quarta-feira, 24 de abril de 2013

Ilusão de ótica - Dora Kramer

A inclusão do nome do presidente do Supremo Tribunal Federal na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo escolhidas pela revista americana Time reabriu a série de homenagens a Joaquim Barbosa, bem como a temporada de especulações sobre a possibilidade de uma candidatura à Presidência da República em 2014.

Em princípio, o quesito "condições objetivas" inscreve essa hipótese eleitoral na seara das miragens, para não dizer das simplificações impensadas. A eleição é "casada", de deputado estadual a presidente, passando pelas disputas à Câmara, ao Senado e aos governos dos Estados. Dependente, portanto, de estrutura partidária ou, como no caso do PSB, de coligações substantivas.

Barbosa não tem partido e os que detêm as condições acima expostas já têm candidatos. Nenhum deles estaria disposto a ceder seus espaços. Muito menos a alguém tão impermeável às transações típicas do modelo de governo lastreado em fisiologismo.

Difícil imaginar Joaquim Barbosa numa roda de discussão sobre o toma lá dá cá. Seria o "defeito" da qualidade que poderia fazer dele um excelente candidato em cenário (infelizmente?) fictício no cotejo com a realidade política.

Uma eleição é algo mais complexo que a comunhão de vontades, senso de oportunidade e construções hipotéticas. Em 1989, quando Fernando Collor decolou a bordo de um PRN inexistente, a eleição era "solteira"; só para presidente, podendo se dar em torno de uma personalidade.

Pela norma vigente, partidos precisam eleger o maior número possível de deputados para que tenham influência no Congresso e, com isso, mereçam a atenção do Executivo; prefeitos precisam "ter" parlamentares que defendam seus interesses em Brasília e, em troca, trabalham pela permanência deles no Congresso.

A dinâmica desenhada de maneira resumida é essa, e nela não se incorporam com suavidade fatores exógenos. Uma eventual candidatura do presidente do Supremo a presidente da República por esse critério se enquadra 110 terreno nas excentricidades.

O que não quer dizer que Joaquim Barbosa não seja objeto do desejo no mundo político. É, mas não como concorrente. Seu apoio seria algo extremamente bem recebido por qualquer candidato.

Sendo praticamente impossível obtê-lo de forma explícita, os políticos provavelmente o buscarão de maneira implícita, procurando estabelecer algum tipo de identificação com a pessoa ou com os valores representados por Barbosa.

Se vão conseguir são outros quinhentos. Pertencentes a uma história a ser contada de acordo com os parâmetros impostos pelo presidente do STF ao manejo político do simbolismo de austeridade moral que transmite à opinião pública.

Uva verde. Nas "internas" do governo e cada vez mais nas "externas" do PT, já se usa a expressão "bolha" em relação à possível candidatura de Eduardo Campos à Presidência. Emprestada da economia com o significado de inconsistência, o vocábulo tem o sentido de desqualificar a recepção positiva que o governador de Pernambuco vem tendo entre políticos e empresários.

Nome do jogo. O mote do discurso de campanha da oposição por ora é "inflação de alimentos". O senador Aécio Neves encaixa as três palavras em cada cinco de dez frases que fala sobre seus planos de construção da candidatura presidencial pelo PSDB.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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