quarta-feira, 1 de maio de 2013

Batman & Robin - Denise Rothenburg

Mercadante e Temer assumem cada vez mais a condução política do governo nos bastidores. Resta saber se conseguirão fazer jus ao apelido

O vice-presidente Michel Temer e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, nunca foram próximos de verdade. No máximo, se cruzaram durante o período em que ambos eram deputados, no início dos anos 1990, quando o então presidente Fernando Collor sofreu o processo de impeachment. Mas, nos últimos dias, desde que Mercadante anunciou que não pretende concorrer ao governo de São Paulo, os dois têm feito uma espécie de parceria estratégica no governo Dilma Rousseff.

Na última segunda-feira, quando todos estavam certos de que não haveria clima para votar a Medida Provisória 595, que institui o novo marco regulatório dos portos, Mercadante e Temer foram à casa do presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O potiguar é leitor perspicaz das entrelinhas do parlamento. Na condição de “magistrado da Câmara”, relatou a Mercadante os problemas por que passam o governo no Congresso e as atitudes que transformam o Brasil na República do desconforto.

O desconforto é geral. Está nos partidos, que não são chamados a conversar no Planalto, dos deputados que não participam das decisões e ficam apenas apertando botão na hora de aprovar alguma medida de interesse do governo. Nos senadores, obrigados a deixar de lado as perspectivas do possível para fazer apenas o que deseja o Planalto, sem espaço para as negociações. Foi esse o caso, por exemplo, da MP dos Portos, que só começou a ser negociada de fato no início de abril.

Nesse clima, o governo praticamente descartou a possibilidade de aprovar a MP dos Portos antes de 16 de maio, data limite para votação. Essa semana acabou. A próxima é crucial para aprovar a medida na Câmara para dedicar a seguinte ao Senado. Diante da pauta emperrada por outras MPs e da polêmica em torno do tema, o mais provável é retomar a negociação à frente, de forma a encontrar uma fórmula mais palatável a todos.

A ordem agora é distencionar, tentar tornar a relação entre governo e parlamento mais leve. Nesse sentido é que se dá a parceria entre Temer e Mercadante, ambos avisados de todos os problemas que o governo pode vir a ter no Congresso ainda neste semestre. Um deles é a Proposta de Emenda Constitucional que equipara os salários dos policiais ao valores pagos no Distrito Federal, a famosa PEC 300.

O texto estava meio morto nos escaninhos do Congresso, até que os policiais, mobilizados, conseguiram a assinatura do líder do PT, José Guimarães (CE), para que o projeto fosse a votação em segundo turno no plenário. Com o PT assinando, os demais líderes foram na onda. Afinal, ninguém quer ficar com fama de antipático enquanto o partido do governo federal fica com fama de bonzinho. Agora, a bomba está no colo do presidente da Câmara, que já avisou não ter como segurar a votação, uma vez que os lideres partidários apoiam.

Guimarães explicou ao Planalto que assinou o pedido dos policiais “por engano”. O problema é que muita gente não acreditou. Alguns acham que a ação foi deliberada, no sentido de colocar os governadores em situação difícil, em especial, Eduardo Campos, de Pernambuco, que desfila como pré-candidato a presidente da República. A ideia seria colocar o pessebista no papel de vilão da história, uma vez que lá atrás, quando a PEC foi aprovada em primeiro turno, ele e os demais governadores disseram que não teriam recursos para conceder aumentos. Parece ter esquecido que a medida afetará outros, como o baiano Jaques Wagner e o sergipano Marcelo Déda, ambos petistas.

Por falar em Eduardo…

A avaliação geral é de que não dá mais para o PT ficar tentando puxar o tapete dos adversários e deixando de cuidar da própria vida. Em vez de ações ousadas, como PECs contra o STF, a ideia é adotar a estratégia de Temer. Silenciosamente, ele vem tirando palanques e financiadores do PSB, caso da JBS Fri-Boi em Goiás, cujo dono se filiou ao PMDB. E, nesse trabalho, Temer contará com o auxílio de Mercadante.

O ministro da Educação é hoje um dos mais próximos de Dilma. Foi líder do governo Lula no Senado e, embora alguns o considerem para lá de vaidoso na relação política, é um dos quadros que a presidente conta hoje para o que der e vier. E na selva da política, lealdade vale ouro.

No papel de menino prodígio (Mercadante é mais novo que Temer), o ministro ajudará ainda a entender os meandros do PMDB. Afinal, está cada vez mais claro que esse é o partido que Dilma terá ao seu lado na campanha. É essa dupla que, pelo visto, fará a condução política no momento em que Gleisi Hoffmann, ministra da Casa Civil, e sua colega de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, caírem nas campanhas em seus respectivos estados. Resta saber se conseguirão fazer jus ao apelido.

Enquanto isso, em São Paulo, terra de ambos…

… Quem desfila é o senador Aécio Neves, que aceitou o convite para participar da festa da Força Sindical em homenagem ao Dia do Trabalho. Bom feriado a todos. Eu também vou ali e volto na sexta-feira.

Fonte: Correio Braziliense

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