm domésticas no máximo por dois dias por semana e estão fora da nova regra.

Também não é por ignorar a dimensão da chamada PEC das Domésticas que os brasileiros apoiam a mudança: 79% já tinham ouvido falar no assunto quando foram abordados pelo Ibope. Mesmo nas classes D/E dois em cada três declararam estar a par da mudança.

A confirmar que as pessoas sabem do que estão falando, a maioria vê dificuldades para os patrões cumprirem as novas regras: 30% acham que os empregadores estão tendo "muita dificuldade" para seguir a lei, e outros 38% avaliam que eles têm "alguma dificuldade". Curiosamente, a preocupação é maior entre quem não tem empregada (70%) do que entre quem tem (63%).

Ma opinião dos brasileiros, as consequências da nova legislação serão muito menos negativas do que as previsões apocalípticas feitas antes e depois da votação. Os experts acertaram tanto quanto os maias.

A maior parte vê alguma forma de adaptação às regras: 17% acham que os patrões vão, antes de mais nada, controlar mais as horas trabalhadas pelos empregados, 14% dizem que eles vão registrar o empregado em carteira, 10% apostam que vão formalizar por escrito o que era combinado apenas verbalmente, 9% dizem que os patrões vão manter o empregado e pagar os novos direitos.

Apenas 19% da população acha que a nova lei provocará a demissão dos empregados domésticos. Mas se isso ocorrer, deve se limitar a 2 de cada 10 casos - essa é a proporção de patrões que prevê demissões.

Outros 14% dos brasileiros acham que os empregadores vão trocar mensalistas por diaristas (só 11% dos patrões acham isso); 3% apostam em contratação de empresas no lugar das empregadas (a taxa é o dobro entre patrões); e 3% acham que vai haver substituição de mensalista registrada por outra sem registro.

A pesquisa do Ibope confirma o que as estatísticas de emprego já apontavam: a adaptação ao novo marco legal será menos dramática do que os defensores do status quo disseram que seria. Não porque o brasileiro é bonzinho, mas por necessidade.

O mercado de trabalho tem mais demanda por domésticas do que oferta. Nas metrópoles, elas são cada vez mais difíceis de encontrar. Se 2 em cada 10 forem demitidas por causa da nova lei, não terão dificuldade para arrumar outro emprego ou profissão. E isso é um sinal de avanço da sociedade brasileira.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Meio cheio, meio vazio - Valdo Cruz

Um clima de indignação reina na equipe da presidente Dilma. Seus assessores reclamam de um pessimismo generalizado em relação ao Brasil que, segundo eles, está superdimensionado.

Vamos ao rosário desfiado por um assessor da petista. O desemprego segue baixo, a renda, alta, e o crescimento não será uma maravilha, mas melhor do que 2012.

A Petrobras captou US$ 11 bilhões lá fora. Uma seguradora do Banco do Brasil realizou a maior oferta pública inicial de ações deste ano no mundo, cerca de R$ 11 bilhões.

O governo fez um leilão, com sucesso, de áreas de petróleo fora do pré-sal. Fará um do pré-sal em outubro e pode pôr no caixa mais R$ 10 bilhões. Ainda neste ano serão realizados os leilões de concessão dos aeroportos de Confins e Galeão, de rodovias, ferrovias e portos. Bem atrasados, mas devem ser feitos.

Sem dúvida, um cenário, visto deste ponto de vista, de copo meio cheio na economia brasileira.

Vendo por outro prisma, até bem pouco tempo o Brasil era o queridinho do mundo, nada ia nos segurar. O país iria bombar com as obras da Copa do Mundo e da Olimpíada. Havíamos descoberto o pré-sal, nosso passaporte para o futuro.

Construímos um mercado interno forte, carro-chefe do nosso crescimento, que subiu para taxas superiores a 4%. Esse seria, por sinal, o novo piso para o PIB brasileiro.

De repente, o paraíso prometido foi adiado. A inflação subiu e forçou o Banco Central a elevar os juros. O crescimento ficou medíocre, o consumo caiu e os empresários seguraram os investimentos. Nossas contas externas se deterioraram.

Um cenário, diríamos, de copo bem meio vazio, de frustração. Tudo bem, não estamos uma tragédia. Estamos melhores do que muitos países mundo afora. Mas poderíamos estar pelo menos perto do céu.

Enfim, algo saiu errado e não dá para culpar só o cenário externo. É tempo de reflexão. E de ação.

Fonte: Folha de S. Paulo

Sem pressão não há solução - Denise Rothenburg

Reza a cultura parlamentar que, para obter benesses (cargos e emendas) do governo federal, é preciso pressionar. É assim que os congressistas fazem para obter alguma coisa do governo. O mesmo vale para o público. Se você que está aí sentado lendo esta coluna deseja o fim do voto secreto em todas as situações dentro do Congresso Nacional, é bom se levantar da cadeira, procurar abaixo-assinados, ligar para o deputado e o senador que você votou. Enfim, trabalhar por isso. Se não for assim, a proposta ficará por aí, pairando de uma comissão a outra, sem desfecho porque hoje não há a menor intenção do Congresso em fazer valer o voto aberto em todas as situações.

O fato de os congressistas não estarem dispostos a acabar com o voto secreto, em especial no caso dos vetos presidenciais, tem motivos que vão além da vontade de não querer se expor ao troco do governo na hora das indicações a cargos no Executivo. É que, na atual conjuntura, os vetos servem para que muitos preparem uma cama de gato para a presidente Dilma Rousseff, colocando em pauta em uma série de vetos.

Só em 2011, Dilma vetou 37 projetos de lei aprovados pelo Congresso. No ano passado, foram os royalties do petróleo, cujo veto acabou derrubado em março deste ano. Os mais polêmicos são os que se referem ao Código Florestal, à Emenda 29 (que estabelece o aumento anual dos recursos da área de saúde) e, ainda, ao fator previdenciário.

A ideia, ainda discutida apenas nos bastidores entre alguns parlamentares, é incitar uma maioria a apreciar os tais vetos que descansam nos escaninhos da Casa há décadas. A pressão deve começar esta semana. E não precisa muito para deixar os congressistas animados com essa possibilidade de apreciar vetos, uma vez que há um desejo dos parlamentares de ficar bem com a opinião pública e uma das formas é abrir a sacola de bondades.

Nesse desejo de abrir a caixa de doces para o povo, a apreciação do veto ao fator previdenciário ocupa o primeiro lugar na fila, conforme me relataram alguns parlamentares influentes no Congresso. Em entrevistas, o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, tem defendido algumas condições para a extinção do fator previdenciário. A principal delas é a definição da idade mínima para aposentadoria.

O ministro tem dito que só com o fator previdenciário a Previdência consegue uma receita de R$ 11 bilhões, uma vez que as pessoas têm optado por se aposentar em média com 54 anos, e um benefício entre 25% e 30% menor, do que esperar atingir o somatório de idade e tempo de contribuição para ter direito ao valor cheio, o que só aconteceria depois dos 60 anos. E é essa diferença que permitiu no ano passado uma economia de R$ 11 bilhões.

Embora Garibaldi seja do PMDB e primo do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, esse parentesco em princípio parece não ser levado em conta na hora de pressionar o governo. Ao contrário, o fator previdenciário por ser da área teoricamente administrada pelos peemedebistas serve para ressaltar que a insatisfação na base é tanta que nem em sua própria área o PMDB consegue segurar os projetos que não são prioridade para o governo. (Vale lembrar que esse comando partidário é mesmo na teoria porque o próprio Garibaldi já disse que Carlos Eduardo Gabas tinha sido indicado secretário executivo para vigiá-lo).

Por falar em vigiar...

Obviamente, os parlamentares não querem tratar de vetos indigestos para o governo no voto aberto, onde o presidente da República, seja quem for, saberá como cada um se posicionou. O mesmo vale para aqueles interessados em agradar o Poder Executivo. Eles preferem votar secretamente para evitar que a população tenha ciência da vassalagem ao Planalto. Ou seja, o voto secreto interessa hoje a uma maioria de deputados.

A reportagem de Juliana Colares, ontem no Correio Braziliense, nos mostra que muitos mudaram de opinião sobre o voto secreto e cita especialmente os vetos presidenciais. A tendência, conforme revela o texto, é abrir o voto apenas para casos de cassação de mandato. O que não está dito por nenhum deputado de viva-voz é que um dos motivos para não tornar todas as votações abertas é o interesse da base em emparedar o (a) presidente da República, independentemente de estilo ou partido. No caso de Dilma, o voto secreto permitiu a rejeição do nome de Bernardo Figueiredo para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Dilma não gostou. Sem ter como identificar exatamente de onde haviam partido as traições, terminou por expulsar o senador Romero Jucá (PMDB-RR) do cargo de líder do governo.

Fonte: Correio Braziliense

Anedotário - Vinicius Mota

"Ouvi que vai ter neve amanhã", diz a dona de casa. "Não vou entrar na fila por isso", retruca a vizinha. Após levar horas para obter sua ração, um homem parte furioso, dizendo que vai matar o líder Gorbatchov. Volta logo e frustrado: lá a fila estava ainda maior.

Assim era o humor popular sob as ditaduras socialistas do leste europeu. Caviloso, sarcástico e às vezes masoquista. Servia como válvula de escape em regimes que reprimiam a informação e o contraditório. Rebatia, com a tinta da penúria cotidiana, a propaganda oficial laudatória.

A presidente Dilma Rousseff exerce um estilo de governo que por vezes lembra o solipsismo dos secretários-gerais soviéticos. Obsessiva pelo controle da informação, distanciada do mundo sublunar da política congressual e partidária, desconfiada dos assessores e da própria sombra.

Plano C de Lula para a sucessão de 2010 --depois de queimados os cartuchos de Dirceu e Palocci--, Dilma não tem base regional. Não se pode dizer de pronto onde fez carreira política. É típica representante da categoria que o filósofo Friedrich Nietzsche chamou de "nômades do Estado sem lar", ao referir-se aos burocratas das nações modernas.

Rousseff é uma ideia instalada na cadeira presidencial. Na leitura complacente, uma ideia ingênua demais para sobrepujar as cobras criadas da política brasileira, em especial quando o vento da economia bate na proa.

A governante solitária vê-se agora no centro de anedotas desfavoráveis. A obsessão pelo controle resvala no descontrole com as tentativas de pilotar até o avião presidencial. A compra urgente de um fogão para o Palácio da Alvorada enseja gracejos machistas. Virão mais casos reveladores da personalidade difícil, muitos brotando de sua camarilha.

Eis a mudança: nem o círculo próximo à presidente segura mais as críticas a seu modo de conduzir. Elas começam a fluir sob a forma de maledicências e anedotas variadas.

Fonte: Folha de S. Paulo

Salgaram a Santa Ceia - Ricardo Noblat

O que museu tem a ver com educação? - Aloizio Mercadante, em visita a um dos museus da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife

É um exagero sugerir que o governo deflagrou a maratona do Bolsa Família, nos últimos dias 18 e 19, unicamente para atribuir sua autoria à oposição , responsável por ela mediante a difusão de boatos . O risco seria demasiado grande . E se a movimentação inesperada de cerca de um milhão de pessoas em 13 estados tivesse resultado em mortos e feridos? E se , em vez de um milhão , tivessem sido quatro, cinco milhões?

TUDO BEM, como adiantou o ministro Gilberto Carvalho: o bicho vai pegar este ano, véspera da reeleição de Dilma ou de uma improvável derrota dela. Está pegando. Faz-se o diabo para ganhar , disse a própria Dilma. Mas ninguém, em sã consciência, rasga dinheiro. Vence quem erra menos. Ousadia em excesso épara quem está desesperado. Ou aloprou.

EM 2006, candidato à reeleição , Lula bateria fácil Geraldo Alckmin no primeiro turno . Havia sobrevivido ao escândalo do mensalão graças ao erro de cálculo da oposição que, ao impeachment, preferiu esperar que ele sangrasse sozinho até a última gota. Mas, aí, funcionários da campanha de Lula alopraram encomendando um falso dossiê contra Alckmin e José Serra.

FOI UM LANCE com direito a mala abarrotada de dinheiro, batida da Polícia Federal em hotel no meio da noite e prisão do coordenador da campanha de Aloizio Mercadante, candidato ao governo de São Paulo e adversário de Serra. Para não responder sobre os aloprados, Lula fugiu ao último debate dos candidatos a presidente promovido pela TV Globo. Sua vitória acabou adiada.

O CASO DOS aloprados ficou por isso mesmo. Ao do Bolsa Família parece reservado o mesmo destino. Tudo indica que não estamos diante de um crime ardilosamente concebido. O mais provável é que tenha havido na Caixa um absurdo erro administrativo . E que, em seguida, se tenha tentado aproveitá-lo para desgastar a oposição. Nada de surpreendente .

O PRESIDENTE DA Caixa afirmou que só soube de parte do que acontecera na segunda-feira, 20. Lorota : soube na tarde do sábado, 18, que a Caixa adiantara, na véspera, o pagamento do benefício de maio de quase 700 mil pessoas. Por fim, disse que precisou de cinco dias para se inteirar dos detalhes do desastre. Lorota : bastou o fim de semana, dispensado até um pulo ao prédio da Caixa para uma reunião de emergência.

DE QUANTOS dias precisaria a oposição para armar uma operação de telemarketing capaz de atingir um milhão de pessoas distribuídas por 13 estados? Vazou da Caixa o cadastro com os números de telefones de uma fatia dos clientes do Bolsa? Ou a empresa de telemarketing disparou telefonemas aleatórios, tendo a sorte de alcançar quem, mais tarde, disseminaria boca a boca o boato do fim do programa? HÁ

PONTOS OBSCUROS de sobra a respeito do episódio. Um jornal paulista cobrou do governo respostas para todos eles. Ouviu de volta : os esclarecimentos já foram dados, ora. Evidente que não foram. Se a imprensa não existisse, os governos seriam mais felizes. Em compensação, o distinto público seria mais enganado do que costuma ser — dia sim, outro não. Ou dia sim e outro também.

A DONA DO GATILHO mais rápido do cerrado, a justiceira implacável que nada perdoa e cultiva o medo nos seus domínios, autorizou a publicação de uma nota em defesa da direção da Caixa. Se assim não procedesse, reconheceria que seu governo erra — e como erra! O passo seguinte seria se livrar de auxiliares tão descuidados. Um deles pediu desculpas aos brasileiros. Dilma é quem deveria ter pedido

Fonte: O Globo

Aécio na linha direta de FHC - Renato Janine Ribeiro

Não surpreende que Aécio Neves seja o candidato à Presidência da República ungido por Fernando Henrique Cardoso. É que seu programa no horário político do PSDB, iniciando de fato a propaganda eleitoral, traduz em linguagem televisiva e popular um artigo seminal do ex-presidente, que causou impacto dois anos atrás, mas confinado na época a um debate quase acadêmico. Refiro-me a "O papel da oposição", que saiu no número 13 da revista "Interesse Nacional", criada pelo embaixador Rubens Barbosa, um dos melhores cérebros próximos a FHC. O artigo pode ser lido no site da revista e em outros endereços na internet.

O que dizia o artigo? Se resumirmos não só o que Fernando Henrique disse com todas as letras, mas também as implicações menos visíveis mas inegáveis, seria o seguinte. O PSDB não tem como rivalizar com o PT junto aos mais pobres. As propostas tucanas são para a classe média. Mas esta última cresce. Os petistas não terão muito o que lhe dizer. O PSDB terá. E deve em especial lutar no âmbito de uma nova forma de relações sociais, que são as virtuais, as proporcionadas pela comunicação via internet. Falou assim primeiro o cientista político, ao mostrar os limites dos discursos tanto petista quanto tucano, e depois o sociólogo, ao pensar em novas relações sociais - o sociólogo que, quando foi presidente da República, se entusiasmava em dizer que estamos à beira de uma nova Renascença, o presidente que tinha por amigo Manuel Castells, um dos grandes teorizadores das possibilidades que nos abre a rede mundial de computadores. Para tanto, aliás, FHC criou a rede Observador Político, iniciativa que pretendia ser não-partidária e abrir um canal de discussão mais rico sobre a política.

Vamos reconhecer que a segunda parte do que disse FHC continua no plano das intenções, mas isso não é falha sua. Nossa sociedade, dominada pelo narcisismo, tem dificuldade em dialogar com o outro, em especial se for mesmo diferente de nós. As oportunidades que abre a Internet são destroçadas pela multiplicação de Narcisos. Mas isto fica para outro dia. O fato é que a primeira grande tese de FHC foi muito bem compreendida por Aécio Neves e está na raiz do que ele disse na TV.

Quando o senador mineiro diz que devemos ir além do Bolsa Família, está implicitamente reconhecendo o êxito e até a autoria petista da grande expansão dos programas sociais. Sim, ele recorda que foram tucanos os que os começaram. Mas isso é "pro forma". O fato é que os governos Lula e Dilma são os grandes responsáveis pela transformação de nossa pirâmide social em losango - o processo pelo qual as classes mais pobres deixaram de ser as mais numerosas, papel que hoje é da chamada classe C; entre 2005 e 2010, cerca de 50 milhões passaram das classes D e E para a nova classe média. Então, por que brigar com a realidade? Por que atacar isso, quando o segredo que desvenda FHC é que esse processo pode ter como beneficiário, justamente, o PSDB?

Em outras palavras, se o sonho de Dilma Rousseff é fazer do Brasil "um país de classe média", e se quem sabe falar à classe média e dar-lhe o que ela quer é o PSDB, então o interesse maior dos tucanos é que a presidenta e seu partido tenham pleno êxito em seu projeto. E o problema do PT, que os tucanos terão enorme prazer em apontar, seria tratar-se de um partido bom para vencer as grandes mazelas sociais, mas incapaz de dar um passo adiante - um partido bom para a emergência social em que vivemos estes séculos, com níveis de miséria e discriminação absolutamente indignos, mas incapaz de garantir, depois disso, um crescimento econômico e um desenvolvimento social sustentáveis. (E com esta ideia de sustentabilidade o PSDB pode também fazer acenos aos que apoiaram ou apoiam Marina Silva, cuja palavra de ordem foi deixando de ser "o verde", ou o meio ambiente, para se tornar a sustentabilidade em geral).

O PT seria capaz de medidas emergenciais. O Bolsa-Família pode ser o melhor programa de inclusão social do mundo, mas ninguém vai - ou deve - prosperar graças à assistência. É preciso criar empregos e empreendedorismo. A desigualdade étnica no País é escandalosa e as ações afirmativas são importantes para reduzi-las. Mas, em ambos os casos, trata-se de medidas pontuais, que têm de ser provisórias, pois apenas serão eficazes se tiverem data de conclusão próxima de nós no tempo. Assim, esperam FHC - e, agora, Aécio - construir, com políticas liberais, uma alternativa mais bem sucedida ao PT na conquista deste público, a classe média baixa.

Pela primeira vez desde 2002, o PSDB pode ir à campanha propondo, de fato, o que Serra formulou em palavras - mas que não convenceram o eleitorado - em 2010: continuidade em relação aos êxitos petistas. Ele passa a ter claro interesse em que o petismo realize o sonho de Dilma. Exagerando, ele pode até ser educadíssimo com o PT... Comparando, estamos numa situação análoga, ainda que com sinais invertidos, à de 2002. Lula tinha interesse em que o Brasil, que ia receber de FHC, estivesse bem. E a "herança maldita" estava longe de ser tão má, porque passar o cargo a um presidente eleito de esquerda era algo inédito em nosso país.

Parece que o país quer continuidade com mudanças, ou mudanças com continuidade. Quem nos convencer que fará isso ganha. Pessoalmente, não acredito que 2014 seja já a vez de Aécio; mas sua estratégia é boa, e o é porque deve muito a este artigo de FHC, que merece ser lido por quem ainda não o conhece. E fica o alerta para o PT. O desafio aumenta. Não vai ser fácil guardar a hegemonia política no país.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

Geddel coloca em xeque apoio a Dilma

Cristiane Agostine

SÃO PAULO - Vice-presidente da Caixa Econômica Federal e presidente do diretório do PMDB da Bahia, Geddel Vieira Lima colocou em xeque a manutenção da aliança de seu partido com o PT da presidente Dilma Rousseff em 2014. Segundo Geddel, não há "convicção" dentro do PMDB sobre o apoio à reeleição da presidente. O pemedebista disse que os diretórios da legenda nos Estados sentem-se alijados da articulação nacional com os petistas e afirmou que Dilma deve enfrentar dificuldades nos palanques regionais.

Na Bahia, Geddel negocia sua pré-candidatura ao governo estadual com o PSDB, DEM e MD. O pemedebista deve ser o principal opositor ao candidato lançado pelo governador Jaques Wagner (PT).

Além da Bahia, o apoio ao PT é contestado pelos diretórios pemedebistas do Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Pernambuco.

"Não dá para subestimar os conflitos entre o PT e o PMDB nos Estados", disse Geddel ao Valor. "O quadro está confuso em função das disputas regionais", afirmou o dirigente. Os reflexos dessa crise poderão ser sentidos na convenção nacional do PMDB no próximo ano, quando o partido decidirá sobre a aliança com Dilma. Os Estados resistentes ao apoio são os que mais têm delegados com direito a voto na convenção.

Pemedebista próximo ao vice-presidente da República, Michel Temer, Geddel afirmou que o quadro dentro do PMDB está "muito confuso". "Você não tem sequer a convicção, hoje, de que a aliança [com Dilma] seria renovada", disse, em entrevista concedida na semana passada à "Rádio Tudo FM", da Bahia.

Ao mesmo tempo em que destacou a dificuldade enfrentada entre PT e PMDB, o dirigente pemedebista elogiou os pré-candidatos presidenciais da oposição. Geddel classificou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), como "dois quadros de uma nova geração política, extremamente bem sucedidos, tanto no campo político quanto no administrativo". Sobre a ex-senadora Marina Silva disse que é uma "grande mulher".

Na entrevista à rádio, o dirigente afirmou que o PT poderá enfrentar nas próximas eleições o risco da "fadiga do material", já que o partido completará 12 anos na Presidência da República. Com isso, disse, poderá ser reforçado na população o sentimento de "mudança".

Geddel apontou outro problema: a economia. "Se as pessoas começam a sentir que o emprego já não está tão farto, que o crédito já não é tão grande, que tinha um poder aquisitivo e a renda diminuiu com a inflação, é claro que vai ter efeito eleitoral", disse, à rádio.

Ex-ministro da Integração Nacional entre 2007 e 2010, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e integrante da gestão Dilma, o pemedebista disse não se sentir constrangido em articular sua candidatura ao Estado com apoio de opositores ao governo federal. "Não há nenhum constrangimento. Nenhum", reforçou. O pemedebista tenta construir uma "unidade clara da oposição" já no primeiro turno e espera obter em breve o apoio do DEM do prefeito de Salvador, ACM Neto.

Fonte: Valor Econômico

Inflação reduz ou elimina ganho real no salário

Juliana Elias, Rodrigo Pedroso e Denise Neumann

SÃO PAULO Assembleia dos metroviários de São Paulo na semana passada decidiu adiar para esta semana uma eventual greve

A inflação mais alta e atividade econômica ainda fraca têm dificultado as negociações salariais de diversas categorias neste começo de ano. As consequências aparecem no menor ganho real, mas também no atraso das negociações entre sindicatos e empresas, que, em muitos casos, estão levando de um a dois meses. No período março a maio, um terço dos acordos salariais coletivos registrados no Ministério do Trabalho não pagou aumento real, uma mudança em relação aos anos anteriores, quando mais de 90% das negociações era concluída com reajustes acima da inflação.

Em parte das categorias que já concluíram as negociações para os salários de 2013, os reajustes deste ano foram maiores que os do ano passado, mas a diferença serviu basicamente para cobrir a inflação - em abril do ano passado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), índice de preços do IBGE usado como base na maioria dos contratos, acumulava variação de 4,88% em 12 meses; em abril deste ano, já estava em 7,16%.

Como consequência, no trimestre março-maio, um terço de 60 convenções coletivas de trabalho protocoladas no Ministério do Trabalho não garantiu aos trabalhadores aumento real ou ele foi inferior a 0,1%. O levantamento considerou categorias cuja data-base fica entre março e maio e descontou a inflação pelo INPC, mais usado nas negociações salariais. Neste período, a maior parte das categorias com acordos registrados pertence ao setor de serviços (incluindo transporte e construção), mas um terço é de trabalhadores na indústria, ainda que a maioria seja de pequenos sindicatos.

Entre os 60 acordos, a maioria dos dois terços que conseguiram aumento real acertaram um percentual acima da inflação inferior a 1% (reajustes com 0,2% acima da inflação já foram considerados como ganho real) e uma parcela menor (15) garantiu reajuste real acima de 1%. Outra novidade dos acordos desse período foi a volta dos reajustes escalonados. Entre os 60 acordos, oito pagaram reajustes maiores para os menores salários e menores para os mais altos.

Entre as categorias sem aumento real este ano estão calçadistas de Sobral e vestuário em Juazeiro, ambas no Ceará, metalúrgicos de pequenas e médias empresas de Campo Grande, no Mato Grosso, calçadistas do interior de Pernambuco, asseio e conservação no Amazonas, químicos do interior de Minas Gerais, entre outras. Os reajustes menores já refletem no rendimento médio. De acordo com o IBGE, em abril deste ano ele era 1,6% maior que em igual período do ano passado, quando foi 6,2% superior ao de um ano antes.

"Percebemos que as negociações estão demorando mais para sair neste ano, reflexo da inflação alta, que puxa os ajustes para cima, e também de uma atividade mais baixa", disse Ana Maria Castelo, coordenadora de pesquisas na área de construção da Fundação Getulio Vargas (FGV), e que acompanha as negociações dos sindicatos do setor em sete capitais. No Rio de Janeiro, por exemplo, o aumento para os trabalhadores da construção, que foi de 9% no ano passado, passou para 9,5% neste ano, e, em São Paulo, foi de 7,47% para 8,99%. Em Salvador, houve atraso de três meses, e o aumento de 9% só saiu em março e praticamente repetiu os 8,93% do ano passado. Em todas estas cidades, no entanto, o ganho real foi menor que em 2012.

"Este ano foi muito mais difícil. Os patrões disseram que a economia cresceu pouco, e que as vendas do setor desaceleraram", disse Antonio Ramalho de Souza, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil em São Paulo (Sintracon-SP), A primeira proposta do sindicato patronal foi de um reajuste de 5%, abaixo da inflação. "Fizemos uma advertência de greve no fim daquele mês e marcamos uma paralisação geral para 13 de maio. No dia 10 fechamos o reajuste", relata.

O mesmo aconteceu com os trabalhadores da indústria de artefatos de borracha de Americana, em São Paulo: o aumento, com data-base em junho, foi de 6,17% no ano passado, e neste ano será de 9,1%. Nos dois casos, o aumento sem a inflação foi de 2%. "As negociações foram mais difíceis neste ano", contou Edinelson Azevedo de Souza, vice-presidente do Sindicato da Borracha de Americana e Região (Sindborr), que representa os 2.500 funcionários da Goodyear.

Em São Paulo, a ausência de um acordo com o Metrô e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) pode levar os trabalhadores das duas empresas à greve. Além de uma recomposição de 7,3% da inflação até abril, o sindicato que representa os 9 mil funcionários do Metrô paulista pede um ganho real de 14,15%, com base no aumento de produtividade dos últimos três anos. Na outra negociação, a CPTM oferece - e já negociou com dois sindicatos - um reajuste de 6,97%, o que, segundo a empresa, garante aumento real de 1% pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

No caso do setor de energia, a perda de receita das companhias com a redução das tarifas de energia elétrica, em janeiro, tem tornado o pleito sindical mais difícil. "A inflação não é a nossa preocupação. Discutir recomposição da inflação é coisa do passado, isso tem que ser automático. A nossa preocupação é o ganho real", diz Carlos Reis, presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo (Stieesp), que representa 8 mil trabalhadores no Estado, entre eles os da Eletropaulo, Cteep, Furnas e Elektro. "O faturamento dessas empresas caiu na faixa dos 30%. Elas estão mais resistentes, dizem que estão apertadas", explica Reis.

O Stieesp pede um ganho real de 4%, além da recomposição dos 6,68% da inflação em 12 meses até abril, segundo o ICV, do Dieese. As negociações são feitas por empresa, e ainda estão em andamento.

A previsão do Sindicato dos Eletricitários de Campinas é que o reajuste aos trabalhadores de todo o setor elétrico paulista neste ano fique abaixo dos 7,7% registrados no ano passado, apesar da inflação mais alta este ano. Segundo Gentil Teixeira de Freitas, presidente do sindicato, o cenário para a negociação salarial "está mais duro". "Resolvemos unir todas as categorias do setor. Além de a economia ter crescido pouco ano passado, as geradoras vão querer usar a diminuição na tarifa da energia elétrica para baixar o reajuste. As distribuidoras devem ir pelo mesmo caminho, mas dizendo que o resultado foi afetado pelo acionamento das térmicas, mais caras", afirma.

Quem destoou da maioria foram os motoristas de ônibus da cidade de São Paulo. O acordo foi considerado "mais fácil de ser obtido do que ano passado" por Nailton Francisco de Souza, diretor do sindicato da categoria. O acordo permitiu aumento real de 3,53%, acima do 1,5% obtido em 2012.

Para Souza, a entrada da Prefeitura nas negociações ajudou no acordo. "Como também haverá o reajuste nos preços das passagens, a prefeitura mostrou, em um estudo técnico, a viabilidade do aumento pedido pela categoria. Apesar de a negociação ser direta e não envolver o poder público, neste ano houve interferência para evitar uma paralisação", afirma.

Valor Econômico

Memória - MDB, em 1974: no plano político, nossa principal preocupação deve ser a “questão democrática”. No plano social, as reivindicações pela igualdade

Em 1974, a seção gaúcha do Instituto de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais do M.D.B. publicou um texto de orientação para as eleições indiretas desse ano. Em protesto contra o controle do pleito pelo governo, Ulisses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho se lançaram candidatos à Presidência da República. Eles se proclamaram “anticandidatos” e desenvolveram uma movimentação política que teve ressonância de grande valor para resistência ao regime de 1964.

Reproduzimos duas passagens desse texto emedebista:

O Movimento Democrático Brasileiro (M.D.B.) nasceu numa conjuntura difícil da vida política brasileira, quando correntes autoritárias que se apoderam do poder em 1964 impuseram o Ato Institucional n. 11. Refratárias à tradição pluralista e democrática que se desenvolvia após 1945, as correntes autocráticas e centralizadoras tentaram banir da cena política brasileira as divergências democráticas salutares que tomavam corpo no seio dos vários partidos. Elas desfecharam seu golpe decisivo ao criar, por decreto do poder executivo, um sistema artificial de dois partidos.

Ao contrário do seu desejo, os autoritários lançaram as bases de uma oposição real, tornando obrigatória a tomada de posição entre os que aderem ao regime e aqueles que permanecem independentes. Ao tempo que criou a ARENA e tornou possível a criação do M.D.B., o Ato Institucional também ocasionou uma ruptura importante na vida política legal. Aqueles que não quiseram se dobrar à facilidade de um quase-partido-único, foram empurrados para o partido da oposição.

Progressivamente as antigas divergências entre os homens políticos que vieram de vários partidos, cujas querelas na maioria das vezes eram circunstanciais e eleitorais, deram lugar a um estado de espírito mais homogêneo, tendo como denominador comum a defesa das liberdades e da forma democrática da vida nacional.

Este estado de espírito tem sido suficientemente forte para manter a coesão do M. D. B., não obstante as lutas internas no que se refere à escolha das táticas (o que é normal em qualquer partido democrático). Coesão contra o endurecimento do regime discricionário no Brasil e contra o arbítrio do governo e da polícia.

Não é necessário relembrar esta luta, presente na memória popular: para a defesa dos direitos do homem conta o Ato Institucional n. V; contra o centralismo antidemocrático; contra o decreto 477 que paralisou a vida universitária; contra a transformação do Estado em um estado policial; numa palavra, pela democracia. Esta luta levou o M. D. B. a proclamar uma “anticandidatura” à Presidência da República em sinal de protesto.
(...)

Diante desta conjuntura, o M.D. B. precisa dar um salto adiante. Nossa tarefa básica, no plano organizacional deve ser a de transformar o estado de espírito de oposição em um partido organizado em escala nacional. No plano político, nossa preocupação central deve ser a “questão democrática” e no plano social, as reivindicações pela igualdade que os tecnocratas relegam sempre a um futuro sem que dele o povo participe, etc...


Fonte: “Le M.D.B. face a la conjuncture politique eleitorale (les lignes du programme)”, texto divulgado pelo Instituto de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais, seção do M. D. B. do Rio Grande do Sul, in Etudes Brasiliennes (revista pecebista editada em Paris) n. 1, janeiro de 1975.

Entrevista Manuel Castells - Não basta um manifesto nas redes sociais para mobilizar as pessoas

Sociólogo diz que alcance real dos protestos depende das condições de quem os lê

Roberto Dias

O franquismo dominava a cena espanhola quando um estudante de 18 anos decidiu entrar nos cinemas de Barcelona para alterar seu enredo.

Escolheu salas na periferia, aproveitou a escuridão para deixar folhetos de protesto nas cadeiras e terminou a noite com uma sensação: "As palavras que eu havia transmitido poderiam mudar algumas mentes que acabariam por mudar o mundo".

O objetivo principal não foi alcançado, e a ditadura espanhola perdurou até os anos 1970. Décadas mais tarde, ao descrever seu ato, Manuel Castells concluiu que ignorava coisas importantes da comunicação. "Não sabia que a mensagem só é eficaz se o destinatário estiver disposto a recebê-la e se for possível identificar o mensageiro e ele for de confiança", escreveu.

O jovem revolucionário acabou exilado em Paris, onde deu início a uma trajetória que fez dele um dos mais destacados sociólogos do mundo. Famoso por estudar sobre poder das redes e o impacto social da informação, Castells diz, em entrevista por e-mail, que o Facebook sozinho não é capaz de mudar a história.

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Folha - Os jovens espanhóis que saíram várias vezes às ruas e acamparam em lugares como a praça Catalunya [na região central de Barcelona] continuam sem emprego, e a coisa piorou desde então. O movimento fracassou?

Manuel Castells - É a única esperança que sobra em um país com 27% de desemprego, 53% de desemprego juvenil e com apenas 26% dos cidadãos neste momento apoiando um dos dois grandes partidos. Hoje, 70% da população concorda com o movimento, porém não existe, por ora, uma expressão política institucional dessa crítica frontal a todo o sistema. Mas a mudança já aconteceu na cabeça das pessoas. E isso é o essencial na mudança social.

O sr. diz que esses novos movimentos, nascidos na internet, estão recriando a democracia. Mas no Brasil não é incomum que protestos organizados por dezenas de milhares no Facebook não cheguem a reunir centenas de pessoas na rua. Esses movimentos têm mesmo toda essa capacidade?

Isso depende das condições de cada país. Na Espanha, chegaram a ser centenas de milhares. Nos Estados Unidos, aconteceram ocupações urbanas em mil cidades. Na Itália, saiu daí o movimento Cinco Estrelas, o partido mais votado [nas eleições parlamentares deste ano]. No Chile, os estudantes mudaram o panorama político do país. Mas é claro que não basta um manifesto no Facebook para mobilizar milhares de pessoas. Isso depende do nível de descontentamento popular e da capacidade de mobilização de imagens e palavras. A internet é uma condição necessária mas não suficiente para que existam movimentos sociais.

Se o que aconteceu na Itália com Beppe Grillo [líder do Cinco Estrelas] pode ser considerado um desses movimentos, pergunto: para que ele serviu então? [Embora fosse o partido mais votado, recusou-se a negociar e acabou ficando fora do novo governo.]

O Cinco Estrelas se situa entre o movimento e a política, mas surge de um clamor, que existe na sociedade italiana, por uma verdadeira democracia. O que aconteceu é que seu êxito bloqueou um sistema corrupto a serviço de uma classe política que na Itália se chama "A Casta".
E o Partido Democrático, em vez de desmentir as suspeitas e mudar suas práticas, faz um governo de aliança com [Silvio] Berlusconi, depois de fazer uma campanha para acabar com ele.
É provável que o Partido Democrático se fracione e que aconteça uma recomposição do sistema político. O Cinco Estrelas não é um partido do governo, mas é uma força que faz o sistema se regenerar.

Como o sr. vê a evolução da crise de representação dos Parlamentos, e que papel a imprensa tem nisso?

Todos os dados mundiais, exceto os da Escandinávia, mostram o desprestígio total dos políticos, partidos e parlamentos. Se os cidadãos pudessem, mandariam todos embora, mas o sistema bloqueou as saídas.
A imprensa costuma estar mediada pelos empresários e por suas alianças políticas. Felizmente, a liberdade de comunicação tem dois aliados fundamentais: o profissionalismo dos jornalistas e a rede.

Marina Silva propõe a criação de um novo partido político, que tem o nome simbólico de Rede. É possível para um político que esteve nos partidos tradicionais reinventar-se nesses novos movimentos?

Em geral, eu diria que não. Mas, conhecendo Marina Silva, se alguém tem a possibilidade de fazer isso, seria ela. Terá, entretanto, de enfrentar todo o sistema, porque um ponto sob o qual todos os partidos estão de acordo é manter o monopólio conjunto do poder.

Os chineses aprenderam a controlar a rede? Seu firewall [muro de censura na rede] já é reconhecido como um exemplo de sucesso tecnológico, como disse a revista "The Economist".

Não. Como dizem meus amigos hackers chineses, a Grande Barreira é um tigre de papel. O controle se faz com robôs que utilizam palavras-chave, como Tiananmen [o nome local para a Praça da Paz Celestial], basta não usar essas palavras.
Mesmo que tenham introduzido novas medidas tecnológicas, não há como controlar os milhões de blogs individuais, que são onde se gera o debate social ""não na página da "Economist" na web.

O que será do Facebook em cinco anos? Se o Facebook quer ser o "melhor jornal personalizado do mundo", como disse Mark Zuckerberg, como ficará sua relação com os meios tradicionais?

Nunca faço previsões. Mas o Facebook tem sucesso porque é personalizado. Qualquer tentativa de utilizar as pessoas em vez de ser utilizado por elas levará a uma competição com centenas de outros, como aquela em que o Facebook liquidou o MySpace. Quem não tem boa perspectiva são os meios de comunicação tradicionais, a menos que se reconvertam no modelo de "jornalismo em rede" que tenho analisado recentemente.

Aos poucos se está mudando o consumo de informação na rede para um modelo em que nem tudo o que está nela é gratuito. Como vê o futuro do jornalismo nesse sentido?

É um grave erro cobrar por informação na rede, a menos que a informação seja profissionalmente relevante, como no caso do [jornal americano de economia] "Wall Street Journal". Com as alternativas que existem na rede, o que acontece é que simplesmente se desvia o fluxo de leitores para outros canais informativos e de debate.

Há 14 anos, o sr. esteve no programa "Roda Viva", da TV Cultura, e disse que São Paulo tinha uma terrível gestão urbana, comparando-a à de Barcelona. Por que as metrópoles brasileiras não conseguem dar o passo que deu Barcelona, mesmo numa transformação tão grande como a de agora para o Mundial?

Barcelona tem muito mais problemas atualmente, mas, ainda assim, é uma das melhores cidades do mundo, e a qualidade da administração municipal é um fator importante para esse resultado.
As metrópoles brasileiras têm muito mais dificuldades objetivas, por seus níveis de pobreza, de violência e da força dos interesses especulativos no solo urbano e nas infraestruturas de transporte e de serviços.
Se houvesse um pacto entre partidos e instituições para deixar de lado diferenças partidárias e fazer um projeto de gestão urbana, estou seguro de que seria tecnicamente possível. Hoje, existem recursos e capacidade profissional no Brasil para melhorar a gestão urbana. É preciso vontade política e sentido de serviço ao cidadão.

Fonte: Folha de S. Paulo