terça-feira, 12 de março de 2013

Em busca do apoio dos governadores

Dois dos principais presidenciáveis farão reuniões com correligionários para evitar a perda de aliados. Eles também vão defender a revisão do pacto federativo

Paulo de Tarso Lyra

Uma semana depois de a presidente Dilma Rousseff ter reunido governadores e prefeitos de capitais em Brasília para anunciar a liberação de R$ 33 bilhões para obras de saneamento e mobilidade urbana, os presidenciáveis Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, e Aécio Neves (PSDB), senador por Minas Gerais, também vão se reunir com governadores aliados para evitar o desgarramento dos respectivos rebanhos. Aécio receberá hoje à noite, em seu apartamento em Brasília, os governadores tucanos, em um jantar organizado pelo mineiro Antônio Anastasia. Eduardo chegará à capital no fim do dia e deve encontrar-se com os seus correligionários, além de manter conversas telefônicas com outros governantes da Região Nordeste.

Mais do que garantir a base de apoio nos respectivos partidos, a intenção dos dois presidenciáveis é afinar o discurso das legendas em torno de uma bandeira que eles mesmos levantaram: a revisão do pacto federativo. Está marcada para amanhã uma grande reunião, organizada pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), para debater o tema no plenário da Casa. Assusta os governadores, sobretudo, a ausência de uma definição sobre o repasses dos recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE), além da polêmica distribuição dos royalties do petróleo.

Juntos, os dois presidenciáveis têm quase a metade dos governadores brasileiros: 12 dos 27 administradores estaduais são tucanos ou do PSB. Aécio é correligionário do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o partido também governa Minas Gerais, com Antonio Anastasia; Alagoas, com Teotônio Vilela Filho, e Goiás, com Marconi Perillo. O PSDB está no comando ainda em Roraima, do governador Anchieta Hélcias, no Paraná, com Beto Richa, e também no Pará, governado por Simão Jatene. Já Eduardo Campos preside a legenda do governador do Ceará, Cid Gomes; do Espírito Santo, Renato Casagrande; do Piauí, Wilson Martins; da Paraíba, Ricardo Coutinho; e do Amapá, Camilo Capiberibe.

Para o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), presidente do diretório estadual tucano, a pauta federativa é longa e inclui, além dos royalties e do FPE, o desequilíbrio no recolhimento do ICMS. Pestana acrescentou que a pauta do jantar dos governadores do PSDB será administrativa e econômica, mas reconhece que a presença de Aécio dará o tom político à reunião. “Como nosso líder, nosso porta-voz e provável candidato à Presidência ano que vem, a presença de Aécio no jantar servirá para amarrar o discurso federativo do partido”, justificou Pestana.

Ele não acredita que a estratégia de sedução da presidente Dilma na semana passada, quando anunciou, além dos R$ 33 bilhões para obras de saneamento e mobilidade urbana, a derrubada da contrapartida de estados e municípios para que os projetos se concretizem, seja suficiente para desmobilizar os governadores da oposição.

Pestana reconhece que o atual modelo de concentração de recursos nas mãos do governo federal serve para criar um certo grau de dependência em relação à União. Mas acrescenta que o amadurecimento democrático do país impede posições sectárias do Palácio do Planalto. “A própria presidente Dilma admitiu que se pode fazer o diabo durante as eleições, mas como governo, não”, declarou o parlamentar mineiro. “Só tenho medo das diabruras eleitorais e alopradas que eles estejam planejando”, provocou o deputado mineiro.

O secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, concorda com o raciocínio. Para ele, neste momento, é natural que alguns governadores sejam mais reticentes em comprar briga com a administração federal, pois necessitam manter uma relação política equilibrada com a União. “Não podemos confundir ações governamentais com questões eleitorais”, declarou Siqueira.
Integrante da máquina partidária, Siqueira garante que os governadores do PSB estão afinados com o partido e com a possibilidade, cada vez mais concreta, de o partido lançar Eduardo Campos candidato a presidente no ano que vem. “Até mesmo o Cid Gomes (Ceará)”, aposta o secretário-geral do PSB. Siqueira disse que o governador cearense tem todo o direito de ter a própria opinião — Cid tem repetido que, no momento, seria melhor para o PSB apoiar a reeleição da presidente Dilma e ter candidatura própria apenas em 2018. “Mas na hora que o partido tomar a decisão coletiva, tenho a certeza de que ele reforçará seu papel de homem de partido”, completou Carlos Siqueira.

Memória

Briga pelo “novo federalismo”

A aproximação entre Eduardo Campos (PSB-PE) e Aécio Neves (PSDB-MG), que tanto incomoda o Palácio do Planalto e os petistas, começou a ser desenhada após o bom resultado dos dois partidos nas eleições municipais de 2012. O PSB foi a legenda que mais cresceu, e o PSDB, além de manter a prefeitura de Belo Horizonte, obteve vitórias importantes na Região Norte do país, como as eleições de Arthur Virgílio para governar Manaus e de Zenaldo Coutinho para administrar Belém.

Coube, inclusive, ao governador pernambucano inserir a expressão “novo federalismo”. Blindado dos ataques e críticas do PT e do Planalto, ele afirmou, em um primeiro momento, que era preciso discutir a revisão do pacto federativo antes de pensar em 2014. “Para ele é muito cômodo. Critica o governo e, quando é chamado a expor com clareza seu posicionamento, esquiva-se”, irritou-se um governador petista.

Tão logo as urnas municipais foram apuradas, Aécio fez coro ao governador do PSB. “Há um processo de fragilização enorme dos municípios no Brasil. O governo federal tem sido muito pouco generoso com os municípios. As ações do governo são na linha da concentração.”
Campos tem acrescentado que os repasses federais por meio do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) devem permitir não somente custeio dos municípios e Estados, mas investimentos em saúde, educação, mobilidade, habitação e segurança pública.

Fonte: Correio Braziliense

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