quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Dos três na disputa, um saiu-se melhor - Rosângela Bittar

Em 2013, candidato tornou-se irreversível e competitivo

Campanha antecipada, todos fazem. Quem está montado na máquina do governo faz mais fácil, mais forte, mais em tempo integral, com mais apoio e adesão automática, com mais dinheiro, inclusive público. O esforço é mínimo, e a transgressão legal permitida por multas irrisórias. Estão em campanha aberta à sucessão presidencial Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

Dilma postula a reeleição e tem todas as condições expostas acima porque está no exercício do cargo, o apoio reforçado do ex-presidente hiper popular que a elegeu na primeira vez e está muito à frente dos demais nas pesquisas. Curioso, porém, como numa medição de resultados da corrida, em 2013, em ensaio de políticos sobre quem foi melhor ou pior durante o ano, as vantagens do cargo não foram capazes de dar-lhe o diploma antecipado de campeã.

A presidente Dilma fez campanha em período integral, visitou todas as regiões, entregou benefícios, inaugurou obras, diplomou alunos, foi a personagem do programa de TV do seu partido, convocou redes obrigatórias de emissoras de televisão para falar como presidente em várias oportunidades. Sempre com sua campanha reforçada pelo padrinho e alavancando outras candidaturas, como a do postulante do PT ao governo de São Paulo, ministro do seu time em duplo palanque, na máquina federal e nos eventos do Estado onde disputará. Campanha em 2013 como se a eleição fosse amanhã.

Sofreu um forte revés em junho, quando as manifestações populares contra a deficiência de serviços a identificaram com os problemas de má gestão dos programas e verbas públicos. Sua queda nas pesquisas de opinião foi vertiginosa, mas à época o seu publicitário, João Santana, anunciou que até dezembro ela teria recuperado os pontos perdidos. Não recuperou tudo, mas está acima de 40% na pesquisa induzida, o que é considerado ótimo para quem caiu tanto há tão pouco tempo.

O nó de sua candidatura, entretanto, continua sendo a sua vantagem: estar no cargo e fazer um mau governo, não conseguir superar os graves problemas da Saúde, da Educação e da Segurança, ainda em primeiro lugar nas queixas da população sobre os serviços públicos, agravados pelos dramas dos transportes coletivos que viraram símbolo das manifestações. Temor dos temores: a ação de vândalos acabar criando um clima negativo na Copa do Mundo, a ponto de dificultar a realização dos jogos.

A candidata reverteu a queda na intenção de voto, apesar da gestão, e ajudou seus ministros candidatos, como o que administra o setor pior avaliado, pela força da propaganda. Interessante será observar se só com tal recurso vai sustentar o crescimento de sua popularidade a ponto de vencer no primeiro turno. A última pesquisa Ibope, feita para a CNI aponta mais um contrassenso, o reflexo positivo da (má) gestão do governo sobre as intenções de voto na presidente, um efeito que ainda carece de investigação tendo em vista a insatisfação declarada com serviços cruciais para as famílias. Dilma fez um ano de discursos e de consolidação da aliança que lhe dá tempo recorde de propaganda gratuita na TV.

Aécio Neves demorou a entrar na disputa e, portanto, a reagir, mas não ficou de todo estacionado. Sua candidatura apareceu e assumiu lugar privilegiado no PSDB depois de patinar alguns meses enredado no ser ou não ser da indefinição interna, provocada pela pressão da candidatura do ex-governador José Serra. Muitos gostaram de seus programas partidários de TV, embora tenha demitido o marqueteiro no fim do ano. Visitou os Estados e recebeu o apoio do economista e ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, terminando o ano com a candidatura consolidada e com um provável chefe da economia, já com lançamento de diretrizes que sinalizam por que quer a Presidência.

Não é pouca coisa, inclusive porque é o único candidato que já apontou, neste ano, para quem precisa ver com segurança o que será da economia brasileira, quem vai comandá-la. No finalzinho de 2013 ainda pode comemorar o afastamento de Serra da disputa e a unidade partidária em torno do seu nome.

Faz-se obrigatório o registro: foi a candidatura Eduardo Campos que mais evoluiu politicamente em 2013. Desde a ação das bancadas do PSB no Senado e na Câmara nas votações às filiações mais importantes do ano, o partido de Campos atuou bem.

Logo no início a bancada de senadores votou unida contra Renan Calheiros para a presidência da Casa, marcando posição a favor da candidatura de Pedro Taques (PDT) e indicando que sua atuação política seria firme e clara.

Houve o enfrentamento da questão do projeto de lei que procurava atrapalhar o partido de Marina Silva, quando o senador Rodrigo Rollemberg entrou com mandato de segurança no Supremo Tribunal Federal. Foi derrotado juridicamente mas obteve vitória política que impediu o projeto de ser votado até o prazo final das filiações.

Eduardo passou um período terrível tendo que enfrentar o duríssimo assédio da máquina do governo federal e da cúpula do PT sobre os governadores do PSB, para que desistisse. A avaliação que se faz hoje é que as manifestações de junho demonstraram aos governadores que a avaliação de Eduardo estava certa, o que fortaleceu a candidatura própria. Nesse processo apenas o governador Cid Gomes (CE) desertou, mas sem causar nem sofrer traumas. Campos conduziu a saída do PSB do governo e promoveu o rompimento com o PT, com críticas à administração da qual participou, também sem conflitos.

As duas principais filiações do ano foram feitas pelo PSB, a da ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, e, agora, na próxima quinta, a filiação da ex-corregedora de Justiça e ministra do STJ, Eliana Calmon, uma filiação expressiva que vai viabilizar um palanque importante na Bahia.

Dos partidos que não estavam previamente definidos, o que se posicionou formalmente em apoio a uma candidatura foi o PPS a Eduardo Campos.

O candidato do PSB chega ao fim do ano com 11, 13 ou 15 pontos, dependendo da pesquisa e da forma como se pergunta a preferência do eleitor, mas partiu de um patamar muito baixo: partido pequeno, desconhecido do Brasil, pressionado pelo lado mais forte da política, o governo, para desistir do projeto. Avançou, tornando-se um candidato competitivo e irreversível.

Fonte: Valor Econômico

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