terça-feira, 8 de outubro de 2013

A dúvida da oposição

Adriana Caitano

Mesmo com a tentativa de faturar com a aliança entre a ex-senadora Marina Silva e o presidenciável Eduardo Campos (PSB) em 2014, a oposição ainda avalia os ganhos e as perdas. Partidos que têm em comum o objetivo de derrotar a presidente Dilma Rousseff admitem, porém, que, com o novo quadro, a estratégia eleitoral planejada até aqui terá que mudar.

Para não deixar exposto que ficou em choque e sem reação diante da decisão de Marina, o PSDB inicialmente fez comentários positivos sobre a aliança. Em nota ainda no sábado, quando a ex-senadora definiu a filiação ao PSB, o presidente do partido tucano, senador Aécio Neves (MG), divulgou uma nota oficial em que atribui o ocorrido “às ações autoritárias do PT” e considera o caso um fortalecimento do “campo político das oposições”.

Ontem, em coletiva à imprensa, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), até repetiu o discurso de Aécio, mas reconheceu que ainda é cedo para comemorações. “Não sabemos o que vai acontecer daqui para a frente, é tudo uma incógnita, não sabemos se os marineiros vão ficar felizes com a decisão da Marina ou descontentes”, ponderou.

Para o cientista político Leonardo Barreto, nem o PT nem as legendas de oposição podem contabilizar, por enquanto, o resultado da guinada de Marina. “A gente não sabe se ela vai tornar o Eduardo Campos competitivo, até porque não há exemplos de vices que foram decisivos na vitória de alguém, e isso vai ser determinado pelo discurso dessa chapa”, explica. “Se o Eduardo adotar a narrativa de esquerda da Marina, a disputa será mais com a Dilma, mas, se ele mantiver suas posições recentes de centro-direita, disputa espaço ideológico com o Aécio.”

Alternativas

O PPS tem motivo duplo para se sentir preterido durante as últimas cartadas. Além de ter sido a legenda que mais cortejou Marina para lançá-la como candidata após a frustração da Rede, havia oferecido o posto para que José Serra deixasse o PSDB. Após receber um não de ambos, elabora outra saída. “A estratégia que buscávamos era ter um número maior de candidatos da oposição, mas dois se anularam, então temos o dever de apresentar uma alternativa e lançar candidato próprio”, defende o líder da sigla na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR).

A permanência de Serra no PSDB abalou as estruturas também de seu próprio partido e seus aliados avaliam que ele pode ser beneficiado com as mudanças no jogo. Para eles, a força da chapa Eduardo-Marina pode fragilizar o senador mineiro e dar espaço a outra opção. “Nunca acreditei que o Serra tenha jogado a toalha e desistido de se candidatar de verdade. Ele ainda deve contar com o imponderável, pois não é improvável que haja algum fato novo, ainda mais agora que o Aécio, que estava absolutamente seguro, passa a ter uma dose de insegurança”, argumenta um tucano próximo ao ex-governador de São Paulo, que não quis se identificar.

O cientista político Leonardo Barreto concorda que José Serra poderá ser usado como uma carta na manga dos tucanos. “Claro que o Aécio não queria ter essa sombra que dificulta a escolha de seu nome por aclamação no PSDB, mas, para o partido, foi melhor manter o Serra por perto, tanto para evitar o impacto negativo que haveria se ele fosse adversário como para ter um plano B engatilhado”, analisa.

Fonte: Correio Braziliense

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