domingo, 14 de julho de 2013

Tempos incertos - Denise Rothenburg

A semana foi recheada de indícios que nos fazem dar certa razão ao que disse o líder do PMDB, Eduardo Cunha, na entrevista publicada hoje pelo Correio. “Nada é tão ruim que não possa piorar”. Obviamente, ele se referia à condução política do governo. Mas a preocupação geral é de outra ordem. As notícias de que os bancos públicos revisaram as projeções de crescimento econômico deste ano para baixo, e a da “dispensa” que o Paraguai deu ao Mercosul, deixaram muitos congressistas preocupados, em todos os partidos, porque reforçam a ideia de que o Brasil, maior país do bloco, não está mais com essa bola toda.

No plano externo, as atenções no continente estão voltadas para a nova aliança do Pacífico, que engloba Chile, Peru, Colômbia e México. Os três primeiros despontam como celebridades sul-americanas no palco mundial, com economias de dar inveja ao démodé Mercosul, onde as notícias de problemas na área acumulam-se.

A presidente Dilma Rousseff percebeu que Peru, Chile e Colômbia estavam em melhores condições do que o grupo do Mercosul, há quase um ano. Não por acaso, manteve encontros bilaterais com os presidentes desses países, durante sua viagem a Nova York, em uma programação paralela à Assembleia-Geral das Nações Unidas. Mas não pôde avançar tanto porque, afinal, temos o Mercosul, e a avaliação do governo como um todo é a de que ruim com ele, pior sem ele.

Diante desse cenário, resta ao Brasil tratar de melhorar as coisas por aqui e no bloco em geral, buscando, inclusive, acordos com a tal Aliança do Pacífico. Falta saber se o personalismo de líderes que pregam um estado inchado permitirá que o Mercosul tenha jogo de cintura para não perder oportunidades. É o caso da Venezuela, por exemplo, e aqui no Brasil também se está criando uma série de empresas públicas de urgência duvidosa. Afinal, a saída do Paraguai, embora tenha a leitura simplista de que a Venezuela entrou e o governo paraguaio “magoou”, está diretamente relacionada ao fato de os paraguaios começarem a olhar para outros lados, mais precisamente para o que está depois da Cordilheira dos Andes. Até aí aplica-se à velha frase, “é a economia, estúpido!”.

Enquanto isso, no Planalto...

A maior preocupação da presidente Dilma Rousseff continua sendo de ordem econômica. A perspectiva, cada vez mais forte, de baixo crescimento este ano põe mais uma frustração no rol de dissabores do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Embora as avaliações em vários partidos seja a de que chegamos à temporada em que a política começa a atrapalhar ainda mais a economia, a cada dia as pessoas confiam menos nas previsões do ministro.

Na parte política, os erros vêm tanto dos próprios congressistas, estressados com as perspectivas eleitorais difíceis, em função das manifestações que rejeitam quase tudo o que está aí; como também do governo, que não exerce o diálogo constante com os partidos oficialmente na base de apoio. Nesse sentido, o recesso branco virá a partir desta semana como uma janela para evitar novas derrotas ao Poder Executivo, até que o governo possa ajustar sua equipe a essa realidade, leia-se, reforma ministerial.

Quem for olhar com cuidado as construções em direção a 2014, perceberá que os partidos ainda continuam ansiosos para participar de fato do governo Dilma. Até mesmo as críticas mais ácidas, como as do peemedebista Eduardo Cunha, na entrevista de hoje, trazem literalmente nas entrelinhas algo do tipo “me chama, me chama”. Isso é um sinal de que a presença de muitos integrantes da base em conversas com a oposição tradicional, ou com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pode não evoluir para compromissos mais sérios. E que a presidente ainda é vista como uma opção forte para as próximas eleições.

E, na Casa Civil...

O secretário executivo do Ministério do Turismo, Valdir Moysés Simão, vai para a Casa Civil cuidar das emendas parlamentares. Ele estava na pasta desde 2011, quando o ministro Gastão Vieira assumiu o Turismo e a pediu à ministra Gleisi Hoffmann que indicasse um técnico que pudesse ainda cuidar do orçamento. Antes disso, ele havia sido secretário de Fazenda do Distrito Federal. É o começo das mudanças para tentar derrubar a tese de que “nada é tão ruim que não possa piorar”.

A recusa do Paraguai em voltar ao Mercosul tem ingredientes econômicos. É um sinal de que o Brasil não está mais com essa bola toda

Fonte: Correio Braziliense

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