quarta-feira, 10 de julho de 2013

Freio emergente no PIB global

Brasil tem maior corte na previsão de 2014.

Para FMI, mundo crescerá só 3,1% este ano

Flávia Barbosa

WASHINGTON- Uma maior e mais prolongada desaceleração das economias emergentes , entre elas a do Brasil, jogou água na chama da recuperação global, informou ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI), que divulgou o relatório trimestral “Perspectivas para a Economia Mundial”. O organismo cortou pela quinta vez consecutiva a projeção de crescimento mundial em 2013, para 3,1%, e estimou retomada mais lenta em 2014, a 3,8%.

O Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) do Brasil foi um dos mais castigados: queda de meio ponto percentual este ano, para 2,5%, e a maior redução entre os principais países no próximo , de 0,8 ponto , para 3,2%. O Fundo alertou para a inflação alta e a baixa taxa de investimento no Brasil.

Uma recessão mais profunda na zona do euro, liderada por Espanha e Itália, e o impacto do aperto fiscal nos EU A completam o quadro desapontador desenhado pelo FMI. Mas Olivier Blanchard, economista-chefe da instituição, destaca a perda de fôlego dos emergentes — que seguraram o mundo após o estouro da crise de 2008 — como determinante para a atividade global mais anêmica.

O FMI aponta como constrangimentos ao desempenho dos emergentes o esgotamento das políticas monetária e fiscal anticíclicas adotadas no auge da crise , a proeminência de gargalos in ternos (como infraestrutura e crédito), a demanda internacional fraca, a queda dos preços das commodities e os efeitos do aperto anunciado da política monetária dos EU A (maior volatilidade financeira). A maior preocupação é a China, motor dos Brics —grupo que tem ainda Brasil, Rússia , Índia e África do Sul.

Mesmo assim, nações emergentes e em desenvolvimento crescerão este ano em ritmo quatro vezes superior ao de países ricos: 5%, contra 1,2%. —Após anos de crescimento robusto, os Brics começam a apresentar soluços na velocidade (de crescimento). E, apesar da expansão menor , a inflação não caiu, o que sugere crescimento abaixo do potencial. Isso tem uma implicação importante: a expansão dos emergentes continuará elevada, mas em patamar substancialmente inferior ao de antes da crise — afirmou Blanchard.

Fundo alerta para inflação alta no Brasil

É este o caso do Brasil. Sem re formas (tributária , no mercado de trabalho , previdenciária) e aumento da taxa de investimento , o país não ampliou, durante a fase de bonança (até 2010), seu potencial de expandir a atividade produtiva sem gerar pressão sobre os preços , alerta o FMI. A inflação elevada é uma herança da falta de conserto dos defeitos estruturais . Isso inclui uma política fiscal muito expansionista para isolar o Brasil da crise , diz o Fundo .

Neste cenário, o governo brasileiro dispõe de menos ferramentas (juros, desonerações) para reenergizar o PIB, alerta o FMI. — O problema do Brasil são os solavancos de velocidade (de crescimento), no sentido de que teve crescimento muito rápido que agora esbarrou em constrangimentos à capacidade (de produção), em infraestrutura e no mercado de trabalho.

O passo crucial é adotar medidas de estímulo à demanda e ao investimento, como parcerias público-privadas na área de infraestrutu-ra — afirmou Thomas Helbling, um dos chefes do Departamento de Pesquisa do Fundo. Segundo ele, a inflação merece vigilância. —Em termos de políticas macroeconômicas, é preciso cuidado. O Brasil neste momento está muito próximo do potencial, a inflação está acima da banda máxima e qualquer estímulo monetário adicional seria , em nossa visão , um equívoco .

Segunda maior economia do mundo, a China enfrenta o risco de errar na mão na consolidação de seu novo modelo de desenvolvimento e desacelerar demais o PIB, com consequências globais. Para não gerar riscos financeiros, seu crescimento está hoje limitado a não muito mais do que 7,5%. As projeções para a atividade chinesa recuaram para 7,8% este ano e 7,7% no próximo . —O caminho específico para a China é mudar o foco do modelo de investimento para consumo. Mas sabemos que não é algo fácil de se fazer , pois a contração do investimento vem primeiro e a expansão do consumo nem sempre é rápida o suficiente para compensar isso .

As autoridades chinesas estão cientes deste balanço. Se serão bem-sucedidos, veremos — afirmou Blanchard. Um fator adicional de risco para os emergentes é a retirada gradual do programa de estímulo monetário dos EUA. Blanchard acredita que as turbulências do último mês e meio foram passageiras, fruto do reposicionamento de investidores. Mas ele não descartou “atos de nervosismo” nos próximos meses, especialmente se o cenário dos emergentes não melhorar .

Na Europa, os países continuam colhendo efeitos passados da crise — como os ajustes fiscais draconianos e a confiança deprimida — e da demora em implementar medidas saneador as , como a limpeza dos balanços financeiros e a adoção de uma união bancária . Por isso , a “recessão ser á mais profunda do que o esperado ”, repetindo este ano a contração de 0,6% de 2012. O FMI continua apostando em recuperação em 2014, porém mais fraca (0,9%).

Nos EUA, a tesoura nos gastos implementada a partir de 1º de abril diminuiu a projeção de 2013 de 1,9% para 1,7% e a de 2014, de 2,9% para 2,7%. O FMI acredita que o consumo das famílias e o investimento das empresas vai se fortalecer . Mas alerta ser fundamental o aumento do teto da dívida e que os EUA comuniquem com clareza as mudanças pretendidas na política monetária. Apenas o Japão recebeu uma boa notícia do FMI.

Após pôr em prática uma política monetária expansionista, que tenta gerar inflação e estímulo ao consumo e ao investimento, a previsão de crescimento japonês saltou meio ponto percentual, para 2,5%. Mas, em 2014, o país acompanhará o resto do mundo, devido à demanda global mais fraca. A projeção caiu 0,3 ponto , para 1,2%.

Fonte: O Globo

Nenhum comentário: