sábado, 15 de junho de 2013

Tensão urbana: Após semana de batalha, Haddad pede negociação

Chamado ao Movimento Passe Livre ocorre depois de confronto no quarto dia de protesto, que teve 232 pessoas detidas e deixou mais de uma centena de feridos. Fotógrafo atingido por bala de borracha, em ação policial, pode ficar cego.

Chamado ao diálogo

Após violência policial, Haddad chama movimento; Alckmin defende ação da PM

Silvia Amorim, Thiago Herdy

SÃO PAULO - Depois de quatro protestos em uma semana marcados por confrontos, violência policial e vandalismo de manifestantes na capital paulista, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), decidiu chamar para uma reunião na próxima terça-feira lideranças do movimento que luta contra o reajuste das tarifas do transporte coletivo e, assim, tentar impedir a repetição das cenas de violência nas principais ruas da cidade. Houve mais de uma centena de feridos, e 232 pessoas, detidas pela polícia.

O encontro deve ocorrer um dia depois do próximo protesto, marcado para o dia 17. Ontem, enquanto o governador Geraldo Alckmin defendia a ação da tropa de choque, Haddad e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, fizeram questão de criticar publicamente a ação da PM, comandada pelo governo do estado.

Apesar do chamado aos manifestantes, Haddad não dá sinais de que reduzirá a tarifa do transporte. O grupo diz que só aceita cessar os atos em caso de suspensão do aumento de R$ 3 para R$ 3,20, mesmo que temporária.

- As pessoas que estão na rua defendem a redução da tarifa. Vamos participar como movimento que discute a cidade, mas o prefeito deixou claro que não está nos recebendo para negociar. As manifestações param só quando a tarifa baixar - disse Nina Cappello, do MPL.

O convite da prefeitura de São Paulo é para que o Movimento Passe Livre participe de reunião do Conselho da Cidade, órgão criado este ano e formado por representantes de movimentos sociais e outros representantes da sociedade. O grupo poderá expor reivindicações. Mas a prefeitura também mostrará as limitações para derrubar a tarifa.

Pela manhã, antes do anúncio do convite, Haddad voltou a criticar os protestos e disse que a prefeitura não pode "se submeter ao jogo de tudo ou nada".

- Não existe "ou é do jeito que eles querem ou não tem conversa" - disse.

O governador Geraldo Alckmin voltou às mesmas justificativas.

- O reajuste da tarifa seria feito em janeiro, como todo ano é feito. E nós seguramos seis meses, com forte subsídio. O reajuste foi menor que a inflação.

Um dia depois do confronto mais violento nas ruas de São Paulo, Alckmin se reuniu pela manhã com a cúpula da segurança pública do estado. Ao final do encontro, defendeu a atuação da Polícia Militar e voltou a apontar conotações políticas para os protestos. Ele reafirmou que abusos da polícia serão investigados.

- É dever da polícia proteger a população, garantir o direito de ir e vir, do comércio abrir e preservar o patrimônio publico e privado. Só ontem (anteontem) tivemos 48 ônibus destruídos ou pichados. Precisamos garantir ao trabalhador, trabalhadora e à família a tranquilidade para que ela possa trabalhar, circular. Esse é o dever da polícia.

O secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, disse que a "polícia fez a coisa certa".

Pela primeira vez desde os atos, Haddad insinuou críticas à polícia, comandada pelo estado.

- Eu penso que tem havido excessos. Na terça-feira, infelizmente tivemos 80 ônibus depredados e policiais que foram agredidos. Ontem (anteontem) não ficou bem para a polícia.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, criticou a atuação da PM. Ele disse que entende que houve excesso e espera que haja investigação e punição rigorosa, se forem confirmados abusos.

- Pelo que vi houve excesso de violência da Polícia Militar de São Paulo. À primeira vista, me pareceu que houve uma violência sem justificativa. A violência é inaceitável, parta ela de qualquer lado que for - disse o ministro, que voltou a oferecer ajuda federal.

Na quinta-feira, o conflito entre polícia e manifestantes começou quando lideranças do MPL e o tenente-coronel Ben-Hur Junqueira Neto, comandante da área, negociavam a continuidade da manifestação. Segundo o policial, havia disposição de permitir aos jovens que continuassem o ato pela avenida Consolação, mas o conflito se iniciou antes.

Ao todo, 232 pessoas foram levadas para delegacias. O número é recorde na comparação com as manifestações anteriores. Quatro manifestantes foram presos sob a acusação de formação de quadrilha, incitação ao crime e dano qualificado. Eles foram levados ao Presídio de Tremembé. Dos 13 manifestantes presos na última terça-feira, todos foram soltos ontem. O primeiro a ser liberado foi o jornalista do Portal Aprendiz Pedro Ribeiro Nogueira.

Fonte: O Globo

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