sexta-feira, 28 de junho de 2013

Na praça, um começo com flores e serenata

Durante duas horas e meia, a manifestação realizada ontem diante Palácio Piratini teve clima de quermesse. Havia música ao vivo executada de cima de um trio elétrico, grupinhos conversando animadamente e venda de pipoca, quentão, churrasquinho e cerveja.

– Virou festa junina – comentou uma jovem, provocando riso entre os amigos.

Foi uma noite de novidades dentro da onda de protestos que balançou Porto Alegre nas últimas semanas. O grupo Porto Alegre Vai Parar, que vinha convocando milhares de pessoas para as manifestações anteriores com uma pauta em contra a PEC 37 e a corrupção, não participou, para não fomentar vandalismo.

Em consequência, a manifestação ganhou a cara do Bloco de Luta pelo Transporte Público, uma organização formada por partidos como o PSOL e o PSTU e por uma série de organizações de esquerda. Teve menos gente dos que nos protestos anteriores e assumiu contornos mais tradicionais, com centenas de bandeiras de sindicatos e discursos. Foi a primeira vez que houve discursos em Porto Alegre.

Entre os militantes políticos, também havia muitos cidadãos comuns, que foram levar suas próprias pautas de reivindicação. Alessandra Moreira, 34 anos, e seu marido, Sidnei Vieira, 62 anos, levaram o filho Vitor, nove anos, para participar. Com a máscara do Anonymous, o menino exibia seu cartaz de protesto: "Eu poderia estar jogando no computador, porém estou lutando por um Brasil melhor".

– Nós o trouxemos para que ele cresça com essa ideia de mudança – disse a mãe.

No meio da festa, um helicóptero parou em cima da praça. Na parte debaixo ostentava um painel eletrônico onde sucediam-se mensagens apaziguadoras: "Não ao vandalismo", "Sem partido", "Não deixem os vândalos agirem. Denunciem", "A polícia está aqui pela segurança de todos". Nesse momento, no caminhão de som, a pessoa que discursava chamava a Brigada Militar de "fascista".

O helicóptero incomodou alguns manifestantes:

– Para fazer fazer isso, tem de ser alguém com muito dinheiro. Alguém que quer colocar sua manifestação individual como se fosse de todo mundo. Não representa o grupo que está aqui. O que eu quero saber é quem representa – criticou o pedagogo Guilherme Oliveira, 31 anos.

Sindicalistas gritavam ao microfone "A praça é nossa". Deles e dos policiais, na verdade. Toda a Matriz estava palmilhada por PMs, que faziam um cerco em torno dos prédios dos três poderes ali localizados: Palácio Piratini (sede do Executivo), Palácio Farroupilha (sede do Legislativo) e Palácio da Justiça (antiga sede do Judiciário, hoje Corregedoria e Memorial), em precaução contra depredações. Afinal, o prédio do Judiciário chegou a ser apedrejado, numa manifestação há 10 dias.

Algumas ruas ficaram abertas para que os manifestantes pudessem se dirigir para lá, mas outros trechos – como a parte da Duque de Caxias fronteiriça à sede do Executivo e também o trecho próximo ao Teatro São Pedro – foram fechados.

PMs ganharam rosas de manifestantes

O bloqueio levou os manifestantes a gritar palavras de ordem contra o governador Tarso Genro, pela grande presença de PMs no local. O protesto, aliás, foi convocado "contra a criminalização dos movimentos sociais". Por volta das 19h cresceu o número de manifestantes, chegando a cerca de 5 mil pessoas. Havia muitos sindicalistas, professores, integrantes do movimento gay e estudantes, mas a uma certa distância era possível ver um grupo de mascarados, muitos deles adolescentes, fazendo uma reunião à parte. Eles consumiam bebida alcoólica e ouviam música em rádios.

Tarso Genro resolveu abrir as portas do Piratini para um grupo de 12 manifestantes, o que ajudou a diminuir as vaias. Ficou reunido com eles por cerca de uma hora, a partir das 19h30min. Até então, tudo era calma – até flores para os PMs os manifestantes ofereceram. Dois amigos e colegas de trabalho, os técnicos de informática, Daniel Martins, 26 anos, e Ariel Varriento, 23 anos, seu uniram para distribuir 700 rosas.

Mas a preocupação pairava no ar:

– Se a gente precisar correr, vamos por ali – disse uma jovem ao namorado, indicando a Rua Jerônimo Coelho. Porto Alegre viveu ontem outro dia de protestos e vandalismo. O ato começou com serenata e terminou com bombas de gás, em frente à sede do governo estadual. A fórmula foi a mesma: maioria pacífica e minoria belicosa, com confusão no final.

Agora, os caminhoneiros

Os caminhoneiros vão aderir à onda de protestos para pressionar o governo e o Congresso em busca de soluções para as questões que afetam a categoria. A convocação partiu do Movimento União Brasil Caminhoneiro, que disse contar com "concordância unânime" do setor (motoristas de caminhão, cooperativas, transportadoras e outras empresas de serviços) de apoio imediato às manifestações populares. A paralisação começa às 6h da próxima segunda-feira e termina às 6h de quinta, dia 4 de julho.

Protestos pelo país

Também houve protestos em São Paulo, Florianópolis, Goiânia, Aracaju, Salvador, Maceió, Teresina, Blumenau (SC), Chapecó (SC), Petrolina (PE), Sorocaba (SP) e São José dos Campos (SP) – a maioria, pacíficos.

PELO RIO GRANDE DO SUL

- Manifestantes em Passo Fundo (foto) protestaram contra o reajuste da tarifa de ônibus pela 10ª vez. Eles defendem a revogação do aumento autorizado em abril, de R$ 2,45 para R$ 2,70. Por determinação do prefeito Luciano Azevedo (PPS), as empresas de transporte coletivo deverão reapresentar as planilhas de custo que geram a tarifa na próxima semana.

- Um grupo de centenas de pessoas realizou passeata em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, pedindo passe livre para estudantes e maior segurança pública. Manifestantes avaliaram que interdições na BR-116 não seriam efetivas, já que a Polícia Rodoviária Federal faz bloqueios antecipados e desvia os carros por dentro da cidade.

- Na mesma região, dezenas de pessoas entraram na Câmara de Vereadores de São Leopoldo. Assim como em Novo Hamburgo, o grupo decidiu não realizar bloqueios na BR-116.

- O trânsito foi pauta em Capão do Leão, no sul do Estado. Dezenas de pessoas cobraram soluções para mortes ocorridas na BR-293.

- Em Paraí, protesto reuniu cerca de 300 pessoas, que percorreram cinco quadras da cidade. Eles pediram por melhores salários para os professores, mais hospitais e o fim da corrupção.

- A rodovia Pinheiral-Vale Verde (ERS-405), no trevo de acesso a Passo do Sobrado, no Vale do Rio Pardo, foi interrompida por cerca de 30 minutos. Os manifestantes pediram reformas e redutores de velocidade no local.

- Em Campina das Missões, no Noroeste, ativistas realizaram caminhada na cidade. Em Santa Rosa, centenas de pessoas criticaram os valores gastos por vereadores e defenderam a construção de um canil.

Fonte: Zero Hora (RS)

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