sexta-feira, 31 de maio de 2013

Meta eleitoral - Resultado econômico fica para 2014

Objetivo é conter a inflação e turbinar o PIB no próximo ano

Com o resultado fraco da economia em 2013, Planalto quer acelerar investimentos e tirar do papel concessões, como de aeroportos e rodovias

Um dia após a divulgação do Pibinho de 0,6% no primeiro trimestre, o Palácio do Planalto, de olho nas eleições presidenciais, quer que a equipe econômica trabalhe agora com foco em 2014. O objetivo é que a presidente Dilma mostre no próximo ano um cenário cada vez mais difícil de ocorrer em 2013: crescimento alto e inflação baixa.

Segundo técnicos do governo, a inflação precisa desacelerar, recuando do teto da meta, de 6,5%. Por isso, o BC subiu juros em 0,5 ponto, para 8%. O Planalto quer tirar do papel programas de concessão, como de rodovias, ferrovias e aeroportos, além do leilão do pré-sal, e acelerar investimentos para turbinar o PIB em 2014

Governo agora mira 2014

Planalto quer atacar inflação e atrair investimentos para turbinar PIB em ano de eleição

Martha Beck, Danilo Fariello e Henrique Gomes Batista

BRASÍLIA e RIO - De olho nas eleições presidenciais, o Palácio do Planalto quer que a equipe econômica trabalhe agora com foco em 2014. No dia seguinte à divulgação do Pibinho de 0,6% no primeiro trimestre e à alta dos juros anunciada pelo Banco Central para segurar a inflação, a ideia é que a presidente Dilma Rousseff consiga mostrar no próximo ano um cenário com cada vez menos chances de se concretizar neste: crescimento elevado e inflação baixa. Isso embora as últimas previsões da Fazenda tenham sido sempre mais otimistas que a realidade, o que amplia a desconfiança com a economia.

Segundo técnicos do governo, os índices de preços precisam não apenas desacelerar, mas deixar de ficar tão perto do teto da meta anual, que é de 6,5%. Isso porque, quando a inflação se acomoda num patamar elevado, o governo tem pouca margem para administrar eventuais choques externos. Foi por isso que o BC optou pelo remédio mais amargo e elevou a taxas de juros em 0,5 ponto percentual, para 8% ao ano.

Ontem, em entrevista ao "Jornal Nacional", da TV Globo, o presidente do BC, Alexandre Tombini, disse que a alta dos juros vai trazer a inflação para um patamar mais baixo neste ano e em 2014.

"Este remédio, os juros mais altos, vai trazer a inflação para baixo e reforça a confiança nos pilares da economia brasileira, nos fundamentos da economia brasileira. A confiança faz bem para o PIB. Então, estamos trabalhando e ajudando a consolidar esse processo de recuperação gradual da economia brasileira", afirmou Tombini .

O próprio BC admitiu em seu primeiro relatório de inflação de 2013 que o IPCA, índice oficial do país, ficará acima do centro da meta (4,5%) durante todo o mandato de Dima. A autoridade monetária afirmou que o índice deve fechar 2013 em 5,7% e 2014, em 5,3%. Mas a resistência da inflação vem preocupando cada vez mais, apesar da perspectiva positiva com a entrada da safra no mercado, o que desacelera os preços de alimentos.

Aposta agora é nas concessões

Já o crescimento de 2013 está praticamente dado e não deve superar 3%, especialmente após o fraco resultado do primeiro trimestre. Por isso, a ordem do Planalto é trabalhar para tirar logo do papel os programas de concessão e, com isso, acelerar investimentos que aparecerão no PIB a partir de 2014. A nova estratégia já apareceu na fala do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que disse que os investimentos devem ser o carro-chefe da economia.

Há confiança do Executivo de que, assim que os programas de concessões tiverem suas primeiras outorgas pagas e seus investimentos iniciados, a economia vai reagir. Além de rodovias e ferrovias, nos últimos dias, o governo prometeu leiloar em outubro a gigantesca área de Libra, no pré-sal, e elevou a exigência de outorgas para os aeroportos de Confins e Galeão, em comparação com os anteriores. Se o investimento, de fato, demorar a surgir, pelo menos as outorgas serviriam para aquecer a economia.

Outras medidas na mesma linha são o lançamento de um Plano Safra com volume recorde na próxima semana, com juro abaixo da inflação, e o envio do novo Código de Mineração ao Congresso nas próximas semanas, que também atrairá investimentos em outorgas com leilões de áreas. Há ainda a criação do Programa de Investimentos em Logística (PIL) para hidrovias até o fim do ano.

A equipe econômica também vai manter a agenda de desonerações, embora saiba que essas medidas têm poder limitado para reanimar o PIB. Nessa linha, será publicada hoje no Diário Oficial uma medida provisória (MP) retirando o PIS/Cofins que incide sobre tarifas de transporte coletivo urbano. A previsão é que a medida custe R$ 1,2 bilhão aos cofres públicos este ano e deve ajudar a segurar os preços.

Previsões furadas

Técnicos do governo admitem que a estratégia de buscar crescimento via investimentos, na verdade, mostra uma preocupação em não pressionar os preços com novos estímulos ao consumo. Mesmo assim, a Fazenda já estuda prorrogar a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para móveis e artigos da linha branca, que também termina no fim de maio.

Os técnicos admitem que as desonerações para o consumo, que tanto ajudaram em 2008, já não servem mais hoje. Os brasileiros estão mais endividados e o crédito e os salários crescem menos. Por isso, o gasto das famílias avançou só 0,1% no primeiro trimestre de 2013.

O desempenho do primeiro trimestre desanimou o governo e pegou de surpresa a equipe econômica, novamente, e até grandes bancos e analistas. A frustração das metas do governo, porém, tem sido a regra no governo Dilma. Mantega e equipe projetam taxas de crescimento e investimentos muito maiores que a realidade e inflação menor que o IPCA. Especialistas alertam que o excesso de otimismo oficial atrapalha de fato os investimentos e torna a confiança do empresário mais arredia e insegura.

As previsões de Mantega a cada início de ano são muito discrepantes do que é registrado depois. Em janeiro de 2011, no início do governo, o ministro foi à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e apresentou suas projeções: PIB com alta de 5% no ano , 5,5% em 2012 e 6,5% em 2013 e 2014, com média do governo de expansão anual de 5,9%. O IBGE daquele ano registrou avanço de 2,7% da economia. Em março de 2012, Mantega indicava que o PIB subiria 4,5% no ano, 5,5% em 2013 e 6% em 2014. O resultado foi 0,9%. Para este ano, ele fala em alta de 3,5%, enquanto muitos analistas esperam PIB mais próximo de 2%. E a média oficial dos dois primeiros anos de Dilma está em 1,8%.

O economista Joaquim Elói Cirne de Toledo afirmou que a equipe econômica contribui, com suas previsões, mais para descrédito do que para a criação de expectativas, o que atrapalha. Para ele, o governo deveria desvalorizar o real e reforçar a política fiscal para crescer a longo prazo, mas isso geraria inflação e desemprego a curto prazo.

- Para melhorar a situação, o governo deveria trocar a equipe econômica, por gente com mais credibilidade e voltar as medidas para ortodoxia, como aumentar o superávit primário. Mas não espero isso, até porque a popularidade da presidente está alta - disse Fábio Kanzuc, professor de economia da USP.

Fonte: O Globo

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