sábado, 6 de abril de 2013

MPF abre inquérito para investigar Lula no mensalão

Procedimento apura suposto envolvimento em repasses ilegais para o PT

A Procuradoria da República no Distrito Federal instaurou ontem inquérito para apurar suposto envolvimento do ex-presidente Lula no esquema do mensalão, informam Alana Rizzo e Felipe Recondo. A investigação foi aberta para apurar a acusação, feita pelo empresário Marcos Valério, de que Lula negociou o repasse de recursos da ordem de R$ 7 milhões para o PT com o então presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta. O dinheiro, de acordo com Valério, serviria para pagamento de despesas de campanha. Esse é o primeiro inquérito aberto formalmente para investigar as denúncias feitas pelo empresário ao Ministério Público, cujo teor foi revelado pelo Estado. Há outros cinco procedimentos preliminares de investigação abertos na Procuradoria da República no Distrito Federal. Horta nega as acusações.

MPF abre inquérito para investigar Lula no mensalão

Alana Rizzo, Felipe Recondo

BRASÍLIA - A Procuradoria da República no Distrito Federal instaurou ontem inquérito para apurar a acusação do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza segundo a qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negociou, no início de seu mandato, repasses ilegais para o PT com Miguel Horta, então presidente da Portugal Telecom.

Trata-se do primeiro inquérito aberto formalmente para investigar o conteúdo do depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República em 24 de setembro de 2012 por Valério, condenado a mais de 40 anos de prisão por operar o mensalão. O conteúdo do depoimento, no qual o empresário afirma, entre outras coisas, que Lula sabia do mensalão e teve despesas pessoais pagas com dinheiro do esquema, foi revelado pelo Estado em dezembro.

A Procuradoria do Distrito Federal já havia instaurado seis prcedimentos preliminares para analisar as acusações feitas por Valério no depoimento. A abertura de inquérito é o passo seguinte à análise prévia dessas acusações.

No caso da Portugal Telecom, Valério disse que Lula e o então ministro da Fazenda, Antonio Palocçi, reuniram-se com Horta nó Palácio Planalto e combinaram que uma fornecedora da empresa em Macau, na China, transferiria R$ 7 milhões para o PT.

O dinheiro, ainda segundo Valério, chegou ao Brasil por meio de contas bancárias de publicitários que prestaram serviços para campanhas eleitorais petistas.

As negociações com a Portugal Telecom estariam por trás da viagem feita em 2005 a Portugal por Valério, seu ex-advogado Rogério Tolentino, e o ex-secretário do PTB Emerson Palmieri. Segundo o presidente do PTB, Roberto Jefferson, o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, havia incumbido Valério de ir a Portugal para negociar a doação de recursos da Portugal Telecom para o PT e o PTB. Essa missão e os depoimentos de Jefferson e Palmieri foram usados à exaustão ao longo do julgamento do mensalão para mostrar o envolvimento de Dirceu no esquema.

O dinheiro, segundo as acusações de Valério, foi usado para pagar dívidas com a dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano, que se apresentava em comícios petistas, além do publicitário Nizan Guanaes, que realizou a campanha do petista Jorge Bittar à Prefeitura do Rio em 2004. As operações teriam ocorrido em 2005.

O publicitário e a dupla negam ter recebido pagamentos ilegais.

O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, informou que o ex-presidente não vai comentar a abertura do inquérito pela procuradoria do Distrito Federal. Em outra ocasião, Lula classificou o depoimento de Valério de "mentiroso". Miguel Horta nega ter tratado de repasses ilegais com integrantes do governo.

Benefícios. Após ser condenado pelo Supremo como o operador do mensalão, Valério procurou voluntariamente a Procuradoria-Geral da República. Buscava com isso obter proteção e possíveis benefícios, como redução de sua pena de 40 anos, 2 meses e 10 dias de prisão pelos crimes de corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha. Todas as acusações feitas por Valério ocuparam apenas 13 páginas de depoimento. Em alguns momentos, ele foi quase telegráfico. O empresário deverá ser chamado a esclarecer suas acusações e a dar mais elementos sobre o que disse em setembro.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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