segunda-feira, 20 de maio de 2013

A “campeã de Lula”: dívida da Odebrecht dispara

Resultados. Débito dobrou em dois anos e provocou um prejuízo de R$ 1,58 bilhão ao grupo no ano passado; empresa diz que se não tivesse ocorrido variação cambial teria obtido lucro e que a dívida aumentou para bancar investimentos em novos negócios

David Friedlander

Depois de se firmar como a maior empreiteira do País, dominar o setor petroquímico com a Braskem e espalhar sua marca por áreas tão diferentes quanto a produção de etanol e a construção de submarinos, a Odebrecht começa a encarar a conta dessa trajetória fulminante nos últimos anos: a dívida do grupo disparou e atingiu R$ 62 bilhões, com bancos e investidores que compraram suas debêntures.

Essa dívida está espalhada por várias empresas - e praticamente dobrou desde 2010. O débito cresceu 36% apenas em 2012, segundo o balanço consolidado do ano. As demonstrações foram publicadas no dia 25 de abril no Diário Oficial da Bahia e em um jornal daquele Estado, onde fica o conselho de administração da Odebrecht.

Uma das consequências imediatas do aumento no endividamento foi um prejuízo consolidado de R$ 1,58 bilhão em 2012. No conjunto, as empresas da Odebrecht até tiveram lucro operacional de R$ 4,6 bilhões. Mas esse desempenho foi todo comido pelo crescimento das despesas financeiras decorrentes da dívida e virou prejuízo. O grupo pagou R$ 3,3 bilhões em juros e seu balanço ainda sofreu 1 impacto negativo de R$ 3,5 bilhões, consequência da valorização do dólar em sua dívida. "Sem a variação cambial, teríamos dado lucro", afirma Felipe Jens, vice-presidente de Finanças do grupo.

Embora a receita tenha crescido 22%, totalizando R$ 76 bilhões no ano passado, a dívida eqüivale hoje a pouco mais de 3,5 vezes o patrimônio líquido de R$ 17 bilhões da Odebrecht. O vice de Finanças reconhece que o tamanho do passivo pode assustar quem olha de fora. Mas Jens diz que a companhia está acostumada a trabalhar alavancada em empréstimos e que internamente a avaliação é de que o risco está bem calculado e a dívida segue sob controle.

Este ano, vencem compromissos de R$ 9,2 bilhões - 15% da dívida total. O restante são compromissos de longo prazo.

No passado

No final dos anos 90 e começo dos 2000, a Odebrecht investiu nas áreas de papel e celulose e concessões de rodovias, se endividando muito e precisou se desfazer de vários ativos.
Segundo Jens, o endividamento vem aumentando principal mente para bancar investimen tos nos novos negócios do gru po. "É dívida para fazer investimento, com prazo de maturação compatível com a capacidade de geração de receita, custo adequado e na moeda correta", afirma o executivo. "A dívida está crescendo porque a companhia investe, não é para cobrir buraco de empresa."

Investimentos. Pelo balanço, o grupo investiu R$ 12 bilhões no ano passado. Boa parte dos negócios ainda está em fase pré-operacional ou devem começar a gerar receitas a partir de agora, como a Odebrecht Oil 8c Gas, ou novas divisões de concessões de serviços da Odebrecht Ambiental. "Quando começarem a gerar receita, a situação se reverte. Nosso desafio é "performar" para pagar as dívidas. E isso esta empresa sabe fazer", afirma o vice de Finanças.

De acordo com o executivo, a situação hoje é muito diferente do que ocorreu entre o fim dos anos 90 e o começo dos 2000. Naquela fase, o grupo investiu pesado em novas áreas, como papel e celulose e concessões de rodovias. Acabou se endividando além do suportável e precisou se desfazer de vários ativos, como as participações na indústria de celulose Veracel e na concessionária CGR.

"O momento é completamente diferente", afirma Felipe Jens. "Grande parte daquela dívida era fruto de aquisições. Agora, temos muitos projetos que começam do zero e os financiamentos estão atrelados a projetos estruturados e a composição de risco é outra."

Os negócios da Odebrecht só cresceram desde então. Suas operações se espalham da Argentina aos Estados Unidos, da Africa à Europa e à Ásia.

A Construtora Norberto Odebrecht, que deu origem ao grupo, partiu da Bahia para o Sudeste nos anos 80. E deixou para irás construtoras tradicionais no ramo de obras públicas como Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Mendes Júnior. O plano já traçado para os próximos três anos prevê investimentos de R$ 47,5 bilhões, no Brasil e no exterior. "Com dívida", diz o vice de Finanças. "Faz parte do espírito empreendedor das Organizações Odebrecht."

Braskem e ETH puxam dívidas da Odebrecht

Setores petroquímico e de etanol carregam maior parte de sua dívida; com lucro, foi a Construtora Norberto Odebrecht que salvou o ano

O impacto mais pesado nas contas do grupo Odebrecht, que teve prejuízo de R$ 1,58 bilhão ao ano passado, vem de duas de suas principais apostas: a Braskem, indústria da área petroquímica, e a ETH, produtora de etanol. Nesses dois setores, nos quais a indústria como um todo enfrenta dificuldades, o grupo carrega dívidas que somam aproximadamente R$ 20 bilhões.

A ETH, que passou a se chamar Odebrecht Agroindústrial, ainda está em fase de investimento. Desde 2007 o grupo já investiu quase R$ 10 bilhões na empresa, que já é a segunda do País em capacidade de moagem. Com os preços da gasolina na prática congelados pelo governo e as margens de lucro apertadas do etanol, a empresa teve prejuízo de R$ 898 milhões

No ano passado.

O maior problema está na Braskem. Como a empresa responde por metade das receitas do grupo, seus resultados têm impacto direto nos números globais da Odebrecht. A empresa carrega uma dívida histórica, tomou dinheiro para fazer aquisições e financiar novos projetos. Ao mesmo tempo, enfrenta um mercado em momento difícil A valorização do dólar no ano passado aumentou sua dívida, de mais de R$ 12 bilhões, provocando um prejuízo de mais de R$ 700 milhões em 2012.

Fora dessas duas áreas problemáticas, o quadro da Odebrecht é bem mais animador. A empresa de empreendimentos imobiliários lucrou quase R$ 300 milhões no ano passado e a Odebrecht Transport, concessionária na área de transportes criada há menos de cinco anos, deu um resultado positivo de R$ 268 milhões.

Mas quem salvou o ano foi a Construtora Norberto Odebrecht (CNO), que deu origem ao grupo. A empresa foi responsável por um lucro de R$ 804 milhões no ano passado, O detalhe é que 70% da receita da construtora veio de obras no exterior.

Dentro da construtora, o foco é aumentar a presença no exterior e depender cada vez menos do Brasil, mesmo caminho que deve ser seguido por outras empresas do grupo como Odebrecht Oil & Gas e pela Odebrecht Energia que, segundo executivos, estariam enxergando oportunidades melhores lá fora do que no País. Do investimento previsto de R$ 47,5 bilhões para os próximos três anos, R$ 21 bilhões devem ser aplicados no exterior.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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