domingo, 29 de dezembro de 2013

Influência eleitoral na geografia da Esplanada

Reforma ministerial prevista para as próximas semanas levará em conta a necessidade de fortalecer as alianças para a disputa por votos em 2014. Das 14 mudanças esperadas, ao menos 12 titulares de pastas devem ter perfil político em vez de técnico

Paulo de Tarso Lyra

O ministério que a presidente Dilma Rousseff começa a definir em janeiro e que terá contornos finais após o carnaval, em março, será moldado nas necessidades eleitorais da candidata do PT à reeleição para o Planalto. E terá prazo de validade: nas conversas que a presidente tem tido com os partidos, eles sabem que os nomes escolhidos poderão ser trocados em 2015, dependendo do resultado das urnas e dos personagens que forem importantes na corrida eleitoral. “Conforme o desempenho dos aliados e o peso dos partidos na composição do novo Congresso, poderemos ter um novo desenho ministerial no início do segundo mandato”, admitiu um aliado direto da presidente.

Dilma queria ter começado as definições dos nomes em dezembro e estender as substituições para, no máximo, janeiro. A escolha do novo cronograma tem a participação direta de dois personagens: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, pré-candidato do PT ao governo de Minas Gerais. O prazo máximo para a desincompatibilização é o fim de março, seis meses antes das eleições.

Na cabeça da presidente, trocar os nomes em dezembro e janeiro daria tempo suficiente para os novos ministros se ambientarem com a máquina e começar a produzir efetivamente logo após o carnaval. A tendência também era indicar secretários executivos, com uma ou outra pasta destinada a indicações políticas. Entretanto, mudou de ideia, influenciada por Lula.

O ex-presidente alertou que as indicações devem ser políticas, para agradar aos aliados e garantir os respectivos palanques. Além disso, seria arriscado escolher os nomes muito antes das convenções partidárias, marcadas para junho, quando acontecem as definições das alianças políticas. “Dilma estaria entregando um espaço no governo antes de ter a certeza da contrapartida dos partidos”, ponderou um interlocutor palaciano, que compreende o raciocínio lulista.

Com isso, das 14 pastas que deverão passar por mudanças, em 12 delas, a escolha será política. A única definição técnica ficará no Ministério da Saúde — apesar de ser um nome que contará, necessariamente, com as bênçãos do atual titular, Alexandre Padilha, que deixará a pasta para concorrer ao governo de São Paulo. A situação ainda indefinida é a Casa Civil, considerada uma pasta vital para o funcionamento do governo (veja arte abaixo).

A possibilidade de a pasta ser conduzida por Aloizio Mercadante, atual ministro da Educação, voltou a ganhar força. No início do mandato, ele nem era tão próximo da presidente, mas foi conquistando espaço e acabou sendo indicado para suceder Fernando Haddad, atual prefeito de São Paulo, no Ministério da Educação. Outros dois nomes concorrem à Casa Civil, nesta ordem: Carlos Gabbas, atual secretário executivo do Ministério da Previdência e parceiro de Dilma nos passeios de moto por Brasília; e Miriam Belchior, ministra do Planejamento.

Caso a presidente deseje um perfil técnico, a opção será Gabbas. Mercadante, por outro lado, representaria uma escolha política. Mais do que isso, se for indicado para a Casa Civil, o atual ministro da Educação abdica automaticamente de ser o coordenador da campanha pela reeleição. Com isso, a função passaria a ser do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.

Necessidades distintas
Duas das principais estrelas petistas que deixarão a Esplanada para concorrer aos governos estaduais têm pensamentos distintos sobre a desincompatibilização: Alexandre Padilha e Fernando Pimentel. O primeiro quer deixar o governo o quanto antes — mesmo pensamento, aliás, de Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, que deve disputar o governo do Paraná. Padilha precisa de tempo para ser conhecido pelo eleitorado e, principalmente, pela militância petista.

O caso de Pimentel é diferente. Ele já foi prefeito de Belo Horizonte por duas vezes e concorreu ao Senado em 2010. É, portanto, conhecido do eleitorado e da militância. Para ele, é melhor continuar até o limite máximo possível no ministério. E ainda tenta influenciar diretamente a escolha do sucessor. Ele tenta convencer a presidente a indicar para o empresário Josué Gomes, filho do ex-vice-presidente José Alencar.

Recém-filiado ao PMDB, Josué chegou a ser cogitado para senador, vice-governador ou até candidato do PMDB ao governo mineiro. Pimentel tenta emplacá-lo na pasta para eliminar problemas, mantendo o discurso de que Lula escolheu Luiz Fernando Furlan, da Sadia, para o Ministério do Desenvolvimento e que Dilma repetiria o mesmo gesto ao apostar em Josué na expectativa de êxito semelhante.

Outra pasta que passará por mudanças é a Secretaria de Relações Institucionais. Derrotada politicamente com a eleição de um grupo adversário ao diretório do PT em Santa Catarina, Ideli Salvatti não vai mais concorrer, nem mesmo ao Senado. Pesou também o desgaste sofrido após uma série de reportagens do Correio mostrando que ela utilizou o único helicóptero utilizado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para visitas políticas no interior do estado sulista.

Ideli deve ser deslocada para outra pasta. “Ela é um soldado obediente, lembre-se disso”, reforçou um aliado de Dilma. Uma opção plausível seria ela ser deslocada para a Secretaria de Direitos Humanos, já que Maria do Rosário será candidata à reeleição na Câmara dos Deputados. O mais cotado para as Relações Institucionais hoje é o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP). Com excelente trânsito no PT, ele seria uma alternativa para aproximar a bancada petista na Câmara, que sempre reinvidicou a articulação política do governo.

Trocas desde 2011
Dilma Rousseff promoveu, ao longo do primeiro mandato, 21 trocas em relação à equipe original, que assumiu em 1º de janeiro de 2011. As causas foram variadas. A primeira leva, durante o primeiro ano de mandato, foi afastada por denúncias de corrupção, na chamada faxina ministerial. Alguns ministros foram trocados por baixa produtividade e outros, para acomodar as forças políticas aliadas.

39
Número de pastas do governo Dilma, entre secretarias e órgãos com status de ministério

Fonte: Correio Braziliense

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