quinta-feira, 25 de abril de 2013

PT proíbe críticas ao governo Roseana no MA

Por Cristiane Agostine

SÃO PAULO - O PT proibiu a veiculação de críticas ao governo da família Sarney no Maranhão. O partido suspendeu a exibição de inserções partidárias na qual um dirigente petista fala dos péssimos indicadores sociais do Estado, mesmo sem citar diretamente o nome da governadora.

Sob pressão da direção nacional do PT, o presidente do diretório do Maranhão, Raimundo Monteiro, impediu que fossem ao ar cinco programas gravados pelo dirigente Marcio Jardim, que integra o comando nacional petista e a executiva estadual. Nas duas inserções partidárias que foram exibidas na televisão, Jardim elogia o crescimento do país durante os governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff, mas diz que o "Maranhão continua ostentando os piores indicadores sociais do país". "Somos os piores na saúde e na educação", afirma o dirigente petista na inserção "Vivemos num estado de profunda insegurança, medo e violência, que aterroriza todos nós", diz.

Depois das críticas, o petista defende a renovação na política maranhense. "Com o PT, haveremos de inaugurar um tempo de mudança, renovação e esperança para o Maranhão", afirma Jardim, no programa gravado. Segundo o IBGE, o Maranhão tem a segunda maior taxa de mortalidade infantil do país e é o quarto Estado com maior taxa de analfabetismo.

As propagandas do PT estadual, veiculadas neste mês de acordo com o cronograma da Justiça Eleitoral, foram divididas entre as diferentes correntes petistas. Integrante do grupo majoritário, o presidente do diretório estadual alegou ter sido "surpreendido" com a inserção de Jardim, que é ligado à tendência Movimento PT, a mesma da ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) e do deputado Arlindo Chinaglia (SP). Monteiro reafirmou apoio a Roseana e desautorizou as críticas.

"Fui surpreendido com a veiculação de inserções de TV, cujo conteúdo faz críticas à administração liderada pela governadora Roseana Sarney. Não fosse pela contradição de o PT criticar o governo do qual faz parte, também não faz sentido investir contra uma liderança que tem apoiado desde o inicio o nosso projeto nacional", afirmou Monteiro, em nota. O PT participa da gestão estadual com o vice e a Secretaria de Governo. Ao Valor, Monteiro disse que "não é elegante criticar o governo Sarney". "Como vou questionar o governo se participamos dele?", afirmou.

Jardim, no entanto, disse ter gravado a mensagem com o aval da direção petista e reclamou da pressão da família Sarney, que comanda o Estado há mais de 40 anos. "É surreal: eles não suportam 30 segundos de críticas. É um absurdo. Eles têm o monopólio da comunicação do Estado e não resistem a 30 segundos, um minuto de críticas", disse.

A propaganda com críticas aos indicadores sociais do Estado foi veiculada na segunda-feira, mesmo dia em que o ex-ministro José Dirceu esteve no Maranhão, em evento com petistas, sindicalistas e movimentos sociais. Réu no julgamento do mensalão, Dirceu buscou apoio junto a petistas e sarneysistas no Estado. No dia seguinte da visita, o presidente do diretório estadual determinou a substituição do programa de Jardim, que deveria ser exibido mais cinco vezes, segundo o dirigente.

Monteiro, no entanto, disse que Dirceu não pediu para tirar a propaganda. A exigência teria vindo do presidente nacional do PT, Rui Falcão, depois de ouvir reclamações de Roseana, segundo informações do comando nacional do PT. A reportagem procurou o governo do Maranhão na noite de ontem, mas até o fechamento desta edição não conseguiu contato.

A divergência dentro do PT do Maranhão sobre o apoio à família Sarney é antiga e foi reforçada em 2010, quando a maioria do diretório estadual decidiu apoiar a candidatura de Flávio Dino (PCdoB), atual presidente da Embratur, contra Roseana. O diretório nacional, no entanto, fez uma intervenção no Estado e determinou o apoio à reeleição da governadora.

Em 2014, a tendência do PT é manter o apoio ao grupo Sarney no Estado, segundo o presidente do diretório. "Temos uma aliança nacional com o PMDB. Nossa prioridade é a reeleição de Dilma. Nosso projeto nacional não pode ser interrompido", disse Monteiro.

A família Sarney deve lançar o secretário estadual de Infraestrutura, Luis Fernando Silva. Na oposição, o nome mais forte é de Flávio Dino, cuja candidatura poderá servir de palanque para os pré-candidatos Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, e Marina Silva, ex-senadora e candidata derrotada à Presidência em 2010.

Fonte: Valor Econômico

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