segunda-feira, 15 de julho de 2013

Em queda - Paulo Brossard

Manchete de primeira página de grande jornal, semana passada, noticiou que Dilma vê risco de desmanche da base em ano pré-eleitoral, e seria de surpreender se tal não sucedesse. Se, desde o começo, a senhora presidente desfrutou de excepcional aceitação por parte da opinião pública, ainda no primeiro trimestre do ano em curso a presidente teve o primeiro dissabor, quando pesquisa de opinião pública revelou a perda de oito pontos em sua popularidade, num universo de cem. Algumas semanas se passaram e a cena se repetiu, só que desta vez a redução foi de mais 27 pontos, perda que surpreendeu o próprio Planalto. Ambas as perdas, perfazendo 35 pontos, ultrapassaram a terça parte em relação a cem; se novas medições forem feitas não me surpreenderei se prosseguir a perda.

Se há um ponto em que gregos e troianos estejam de acordo é no reconhecimento quanto à denominada "desaceleração" da economia nacional. As divergências são limitadas ao grau maior ou menor de esfriamento ou de retração econômica, no sentido de que o crescimento será ou não inferior a 2%. A propósito, eu me pergunto se a senhora presidente ficou perturbada com os números divulgados ou se não lhes deu importância, uma vez que as sucessivas iniciativas que vem tomando desde então não tem contribuído e nem poderiam contribuir para minorar a queda que, evidentemente, erodiu sua popularidade.

Sobram os exemplos e me falta espaço para arrolá-los, mas não posso deixar de lembrar que no seu retorno de São Paulo, onde acompanhada de seu marqueteiro foi conferenciar com seu antecessor, desembaraçadamente, lançou a ideia de um expediente rotulado de constituinte exclusiva, mas que, pela feição grotesca, não durou 24 horas, tendo ela própria se encarregado de sepultá-la, sem sequer dedicar-lhe votos de piedade. Sobreveio o plebiscito a que se apegou teimosamente, a despeito das gerais restrições, desde o primeiro momento opostas por pessoas de alta responsabilidade; nem mesmo a resposta que lhe deu a Justiça Eleitoral pela presidente do Superior Tribunal Eleitoral e por mais 27 Tribunais Regionais Eleitorais a demonstrar a inviabilidade do procedimento teve a virtude de demovê-la, e foi necessário que a grande maioria dos líderes que constituem sua base de sustentação lhe ponderasse que a iniciativa estaria irremediavelmente condenada.

Lembro que no começo do ano a imprensa noticiou fato inédito em manchete de primeira página "Governo manobra e garante R$ 16 bilhões para cumprir meta", "Operações contábeis com recursos do Fundo Soberano, BNDES e Caixa garantem superávit, mas afetam credibilidade da política fiscal". Não passaram muitos sóis e a credibilidade da política fiscal tão débil ficou que nem mais nem menos que o gestor da pasta das finanças proclamou a necessidade de se promover o reforço na credibilidade exatamente da política fiscal.

Entre tantos episódios capitaneados pela chefe do governo, por derradeiro, não posso deixar de lado um dos últimos que parece ter espantado crédulos e incrédulos. Após ter a ideia de promover a importação em massa de médicos de duvidosa formação científica e que teriam de aprender a expressar-se em língua portuguesa, mediante um veto parcial, vem de inaugurar a rebelião na respeitável comunidade médica de maneira inacreditável. Parece-me que estes gestos derradeiros tanto se distanciam dos que se pode esperar de governos criteriosos que me abstenho de tentar qualificá-los. Fiquei perplexo, para não dizer estarrecido.

*Jurista, ministro aposentado do STF

Fonte: Zero Hora (RS)

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