segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Marina organiza e embaralha sucessão

Organiza ao definir os três grupos que podem ter candidatos mais competitivos. Embaralha pela dúvida sobre se transferirá voto ao PSB e se afetará Dilma e Aécio.

Hora de redefinir as estratégias

Juliana Bublitz

O cenário eleitoral de 2014 ganhou um novo – e controverso – ingrediente no fim de semana: a filiação de Marina Silva ao PSB. A ex-senadora decidiu abrir mão do projeto de ser presidente e declarou apoio ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, na disputa pelo cargo de Dilma Rousseff.

Avaliada com cautela por especialistas, a reviravolta pode significar o fim da histórica polarização entre PT e PSDB na briga pelo posto mais alto do país.

Mais do que causar surpresa, a jogada política protagonizada por Marina Silva no sábado embaralhou a disputa eleitoral de 2014. É cedo para prever os desdobramentos do lance que levou a ex-senadora a se filiar ao PSB e a declarar apoio à candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à Presidência. A única certeza é de que a bola voltou ao centro do campo, obrigando os partidos a redefinirem suas estratégias.

A reviravolta começou a se desenhar quando Marina viu naufragar o sonho de fundar a própria sigla. O registro da Rede Sustentabilidade foi rejeitado pelo Tribunal Superior Eleitoral na quinta-feira passada, por problemas na validação das assinaturas de apoiadores. Com 20 milhões de votos na bagagem, a ex-ministra do governo Lula teve 48 horas para repensar o futuro. Chegou a marcar uma entrevista coletiva apenas para dizer que não havia decidido nada. Por fim, fez o que analista nenhum havia sido capaz de prever.

Depois de receber convites de várias legendas dispostas a lhe dar protagonismo no pleito de 2014, acabou optando pelo PSB, que já tinha Campos definido como cabeça de chapa. A repercussão foi imediata. Líder do PPS – partido preterido por Marina –, Roberto Freire classificou a decisão como "suicídio político". Candidato à Presidência pelo PSDB, o senador Aécio Neves não fez críticas. Limitou-se a saudar a adversária, embora saiba que terá mais dificuldades pela frente.

No meio acadêmico, a mudança de rota também surpreendeu. Os especialistas são unânimes ao afirmar que Marina conseguiu mexer com uma disputa que vinha, mais uma vez, polarizada entre PT e PSDB. Apesar disso, poucos se arriscam a projetar os efeitos dessa jogada.

– A verdade é que essa dobradinha está despertando mais perguntas do que respostas – resume Felipe Borba, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio).

Para o professor, pelo menos duas incógnitas persistem. Primeira delas: com a sua alta popularidade, a ex-senadora de fato seguirá aceitando o papel secundário? Ou haverá ruídos na relação? Segunda dúvida: como vice do pernambucano, seus votos serão de fato transferidos para ele?

A primeira resposta depende dela – que tem fama de centralizadora –, mas a segunda, não. A questão é saber como seus apoiadores e eleitores reagirão. Afinal, Marina vinha defendendo a criação da Rede para renovar a política. Agora está no PSB, uma sigla histórica, em plena ascensão – e também em processo de inchaço, abrigando nomes das mais distintas vertentes, até mesmo representantes da direita como o ex-senador Heráclito Fortes (ex-DEM) e o deputado catarinense Paulo Bornhausen (ex-PSD), filho do político conservador Jorge Bornhausen.

– É cedo para dizer, mas ninguém tem voto cativo. Ainda tem muita água para rolar – pondera Gustavo Grohmann, da UFRGS.

Não por menos, a ex-senadora apressou-se em definir a aproximação como "programática" e não "pragmática". Para o cientista político Guilherme Simões Reis, a estratégia pode funcionar:

– Marina perde um pouco a aura da inovação, mas quem pretendia votar nela provavelmente não vai votar no PT nem no PSDB.

Efeito Marina 

Para Dilma 

Prós e contras da nova chapa para os adversários

A favor
O número de adversários competitivos diminui: antes eram três chapas de oposição (Aécio, Campos e Marina). Agora são duas.

Contra
Terá mais trabalho para evitar um segundo turno, já que, juntos, Campos e Marina tendem a somar mais votos do que se estivessem em chapas distintas.

Para Aécio 

A favor
Como ele próprio mencionou na nota em que parabenizou Marina pela decisão, a união dá mais consistência à oposição ao PT.

Contra
Enfrentará maiores dificuldades para levar o PSDB ao segundo turno, já que terá de disputar com outra chapa de oposição forte.

Fonte: Zero Hora (RS

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