quinta-feira, 2 de maio de 2013

OPINIÃO DO DIA – Luiz Werneck Vianna: poder pelo poder

Sob domínio de uma razão instrumental, em que se busca o poder pelo poder, são os princípios que cedem, inclusive -em alguns casos, até principalmente - aqueles com que essa esquerda que aí está se credenciou na opinião pública. Ela nasce em nome da defesa da autonomia dos movimentos sociais diante do Estado, em particular do sindicalismo, da demanda por ética na política, da denúncia corrosiva da estatolatria imperante e do patrimonialismo na administração pública, teses e temas com que renovou nosso repertório político e que, na sua trajetória no poder, acabou por deixar de lado.

Hegel falava na astúcia da razão, que, em meio aos maiores obstáculos, sempre encontraria um modo superior de realização. Nessa marcha à ré em que nos encontramos, quando se devolve à moderna sociedade brasileira o pior do seu passado, devemos duvidar da sua ação sob os trópicos, ou esse regresso, ardilosamente, somente pressagia que agora estamos prontos para enterrá-lo definitivamente?

Cf. Luiz Werneck Vianna, professor-pesquisador da PUC-Rio, “A razão é astuta nos trópicos? In “O Estado de S. Paulo”, 30/4/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais do País

O GLOBO
Tragédia coletiva: Prefeitura agora promete endurecer com ônibus
Mensalão: Dirceu pede Barbosa fora de relatoria
Capas de chuva na seca: Agnelo culpa comando da PM
Aécio culpa Planalto por preços altos
Campos também faz campanha

FOLHA DE S. PAULO
Inflação opõe discursos de Dilma e Aécio no 1º de Maio
Haddad sugere que Lula volte em 2018 para a Presidência
Dirceu pede que Barbosa deixe relatoria do mensalão
EUA prendem 3 estudantes por suposto elo com atentado
Controle clonado de portão vira 'arma' de ladrões

O ESTADO DE S. PAULO
Dirceu pede saída de Barbosa da relatoria do mensalão
Aécio critica ação contra inflação e governo reage
Dilma afirma que combate é 'imutável'
Ato da Câmara de SP autoriza pagamento de supersalários

VALOR ECONÔMICO
Brasil perde espaço em seus maiores mercados
Melhoram as expectativas para a bolsa
Pecém embasa ampliação em estudos antigos
Um 'Plano Real' para a indústria

BRASIL ECONÔMICO
Receita dos bancos privados com operações de crédito recua 6,6%
Aos 70 anos, CLT pede para ficar mais jovem
Estados do Sul e Sudeste querem derrubar a nota fiscal detalhada
Camex adia publicação da lista de importados com alíquota maior
CMN patina no preço mínimo do café e desagrada produtores
“Ruído constrangedor”

ESTADO DE MINAS
1º de maio: Inflação sobe ao palanque em discursos

O TEMPO (MG)
Defesas de Valério e Dirceu apresentam recursos ao STF
Inflação deve insuflar greves
Após a PEC das Domésticas, cresce o número de diaristas
Redução da jornada é reivindicada em missa em Contagem
Inflação invade o 1º de Maio

CORREIO BRAZILIENSE
Inflação detona guerra entre governo e oposição
Consumo: Mutuário terá crédito para mobiliar casa
Nova ofensiva dos mensaleiros
Capa de chuva derruba coronel

GAZETA DO POVO (PR)
Construção civil começa a dar sinais de melhora
Dia do trabalhador soltar a voz
José Dirceu pede saída de Barbosa da relatoria
Richa sinaliza nova ajuda para Urbs
Legislação atual possibilita que cidadão fiscalize poder público
Polícia prende três amigos de Tsarnaev

ZERO HORA (RS)
Inflação toma lugar de emprego no 1° de Maio
Licenças: O que a PF diz sobre a ex-presidente da Fepam

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
"Quem viver verá", afirma Eduardo
Contra a inflação

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais em circulação

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

"Quem viver verá", diz Eduardo, confiante de que será presidente

Governador dá declaração emblemática ao ser perguntado sobre o que poderia fazer mais pelo Brasil

Pedro Romero

O governador Eduardo Campos (PSB) demonstra, cada vez mais, que seu projeto de disputar a Presidência da República no próximo ano é pra valer. Neste feriado de 1º de Maio, ao comentar as semelhanças de discursos apresentados no programa do seu partido (PSB) na TV e as inserções do PT da presidente Dilma Rousseff, onde destacam que é possível "fazer mais e melhor" pelo País, ele terminou externando confiança de que chegará à Presidência. Perguntado por repórteres sobre o que ele poderia fazer mais pelo Brasil, o governador de Pernambuco afirmou: "Quem viver verá".

A declaração foi feita logo depois das comemorações do Dia do Trabalhador, celebradas pelo governador junto a integrantes do Movimento do sem Terra (MST), no assentamento Normandia, em Caruaru, Agreste de Pernambuco.

Para Eduardo, é importante todos admitirem que é preciso fazer mais. "Ruim na vida é quando a gente acha que já fez tudo e começa a contar o que já foi. O importante, em todos os níveis, é que todos se sintam desafiados a fazer mais e melhor", enfatizou.

O socialista disse que não assistiu ao segundo programa eleitoral do PT, onde o partido destaca as suas ações e arrebata: "É assim, e vai continuar assim". Mesmo assim, acrescentou que não sentiu que a frase fosse um recado indireto para ele e o PSB. "Não entendo como recado. O meu também não foi um recado. Eu acho que, na verdade, nós conseguimos construir um entendimento muito bom, independente de eleição", pontuou.

Eduardo explicou porque tinha preferido comemorar o Dia do Trabalhador na zona rural e não em eventos em São Paulo, um deles promovido pela Força Sindical e para o qual foi convidado. "Recebi vários convites, inclusive o da Força Sindical, mas nesse momento quem está passando a situação mais difícil, mais dura, são os trabalhadores do semiárido. Então, o melhor lugar para comemorar o 1º de Maio era ir para o campo, no meu Estado, e tive e alegria de ver um pouco de chuva chegando", afirmou.

O governador também falou sobre o convite que teria sido feito por ele para que o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Beltrame, disputasse as eleições para governador do Rio pelo PSB. Segundo ele, não foi um convite oficial, mas uma conversa depois de uma reunião de trabalho. "Eu disse a ele que se um dia decidisse entrar na disputa pensasse no PSB. Foi isso que houve, não foi um convite específico para disputar um cargo específico. O que eu disse, eu reafirmo hoje. Se ele pensar em política, o PSB está à disposição", ressaltou.

CISTERNA - Durante o encontro com trabalhadores rurais em Caruaru, o governador anunciou a liberação de R$ 659 mil para obras de infraestrutura e de combate aos efeitos da seca na região. Desse montante, R$ 236 mil serão utilizados para a construção de 21 cisternas tipo calçadão.

Fonte: Jornal do Commecio (PE)

Governo não trata com tolerância zero a inflação’, diz Aécio Neves

Silvia Amorim

SÃO PAULO - O governo federal e a oposição mediram forças nesta quarta-feira ao comentarem sobre o tema inflação, durante a festa de comemoração de 1º de Maio organizada por quatro centrais sindicais em São Paulo. De um lado, o principal líder da oposição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), disse em discurso que o país vive um momento grave e que o futuro é sombrio.

— O Brasil vive um momento grave na economia, e as perspectivas para o nosso futuro são sombrias. Hoje, é hora de deixarmos aqui um alerta, porque as nossas conquistas só foram possíveis porque algum tempo atrás um grupo de homens públicos debelou a inflação. Não podemos permitir que o fantasma da inflação volte a rondar a mesa do trabalhador — acusou o tucano.

Antes de Aécio, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical (uma das entidades organizadoras do evento), defendeu a volta de um gatilho salarial, mecanismo pelo qual os reajustes para os trabalhadores ocorreriam a cada três meses. A proposta, segundo ele, seria uma forma de recompensar perdas salariais provocadas pela inflação.

— Particularmente, acho que o governo Dilma não tem nada a ver com o trabalhador — disse Paulinho. Durante o evento, a Força Sindical voltou a defender a volta do chamado gatilho salarial. A ideia não tem consenso entre lideranças de outras centrais.

Ainda para o senador, o governo tem sido leniente com o controle da inflação, mas ele disse ser contrário à proposta da Força Sindical.
— O governo não trata com tolerância zero a inflação. A maior conquista dos brasileiros está sendo colocada em risco pela leniência do governo, e a responsabilidade é toda do governo da presidente Dilma.

O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que representou a presidente Dilma Rousseff no ato, reagiu às críticas.

— Não é verdade que a inflação vai subir. Ela teve, sim, um pico nos últimos meses e vocês sabem o motivo. Agora, ela começou a cair. A presidente Dilma zela como uma leoa em defesa dos trabalhadores para que a inflação não coma os nossos salários — respondeu o ministro.

Além do embate econômico, houve também um debate político sobre as gestões do PSDB e PT à frente da Presidência da República. O senador mineiro acusou o governo petista de somente dialogar com os trabalhadores às vésperas da eleição.

— É preciso que tenhamos um governo que não tenha apenas uma pauta permanente com o empresariado, mas também com a classe trabalhadora, e não apenas às vésperas da eleição, mas durante todo seu mandato.

Em defesa do governo, Carvalho disse que o governo sempre esteve ao lado dos trabalhadores e que o Brasil é outro após a chegada do PT à Presidência.

— Faça sol ou faça chuva, somos um governo que está ao lado e dialogando com os trabalhadores, seja para ouvir críticas ou sugestões. (...) Faz dez anos que a história deste país mudou. Pergunte aos sindicalistas se eles eram recebidos no Palácio no Planalto, se os ministros se colocavam cara a cara como estamos aqui para conversar. O Lula teve a coragem que não se tinha antes de colocar o país a serviço dos trabalhadores.

Fonte: O Globo

Aécio Neves pede governo para os trabalhadores

Beatriz Bulla

Para uma plateia de trabalhadores, o senador tucano Aécio Neves (MG) fez discurso pedindo um governo que não converse só com o empresariado. "É preciso que tenhamos um governo que não tenha apenas pauta permanente com o empresariado, mas também com os trabalhadores", disse o tucano, com um tom crítico em relação ao governo petista da presidente Dilma Rousseff.

Em cima do palco na festa de comemoração de 1º de Maio, na praça Campo de Bagatelle, zona norte da cidade, Aécio afirmou que o País "não pode se contentar com pouco". "O Brasil vem avançando e vem crescendo não por obra de um governo ou partido político, mas por seus trabalhadores", disse o senador, ao começar o discurso.

Durante todo o início do ato político, quando os principais representantes das centrais sindicais saudavam o público, Aécio ficou em primeiro plano, no centro do palco. Os petistas Fernando Haddad, prefeito da capital, e Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, ficaram atrás da primeira linha de oradores e não apareciam para o público.

O senador afirmou que todas as conquistas dos últimos anos só foram possíveis porque "tempo atrás um grupo de homens públicos debelou a inflação", referindo-se ao lançamento do Plano Real, criado no governo Itamar Franco, em 1994, e que abriu caminho para a primeira eleição do tucano Fernando Henrique Cardoso. O tema da inflação foi levado à plateia não só por Aécio, mas pelos dirigentes de centrais sindicais.

Cotado para ser o candidato do PSDB para enfrentar Dilma em 2014 nas eleições presidenciais, Aécio vem criticando a política econômica petista e costuma ressaltar que os méritos do governo do PT são heranças da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O senador mineiro defendeu a liberdade e a democracia e disse que estará vigilante sempre que quiserem "atacá-las". Nesse momento, mencionou a tentativa de cercear o poder do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo Congresso, o poder de investigação do Ministério Público e a criação de partidos.

"Vamos, sem radicalismo, sem dividir um país em dois, construir um País mais justo", afirmou.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Campos diz que todos sabem que é preciso fazer mais

Angela Lacerda

Provável candidato a presidente da República, o governador de Pernambuco (PSB), Eduardo Campos, afirmou nesta quarta-feira que "quem viver verá" o que ele poderá "fazer mais" pelo Brasil, ao comentar o uso, pelo PT, do slogan do PSB "é possível fazer mais". Ele disse que "o partido da presidente Dilma e do ex-presidente Lula fizeram um programa com o mesmo tom, com a mesma mensagem", mas não considerou o fato uma apropriação.

"Acho que conseguimos um passo importante: todos admitirem que é preciso fazer mais", disse, em entrevista, em Caruaru, no agreste, a 130 quilômetros do Recife, onde visitou o Assentamento Normandia, do MST, símbolo de resistência pela reforma agrária no Estado. "Isso é bom para o povo brasileiro; ruim na vida é quando a gente acha que já fez tudo e começa a contar o que já foi." Para ele, é importante que todos - cidadãos, comunidade, família, empresa, País - "se sintam desafiados a fazer mais e melhor".

O governador mantém posição dúbia em relação a uma candidatura. Repete sempre ser preciso "ganhar 2013" e que assunto de eleição só em 2014. Mas, ao demonstrar afinidade e parceria com movimentos sociais como o MST em defesa da reforma agrária, ele se escuda contra a pecha de "direita" que o PT tenta impingir à sua possível candidatura presidencial.

Campos foi recebido pelo coordenador regional do MST-PE, Jaime Amorim, como "um governador de ousadia e coragem" por ter liderado uma longa luta pela desapropriação recente de duas áreas palco de conflito - os engenhos Camaragibe, no município de São Joaquim do Monte, no agreste, e Bonito, no município de Condado, na zona da mata.

"Não vai ter campo produtivo com latifúndio improdutivo", discursou, depois de ter assinado convênios para instalação de unidades de beneficiamento de tubérculos e construção de cisternas calçadão no Normandia, terra ocupada pela primeira vez há 20 anos e palco de despejos, reocupações e greve de fome dos sem-terra. Foi desapropriada em 1997. A área de 45 hectares, abriga 45 famílias assentadas e servirá de piloto para um projeto de aração e plantio de alimentos para consumo humano e animal. Por sua vez, Amorim frisou que o MST tem linha filosófica marxista-leninista e não faz parte da sua história ser "puxa-saco".

Presidente nacional do PSB, o governador foi convidado para a comemoração do Primeiro de Maio promovida pela Força Sindical, em São Paulo, mas disse ter optado por estar perto dos trabalhadores do campo e do semiárido do seu Estado, que atravessam fase muito dura, com a estiagem. Até a sexta-feira, ele fará um périplo por 14 municípios do agreste, onde as primeiras chuvas começaram a cair e o governo estadual monta um esquema para plantar 40 mil hectares, dispondo tratores para arar a terra e fornecendo sementes de feijão e milho. No agreste o período chuvoso vai de abril a julho.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eduardo Campos abre as portas do PSB para Beltrame

Angela Lacerda

O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, disse hoje não ter havido contradição no fato de ele ter afirmado nesta terça-feira que não convidou o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, para se candidatar ao governo do Rio pelo seu partido, quando o próprio Beltrame admitiu o convite.

"Na verdade nós tivemos um encontro de trabalho (no Recife) e ao cabo da reunião, eu disse que se ele viesse a se decidir por entrar na política, pensasse no PSB", afirmou o governador. "Não foi um convite específico para disputar um cargo". Em seguida, emendou: "Reafirmo: se um dia Beltrame pensar em entrar na política e se filiar a um partido, o PSB quer discutir com ele".

O governador lembrou que Beltrame e o seu secretário de Defesa Social, Wilson Damázio, são policiais federais e ambos comandam duas boas experiências de segurança pública: as UPPs no Rio e o Pacto pela Vida, em Pernambuco. Beltrame foi ao Recife conhecer o Pacto, depois de Damázio ter ido ver de perto a experiência carioca.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aécio culpa Planalto por preços altos

Em ato da Força Sindical, o tucano Aécio Neves acusou o governo de tolerância com a inflação. O ministro Gilberto Carvalho reagiu e disse que Dilma é uma "leoa" em defesa do trabalhador.

Duelo no Dia do Trabalho

Silvia Amorim, Sérgio Roxo

SÃO PAULO - A festa de comemoração do 1º de Maio em São Paulo virou ontem palco para um duelo entre governo e oposição acerca do futuro da inflação no país. De um lado, o principal líder da oposição e potencial adversário da presidente Dilma Rousseff na próxima eleição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), acusou o atual governo de ser leniente com o tema e responsabilizou diretamente Dilma pelo que chamou de "futuro sombrio" na economia. O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, saiu em defesa da gestão petista e disse que Dilma zela "como uma leoa" pelo controle da inflação.

- O governo não trata com tolerância zero a inflação. A maior conquista dos brasileiros está sendo colocada em risco pela leniência e a responsabilidade é toda do governo da presidente Dilma (...) O Brasil vive um momento grave na economia e as perspectivas para o nosso futuro são sombrias - disse Aécio, em entrevista, logo que chegou à festa organizada por quatro centrais sindicais (Força Sindical, UGT, CTB e Nova Central) na capital paulista.

Referência ao Plano Real

No discurso para uma multidão - segundo a Polícia Militar, cerca de 300 mil pessoas estiveram no evento; para a organização, o público foi de 1 milhão - , o senador disse que, além de comemorar com os trabalhadores a data festiva, estava ali para fazer um alerta.

- Todas as conquistas obtidas até agora só foram possíveis porque algum tempo atrás um grupo de homens públicos, apoiados pela sociedade brasileira, debelou a inflação e acabou com o imposto inflacionário. Não podemos permitir que o fantasma da inflação volte a rondar a mesa dos trabalhadores - afirmou ele, referindo-se à estabilidade econômica que se seguiu à edição do Plano Real.

Com o comando nacional do PSDB praticamente assegurado, Aécio foi apresentado como convidado de honra pelo presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT), que está em pé de guerra com Dilma. A passagem do líder da oposição pela festa do 1º de Maio foi um teste de popularidade para o mineiro, que deverá ser eleito presidente do PSDB neste mês. Posicionado na primeira fila no palco, ele trocou conversas ao pé do ouvido com o anfitrião. Quando pegou o microfone, foi breve; fez um discurso de menos de quatro minutos, que não empolgou mas também não foi hostilizado pela multidão que esperava ansiosa pela retomada dos shows musicais e o sorteio de carros novos.

Gilberto Carvalho discursou quando Aécio já havia deixado o palco. Ponto a ponto, ele rebateu as críticas feitas pelo tucano. Primeiro, negou que haja um descontrole da inflação.

- Não é verdade que a inflação vai subir. Ela teve, sim, um pico nos últimos meses e vocês sabem o motivo. Agora, ela começou a cair - disse ele, para, em seguida, defender Dilma: - A presidente Dilma zela como uma leoa em defesa dos trabalhadores para que a inflação não coma os nossos salários.

Ele afirmou ainda que o governo sempre esteve ao lado dos trabalhadores e que o Brasil é outro após a chegada do PT à Presidência.

- Faça sol ou faça chuva, somos um governo que está ao lado e dialogando com os trabalhadores, seja para ouvir críticas ou sugestões. Pergunte aos sindicalistas se eles eram recebidos no Palácio no Planalto, se os ministros se colocavam cara a cara como estamos aqui para conversar. O Lula teve a coragem de colocar o país a serviço dos trabalhadores.

Antes, Aécio havia cobrado um diálogo permanente entre governo e sindicalistas e insinuou que isso só ocorre em época de eleição.

- É preciso que tenhamos um governo que não tenha apenas uma pauta permanente com o empresariado, mas também com a classe trabalhadora, e não apenas às vésperas da eleição.

O embate entre governo e oposição deu-se além das questões econômicas. Aécio fez questão de iniciar seu pronunciamento destacando que os avanços ocorridos no Brasil nos últimos 20 anos "não são obra de um governante, mas da luta dos trabalhadores". E disse que a oposição está vigilante para impedir retrocessos na democracia, citando polêmicos projetos de lei, como o que submete ao Congresso decisões do Supremo Tribunal Federal, o que limita a atuação do Ministério Público e o que inibe a formação de partidos.

CUT ameaça organizar greves

Na festa organizada pela CUT, ligada ao PT, o presidente da entidade, Vagner Freitas, acusou a Força de tentar "enganar" os trabalhadores ao propagar que a inflação está fora de controle.

- Dizer, como ocorreu lamentavelmente no 1º de Maio de uma outra central , que a pauta da classe trabalhadora agora é fazer campanha para impedir a inflação é entrar no jogo de banqueiro internacional. Querem que aumente a taxa de juros e demitam trabalhadores para controlar a inflação - afirmou o sindicalista.

Por outro lado, Freitas cobrou o governo federal e ameaçou fazer greves se a pauta de reivindicações da central não for atendida. Entre as propostas, está a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e o fim do fator previdenciário.

- Que nos ouça bem o governo. Não adianta vir para negociação para dizer não para tudo. Tem de vir para negociação, mas tem de atender aos interesses dos trabalhadores. Se não atender, nós vamos para rua, vamos fazer greve, enfrentamento e manifestação. Até dobrar para que atenda - discursou Freitas, também diante dos ministros Gilberto Carvalho e Manoel Dias ( Trabalho).

Para um público estimado pelo Polícia Militar entre 20 e 25 mil pessoas, Freitas acusou o governo de privilegiar os empresários.

- Para os empresários, já tivemos várias benesses. Para os trabalhadores, está faltando um olhar mais atento.

Em ato político da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em São Bernardo (SP), foi feita coleta de assinaturas para a apresentação de um projeto de iniciativa popular de controle da mídia.

Fonte: O Globo

Inflação deve insuflar greves

Com altos índices de inflação, negociações salariais devem se tornar mais complicadas neste ano

Situação é pior porque população não vê perspectivas de inflação abaixar

SÃO PAULO - A inflação alta deve tornar mais difíceis neste ano as negociações de reajuste salarial entre patrões e empregados, o que pode resultar em aumento do número de greves no país, de acordo com especialistas ouvidos pela Agência Estado. "Com inflação em alta e crescimento da produtividade em ritmo menor, a tendência é de que as discussões sobre salários entre empresas e sindicatos sejam mais acaloradas", disse o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. "Com isso, a gente pode ver mais greves em 2013."

O quadro pode se agravar porque não há nem sequer perspectiva de que a pressão inflacionária decorrente do mercado de trabalho aquecido vá desacelerar, segundo o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC).

Para ele, reduzir as pressões inflacionárias advindas do aumento do rendimento dos trabalhadores passaria por: 1) convencer as pessoas de que BC vai buscar trazer a inflação para o centro da meta (4,5%) ou 2) provocar uma desaceleração econômica que leve a um aumento do desemprego. "Nenhuma dessas alternativas está sendo buscada", afirmou. "A conclusão, portanto, é de que a inflação não vai desacelerar."

Em março, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 6,59% em 12 meses. O centro da meta do BC é de 4,5%, com tolerância de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. Essa alta acumulada, no entanto, deve ceder até o fim do ano, para 5,71%, de acordo com a pesquisa Focus divulgada nesta semana pelo BC.

"É provável que as empresas voltem a negociar abaixo da inflação", disse o gerente sênior da área de Gestão de Capital Humano da Deloitte, Fábio Mandarano. Segundo ele, as empresas vão buscar compensar um reajuste menor com aumento, por exemplo, na Participação nos Lucros e Resultados (PLR). "Porém, com certeza vamos ter um acirramento das tensões."

O economista Fabio Romão, da LCA, concorda. Segundo ele, o rendimento médio real dos trabalhadores deve cair neste ano por causa da pressão inflacionária e do menor ganho real do salário mínimo. Ele lembrou que o mínimo cresceu 2,7% neste ano ante expansão de 7,5% em 2012.

O sociólogo e professor de Relações do Trabalho na USP, José Pastore, disse que as negociações salariais neste ano vão ser "duras". Ele explicou que as últimas discussões terminaram em aumento expressivo dos salários porque o Brasil vive um tempo de falta de mão de obra. "Quando falta mão de obra, os sindicatos têm mais poder de barganha."

Já o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, tem uma perspectiva mais otimista, de que as negociações coletivas melhorem ano a ano. Ele citou, por exemplo, que 95% das categorias tiveram aumento acima da inflação em 2012.

Fonte: O Tempo (MG)

Inflação toma lugar de emprego no 1° de Maio

Com mercado de trabalho aquecido, centrais sindicais e presidente Dilma trocam questão salarial pelo tema da alta de preços, que ameaça poder de compra.

Indexação salarial volta ao debate

Força Sindical sugere reajuste trimestral, mas ministro garante que presidente "zela como uma leoa" para conter alta de preços

SÃO PAULO - Com o desemprego no menor patamar desde 2002, a inflação se tornou o alvo de críticas nas comemorações do Dia do Trabalho no país. No meio de discursos contra a política econômica do governo, Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, defendeu reajustes trimestrais atrelados à inflação.

O ministro do Trabalho, Manoel Dias, afirmou que "não considera necessária" a reivindicação do deputado Paulinho da Força, também de seu partido, o PDT, de criar um mecanismo de indexação dos salários.

– Não considero hoje necessário porque pode estimular a inflação – afirmou ao chegar ao 1º de Maio Unificado, evento organizado pela Força Sindical em parceria com outras centrais.

A presidente Dilma Rousseff optou por ficar de fora das comemorações do Dia do Trabalho organizadas por centrais e fez um pronunciamento oficial, transmitido à noite (leia ao lado). Como representante da presidente no 1º de Maio Unificado, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que Dilma "zela como uma leoa" para defender os trabalhadores e conter a alta inflacionária.

Presente no mesmo evento, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), possível adversário de Dilma na disputa eleitoral do próximo ano, afirmou ser contra a proposta de criar um mecanismo de indexação dos salários dos trabalhadores, mas criticou a gestão petista por essa proposta retornar ao debate.

– Esse tema volta à discussão exatamente porque o governo do PT vem perdendo o controle sobre a inflação. Várias propostas vão surgir, inclusive essa da Força. Não é a minha, eu não sou a favor da indexação – afirmou Aécio, acrescentando que "não podemos permitir que o fantasma da inflação volte a rondar a mesa do trabalhador".

Em outra comemoração também em São Paulo, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) reforçou a luta pela redução da jornada de trabalho e pela não aprovação do Projeto de Lei 4.330, de 2004, que permite a terceirização nas empresas.

– Esse projeto é ruim para o Brasil. Ele vai fazer com que não se tenha nenhuma regulamentação do mercado de trabalho – disse Vagner Freitas, presidente da CUT.

A CUT e o ministro Carvalho anunciaram que o governo abrirá uma mesa de negociação permanente com as centrais trabalhistas. As conversas começam no dia 14 de maio. Um dos temas será exatamente o debate sobre o projeto da terceirização.

Fonte: Zero Hora (RS)

MD - Esquerda Democrática - Alberto Aggio

Há uma novidade no cenário político: a Mobilização Democrática (MD), partido que nasce da fusão do PPS e do PMN, em nível nacional. A discussão a respeito da fusão destes dois partidos é antiga, mas foi precipitada pelo casuísmo do governo federal ao colocar em votação medidas que inviabilizariam a transferência de parlamentares entre partidos, mesmo que fosse para um novo partido, como permite a lei. Na prática, caso essa iniciativa patrocinada pelo governo obtivesse êxito, seriam garantidos mais recursos e tempo de TV à candidatura de Dilma Rousseff e estariam inviabilizados partidos novos, como a REDE de Sustentabilidade, liderada por Marina Silva. Vitoriosa na Câmara Federal e em suspensão no Senado, a ameaça ainda é latente.

Contra esta violência, antecipou-se a criação da MD. Quando o PPS nasceu em 1992, em razão do esgotamento do PCB, a perspectiva era a de se construir uma força política ampla e plural, agregando setores progressistas da esquerda democrática. Duas décadas depois, a MD nasce, num outro contexto, mas mantém a mesma perspectiva: elaborar com a sociedade um projeto alternativo para o Brasil.

Como um partido que visa ser identificado como esquerda democrática, a MD se diferencia claramente da visão que fundamentou o “socialismo” soviético bem como daquela insensatez das guerrilhas identificadas com a Revolução Cubana de 1959, que levou muitos jovens no Brasil e na América Latina a um inútil sacrifício em décadas passadas. A MD estabelece também uma distância regulamentar em relação ao bolivarianismo, em qualquer de suas versões, uma vez que este tem revelado muito pouco apreço às regras e aos valores da democracia, elementos essenciais para uma esquerda democrática.

Por fim, a MD se contrapõe claramente ao “estranho projeto de esquerda” encabeçado pelo PT e sancionado nas três últimas eleições presidenciais. Um projeto que tem marketing e personagens de esquerda, é secundado pela centro-direita (PMDB) e se apoia, sobretudo, em lideranças advindas dos setores oligárquicos do atraso brasileiro; em suma, se sustenta com o apoio da direita brasileira. O resultado dos últimos anos tem sido o de alguns avanços, como o ingresso de mais pessoas no mercado de consumo (o que ocorre igualmente ao redor do mundo), mas tem-se mostrado desastroso para o país porque tem aprofundado a desindustrialização, vem sendo leniente com a inflação, o que resulta no endividamento das famílias, e, por fim, se sustenta num assistencialismo de motivação eleitoral, desfigurador da livre cidadania. Isso sem mencionarmos a chaga da corrupção, que empurrou, pela primeira vez, a esquerda para as páginas do noticiário policial e para a barra dos tribunais.

Contra esse estado de coisas, a MD, assumindo integralmente a necessária e estratégica conexão entre democracia e modernidade, quer se constituir como um instrumento de ação política de caráter reformista, capaz de afirmar a construção democrática brasileira como um novo modelo de estado social, econômico e cultural. Os termos para isso estão dados pela Constituição de 1988, cujos institutos e atributos possibilitam à cidadania se organizar e lutar por soluções positivas e inovadoras para seus problemas. Para a MD, tais soluções devem fincar os pilares de um novo futuro para o povo brasileiro.

Alberto Aggio é professor da Unesp-Franca

Assinaturas para o partido de Marina – Raimundo Santos

Com o Pacote de Abril, o bloco do PT e aliados pretendem levar o processo eleitoral ao cenário mais conveniente da polarização entre o governo e um PSDB isolado. As restrições à criação de partidos viriam enfraquecer as candidaturas oposicionistas e impedir a entrada de novos nomes na disputa. Entretanto, até aqui, o movimento não conseguiu restringir a efetividade da vida política aos grandes partidos oficiais (PT e PMDB).

Ao contrário, esbarrou na reação do PSB, PSDB, PSOL, Marina, rebeldes do PMDB, líderes do PDT e do PV e os Mdemocráticos (MD) do deputado Roberto Freire.

Essa resistência do mundo partidário (ver a derrubada da urgência para a votação do Pacote de Abril no Senado e a arguição da sua inconstitucionalidade no Supremo) vem desenvolvendo nas oposições o que ao governo lhe parecia posse natural: a iniciativa política.

Ainda de curso incerto (pois não foram mobilizados a toda linha os recursos do ex-presidente da Luiz Inácio Lula da Silva e do governo), abre-se a possibilidade de convergências pluripartidárias contra o atual sistema de governo. Contra um sistema – este é o dado básico do pleito de 2014 – que não é de um governo de andamento compromissado com a alternância no poder. Na circunstância que vivemos, esse descompromisso pode se potenciar por meio de uma pregação populista de confronto entre pobres contra ricos, como já se viu e vez por outra se vê em verbalizações do ex-presidente da República.

No contexto das reações ao Pacote de Abril, tanto os partidos que apoiam a Rede Sustentabilidade quanto a própria Marina (PRS) vêm se fortalecendo. Ela tem, nas ações dos senadores oposicionistas e ainda em uma possível coleta pluripartidária de assinaturas para a constituição legal do PRS, momento para conferir o valor da política na versão atual e viva do agir de protagonistas unidos por causa comum. Ao promoverem esse mutirão político, por sua vez, os partidos de oposição mostram desprendimento, sinalizando propensão a atuar ao modo do MDB (fazendo-se aqui uma imagem, guardadas as diferenças de tempos e proporções), no sentido de uma aproximação de mais alento.

Uma ação pluripartidária pró-PRS já não se limita a uma movimentação destinada a provocar o segundo turno do pleito de 2014. À medida que os seus apoiadores valorizem as eleições como um "grande campo", no dizer de Armênio Guedes,{1}  ela pode se desdobrar como oportunidade para as oposições, mediante competição eleitoral e realinhamentos, em primeiro e principal lugar, assegurarem a pluralidade político-partidária do país.{2}   E, na sua perspectiva de vitória, agora já seria boa ocasião para trabalharem em uma concentração de energias com vistas a um governo de transição, o mais amplo (inclusive com áreas hoje no governo Dilma) que supere a Era Lula.

A coleta de assinaturas para a Rede Sustentabilidade se ampliará muito com a participação das militâncias dos outros partidos no trabalho dos sete mil voluntários mobilizados pela ex-senadora. A ideia circula entre os Mdemocráticas (MD) entendida como um gesto próprio da cultura política do PCB, campo de larga tradição em apoiar, sobretudo nas eleições,“candidatos da frente única,” quando interesses gerais, como agora, sobrepõem-se a interesses corporativos de partido.{3}

O PT e Lula não acreditam que a política, que tanto menosprezam em falas e atos, pode vir a derrotá-los.
Os governos militares não conseguiram anular por completo o mundo político que restara após o golpe de 1964, aliás, no confronto com ele, o regime forte foi se debilitando ao longo do tempo, até ser derrotado, justamente no plano da política, no Colégio Eleitoral.

O PT e Lula resistem a tirar as consequências do fato de este pais ser um pais de grande diversificação, sociedade civil multifacética, incontável número de instituições públicas (políticas, estatais, paraestatais, partidárias, não-governamentais), variadíssimo voluntariado (a pontilhar todo o território nacional), produções e associativismos culturais os mais diversos, meios de comunicação livres, os principais deles, cultos. Não conseguem ver que é nessa complexidade que a política tem o seu lastro e resistência.

Daí, a questão de compreensão mais difícil para o ex-presidente Lula e o PT: o Estado democrático de direito. Recusam-se a aceitá-lo plenamente, sem reservas. Não é ocasional que a ele se confrontem frequentemente, justificando suas atitudes negativas da política democrática apelando para imperativos de ideologizações mudancistas.

[1] Com a ideia de “grande campo”, o quadro político pecebista se referia, no distante ano de 1970, ao papel ativo das oposições nas difíceis eleições dos anos de chumbo; citado recentemente por este blog. Ver também Guedes, 2012.
[2] Os resultados das eleições municipais do passado já haviam realçado o PSB, pondo-o  como elemento pluralizante de um quadro partidário, na Era Lula, sob forte pressão cooptante.
[3] Acerca do conceito de corporativismo de partido, ver Mathias (1957; 1978).


Referências bibliográficas

Guedes, Armênio. O marxismo político de Armênio Guedes, edits. Contraponto/FAP, dezembro de 2012.
Mathias, Eric. Kautsky e o kautskismo (1957). In Kaustky, C. La revolución social/El camino del
poder. México: Cuadernos Pasado y Presente, 1978.


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Raimundo Santos é professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

A democracia - Giovanni Menegoz

A democracia è uma categoria histórica. Sua configuração se constitui em cada momento de vida política e social a partir dos valores não históricos, mas universais, da liberdade, igualdade e solidariedade, mais precisamente da maneira como os indivíduos passam a se relacionar entre si na sociedade em base a sua interpretação daqueles valores.

Por isso que para entender o significado de democracia não é suficiente simplesmente nomeá-la sem mencionar os aspectos concretos que a tornem inteligível em cada fase histórica. Por exemplo, quando hoje falamos de democracia nos referimos a um determinado sistema político baseado na representatividade. Trata-se da democracia republicana como alguns a define. Outros preferem chamá-la de democracia liberal.

Outros, simplesmente, de democracia representativa. Não sei como Tocqueville, mencionado pelo Prof. Alberto Aggio, encarava a democracia, se sistema democrático representativo, como meta ideal, perfeita e não modificável, ou, por outro lado, como etapa (certamente importante) no ordenamento político edificado pelos indivíduos ao longo da história. Porque o problema reside justamente nisso.

No mundo em que vivemos hoje - estou falando logicamente daqueles países que são democráticos e não submetidos à ditaduras - o que se questiona não é a possibilidade de que a democracia (que temos) venha a regredir, substituída por regimes ditatoriais.

Em questionamento está a própria democracia historicamente formada e existente hoje, resultado das lutas importantes do passado para chegar a ela. O que se vé - e aqui está o erne do problema - è que a democracia hoje tem dificuldades de dar respostas aos anseios da sociedade que pressiona sempre mais para maiores direitos íde liberdade, igualdade e solidariedade.

E, portanto, entre os problemas postos no mundo atual, que exigem o envolvimento das forças políticas, da intelectualidade, do mundo acadêmico, e de todos os que têm consciência a respeito, está precisamente a necessidade de repensar a democracia, firme restando que o ponto de partida deve ser o sistema político de hoje, resultado dos avanços até agora conseguidos no campo da democracia, a qual não poderá sofrer regressões.

Este è o desafio, a meu ver, que se impõe hoje para que se possa avançar nesta importante questão, de modo que se possa retomar o caminho em direção a um mundo melhor. Já perguntei em uma minha intervenção precedente, de que forma a esquerda encara este problema? A democracia è "igualdade+liberdade", ou "liberdade mais igualdade", sendo que o termo que vem depois do +deve ser visto como secundário, distinto, corolário do primeiro? Ou talvez seja outra coisa?

É exatamente nas respostas a isso que vamos descobrir o que diferencia a direita da esquerda e, portanto, justificar e validar como atuais estas categorias.

Giovanni Menegoz, ensaísta e tradutor

Dirceu pede saída de Barbosa da relatoria do mensalão

Defesa do ex-ministro entrou com embargo no STF para reduzir pena de 10 anos e 10 meses e mudar acórdão

Condenado a 10 anos e 10 meses de prisão no processo do mensalão, o ex-ministro José Dirceu pediu o afastamento do presidente do STF, Joaquim Barbosa, da relatoria dos autos da ação e a redistribuição de seu recurso para outro ministro. Dirceu foi condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha. Em embargo de declaração protocolado ontem no Supremo, a defesa do ex-ministro pede a redução da pena, chamada de contraditória e ilegal, e a reforma do acórdão do processo, atribuindo a Barbosa, que era o relator, "contradições, omissões e supressões inadmissíveis". Os advogados alegam "grave prejuízo" a supressão das falas dos ministros Luiz Fux, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. No STF, a expectativa é de que o argumento seja rejeitado. Barbosa não comentou.

José Dirceu pede saída de Barbosa da relatoria do mensalão e pena menor

Revolta. Em recurso apresentado ontem, defesa do ex-ministro da Casa Civil afirma que há omissões e erros materiais graves no acórdão do julgamento, cuja relatoria foi do presidente do Supremo; ofensiva coincide com ações de petistas no Congresso para emparedar a Corte.

Fausto Macedo

Na estratégia mais ousada desde que o processo do mensalão começou a ser julgado em agosto de 2012, o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), condenado a 10 anos e 10 meses de prisão por corrupção ativa e quadrilha, pediu em recurso protocolado ontem o afastamento de seu algoz, o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), da relatoria dos autos da ação penal 470 e sua redistribuição para outro ministro.

A defesa de Dirceu, em embargos de declaração, pede a redução da pena e a reforma do acórdão do mensalão, atribuindo ao relator Barbosa, "contradições, omissões e supressões inadmissíveis". Á ofensiva de Dirceu se dá no momento em que parlamentares do PT tramam emparedar o Supremo por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 33 que submete atos da Corte ao Congresso. A PEC, por Barbosa definida como uma forma de desmoralizar a democracia, é de autoria do deputado Nazareno Fonteles (PT/PI). Há uma ala no PT ligada a Dirceu, com expoentes na Câmara, que considera o julgamento um ato político.

"A supressão das manifestações dos ministros prejudicou imensamente a compreensão do acórdão, inviabilizando a plena ciência da fundamentação adotada pelos julgadores da causa", afirma a defesa de José Dirceu, subscrita pelos criminalistas José Luís Oliveira Lima, Rodrigo Dall´Acqua e Ana Carolina Piovesana.

O presidente do STF não quis comentar o pedido de Dirceu para que ele seja afastado da relatoria do caso. No STF, a expectativa de ministros e assessores consultados pelo Estado é de que o requerimento seja rejeitado. Em outras ocasiões, réus do mensalão já tinham pedido o afastamento de Barbosa, mas fracassaram. No tribunal, a tendência é manter grande parte das condenações impostas aos mensaleiros. Eventuais mudanças poderão ser feitas apenas no cálculo das penas.

Ga advogados de Dirceu pedem redução da pena base sob o argumento de que é contraditória e ilegal. Alegam "grave prejuízo" causado por supressões de trechos das falas dos ministros. "O acórdão foi contraditório ao exacerbar a pena duas vezes pelo mesmo fundamento. Tal contradição é inadmissível e viola entendimento do STF."

O recurso coloca como "questão preliminar" o deslocamento da relatoria. "Considerando que o relator assumiu a Presidência do STF estes embargos de declaração devem ser redistribuídos para outro ministro." No recurso de 46 páginas, a defesa cita supressão da fala dos ministros Luiz Fux, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. "Muito além da ofensa ao regimento interno dessa Corte a supressão das manifestações dos ministros fere o princípio constitucional da fundamentação das decisões judiciais. Requer-se que seja sanada a omissão, publicando-se as transcrições."

"O voto (do relator) baseou-se na alegação de que Dirceu "valeu-se das suas posições de mando e proeminência tanto no PT quanto no governo federal". O voto incorreu em patente contradição no momento em que aumentou a pena no patamar de um. sexto pelo fato de Dirceu ter ocupado papel proeminente na quadrilha. Além de contratar a jurisprudência da Corte, o uso de uma mesma circunstância para majorar a pena em fases distintas da dosimetria é considerado ofensa ao princípio do "non bis in idem" (princípio jurídico segundo o qual o réu não pode ser condenado duas vezes pelo mesmo delito)."

A defesa também aponta "erro material" grave no acórdão.

Há datas diferentes para a morte do presidente do PTB José Carlos Martinez, ocorrida em 3 de outubro de 2003 - o relator anotou dezembro daquele ano, A defesa exige a correção porque em novembro de 2003 entrou em vigora Lei 10.763, que modificou a pena dos crimes de corrupção ativa e passiva. / Colaborou Mariângela Gallucci.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Uma PEC para desautorizar o STF - Eugênio Bucci

Tudo caminha "nos conformes" para a aprovação, agora no início de junho, da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que restabelece a obrigatoriedade do diploma de jornalista para quem queira trabalhar na imprensa. Depois de uma semana particularmente movimentada, em que políticos e magistrados falaram em "crise" entre o Poder Legislativo e o Poder Judiciário - o vice-presidente da República, Michel Temer, preferiu chamar o episódio de "pequeno incidente", dando-o por encerrado -, eis aqui uma iniciativa parlamentar nada amistosa, Por meio dela, deputados e senadores não apenas contestam, mas trabalham abertamente para sepultar uma decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal (STF).

Perto dessa PEC, os fatores que geraram o mal-estar na semana que passou - como o projeto que, se aprovado, deveria levar a República a simplesmente fechar o Supremo, nas palavras do ministro Gilmar Mendes - são café pequeno. Aliás, não foi custoso deixá-los para trás, depois que as cúpulas dos dois Poderes confraternizaram para acertar seus ponteiros. Com a PEC restauradora do diploma obrigatório para o exercício do jornalismo a conversa é mais séria e ficará mais séria ainda. Contrariando o julgamento proferido legitimamente pela Corte Suprema, a PEC do diploma, como já se tomou conhecida nos corredores do Congresso Nacional, uma vez aprovada, vai produzir um novo e mais constrangedor impasse entre os dois Poderes.

Recapitulemos a história. No dia 17 de junho de 2009, por ampla margem (8 votos contra 1), os ministros do STF derrubaram a exigência do diploma de curso superior de Comunicação Social com habilitação em jornalismo para a prática da profissão. A decisão atendia, então, ao Recurso Extraordinário 511.961, movido pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Sertesp) e pelo Ministério Público Federal (MPF). Gilmar Mendes, designado relator do caso, entendeu que o Decreto-Lei 972/69, editado durante a ditadura militar, o tal que impôs o diploma obrigatório, afrontava a Constituição federal. Naquela sessão, o único voto contrário ao relator veio do ministro Marco Aurélio Mello.

Para que o leitor acompanhe melhor o raciocínio dos ministros do Supremo na ocasião, podemos resumir aqui o argumento que prevaleceu, Sua lógica é cristalina: nenhum obstáculo de ordem legal deve impedir o cidadão de criar publicações jornalísticas ou de se manifestar publicamente em qualquer veículo. Se um grupo de pescadores ou de moradores de rua pretende criar seu próprio jornal, na internet ou em papel, tanto faz, não deveria precisar contratar um "jornalista responsável" para isso. Qualquer pessoa deve ser livre- para criar seu próprio órgão de imprensa. A liberdade, enfim, não deve ser limitada por um "filtro legal" - e a exigência do diploma, aos olhos do Supremo, é um filtro, um obstáculo, uma barreira incompatível com o sentido profundo da Constituição federal A obrigatoriedade, instituída em 1969, tinha um objetivo tão claro quanto autoritário: controlar de perto, por meio dos registros no Ministério do Trabalho, todos os que estivessem empregados em jornais. Só servia à ditadura. Agora, na democracia, não tem sentido. Exatamente por isso, não há obrigatoriedade do diploma de jornalista em nenhuma outra democracia. Isso só ocorreu no Brasil Além disso, a obrigatoriedade do diploma cria um desnível entre os portadores desse diploma e os demais cidadãos: os primeiros teriam mais "liberdade" de atuar na imprensa do que os outros cidadãos o que resulta num privilégio francamente inconstitucional.

Após a decisão daquele 17 de junho de 2009, portanto, a Nação deveria compreender que a questão estava encerrada. Transitada em julgado. Foi então que a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), movida pelo interesse - que, de resto, é legítimo - de proteger o emprego de seus associados (diplomados), vislumbrou um atalho para desfazer o julgado. A estratégia foi mais ou menos a seguinte: ora, se o Supremo diz que a exigência estabelecida pelo decreto de 1969 é inconstitucional, basta escrever a mesma exigência na Constituição - aí, a coisa fica devidamente constitucional Isto posto, naquele mesmo ano de 2009 a PEC do diploma entrou em tramitação. E vai muito bem. Em agosto do ano passado foi aprovada no Senado com um placar esmagador: 60 votos contra apenas 4.

Há quem se empolgue. Há quem acredite, candidamente, que ela vem para derrotar as intenções escorchantes dos patrões malvados que apoiaram a ditadura. O engano é imenso: a pior imprensa que o Brasil já teve, a mais submissa, a mais covarde, a mais mentirosa, aquela que sorriu para a censura e se sujeitou a publicar que brasileiros assassinados em sessões de tortura tinham morrido em tiroteios sempre se deu muito bem com a exigência do diploma. Outro equívoco, igualmente imenso, é supor que os jornais de hoje, que estão aí lutando para merecer o tempo e o dinheiro de seus leitores, têm planos de contratar analfabetos para redigir editoriais.

Nenhum desses argumentos para em pé. A única razão real para a defesa da PEG do diploma é a proteção corporativista dos sindicatos de jornalistas que, aliás, já não congregam os profissionais de imprensa. Um levantamento realizado Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina (cm convênio com a Fenaj), que acaba de ser publicado, mostra que, dos jornalistas brasileiros, apenas 25,2% (entre os quais este articulista) são filiados a sindicatos.

Sem nenhuma sustentação de interesse público, a aprovação da PEC do diploma é prejudicial para a qualidade da imprensa e para a normalidade institucional Mais cedo ou mais tarde, o Supremo será chamado a julgar a constitucionalidade da nova emenda. Vem aí outra queda de braço entre magistrados e parlamentares.

Obrigatoriedade do diploma de jornalistas é prejudicial para a qualidade da imprensa.

Jornalista, é professor da ECA-USP da ESPM.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Sinais - Merval Pereira

As vaias que a presidente Dilma levou em Mato Grosso do Sul e a faixa estendida ontem na manifestação do dia 1º de Maio em São Paulo, pedindo a volta de Lula, informam que os dias de bonança podem estar chegando ao fim e que ela terá, daqui para frente, maiores dificuldades no caminho para a reeleição, que ainda lhe é amplamente favorável, mas começa a se mostrar pelo menos mais árduo.

Lula navegou com os bons ventos da economia internacional e contou com seu inegável carisma pessoal para amealhar popularidade inigualável, num contexto de total fraqueza das oposições, divididas, fragmentadas e sem força alguma, sem discurso e sem alternativas. O Bolsa Família, o uso da máquina pública, e o contato direto com as classes menos favorecidas foram instrumentos essenciais à governança do período Lula, e também para a eleição de sua sucessora.

Dilma, diferentemente de Lula, enfrenta períodos mais difíceis na economia internacional, além de ter herdado os gastos do governo Lula, muitos dos quais dedicados à continuidade de um projeto de poder que teve como beneficiária a própria Dilma.

Tendo chegado ao poder como a grande gestora, Dilma não consegue destravar a agenda de desenvolvimento. A inflação começa a bater no bolso do eleitorado, e a oposição, com Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva, saiu de um torpor paralisante, prometendo um horizonte de muita luta e dificuldades à candidata favorita, especialmente num eventual segundo turno nas eleições de 2014, onde forças significativas podem aparecer unidas pela primeira vez nos últimos anos.

As pesquisas eleitorais, que hoje demonstram o favoritismo de Dilma, já começam a emitir sinais de que os reflexos da inflação podem ser sentidos na redução dos índices positivos, que continuam majoritários, mas em tendência de baixa. Se em algum momento explicitarem uma queda de popularidade, os desdobramentos políticos podem ser inevitáveis, quando até mesmo na base governista começam a se fortalecer dúvidas sobre o governo de Dilma.

"Quem viver verá", sentencia Eduardo Campos, cada vez mais convencido de que é capaz de causar grande estrago no eleitorado do governo. A ex-senadora Marina Silva caminha para ter uma vitória política na sua luta pelo novo partido, e é provável que ganhe do Supremo as mesmas garantias dadas ao PSD, permitindo que parlamentares que saiam de partidos levem consigo para a REDE um percentual do tempo de propaganda e do Fundo Partidário.

O senador Aécio Neves, futuro presidente do PSDB e seu candidato potencial, é muito mais leve, e tem mais credibilidade como negociador e fiador de acordos. A decisão do eleitor vai depender muito da economia, mas outros fatores, como o desgaste de certas figuras no Poder, podem pesar.

Embora a presidente Dilma esteja empenhada na divulgação de uma trapizonga chamada "caxirola", nada indica que vencer uma Copa do Mundo influa no resultado de uma eleição. Só para ficar nos resultados mais recentes: em 1998, o Brasil perdeu a Copa e Fernando Henrique se reelegeu. Em 2002, o Brasil foi campeão do mundo e Lula derrotou Serra, o candidato oficial. Em 2006, o Brasil perdeu e Lula se reelegeu, o mesmo acontecendo em 2010 com Dilma, que se elegeu apesar da derrota do Brasil. Mas uma eventual derrota dentro do próprio país pode ter repercussão no ânimo do eleitorado, ainda mais se houver problemas com nossas combalidas infraestruturas de aeroportos e transportes nas cidades da Copa.

O jogo começou cedo, o que normalmente não é bom para o governo, permite que as oposições se organizem com maior vigor. No campo governista, a faixa de um manifestante da Força Sindical, onde se lia "Volta Lula, eu era feliz e sabia", parece resumir o estado de espírito de muita gente importante neste momento em que a inflação já entrou até mesmo no palanque.

A defesa do "gatilho salarial" pelo sindicalista Paulinho da Força é populismo dos mais deslavados, e foi repudiado pelo tucano Aécio Neves. Mas é sinal de que o cenário pode estar mudando.

Fonte: O Globo

Escapando das armadilhas - Eliane Cantanhêde

A pressão funcionou e o Congresso pôs duas propostas incendiárias em banho-maria: a que tira do Supremo a última palavra em algumas questões e a que subtrai o poder de investigação do Ministério Público. Mas uma terceira ainda está pegando fogo --a que asfixia novos partidos.

A proposta sobre o Supremo passou a ser uma guerra retórica no próprio Congresso e a que restringe o Ministério Público ganhou uma dessas comissões criadas para dar em nada. Nos dois casos, prevaleceram os bombeiros do Legislativo, do Judiciário e até do Executivo (caso do ministro da Justiça).

Já o projeto que atinge a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, o Solidariedade, de Paulinho da Força Sindical, e a Mobilização Democrática, da fusão PPS-PMN, gerou romarias ao Supremo, pró e contra, mas não se chegou a uma conclusão, ou a um jeitinho para entrar na gaveta.

O natural seria que ficasse, antes de mais nada, nas mãos do Senado Federal. Se a aprovação foi mole na Câmara, poderá não ser tanto assim no Senado. Além da oposição, em franca minoria na Câmara e no Senado, são contra o projeto parte da bancada do PMDB, outros aliados governistas e gente do próprio PT, a começar do líder Wellington Dias (PI) e do senador Jorge Viana, acriano e velho amigo de Marina.

Aliás, se um dia houve dúvidas sobre a oportunidade e o real interesse no projeto, deixou de haver quando a cúpula do PT tentou pressionar Dias e Viana pela aprovação. Ela, a cúpula, não dá um espirro sem combinar com Lula, fiel depositário dos interesses do partido e do futuro de Dilma.

Mesmo assim, o melhor seria inverter a ordem imposta pelo ministro Gilmar Mendes, que suspendeu a tramitação do projeto e vem sendo acusado de interferência em atos processuais internos do Congresso. Primeiro, o Senado deveria votar. Só depois, se fosse o caso, o Judiciário julgaria. Mas isso depende de algo que anda em falta: bom-senso geral.

Fonte: Folha de S. Paulo

Lenda urbana - Dora Kramer

Jogo combinado ou não - provavelmente não fato é que na hora em que o senador Aécio Neves propõe o fim da reeleição e a instituição do mandato de cinco anos, o ex-governador José Serra preparava mais um entre os vários artigos que já publicou em defesa da mesma tese.

O verbo está no passado porque Serra pode ter resolvido suspender o trabalho para não dar a impressão de que embarca em canoa conduzida por Aécio. Tucanos são cheios de idiossincrasias, sensibilidades à flor da pele. Verdade que a autoria está registrada em declaração de Serra quando candidato: na campanha de 2010 disse com todos os efes e erres que, se eleito presidente, lutaria pelo fim da reeleição e a instituição do mandato de cinco anos.

Era contra, argumenta, desde sempre. Assim como Mário Covas, Serra achava que não era por aí, mas acabou se rendendo à ideia patrocinada pelo então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, de dar ao PSDB uma garantia de mais um mandato. "Para consolidar o projeto" e proporcionar ao eleitor a chance de replicar a aposta feita na eleição anterior.

A intenção, dizia-se na época (1997), era a de assegurar a execução do projeto da estabilidade econômica em um governo que necessitava de mais tempo para consolidar o seu projeto.

Perfeito. Mas, é de se perguntar o que mudou a essência do conceito em 16 anos e quatro eleições presidenciais depois. Nada, a não ser os destinatários do, digamos, benefício.

Se a questão era conceituai, se, como alegaram os inventores, não havia intenções oportunistas por trás da proposta, não há razão alguma para "desinventar" a obra.

A reeleição propicia o uso da máquina estatal em prol dos detentores do poder? Sem dúvida, mas a prática nefasta é anterior a ela. O abuso não é produto da reeleição. Vem de antes e diz respeito ao maior ou menor grau de desfaçatez dos governantes no manejo dos instrumentos de poder. Acabar com ela não acabará com a improbidade.

Portanto, o argumento é um sofisma. E, no caso específico, uma proposta vazia, cujos proponentes sabem que não tem a menor chance de prosperar. Governantes atuais estão muito bem, obrigados, na posse dessa prerrogativa.

Trata-se de uma lenda urbana a ideia de que a reeleição possa vir a ser extinta. No momento, proposta apenas como uma forma de os concorrentes à Presidência trocarem entre si mensagens de apreço para, jogando no tabuleiro a data de 2018, facilitarem acertos em 2014.

Identidade. O carimbo de "regular" com que o Senado chancela o pagamento de quase R$ 15 mil de salários a garçons diz respeito à irregularidade dos parâmetros do poder público em relação aos trabalhadores da iniciativa privada.

Piloto. Em tese, a nomeação de Guilherme Afif Domingos para o Ministério das Micro e Pequenas Empresas nada tem a ver com o apoio do PSD ao governo federal.

Na prática, Gilberto Kassab está informado sobre o tema: aposta que Afif deverá ser anunciado como ministro hoje, por ocasião da posse da nova diretoria da Associação Comercial de São Paulo.

Na carne. Ainda sobre Kassab: o ex-prefeito de São Paulo tem certeza de que, para a Justiça, a fusão de legendas não quer dizer o mesmo que criação de um novo partido. Quem entrar na agremiação resultante de junção do PPS com o PMN corre, sim, o risco de perder o mandato. "Sei disso porque tentei e não consegui", diz Kassab cujo plano antes de se decidir pela criação do PSD seria a fusão do DEM com o PMDB ou com o PSB.

Fim da reeleição não tem chance de prosperar a não ser como conversa fiada.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O "fico" de Serra - Tereza Cruvinel

O momento, para os tucanos, é de declarar guerra ao governo (como fez Aécio Neves ontem, na festa da Força Sindical) e selar a paz interna. Espera-se no partido que hoje, na convenção da seção paulista, o ex-governador e ex-ministro José Serra deixe claro que não sairá do PSDB para se filiar ao Mobilização Democrática nascido da fusão PPS-PMN. Naturalmente ele não pronunciará o "fico": assim como os maridos, um político não confessa ao partido que pensou em abandoná-lo. A pacificação teve início com as articulações do governador Geraldo Alckmin para garantir ao grupo serrista o comando do partido na capital e avançou a partir da conversa dura e franca entre Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O grupo aecista fez também os pequenos mas necessários gestos de afago a Serra, avisando que, acertadas as arestas, o ex-governador será prestigiado e valorizado pelo novo comando partidário, que terá o próprio Aécio na presidência, segundo seus apoiadores para facilitar sua movimentação como pré-candidato. Exemplo de um afago com endereço certo, o beliscão do presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana, no pré-candidato do PSB, governador Eduardo Campos, lembrando-lhe que seu slogan "é possível fazer mais" não passa de uma variação do lema "o Brasil pode mais", adotado por Serra em sua disputa com Dilma em 2010.

Na conversa da semana passada, Fernando Henrique fez uso da velha amizade com Serra, iniciada nos anos de exílio no Chile, para lhe dizer, com toda franqueza, que sua resistência à candidatura de Aécio e a hipótese de trocar o PSDB pelo MB revelavam um grande egoísmo partidário. O PSDB lhe possibilitou, teria recordado FH, sem criar qualquer dificuldade, disputar todos os cargos que quis, inclusive a presidência por duas vezes. E embora discordando da estratégia, aceitou que ele renunciasse à prefeitura paulistana, depois de dois anos no cargo, para concorrer ao governo do estado, deixando a seguir de disputar a reeleição para concorrer novamente à presidência em 2010. Agora era sua vez de ser recíproco, apoiando a candidatura de Aécio, que não enfrenta contestações internas. Teria ainda argumentado que Serra nada ganharia ao trocar um partido estruturado, de grande capilaridade, como o PSDB, por uma sigla pequena em busca de expansão. Ficando, o PSDB lhe garantiria o papel que quisesse em 2014. Exceto, é claro, o de candidato a governador (porque Alckmin quer se reeleger), o de presidente do partido e o de candidato a presidente, já pactuados pela maioria dos diretórios com Aécio. FH e Serra sempre tiveram uma relação pessoal e política complexa e conflitiva mas, indiscutivelmente, eles se respeitam.

Certamente contribuíram também para o esperado "fico" de Serra o fato de nenhum de seus mais leais seguidores tucanos estarem dispostos acompanhá-lo numa eventual migração para o MB. Isso ele ouviu pessoalmente, por exemplo, do senador Aloysio Nunes Ferreira e dos deputados Jutahy Júnior e Vaz de Lima.

Nova etapa

Confirmado o armistício interno, Aécio terá vencido um dos principais obstáculos à decolagem de sua candidatura. Mesmo preservando as relações amistosas com Eduardo Campos e Marina Silva, daqui para a frente ele tratará de se diferenciar dos dois dissidentes do lulo-petismo. Campos, com sua promessa de "fazer mais", busca passar a ideia de que não é "contra" os governos petistas, acha-se apenas mais competente. Marina, com sua pregação sonhática de que é possível fazer política de outro modo, também fica no campo da terceira-via. Seria apenas mais "pura", embora desejando para seu novo partido o tempo de televisão decorrente da cooptação de deputados de outros partidos. É o que se depreende dos protestos de seus seguidores e aliados contra o projeto de lei que põe ordem nas migrações. Um sinal de que Aécio tem outro plano de voo, como oposição e não como "terceira via", foi seu duro discurso ontem na festa sindical do deputado Paulinho da Força, acusando Dilma de ser tolerante com a inflação. O fogo alto na política econômica, por sinal, é um discurso que agrada a Serra. O teste da unidade será na convenção nacional do próximo dia 19, que colocará Aécio no comando do PSDB, abrindo a nova fase de sua pré-campanha e colocando mais fogo na disputa.

Anistia e Verdade

Finalmente o atual coordenador da Comissão da Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro, disse o esperado pelas entidades que representam vítimas e famílias de vítimas da ditadura: a prioridade é a identificação dos mortos e desaparecidos e a identificação das cadeias de comando do terror. No final, a comissão proporá a revisão da Lei da Anistia, para que possam ser punidos. Ainda que não o sejam, o Brasil Democrático precisar saber quem mandou jogar prisioneiros indefesos na Restinga de Marambaia, para que os jacarés apagassem os vestígios de suas vidas dedicadas à resistência. Ou quem mandou incinerar os corpos dos que foram mortos na Casa da Morte em Petrópolis. Quem comandou tantos horrores mais.

Militares perseguidos

Recebi correspondência da associação dos militares da Aeronáutica que foram punidos porque se recusaram a participar do golpe de 1964, em defesa da Constituição em vigor. Foram anistiados pelo governo Fernando Henrique 40 anos depois, mas em 2003, no início do governo Lula, os comandos militares não aceitaram que fossem reintegrados. A Aeronáutica e o Ministério da Justiça, de uma só vez, anularam 495 anistias. Todos eles, na faixa dos 70 anos, perderam os proventos e os benefícios, como o plano de saúde. No STJ e no STF, as ações recursais não andam. A presidente, tão atenta à verdade e à reparação, poderia conferir.

Fonte: Correio Braziliense

Os seguranças de Eduardo Campos - Denise Rothenburg

Há uma série de relatos sobre o quanto Yasser Arafat (1929 – 2004) era obcecado pela própria segurança. Um deles aponta que o homem tinha duas equipes de vigilância, distintas, desconfiadas uma da outra. O palestino aparece aqui por obra e graça de um interlocutor do governador Eduardo Campos, que aponta uma semelhança entre os personagens. Não do ponto de vista de atuação política, evidentemente, mas do lado comportamental. Algo para lá de específico: a relação com subordinados e correligionários. Desconfiado e disposto a avaliar várias opiniões, o pernambucano sempre trabalha com dois times, jogando em posições diferentes e com estratégias opostas.

Campos ouve argumentos de cada um dos grupos e, dali a pouco, sai com uma tática mista ou independente. Assim o político tem atuado no campo da marquetagem política. Ele atua com quatro especialistas em eleições, que são divididos em duas equipes. De um lado, Duda Mendonça e Antônio Lavareda. De outro, Edson Barbosa e Diego Brandy. O curioso é que, separados em duplas, os especialistas – os dois primeiros de cada time são marqueteiros propriamente e os outros, analistas de pesquisas – estão longe de serem amigos, mas topam trabalhar juntos para Campos. Sem ataques mútuos, pelo menos durante as missões eleitorais. Assim Campos se sente mais confortável, mesmo sendo pouco provável alguém acertar qual deles é o preferido. Depende da hora. Ou do tipo de trabalho.

Ontem, no interior pernambucano, Campos juntou duas frases de campanha, que virou o slogan "Quem viver verá, é possível fazer mais". Em relação a outros discursos recentes, foi algo leve, uma pequena provocação com a guerra de declarações entre ele e a presidente Dilma Rousseff. Uma disputa deflagrada a partir dos motes "é possível fazer mais", do candidato do PSB, e "é possível fazer cada vez mais", da petista. Mais uma vez, um Campos de discurso leve, ainda mais por ter sido feito em Caruaru – a 130km do Recife —, distante de São Paulo, onde a Força Sindical organizou o Dia do Trabalho, um evento oposicionista.

Eventos

O discurso e a recusa em participar do ato panfletário promovido pelo deputado federal Paulinho da Força (PDT) – o homem dos incríveis 38.750 votos (0,63%) nas últimas eleições de São Paulo – são movimentos calculados de Campos. O governador acredita que é o momento de se recolher, até marcando posição em eventos políticos, mas evitando as manchetes dos jornais. Um jogo de morde e assopra. Qual dos assessores – Duda, Lavareda, Barbosa ou Diego – aconselhou o governador a recuar nas críticas diretas ao Planalto? Pouco importa, talvez até seja um consenso da equipe. O fato é que Campos decidiu interromper o período de alta visibilidade.

No início da semana, ao falar de Dilma, o governador foi no mesmo tom: "É muito importante que o PSB e a presidenta falem na mesma linha. É bom que a gente tenha produzido esse debate para que todos possamos ter a clareza de que tem muito mais por ser feito do que fizemos". Quando ele vai voltar ao enfrentamento é uma pergunta que apenas Campos sabe a resposta, por mais que visibilidade esteja diretamente relacionada a discursos enfáticos ou até agressivos. Daqui até o final do ano — ou pelo menos até outubro —, a equipe de Campos vai tentar dosar as declarações do governador.

É até provável que a tal campanha antecipada se torne um pouco chata. Afinal, as equipes de marquetagem do governador pretendem adiar até onde puderem o anúncio oficial da candidatura. Como o Planalto se mostra refém do jogo do pernambucano — e não consegue expulsar o PSB dos cargos federais —, a estratégia de Campos deve durar por mais um tempo. Oficialmente, o registro de candidaturas vai até o início de julho do próximo ano.

Em 120 caracteres

Nos EUA, menino de 5 anos mata irmãzinha com fuzil que ganhou de aniversário. E ainda há quem defenda a venda de armas, principalmente nos Estados Unidos.

Fonte: Correio Braziliense

Poder Judiciário, o novo inimigo do povo - César Felício

Garantir o direito de um indivíduo ou de um grupo faz parte da própria razão de ser da Justiça, em qualquer país que siga o modelo de Montesquieu. Conflitos institucionais, antepondo o Judiciário aos dois outros eleitos pelo povo, portanto, são previsíveis e pertencem à crônica mundial. O caso dos últimos dias no Brasil, com seu jogo de ameaças mútuas entre o Congresso e o STF, não foi o primeiro e não será o último. O problema ganha gravidade quando o conflito entre Poderes é um método de ação política e a desinstitucionalização é uma meta.

Na Argentina, a presidente Cristina Kirchner deve conseguir do Congresso na próxima semana a aprovação de uma reforma do Judiciário que encerra a sua breve experiência como poder independente (apenas dezesseis anos).

Pela reforma, uma liminar contra o Estado só poderá ter vigência caso a Presidência não recorra da decisão. Se recorrer, fica automaticamente suspensa. Sem recurso, vale por seis meses no máximo, prorrogáveis por outros seis.

Argentina é modelo de construção populista

Atualmente, os juízes são escolhidos ou removidos por um Conselho Nacional de Magistratura, em que o governo tem cinco vagas em 13. O número de conselheiros agora sobe para 19 e 12 das vagas serão decididas em eleições diretas, disputadas pelos partidos. Como o quórum para deliberação passou de maioria de dois terços para a absoluta, basta ao governo eleger a metade dos conselheiros para ter controle do órgão.

A reforma não fica nisso: foi criada uma nova instância do Judiciário, que passa de dois para três foros antes da Corte Suprema. Os futuros integrantes da nova jurisdição serão escolhidos pelo novo Conselho de Magistratura politizado e rateado entre os partidos.

Esta será a quarta reforma do Judiciário na Argentina nos últimos vinte e cinco anos. Foi para conter o leilão de vagas da magistratura no Congresso, patrocinado por Menem, que surgiu na revisão constitucional de 1994 a criação de um modelo autônomo, inspirado na legislação francesa. A independência do Conselho já havia sido atenuada na penúltima reforma, a de 2006, quando o peso do governo dentro do colegiado aumentou e a Presidência ganhou poder de veto sobre a indicação de juízes.

"Com certeza haverá uma nova reforma caso a oposição ganhe as eleições presidenciais de 2015. A disputa pelo controle político da Justiça é tão grande que impede qualquer modernização. Continua em vigor uma norma que obriga a acondicionar os expedientes judiciais em envelopes que são lacrados com costura de linha e agulha. "É uma regra criada há 150 anos e ninguém se lembrou de revogá-la", disse o advogado Rafael Gomez Diez, diretor de assuntos legais de uma petroleira.

O populismo na Argentina está longe de ser um termo pejorativo. É condição assumida e reivindicada para si pelo kirchnerismo. Um dos principais teóricos deste modo de atuar politicamente é o argentino Ernesto Laclau, autor de "A Razão Populista" e um dos intelectuais admirados por Cristina.

Laclau afirma que há pressupostos básicos para a construção de uma liderança: a dimensão anti-institucional, em que a ordem usual das coisas é desafiada; e a construção de uma fronteira interna ideológica, em que a base sempre está mobilizada contra um inimigo. O vilão da ocasião é o Poder Judiciário. No recente encontro de Cristina com a presidente Dilma Rousseff, o secretário jurídico do governo argentino, Carlos Zanini, fez a jornalistas brasileiros uma definição que sintetiza esta lógica: "Quem está contra a reforma está a favor da defesa dos monopólios".

"É preciso definir quem é o inimigo do povo e constantemente renová-lo. O inimigo é necessário para a explicação de todos os problemas. Sempre há uma corporação nova contra quem lutar. É um truque velho. Repugnante mas eficaz", comentou o historiador Luis Alberto Romero, que aposentou-se em 2011 do Conicet, uma mistura de IPEA com CNPq da Argentina, protestando contra a politização do órgão.

No próximo dia 25, se completam dez anos da posse de Nestor Kirchner, marido e antecessor de Cristina. Como o mandato da atual presidente irá até 2015, serão, pelo menos, doze anos ininterruptos de uma mesma hegemonia política, algo que não ocorre na Argentina desde 1930.

O primeiro inimigo do povo definido pelo kirchnerismo veio dos quartéis. De forma espetacular, Kirchner colocou toda uma guarnição em forma e disse, em cerimônia gravada: "Eu não tenho medo de vocês".

Com este gesto e outros, dos quais o mais concreto foi o de revogar todas as normas que preservavam a impunidade dos líderes de um regime militar genocida, Kirchner se apropriou de uma causa que até então era transversal na sociedade argentina.

Em seguida surgiram como adversários os monopolistas do comércio, o sistema financeiro internacional, o grande latifúndio e, já no governo de Cristina, o conglomerado de mídia Clarín. No ano passado, reingressou no repertório o nacionalismo, com o relançamento da reivindicação sobre as ilhas Malvinas e a expropriação da YPF.

"O governo tem sido muito eficiente em levantar bandeiras inquestionáveis. Quando o governo abraça causas que já fazem parte do subconsciente argentino, a oposição não consegue estabelecer uma linha congruente. O espaço para a construção de um discurso opositor desaparece, ninguém pode se identificar com o inimigo", comentou Romero.

Ao mirar suar artilharia contra o Judiciário, Cristina não só remove uma eventual barreira contra o exercício pleno de seu poder, mas escolhe um alvo que só é avaliado positivamente por 27% da população, segundo o informe Latinobarometro de 2011, da pesquisadora chilena Marta Lagos. Adestrada a justiça, uma avenida se abriria para Cristina para escolher a próxima vítima e controlar o jogo de 2015. Sua debilidade é que há uma eleição parlamentar decisiva em outubro deste ano. O coquetel de inflação alta, disparada do dólar, baixo crescimento e pouco investimento sugere que o resultado é incerto.

Fonte: Valor Econômico