quinta-feira, 18 de julho de 2013

Marina Silva: "A reforma política está na contramão das manifestações"

Rede apoia pauta de costumes trazida pelas ruas, diz Marina

Por Cristiane Agostine

SÃO PAULO - Articuladora do Rede Sustentabilidade, a ex-senadora Marina Silva disse ontem que a maioria dos fundadores do futuro partido é a favor do casamento homossexual, da descriminalização da maconha e da legalização do aborto. Ao ser questionada sobre os temas polêmicos, Marina afirmou que pelo menos 70% dos dirigentes do grupo defendem esses temas.

"Do ponto de vista dos temas levantados - maconha, aborto e dos temas comportamentais - o Rede tem mais ou menos 350 fundadores e eu posso te dizer que pelo menos 70% deles são a favor dessas bandeiras que estão aqui", afirmou a ex-senadora, ao ser questionada, em um debate cujo tema central era reforma política. Marina disse que a Direção Nacional do grupo, com 101 integrantes, e o colegiado executivo, com 16 pessoas, seguem a mesma proporção de apoio em relação aos temas polêmicos. "[O Rede] tem tolerância com aqueles que tem o pensamento diferente", disse. A ex-senadora já manifestou ser contra essas bandeiras, durante a campanha presidencial de 2010. Ontem, Marina disse que isso não significa ser conservador, porque são pontos de vista que envolvem aspectos morais, religiosos e filosóficos.

Durante o debate, a provável candidata à Presidência em 2014 falou sobre os recentes protestos e disse que foram fantásticas as críticas aos investimentos públicos em obras para a Copa do Mundo. Segundo Marina, as manifestações que colocaram em xeque os gastos do governo com o evento esportivo mostraram que o povo não quer mais a "cultura do ópio". "No país do futebol (...) as pessoas poderem priorizar [e dizer] que querem um atendimento de saúde, nas escolas, no transporte, na segurança no padrão que estão dando à Fifa e à construção de estádios - com recursos não necessariamente bem aplicados -, é fantástico", afirmou. "É um avanço de consciência política muito grande, muito relevante. As pessoas estão dizendo o seguinte: "Não continuem nos tratando como sendo a cultura do ópio. Nós queremos o óbvio e o óbvio é saúde, educação, hospital funcionando, transporte para ir trabalhar, para ir à escola"".

Marina evitou falar sobre a pesquisa de intenção de votos feita pela MDA a pedido da Confederação Nacional do Transportes (CNT), divulgada na terça-feira, que a colocou em segundo lugar, atrás da presidente Dilma Rousseff. Em um mês, Marina cresceu de 12,5% para 20,7%, enquanto Dilma caiu de 52,8% para 33,4%. Segundo a ex-senadora, os partidos devem se espelhar no Rede. "As pessoas, em vez de tratarem o Rede como algo a se combater, deveriam perceber no nosso esforço a tentativa de atualização do processo político", disse.

Ainda sem partido, a ex-senadora defendeu o lançamento de candidaturas sem vínculo a legendas e criticou a proposta de reforma política que está em debate no Congresso. "Está na contramão de tudo isso [manifestações]. Não se vai dialogar com as ruas aceitando ficha suja na campanha, facilitando a vida dos partidos em relação às permissividades com o fundo partidário, criando mais centralização e monopólio aos partidos", disse.

Para Marina, as candidaturas independentes são uma forma de quebrar o "monopólio" e promover "concorrência idônea". "É uma forma de oxigenação na política, de fazer com que novas lideranças possam ocupar espaços. Hoje não querem participar de partidos".

Fonte: Valor Econômico

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