sábado, 16 de março de 2013

Reforma para saciar aliados

Presidente troca os ministros da Agricultura, da Aviação e do Trabalho e atende aos interesses de PMDB e PDT

Trocas em três ministérios

Para atender o PMDB e o PDT, Dilma muda o comando da Agricultura, da Aviação Civil e do Trabalho, que passa a abrigar um aliado de Carlos Lupi, afastado após denúncias

Paulo de Tarso Lyra, Karla Correia, Rosana Hessel e Denise Rothenburg

A presidente Dilma Rousseff iniciou ontem a minirreforma ministerial prometida tão logo encerrou-se a campanha municipal de 2012. Depois de cinco meses de consultas, Dilma conseguiu resolver apenas as demandas do PMDB e do PDT. Foram nomeados o deputado federal Antônio Andrade (PMDB-MG) para o Ministério da Agricultura, no lugar de Mendes Ribeiro (PMDB-RS), que reassume o mandato na Câmara dos Deputados; Moreira Franco vai para a Secretaria Nacional de Aviação Civil, que era ocupada por Wagner Bittencourt; e Manoel Dias, do PDT, que substitui Brizola Neto no Ministério do Trabalho. As posses estão marcadas para hoje.

Mendes Ribeiro recebeu o convite para assumir a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), mas preferiu retornar à Câmara. Com isso, a SAE será comandada, interinamente, pelo atual secretário executivo da pasta, Roger Leal. O cotado para substituir Moreira é Ricardo Paes de Barros. Já Wagner Bittencourt, ex-ministro da Aviação Civil, pode substituir Beto Vasconcelos — que deixa o governo no meio do ano para fazer um curso no exterior — na secretaria executiva da Casa Civil.

Em nota divulgada no início da noite de ontem, a presidência da República explicou que as posses foram marcadas para hoje em virtude da viagem que a presidente Dilma fará ao Vaticano para participar de uma audiência com o papa Francisco. Ela agradeceu a todos os ex e futuros colaboradores de governo. “A presidente deseja bom trabalho a Antônio Andrade, Manoel Dias e Moreira Franco nas importantes missões que passarão a desempenhar e agradece a dedicação, o empenho e os inestimáveis serviços prestados pelos ministros Mendes Ribeiro, Brizola Neto e Wagner Bittencourt em suas áreas. Eles continuarão contando com seu apoio e confiança”, diz o comunicado.

Do ponto de vista prático, a reforma ministerial pouco acrescentou politicamente ao governo Dilma. Como observaram interlocutores da base aliada, a presidente não agregou um deputado a mais na base aliada nem ganhou um segundo extra no tempo de televisão para a campanha presidencial de 2014. “Foi uma reforma de soma zero”, ironizou um articulador político.

A demora da presidente Dilma em definir o que fazer alterou por completo os rumos da reforma ministerial. O plano original era incluir o PSD no governo e compensar o PMDB paulista, especificamente ao deputado Gabriel Chalita, pelo apoio dado ao petista Fernando Haddad no segundo turno das eleições para a prefeitura de São Paulo. Como surgiram as pressões do PMDB mineiro e o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, preferiu ficar independente (leia mais na página 3), as negociações mudaram de rumo.

Amparados pelo lobby do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que não queria Chalita no Ministério da Ciência e Tecnologia — e beneficiados pelas denúncias de corrupção que afundaram as pretensões ministeriais do parlamentar paulistano —, os mineiros conseguiram uma pasta na Esplanada. Mais uma vez, um ministro petista foi fundamental para sacramentar a escolha: Fernando Pimentel (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) trabalhou pela indicação de Antonio Andrade e não de Leonardo Quintão, temendo que este ganhasse visibilidade na disputa pelo governo de Minas em 2014.

Royalties

Resolvida a questão mineira, a presidente abriu o espaço para a nomeação de Moreira Franco na Secretaria Nacional de Aviação Civil. Parte do PMDB atribui a troca a um “sinal de prestígio” de Dilma com o PMDB fluminense, compensando o “lavar das mãos” na derrubada do veto presidencial à distribuição dos royalties e a insistência do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) de ser candidato ao governo do Rio contra o atual vice-governador do estado, Luiz Fernando Pezão. Aliados de Cabral afirmam, contudo, que Moreira Franco é da cota pessoal do vice-presidente Michel Temer.

Já no caso do PDT, Dilma decidiu substituir Brizola Neto por Manoel Dias por avaliar que o primeiro não conseguiu unificar o partido, cada vez mais alinhado ao ex-ministro Carlos Lupi, que deixou a pasta em 2011 após denúncias de corrupção. Presidente nacional da legenda, Lupi não estava ontem em Brasília. Alegou não ter “conseguido passagem para vir do Rio de Janeiro para Brasília”.

Na Esplanada

Antônio Andrade (PMDB-MG) Agricultura
Engenheiro civil graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e produtor rural, foi prefeito de Vazante (MG) e deputado estadual por três mandatos. Está na segunda legislatura como deputado federal. Em 2009, assumiu a presidência da executiva estadual do PMDB de Minas Gerais e, em 2012, foi eleito presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.

Manoel Dias (PDT-SC) Trabalho
Advogado catarinense, é secretário-geral do PDT. Integrou o conselho político da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República em 2010 e o conselho político do governo de Santa Catarina de 2006 a 2010, durante a gestão do peemedebista Luiz Henrique. Muito ligado ao ex-presidente do PDT Leonel Brizola, foi coordenador do partido na campanha presidencial de 1998.

Moreira Franco (PMDB-RJ) Aviação Civil
Foi deputado federal por três mandatos. Entre 1977 a 1982, elegeu-se prefeito de Niterói, tornando-se governador do Rio entre 1987 e 1991. Em 2007, assumiu a vice-presidência do Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal, cargo que ocupou até 2010. Antes de assumir a Secretaria Nacional de Aviação Civil era o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

Análise da notícia

Difícil agradar

As insatisfações da base governista não cessam com a reforma ministerial deflagrada ontem. Basta ver as declarações do deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG) ao Correio (leia na página 3). Ao dizer que está bastante confortável em relação ao futuro e com menos compromisso com o governo, ele deixa a porta aberta para, se for o caso, apoiar o senador Aécio Neves em 2014. E, dada a popularidade do deputado, conquistada desde que foi candidato a prefeito de Belo Horizonte em 2008, ele não é tão descartável quanto possa parecer à primeira vista. Para completar, deputados peemedebistas do sul do país — muitos deles mais afeitos ao PSDB do que ao PT — apelaram pela permanência de Mendes Ribeiro na Agricultura.

No caso do PDT, não é diferente. Dilma, de olho no tempo de tevê, entrega novamente o Ministério do Trabalho ao grupo do presidente do partido, Carlos Lupi. O engajamento dos pedetistas que têm voto popular na campanha, entretanto, é outra conversa. A maioria dos senadores, por exemplo, torcia pela permanência de Brizola Neto. Diante dessas constatações, pode-se tomar a reforma feita até aqui como jogo empatado. (DR)

Fonte: Correio Braziliense

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