segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Os efeitos das prisões no PT

Paulo de Tarso Lyra

Os petistas que se revezavam na porta do presídio da Papuda e a nova direção do PT fluminense, que classificou os réus presos por causa do mensalão, estão em sintonia com parte da militância partidária, com a cúpula da legenda e com o Palácio do Planalto. Ao enaltecerem o papel de líderes políticos como o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, o deputado licenciado José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares, eles criam um abismo em relação à uma parcela da sociedade que apoiou a prisão dos condenados. Inclusive filiados.

Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostrou que 87% dos entrevistados — e que votam no PT — apoiaram as prisões decretadas pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa. "O PT ainda não entendeu o que está acontecendo, eles continuam olhando apenas para si", disse um parlamentar da base aliada, em pleno cafezinho da Câmara, após terminar uma conversa com um interlocutor petista.

Durante a posse da nova diretoria do PT fluminense, a deputada Benedita da Silva foi uma das que adotaram o discurso de heroísmo de seus correligionários. "Os nossos companheiros só poderão suportar a prisão se tiverem a nossa solidariedade. Graças a Deus, eles não conseguiram algemar nossos companheiros e botá-los no camburão", disse.

Benedita se revezou com outros colegas de partido nas sucessivas visitas aos condenados na Papuda, prática que irritou familiares de presos e gerou descontentamento inclusive na presidente Dilma Rousseff. Para a presidente, esse tipo de atitude pode gerar antipatia nos demais detentos, o que aumentaria a pressão sobre os "companheiros".

Desde que Barbosa autorizou a prisão dos primeiros réus do mensalão, no feriado de 15 de novembro, parte do PT tem levantado suas vozes e bandeiras contra o ato. Integrantes do partido defenderam uma nota dura contra Barbosa na reunião do Diretório Nacional do dia 18, mas o documento citou o tema apenas no 12º parágrafo. Preferiu concentrar os ataques às críticas da oposição sobre o desequilíbrio fiscal brasileiro e a possibilidade de retorno da inflação.

Para um analista político que acompanha de perto o debate, a cúpula petista está guardando distância regulamentar do tema. "Eles não vão levar esse assunto para a campanha, podem estar certos. Falcão (Rui Falcão, o presidente reeleito do partido) tem se manifestado sobre o Genoino por causa do estado de saúde dele. Você não vê uma menção a Dirceu ou a Delúbio", ponderou esse interlocutor.

Junta médica
Os petistas também tentaram, em um primeiro momento, mobilizar aliados no Congresso a pedir abertura do processo de impeachment contra Barbosa, alegando que ele cometera irregularidades jurídicas na decretação das prisões. A própria Dilma desanimou o líder do partido no Senado, Wellington Dias (PI), no encontro com os líderes da base aliada no Planalto. "Pode ter até havido algum tipo de irregularidade, mas comprar briga com Barbosa neste momento, em que a opinião pública está celebrando o fim da impunidade, é um tiro no pé", disse outro integrante da base aliada.

O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), irmão de Genoino, divide-se entre a lealdade partidária e o amor fraternal que sente pelo familiar condenado pelo STF. Após um discurso na tribuna da Câmara onde apontou os riscos vividos pelo irmão na cadeia, ele chorou ao conversar com jornalistas. De lá para cá, uma junta médica solicitada por Barbosa disse que a prisão domiciliar, no caso de Genoino, não era "imprescindível". E outra junta, desta vez da Câmara, adiou a aposentadoria por invalidez do parlamentar, optando por prorrogar a licença médica por mais 90 dias.

Com tantos componentes pessoais envolvidos, Guimarães pediu ao Correio desculpas por não conseguir avaliar a situação de maneira política. "Não sei, não quero falar sobre isso. Não consigo ter uma análise sobre o assunto, temos que esperar".

Para completar, na semana que passou, Dirceu conseguiu um emprego de R$ 20 mil como gerente administrativo de um hotel em Brasília, de propriedade do presidente do PTN, Paulo de Abreu. "Dirceu complicou a vida do companheiro", teria brincado Lula, em conversa com aliados no fim de semana.

"Não sei, não quero falar sobre isso. Não consigo ter uma análise sobre o assunto, temos que esperar"
José Guimarães (CE), líder do PT na Câmara e irmão de José Genoino

R$ 20 mil
Salário registrado na carteira de trabalho de José Dirceu para um emprego no Hotel Saint Peter, em Brasília.

Fonte: Correio Braziliense

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