quinta-feira, 27 de junho de 2013

Oposição não avaliza proposta de Dilma de fazer plebiscito

Líderes de PSDB e DEM defenderão um referendo em reunião com presidente

Maria Lima, Catarina Alencastro

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff inicia hoje o processo de diálogo com os partidos políticos para discutir a sua polêmica proposta de plebiscito para a reforma política. Marcado para amanhã, o encontro da presidente com os líderes da oposição não deve ser dos mais amistosos. Os líderes de PSDB, DEM e MD (ex-PPS) avisaram ontem que não aceitarão "só tirar fotografia", ouvir calados, nem avalizar a ideia do plebiscito: querem defender suas propostas, não só de reforma política, e levarão à presidente a defesa de um referendo após aprovação no Congresso das mudanças no sistema político-eleitoral. Hoje, Dilma se encontra com os dirigentes dos partidos governistas. A ideia da presidente é enviar ao Congresso, até terça-feira, sua proposta, centrada na realização do plebiscito.

O roteiro da Presidência prevê que hoje de manhã ela receberá os presidentes de partidos da base aliada. À tarde, os líderes aliados da Câmara e do Senado; e amanhã, os líderes da oposição das duas Casas. Fora da lista de convidados, o presidente do PSDB e provável adversário de Dilma em 2014, senador Aécio Neves (MG), disse que o objetivo de Dilma, ao centrar o foco das consultas na reforma política, é tirar a atenção das questões centrais cobradas nas ruas: sucateamento da Saúde, Educação e Segurança; corte de ministérios e combate à corrupção.

- Os líderes vão levar nossa agenda. Primeiro, a presidente tem que mandar ao Congresso o que acha que seja uma boa reforma política. O Congresso vai debater essa proposta e daí pensamos em um referendo sobre o que for aprovado. O plebiscito é uma resposta improvisada pela presidente Dilma para tratar de temas tão complexos, de responsabilidade do Congresso Nacional - disse Aécio, pouco antes de senadores tucanos irem à tribuna defender o referendo no lugar do plebiscito.

- Aval para o plebiscito? Jamais! A última vez que a presidente Dilma falou em reforma política foi na sua posse, aqui no Congresso. E plebiscito é uma decisão do Congresso. Queremos falar e ser ouvidos - disse o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes (SP).

O presidente do PPS/MD, deputado Roberto Freire (SP), disse que Dilma terá de ouvir o que o líder da Câmara, Rubens Bueno (PR), tem a dizer. E a primeira coisa é propor que ela, se realmente se preocupa com o aperfeiçoamento do sistema eleitoral, suspenda no Senado a votação do projeto que inviabiliza a criação dos partidos.

- Não vamos lá só para tirar fotografia e discutir só o que ela quer. A presidente vai ter que ouvir o que pensamos. Ela não pode chamar para um diálogo e ficar pontificando. Não vamos lá para ficar ouvindo discurso. Queremos discutir propostas concretas para enfrentar a crise das ruas - disse Freire.

Caso Dilma insista em plebiscito, a oposição vai incluir na consulta se a população aceita acabar com a reeleição, como já defendeu no início da semana. Outras mudanças poderão ser incluídas pelos partidos aliados.

- A base deve incluir se quer a continuidade do presidencialismo ou parlamentarismo. Vamos ouvir o que a presidente tem a dizer - disse o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ).

Pela manhã, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante - que assumiu de vez o papel de interlocutor político do Planalto e da presidente - anunciou que o governo está "correndo contra o tempo" para realizar o plebiscito.

- Depois de 19 anos de tentativas frustradas de reforma política, acho que nós superamos o impasse. Ao estabelecer o instrumento do plebiscito, nós poderemos eleger as principais questões que devem orientar e balizar a reforma política, e isso será definido com a participação direta da população - disse o ministro.

Ele frisou que a possibilidade de um referendo está praticamente descartada na proposta de Dilma porque, nesse caso, a população decidiria apenas se aceita a reforma já feita pelo Congresso:

- Nos parece que o plebiscito para esta agenda é o instrumento de maior participação popular.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também argumentou que a ideia é a população debater o assunto:

- O povo vai entender, porque há condições de fazer propaganda, discussão, a interação da sociedade com os temas. Não posso ter uma postura elitista de dizer que povo não entende as coisas. Acho que o povo não deve se limitar a dizer sim ou não: tem que dizer as linhas que ele quer, após um debate.

Fonte: O Globo

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