sexta-feira, 15 de março de 2013

Kassab assina ficha de partido de Marina

Cristiane Agostine

Marina, em visita ao Mercado Municipal em São Paulo: ex-senadora intensifica agendas de rua para colher apoio

SÃO PAULO - Na ponta dos pés, debruçada em um balcão de alumínio, a ex-senadora Marina Silva estendeu a mão para o vendedor de queijos e embutidos e entregou uma ficha. "Nos ajude. A Heloísa Helena está conosco. Não estou pedindo para que você se filie. Mas precisamos de 500 mil assinaturas e, se você concordar com a criação do partido, nos ajude a lutar", disse, desviando-se do lombinho condimentado e da paleta defumada pendurados. O pedido, repetido na manhã de ontem dezenas de vezes no Mercado da Lapa, na zona Oeste de São Paulo, será intensificado até o meio do ano, quando os apoiadores da ex-senadora tentam obter as assinaturas necessárias para criar o Rede Sustentável.

Os signatários, no entanto, não são buscados só entre populares, mas também entre políticos "nem de centro, nem de direita, nem de esquerda". O grupo de Marina foi atrás, na semana passada, do fundador do PSD, o ex-prefeito Gilberto Kassab, e conseguiu dele uma assinatura para criar o partido.

O gesto, simbólico, mostra uma tentativa de aproximação entre Kassab e Marina com vistas às próximas eleições. Porém, não significa que o ex-prefeito tenha intenção de trocar de legenda. Antes, a ex-senadora já havia se aproximado do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, que enviou uma carta de apoio no dia do lançamento oficial do Rede, em Brasília.

Em um dia de atividades públicas em São Paulo, Marina passou o dia ao lado do deputado federal Walter Feldman (SP), que não demonstrou constrangimento de ainda estar filiado ao PSDB. "Não tem crise. O PSDB sabe que estou aqui. Estou em uma transição clara", disse. Na visita ao Mercado Municipal Paulistano, no meio da tarde, Marina era anunciada em um megafone por Geraldo Malta, assessor que deve ser nomeado no gabinete de Feldman. No anúncio, era reforçado que a vereadora Heloisa Helena (PSOL) é do Rede.

Malta coordenou a articulação com os evangélicos na campanha de José Serra (PSDB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo no ano passado. O assessor disse que o grupo responsável pelo Rede distribuiu 100 mil fichas pela criação da sigla entre igrejas evangélicas de São Paulo, das 150 mil que estão circulando na cidade. "Mas não o partido não tem nada a ver com religião", afirmou. "Buscamos apoio também entre lideranças políticas", disse.

Com calça jeans, camisa azul, blazer preto, tênis e com o tradicional coque nos cabelos, Marina foi vista como celebridade. Tirou fotos, distribuiu beijos e tomou suco de laranja. Muitos sabiam que o rosto era conhecido da televisão, mas não fizeram a associação imediatamente. O comerciante Edison Brunasse não votou em Marina em 2010, mas disseque assinaria a ficha. "Não a conhecia, por isso não votei. Mas o mundo precisa de novas ideias e apoio o partido", disse. O comerciante Fernando Rodrigues conversou com Marina, deu a ela margaridas, mas não se convenceu. "Não assino. Ninguém veio aqui antes. Nem Marina, nem Lula, nem Vilma ", disse, referindo-se à presidente Dilma Rousseff.

Foi a segunda atividade pública que Marina participou para coletar assinaturas - a primeira foi em Brasília. Hoje, Marina segue para Araraquara, no interior paulista e no fim de semana irá para o Rio de Janeiro.

Segundo balanço parcial informado pelo deputado Feldman, o grupo já conseguiu cerca de 50 mil assinaturas, 10% do necessário.

Ao lado de Feldman e do vereador Ricardo Young (PPS) - articuladores do novo partido -, Marina afirmou ter apoio suprapartidário e citou a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o ex-prefeito de Manaus Serafim Corrêa (PSB). Feldman citou os deputados federais Zequinha Sarney (PV-MA) e Dr Ubiali (PSB-SP).

A ex-senadora disse estar preocupada com a tramitação de projeto de lei do deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), que quer excluir os novos partidos da divisão da maior parte do fundo partidário e do horário gratuito de rádio e TV. "São dois pesos e duas medidas", disse. Não foi colocada nenhuma cláusula de barreira para partidos recém-criados".

Fonte: Valor Econômico

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