domingo, 25 de agosto de 2013

Marina escala políticos de 10 partidos para dirigir a Rede

Dos 34 coordenadores de diretórios estaduais, 21 vieram de outras siglas

Doze já passaram pelo PV, última legenda da ex-senadora; para líder nacional, diversidade faz bem a 'sonháticos'

Paulo Gama

SÃO PAULO - A Rede Sustentabilidade, partido que a ex-senadora Marina Silva trabalha para criar, será dirigida nos Estados por políticos egressos de ao menos dez partidos, que vão do PSDB ao PT, passando pelas chamadas "siglas nanicas", como PTN e PCB.

Entre os 34 coordenadores-gerais dos 17 diretórios estaduais já homologados pela Comissão Nacional Provisória, 21 têm pelo menos uma filiação partidária anterior. Doze deles já passaram pelo PV, última sigla a que Marina foi filiada. Ao menos quatro já trocaram de partido uma vez.

Parte dos dirigentes já esteve dentro da máquina pública, integrando governos municipais, estaduais e federal, em gestões de PSDB, PTB, PSB e PT. Foram, por exemplo, secretários do Meio Ambiente de Cuiabá e Manaus, chefe da Casa Civil do Pará e secretário do Ministério da Cultura no governo Lula.

O ambientalista Pedro Ivo Batista, que coordena nacionalmente a organização do novo partido e é, ele mesmo, ex-petista, diz que a Rede "vê muito bem essa diversidade".

Para ele, como "nenhum partido tinha a sustentabilidade como norte", as pessoas que "pautavam sua atuação nesse tema" estavam dispersas e, agora, se reuniram em torno da Rede. "Boa parte desse pessoal já não tinha participação ativa nos partidos. É um reencantamento com a política", afirma.

A multiplicidade de partidos também é valorizada por outros integrantes. "Imagine encontrar no mesmo ambiente Heloisa Helena [PSOL] e Walter Feldman [PSDB] falando a mesma língua. Só essa cena é impagável", resume o ex-petista Charles Alcântara, sobre os dois membros da Executiva Nacional.

Ele diz que a passagem de dirigentes pela "velha política" tem "um pouco de cada coisa": dá experiência ao partido, mas pode levar ao grupo práticas que contrariem o programa da Rede.

"Não somos acima do bem e do mal. Carregamos erros, não estou imune, exerci o governo. Para vir para a Rede não é preciso ser imaculado, mas estar empenhado com sinceridade em construir algo novo", afirma Alcântara.

O coordenador-geral em Mato Grosso, Archimedes Pereira Lima Neto --que foi secretário municipal do Meio Ambiente de Cuiabá, em gestões do PSDB e do PTB--, concorda. "Os dois modos de enxergar são válidos. Como estou no primeiro, pretendo trazer a experiência", afirma.

Lima Neto se prepara para ingressar em seu terceiro partido. Foi do PV até 2011, quando migrou para o PDT.

Apesar de a maior parte dos dirigentes vir de partidos políticos, Pedro Ivo ressalta que "na base, a grande maioria não vem de nada".

Na organização da Rede, cada diretório estadual tem dois coordenadores-gerais, chamados também de porta-vozes. Na maioria dos casos, foram escolhidos sem uma eleição propriamente dita.

Os dois postos são obrigatoriamente ocupados por um homem e por uma mulher.

A advogada Gisele Uequed, do Rio Grande do Sul, diz que os cargos são uma "formalidade". "Os nomes constam como dirigentes meramente porque a legislação eleitoral exige isso", afirma.

Dez dirigentes já foram testados nas urnas

Entre os 34 coordenadores-gerais dos diretórios estaduais homologados pela Rede, dez disputaram uma das três últimas eleições --todos eles sem sucesso.

Uma das candidatas foi a advogada Gisele Uequed, coordenadora-geral do diretório do Rio Grande do Sul, primeiro a ter o registro aprovado pela Justiça Eleitoral.

Ela já foi às urnas duas vezes. Na primeira, em 2010, concorreu a uma vaga na Assembleia gaúcha pelo PV, mas não foi eleita. Como Marina Silva, diz ter se desiludido com o partido por não ter conseguido "democratizar" sua estrutura interna.

Mudou para o PTN, sigla que, em 1999, recebeu o então prefeito paulistano Celso Pitta no auge dos escândalos que marcaram seu mandato.

"No Rio Grande do Sul o PTN é um partido que não existe direito, tem pouquíssimos diretórios, é diferente de São Paulo. Ele sempre soube que seria um instrumento para apresentação da plataforma que defendo", justifica.

Concorreu à Prefeitura de Canoas. Ficou em segundo lugar, com 15% --27.415 votos.

Ela foi a única candidata ao Executivo. Os outros nove concorreram ao Legislativo, quatro deles a Câmaras Municipais. Os resultados não foram expressivos: Kathiuse Coutinho, por exemplo, recebeu 5 votos na disputa por vaga de vereador em Macapá.

Insucesso nas urnas, contudo, não deve preocupar os dirigentes: o estatuto da Rede proíbe que qualquer filiado com cargo de coordenação exerça mandato eletivo.

Fonte: Folha de S. Paulo

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