segunda-feira, 11 de março de 2013

OPINIÃO DO DIA – Alberto Goldman: Culto à personalidade

Tenho especial sentimento de repúdio ao culto à personalidade. Compreendo o respeito que se tenha a pessoas pela admiração que elas nos provocam quando realizam ações, sejam de ordem política, artística, cívica ou simplesmente que nos emocionam por qualquer razão. É humano e um belo tributo à pessoa, que terá seu nome inscrito na história de um povo, de uma comunidade ou na lembrança de outro ser humano.

A meu ver isso basta!

O culto à personalidade, em vida ou após a morte, quaisquer que tenham sido suas ações, isto é, a elevação de um ser humano à categoria de ser superior, significa algo mais que respeito e admiração. Significa a mediocridade do cultor, a incompreensão das limitações e das fraquezas de qualquer ser humano, a inevitabilidade de ter mostrado, em sua vida, o bom e o mal. Significa não procurar compreender situações concretas em que essa pessoa nasceu e viveu, a realidade de sua vida em sociedade, as suas relações com os demais seres e a conjuntura que lhe permitiu ser o que é, ou foi.

Via de regra, no campo da política e dos líderes políticos esse culto à personalidade se transforma em instrumento para manter e prolongar algum tipo de dominação que é exercida sobre pessoas mais simples e mais influenciáveis, em benefício de projetos políticos de poder.

Uma das primeiras experiências de minha vida política foi tomar conhecimento do mito à Stalin e da sua destruição. Acompanhei a formação de mitos, maiores ou menores, em décadas de atividades, tanto no âmbito internacional, quanto no nosso país. Lembro-me quando da visita que fiz a Moscou que me recusei – apesar da minha admiração – a ver a figura mumificada de Lenin em seu mausoléu. Não fui ver nenhum outro e não vou ver o de Hugo Chávez, elevado a mito. É esse uso político, esse culto à personalidade, que mais depõe contra os cultores e seguidores, como tem sido o culto à Lula, em vida, que tem retardado para o povo a compreensão sobre as suas dificuldades e as formas de superá-las. Só serve para emocionar mentes tacanhas e estender o poder de alguns que se dirão – como em casos semelhantes na história – os verdadeiros seguidores dos cultuados.

Alberto Goldman, ex-ministro, ex-deputado, ex-governador de S. Paulo e atual vice presidente do PSDB

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Gastos em Transportes caem 4,3 bi em um ano
Projeto para baixa renda empaca
Deputado reage e pede apoio
Dom Odilo é pop

FOLHA DE S. PAULO
Igreja vive um 'tempo difícil', diz dom Odilo
Jovem atropela ciclista, foge e atira em rio o braço decepado
Chuva deixa dois mortos no centro de São Paulo e fecha avenida

O ESTADO DE S. PAULO
Às vésperas do conclave, cardeais falam de reconciliação
TCU blinda roteiro de voos de ministros
Governo quer substituir taxa sindical
Capriles fará novo confronto com chavistas
SIP discute governos autoritários na AL
Abaixo-assinado online desafia classe política

VALOR ECONÔMICO
Argentina rejeita livre mercado para veículos
Infraestrutura atrai R$ 70 bi nos Estados
Arrecadação de ICMS indica retomada
Venezuela no Mercosul agora ajuda

BRASIL ECONÔMICO
Dois anos após desastre no Japão, Brasil retoma seu projeto nuclear
Kassab: “Maioria do PSD vai apoiar a reeleição de Dilma”
Mudanças nos ministérios saem até o fim do mês
Impasse sobre royalties assusta os investidores
Brasileiros lucram com bolsa dos EUA

CORREIO BRAZILIENSE
Brasileiro vive dia de papa em Roma
TCU analisa pressa do Ministério do Turismo em emitir pareceres
Oposição enfrenta desânimo

ESTADO DE MINAS
BH, capital do trabalho

O TEMPO (MG)
Renovação nos governos dos Estados será maior em 2014
Dilma debilita Campos, aliado mais perigoso
Brasileiro é onerado mais por consumo que por renda
Dom Odilo reza missa em igreja lotada

GAZETA DO POVO (PR)
Sem pontes e sem casas, dois anos após enchente no Litoral
Além do trânsito, elas driblam o vandalismo para ir ao câmpus
Igreja passa por “momento difícil e alegre”, diz dom Odilo

ZERO HORA (RS)
Polo naval esbarra na falta de mão de obra
Um novo elo na cadeia de falhas da Kiss
Medidas para pôr fim às rodovias precárias
Previdência do Estado aguarda decisão do TJ

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Brasileiro cada vez mais favorito a Papa
Dilma reduz repasses para Pernambuco
Sem Chávez, Venezuela se afasta da refinaria

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do país

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Gastos em Transportes caem 4,3 bi em um ano

No ano em que o Brasil cresceu só 0,9%, o Ministério dos Transportes, pasta que é o carro-chefe das obras de infraestrutura, reduziu seus investimentos em R$ 4,3 bilhões. Foram R$ 9,2 bilhões aplicados em 2012, o equivalente a 0,21% do PIB; contra R$ 13,5 bilhões em 2011, ou 0,33% do PIB. Analistas afirmam que a falta de investimentos públicos e privados é o maior gargalo ao crescimento econômico do país. Economistas também criticam as mudanças de marcos regulatórios e veem falta de capacidade de gestão no governo. Enquanto isso, nas estradas federais, houve 8.480 mortes em 2011, segundo o último balanço anual do Dnit

Investimentos à míngua

No Ministério dos Transportes, gastos caíram R$ 4,3 bi em 2012. Analistas temem por PIB deste ano

BRASÍLIA Dificilmente o Brasil terá um crescimento próximo de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, como deseja o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sem ampliar a capacidade produtiva e de logística do país, afirmam analistas ouvidos pelo GLOBO. Um dos problemas é que o governo não está conseguindo fazer os investimentos de infraestrutura deslancharem. Relatório do Tesouro Nacional mostra que os investimentos do Ministério dos Transportes encolheram 0,12 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, na comparação com o ano anterior. Caíram de R$ 13,5 bilhões, ou 0,33% do PIB, para R$ 9,2 bilhões, 0,21% do PIB, o maior recuo entre os órgãos do governo federal no ano passado, sendo que a pasta é o carro-chefe das obras de infraestrutura. Ou seja, foram R$ 4,3 bilhões a menos de investimentos.

Os gastos com investimento do Ministério dos Transportes em 2012, em porcentagem do PIB, ficaram abaixo até mesmo das despesas de 2009, ano da crise econômica mundial, quando a execução atingiu 0,27%. Um contraste com a realidade do país que, em 2011, teve 129.202 pessoas envolvidas em acidentes em rodovias federais. Desse total, 8.480 morreram, segundo o último balanço do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, que ainda não fechou os números de 2012. Segundo o Ministério da Saúde, os acidentes de trânsito consumiram R$ 200 milhões dos cofres públicos em 2011, incluindo não só as ocorrências em estradas, mas também nas cidades, em ruas e vias.

No Ministério da Integração Nacional, os gastos se mantiveram no patamar de 0,07% do PIB entre 2011 e 2012, abaixo da média dos dois últimos anos do governo (2009 e 2010), quando os investimentos chegaram a 0,11% do PIB.

Para analista, falta capacidade de gestão

O economista José Carlos de Oliveira, professor da Universidade de Brasília e consultor do Banco Mundial, avalia que um conjunto de fatores criou barreiras aos investimentos no país, entre eles a mudança de regras dos marcos regulatórios. Ele lembrou que a equipe de Lula "navegou em céu de brigadeiro", com entrada expressiva de dinheiro no país, o que teria gerado uma base de comparação que prejudica a gestão Dilma, diante do agravamento da crise mundial. Ele destaca que a capacidade de gestão do governo está comprometida:

- Falta uma estrutura organizacional com foco bem definido, com regras claras.

O recuo dos investimentos em geral - setor público e privado - em 2012, que teve grande peso no fraco desempenho do PIB, mostrou que as empresas estão menos otimistas em relação ao crescimento futuro. Para este ano, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, prevê um cenário mais favorável, com dólar perto de R$ 2, custo de energia mais baixo, taxa básica de juros no menor patamar da história e início de resultados mais efetivos das desonerações de folha de pagamentos anunciadas pelo governo. Skaf destaca que é preciso acelerar os investimentos em infraestrutura para tornar o custo de logística mais competitivo.

- Há muitos desafios ainda. Isso tudo sem falar na qualidade da educação - disse Skaf, que projeta avanço de 2,5% a 3% no PIB este ano.

Especialista em contas públicas, a professora Margarida Gutierrez, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, considera que um dos entraves a investimentos é a falta de quadro qualificado no poder público, pessoal especializado para elaborar editais e engenheiros para acompanhar as obras. A seu ver, apesar das incertezas com relação ao pacote de concessões para obras de infraestrutura no país, se esses projetos forem bem-sucedidos, a economia crescerá:

- Este ano, a economia não vai passar de 3,5%. Os investimentos precisam maturar para elevar a capacidade produtiva e alavancar o PIB.

Entre as pastas responsáveis pelas obras de infraestrutura federais, o Ministério das Cidades foi o único a registrar alta nos investimentos em 2012, mas graças a uma manobra do governo, que passou a computar os subsídios ao programa Minha Casa, Minha Vida como investimento. Até 2011, esses gastos eram considerados de custeio. Com os subsídios transferidos do Tesouro ao Fundo de Arrendamento Residencial contabilizados como investimentos, a execução da pasta passou de 0,22% em 2011 para 0,32% do PIB em 2012.

Pelos dados do Tesouro, os investimentos totais do Orçamento passaram de 1,27% do PIB em 2011 para 1,36% em 2012, mas o crescimento decorre de aumento das despesas em pastas da área social, como o Ministério da Educação.

Para Flávio Castelo Branco, gerente executivo da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria, o crescimento vigoroso virá com mais investimentos no país e na indústria.
Para o Ministério dos Transportes a redução de investimentos aconteceu por razões administrativas que ocorrem periodicamente. Entre elas, licitações não concluídas, devido a revisão de projetos, chuvas e necessidade de licenças ambientais. Já o Ministério do Planejamento destacou que os gastos totais com investimentos do Orçamento da União estão subindo e não comentou a baixa execução dos órgãos da área de infraestrutura.

Fonte: O Globo

Dilma reduz repasses para Pernambuco

Eduardo cobra dados sobre verbas federais

Mesmo negando informação sobre redução de repasses do governo federal para Pernambuco e demonstrando cautela, governador pede um levantamento à sua equipe

A notícia de que o repasse vonluntário de recursos do governo federal para Pernambuco chegou no ano passado ao seu menor patamar desde 2006, publicada ontem pelo jornal Estado de S.Paulo, deixou mal-humorado o governador Eduardo Campos (PSB). O jornal informa, com base em dados do Tesouro Nacional, que os repasses voluntários caíram de R$ 994 milhões em 2010, quando o ex-presidente Lula vivia uma lua de mel com o governador, para R$ 318 milhões em 2011. Em 2012, mais uma queda, com repasses de apenas R$ 219 milhões.

Os números do Tesouro mostram também que a trajetória de crescimento dos repasses para Pernambuco foi interrompida pela presidente Dilma Rousseff (PT). Diante da repercussão da notícia, em meio ao "embate" PT-PSB já com vistas à sucessão presidencial de 2014, Campos determinou que seus secretários façam um levantamento de tudo que o governo do Estado recebe hoje da gestão Dilma, incluindo os recursos obrigatórios, ou seja, aqueles que são frutos de fundos, parcerias e convênios, como é o caso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Está sendo esperado para hoje um posicionamento oficial do Palácio. Ontem, o secretário estadual de Planejamento e Gestão, Fred Amâncio evitou atender a imprensa para falar sobre o assunto. Campos quer números que apontem que, independentemente do percentual repassado voluntariamente pela União, os montantes provenientes de parcerias são suficientes para que não haja interrupção de projetos, o que poderia levar seu governo a "perder 2013", alerta que ele vem fazendo cotidianamente quando fala do desempenho da economia brasileira.

Na reportagem do jornal paulista, a justificativa para a redução do repasse voluntário é a pré-candidatura do governador à Presidência. Apesar de evitar tratar sua postulação oficialmente, Eduardo tem atuado nos bastidores com costuras políticas diárias. Semanalmente, tem orquestrado pautas em Brasília, onde costuma fazer reuniões e articulações com lideranças de outros partidos, inclusive o PSDB.

Por meio da assessoria, o governador negou problemas com a transferências de recursos do governo federal. "Pelo contrário, em 2012 recebemos exatos R$ 1,011 bilhão", afirmou Eduardo, reconhecendo como único desconforto na relação entre Pernambuco e a União a questão da retirada da autonomia do Porto de Suape, através da Medida Provisória 595. "E, mesmo neste caso, temos encontrado a abertura necessária para negociar uma solução de consenso", observou.

O governador também classificou como "equivocada" a interpretação do jornal. Argumenta que boa parte dos repasses a Pernambuco está incluída em projetos do PAC, que não foi considerado na conta da reportagem. "Pernambuco tem uma estratégia de captação de recursos agressiva. Desde 2007, os programas do Estado financiados com transferências voluntárias da União mais que quadruplicou. Na semana passada, fomos aquinhoados com a aprovação de repasses federais superiores a R$ 1,7 bilhão para projetos de saneamento, abastecimento d"água e mobilidade urbana", detalhou o governador, em nota.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Campos tem aval de governadores do PSB

Fernando Gallo

O governador do Ceará, Cid Gomes, é voz isolada entre os governadores do PSB na defesa da tese de que o partido deveria apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014 em vez de lançar candidato próprio. Os demais governadores da sigla apoiam a movimentação feita pelo presidente nacional do PSB, Eduardo Campos. Assim como o governador de Pernambuco, todos entoam o mantra de que a decisão deve ser tomada no ano que vem, mas veem a oportunidade de usar 2013 como um ano para fazer articulações e cacifar o PSB, robustecendo uma eventual candidatura de Campos.

O Estado ouviu os governadores Wilson Martins (Piauí), Renato Casagrande (Espírito Santo), Ricardo Coutinho (Paraíba) e Camilo Capiberibe (Amapá). Eles defendem apoio irrestrito ao governo Dilma em 2013, lembram a boa e histórica relação que o PSB mantém com a presidente e o PT, mas nenhum defende a tese de Cid Gomes. Todos foram procurados recentemente por Campos para conversar.

Alguns, como Martins e Coutinho, também têm sido assediados pela presidente, que visitou o Piauí em janeiro e a Paraíba na semana passada na companhia deles, respectivamente. Dilma também visitará Cid Gomes ainda este mês. O governador cearense já foi cortejado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi a Fortaleza dez dias atrás em uma agenda conjunta com Cid. O assédio é uma forma de tentar minar uma eventual postulação de Campos.

O discurso dos governadores do PSB, via de regra, é de conciliação. Mas às vezes escapam as frases que dão o tom do tensionamento. "O que o Partido dos Trabalhadores tem que saber: não temos duplicata assinada. Nem com o PT nem com ninguém", afirma Wilson Martins. "Somos parceiros históricos. Temos que ter essa liberdade de dizer "tudo bem, somos aliados, amigos da Dilma, estamos com a Dilma na governabilidade, na parceria administrativa". Isso é uma coisa. Isso representa a história, o passado, e o que a gente representa no presente. Agora, o futuro vamos discutir em 2014, com o sentimento de que o partido tem a liberdade de, se for prudente, colocar uma candidatura."

Interesse. Casagrande diz que está "seguindo a orientação do presidente do partido" de que, "publicamente", o assunto candidatura deve ser tratado em 2014. Sustenta, contudo, ser "impossível" não entrar de alguma forma no debate porque "a campanha já está posta". Ele afirma que Campos se movimenta politicamente "porque tem interesse" nos dividendos das articulações e diz que os bons resultados eleitorais do PSB nos anos de 2010 e 2012 fizeram com que "alguns setores" colocassem o governador pernambucano no "centro do debate presidencial". "Não há nada que impeça uma candidatura do partido", diz Casagrande.

O governador capixaba diz que o PSB tem ajudado a presidente no Congresso e "onde quer que a gente possa". Mas dispara: "O nosso compromisso é com o governo Dilma, não com a reeleição da Dilma".

Desserviço, Ricardo Coutinho, da Paraíba, classifica a antecipação do debate eleitoral como "um desserviço" e diz que o Brasil tem outras prioridades, uma vez que, segundo ele, "vivência um momento delicado de estabilidade econômica, em função da crise mundial" - nos bastidores, o PSB avalia que um cenário econômico desfavorável a Dilma favoreceria o intento de Campos.

Coutinho sustenta que o PSB não é um subpartido, agregado de outra legenda. "Em 2014, decidiremos, com a maturidade de um partido cônscio de suas responsabilidades para com o Brasil, e de não sermos um subpartido e sim construtores de um pro jeto maior que qualquer partido isoladamente, a nossa intervenção no processo eleitoral." Capiberibe diz que hoje o cenário para o PSB é diferente do de 2010, quando o partido decidiu não lançar a candidatura de Ciro Gomes para apoiar Dilma. "O partido cresceu. Se houver consenso, a candidatura do Eduardo vai ser uma boa opção para o País."

"Eduardo é moderno, um grande quadro"

Um dia após receber a presidente Dilma na Paraíba, Ricardo Coutinho disse ao Estado que o PSB e Eduardo Campos não serão "puxados" para a briga eleitoral antecipada. "Não vão nos puxar pro meio disso. 0 PSB tem sua autonomia, não é de segunda categoria. Está no governo e não é por um favor." Ele fez ainda questão de elogiar Campos: "É moderno, trata de desenvolvimento com inclusão social e vê a inclusão produtiva. Ele vai no interior de São Paulo e enche de gente. Tem prática e experiência intelectual. É um grande quadro da política brasileira."/Alana Rizzo

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma debilita Campos, aliado mais perigoso

PT se preocupa com o comportamento do presidente do PSB, e Planalto reduz sua `generosidade´

Repasses da União para Pernambuco são os menores desde 2006

Além de adotar postura "pós-Dilma", Eduardo Campos já se atreve a fazer críticas à petista

Brasília - O Palácio do Planalto e a cúpula do PT acompanham preocupados os movimentos do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos. Em campanha velada pelo Planalto, o socialista encampa uma postura e um discurso "pós-Dilma" e negocia, em segredo, apoios para seu palanque com personalidades das mais diversas áreas de atuação.

Além de assediar partidos da base da presidente, como PDT, PTB e PR, Campos transita bem no meio empresarial e entre banqueiros. É amigo, por exemplo, do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e mantém diálogo com Armínio Fraga, presidente do Banco Central no segundo mandato do presidente Fernando Henrique (PSDB).

"Eu converso com todo mundo, da esquerda à direita. Não tenho guru", declarou o governador. Entretanto, ele tem como principais consultores o marqueteiro argentino Diego Brandy. Outros dois interlocutores de todas as horas são o publicitário Duda Mendonça - responsável pela campanha vitoriosa de Lula em 2002, - e o cientista político pernambucano Antonio Lavareda.

Não deixa de ser uma medida de caultela por parte do governo a redução signiticativa de repasses federais para financiar projetos apresentados por Pernambuco.

Segundo dados do Tesouro Nacional, em 2012, o valor repassado voluntariamente pela União chegou a um patamar menor do que o de 2006, último ano de gestão do então governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), opositor do PT.

Evolução. O Planalto aumentou a parcela de repasses a Pernambuco quando Lula e Campos estavam no poder. Em 2007, a participação do Estado nordestino no total das transferências era de 5%. Em 2010, último ano de Lula, alcançou 14,6%.

Naquele ano, Campos chegou a receber R$ 994 milhões dessas transferências voluntárias. Ele disputava a reeleição com o apoio do PT, e Lula usava Pernambuco, seu Estado natal, como vitrine de projetos federais em infraestrutura e combate à pobreza para promover a candidatura de Dilma.

Os números do Tesouro mostram, contudo, que a trajetória de crescimento dos repasses para Pernambuco foi interrompida por Dilma. Em 2011, as transferências caíram para R$ 318 milhões. O valor, no entanto, ainda era maior do que os verificados em 2007, 2008 e 2009. Mas, em 2012, os repasses caíram de novo e chegaram a R$ 219 milhões, o menor desde 2006.

As transferências voltaram a 4,88% do total enviado para os Estados, o mais baixo percentual do governo do socialista.

Fonte: O Tempo (MG)

O desafio de sair mais forte das urnas

Especialistas apontam benefícios e riscos da corrida pelo Planalto para o cacife político dos candidatos

Juliana Colares

Ainda não confirmada oficialmente, a candidatura do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à Presidência da República em 2014 é dada como certa por correligionários, opositores e cientistas políticos. A maior dúvida, no momento, é se Campos conseguirá ir com tudo para tentar desbancar a presidente Dilma Rousseff ou se a candidatura nas próximas eleições servirá, na verdade, como preparação para 2018. O recente passado da política brasileira mostra que a estratégia de se lançar candidato em uma disputa de olho no pleito seguinte pode ser positiva, mas não é garantia de sucesso nem político nem eleitoral.

Para o cientista político e professor do Instituto de Ensino de São Paulo (Insper) Carlos Mello, o caso Ciro Gomes é clássico. Candidato à Presidência da República em 1998, recebeu o apoio de 7,4 milhões de eleitores, o equivalente a 10,9% dos votos válidos. Mais bem projetado nacionalmente, voltou à disputa em 2002, mas amargou a quarta colocação, atrás de José Serra — que disputou o segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva, eleito pela primeira vez naquele ano — e de Anthony Garotinho.

“Em 2002, Ciro começou muito bem. Não foi o eleitorado que o desconsiderou, foram os erros dele. Até aquele momento, ele era um jogador importante. O que derrotou Ciro foram erros dele, não da estratégia de se lançar nas eleições anteriores para se tornar mais conhecido em território nacional”, diz Mello, lembrando, por exemplo, a infeliz declaração de Ciro sobre a então mulher, a atriz Patrícia Pillar, quando o candidato do PPS afirmou que o papel dela na campanha era dormir com ele.

“No caso de Heloisa Helena (candidata à Presidência da República em 2006 pelo PSol), ela não representava uma terceira via, como foi o caso de Ciro em 2002. O Cristovam Buarque (também candidato em 2006) não teve nova alternativa. O PDT entrou na base do governo e não houve mais chance para ele. Já Marina Silva, o teste dela será em 2014, caso consiga criar o partido”, avalia Carlos Mello. Marina saiu da campanha de 2010 com quase 20 milhões de votos.

Apesar de não terem vencido as eleições, na avaliação do cientista político do Insper, tanto Ciro quanto Marina saíram vitoriosos das primeiras disputas do ponto de vista político. “Houve um acúmulo. Não é só uma questão de ser mais conhecido, ser lembrado. Tudo depende das circunstâncias e do não cometimento de erros”, afirma.

No caso de Eduardo Campos, Mello acredita que as especulações em torno de uma “candidatura-teste” podem prejudicá-lo em relação à avaliação dos eleitores. “Ele precisa ir para a disputa criando a expectativa de que pode ganhar, de que é uma alternativa”, avalia.

O teste do discurso

Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto, o principal desafio do socialista pernambucano está na definição do discurso que adotará como candidato. “Ele sabe que o jogo dele não é esse, é 2018. Mas, ao mesmo tempo, ninguém tem esse nível de controle sobre o processo político. A equação que ele precisa resolver é a postura que vai adotar em 2014. Como justificar uma saída do governo sem criticar o governo? Se Dilma chegar a 2014 com problemas, ele tende a adotar um tom mais crítico. Se ela chegar bem, a estratégia dele vai ser mais complicada”, analisa Barreto.

Campos não só faz parte do governo Dilma como deve, e muito, aos governos dela e, principalmente, do ex-presidente Lula, parte da popularidade que alcançou no Nordeste. “Um problema do PSB é que ele quer independência, mas não quer sair do governo. Ele (Campos) percebeu que se for para o Senado, pode perder a vez em 2018. Acho que a estratégia está certa, mas é de alto risco”, diz Leonardo Barreto.

O deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) rebate as conjecturas em torno do possível candidato socialista e descarta a possibilidade de Eduardo Campos se lançar em 2014 pensando em 2018. “Ninguém se lança para não ganhar. O pensamento na hora de se decidir candidato é na vitória”, afirma. “O partido quer que ele concorra em 2014 e cria condições para que ele seja competitivo. Posso dizer que 95% do PSB está convicto”,
arremata.

“Não é só uma questão de ser mais conhecido, ser lembrado. Tudo depende das circunstâncias e do não cometimento de erros” - Carlos Mello, cientista político do Insper.

O destino dos ex-presidenciáveis

Anthony Garotinho — candidato em 2002

» Concorreu ao cargo de presidente da República em 2002, pelo PSB. Disputou o pleito com Ciro Gomes (então PPS), José Serra (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entre outros. Não chegou ao segundo turno, mas recebeu 15,1 milhões de votos, desbancou Ciro Gomes e conseguiu eleger a mulher, Rosinha Garotinho, governadora do Rio de Janeiro. Em 2010, Garotinho se elegeu deputado federal. Hoje, é líder do PR na Câmara.

Ciro Gomes — candidato em 1998 e 2002

» Se lançou candidato à Presidência da República pela primeira vez em 1998, pelo PPS. Obteve apoio de 7,4 milhões de eleitores, o equivalente a 10,9% dos votos válidos. Mais conhecido nacionalmente, participou da disputa da eleição seguinte. Chegou a figurar entre os favoritos, mas tropeçou no meio da campanha e não chegou nem ao segundo turno. As urnas renderam a ele apenas a quarta colocação, com 10 milhões de votos, mas o desempenho melhorou em relação à primeira tentativa.

Cristovam Buarque — candidato em 2006

» Foi candidato à Presidência da República em 2006, pelo PDT. Ficou em quarto lugar da disputa, com 2,4 milhões de votos, atrás do presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Heloisa Helena (PSol). Em 2010, Cristovam Buarque foi reeleito senador.

Heloisa Helena — candidata em 2006

» Disputou a eleição para presidente da República em 2006 pelo PSol. Ficou com a terceira colocação, recebendo 6,2 milhões de votos. Em 2010, tentou voltar ao Senado, mas perdeu a disputa. Em 2012, foi eleita vereadora de Maceió pelo PSol. Hoje, apoia a criação do partido de Marina Silva, Rede Sustentabilidade.

Marina Silva — candidata em 2010

» Com desempenho satisfatório na primeira eleição que disputou à Presidência da República, deve testar em 2014 se a estratégia deu certo. Isso, se conseguir criar a tempo o partido Rede Sustentabilidade. Saiu da primeira disputa com cerca de 20 milhões de votos e uma vitória política, ainda que não eleitoral.

Fonte: Correio Braziliense

Conflito entre aliados cria risco para Dilma nos Estados

PT e PMDB planejam lançar candidatos próprios a governador em nove Estados

Tensão entre as duas maiores legendas do bloco governista pode causar embaraços para campanha à reeleição

Luiza Bandeira

SÃO PAULO - Os dois maiores partidos da coalizão que sustenta o governo da presidente Dilma Rousseff estão em conflito na montagem dos palanques da disputa pelos governos estaduais nas eleições de 2014.

A um ano e meio da disputa, PT e PMDB preveem que estarão em campos opostos em 16 Estados. As duas siglas governistas devem lançar candidatos próprios a governador em nove desses Estados.

A rivalidade poderá criar dificuldades para a campanha de Dilma à reeleição, prejudicando a mobilização das máquinas dos dois partidos a seu favor nesses lugares.

Do ponto de vista do governo, a situação atual é mais preocupante do que a observada em 2010, quando Dilma foi eleita. Naquele ano, PT e PMDB estiveram em campos adversários em 13 Estados.

O PMDB é o principal aliado de Dilma. Além de ser a legenda do vice-presidente Michel Temer, é a sigla que comanda a Câmara e o Senado.

Numa convenção realizada no início do mês, o partido aprovou uma resolução contra a participação de seus integrantes nos palanques de candidatos adversários.

A tensão com o PT é grande no Rio de Janeiro. O senador Lindbergh Farias (PT) anunciou que concorrerá ao governo estadual, mas o PMDB quer o apoio do PT para lançar o atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão.
Na Bahia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) quer disputar o governo estadual, mas o governador Jaques Wagner (PT) prefere alguém do PT para a sua sucessão.

Nas eleições de 2010, quando Geddel concorreu contra Wagner, um acordo que previa a participação de Dilma na campanha do peemedebista jamais foi cumprido.

Em Mato Grosso do Sul, onde o PMDB também planeja lançar candidato próprio, o partido considera até mesmo a possibilidade de apoiar o senador Aécio Neves (PSDB-MG) para presidente, afastando-se da campanha de Dilma.

Líderes das duas siglas ainda acham possível chegar a um acordo em alguns Estados. "Só desisto na última hora. Faremos todas as tentativas para que haja convergência com a chapa nacional", disse o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).

"O esforço do PMDB, do PT e dos outros partidos da base é para ter palanque único", afirmou o senador Wellington Dias (PT-PI). "Mas sempre tem caso em que a gente não consegue fazer isso."

Fonte: Folha de S. Paulo

Marina Silva amplia contatos com movimentos sociais latino-americanos

César Felício

BUENOS AIRES - Entre estudantes e militantes católicos no Chile e lideranças evangélicas e indígenas na Argentina, a ex-senadora Marina Silva, criadora do novo partido Rede, lotou auditórios em Santiago e Buenos Aires neste fim de semana para divulgar como seu movimento se encaixaria em uma reação mundial contra o que chamou de "crise civilizatória no planeta".

"Existe uma franja, de cerca de 20%, que se descola das estruturas tradicionais e busca uma nova maneira de caminhar, de aperfeiçoar a institucionalidade. É o que se viu no Chile, o que se sentiu com a Primavera Árabe, com as manifestações na Europa e em tantos lugares no mundo", comentou Marina, em palestra na Faculdade de Ciências Econômicas, organizada por Guillermo Prein, pastor da Igreja Pentecostal "Nueva Vida", em companhia da líder tehuelche Moria Millán e a líder da comunidade Qom, Amanda Asijak. Nas eleições presidenciais de 2010, Marina Silva teve 19% dos votos.

"É o que acabamos de ver também na Itália, com Beppe Grillo", comentou Prein, referindo-se ao líder do Movimento 5 Estrelas, novo partido anti-sistema que recebeu 25% dos votos na eleição parlamentar italiana e se recusa a aliar-se com os partidos tradicionais para formar um novo governo no país.

A aversão à política tradicional é forte no movimento ambientalista argentino. A militância ecologista se confunde com a indígena e é a vertente mais radical dos movimentos sociais, distante tanto da presidente Cristina Kirchner quanto da oposição. A exploração mineral cresce, especialmente nas encostas da cordilheira dos Andes, onde é grande a presença de "povos originários", como se referem aos indígenas.

No Chile, Marina também se dividiu entre lideranças de contestação e movimentos vinculados a religiosos. A ex-senadora visitou a ONG Teto, liderada pelo padre jesuíta Felipe Berrios e com presença em diversos países da América Latina, e palestrou num centro de estudos mantido pela Igreja Católica. Teve reunião fechada com os líderes estudantis que colocaram em cheque o governo Sebastian Piñera em 2011.

Fonte: Valor Econômico

Entrevista - FHC: 'Em campanha se olha pra frente, não pra trás'

Ex-presidente diz que antecipação da eleição tornou-se inevitável após Lula lançar Dilma; ele critica briga de "legados"

Gabriel Manzanno

PUEBLA - No México, onde participa da Reunião de Meio de Ano da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou ao Estado sobre a antecipação da campanha presidencial. O PSDB, disse, não teve alternativa e lançou Aécio Neves.

Lula lançou Dilma à reeleição, o sr. lançou a de Aécio Neves. A campanha foi antecipada. Isso não tem um custo político?

Tem custo sim, político e administrativo. Lula precipitou o processo sucessório, aí os outros partidos não têm alternativa. Nós não tínhamos intenção de precipitar uma candidatura. Estávamos prestigiando o nome do Aécio para um debate interno. Mas eu nunca vi quem está 110 governo precipitar uma eleição, já que atrapalha a governabilidade. Tudo que a presidente Dilma fizer daqui por diante será atribuído a intenções eleitorais. Não sei o que levou o Lula a essa precipitação. Talvez seja porque ele gosta de campanha! A preocupação do governo não era com a oposição, era com a fragmentação das suas próprias forças.

Aécio abraçou a defesa de seu legado. Nem José Serra nem Geraldo Alckmin fizeram isso. 0 que mudou dentro do PSDB?

Talvez tenha chegado um momento em que seja mais fácil avaliar o que fizemos, não ter medo do que fizemos. Nós garantimos a economia, modernizamos a economia. As privatizações vieram de uma maneira correta, controladas pelas agências reguladoras, não foram monopolizadoras. Restabelecemos a competitividade das agências do governo, do Banco do Brasil, a Petrobrás. Melhoramos muito a educação, organizamos o SUS, começamos o processo de transferência de rendas. As pessoas esquecem que o programa do governo Lula não era transferência de renda, era o Fome Zero. Que foi engavetado! E aderiram ao que nos tínhamos começado. Enfim, por que não defender o que nós fizemos? Agora, isso não pode ser a base de uma campanha eleitoral. Campanha eleitoral tem de ser feita olhando pra frente, não pra trás. O programa do PSDB, então, deve ser: reconhecer o que fizemos, mas vamos adiante. Tem muita coisa que fazer.

Quais, por exemplo?

Quando fizemos nos anos 90 o que nós fizemos, o pessoal do PT, da esquerda, e também de outros partidos, não entendeu a globalização. Acharam que era outra vez o imperialismo, que era o neoliberalismo. Com fundiram um processo histórico com uma ideologia. E me acusaram, quando eu estava ajustando o Brasil à nova condição histórica, como se fosse uma posição ideológica a favor do neoliberalismo, posição que eu nunca tive. Agora, de novo, vamos sair dessa crise. É um novo momento, que precisa de ajustes. Primeiro, quem é que vai puxar a economia de novo? Parece que serão os Estados Unidos. O que o Brasil vai fazer com o pré-sal? Continuar marcando passo? Enfraqueceram a Petrobrás e se embrulharam todos. De novo, digo, nós temos de olhar pra frente. Pararam a infraestrutura toda, porque não fizeram o que tinham de fazer, que eram as concessões. Agora fazem envergonhadamente, mal feito. O PSDB tem de recomeçar dizendo: "Olha, eles estavam errados, nós sabemos fazer". O fato é que fazem errado porque não acreditam no que estão fazendo. Nós acreditamos, deixe que a gente faça! Quando cobram dizendo que o PSDB está sem projeto, não está sem projeto, é que eles tomaram o nosso e fizeram mal feito. O PSDB tem que apresentar ao País um novo projeto.

Macroeconomia não sensibiliza o eleitor. Embora o cenário seja delicado - inflação, PIB, ritmo lento do PAC qual discurso terá o PSDB para atrair votos?

O que sensibiliza o eleitor é quando mexem no bolso dele, coisas como emprego e renda. Esses fatores todos mencionados vão terminar tendo algum efeito sobre emprego e renda.
Na verdade, já estão tendo. A renda per capita no ano passado não subiu. E agora as famílias estão endividadas. O PSDB tem que dizer: "Você que está endividado, eu vou resolver esse problema".

O Lula saiu com 76% de aprovado, Dilma tem hoje em torno de 50, 52% de aprovação, 0 PSDB é competitivo?

Lula e Dilma, em todas as disputas, foram para o segundo turno. E tinham números altíssimos de aprovação.

O xadrez pode ter 4 peças, com Eduardo Campos e Marina. Sendo quatro, o segundo turno é uma grande probabilidade.

Não sei qual será a capacidade do Eduardo de arrancar votos. O ponto de partida dele é Pernambuco. O do Aécio é Minas. A Marina tem uma presença forte e tem uma causa que, eu acho, vai continuar entusiasmando. Desses três, no momento, eu aposto no Aécio. Acho que 20 anos de governo do PT bastam, não? Chegou a hora de mudar. O estilo PT cumpriu o seu papel. Cansou, dá espaço pra outro.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Desconcerto italiano - Renato Lessa

Impasse na Itália pode resultar em outra ‘deflação da política’

Há cerca de um ano, a Itália iniciou uma série de experimentos. Pela ordem: é dirigida, desde 2011, por um "governo técnico", fora das rotinas políticas habituais; está sob o choque da renúncia do Papa; acaba de realizar eleições nas quais o vencedor - a centro-esquerda - é o grande derrotado, Berlusconi reemerge redivivo e um bufão - Beppe Grillo - lidera um movimento contra tudo e todos e conquista a maior fatia do eleitorado.

Em dezembro de 2011, no que parecia ser o fim de Silvio Berlusconi, o presidente Giorgio Napolitano o demitiu e nomeou como chefe de governo o economista Mario Monti. A dignidade de Napolitano e o caráter "técnico" e "apartidário" de Monti apareceram como um bálsamo, diante da ruína financeira, política e moral do berlusconismo. Poucos dias depois, na abertura da temporada do Scala de Milão, em magnífica apresentação do Don Giovanni, de Mozart, a orquestra abriu os trabalhos com uma execução impecável do hino da Itália. No antigo camarote real, Napolitano e Monti, juntos, pareciam materializar as palavras de abertura do hino: "Fratelli d’Italia, L’Italia s’è desta"(Irmãos da Itália, a Itália despertou). Ao fim do último ato, o fantasma do Comendador, que retorna para enviar Don Giovanni ao inferno, foi encenado no próprio camarote real. Houve quem visse na encenação da voz que desceu do camarote em direção ao palco, e dali ao inferno, uma analogia com o castigo que Napolitano e Monti dariam à libertinagem política de Berlusconi. Vida que segue, a Itália viveu 2012 sob o signo da deflação da política. O programa de Monti impôs ao país a associação contumaz entre cortes de despesas públicas e aumento de impostos.

Monti não veio para risos e afagos. Tanto o Popolo Della Libertà, de Berlusconi, como o Partido Democrático (filho do Partido Democrático de Esquerda e neto do velho Partido Comunista Italiano), de Pier Luigi Bersani, além de outras legendas centristas, perfilaram-se no apoio a ele. A Itália parecia ter conseguido façanha impossível na Grécia: "governo técnico" - isto é, não derivado do que os italianos chamam de "eleições políticas" - com vasto apoio parlamentar. Por pouco tempo. O próprio Monti declarou que sairia em um ano. Alem do que, e impossível manter uma coalizão de governo sustentada por um programa no qual boas notícias estão ausentes, por razões de doutrina, de empatia insuficiente com o gênero humano e até de natureza prática. A centro-esquerda ficou imobilizada pela tensão entre duas orientações de fácil compatibilização retórica, mas escassa combinação prática: o princípio da severidade fiscal, em uma Itália arruinada pela especulação desenfreada, e a defesa de medidas de retomada do crescimento e fortalecimento do Estado Social. O partido passou, ainda, por duras primárias, vencidas por Bersani - que foi desafiado por uma liderança emergente, o prefeito de Florença Matteo Renzi, defensor de teses abraçadas também pelo movimento de Beppe Grillo. Entre elas, a abolição do Senado, a redução do subsídio aos partidos, redução do salário e do número de deputados, entre várias palatáveis aos mais jovens. Não é absurdo supor que essa gente tenha engrossado as hostes de Grillo.

Já Berlusconi, durante o consulado montiano, manteve o apoio parlamentar ao governo, foi alvo de novas denúncias e colecionou quantidade inacreditável de frases diante das quais alguém minimamente razoável diria: "Este sujeito está morto". Mas o notável em Berlusconi é sua capacidade de crescer eleitoralmente com a ostensão do incorreto: em pleno Dia da Memória (27/1), que homenageia os italianos deportados para os campos de extermínio nazistas, ele não apenas dormiu durante os discursos, mas, ao sair, disse que Mussolini fez também "bone cose" (coisas boas). O segredo é simples: imensa gente pensa como ele. Sua insistência em sustentar o insustentável decorre da existência desse mercado eleitoral ínfero, do qual é acionista majoritário, como político e dono de redes de TV. O término do consulado de Monti acabou por destruir algumas crenças: a de que a centro-esquerda seria recompensada por uma vitória natural e a de que Berlusconi estava morto. No lugar disto, o que se leu na imprensa italiana foi a frase brutal de Beppe Grillo, dirigida a Bersani, após a eleição: "Sei morto" (Estás morto). Outra crença dizimada foi a da possível substância eleitoral de Monti, surrado nas urnas. Somados, Monti e Bersani não fazem governo e tudo ruiu - não apenas pela resiliência de Berlusconi, mas pelo sucesso do Movimento Cinco Estrelas (M5S), de Grillo.

As "cinco estrelas" são: água, ambiente, transporte, conectividade e desenvolvimento. Contudo, o que caracteriza o movimento é a aversão à política tradicional, a intenção de "mandar todos à casa" e eliminar a oligarquização do sistema. Uma cultura política que se crê "antipolítica". Há anos o movimento ronda a Itália, a recolher náufragos cívicos, gente tanto da direita, como da esquerda e de lugar algum. Encontrou o terreno fértil do desencanto, em grande medida preparado pela timidez da centro-esquerda. O sucesso excedeu expectativas: foi o mais votado, individualmente, para a Câmara, com 25,55%, seguidos do PD com 25,42% e do PDL, de Berlusconi, com cerca de 21%. A vitória lá acabou nas mãos de Bersani, já que sua coalizão totalizou 29,55% dos votos, meio ponto a mais do que a de Berlusconi. Vitória macérrima, mas a lei eleitoral garante ao partido mais votado um prêmio de maioria de 55% das cadeiras - uma lei, feita sob Berlusconi, conhecida na Itália sob a alcunha de "la porcata" (a porcaria). Só que no Senado Bersani obteve maioria relativa de 120 cadeiras. E é preciso controlá-lo para obtenção de "fiducia" e condições de governo. Aliar-se com os senadores de Berlusconi? Há quem defenda isso no PD, como Massimo D’Alema, mas seria desastroso. Com Grillo? Ele elegeu 53 senadores, mas não quer conversa, e sim o governo para si, sem compromissos. Tal é o drama da configuração do próximo governo, cenário que não exclui a realização de novas eleições, ou um novo "governo técnico", novo ciclo de deflação da política.

A colheita eleitoral do M5S traz-lhe desafios. A política líquida de Grillo agora tem a forma de um movimento gigantesco incrustado no sistema institucional italiano. É o mais bem sucedido movimento europeu de crítica da política. Resta saber se a maldição de Robert Michels, que dizia que grandes movimentos, sindicatos e partidos exigem comando oligárquico para durar, desta vez não se cumprirá. Por ora, reina a emergência de "gente comum", escolhida pela via da "conectividade", para compor a lista do movimento. Mas o primeiro sinal não foi auspicioso: escolheram como líder de bancada a neo-deputada Roberta Lombardi conhecida por ter dito que, antes de "degenerar", o fascismo tinha um "altíssimo sentido de Estado".

E o ex-Papa nisso tudo? Há controvérsia a respeito das razões da renúncia, mas a elucidação parece vir do próprio. Trata-se do tema da falibilidade. Não a papal, já arranhada por Pio IX, que se dizia infalível, porém falido, mas da própria falibilidade de Deus. Já quando esteve em Auschwitz, Bento XVI indagara a respeito do que fizera Deus durante o Holocausto. Nos últimos dias de papado, confessou que, diante da proliferação de hábitos pouco recomendáveis na Igreja, por vezes tinha a impressão que o "Senhor dormia". Do ponto de vista teológico, a proposição é impactante e corajosa. Ratzinger saiu de cena motivado, decerto, pela decrepitude de seu corpo físico, mas, sobretudo, pela suspeita de dissolução do corpo místico ao qual se vincula; sai afetado por uma crise teológica pessoal terrível, não de todo desprovida de beleza. A impressão que se tem é a de que a Igreja teria feito com Deus aquilo que os políticos estão a fazer com a democracia.

Renato Lessa é professor titular de Teoria Política da UFF, investigador associado do Instituto de Ciências Sociais e pesquisador visitante do Centro Internazionale Di Studi Primo Levi, em Torino.

Fonte: O Estado de S. Paulo / Aliás

Mudar sem mudar - Ricardo Noblat

“Acho que o governo não está nos iludindo. É mais grave: ele está iludido ” - Cristovam Buarque, senador do PDT-DF

Começa amanhã a mais misteriosa das eleições, que atrai de tempos em tempos a atenção do planeta. Dela emergirá um rei. É pouco chamar o papa de rei. Antigamente, o poder dos reis era absoluto. Hoje, eles reinam, mas não governam. O Papa reina e governa. Com uma diferença que ainda o torna mais poderoso: ele é infalível. Sempre está certo quando delibera e define algo em matéria de fé ou costumes

SEU REINO NÃO se limita aos 0,44 quilômetros qua-drados da Cidade do Vaticano, onde moram cerca de 800 pessoas. Estende-se a qualquer lugar onde viva um único dos 1,142 bilhão de católicos romanos dispostos a escutá-lo. E a seguir sua orientação. O reino do Papa é deste mundo, sim. Mas também não é. Está conectado a outro reino de onde sua for ça verdadeiramente emana. Questão de fé , meu caro .

SE A ELEIÇÃO obedecesse à lógica dos números, o sucessor de Bento XVI seria um europeu. Porque o contingente de cardeais europeus é o maior . E seria italiano — pela mesma razão . Bento XVI, o papa emérito , é alemão . João Paulo II era polonês. Para reforçar a ideia de que o reino do Papa está ligado ao reino de Deus, a Igreja atribui a última palavra ao Espírito Santo.

NÃO É BEM ASSIM. “O Espírito Santo não escolhe o Papa. Não toma o controle do processo. Age como se fosse um bom educador , nos deixa muito espaço, sem jamais nos abandonar inteiramente”, ensinou Joseph Ratzinger quando ainda não era Bento XVI. “O Espírito Santo não vai ditar o nome do candidato em que se deve votar . Há muitos exemplos de papas que ele, obviamente, não teria escolhido”.

A DEUS O QUE é de Deus. Aos 115 cardeais aptos a votarem, a tarefa que lhes cabe. E que a essa altura foi cumprida em parte. Não se sabe — nem mesmo os próprios cardeais — qual deles acenará para a multidão reunida na praça de São Pedro depois que o aviso tiver sido dado: “Habemus Papam”. Sabe-se, porém, que os cardeais tiveram tempo de sobra para traçar o perfil do futuro Papa.

BENTO XVI REINOU por menos de oito anos. Dono de vasta cultura religiosa, era o mais importante teólogo da Igreja quando sucedeu a João Paulo II. Foi um governante fraco, o que pouco teve a ver com seu estado de saúde. Não promoveu reformas. Acabou engolido pela Cúria, o aparelho administrativo da Igreja, minado por escândalos. Abdicou por lhe faltarem gosto e energia para exercer sua função.

HÁ MAIS DE um ano que os cardeais discutem o que fazer com a Igreja diante dos desafios que ela enfrenta e das sucessivas crises que a atropelam. Nada mais natural que tenham se perguntado: que ti-po de Papa necessitamos? A discussão ganhou velocidade com a renúncia de Bento XVI e a chegada em massa dos cardeais a Roma. Tudo indica que este será um conclave sem candidatos favoritos.

EUGENIO PACELLI entrou como favorito no conclave de 1939 e saiu como Pio XII. Paulo VI, também, em 1963. Joseph Ratzinger , idem , em 2005. Os demais Papas do século XX para cá viram suas eleições se desenharem quando estavam trancados e incomunicáveis na Capela Sistina. Ali ganharam nomes um ou mais perfis de papa esboçados com antecedência . Um dos perfis finalmente se impôs . E ganhou um rosto .

QUASE 70 DOS 115 cardeais-eleitores devem a Bento XVI sua condição de príncipes da Igreja. Os demais, a João Paulo II. O conclave será uma reunião de conservadores para entronizar um conservador simpático e mais jovem. Pois os progressistas foram extintos. E os moderados, quase isso.

Fonte: O Globo

O Congresso deve respeito - Renato Janine Ribeiro

Num regime baseado no equilíbrio entre os Poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - teoricamente o mais democrático dos três deveria ser o Legislativo. Sobre a Constituição norte-americana, diziam alguns teóricos da época que nela o presidente seria o elemento monárquico, por ser um só, embora eleito; o Judiciário, o aristocrático, composto que é pelos mais capazes e formado por cooptação; e o Poder Legislativo, o democrático, representando a diversidade de ideias do povo. Não é por acaso que o Legislativo é o único Poder que, por natureza, precisa ter representantes da oposição. Mas tudo isso, teoricamente.

Na prática, basta colocar uma questão: Blairo Maggi se sustentaria como ministro do Meio Ambiente num governo do PT ou do PSDB? Improvável. E Marcos Feliciano chegaria a ministro dos Direitos Humanos, sob qualquer um desses partidos? Impossível. Então, como é que o Senado e a Câmara, que - sempre teoricamente - deveriam escutar de perto a opinião pública, elegem para dirigir essas áreas pessoas que jamais ocupariam, no Executivo, posto correspondente?

O Legislativo se importa pouco com a opinião pública. Tivemos um sinal disso quando o Senado elegeu Renan Calheiros seu presidente, apesar de contestado pela sociedade: um abaixo-assinado contra ele alcançou, em poucos dias, 1,6 milhão de assinaturas.

Meio ambiente e direitos humanos, a ética do futuro

Por que o Poder em tese mais democrático se interessa tão pouco pelo que o povo pensa?

Vemos um esvaziamento do Legislativo. Mas minha tese é que é sobretudo um auto-esvaziamento. É comum se denunciar a invasão, pelo Executivo e agora pelo Judiciário, das prerrogativas das Casas de leis. É fato que as medidas provisórias assinadas pela presidência da República dominam a agenda legislativa, pelo menos em relevância. Mas isso não aconteceria se as duas Casas mostrassem que estão fazendo coisas importantes pelo País.

A principal responsabilidade para que o Legislativo tenha o peso que precisa ter é dele próprio. Não adianta culpar o Executivo, porque chamou para si a atividade de legislar - ou o Judiciário, porque se mete em questões interna corporis - quando o próprio Legislativo descuida de sua importante missão. Esse descaso consigo, e com os votos dos brasileiros que o elegeram para representar sua diversidade, suas divergências, se expressa quando ele indica para cargos de direção pessoas que conseguem rejeição significativa logo nas áreas que estariam dirigindo.

O pior é que as comissões em questão são justamente as de maior conteúdo ético, meio ambiente e direitos humanos. (Poderíamos acrescentar as da igualdade racial e dos direitos da mulher - mas a missão delas, que é assegurar a igualdade étnica e de gênero, é temporária, deve se completar em alguns anos). Já o meio ambiente e os direitos humanos definem lutas sem fim, e a finalidade dessas lutas. Definem o centro do que pode ser a ética pública. Não seria exagero dizer que são elas que dão sentido global à ação de governo. Nosso mundo entrou para valer nos direitos humanos. As relações entre nós são cada vez mais discutidas nos termos deles. Incluem direitos políticos, civis e cada vez outros novos, inclusive o de ser respeitado até na vida privada. As grandes questões sociais da atualidade se expressam na linguagem dos direitos do homem. A redução da miséria, querida da esquerda, é um exemplo cabal disso. O combate à corrupção, bordão da direita, outro. Se o parlamento amesquinha as comissões que tratam dos fins da ação política, deixa os meios sem rumo, sem sentido.

O meio ambiente trata das relações que mantemos com a esfera da vida, da qual fazemos parte. A vida se tornou valor importante. Vejam dois exemplos sem nexo entre si: primeiro, o declínio da pena de morte no mundo; segundo, a valorização da biodiversidade como fator científico, cultural e econômico. Assim, o "bios" ou vida é o eixo para desenvolver a economia futura, e os direitos, o fundamento para tornar justas as relações humanas. E tudo isso anda junto.

Eis o que foi desdenhado pelos senadores, ao escolherem o presidente da comissão do Meio Ambiente, e pelos deputados, ao elegerem o presidente da comissão de Direitos Humanos. Colocaram-se frontalmente contra o que é mais carregado de futuro em nosso tempo. Optaram decididamente pelo retrocesso.

Então, não é o Congresso que nos protege de desmandos do Executivo, como sucedeu por exemplo na era Collor. É mais frequente o Executivo nos proteger de erros do Legislativo. No ano passado, foi o caso do Código Florestal, outra escolha do Congresso pela vantagem imediata de poucos, contra o bem comum a longo prazo. Isso tudo é, obviamente, muito ruim. Não desconheço a legitimidade de quem é eleito para a presidência da República. É a única eleição em que o voto de cada brasileiro tem o mesmo peso. Mas lastimo que uma única pessoa, investida já de tantos poderes, tenha que corrigir erros do poder que deveria ser o mais nobre segundo a Constituição. O certo seria o inverso.

Quem responde por isso? Antes de mais nada, parece ser o PMDB. Foi ele quem impôs Calheiros e, agora, o pastor Feliciano. O PT, embora seus deputados se recusassem a votar em Feliciano, aceitou - enquanto partido - a entrega dos direitos humanos a alguém com seu histórico. Já o PSDB não quis, quando pôde, enfrentar essas escolhas; basta ver que não votou, para a presidência do Senado, contra Calheiros, no senador Pedro Taques, homem que tem forte biografia no combate ético. Mas, só para concluir: ninguém sonhe com o parlamentarismo no Brasil, enquanto o Congresso não mostrar que merece ter mais poder do que já tem.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

Vale tudo? - Aécio Neves

A afirmação da presidente da República de que "podemos fazer o diabo quando é hora de eleição" revela como o petismo vê e pratica a democracia.

Explicita também o desconforto do governo ante reconhecidos e recorrentes fracassos.

Os indicadores não deixam dúvidas: o crescimento médio nos dois últimos anos é o menor desde Collor; a inflação ameaça romper o teto da meta; o PAC não avança e o fechamento das contas públicas de 2012 só foi possível graças a condenáveis manobras fiscais.

Como nada é tão ruim que não possa piorar, dados da CNI apontam o crescente comprometimento da competitividade da indústria brasileira, que perde mercado no exterior e no próprio país.

Em 2012, a participação dos importados no abastecimento do mercado interno atingiu o nível recorde de 21,6% e, só nos últimos três anos, essa "invasão" subiu 5%.

Com alta carga tributária e sem as reformas estruturais, as empresas brasileiras perdem competitividade, situação agravada no segmento dos produtos de alta intensidade tecnológica, portanto de maior valor agregado.

Para desviar os olhos da população dessa realidade, o marketing assumiu a gestão do país. O site Contas Abertas aponta que, em apenas dois anos, a presidente Dilma gastou em festividades quase o mesmo volume de recursos públicos registrado durante todo o segundo mandato de Lula.

Confiando na falta de informação e memória dos brasileiros, o governo anuncia pela terceira vez a liberação de recursos já anunciados, que seguem não liberados desde 2010.

Veta a proposta do PSDB, aprovada pelo Congresso há seis meses, desonerando a cesta básica, apenas para, em seguida, assumir o mérito da autoria, prejudicando milhões de brasileiros que já poderiam estar usufruindo da medida.

Sob o constrangimento da própria administração, faz uma milionária campanha publicitária para comunicar o fim da miséria no país. Foge do debate do valor per capita definido e contraria a visão de especialistas para quem a pobreza significa um conjunto de privações, e não pode ser superada apenas com transferência de renda, por mais importante que essa seja.

Em outra ação publicitária, o governo se apropriou das reformas dos estádios, apesar de não haver nenhum recurso do Tesouro investido nessas obras: omitiu a participação dos Estados, da iniciativa privada e do próprio BNDES, se abstendo de informar que a presença federal se limita ao financiamento de parte dos custos, feito pelo banco, e que será integralmente pago pelos tomadores.

De um lado a realidade, onde estão os brasileiros e deveria estar a presidente. De outro a pirotecnia, onde estão a sobrevivência dos interesses do PT e a candidata.

Aécio Neves, senador (PSDB-MG)

Fonte: Folha de S. Paulo

"Queridos", pero no mucho - José Roberto de Toledo

Queridos e queridas" é o novo "companheiros e companheiras". Dilma Rousseff voltou a soar seu bordão ao conjurar eleitores na sexta-feira à noite, no seu pronunciamento em rede de rádio e TV. "Meus queridos brasileiros e, muito especialmente, minhas queridas brasileiras" - começou a presidente, antes de anunciar a desoneração da cesta básica, no Dia Internacional da Mulher. Não foi por acaso.

"Queridos e queridas" são a chave para identificar quando Dilma esta em campanha. Ao contrário de Lula, que conclamava os "companheiros" em qualquer discurso, ela faz uso seletivo do bordão. Parece até que a evocação depende de quem escreve o texto, se o ghost-writer palaciano ou o marqueteiro da reeleição. Mas importa menos o "quem" do que o "quando".

Em quase 400 manifestações públicas desde que tomou posse da Presidência, Dilma fez uso de "queridos" (no plural) em apenas 58 ocasiões. A referência a "queridas" foi duas vezes mais rara: só em 31 vezes. Juntos, "queridos" e "queridas" só saíram da boca de Dilma em 696 de suas falas. Foram poucas e boas, porém.

Os pronunciamentos presidenciais em rede de TV, quando a audiência é potencialmente de dezenas de milhões de pessóas, começam invariavelmente por "Queridas e queridos". Foram cinco vezes em 2011, quatro em 2012 e duas até agora em 2013. Dilma tem usado efemérides para monopolizar a TV: Natal, Dia do Trabalho, 7 de Setembro. Vale observar se a regra se repetirá até 2014 ou se o calendário eleitoral se imporá ao cronológico.

Na sexta-feira, as brasileiras foram "queridas" duas vezes e as mães, uma. Foi uma rara - senão única - demonstração de afetividade. Dilma costuma ser econômica nos adjetivos que dirige ao público. Fala uma vez "queridos e queridas" na abertura - ou quando se dirige diretamente a audiência - e basta. A repetição adjetiva de sexta-feira sugere um esforço extra para criar empatia.

O bordão é pouco espontâneo, mas maleável. Pode ser adaptado ao alvo, como em "queridas prefeitas e queridos prefeitos", usado por Dilma durante seu encontro com os novos chefes do Executivo municipal - e potenciais cabos eleitorais - em janeiro passado. Pode virar "queridos formandos" (formatura do Instituto Rio Branco) ou "queridos mineiros" (entrega do Mineirão).

Mas "queridos brasileiros" Dilma usa apenas nos pronunciamentos em rede de TV e rádio - ou em ocasiões solenes,, como durante seu discurso de posse no Congresso Nacional.

O "querido" perde a solenidade, porém, se é dirigido a repórteres. Quando a presidente ouve uma pergunta de que não gosta, o interlocutor logo descobre porque a resposta vem precedida de um enfático e irônico "Meu querido...". Por exemplo, em "Meu querido, não respondo a essa pergunta" ou em "Meu querido, eu não vou ficar me atendo à pauta do adversário".

Poucas palavras revelam mais o estado de espírito presidencial do que "querido" - seja pela pronúncia ou pela omissão.

Em 2011, Eduardo Campos ouviu vários "querido", ditos em público pela presidente durante cerimônias em Brasília e no Nordeste. Em 2012 e 2013, nenhum (mesmo quando sua mulher, Renata, foi saudada com um "querida" por Dilma em dezembro, no Ceará). Ao contrário, desde o ano passado que os repasses federais para Pernambuco, o Estado governado por Campos, diminuíram a patamares não de. "querido", mas de oposicionista.

Levantamento feito pelos repórteres Julia Duailibi e Bruno Boghossian, do Estado, mostra que a proporção de repasses voluntários da União a Pernambuco caíram quase pela metade entre o primeiro e o segundo anos do governo Dilma - indo na direção oposta do que ocorreu no governo Lula, quando só cresceram.

Não terá sido coincidência a escassez tanto de investimentos quanto de "queridos" no relacionamento de Dilma com Campos desde que o governador se tornou presidenciável. Daqui até 2014, "queridos" devem sair cada vez com mais frequência da boca de Dilma. Se forem incluídos nas referências ao governador pernambucano, será sinal de que 0 PSB e seu presidente decidiram adiar para 2018 o projeto de concorrer à Presidência.

"Queridos" e "palhaços". Antes "querido" do que "palhaço". Quando mandou um repórter "chafurdar" no lixo e o chamou de "palhaço", o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, demonstrou o seu equilíbrio.

Ao não pedir desculpas de viva voz e usar o texto de um subalterno para tentar se redimir, o ministro provou o seu caráter.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O voo de galinha: o PIB de 2012 - Marcus Pestana

A população ainda não sentiu, mas... .

Alguma coisa está fora da ordem. A raquítica taxa de crescimento do PIB de apenas 0,9% é só a ponta do iceberg. A taxa média dos dois anos do governo Dilma ficou em 1,8%, muito menos que os primeiros anos de Itamar Franco, Fernando Henrique e Lula. A primeira tentação é atribuir o fraco desempenho à crise mundial, mas está claro que a crise se abateu mais sobre as economias da Europa e dos Estados Unidos. Em 2012, diversos países emergentes tiveram desempenho infinitamente superior ao Brasil, descartando o argumento: China (7,8%), Indonésia (6,2%), Tailândia (5,8%), Índia (5,0%), México (3,9%), Rússia (3,4%) e África do Sul (2,5%).

Não há nenhuma característica genética do Brasil que o faça ter um crescimento inferior a 1%. Fato é que o nosso país está perdendo preciosas oportunidades e está se posicionando mal para o futuro. É preciso desvendar os mistérios dessa armadilha do baixo crescimento e mudar o rumo. Não creio que o governo Dilma, por suas convicções e estilo, seja capaz de patrocinar uma guinada na dimensão necessária.

Entrando mais a fundo nos diversos números publicados pelo IBGE, dias atrás, consegue-se perceber claramente o raio-X do problema. O PIB por habitante cresceu próximo de zero (0,1%), ou seja, 2012 foi um ano perdido. Ainda assim, o consumo das famílias cresceu (3,4%) e o mercado de trabalho permaneceu aquecido. Isso revela, por um lado, que a expansão do crédito e da renda encontra resposta no consumo. Mas sabemos que, sem o correspondente incremento dos investimentos e da oferta, o modelo é insustentável, pressionando a inflação e a balança comercial.

O consumo do governo foi, pelo lado da demanda, o que mais cresceu (3,2%). Embora o governo tenha concedido diversas desonerações fiscais, tudo indica que a carga tributária continuou crescendo e não houve, do ponto de vista macroeconômico, o desejado incremento da poupança e do investimento privado. A economia brasileira consolida cada vez mais um perfil de produtora de commodities e de maior peso do setor serviços. Vale dizer, menor produtividade e empregos de baixa qualidade.

A desindustrialização reafirmou sua trajetória (-0,8%) e a âncora verde do agronegócio (-2,3) não contrabalançou. A indústria de transformação recuou 2,5%. As importações cresceram mais que as exportações.

O ponto central para a retomada do desenvolvimento que leve o Brasil a crescer de 4% a 6% ao ano é uma mudança radical no ambiente para investimentos. Isso implica em uma série de alterações conjugadas: queda da carga tributária, ampliação da participação de capitais privados na infraestrutura, profissionalização da gestão das estatais e agências regulatórias, respeito a contratos e transparência nas contas públicas, medidas mais universais e menos pontuais, menos intervencionismo e expansão das despesas correntes, maior integração internacional.

A população ainda não sentiu, mas há uma enorme interrogação no horizonte brasileiro

Marcus Pestana, deputado federal (PSDB-MG)

Fonte: O Tempo (MG)

Um pacto por recursos - Denise Rothenburg

Diante da dificuldade do PT em distribuir o poder, leia-se a gestão de verbas da União, vem aí a reforma do Estado, para levar uma parte mais expressiva do Orçamento direto para os caixas estaduais

No Brasil, as coisas sempre ocorrem lentamente. Haja vista a redemocratização. Não foi feita “na marra”, embora alguns trabalhassem por esse caminho. Tivemos que passar pelo Colégio Eleitoral antes de seguir para o sonhado voto direto. A própria Constituição de 1988 está até hoje com uma série de artigos sem regulamentação, alguns inclusive obsoletos. O mesmo mal recai agora sobre o tal pacto federativo. Há quanto tempo você ouve falar da necessidade de uma nova ordem no relacionamento entre União, estados e municípios? E esta semana, finalmente, teremos a chance de saber se “agora” vai e, se ocorrer, será mais pela dificuldade do PT em dividir o poder do que qualquer outro motivo mais republicano.

Dentro do Congresso, há aquela sensação de que finalmente o tempo de maturação do pacto federativo chegou. Ao longo dos próximos dias, teremos uma série de reuniões com a pauta dos estados. Hoje, por exemplo, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) recebe os ex-ministros Nelson Machado e Guilherme Dias, o ex-governador Germano Rigotto e o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Bernard Appy e o economista José Roberto Afonso. Quarta-feira, os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Eduardo Alves, reúnem os 27 governadores para tratarem do tema. E ainda tem o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, e secretários estaduais na terça-feira, para debater a reforma do ICMS.

Ok, você tem razão. Quando se coloca muita gente na mesa para debater um tema fica difícil chegar a uma alguma decisão. Mas está no ar do Congresso um certo “basta” no que se refere ao velho pires na mão e a certeza de que não é possível essa concentração de receitas e de projetos em Brasília.

Mas, desde que venceu o prazo fornecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para que o Congresso reformulasse a distribuição do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e que a reforma do ICMS entrou na ordem do dia, tem-se a percepção de que os políticos pretendem usar essa obrigação para aproveitar e fazer o serviço pendente há décadas.

O novo pacto federativo volta e meia entra na pauta. No passado, Paulo Renato Souza, no papel de coordenador da campanha do candidato Fernando Henrique Cardoso, colocou esse tema como primeiro da lista de prioridades do futuro governo. Perdeu a batalha, porque a maioria não queria rediscutir a federação. Afinal, a concentração da receitas na União estava boa para a maioria dos partidos, cada um se sentindo acomodado em um setor. De vez em quando, havia uma crise, mas nada que comprometesse a divisão global do poder, graças ao jeitoso presidente, que segurava seus aliados na lábia.

Agora, esse quadro mudou. Sob esse biombo da ordem do STF, do ICMS e da praticidade de se resolver obras e serviços nas instâncias mais próximas do eleitor (administrações estaduais e municipais), há o cansaço de deputados e senadores, a maioria da base governista, com a demora do PT em dividir o poder.

Para completar, eles vêem na presidente Dilma um ar de superioridade e impaciência com a classe política, uma atitude que reforça a imagem negativa que se tem dos congressistas de forma geral. Até aqui, todas as mudanças de ministros no governo Dilma Rousseff — e olha que não foram poucas — vieram recheadas de estresse, com os partidos apontando nomes que o Planalto simplesmente rejeitava. Uma rara exceção, foi Aldo Rebelo, do PCdoB, para o Ministério do Esporte. Para as agências reguladoras e cargos de segundo escalão, o PT sempre preferiu indicar os seus, enquanto até os nomes técnicos propostos pelos aliados ficavam esquecidos.

Diante desse quadro, se Maomé não consegue chegar à montanha, no caso as receitas da União, os políticos vão levar essa montanha até Maomé. É isso que estará em curso no pacto federativo. Repassar a estados e municípios os recursos que hoje estão concentrados na União.

Enquanto isso, no Planalto…

Ao longo dos últimos 25 anos, a União foi competente em segurar essa distribuição. Seus técnicos sempre jogavam sobre a mesa algum recurso que faziam com que os estados brigassem entre si, enquanto o grosso do bolo permanecia intocável. Desta vez, parece que o governo pretende usar o ICMS como essa isca. Se vai funcionar, veremos no decorrer dos próximos dias.

Fonte: Correio Braziliense

A resposta do Rio – Fernando Gabeira

Tantas vezes adiado, chegou o golpe inexorável: as perdas do Rio de Janeiro e outros estados produtores nos royalties do petróleo. Os deputados e senadores majoritários viam nesta redistribuição não apenas mais dinheiro, mas também mais votos nas eleições. Era difícil vencê-los, numericamente, e nossos argumentos não os abalavam.

Com esta votação, o Rio de Janeiro passa a viver uma situação singular. O governador Cabral suspendeu todos os pagamentos do governo, exceto o dos funcionários.

Um gesto dramático. Uma vez que a decisão parlamentar era esperada, já deveríamos ter previsto esta eventualidade. Mas o gesto reforça o grau de injustiça dos outros estados da federação que fingem ignorar os enormes encargos sociais e ambientais que a exploração do petróleo impõe ao litoral fluminense.

Ainda nesta semana, ao visitar a Ilha Grande, tomei contato com o crescimento de uma espécie exótica, o coral sol, que está reduzindo os mexilhões, entre outros estragos. O coral sol veio de Fiji e do Equador , agarrado em cascos de navios petroleiros. É um problema para todo o litoral brasileiro, mas ataca o do Rio em primeiro lugar.

Quem visita Macaé e vai à favela Nova Holanda pode perceber a tensão na busca por moradia, a chegada de milhares de pessoas que vêm à procura de trabalho na indústria do petróleo. E elas precisam de escolas, hospitais, segurança.

O aeroporto de Cabo Frio, um dos mais eficazes do país, foi tomado por manifestantes que protestavam contra o corte dos royalties. Seria necessário uma boa reflexão coletiva sobre a nova situação e como enfrentá-la.

O Estado deve ter como objetivo estratégico recuperar os royalties necessários para seguir crescendo e atenuar o impacto da exploração de petróleo. Mas nada impede também que se busquem todas as compensações, antes que seja reparada a injustiça de forma definitiva.

Dito assim, em dois parágrafos, parece simples. Mas alcançar uma unidade mais ampla, por cima das divergências políticas ou culturais, é o fator decisivo para enfrentar a complexidade do novo momento.

É preciso uma energia que não vem do petróleo, uma outra energia.

O Rio de Janeiro é um estado produtor de energia política. Vamos contar com ela. A injustiça cometida pelos outros estados da federação nos dá uma causa em comum, independente de nossas brigas locais. Aproveitar esta chance e reagir de forma inteligente e unitária pode, no mínimo, atenuar as nossas perdas.

Escritor e jornalista, Fernando Gabeira participou da resistência contra o governo militar. Autor de 11 livros, seu mais recente trabalho, um balanço de meio século de vida política, foi ‘Onde Está Tudo Aquilo Agora?’

Fonte: Jornal Metro /RJ

Silvio Tendler - A Trilogia da Resistência

Ele é o documentarista da vida política brasileira pós-Getúlio Vargas. Silvio Tendler, 63 anos, já mergulhou na história de Jango, JK e Tancredo Neves. Seus filmes ajudaram o brasileiro a entender os meandros do poder. Agora, de uma vez só, prepara três filmes para lembrar, em 2014, os 50 anos do golpe militar de 1964, que jogou o país numa ditadura por 21 tenebrosos anos.

“Vou reconstituir a História em três séries para a TV Brasil, que depois serão transformadas em longa. O espectador, um ser inteligente, monta a História toda na cabeça depois”, explica. O que une cada um dos filmes é a resistência.

“Os advogados contra a ditadura” conta a saga dos advogados pelos porões da repressão. “É gente acima do bem e do mal: Sobral Pinto, Modesto da Silveira, Heleno Fragoso, entre outros.”

“Militares pela democracia” revela o preço alto que homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica pagaram por reagirem ao golpe dentro dos quartéis. Há algumas surpresas. Luiz Pinguelli Rosa, o físico, era tenente do Exército, estava pronto para defender o presidente João Goulart, mas foi preso no dia 31 de março. Acabou expulso do Exército. Por sugestão da irmã, virou físico. “Grande irmã. Hoje, ele seria um coronel medíocre e aposentado”, imagina Silvio, que ainda procura personagens desta história. Um deles é um tal de comandante Guerra, que levou Jango para São Borja.

Há muitas noites na noite” é uma preciosidade. Narra a vida do poeta Ferreira Gullar no exílio. Tem o apoio da Ancine, da Oi e do governo do Rio. É baseado no espetacular “Poema sujo”, de Gullar. Silvio vai contar a vida de Gullar desde o golpe, passando pelo exílio, até a volta ao país, em 1976. Quando o poeta chegou do exílio, foi direto dar um mergulho no mar de Ipanema. “Nessa hora, ele falou ‘aqui termina o golpe’. Uma maravilha, né?”

Fonte: O Globo /Coluna do Ancelmo Gois

Os 150 anos de Ernesto Nazareth

Músico que uniu o salão e a rua é homenageado com vasta programação que contempla sua obra nas faces erudita e popular

Leonardo Lichote

RIO - Na virada do século XIX para o XX, algo fervia no Rio de Janeiro — as elites da capital federal emulando a elegância europeia, batuques ecoando pelas vielas ocupadas por escravos recém-libertos. Como pianista demonstrador da Casa Vieira Machado & Cia, na Rua do Ouvidor, ou como atração da sala de espera do Cinema Odeon, Ernesto Nazareth ouvia tudo. E, mais que isso, traduzia para seu instrumento o processo em curso — a cultura urbana que se formava, a tal fervura que deu as bases para a produção brasileira ao longo das décadas seguintes — misturando os dois universos: o salão e a rua, Chopin e os chorões, o negaceio rítmico e a complexidade técnica. Agora, quando são celebrados os 150 anos de seu nascimento (no dia 20 de março de 1863, no Morro do Pinto), Nazareth é homenageado em suas faces erudita e popular, lembrado como o que foi em ambos os terrenos: um fundador.

— Ele foi um dos grandes arquitetos da brasilidade, fundindo linguagem de danças de salão com elementos africanos das danças populares — explica o pianista André Mehmari, que preparou recital para abrir, no dia 19, as homenagens do Instituto Moreira Salles (IMS). — Parece simples, mas só um gênio pode fazer essa fusão com essa profundidade e de forma palatável, numa linguagem que chega muito fresca hoje.

Pianista fundamental na difusão da obra de Nazareth, com dois discos totalmente dedicados ao compositor de “Odeon” e “Brejeiro” nos anos 1960, Eudóxia de Barros ilumina um tanto dessa fusão de que Mehmari fala:

— Ele imitava instrumentos populares. Em “Apanhei-te cavaquinho” e “Ameno Resedá”, por exemplo, fazia a flauta na mão direita e o cavaquinho na esquerda. A música brasileira se divide em pré-Nazareth e pós-Nazareth. Somente com ele começou a ser verdadeiramente brasileira, com ritmos sincopados e brejeirice.

Sua abrangência pode ser medida pelas homenagens. A Orquestra Sinfônica Brasileira toca com Yamandu Costa o “Concerto Nazareth”, de Paulo Aragão, no Teatro Municipal, dia 23. O IMS abriga ainda o “Simpósio Ernesto Nazareth 150 anos” e mantém no ar o site www.ernestona zareth150anos.com.br, que inclui história e obra do artista e eventos relacionados à data.

Um dos participantes do simpósio do IMS — que nos dias 20 e 21 abordará a riqueza do compositor em quatro mesas temáticas —, o músico e historiador Cacá Machado lembra um diálogo que diz muito sobre a penetração da obra do pianista na música brasileira produzida depois dele e de seus “tangos brasileiros” (gênero que usou para classificar suas peças sincopadas):

— Nos anos 1980, havia um programa na TV Manchete chamado “A música segundo Tom Jobim”, dirigido por Nelson Pereira dos Santos. No primeiro episódio, Tom convidava Radamés Gnattali, e os dois comentavam como Nazareth foi importante para a música deles (o vídeo, no qual Radamés aparece tocando peças como “Odeon” e “Batuque”, pode ser visto no YouTube).

A influência de Nazareth, identificam os músicos e estudiosos de sua obra, está presente fundamentalmente em seu olhar original sobre as esferas popular e erudita:

— Não é uma influência rígida acadêmica, de uma escola — analisa o maestro Roberto Minczuk, regente da OSB. — A maior influência é do pensamento, de uma teoria, desse olhar único sobre a música popular urbana do Rio, dessa nossa cultura carioca e brasileira.

Representante celebrado do piano brasileiro contemporâneo, André Mehmari completa, tomando como exemplo sua própria música:

— Minha busca pela fusão de brasilidade com elementos da musica europeia vem de Nazareth, passa por músicos como Egberto Gismonti. É um pensamento musical. Minha procura hoje é como a que ele plantou.

Um pensamento que passou também por Villa-Lobos, como aponta Paulo Aragão:

— O compositor francês Darius Milhaud criticava os compositores brasileiros dizendo que os velhos eram influenciados por Wagner e os novos por Debussy. E que eles deviam prestar mais atenção em Nazareth. Dizia que havia um gesto em Nazareth, uma respiração, um “pequeno nada” muito particular. Ele escrevia, conhecia bastante bem o repertório clássico, mas tinha uma antena de ligação com a música popular, a rua. Frequentava as festas, foi um dos personagens retratados no livro do Animal (como era chamado Alexandre Gonçalves Pinto, que escreveu “Reminiscências dos chorões antigos”, com perfis dos personagens da música de rua carioca entre os séculos XIX e XX).

Frustração por ser popular

O “Concerto Nazareth” composto por Aragão vê a música do compositor a partir de três encontros do pianista. O primeiro é com Milhaud, mostrando sua influência no trabalho do francês. O segundo traz Villa-Lobos (“Eles chegaram a tocar juntos numa orquestra de salão na década de 1910”, conta Aragão, que lembra esse momento “silenciando” parte da OSB para que ela soe como uma pequena orquestra de salão). Por fim, o encontro de Nazareth com os chorões, a parte rítmica mais marcada.

O violonista Yamandu, que executará o “Concerto Nazareth” com a OSB, diz que o compositor está profundamente presente em sua música:

— A primeira música brasileira fora das tradições gaúchas que ouvi foi “Odeon”, tocada por meu pai. E no meu primeiro disco gravei uma interpretação de “Brejeiro” que foi muito bem recebida e deu muita sorte na minha trajetória. Ele foi o cara que ajudou a criar essa linguagem miscigenada, não sei se querendo ou não, na qual tocamos até hoje.

Com uma obra executada em salas de concerto do mundo todo, como nota Eudóxia, Nazareth chegou, por via indireta, ao lugar onde sempre quis estar.

— Ele queria ter sido não o Nazareth, mas um músico erudito. Morreu com essa frustração, como o Pestana de “Um homem célebre”, de Machado de Assis — diz Cacá Machado. — Mas acabou por imprimir um jeito de compor que teve reflexo forte na música erudita, como Villa-Lobos deixa claro a dedicar a ele seus choros.

Fonte: O Globo / Segundo Caderno