sábado, 16 de novembro de 2013

A equação de uma encrenca - Luiz Carlos Azedo

Com as prisões dos mensaleiros, a próxima questão é o quanto tal coisa pode interferir nas eleições dos petistas em 2014. A 12 meses das urnas, é possível apostar todas as fichas, mas tudo vai depender do discurso do PT

A questão volta ao centro do debate: até onde o resultado do julgamento atrapalha os planos de petistas nos cenários federal, estaduais e municipais? Com as primeiras prisões e com as imagens de caciques (sim, ainda o são) do governo Luiz Inácio Lula da Silva em direção à cadeia, é mais do que razoável tentar avaliar o tamanho e o tempo do desgaste no ambiente eleitoral do próximo ano.

Antes de buscar respostas — ou pelo menos tentar — para a primeira pergunta, vale dificultar ainda mais o exercício e, ao mensalão, somar outro escândalo, o dos fiscais de São Paulo. Se o caso de corrupção é tratado como um atropelo eleitoral para o prefeito Fernando Haddad e para o pré-candidato a governador Alexandre Padilha, não é de todo um exagero considerar riscos à presidente Dilma Rousseff.

Os elementos para montar a equação poderiam ainda ser expandidos com a força da guerra entre militantes antipetistas e governistas nas redes sociais, um fator cada vez mais forte a cada eleição. Tal selvageria, combinada com estratégias de multiplicação de memes, ocupa muito o tempo de profissionais de comunicação dos políticos, principalmente nas eleições. Tudo muito bem utilizado por personalidades remuneradas ou simplesmente em campo por “amor” à causa.

Os escândalos de corrupção, por sua vez, são, no ambiente eleitoral, o rastilho de pólvora pronto a ser aceso. E os casos do mensalão e dos fiscais de São Paulo se transformam em dois ótimos exemplos explosivos. Pelos menos é o que quer a oposição. O governo, assim, prepara-se desde já para evitar a combustão, ou pelo menos manter o incêndio distante de Dilma e Padilha — afinal, Haddad apenas precisa se preocupar com as eleições daqui a três anos, na reeleição para a prefeitura de São Paulo, por mais desgastes que possa sofrer daqui para lá.

De forma mística, o Planalto espera que o mensalão tenha, em 2014, o mesmo efeito de 2006 e 2010, quando o PT conseguiu reeleger Lula e eleger Dilma. Assim, acreditar nos pequenos efeitos do escândalo seguindo uma lógica histórica serve apenas como algo subjetivo, no próprio campo da reza. Nada garante que o fenômeno se repita, apesar de alguns elementos apontarem para isso.

Justiça
Dilma, Padilha e Haddad têm uma relação com o mensalão pelo fato de serem petistas. Por mais que isso possa ser uma credencial às avessas, tende a afastá-los do centro da crise. A lógica deles será mais ou menos a seguinte: os culpados pelo caso já passaram pelo crivo da Justiça e foram para a cadeia, mesmo que no semiaberto. E isso não tem nada a ver com as atuais gestões.

Mas é importante observar que tudo é uma questão de discurso, da marquetagem. Se eficientes, os governistas podem, sim, de fato, isolar o mensalão de Dilma e de Padilha e, no auge da eficiência, até mesmo inverter a culpa, jogando para políticos de outros partidos o fato de nunca terem sido julgados ou mesmo ido para a prisão por crimes parecidos. Mais uma vez, é tudo uma questão de trabalhar a imagem, coisa que hoje Haddad não consegue, deixando-se enrendar pelo escândalo alheio.

No caso de Dilma, se o governo não conseguiu recuperar os índices de aprovação anteriores às manifestações, ela ainda guarda um trunfo pouco ou nada visível nas pesquisas, tanto para a oposição quanto para o governo. Trata-se da aprovação pessoal, item que a petista tem pouco mais de 55% na maior parte das pesquisas. Para o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, tal índice mostra força. “Todos os últimos presidentes que chegaram ao fim do mandato com mais de 55% de aprovação pessoal conseguiram se reeleger ou eleger um sucessor”, afirma ele.

De volta à pergunta inicial, o PT não está preocupado à toa, a imagem de políticos presos por corrupção nunca, em qualquer cenário, é positiva, por mais que as análises estejam abertas. Falta um ano para as eleições. Todas as fichas podem ser jogadas.

Fonte: Correio Braziliense

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