quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Alvos móveis - Denise Rothenburg

Marina será candidata a vice na chapa de Eduardo Campos, mas o anúncio oficial só sai em 2014. Até lá, eles ficarão ambos na vitrine, trocando de lugar para deixar o PT zonzo, assim como Lula e Dilma fizeram no passado, para desnortear a oposição

Ao longo de dois anos e nove meses, o país conviveu com Dilma Rousseff no papel de presidente e Lula naquela posição de reserva, ameaçando entrar em campo ao menor sinal de fraqueza política da atual chefe da nação. Chegou ao ponto de Lula ter que dizer que a candidata era Dilma, antecipando todo o calendário eleitoral do ano que vem. Pois é mais ou menos nessa posição que estão hoje o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva, embora esteja tudo acertado entre os dois.

Marina será vice na chapa de Eduardo. Foi essa a sugestão da própria ex-senadora, durante a conversa que eles tiveram na noite em que ela decidiu ingressar no PSB. Obviamente, o anúncio oficial só será feito no ano que vem. Até a data da foto, eles ficarão do jeito que Lula e Dilma estiveram para o grande público, até o dia em que o ex-presidente informou ao PT que ela era a candidata. Ora Dilma era o alvo da oposição, ora Lula. E assim eles seguiram deixando o PSDB, o DEM e o PPS meio zonzos, sem saber em quem bater ou contra quem se preparar.

A vida de alvo móvel é o melhor dos mundos para Eduardo e Marina. Enquanto o presidente do PSB sai a campo em busca de aliados e vai, aos poucos, tentando conquistar os eleitores da Rede, e dos partidos aliados ao governo, Marina faz o contraponto com a presidente da República, chamando o governo para o ringue.

Até aqui, avaliam os socialistas, deu certo. Dilma e Marina contracenam na mídia, enquanto Eduardo vai deixando o PT com mais problemas nos estados. O Maranhão é o caso mais emblemático no momento. Eduardo Campos esteve com Flávio Dino, candidato a governador pelo PCdoB, há cerca de duas semanas. Foi o suficiente para que os petistas corressem ao comunista oferecendo a delícia de aliado preferencial da presidente-candidata. Os petistas bagunçaram aí a seara do ex-presidente do Senado José Sarney e sua filha, a governadora Roseana. Uma desfeita sem tamanho àquele que jamais faltou ao governo Lula e nem ao governo Dilma. Afinal, não dá para esquecer que Sarney chegou ao ponto de acompanhar Lula quando o líder petista deixou Brasília pela primeira vez como ex-presidente.

O Planalto desmentiu o apoio a Flávio Dino, mas a sequela da desconfiança ficou. Para muitos peemedebistas, está claro que o PT ainda não absorveu a aliança entre Marina e Eduardo. E, meio tonto, empurra a dupla para a oposição definitivamente (uma palavra forte em política). Isso tudo porque os petistas temem que sua ampla base se desfaça por conta da musculatura que a união dos dois ex-ministros de Lula traz a um projeto alternativo de poder. E, nesse caso, raciocinam os peemedebistas, se desde já o PT pensa em rifar o PMDB do Maranhão, terra de Sarney, não tem limites para o que pode ocorrer nos demais estados. Ou seja, mais uma vez a aliança balança.

Enquanto isso, no PSD...
A continuar desse jeito, com Eduardo e Marina movimentando o cenário político, voltará a crescer no PT, o tal "volta, Lula", como forma de debelar as forças da dupla. Ocorre que, o saldo final não será mais essa maravilha toda. O PSD de Gilberto Kassab, por exemplo, deve rachar ao meio com o retorno do ex-presidente ao centro do ringue como candidato. Embora muitos tenham saído da oposição para se aproximar do governo, apoiar Lula soa impossível para muitos integrantes da legenda.

Apesar do mal-estar no PSD, os petistas que sonham com a volta de Lula não desistem de tentar recolocar o ex-presidente como uma opção. Nem que seja apenas para ter mais um alvo móvel capaz de confrontar Eduardo Campos como Dilma se contrapõe hoje à estrela da Rede Sustentabilidade. Afinal, tudo o que o PT não deseja é perder a condição de comandante em chefe das Forças Armadas. Pior do que remodelar uma campanha com Lula, avaliam alguns petistas, é correr o risco de derrota. Embora as pesquisas não tragam essa sinalização agora, o PT não deixa de estar preocupado com Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos. Daqui até outubro do ano que vem, todo o cuidado é pouco.

Fonte: Correio Brasiliense

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