terça-feira, 25 de junho de 2013

Plebiscito agora 'turbina a turbulência do país', afirma cientista político

Especialistas alertam que proposta, como foi feita, terá reações adversas

Juliana Castro, Thiago Herdy

Alerta. Cientistas sociais da PUC, como Luiz Werneck Viana (ao microfone), debateram a necessidade de reformar a política após demonstrações de insatisfação nas ruas

RIO e SÃO PAULO -  Cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO defendem o debate sobre a reforma política, mas temem que a proposta, da forma como foi apresentada pela presidente Dilma Rousseff, tenha reações adversas. No entendimento do cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a realização de um plebiscito "turbina a turbulência" no país:

- É uma reação que redunda em ser algo estimulante para criar confusão. Com uma rapidez inédita, espantosa, foi possível botar para correr um país inteiro e, em um estalar de dedos, o que conseguiram foi nada menos que uma Constituinte, uma nova Constituição.

Para Reis, a discussão da reforma política deveria se dar em outro espaço e em outros termos.

- Ganhar na correria, no meio da rua, uma reforma constitucional, quando fica bem claro que teremos esse tipo de manifestação a qualquer momento, com o poder de mobilização das redes sociais, é grave - resumiu o professor.

Já o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), considera a proposta de plebiscito "ousada" por acreditar que políticos tradicionais não fariam a reforma, "por medo de não serem eleitos sob novas regras ou perderem poder" em um eventual novo sistema. Para ele, os integrantes desta Constituinte não deveriam ter ligação com a disputa política do dia a dia, mas deveriam ser da área.

Para o cientista político, a medida deverá ter reações adversas, principalmente por parte dos que temem não saber "onde termina" a reforma.

- Se a constituinte for aprovada, deve-se delimitar bem o escopo dela, já no ato de convocação, para não virar a Constituinte "do fim do mundo", que fala de tudo - afirmou.

Reforma não deve ser a toque de caixa

Mais cedo ontem, antes de Dilma defender a ideia do plebiscito, professores do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio participaram de um debate com alunos e chamaram atenção para a necessidade de se discutir uma mudança no sistema político atual. Para eles, é preciso aproveitar o momento para abrir a discussão, mas ela não pode ser feita a toque de caixa, sob o risco de prevalecer a vontade dos grande partidos.

- O grande problema é que cada um tem uma reforma política. Todo mundo é a favor, mas um entende (a reforma) como o fim do voto obrigatório. Outro entende que é a implantação do voto distrital. Outro entende que é a questão do financiamento exclusivo (de campanha) - destacou o professor Ricardo Ismael no debate "Movimento da hora presente: entre a rua e a universidade", convocado para discutir as consequências das manifestações.

O professor Luiz Werneck Vianna afirmou que o movimento é uma expressão de que o povo cansou das relações de coalizão que se estabeleceram na política brasileira, com o "toma lá, dá cá":

- Está claro: queremos a política. Não esta que está aí. Queremos partidos, mas não esses da forma como se comportam.

Os partidos políticos que se atreveram a ir às ruas e se misturar aos manifestantes foram repreendidos. Essa atitude de repulsa às legendas também é alvo da análise dos estudiosos:

- Me preocupa muito essa questão apartidária. Acho que a luta tem que ser pela política, mas por uma democracia mais participativa para que a mudança social realmente seja possível. - afirmou a professora Angela Paiva.

Fonte: O Globo

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