domingo, 17 de novembro de 2013

Agronegócio já é assediado por candidatos a presidente

Animosidade entre o setor e Marina Silva antecipou articulação para 2014

Eduardo Campos já fez encontro com mais de 20 empresários para desarmar tensão com líderes ruralistas

Raquel Landim, David Friedlander

SÃO PAULO – A animosidade entre Marina Silva (PSB) e os empresários do agronegócio antecipou o assédio às lideranças do setor pelos políticos mais cotados para disputar a presidência. Parceiro da ex-senadora, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), puxou a fila.

Ele está batendo de porteira em porteira para desarmar os ânimos em relação a Marina, sua nova companheira. O movimento, intensificado nos últimos dias, força os outros pré-candidatos a acelerar a aproximação com o setor.

O apoio dos empresários do campo ajuda a fazer campanha e rende votos. Geradores de riqueza no interior do país, eles são cabos eleitorais eficientes, influenciando prefeitos, deputados e outras lideranças locais. Alguns também são importantes financiadores de campanha, como o frigorífico JBS, que doou mais de R$ 60 milhões a vários políticos em 2010.

A romaria de Campos começou na semana passada com um encontro organizado por Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura. Foram quatro horas com mais de 20 lideranças de segmentos como carne, açúcar e suco de laranja. Amanhã, ele estará na tradicional Sociedade Rural Brasileira. No fim do mês, vai discursar num evento em que são esperados 5 mil agricultores do Paraná.

O objetivo é sempre o mesmo: desfazer o mal estar provocado pelo veto de Marina ao deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO), que apoiava Campos. "Sem perder de vista que a Marina vai participar do governo, ele deixou claro que a candidatura é dele", disse Rodrigues.

Campos e Rodrigues se aproximaram quando eram colegas de ministério no governo Lula. Na época ministro de Ciência e Tecnologia, Campos ficou do lado de Rodrigues numa disputa contra a própria Marina para aprovar o cultivo de alimentos transgênicos. Há três semanas, o governador procurou o líder rural para ajudá-lo a ficar bem com o agronegócio.

Rodrigues nega já ter fechado com Campos. Afirma que pretende ajudar todos os candidatos dispostos a dialogar com seu setor. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) levantou a mão e um encontro deve acontecer em breve.

O guia de Aécio no agronegócio é o pecuarista João Sampaio, ex-secretário da Agricultura de José Serra em São Paulo. Aécio também esteve na Sociedade Rural Brasileira e tem se encontrado com ruralistas do interior paulista.

Boa parte do setor votou no PSDB em 2010. Na visão de interlocutores de Campos e Aécio, a oposição pode repetir o bom desempenho aproveitando o clima de descontentamento com o governo.

Há queixas localizadas, como a insatisfação dos produtores de etanol, que se sentem prejudicados pela política de subsídio à gasolina. E críticas coletivas, como o ressentimento com o "apoio" de Brasília aos índios na disputa por terra e ao que consideram um loteamento político do Ministério da Agricultura, entregue ao PMDB.

O governo também está se mexendo e conta com uma aliada de peso, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura, principal entidade do setor.

Opositora aguerrida do ex-presidente Lula, a senadora mudou de lado, de partido e já declarou que votará pela reeleição de Dilma Rousseff.

Lula vem trabalhando para reforçar a frente ruralista do Planalto. Para diminuir a resistência do setor em São Paulo, tradicionalmente tucano, e ao mesmo tempo reforçar a candidatura do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ao governo paulista, ele sondou Roberto Rodrigues e o usineiro Maurílio Biagi para a vaga de vice na chapa ao governo de São Paulo.

O agronegócio responde por 20% do Produto Interno Bruto e por mais de 30% dos empregos. Estima-se que, este ano, metade do crescimento econômico do pais venha da produção do campo e das indústrias ligadas a ele.

Fonte: Folha de S. Paulo

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