quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Pesquisa nesta época serve mais para atrair alianças, avaliam cientistas políticos

Para especialistas, por causa da distância do pleito de 2014, números do Ibope, que apontam liderança de Crivella, vão facilitar a formação de palanques, mas não garantem vitória

Karine Rodrigues

RIO - Apontado como líder na disputa eleitoral do Rio, segundo pesquisa Ibope divulgada nesta segunda-feira, o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), tem agora mais poderes para atrair alianças para as eleições do ano que vem, mas não deve contar com a vitória. Para cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, ainda falta tanto tempo para a disputa começar a esquentar que o cenário revelado pode mudar completamente a partir de junho de 2014. Segundo eles, avaliações de intenção de voto realizadas a tantos meses do pleito servem para angariar apoios, mas não são garantia de liderança até a fase decisiva do processo eleitoral.

— Ainda falta praticamente um ano para as eleições. A população ainda não está ligada no processo. A turma só entra no clima lá para junho. Vamos ter que esperar um pouco mais para ver o que vai acontecer, de fato, aqui no Rio. Até lá, tudo pode mudar bastante. É claro que pesquisa nesta época, a tanto tempo da eleição propriamente dita, serve muito mais a formação de alianças. Quem está na frente, tem mais chances de atrair aliados — observa o cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp).

Nos quatro cenários pequisados pelo Ibope para a escolha do novo governador do Rio, Crivella aparece em primeiro lugar na disputa. Em três deles, ele está tecnicamente empatado com o deputado federal Anthony Garotinho (PR) e com o senador Lindbergh Farias (PT). Em uma quarta hipótese, sem Garotinho, o ministro lidera com dez pontos percentuais de diferença para o segundo colocado, Lindbergh. O Ibope fez ainda quatro simulações de segundo turno, e Crivella venceria em três cenários: contra o petista, o placar seria 34% a 23%; contra Garotinho, 33% a 20%; contra o vice-governador Luiz Fernandno Pezão (PMDB), 38% a 12%. Num último cenário analisado, Lindbergh venceria com 29% contra 22% de Garotinho.

Apoios e financiamento de campanha
Professor Ricardo Ismael, da PUC-Rio, tem a mesma avaliação de Figueiredo sobre a importância de pesquisas realizadas com muitos meses de distância da data do pleito. Ele lembra que as convenções partidárias, fundamental para a definição das candidaturas, ainda serão realizadas, e que a propaganda eleitoral, como determina a lei, sequer começou. A fase atual é de definição de alianças, diz o especialista. Com isso, quem surge com melhor desempenho agora pode angariar mais apoios:

— Aqueles que estão pontuando mais, tem mais poder de barganha para fazer alianças, ampliar o palanque. Mas isso não significa que, lá na frente, os pré-candidatos atuais permanecerão. Nem tampouco que esses que estão no topo hoje vão liderar o processo eleitoral inteiro. Essa pesquisa serve mais para definição de alianças e para que os pré-candidatos comecem a pensar no financiamento de campanha —, diz, lembrando que novos nomes podem surgir ao longo dos meses.

— O quadro é ainda muito provisório. Candidaturas ainda deverão ser lançadas. O candidato do PSOL ainda não aparece na pesquisa. E, possivelmente, pode haver um nome do PSDB, que, provavelmente, não será o (técnico de vôlei) Bernardinho (como já declarou o senado Aécio Neves). Diante de um quadro que pode sofrer tantas alterações, o eleitorado ainda vai se posicionar em relação a ele.

Os dois especialistas observam ainda que o efeito recall pode ter influenciado os resultados, ou seja, os eleitores tendem a direcionar o voto para aqueles nomes mais conhecidos. Garotinho foi governador do Rio, Crivella saiu-se bem em várias eleições majoritárias, e Lindbergh vem despontando, tendo vencido as eleições para o Senado.

Também por causa da distância ainda grande em relação à disputa de 2014, o percentual de 27% de votos brancos e nulos não foi surpresa para Figueiredo e Ismael.

— Para mim, não representa nada, pois ainda falta muito para o início do processo eleitoral. O percentual costuma ser alto quando falta muito tempo para as eleições, seja nos estados ou no pleito para a presidência da República —, afirma Figueiredo.

“A oposição está fortalecida, pelo menos, neste momento”
Já Ricardo Ismael entende que outros dois fatores estão por trás da grande quantidade de intenções de votos brancos e nulos. Um deles é a tradição do eleitorado do Rio, que deixaria para se definir mais perto das eleições — segundo ele, há uma maior volatilidade —, o outro é o reflexo das manifestações:

— Sem dúvida, existe também o componente dos protestos. Há a insatisfação em relação aos políticos e à política. Provavelmente, isso está ocorrendo também em outros estados, não apenas no Rio. Ou seja, aumentou o voto antipolítica, antipolíticos. Os votos brancos e nulos indicam também, portanto, um certo distanciamento do eleitorado, que está mostrando a sua insatisfação. 

Mas creio que boa parte vai rever sua posição ao longo do processo, afinal, votar branco ou nulo transfere para um outro a decisão de quem vai comandar — diz o especialista, considerando ainda que os cenários revelados pela pesquisa apontam para uma dificuldade da candidatura da situação, no caso, do vice-governador Luiz Fernando Pezão. — A oposição está fortalecida, pelo menos, neste primeiro momento. Até por conta da dificuldade que tem sofrido o Cabral a partir dos protestos de junho deste ano.

Já Figueiredo acha que o fraco desempenho de Pezão não é novidade:

— O Pezão nunca teve presença marcante nas pesquisas eleitorais. Até muito antes das manifestações isso já ocorria. O contrário pode ser dito de Crivella, que costuma ter preferência alta.

A pesquisa também avaliou os índices de aprovação ao governo do estado e à prefeitura. O governo Cabral tem 58% de desaprovação, principalmente na capital e na periferia. Em outra pergunta, a de avaliação, 18% dos entrevistados responderam que a administração do peemedebista era ótima ou boa; 39%, regular; e 41% disseram que era ruim ou péssima. A desaprovação à gestão Eduardo Paes (PMDB) à frente da prefeitura do Rio é de 57%. Já na parte de avaliação, 26% dos entrevistados afirmaram que a administração de Paes era ótima ou boa; 34%, regular; e 40%, ruim ou péssima.

A pesquisa, feita por iniciativa do próprio Ibope, realizou 1.008 entrevistas, de 13 a 17 de novembro.

Fonte: O Globo

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