sábado, 25 de maio de 2013

OPINIÃO DO DIA – Antonio Gramsci: ação política e partido.

Será necessária a ação política (no sentido estrito) para que se possa falar de “partido político”? Observe-se que no mundo moderno, em muitos países, os partidos orgânicos e fundamentais se dividiram, por necessidade de luta ou por qualquer outra razão, em frações que assumiram o nome de “partido” e, inclusive, de partido independente. Por isso, muitas vezes o Estado Maior intelectual do partido orgânico não pertence a nenhuma das frações, mas opera como se fosse uma força dirigente superior aos partidos e as vezes reconhecida como tal pelo público.

Portanto, apresentam-se duas formas de “partido” que, como tal, ao que parece, fazem abstração da ação política imediata: o partido constituído por uma elite de homens de cultura que têm a função de dirigir do ponto de vista da cultura, da ideologia geral, um grande movimento de partidos afins (na realidade, frações de um mesmo partido orgânico); e, no período mais recente, o partido de não-elite mas de massas, que como massas não tem outra função política que a de uma fidelidade genérica, de tipo militar, a um centro político visível ou invisível (frequentemente o centro visível é o mecanismo de comando de forças que não desejam mostrar-se a plena luz, mas apenas operar indiretamente por interposta pessoa e por ”interposta ideologia”). A massa é simplesmente de ”manobra“ e é “conquistada” com pregações morais, estímulos sentimentais, mitos messiânicos de expectativa de idades fabulosas, nas quais todas as contradições e misérias do presente serão automaticamente resolvidas e sanadas.

Cf. Antonio Gramsci, “Elementos de política”, in ‘Maquiavel, a política e o Estado moderno, p.22. Civilização Brasileira,3ª edição, Rio de Janeiro, 1978.

Manchetes de alguns dos principais jornais em circulação

O GLOBO
Via telemarketing: Empresa do Rio espalhou boato sobre Bolsa Família
Nhenhenhém: Dilma, forno e fogão
Presidente Renan
Indicado ao STF critica ‘judicialização’
Juiz é condenado no DF

FOLHA DE S. PAULO
Dinheiro do caso Maluf é devolvido a SP após 15 anos
Caixa alterou Bolsa Família no dia anterior aos boatos
SP tem queda de homicídios, mas estupro e roubo crescem
Santos aceita ofertas de Barcelona e Real Madrid por Neymar
Volta às aulas
Briga de vizinhos por barulho acaba em três mortes
Só violação clara justifica intervenção do STF, diz indicado

O ESTADO DE S. PAULO
'Toma decisão política quem tem voto', diz Barroso
Bancos públicos já têm quase metade do mercado de crédito
A volta do atraso
Atos pró e contra a PEC 37

ESTADO DE MINAS
Anistia indeniza ex -guerrilheiro
Bolsa-Família: Telemarketing teria espalhado boato
EUA acusam mineiro de tráfico de mulheres
Epidemia de dengue: Minas tem mais de 125 mil casos e 70 mortes este ano

CORREIO BRAZILIENSE
Ministro do STF defende o fim do voto secreto
CEF já financia imóveis acima de R$ 500 mil
Juiz pego em contradição

ZERO HORA (RS)
Rede social é adversária da Balada Segura
Ela desafiou Obama
Leite adulterado: Um vereador no centro da fraude

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Estado inteiro terá cobertura do Samu
Tratamento igual para domésticas
Protesto: Carga tributária foi alvo de manifestação, no Recife, no Dia Livre do Imposto
Siderúrgica de Suape vai ser retomada

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais em circulação

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Possível candidatura de Campos gera crise no PSB

Preocupados com as ausências do PT e do PMDB nas alianças regionais, governadores do PSB disseram a Campos que seus palanques estão sendo esvaziados

Em ação orquestrada pelo PT, governadores aliados e "amigos" do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, entregaram um recado do Planalto ao presidenciável: há uma crise instalada nos palanques estaduais do PSB e que, além de se lançar de forma precipitada como candidato a presidente da República, Campos não deve contar com o apoio de siglas como PTB, PDT e PPS (este último presente como "tradicional aliado" na convenção do PSDB que formalizou o senador Aécio Neves na presidência do partido).

Preocupados com as possíveis ausências do PT e do PMDB nas alianças regionais, os governadores do Amapá, Camilo Capiberibe, e do Espírito Santo, Renato Casagrande, ambos do PSB, disseram a Campos que seus palanques estão sendo esvaziados e que uma candidatura própria ao Planalto em 2014 seria "uma aventura". Com a expectativa frustrada dos palanques estaduais de Campos, cresce entre petistas a esperança de que o governador de Pernambuco desista da candidatura, como prevê o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O argumento apresentado aos governadores é que seria arriscado para o PSB lançar candidatura própria em 2014 e disputar uma eleição simplesmente para marcar posição agora, como já vinha sendo encampado pelo governador Cid Gomes (CE). "É óbvio que se o PSB tem candidatura própria, isso vai dificultar a formação de alianças nos Estados. É consequência natural. Como o PT vai apoiar um candidato a governador que vota em outro candidato a presidente?", ponderou o governador, que defende a preservação da aliança que elegeu cinco dos seis governadores do partido (com exceção da Paraíba) e a ampliação da bancada do PSB no Senado.

Cid fala abertamente que a candidatura de Campos sacrifica a manutenção dos governos do PSB nos Estados, enquanto outros governadores, como Wilson Martins (PI), trabalham nos bastidores para demover Campos de seu projeto nacional. "Ele tem sido mais cuidadoso para evitar estragos na relação com Eduardo Campos", explicou um aliado de Martins. "O Wilson não quer saber do Eduardo Campos", comemorou um petista.

Embora Campos não tenha dado sinais de desistência, os petistas avaliam que as "conversas" com os "amigos" de Campos surtiram efeito e o clima de campanha do líder do PSB diminuiu. "Nos últimos 30 dias a temperatura abaixou, o que permite a reaglutinação do PSB na base", avaliou um líder do governo.

A estratégia do PT para atrair o PSB passa não apenas pelo palanque dos Estados, mas também pela relação com o Palácio do Planalto. "As duas variáveis que influenciam no apoio à presidente Dilma são as alianças locais do PSB com o PT e uma relação positiva com o governo federal", afirmou o deputado Paulo Teixeira (SP), secretário-geral do PT. "O primeiro cálculo é de natureza político-eleitoral e o segundo, de natureza administrativa", disse.

Intimidações

Entusiasta da candidatura de Campos, o líder do partido na Câmara dos Deputados, Beto Albuquerque (RS), reclama que o Planalto tem agido em outra frente: constrangendo governadores e prefeitos que se declaram a favor de Campos. "As coisas começaram a ficar difíceis para quem disser que está com Eduardo", disse. Segundo ele, a dificuldade de acesso a recursos e programas federais estaria obrigando os governadores a declararem apoio público à reeleição de Dilma.

Albuquerque afirmou que as "intimidações" partem de pessoas próximas da presidente Dilma. "Isso tem o dedo de setores que querem constranger o PSB. E isso não pode continuar. Isso é inaceitável", afirmou o deputado. O líder do governo no Senado, Wellington Dias (PI), saiu em defesa do Palácio do Planalto: "Isso não é verdade. Tudo o que foi prometido foi mantido".

Fonte: O Tempo (MG)

Campos se diz 'sereno' e quer deixar eleição só para 2014

Governador diz que não comenta declarações

Fábio Guibu

RECIFE - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), disse ontem que está "inteiramente tranquilo" e "sereno" em relação à movimentação política em torno da sucessão presidencial.

Campos afirmou que sabe qual é a tarefa a cumprir e que vai "dar conta" dela, resolvendo "as questões de 2014 em 2014": "Estou inteiramente tranquilo, sereno, sabemos a nossa tarefa e vamos dar conta da nossa tarefa", disse.

"Vamos continuar a ajudar o Brasil a ganhar 2013 porque acho que essa é a tarefa que interessa ao povo brasileiro."

Cotado para disputar a Presidência, o governador se negou a dizer quem no PT e no governo federal estaria tentando inviabilizar a sua provável candidatura ao Planalto, como revelou a Folha ontem. Campos disse a deputados estaduais que está havendo um "esforço incomum" do PT e do Planalto para evitar sua candidatura em 2014.

Campos também não quis comentar a entrevista do líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), que disse anteontem ver "o dedo do governo e de gente do PT" nas resistências internas no partido à candidatura própria.

"Não vou ficar todo dia comentando os pronunciamentos dos meus companheiros."

"O Beto é um líder que tem a confiança do partido, e ele coloca opiniões que muitas vezes são dele, outras vezes da própria bancada, outras do partido. Mas não me cabe a cada momento tecer comentários", disse.

Fonte: Folha de S. Paulo

Campos: "Não vou ficar comentando declarações"

Após suposto constrangimento do PT a governadores do PSB, Eduardo Campos silencia, mas não desautoriza aliados de partir para o revide

Débora Duque

Um dia após integrantes da cúpula nacional do PSB acusarem o PT de “constranger” governadores socialistas com o objetivo de minar o projeto presidencial do governador Eduardo Campos, a reação do gestor pernambucano foi de silêncio. Na quinta-feira (23), o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), um dos vice-presidentes do partido, declarou que o governo federal exerce pressão política sobre os gestores da legenda, travando pedidos e recursos em Brasília.

“Eu não vou ficar comentando todos os dias o pronunciamento de meus companheiros”, desconversou Eduardo Campos. Sem desautorizar o aliado, o governador disse que Beto Albuquerque tem a “confiança” do partido e pode falar em nome da bancada federal ou da própria direção da legenda da qual, aliás, o líder socialista é presidente nacional. “Agora, não me cabe ficar tecendo comentários a cada momento”, acrescentou.

Em sua negativa em comentar um possível cerco do núcleo ao seu voo nacional, Eduardo Campos voltou a dizer que o PSB só tomará uma definição sobre a disputa presidencial no ano que vem. A declaração é uma resposta à pressão de governistas para declare, desde já, se apoiará a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) ou se sairá, de fato, candidato. “Estou inteiramente tranquilo e sereno. Sabemos qual a nossa tarefa e vamos dar conta dela. Vou cuidar do meu trabalho como governador, implantando um modelo de gestão que ajuda a melhorar a vida das pessoas. E essa questão eleitoral vamos resolver em 2014”, afirmou.

Na manhã de ontem, Eduardo cumpriu duas agendas administrativas ao lado do ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT). O petista, cotado para disputar o governo de São Paulo, fez questão de elogiar o “empenho” do socialista no Executivo estadual mas, ao mesmo tempo, procurou ressaltar o papel do governo federal. “Governador parabéns, pode contar com a presidenta Dilma para continuar avançando na saúde”, disse, após a cerimônia de inauguração do Centro de Diagnóstico e Tratamento de Câncer do Imip, nessa sexta-feira (24).

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Após lançamento de Aécio, PMDB e PT se unem contra tucano em Minas

Aliança regional, que havia sido desfeita em 2011, mira a disputa ao governo do Estado em 2014

Acordo também tem como objetivo iniciar a montagem do palanque de Dilma no 2º maior colégio eleitoral do país

Paulo Peixoto

BELO HORIZONTE - Menos de uma semana após o senador Aécio Neves assumir a presidência do PSDB e abrir caminho para sua candidatura ao Planalto em 2014, a oposição aos tucanos em Minas Gerais decidiu se reorganizar em bloco para enfrentar a sigla.

Liderado pelo PT e pelo PMDB, o grupo selou o primeiro acordo para que os partidos atuem em unidade desde já e se mantenham afinados na eleição de 2014.

O movimento, que inclui ainda PRB e PC do B, irá recriar na Assembleia Legislativa o bloco "Minas sem Censura", desfeito em 2011 após divergências entre as siglas e pressões do governo Antonio Anastasia (PSDB).

O acordo foi referendado em jantar em Brasília na última quarta-feira. Além das bancadas estadual e federal das siglas, estavam os ministros do Desenvolvimento, Fernando Pimentel (PT), e da Agricultura, Antônio Andrade (PMDB), bem como o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).

O entendimento vai além da disputa pelo governo mineiro, e envolve também o fortalecimento do palanque da presidente Dilma Rousseff no segundo colégio eleitoral do país. A própria Dilma, já lançada candidata à reeleição pelo PT, movimentou-se nesse sentido ao nomear Andrade para a Agricultura.

Apesar do retorno do bloco oposicionista, o governo do PSDB em Minas não deixará de ter maioria no Legislativo. Dos 77 deputados, tem o apoio de ao menos 50.

Mas a ação do bloco tende a incomodar. Um exemplo já veio nesta semana, com propagandas regionais do PMDB na TV repletas de críticas à gestão tucana no Estado.

Em 2011, o PMDB rompeu o bloco de oposição em Minas, apenas sete meses após sua criação. Disputas municipais e acenos do Executivo com cargos no primeiro escalão motivaram o racha.

O PSDB sempre procurou minar ou mesmo desfazer o bloco. Deputados do PMDB chegaram a negociar cargos. Com o racha, o partido se declarou independente.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na ocasião, ainda tentou evitar o fim do grupo. Escalou o ex-ministro Luiz Dulci para conversar com o PMDB, sem sucesso.

Novamente juntos, PT e PMDB cogitam até dar dois palanques a Dilma em 2014, caso o senador Clésio Andrade (PMDB), também presente ao jantar de quarta, insista em disputar o governo. Mas essa possibilidade é tida como remota no PT.

O nome mais forte que desponta como candidato do bloco é o de Pimentel.

Fonte: Folha de S. Paulo

Aécio chama Lula de 'amigo', mas ataca governo Dilma

Em entrevista na TV, senador mineiro poupa ex-presidente de crítica, mas diz que PT fracassou na administração atual

Bruno Boghossian

"O Lula de bobo não tem nada. Ele é inteligente. Ele é meu amigo, também", disse o presidente do PSDB, Aécio Neves, aos espectadores do Programa do Ratinho, do SBT, na noite de quinta-feira. Nos primeiros passos para construir sua provável candidatura ao Palácio do Planalto, com foco nas classes C e D, o tucano decidiu poupar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de críticas e atacou apenas as falhas de sua sucessora, Dilma Rousseff.

A estratégia tem o objetivo de evitar um embate entre Aécio e Lula, que tem alta popularidade entre o eleitorado mais pobre e a nova classe média - camadas que ascenderam no primeiro governo do PT por causa do crescimento econômico e de programas de transferência de renda.

Aécio aproveitou uma mesa de bar improvisada no estúdio do SBT para falar com essa população - público-alvo do programa apresentado por Ratinho.

Depois de dizer que pretende manter os pagamentos do Bolsa Família caso seja eleito, o mineiro disse que Lula teve a "virtude" de unificar projetos sociais lançados por Fernando Henrique Cardoso e manter a política econômica do tucano.

"As críticas hoje são merecidas, mas eu reconheço avanços. O primeiro foi quando assumiu o presidente Lula e manteve a política macroeconômica do governo Fernando Henrique. A segunda virtude foi ampliar os programas sociais", afirmou.

Aécio e Lula mantiveram uma boa relação nos oito anos em que o mineiro era governador e o petista, presidente. Os dois trocavam elogios públicos e Aécio chegou a ser atacado por tucanos que exigiam dele um engajamento mais firme nas campanhas dos candidatos do PSDB à Presidência.

Agora, ao moldar seu discurso dentro de um cenário de grande popularidade dos governos do PT, Aécio critica a gestão de Dilma, mas tenta se apresentar como um "projeto alternativo", e não como um adversário que bate de frente com o partido.

"Estou trabalhando para apresentar um projeto alternativo para Brasil. Eu tenho muita vontade de fazer algo diferente do que está aí", disse, na TV.

Com esse texto, o tucano se aproxima do discurso adotado pelo governador pernambucano Eduardo Campos (PSB), que se descola de Dilma a fim de criar uma imagem de candidato presidencial "pós-PT". "Eu faço política diferente de alguns que não reconhecem no adversário virtudes. Eu não acho que o PT, por exemplo, que é meu adversário, só tem defeito", disse Aécio.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Legado de Lula é 'insuficiente' para reeleição, diz presidente do PT

Luciana Nunes Leal

O presidente do PT, Rui Falcão, disse ontem que o legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do atual governo não é suficiente para reeleger a presidente Dilma Rousseff em 2014 e que será preciso apresentar à sociedade uma proposta que vá além da continuidade do que foi feito em três mandatos petistas.

Falcão citou pesquisas que indicam que a maioria da população acredita que o Bolsa-Família será mantido mesmo que outro partido chegue ao poder. "Em parte é positivo, porque a população vê como conquista inamovível no sentido de que nenhum governo teria coragem de abolir", disse o petista, que completou: "Por outro, significa que apenas o que já fizemos não é suficiente para garantir a reeleição".

Para o presidente do PT, o legado de Lula "foi um dos principais elementos para a eleição da companheira Dilma". "Mas hoje simplesmente esse legado é insuficiente. Precisamos acenar com o futuro. Que novas propostas nós oferecemos para a sociedade para que ela veja no nosso governo não só manutenção do que foi conquistado, mas novas possibilidades de continuar avançando?", disse Falcão em seminário sobre a trajetória do PT nas cidades.

O presidente do PT defendeu, então, o que considera duas bandeiras prioritárias do partido: a reforma política, com mudanças como o financiamento público de campanhas, e a "democratização dos meios de comunicação".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Partido de Marina precisa obter cem mil assinaturas

Determinada a criar um novo partido e sair candidata novamente à Presidência da República, a ex-senadora Marina Silva anunciou ontem as metas na sua corrida para obter as assinaturas requeridas para formalizar a Rede, sua nova sigla: 550 mil apoios até o fim de junho. Marina esteve ontem palestrando sobre Desafios do Desenvolvimento Sustentável em Bento Gonçalves.

Em três meses já foram obtidas cerca de 400 mil assinaturas. Para que o partido consiga o registro, são necessárias 500 mil até setembro.

A presidenciável evitou falar de uma nova candidatura ao Planalto. Disse ser contra a antecipação do debate eleitoral e declarou que a discussão sobre sua chapa será feita em 2014.

Ela classificou de casuística a lei que inibe a criação de novos partidos. O projeto, já aprovado pela Câmara e dependendo de votação no Senado, teve a tramitação suspensa por liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.

– Estão prejudicando a formação de novos partidos, após terem favorecido a formação do partido do ex-prefeito Gilberto Kassab (o PSD). E se não foi feito o impedimento para um partido que vai participar das eleições de 2014, para que criar impedimentos numa mesma legislatura para os novos partidos? Não dá para achar que é uma coisa pessoal, mas eu vejo como um ataque à democracia – definiu.

A ex-senadora conversa na segunda-feira com o governador Tarso Genro. Disse que não pretende constrangê-lo a assinar apoio à Rede. Ressaltou, porém, que existem pessoas de diferentes partidos que têm uma visão democrática e estão assinando.

– Não sei se o governador tomará a iniciativa de fazê-lo, fica a seu critério – sintetizou.

Marina passará o fim de semana no Estado. Na manhã de domingo, faz caminhada no brique da Redenção e, à tarde, participa de plenária na Câmara de Vereadores.

Fonte: Zero Hora (RS)

Sobre verdades e silêncios - Rosiska Darcy de Oliveira

A verdade que enfim emerge é condição de uma verdadeira reconciliação e fala por si: a tortura desonra quem a pratica

As carantonhas de torturadores e estupradores voltaram a assombrar os telejornais no último mês. Tudo os aproxima, parecem feitos de um mesmo barro. Inspiram igual indignação e repulsa. É melhor retirar as crianças da sala, é cedo para que conheçam o lado tenebroso do ser humano.

Estupro e tortura são crimes que exprimem uma radical negação da humanidade do outro. É martirizando o corpo que o torturador obriga alguém a falar. A força bruta parte ao meio a vítima, anula sua vontade, obrigando-a a fazer o que mais lhe repugna. O corpo, pela dor, cumpre o que o espírito recusa. A vítima se esfacela e carrega, desde então, um injustificado, mas recorrente, sentimento de culpa.

O estupro não é somente um crime covarde contra as mulheres. Desfigura suas relações mais íntimas com os homens, é um crime contra o amor. Ancestral, tem suas raízes na lei da selva e fermenta nas múltiplas agressões ao sexo feminino com que a sociedade contemporânea — o que é estarrecedor — ainda convive. O apartheid supostamente necessário nos trens da SuperVia é o exemplo da sobrevivência desse comportamento primata.

Desde que uma turista canadense foi violada dentro de uma van no Rio de Janeiro, o que provocou intensa comoção, veio à tona o que a opinião publica não sabia: não se trata de um caso esporádico. Existem no país dezenas de iniciativas solidárias que acolhem e socorrem mulheres violadas e nesses círculos é sabido que o estupro é uma ameaça que paira sobre qualquer mulher e independe da aparência ou personalidade da vítima.

Os dados oficiais, registrados nas Delegacias de Atendimento à Mulher, revelam a média de 17 casos de estupro por dia no Estado do Rio de Janeiro, o que caracteriza uma epidemia, aberração que clama por uma ação pública exemplar. Quantas outras calam por vergonha ou medo? A vergonha, o sentimento de imundície, de desonra, tudo corrobora na destruição psíquica da vítima que se refugia, solitária, no silêncio sem que por isso se cale sua memória dolorida.

No estupro como na tortura um paradoxo perverso se instala: as vítimas se autoflagelam enquanto os algozes se autoabsolvem. “Ela é uma sedutora, que me provocou”, diz o sádico travestido em pobre coitado. “É assim que se lida com terroristas”, proclamam os arautos da necessidade e da eficácia da tortura. Dar crédito a esse tipo de justificativa é uma forma de cumplicidade.

Tortura e estupro são crimes cujo alcance transcende as vítimas. Atentam contra a essência mesma de nossa humanidade, levam à falência todo um processo civilizatório que aboliu a lei do mais forte. Pela ferida que abrem no psiquismo individual e coletivo requerem uma tomada de posição radical da sociedade a favor da vítima, jamais do agressor. Sob pena de abrir uma fenda em si mesma, por onde passam os argumentos que vão corroer a democracia e acobertar barbáries.

A Comissão da Verdade acaba de apresentar seu primeiro relatório. Seu trabalho é, ao mesmo tempo, reconstrução da História do Brasil e da história das vítimas, já que só a verdade pode libertá-las, iluminando as zonas de sombra da memória. E, mesmo assim, há cicatrizes indeléveis. O escritor italiano Primo Levi, prisioneiro em um campo de concentração nazista e que quarenta anos depois se suicidou, em uma frase lapidar resumiu a tragédia do século XX: “Eu saí de Auschwitz, mas Auschwitz nunca saiu de mim.”

Os torturadores que queriam tanto que os torturados, subjugados, falassem agora querem que eles, homens e mulheres, hoje senhores de sua vontade, se calem.

Os sete membros da Comissão da Verdade, nomeados pela presidente da República, foram acusados por um coronel do Exército de “revanchismo de esquerda”, de “estar do lado dos que perderam na revolução”. Dos que ele chama, com desdém, “os derrotados”.

Ledo engano. A democracia que tanto nos custou restabelecer é a derrota da ditadura. A democracia brasileira elegeu para a Presidência da Republica uma mulher que foi torturada e que, recentemente, chamada de terrorista pelo ex-comandante de um dos principais centros de repressão da ditadura militar, ignorou a provocação, como convém a uma chefe de Estado. Nossa democracia é bem mais sólida do que imaginam aqueles que menosprezam os seus fundamentos.

A verdade que enfim emerge é condição de uma verdadeira reconciliação e fala por si: a tortura desonra quem a pratica. Essa é a lição do passado e um compromisso de nunca mais. Para os que, incapazes de arrependimento, persistem em justificar o injustificável, a sentença já lavrada é o desprezo.

Rosiska Darcy de Oliveira é escritora

Fonte: O Globo

A formação como desafio estratégico - Marco Aurélio Nogueira

A riqueza de um país passa pela qualidade do trabalho. O desenvolvimento institucional e o sucesso das organizações, também. As pessoas - os trabalhadores, os dirigentes - sempre farão a diferença.

A qualidade do trabalho, por sua vez, depende de relações trabalhistas adequadas, justiça social, boa remuneração, treinamento, formação profissional e educação. Fecha-se um círculo, de complexos funcionamento e gestão.

Formar pessoas para o trabalho tornou-se uma das pedras angulares da vida moderna, sobretudo nos dias correntes, em que as sociedades se tornaram mais "inteligentes". Fica cada vez mais difícil trabalhar sem que se tenha alguma formação, tanto em termos técnicos e operacionais (habilidades, conhecimentos específicos) quanto em termos de educação básica (domínio da língua e da linguagem, fundamentos matemáticos, pensamento crítico). E se a questão for pensar a produção e o trabalho como partes essenciais de um projeto coletivo, será sempre preciso incluir no circuito uma boa dose de formação cívica - formação para a convivência e a cidadania. Formar não é somente socializar um conjunto de técnicas, modelos e informações, treinar e moldar pessoas segundo interesses tópicos, mas é também (ou deveria ser) preparar pessoas para agirem de modo critico, autônomo, inteligente e socialmente responsável. É prepará-las para a produção, a gestão, a reprodução organizacional, o convívio e a transformação social. Precisa, por isso, seguir parâmetros reflexivos e ter como foco a melhoria dos pactos em que se vive e se trabalha. Nem tudo deve ser feito tendo em vista a glória no mercado, a competitividade, a busca obsessiva por sucesso e visibilidade, a produtividade a qualquer preço, a rentabilidade das operações.

A fixação de perspectivas é mais decisiva do que a difusão de técnicas e procedimentos gerenciais. Isso, porém, não significa que se deva erguer uma muralha entre técnicas operacionais e perspectivas teóricas, entre o "saber fazer" e o "saber pensar". No mundo de hoje não há lugar para uma visão maniqueísta e dicotômica, ao estilo da que separa a formação "profissionalizante" e a formação "humanista". A meta deveria ser o estabelecimento de uma concepção unitária, que integre as duas possibilidades de formação e as combine de muitas maneiras na dinâmica mesma do processo formativo. A questão é, sobretudo, de eixo: a "formação humanista" (a visão abrangente e crítico-histórica do Estado e da comunidade) é inseparável da "formação técnica" e mais estratégica do que ela. Quem não pensa bem dificilmente agirá bem.

Iniciativas de formação, além do mais, devem alcançar todos os que trabalham nas organizações, de cima a baixo. Não é algo que deva privilegiar um ou outro segmento, muito menos selecioná-los conforme ideias preconcebidas, como, por exemplo, a que julga que os dirigentes não precisam receber formação específica porque já estão preparados e "lá em cima" tudo se resolve.

Países em desenvolvimento costumam apresentar falhas nesse circuito. Alguns mais, outros menos. O Brasil costuma ser incluído entre os que exibem falhas mais gritantes. É ruim a educação básica, problemática e elitista a educação superior. Nenhuma das pontas do sistema resolve adequadamente a educação cívica, que gira ao sabor dos mecanismos espontâneos da vida social ou de instituições como a família e as igrejas, que nem sempre podem cumprir bem esse papel. A formação profissional, por sua vez, conhece boas estações - as escolas técnicas, as políticas de RH das empresas e das organizações públicas - e más estações, quando se olha, por exemplo, para os currículos e procedimentos de muitos cursos superiores, pouco atentos às novas exigências do mercado de trabalho e à qualificação técnica dos formandos.

Há também muita improvisação num dos setores que ganharam grande relevância estratégica nas últimas décadas: o da gestão. Exceção feita às grandes empresas e às grandes organizações públicas, a regra é que o gestor seja um trabalhador como outro qualquer que chega a um cargo de chefia ou direção. Não é escolhido em função de habilidades ou talentos específicos e nem sempre conhece os meandros da atividade que vai exercer. Quando os processos de escolha ocorrem por eleição - como em escolas e faculdades, por exemplo -, muitas vezes o eleito é somente o colega mais popular, o intelectual mais brilhante ou que reúne os títulos formais para o cargo. A gestão termina, nesses casos, por ficar flutuando numa zona de relativo despreparo e baixo desempenho.

Formar não é criar líderes excepcionais, CEOs geniais que revolucionam as coisas. É criar vida coletiva e lideranças que saibam atuar em rede e democraticamente, unindo e articulando pessoas, áreas ou setores.

Formar para a gestão tornou-se uma exigência dos tempos atuais, em que "tudo" de certo modo se tornou assunto gerencial e as atividades dependem de políticas sofisticadas, planejamento, administração de recursos, financiamento e construção de imagem/identidade. As organizações necessitam de dirigentes que possuam conhecimentos gerenciais específicos e trabalhem como entes coletivos de fato.

Como ninguém nasce com esses conhecimentos, eles precisam ser adquiridos. Isso pode dar-se em cursos e escolas regulares ou em cursos e atividades estruturadas ad hoc pelas próprias organizações. Não é por acaso que "centros de formação" e "universidades corporativas" passaram a frequentar o léxico e o planejamento das organizações contemporâneas. Na medida em que deixarem de lado a questão e não se empenharem seriamente para equacioná-la, as organizações podem ficar à deriva e em dificuldades para acompanhar o ritmo da vida e com ele interagir de forma produtiva e inteligente.

Professor Titular de Teoria Política e Diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP.

Fonte: O Estado de S. Paulo

1998 E 2014 - Fernando Rodrigues

Há um desejo grande da cúpula petista de liquidar a eleição presidencial do ano que vem no primeiro turno, reelegendo Dilma Rousseff para comandar o país por mais um mandato. É que há um cheiro no ar sobre certas semelhanças entre 1998 e 2014.

Antes é bom lembrar 1997. A economia do país já não estava tão bem. Mas o então presidente Fernando Henrique Cardoso desfrutava de ampla popularidade. Tanto é que aprovou a emenda constitucional da reeleição, para ele próprio disputar mais um mandato no ano seguinte.

Em 1998, FHC e os demais aliados tucanos sabiam que um eventual segundo turno os obrigaria a um constrangimento razoável. Teriam de debater de maneira direta com o principal candidato de oposição à época, Luiz Inácio Lula da Silva.

O PT tinha poucas ideias sobre como melhorar o país em 1998. Mas Lula era candidato pela terceira vez. Exalava esperança. O eleitorado poderia entrar em curto-circuito por causa da economia andando de lado. No final, FHC bateu na trave e acabou ganhando no primeiro turno. Teve 53% dos votos válidos.

Agora, como se sabe, a economia não vai muito bem, como em 1997. Só que Dilma continua popular. A petista venceria hoje no primeiro turno. Possivelmente ela passará o ano que vem inteiro evitando debates e entrevistas --como fez FHC. Fará concessões, como já faz, à mídia amiga e a programas de TV anódinos.

Mas o que acontecerá se houver um segundo turno? A política econômica errática, as microdecisões e os microrresultados serão colocados sob análise. Tudo será contraditado pela oposição. E Dilma, diferentemente de Lula, não tem a loquacidade e a presença de espírito de seu mentor em debates abertos.

É cedo para vaticínios. Na dúvida, Dilma faz certo ao tentar montar uma ampla aliança para 2014 buscando vencer no primeiro turno. Uma segunda rodada seria um grande risco

Fonte: Folha de S. Paulo

'Fargo', um roteiro sul-americano - Rolf Kuntz

Acostumado a escrever torto por linhas tortas, o governo federal, incapaz de combater a inflação por métodos sérios, convenceu o governador paulista e o prefeito de São Paulo a limitar o reajuste, já com atraso, das tarifas de trens, metrô e ônibus. Já havia feito isso, no começo do ano, quando a alta de preços acumulada em 12 meses furava o limite de tolerância, 6,5%. Agora, o aumento nominal nem de longe acompanha a inflação, mas a perda será atenuada com a suspensão da cobrança de PIS/Cofins sobre o transporte coletivo. A medida valerá para todo o País, em mais uma improvisação.

Cortar tributos pode ser muito bom para consumidores e empresas, mas só um governo irresponsável e trapalhão age dessa forma. É mais uma demonstração de como os erros tendem a amontoar-se e a gerar mais distorções quando as pessoas preferem cuidar dos problemas pelo facilitário.

Na Argentina, a presidente Cristina Kirchner convocou movimentos sociais e especialmente organizações juvenis - sim, há uma juventude kirchnerista - para vigiarem o comércio e denunciarem os desvios da política oficial de preços, complicada com mais uma fase de congelamento. Empenhado em permanente campanha eleitoral, o governo decidiu frear pelo método mais tosco, e mais ineficiente, as prováveis pressões inflacionárias derivadas dos novos aumentos salariais e de outros benefícios. Só esses benefícios lançarão 16,8 bilhões de pesos no mercado de consumo, segundo o jornal La Nación. Marretar os índices de inflação, uma prática iniciada no tempo do presidente Néstor Kirchner, é muito mais fácil que conter de fato os preços encontrados pelo consumidor em suas compras.

Na Venezuela, o governo anunciou a importação de 50 milhões de rolos de papel higiênico para atenuar uma penosa escassez no mercado interno. As intervenções em nome da gloriosa revolução bolivariana já resultaram em problemas variados de abastecimento e num aumento brutal da importação de comida. O governo venezuelano arrasou a produção agrícola nacional e submeteu as cadeias internas de distribuição a um controle cada vez mais estrito e, naturalmente, com efeitos cada vez mais desastrosos. Isso explica boa parte do aumento das exportações brasileiras de alimentos para o mercado bolivariano. Os produtores colombianos também entraram na festa. Mas os pagamentos voltaram de novo a atrasar, porque, na Venezuela, as autoridades julgaram conveniente racionar o uso de dólares.

A Argentina perdeu posições como exportadora de trigo, por causa das muitas bobagens cometidas pelo governo, e a Venezuela, apesar de suas enormes reservas de petróleo, tem problemas para custear as compras no exterior. De tempos em tempos aparecem notícias de atrasos na liquidação das contas venezuelanas. Segundo cálculo recente, divulgado nesta semana pelo Valor, as contas penduradas pelos importadores chegam desta vez a US$ 9 bilhões. Exportadores brasileiros são credores de US$ 1,5 bilhão.

Parece justo creditar as realizações mais notáveis à dinastia Kirchner. Para disfarçar a inflação o governo falsifica indicadores há vários anos e proíbe a divulgação de cálculos independentes. Também tem congelado preços e dificultado exportações com impostos e cotas. A valorização do peso, parte da política de marretação de índices de preços, mina o poder de competição do país.

Com essas lambanças, o país passou de 3.º maior exportador de carne em 2005 para 11.º, atrás do Paraguai (10.º), do Uruguai (8.º) e muito longe do Brasil, superado apenas pela Austrália. Nesse período, o rebanho argentino encolheu, a oferta diminuiu e a carne encareceu no mercado interno.

Durante anos, o Tesouro argentino, sem acesso ao mercado, só conseguiu rolar seus títulos graças à colaboração do presidente Hugo Chávez, quando a Venezuela tinha petrodólares para gentilezas como essas. Atualmente o governo bolivariano tem de se preocupar com outro tipo de papel, negociado fora do mercado financeiro, mas nem por isso desimportante. Mas até a escassez desse material foi convertida em sinal de progresso pela retórica oficialista. Segundo o diretor do Instituto Nacional de Estatísticas, Elias Ejuri, a demanda de papel higiênico cresceu nos últimos anos porque, graças à revolução bolivariana, "as pessoas estão comendo mais". Nem o Indec argentino, encarregado de maquiar a inflação, se tem mostrado tão criativo.

No Brasil, o alto nível de emprego e a expansão da massa de rendimentos têm resultado em maiores importações, porque a política oficial, embora o governo afirme o contrário, tem estimulado muito mais o consumo que a produção. A capacidade produtiva continuará baixa por alguns anos, porque o investimento, mesmo com alguma expansão em 2013, permanece inferior a 20% do produto interno bruto (PIB). Com isso o potencial de crescimento sustentável dificilmente passará de 3,5% ainda por alguns anos. Se nada mudar para valer, continuarão as pressões inflacionárias e a deterioração das contas externas, Mantidos os vícios, o governo continuará improvisando remendos tributários e intervindo nos preços, inspirado, talvez, pelo exemplo argentino, mas sem condições políticas de falsificar estatísticas e controlar o varejo.

Os governos argentino, brasileiro e venezuelano têm seguido um roteiro comum, abandonado por outros países da região. A linha básica é a do filme Fargo, dos irmãos Coen. Um vendedor de carros em apuro financeiro contrata dois bandidos para forjar um sequestro de sua mulher. O plano é pedir ao sogro um resgate de US$ 1 milhão. O plano dá errado, ocorrem três mortes e cada nova mentira para contornar a burrada complica a situação. É um tratado notável de política econômica.

Rolf Kuntz é jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Trabalho em debate – Miriam Leitão

Os números do mercado de trabalho que saíram nos últimos dias deixariam eufóricos certos países europeus. Em abril, o IBGE captou 5,8% de desemprego, e o mercado formal criou 200 mil vagas. É o lado bom de uma economia que está crescendo pouco e com inflação alta e resistente. O Brasil não está sozinho na boa notícia: a América Latina também está com desemprego baixo.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) registraram que na América Latina a taxa média de desemprego do ano passado foi de 6,4%. No México, a taxa média foi de 5,9%; Uruguai, 6,2%; Chile, 6,4%; Peru, 6,8%; Equador, 4,9%. Mas nem toda a região vai bem: Venezuela, Argentina e Colômbia estão com taxas mais altas.

A OIT e a Cepal explicam que o círculo virtuoso começou com o crescimento da economia, aumento dos salários, expansão do crédito e do consumo. O problema, dizem, é a falta de investimento para manter esse movimento.

No Brasil, como se pode ver no gráfico abaixo, depois da queda abrupta de 2009, por causa da crise, a criação de empregos formais se recuperou, mas está em forte desaceleração. Este foi o pior abril desde 2010. No ponto mais alto deste gráfico, o país estava criando 2,2 milhões de empregos, no acumulado de 12 meses, e agora está em 778 mil.

No caso da PME, o desemprego de 5,8% em abril ficou praticamente igual ao do mês passado, 5,7%, mas houve aumento em São Paulo, de 6,3% para 6,7%. O curioso é que o Caged mostrou aumento do emprego na indústria e o IBGE mostrou queda no emprego industrial. Eles não medem o mesmo fenômeno, nem usam os mesmos dados, mas é interessante terem dado tendências opostas.

O emprego está no meio de um debate entre os economistas. Há os que acham que o mercado de trabalho aquecido é parte do problema da inflação. O rombo nas contas correntes e a inflação estariam provando que não falta demanda na economia. O problema seria de oferta. Falta investimento. Mas o Ministério da Fazenda tem usado mecanismos de desoneração e elevação de gastos para incentivar o consumo, como se o problema fosse de falta de demanda.

Os dados, no entanto, mostram que o mercado de trabalho não está piorando, mas o ritmo de crescimento do emprego está em queda. Caiu 9% em abril, em relação ao mesmo mês de 2012, e vem desacelerando o total dos empregos criados num período de 12 meses. O modelo estaria se esgotando.

De qualquer forma, resta a boa notícia de que os empresários não estão demitindo, apesar do baixo crescimento. Estão cortando horas trabalhadas, mas mantendo o quadro de funcionários. Isso pode indicar que o empresariado está com expectativa de que a economia vai se recuperar, retomando o crescimento. Que seja através de mais investimento.

Fonte: O Globo

Baixo crescimento desacelera crédito no Brasil

Juro bancário para pessoa física registra pequeno recuo

Gabriela Valente

BRASÍLIA – O ciclo do consumo em alta, movido pela compra de bens duráveis, está perto do fim e o crédito, até então combustível para o crescimento, já não tem mais a mesma força para impulsionar a atividade econômica, que passará a depender cada vez mais do investimento. Essa é a avaliação dos economistas sobre o relatório mensal de empréstimos bancários, divulgado ontem pelo Banco Central (BC). Só no mês passado, a concessão de novos empréstimos no Brasil caiu, em média, 4%.

O relatório do BC mostra que R$ 13,5 bilhões em novos empréstimos foram concedidos no mês passado. Em março, esse número era de R$ 14,1 bilhões. A maior queda foi sentida nas concessões de financiamentos para empresas, justamente quando a equipe econômica tenta de todas as maneiras estimular novos contratos para financiar o investimento.

No total, há no país R$ 2,4 trilhões em empréstimos concedidos. No mês passado, o crescimento do crédito foi de 1,1% e de 16,4% nos últimos 12 meses. A expectativa do BC é que a marcha fique cada vez mais lenta até o fim do ano, quando o ritmo de expansão do volume de financiamentos deve chegar a 14%.

— Chegamos a uma situação de estrangulamento do crescimento por causa do esgotamento do consumo de bens duráveis. Foi um ciclo longo, mas está esgotado — disse o economista do Banco Espírito Santo, Flávio Serrano.

Ele observou que as famílias já compraram os bens que desejavam no início do ciclo de grande consumo. Agora, reorganizam suas finanças. Por isso, há uma redução da inadimplência.

Segundo o BC, o nível de calote das pessoas físicas caiu levemente, 0,1 ponto percentual, para 5,3%, em abril. Já a inadimplência das empresas percorreu o caminho inverso: aumentou 0,1 ponto percentual, para 2,3% no mês passado.

Apesar da alta da taxa básica de juros (Selic), que encarece o crédito no mercado, a média das taxas de juros cobradas pelos bancos das famílias brasileiras caiu, em abril, 0,1 ponto percentual para 24,3% ao ano. Foi um pequeno ajuste depois de os bancos terem elevado bastante os juros antes mesmo de o Comitê de Política Monetária (Copom) começar a apertar o cerco contra a inflação.

De acordo com a autoridade monetária, a pequena queda no custo financeiro para as famílias é resultado da diminuição das taxas de cartão de crédito e crédito pessoal. A disposição de trocar dívidas caras por outras mais baratas também colaborou para diminuir a taxa média cobrada.

— É a busca por um crédito mais longo e mais barato — afirmou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel. — Saem do cheque especial e buscam algo mais barato, como o consignado.

Bancos estão mais conservadores

Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luiz Otávio Leal, o país vive um momento de transição do mercado de crédito por vários motivos. Um deles é a mudança de comportamento do brasileiro, que faz pesquisa de taxas mais baixas. O consumidor também troca o consumo de bens duráveis (até automóveis) pelo crédito imobiliário. Comprar a casa própria é considerado um investimento mas, por outro lado, compromete uma parcela maior da renda e impede as famílias de contraírem outros tipos de empréstimos.

Além disso, Leal lembrou que os bancos privados se contraíram e estão mais conservadores na hora de emprestar. Isso ajuda a frear o aumento do crédito. Segundo Leal, tudo atrapalha o crescimento do Brasil, que dependerá cada vez mais do investimento. O economista enfatizou que, na semana que vem, o IBGE divulga o resultado do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no primeiro trimestre. Se o resultado vier acima de 1%, isso pode impulsionar o otimismo dos empresários e levá-los a tomar mais empréstimos para financiar investimentos.

— Tem um fator psicológico que a gente não pode descartar — alertou o analista.

Fonte: O Globo

A disputa pela memória nas ruas

Descobertas da Comissão da Verdade e projetos de lei para mudar nomes de espaços públicos ligados à ditadura alimentam debate sobre como lidar com marcas da História recente do país

 Ricardo Medeiros Pimenta*

No último dia 10, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, entre outros militares convocados a depor, prestou depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), em Brasília. Sua fala não surpreendeu. Ao afirmar que jamais havia torturado ou assassinado alguém, Ustra declarou sua “verdade”, apesar do que apontam os documentos e informações levantados pela própria Comissão. Não demorou muito para que o auditório se manifestasse. Entre acusações e defesas, aquela plenária representou uma espécie de microcosmos de um Brasil intensamente marcado por expressões de acusação e defesa a personagens que trilharam um período tão obscuro da história recente.

Tocar no assunto é doloroso, como assim o foi em tantos outros países que passaram por um período de reparação do arbítrio e demais violências impostas e consentidas pelo Estado. Parafraseando o historiador francês Henry Rousso, ao se referir ao período de ocupação nazista e de colaboração do próprio Estado francês com a perseguição aos judeus, conhecido como Regime de Vichy, no Brasil também vivemos “um passado que não passa”.

Um passado que constrange pela verdade que não se quer revelar. Afinal, informar-se sobre os duros fatos ocorridos durante os anos de chumbo é municiar-se contra o projeto de futuro orquestrado pelos próprios dirigentes do Estado de exceção, que teve no silêncio uma de suas principais fundações. A própria comissão, após completar um ano de atividades, apresentou esta semana um resultado parcial das investigações. Nele, documentos do Centro de Informações da Marinha (Cenimar) apontam uma realidade distinta daquela posta até hoje. Uma outra “verdade”, que pôs em foco outros locais onde teriam ocorrido torturas, como a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Enquanto os arquivos públicos vêm trabalhando no intuito de tornar acessíveis seus acervos, fundamentados pela Lei de Acesso à Informação (nº 12.527), de 18 de novembro de 2011, diferentes agentes e grupos da sociedade civil brasileira têm criado comissões e grupos de trabalho, alguns inspirados na experiência da CNV, com o objetivo de buscar documentos, depoimentos e demais vestígios sobre os arbítrios da ditadura militar.

Tais ações apontam para uma luta em andamento, que não se limita aos arquivos da ditadura, apesar de passar por eles também, mas se estende por ruas e colégios, praças e avenidas de nossas cidades. Essa luta diz respeito a uma memória que, ao sair dos subterrâneos do que se convencionou como uma espécie de história oficial, busca reocupar o espaço outrora marcado por um projeto de fabricação de heróis, imagens e símbolos de um período tão vergonhoso para nossa jovem democracia.

É o caso de manifestações como a que ocorreu em 29 de março de 2012 às portas do Clube Militar, no centro do Rio, quando homens e mulheres protestaram contra um evento em que militares reformados celebraram o aniversário da chamada “Revolução de 1964”. Encerrado entre as paredes do clube, o ato não poderia ser diferente. Afinal, quem comemora comunga de uma mesma memória. Partilha um espaço comum de lembranças. Para os demais que, de fora deste espaço comum, não partilhavam tal memória, tal verdade, a rua se tornou o espaço comum de oposição.

Ao nomear praças e avenidas, pontes e monumentos, em homenagem a militares e demais colaboradores ligados ao regime, o Estado apenas coloca uma fina camada de “verniz” em um passado de profundos sulcos em sua superfície memorial. Há diversos exemplos de homenagens desse tipo, mais comuns do que se imagina. Como no bairro de Sulacap, na Zona Norte do Rio, onde encontramos a Escola Municipal Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco. Outros lugares acabaram por se tornar alvo inúmeras vezes de protestos da população. No dia 29 de julho de 2012, por exemplo, jovens protestaram contra a estátua do mesmo ex-presidente, no bairro do Leme, na Zona Sul carioca.

Em São Paulo, em 2006, o então prefeito José Serra (PSDB) propôs à Câmara Municipal a alteração do nome do viaduto Milton Tavares de Souza, o “Caveirinha”, colaborador na implementação do DOI-Codi na cidade. Atualmente, um projeto de lei sancionado pelo prefeito Fernando Haddad (PT) prevê a retirada do nome de ditadores e seus colaboradores das ruas por meio de abaixo-assinado. No Rio, outro projeto de lei apresentado pelo vereador Eliomar Coelho (PSOL) busca impedir que mais escolas do município sejam batizadas com tais nomes. Iniciativas como essas apontam a intolerância da sociedade civil brasileira com uma memória do segredo e uma retórica de meias verdades onde se maquiam personagens que estiveram à frente do projeto ditatorial.

Os símbolos e enunciados que compõem a cidade são uma representação do poder público que a configura e administra. Mas ela também é espaço de protesto da população que interpreta seus símbolos, códigos e discursos. Entre arquivos e memoriais, documentos e monumentos, a discussão em torno das memórias e do acesso às informações relacionadas à ditadura se tornou urgente.

*Ricardo Medeiros Pimenta é doutor em Memória Social, professor-adjunto do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e professor do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI/IBICT-UFRJ). Ele mediará a mesa “Lugares de memória e de informação: construções de conhecimento sobre a ditadura militar”, dia 29, às 10h, no IBICT (R. Lauro Muller 455, Botafogo)

Fonte: Prosa / O Globo

O papel importante da Comissão da Verdade -Alberto Goldman

A Comissão Nacional da Verdade foi criada por lei com os objetivos que são expostos no seu artigo 3º. Em resumo são:

–esclarecer os fatos dos casos de graves violações de direitos humanos;

–esclarecer os casos de torturas, mortes, desaparecimentos e ocultação de cadáveres e sua autoria;

–identificar e tornar públicas as estruturas, locais, instituições e circunstâncias relacionadas às práticas de violação dos direitos humanos;

–encaminhar aos órgãos públicos competentes qualquer informação obtida que possa auxiliar na localização e identificação de corpos e restos mortais de desaparecidos políticos;

–recomendar a adoção de medidas e políticas públicas para prevenir violação de direitos humanos, assegurar sua não repetição e promover a efetiva reconciliação nacional;

–promover, com base nos informes obtidos, a reconstrução da história dos casos de graves violações de direitos humanos, bem como colaborar para que seja prestada assistência às vítimas de tais violações.

É isso que cabe à Comissão da Verdade, e só isso. E não é pouco. Levantar a hipótese da revogação da Lei da Anistia, além de juridicamente inviável, não é papel dessa Comissão.

Compreendo a indignação das pessoas que, tomando conhecimento de todos os crimes que se praticaram nesse país, conforme os depoimentos e investigações que estão sendo realizados pela Comissão, se manifestam pelo processamento e condenação dos responsáveis por atos tão ignominiosos ( eu mesmo, ao assistir o depoimento do coronel Ustra, que foi o comandante das torturas no DOI-CODI, tive ganas de esganá-lo ). É uma reação humana mas esse não é o objeto da Comissão constituída. Que sejam esses criminosos identificados e execrados pela opinião pública, apontados nas ruas pelo que fizeram de mal a tantos brasileiros.

Se ela puder realizar tudo aquilo que a lei lhe determina, já terá cumprido o que mais importa, ou seja, expor a verdade desse período negro de nossa história, para que nunca mais se repita.

Alberto Goldman , vice-presidente do PSDB

O cortiço, cem anos depois de Aluísio Azevedo

Estigmatizados como foco de mazelas ou celebrados como berço da cultura brasileira, os antigos cortiços deram origem a habitações coletivas que continuam a existir em todo o país

Por Pedro Sprejer

Em seu romance mais marcante, publicado em 1890, Aluísio Azevedo (1857-1913) retratou detalhadamente a vida de trabalhadores brasileiros e imigrantes em um cortiço de Botafogo. Influenciado pelo naturalismo do francês Émile Zola, o escritor maranhense narrou a saga dos moradores da Estalagem São Romão, desde sua criação pelas mãos do ambicioso comerciante português João Romão, até a transformação do conjunto, onde os habitantes viviam “socados” e amontoados, em uma vila de classe média.

No centenário de sua morte, o autor tem vida e obra revisitadas em nova versão da biografia escrita pelo pesquisador Jean-Yves Mérian, publicada originalmente em 1988. Em entrevista, ao GLOBO, ele diz que “O cortiço” retrata o espaço onde Azevedo acreditava ter sido forjada a nação brasileira, com sua miscigenação, exploração e uma caótica vitalidade.

Desde então, a realidade das moradias coletivas cariocas mudou muito. “Cortiço” tornou-se uma palavra pejorativa, mas, em muitos bairros, esse tradicional tipo de habitação continua a existir, em novas formas.

Cidade Misturada

O despertar da Estalagem São Romão é descrito por Aluísio Azevedo como uma mistura de risos, gritos, grasnar de marrecos, cantar de galos e cacarejar de galinhas. Mal raiava o dia e o pátio central era tomado por “lavadeiras que não se calavam”, trabalhando ao redor dos tanques. Na confusão matinal, os moradores experimentavam “o prazer animal de existir”. À noite, sob a luz dos candeeiros de querosene, com todos massacrados pelo dia de “labutação”, soavam modinhas cantadas por brasileiros e melancólicos fados com sotaque português.

No número 34 da Rua Senador Pompeu, no Centro, por trás de um insuspeito portão, se descortina uma singela joia arquitetônica da cidade: um antigo cortiço de fins do século XIX. Em dois tons de azul, a construção tem grandes janelas, portas e sacadas de madeira, em torno de um pátio com tanques de roupa coletivos.

Hoje não há mais lavadeiras por ali, todos têm máquina de lavar, e os tanques são quase cenográficos. Tombado pelo Patrimônio Cultural do Município, o cortiço teve os 46 quartos originais transformados em 23 conjugados. Há exatos dez anos, a construção foi reformada pela Caixa Econômica Federal e transformada em conjunto habitacional para pessoas de baixa renda.

— Gosto muito do livro, mas isso aqui não tem mais nada a ver com o cortiço da história — diz a enfermeira aposentada Izabel Moreira.

Em 2003, ela e o marido deixaram a casa onde viviam em Realengo para o filho e se mudaram para o local. Como os outros moradores, o casal foi contemplado pelo Programa Morando no Centro, uma parceria entre a Caixa e a prefeitura que não recebeu continuidade nos últimos anos. Pelo conjugado, pagam R$174 de arrendamento e R$109 de condomínio. Ao fim de 15 anos, serão proprietários do imóvel.

Dos moradores que viviam ali antes da reforma, apenas um restou. O conjunto costuma receber visitas que vão de estudantes de arquitetura a diplomatas estrangeiros, passando por equipes de TV e fotógrafos. Orgulhosa, Izabel guarda um caderno com 42 folhas assinadas por visitantes. Ela reclama, porém, da falta de manutenção da construção, e conta que os moradores já tentaram eleger um síndico para o condomínio, mas encontraram forte resistência na empresa terceirizada que presta serviço para a Caixa administrando o imóvel.

Em 10 anos, só duas crianças nasceram ali: Vitinho, de 7 anos, e Laura, de poucas semanas. Mãe do primeiro, Márcia da Silva, morava em Cosmos, na Zona Oeste, onde ficam conjuntos que têm recebido famílias desalojadas pelas obras na cidade. Ela fez o caminho inverso, chegando ao Centro, onde trabalha como operadora de informática a poucos passos de casa.

— Para morar tão próximo dos outros, tem que saber conviver — explica Márcia.

Um lugar onde o povo gerou suas linguagens

A palavra cortiço tem duas acepções possíveis: uma caixa de cortiça onde as abelhas fabricavam mel, e pequena corte. Pouco antes de Aluísio Azevedo, Zola escreveu sobre uma estalagem parisiense em “L’Assommoir”. Em 1935, George Gershwin ambientou sua ópera “Porgy and Bess” no Catfish Row, um cortiço fictício na Carolina do Sul. Já a famosa vila do seriado mexicano Chaves remete às tradicionais construções de classe média baixa que sucederam os cortiços em muitos países.

O antropólogo e doutorando em literatura Pedro Guilherme Freire estudou as moradias populares cariocas, como o antigo Hotel Bragança, um “cortiço em sobrado” na Lapa. Em 2010, cerca de setenta famílias que viviam ali foram removidas após a construção ter sido considerada área de risco. Freire, que chegou a morar em outra habitação multifamiliar no Centro, acredita que Aluísio Azevedo contribuiu para estigmatização da população que vive nesses locais.

— O livro está cheio de estereótipos preconceituosos associados a promiscuidade, sujeira, violência. Não existe “o cortiço”, cada uma dessas moradias é um mundo à parte, onde há uma diversidade enorme de pessoas convivendo — observa Freire. — Até hoje, são os locais que recebem migrantes e estrangeiros, como africanos refugiados da guerra.

Para o biógrafo e estudioso da obra de Azevedo, Jean-Yves Mérian, o autor expõe no livro os dois lados da moeda:

— A Estalagem São Romão representava, ao mesmo tempo, um símbolo da precariedade, da exploração, da falta de asseio e um lugar com alegria, solidariedade, onde surgiu da mistura uma cultura muito rica.

De acordo com o historiador e arquiteto Nireu Cavalcanti, as primeiras moradias do tipo surgiram no período colonial e ficaram conhecidas como pardieiros, por serem associadas às casinhas onde se criavam pombos. A construção de estalagens e a transformação de sobrados em habitações multifamiliares, conhecidas como “casas de cômodos”, ocorre a partir de meados do século XIX, época de grande crescimento demográfico, em que muitos imigrantes chegam ao país e o trabalho escravo vai sendo substituído pelo assalariado. Os terrenos estreitos e profundos dos imóveis cariocas, concentrados nas mãos de poucos donos, favoreceram a construção de quartos ao longo dos quintais, aumentando a renda dos proprietários, geralmente portugueses, que os alugavam.

— Nessa época, a cidade era atingida por muitas epidemias e autoridades começaram a ver os cortiços como locais insalubres, focos de doenças — afirma Nireu, que faz campanha pelo tombamento de sobrados na Rua Marechal Niemeyer em Botafogo, resquícios, segundo ele, do cortiço que inspirou Azevedo.

Inimigo dos cortiços, o prefeito higienista Barata Ribeiro mandou derrubar o famoso Cabeça de Porco em 1893. Na década seguinte, o prefeito Pereira Passos (cuja morte também completou 100 anos em 2013) promoveu reformas urbanas no processo conhecido como “bota abaixo”, demolindo muitos sobrados. Os desalojados migraram para outros cortiços ou para as primeiras favelas da cidade, construindo barracos com a madeira da demolição.

Autor de “A cidade no Brasil” (Editora 34), o antropólogo e poeta baiano Antônio Risério lembra que habitações coletivas semelhantes aos cortiços e casas de cômodos ainda existem maciçamente em todo o país — mesmo assim, não há estatísticas precisas devido à grande mobilidade dos moradores.

— Ali o povo foi gerando suas linguagens, como o samba. Nos cortiços de Salvador é que o candomblé foi recriado — assinala Risério. — É preciso melhorar as condições de moradia, mas o planejamento urbano tem que levar em conta critérios antropológicos e históricos.

Em São Paulo, até a década de 40, ainda era comum encontrar proprietários morando em sobrados na entrada dos cortiços, exatamente como o português João Romão do romance.

— Eles podiam ir para outros lugares, mas preferiam ficar perto daquela energia vital do cortiço, o avesso do isolamento burguês-aristocrático do apartamento — analisa Risério.

Alternativa para a moradia popular

Subsecretário municipal de Patrimônio, Washington Fajardo foi, à época, um dos arquitetos responsáveis pela transformação do cortiço da Rua Senador Pompeu. Ele diz que a gestão atual da prefeitura acha mais interessante erguer novos conjuntos habitacionais em terrenos vazios no Centro e em outros bairros do que reformar construções históricas para esse fim:

— O que se observou, com o tempo, é que a população que vive nesses imóveis não estava conseguindo zelar pela manutenção, que é mais cara e trabalhosa — diz Fajardo, ressaltando que considera fundamental a manutenção da diversidade na ocupação da cidade.

O arquiteto Luiz Fernando Janot, membro do conselho superior do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), acredita que, com políticas de incentivo às reformas e estímulo à formação de lideranças internas é possível recuperar sobrados e manter a população que já vive nos locais:

— Você pode aproveitar esse casario e dentro fazer uma estrutura em aço, aproveitando a espacialidade que já existe ali. Incentivando lideranças comunitárias, você protege o local da criminalidade. É uma solução perfeitamente viável para habitações populares em muitos bairros da cidade. Uma das melhores saídas.

Professor do departamento de História da PUC-Rio, Antonio Edmilson Rodrigues, vê semelhanças entre o período em que se passa “O cortiço” e o momento atual da cidade:

— Há uma crise geral da moradia por conta dos altos preços. Assim como naquela época, essas construções voltam a ser alternativas para quem não pode pagar muito.

A paraibana Júlia Pereira vive há 33 anos num sobrado que batizou de Flor de Laranjeiras. Quando chegou, eram só ela, a portuguesa Dona Maria, proprietária do imóvel (“minha segunda mãe”), sua amiga Dona Ana (“irmã de um cangaceiro”) e a inquilina Vó Elza (“agora mora em Santa Cruz, tem 94 anos”). A casa teria sido comprada com o dinheiro da venda de uma joia trazida de Portugal. Hoje, inteiramente reformada, tem 23 quartos e quatro quitinetes.

— Quando chega alguém novo, dou uma folha com o regulamento. Tem gente que trabalha de dia e que trabalha de noite. Todos precisam descansar. Aqui é meio convento — diz Júlia.

Passaram por ali carteiros, garçons, porteiros, estudantes, funcionários de colégios da região. A maioria deles nordestinos. Geralmente, já chegam indicados por conhecidos. Júlia diz que atualmente oito pessoas esperam por uma vaga. Cada um dos três andares do casarão tem banheiros coletivos — é proibido ir até eles enrolado na toalha. Cada quarto tem o próprio relógio de luz. Tudo regularizado, garante Júlia.

Na quitinete em que vive com o filho e o marido, Júlia cria três passarinhos e duas calopsitas. Ela coloca as gaiolas lado a lado, “para eles ficarem mais próximos”. Gatos e cachorros são proibidos no sobrado. Música alta, nem pensar. Papagaios, só com licença do Ibama.

Fonte: Prosa / O Globo

Cia. Bachiana Brasileira - Concerto para Violino e Orquestra em ré maior, de L.

Apito final – Graziela Melo

Silêncio
na alma
medo
no coração!

É
o ponto
final,

a ultima
estação

dos que
nascemos
juntos,

dos que
vivemos
juntos,

da nossa
geração!

O jogo
Acabou,
o juiz
apitou,

sem
prorrogação...

Se foram
os amores
tardios

ficaram
os
recantos
vazios
e
a solidão!!!