sábado, 25 de maio de 2013

Baixo crescimento desacelera crédito no Brasil

Juro bancário para pessoa física registra pequeno recuo

Gabriela Valente

BRASÍLIA – O ciclo do consumo em alta, movido pela compra de bens duráveis, está perto do fim e o crédito, até então combustível para o crescimento, já não tem mais a mesma força para impulsionar a atividade econômica, que passará a depender cada vez mais do investimento. Essa é a avaliação dos economistas sobre o relatório mensal de empréstimos bancários, divulgado ontem pelo Banco Central (BC). Só no mês passado, a concessão de novos empréstimos no Brasil caiu, em média, 4%.

O relatório do BC mostra que R$ 13,5 bilhões em novos empréstimos foram concedidos no mês passado. Em março, esse número era de R$ 14,1 bilhões. A maior queda foi sentida nas concessões de financiamentos para empresas, justamente quando a equipe econômica tenta de todas as maneiras estimular novos contratos para financiar o investimento.

No total, há no país R$ 2,4 trilhões em empréstimos concedidos. No mês passado, o crescimento do crédito foi de 1,1% e de 16,4% nos últimos 12 meses. A expectativa do BC é que a marcha fique cada vez mais lenta até o fim do ano, quando o ritmo de expansão do volume de financiamentos deve chegar a 14%.

— Chegamos a uma situação de estrangulamento do crescimento por causa do esgotamento do consumo de bens duráveis. Foi um ciclo longo, mas está esgotado — disse o economista do Banco Espírito Santo, Flávio Serrano.

Ele observou que as famílias já compraram os bens que desejavam no início do ciclo de grande consumo. Agora, reorganizam suas finanças. Por isso, há uma redução da inadimplência.

Segundo o BC, o nível de calote das pessoas físicas caiu levemente, 0,1 ponto percentual, para 5,3%, em abril. Já a inadimplência das empresas percorreu o caminho inverso: aumentou 0,1 ponto percentual, para 2,3% no mês passado.

Apesar da alta da taxa básica de juros (Selic), que encarece o crédito no mercado, a média das taxas de juros cobradas pelos bancos das famílias brasileiras caiu, em abril, 0,1 ponto percentual para 24,3% ao ano. Foi um pequeno ajuste depois de os bancos terem elevado bastante os juros antes mesmo de o Comitê de Política Monetária (Copom) começar a apertar o cerco contra a inflação.

De acordo com a autoridade monetária, a pequena queda no custo financeiro para as famílias é resultado da diminuição das taxas de cartão de crédito e crédito pessoal. A disposição de trocar dívidas caras por outras mais baratas também colaborou para diminuir a taxa média cobrada.

— É a busca por um crédito mais longo e mais barato — afirmou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel. — Saem do cheque especial e buscam algo mais barato, como o consignado.

Bancos estão mais conservadores

Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luiz Otávio Leal, o país vive um momento de transição do mercado de crédito por vários motivos. Um deles é a mudança de comportamento do brasileiro, que faz pesquisa de taxas mais baixas. O consumidor também troca o consumo de bens duráveis (até automóveis) pelo crédito imobiliário. Comprar a casa própria é considerado um investimento mas, por outro lado, compromete uma parcela maior da renda e impede as famílias de contraírem outros tipos de empréstimos.

Além disso, Leal lembrou que os bancos privados se contraíram e estão mais conservadores na hora de emprestar. Isso ajuda a frear o aumento do crédito. Segundo Leal, tudo atrapalha o crescimento do Brasil, que dependerá cada vez mais do investimento. O economista enfatizou que, na semana que vem, o IBGE divulga o resultado do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no primeiro trimestre. Se o resultado vier acima de 1%, isso pode impulsionar o otimismo dos empresários e levá-los a tomar mais empréstimos para financiar investimentos.

— Tem um fator psicológico que a gente não pode descartar — alertou o analista.

Fonte: O Globo

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