sexta-feira, 14 de junho de 2013

Inflação: Aperto maior para a classe C

Segundo o IBGE, o aumento nos preços paralisou a ascensão social no Brasil. Juros e dólar devem prejudicar o consumo.

Inflação mina o poder de compra da classe C

O comércio, que até bem pouco tempo crescia a um ritmo chinês, dá sinais de fadiga. Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, com a inflação em alta, o varejo já se ressente do esgotamento do processo de ascensão social que marcou o país nos últimos 10 anos. A nova classe média, formada por 40 milhões de brasileiros que engordaram o mercado de consumo nesse período, não só parou de crescer como está vendo o seu poder de compra encolher.
Segundo Reinaldo Pereira, gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE, esse quadro é claro. "Antes, havia a entrada de pessoas na classe média, que vinham com a demanda reprimida e consumiam muitos móveis, eletrodomésticos, informática, celular e veículos. Outras, que já tinham esses bens, queriam produtos mais modernos. Só que chega um momento que isso se esgota. O processo de troca de bens é muito mais lento agora. Além disso, estamos num período em que a inflação nos incomoda e a inadimplência está alta (pois muitas famílias se endividaram além da conta", afirmou.

Com isso, o varejo registrou alta de apenas 1,6% em abril na comparação com o mesmo período de 2012. Foi o pior resultado para este mês desde 2003, primeiro ano do governo Lula. Frente a março, houve avanço de minguado 0,5%, número que, a despeito de ser positivo, frustrou o mercado, que esperava o dobro desse desempenho. No acumulado do ano, o incremento das vendas chega a 3%, mas as receitas do setor saltaram 11,1%. Quer dizer: o comércio não se intimidou em reajustar as mercadorias a um ritmo quase quatro vezes maior do que o incremento do consumo.

Segundo o pesquisador do IBGE, a tendência é de piora. É que o varejo sentirá o baque da disparada do dólar e do aumento dos juros. "A valorização do dólar terá um efeito inflacionário e implicações nas vendas do comércio. Os preços aumentarão, afetando o consumo", disse. Para ele, todos os produtos importados ficarão mais caros nos próximos meses, inclusive bens fabricados no Brasil que usam componentes de fora do país. Ainda segundo o técnico, com a alta da taxa Selic, que passou de 7,25% ao ano para 8% — e pode chegar a 9,5% —, as compras a prazo de bens duráveis devem esfriar.

Supermercados

Entre os seguimentos que mais perderam força está o de supermercados e hipermercados, que recuou 0,5% no mês. No acumulado do ano, as vendas desses estabelecimentos ficaram estagnadas, ou seja, crescimento zero. Na avaliação dos especialistas, a culpa de desempenho tão ruim é da inflação. "Os preços no varejo cresceram, em média, 1,2% ao mês. Esse número é bem elevado, superior ao observado no IPCA", calculou Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.

Os dados do IBGE mostram ainda que o segmento de mercados registrou queda de 5,4% nas vendas na comparação com igual mês do ano anterior — o pior resultado desde agosto de 2003. Esse tombo, de acordo com análises do instituto, se explica pela elevação de preços — o grupo de produtos de alimentação consumidos no domicílio, por exemplo, encareceram 15,7% no acumulado de 12 meses.

Carlos Mussi, diretor do escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), avaliou que, além da inflação, a velocidade de acesso ao crédito tem diminuído no país. "O consumidor está mais atento à situação financeira, e isso faz com que seja mais cauteloso nas compras. Não é um fato isolado no Brasil. A América Latina como um todo tem registrado desaceleração do consumo", argumentou.

Prévia do PIB

De acordo com Roque Pellizzaro, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), o varejo já esperava uma acomodação das vendas, sobretudo em função do endividamento da famílias e da carestia. "A questão é: uma das molas propulsoras do varejo, a demanda reprimida dos brasileiros, foi atendida. Com isso, há um novo perfil de consumo, bem mais moderado", argumentou.

O comportamento mais contido dos consumidores se reflete no crescimento do país. Hoje, será divulgado o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), um indicador que tenta antecipar o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) antes da publicação pelo IBGE. Para analistas, o número de abril estará entre uma expansão de 0,7% e 0,8%. "Com a continuidade de números positivos no mercado de trabalho e ajustes salariais de várias categorias, devemos ver algum avanço da massa salarial e um ritmo mais forte de atividade. Nos meus cálculos, o país vai crescer 2,3% em 2013", projetou Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank.

O Itaú Unibanco, que tem indicador semelhante ao do BC, projeta expansão de 0,8% para abril. "O resultado do PIB mensal indica que a atividade econômica está em expansão. Essa perspectiva se mantém mesmo com os dados preliminares de maio apontando para recuo da atividade econômica", relatou Aurélio Bicalho, economista da instituição.

Exclusividade gera protestos

O programa Minha Casa Melhor, lançado na quarta-feira pelo governo, foi motivo de conflito entre os formuladores e os lojistas. O cartão do benefício será operado exclusivamente pela Redecard, Segundo os comerciantes, a maioria dos estabelecimentos opera com outras empresas. Agora, terão de arcar com um novo custo para atender os clientes. A Caixa Econômica Federal afirmou que a exclusividade se deve a uma questão técnica. Os concorrentes não estariam preparados tecnologicamente para operar o cartão que será entregue aos clientes do Minha Casa, Minha Vida. Informações de bastidores apontam que a Redecard teria feito investimentos para participar do programa.

Fonte: Correio Braziliense

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