segunda-feira, 25 de março de 2013

O tempero dos números - Denise Rothenburg

Não fosse o climão que toma conta da base governista e o apagão na infraestrutura, a presidente Dilma Rousseff teria muito mais alegria em celebrar as intenções de voto que lhe garantiriam a reeleição em primeiro turno, caso hoje fosse outubro de 2014. Ela sabe que a vida não está fácil e pode ficar pior, diante da disputa entre aliados.

No fim de semana, esse clima de disputa esquentou em várias frentes. Com base em informações levantadas inicialmente pelo PMDB, vieram à tona denúncias contra o senador Lindbergh Farias, do PT, que planeja ser candidato a governador do Rio de Janeiro contra o PMDB que o acusa de ter destruído Nova Iguaçu quando era prefeito. Sabe quando peemedebistas e petistas do Rio vão se entender nesse clima? Nunca.

Outro episódio que terá desdobramentos na política envolve o empresário Eike Batista e a tentativa de levar o estaleiro Jurong, hoje em fase de instalação no Espírito Santo, para o Porto de Açu, no litoral norte fluminense, tirando recursos dos capixabas. A operação não deu certo, mas o estrago político está feito, porque um dos que tentaram ajudar nessa transferência foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E quem governa o Espírito Santo? Renato Casagrande, do PSB, um partido apontado por exímios observadores e atores da política como dissidente da base de Dilma.

Para completar o tripé político desfavorável à presidente Dilma, Carlos Lupi, reeleito presidente do PDT, avisa em entrevista ao Correio Braziliense que não está descartado um quadro alternativo para o partido em 2014. Ou seja, pegou o dote, no caso o Ministério do Trabalho, mas não está tão certo assim de que deseja casar em 2014.

Esses três episódios abrem o cenário político da semana da Páscoa. Junte-se a esses ingredientes os problemas econômicos. A fila de caminhões em São Paulo, o cancelamento da compra de soja brasileira por parte dos chineses, o preço dos alimentos.

Isoladamente, esses temas podem até não representar nada. Mas, juntos, dão o tom de como a vida de Dilma, que parece fácil na hora das pesquisas eleitorais antecipadas, está complicada sem previsão de tempo bom mais à frente. E nesse embalo, até Lula, que era para ajudar a presidente, tropeça.

O governador Renato Casagrande era, até bem pouco tempo, um dos socialistas que mais tinham dúvidas sobre a candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, já em 2014. No momento em que Lula tenta dar um empurrãozinho no sentido de tirar investimentos do Espírito Santo, ele afasta Casagrande da dúvida e o faz rumar para a tese de que o PT não sabe ser leal na concorrência. Nesse ritmo, Dilma não terá muita ajuda política para sustentar os 58% que apresentou na pesquisa Datafolha no último fim de semana. Terá que segurar tudo com Lula, o PT e pedaços do PMDB.

Enquanto isso, no Planalto...

A presidente Dilma Rousseff deve ficar fora da briga entre os partidos. Está mais interessada em tentar equilibrar a economia, chave dos 58% registrados na pesquisa Datafolha. O PSB virou um assunto a ser resolvido por Lula. Ela vai cuidar é da reforma ministerial, mas só depois de fechar as novas medidas para segurar os preços das passagens de ônibus. Assim, o PR passará a Páscoa sem saber o que o futuro lhe reserva.

E em Pernambuco e em São Paulo...

A semana promete mais exposição do governador Eduardo Campos, com a mais famosa encenação da Paixão de Cristo no país, em Nova Jerusalém (PE). Em tempos de novo papa, ele, sem dúvida, terá seu momento nesse segmento. O senador Aécio Neves (MG), o candidato a presidente da República pelo PSDB, estará em São Paulo. Enquanto os tucanos paulistas não estiverem amarrados à causa, não dá para descuidar.

Fonte: Correio Braziliense

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